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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ EDUARDO FIGUEIREDO PRADO INFLUÊNCIA DA COMPLEXIDADE RÍTMICA SOBRE RESPOSTAS EMOCIONAIS DE MÚSICOS E NÃO MÚSICOS

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EDUARDO FIGUEIREDO PRADO

INFLUÊNCIA DA COMPLEXIDADE RÍTMICA SOBRE RESPOSTAS EMOCIONAIS DE MÚSICOS E NÃO MÚSICOS

CURITIBA 2012

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EDUARDO FIGUEIREDO PRADO GRR20081753

INFLUÊNCIA DA COMPLEXIDADE RÍTMICA SOBRE RESPOSTAS EMOCIONAIS DE MÚSICOS E NÃO MÚSICOS

Trabalho de graduação apresentado para a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso HA602 do curso de Produção Sonora (Bacharelado) no Departamento de Artes, Setor de Ciências Humanas, de Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof.Dr. Danilo Ramos

CURITIBA 2012

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RESUMO

Por que as fórmulas de compasso 5/4 e 7/4 são tão incomuns na música ocidental? Por que o compasso quaternário simples é extremamente comum? Estariam estas questões relacionadas com complexidade e agradabilidade? Para responder a estas questões, o presente estudo buscou analisar a influência da complexidade rítmica sobre respostas emocionais de músicos e não músicos. Para isto foi realizado estudo experimental com 30 participantes, divididos em três grupos: 10 bateristas, 10 músicos não bateristas e 10 não músicos. Para a realização do teste foram criados cinco ritmos com diferentes níveis de complexidade em cada uma das fórmulas de compasso: 4/4, 5/4 e 7/4. O experimento consistiu de duas etapas: na primeira o participante ouvia um trecho rítmico e atribuía um grau da agradabilidade para este trecho, em uma escala de 0 a 10, procedendo da mesma forma para todos os outros padrões rítmicos. Na segunda etapa, o participante deveria acompanhar cada um dos ritmos com palmas e era calculado o número de vezes em que ele executava cada ritmo de maneira correta. Em ambas as tarefas os padrões rítmicos foram apresentados em ordem aleatória para os participantes. Uma análise de variância foi aplicada sobre as médias de agradabilidade e sobre a porcentagem de acertos dos padrões rítmicos em cada grupo de participantes: bateristas, músicos não bateristas e não músicos. Os resultados do presente estudo mostraram que a complexidade rítmica foi proporcional às taxas de agradabilidade: quanto mais complexo era o ritmo, maior era o grau de agradabilidade atribuído a ele. O teste ANOVA não mostrou diferenças entre os índices de agradabilidade para as diferentes fórmulas de compasso. O teste também não mostrou diferenças entre os processos psicológicos relacionados à tarefa de complexidade rítmica para os três grupos de participantes.

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ABSTRACT

Why is the 5/4 and 7/4 time signatures so uncommon in western music? Why is the simple quadruple meter extremely common? Are these questions related to complexity and pleasantness? To answer these questions the present study intent to analyze the rhythmic complexity influence over emotional responses from musicians and non-musicians. Therefore an experimental study was accomplished with 30 participants, divided in three groups: 10 drummers, 10 non-drummer musicians and 10 non-musicians. To perform the tests five rhythmic patterns were created with different complexity levels for each time signature: 4/4, 5/4 and 7/4. The experiment consisted of two stages: on the first stage the participant heard one rhythmic pattern and assigned a degree of pleasantness for this pattern, in a scale from 0 to 10, proceeding the same way for all the other rhythmic patterns. On the second stage the participant should tap to the rhythms, and it was calculated the number of times that the rhythm was taped correctly. In both tasks the rhythmic patterns were presented randomly to the participants. A variance analysis was applied over the pleasantness average and over the tapping scores for the rhythmic patterns for each group of participants: drummers, non-drummer musicians and non-musicians. The study data showed that rhythmic complexity were proportional to the pleasantness degree: the more complex was the rhythm, the higher was the pleasantness degree assigned to it. The ANOVA test showed no difference between pleasantness degrees for the different time signatures. Also there was no difference between the psychological processes related to the rhythmic complexity task for the three groups of participants.

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SUMÁRIO 1.   INTRODUÇÃO  ...  5   1.1.   PROBLEMA  ...  5   1.2.   HIPÓTESE  ...  6   1.3.   OBJETIVOS  ...  6   1.3.1.   OBJETIVO  GERAL  ...  6   1.3.2.   OBJETIVOS  ESPECÍFICOS  ...  6   1.4.   JUSTIFICATIVA  ...  7  

2.   REVISÃO  DE  LITERATURA  ...  8  

2.1.   COMPLEXIDADE  RÍTMICA  ...  9  

2.2.   COMPLEXIDADE  RÍTMICA  E  EXPERTISE  MUSICAL  ...  10  

3.   METODOLOGIA  ...  14   4.   RESULTADOS  ...  18   5.   DISCUSSÃO  ...  23   5.1.  INTERPRETANDOOS  DADOS  ...  23   5.1.1.  QUANTO  À  AGRADABILIDADE  ...  23   5.1.2.  QUANTO  À  COMPLEXIDADE  ...  25  

5.1.3.  RELAÇÃO  AGRADABILIDADE  E  COMPLEXIDADE  ...  27  

5.2.  NOVAS  HIPÓTESES  E  DIREÇÕES  FUTURAS  ...  28  

5.3.  CONCLUSÃO  ...  30  

REFERÊNCIAS  ...  31  

ANEXO  A  –  PADRÕES  RÍTMICOS  ...  33  

ANEXO  B  –  TERMO  DE  CONSENTIMENTO  ...  34  

ANEXO  C  –  PROTOCOLO  EXPERIMENTAL  ...  36  

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1. INTRODUÇÃO

O ritmo é um elemento fundamental na música. Segundo Krumhansl (2000), a produção e percepção rítmicas são aspectos primários do comportamento musical. São estas habilidades rítmicas que nos permitem interagir musicalmente com outras pessoas, seja tocando, dançando ou batendo palmas (SNYDER; HANNON; LARGE; CHRITIANSEN, 2006).

De acordo com Fitch e Rosenfeld (2007), podemos definir ritmo como um padrão temporal de eventos acústicos que ocorrem dentro de uma estrutura repetitiva. Em música, esses eventos podem ser notas ou sons percussivos. A maioria das músicas é organizada em uma estrutura métrica abstrata, o metro, que é subdivido em dois ou mais pulsos, com intervalos regulares, podendo estes ser fracos ou fortes (FITCH; ROSENFELD, 2007; SNYDER et al., 2006). Na música ocidental, a divisão do metro em quatro pulsos é a divisão predominante, como o compasso com fórmula 4/4, de modo a ser chamado de “tempo comum” (“common time”) (FITCH & ROSENFELD, 2007). Contudo, inúmeras são as possibilidades em termos de criação de diferentes metros e ritmos. Considerando todas estas possibilidades, existem aquelas que são mais comuns e as que são incomuns no âmbito da música ocidental.

Mesmo o ritmo proporcionando inúmeras possibilidades criativas a serem exploradas, sendo também fundamental para cognição e prática musical, desenvolvimento da percepção temporal, desenvolvimento motor e interação social (TILLMANN; STEVENS; KELLER, 2010), pesquisadores afirmam que poucos estudos têm sido feitos sobre o aprendizado de estruturas temporais (TILLMANN et al., 2010). Além disto, existem diversos ritmos complexos e assimétricos que são incomuns, e, inclusive, têm sido pouco explorados e pesquisados, mesmo já sendo bem conhecidos na teoria (REPP et al., 2005). Por isto, esta pesquisa procura explorar alguns aspectos cognitivos relacionados aos ritmos e compassos incomuns na música ocidental.

1.1. PROBLEMA

Muitos estudos têm sido realizados sobre o ritmo nos últimos anos, de modo que diversos pesquisadores têm proposto diferentes teorias sobre como os humanos processam estímulos rítmicos, abordando aspectos cognitivos relacionados a níveis de complexidade, regularidade, performance rítmica e percepção do processamento temporal (ver DESAIN,

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1992; SNYDER et al., 2006; DESAIN; WINDSOR, 2000; POVEL; ESSENS, 1985; FITCH; ROSENFELD, 2007; REPP; LONDON; KELLER, 2005). O que grande parte das pesquisas acerca do ritmo procura averiguar, por meio de testes, é a análise do processamento de compassos de tempo comum (“common time”), o que restringe uma análise mais aprofundada sobre outras fórmulas de compasso. Desta maneira, ritmos com fórmulas de compasso que, analogamente, podem ser chamados de incomuns, têm sido menos explorados e deixados de lado. Estaria o desinteresse por tempos incomuns diretamente ligado ao fato de serem pouco utilizados? E qual seria a razão para que tempos assimétricos e complexos, como 5/4 ou 7/4, sejam tão incomuns em relação ao 4/4 na cultura ocidental? Seria uma questão de complexidade e dificuldade de assimilação? Ou seria um problema de agradabilidade? Ou seria esta uma variável cultural? Este trabalho visa compreender os aspectos cognitivos envolvidos em compassos musicais fora do “common time”, no intuito de clarificar questões relacionadas à menor utilização prática destes compassos incomuns em relação ao compasso 4/4 na cultura musical ocidental.

1.2. HIPÓTESE

Fórmulas de compasso diferentes de 4/4, no caso 5/4 e 7/4, apresentam maior nível de complexidade e, consequentemente, menor grau de agradabilidade. Assim, tais fórmulas de compasso são pouco utilizadas e, portanto, incomuns na música ocidental.

1.3. OBJETIVOS

1.3.1. OBJETIVO GERAL

Analisar aspectos cognitivos de músicos e não músicos em relação a ritmos com diferentes fórmulas de compasso, em termos de agradabilidade e complexidade de assimilação, por meio de estudo empírico.

1.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Realizar testes para comparar respostas de ouvintes músicos e não músicos à respeito da complexidade de processamento de cada compasso investigado;

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- Realizar testes para comparar respostas emocionais de músicos e não músicos em relação ao grau de agradabilidadede cada compasso investigado;

- Verificar a complexidade de assimilação dos ritmos com diferentes fórmulas de compasso por bateristas, músicos não bateristas e não músicos;

- Investigar o grau de agradabilidade dos diferentes padrões rítmicos em diferentes fórmulas de compasso para bateristas, músicos e não músicos;

- Por meio de testes estatísticos, estabelecer uma relação entre o nível de complexidade e o nível de agradabilidade desencadeado pelas fórmulas de compasso investigadas;

1.4. JUSTIFICATIVA

Um estudo sobre aspectos cognitivos relacionados à produção e percepção de ritmos assimétricos e complexos se faz pertinente uma vez que, apesar de serem bem conhecidos na literatura musical, existe pouco estudo empírico acerca destes (REPP et al., 2005). Além disto, poucas pesquisas têm sido realizadas a respeito do aprendizado de estruturas temporais (TILLMANN et al., 2010). Assim, esta pesquisa trará novos dados, através de teste experimental, sobre cognição e ritmos incomuns na cultura ocidental, contribuindo para estudos já realizados e futuros. Este estudo tem como foco a cultura ocidental porque dentro da tradição musical ocidental ritmos assimétricos são raros (REPP et al., 2005).

A opção pelo teste experimental se justifica pelo fato de que testes de acompanhamento rítmico podem refletir a dificuldade de processamento do ritmo e sua estrutura métrica (SNYDER et al., 2006). Também é importante que o teste englobe tanto músicos como não músicos, uma vez que a literatura sugere que músicos sejam mais precisos que não músicos em termos de sincronização e reprodução de ritmos métricos e não métricos (KUNG et al., 2011).

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Eventos e ações fundamentais para o comportamento humano ocorrem e se desdobram no tempo e possuem ataques, ritmos e tempos (TILLMANN; STEVENS; KELLER, 2010). O processamento temporal é necessário para a interação social, desenvolvimento motor, prática de esportes, música e dança. Uma maneira do ser humano aprender a antecipar eventos é por meio da exposição à regularidades, o que ajuda a desenvolver a habilidade de identificar padrões (TILLMANN et al., 2010). Esta nos permite gerar expectativas sobre acontecimentos que apresentam certa regularidade. Segundo Pressing (1999), padrões são fundamentais para cognição. Desta maneira se pode dizer que o ritmo é de grande importância para a cognição musical no contexto ocidental, uma vez que a música ocidental em sua maioria possui metros periódicos, ou seja, compassos com padrões rítmicos que se repetem a cada determinado número de pulsos (KUNG; TZENG; HUNG; WU, 2011).

A maioria das pessoas acha fácil realizar movimentos rítmicos em sincronia com música, o que reflete sua habilidade de perceber uma periodicidade temporal e coordenar atenção com o tempo (KUNG et al., 2011). Esta facilidade está relacionada ao fato de quase toda música ser organizada em cima de uma estrutura métrica abstrata, que consiste em eventos fortes e fracos ocorrendo em intervalos com espaços regulares (HANDEL, 1989; FITCH; ROSENFELD, 2007). Assim, melodias e harmonias construídas sobre padrões rítmicos são sobrepostas a estas estruturas métricas, que são chamadas de metro (FITCH; ROSENFELD, 2007). Teóricos da música definem o metro como uma divisão hierárquica contendo dois ou mais pulsos equidistantes (SNYDER et al. 2006). Segundo Kung et al. (2011), o metro é uma organização hierárquica de múltiplos níveis de regularidade temporal, que resulta em uma alternância periódica de pulsos fracos e fortes. Para Grube e Griffiths (2008), o metro só existe quando há uma acentuação regular entre um determinado número de pulsos, determinando um compasso, por exemplo. Uma sequência isócrona de tons idênticos pode gerar um pulso regular, porém não será um metro, pois não possui um nível mais alto de periodicidade, que pode ser definido pela acentuação (GRUBE; GRIFFITHS, 2008). De acordo com Handel (1989), o pulso é o que os ouvintes normalmente acompanham batendo o pé ou dançando. As divisões do metro em dois e três pulsos são as que aparecem mais comumente na música ocidental, tanto clássica como popular (SNYDER et al. 2006).

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Na música ocidental, o ritmo não se restringe aos pulsos do metro (SNYDER et al. 2006). A vasta maioria da música tonal ocidental, desde o repertório clássico até o popular, possui padrões rítmicos com pulsos de mesma duração e acentos, ou tempos fortes, espaçados igualmente (TILLMANN; STEVENS; KELLER, 2010). De acordo com teóricos da música, ritmo é um padrão temporal de eventos acústicos, onde estes eventos ocorrem dentro de alguma estrutura repetitiva (WINDSOR & DESAIN, 2000; FITCH & ROSENFELD, 2007). Thul (2008), por sua vez, define ritmo como sendo o entendimento e a descrição da duração, e padrões de duração de notas musicais. Todas estas definições de ritmos falam de padrão e tempo. Contudo, poucas pesquisas têm sido realizadas acerca do aprendizado de estruturas temporais (TILLMANN; STEVENS; KELLER, 2010).

As possibilidades de criação de diferentes ritmos e metros são diversas e podem variar a duração dos intervalos, os pulsos fracos e fortes, acentuações e o número de pulsos. Estas possibilidades permitem a produção de ritmos e compassos simples e simétricos, como o 4/4, e compassos mais complexos e assimétricos, como o 7/8. Entretanto, dentro da tradição musical ocidental clássica, enquanto ritmos simples e simétricos são muito comuns, ritmos complexos e assimétricos são relativamente raros (REPP et al., 2005; TILLMANN; STEVENS; KELLER, 2010). Repp et al. (2005) ainda lembram que, apesar de serem bem conhecidos na literatura musical, existe pouco estudo empírico acerca da produção e percepção de ritmos assimétricos. Um exemplo é o estudo de Snyder et al. (2006), que testaram a habilidade de norte americanos em sincronizar e acompanhar com palmas padrões métricos complexos, com e sem acompanhamento musical. Repp et al.(2005) definem ritmos assimétricos (“uneven”) como aqueles que possuem uma relação assimétrica entre elementos curtos e longos em um padrão rítmico.Um exemplo de compasso complexo é o 7/8, que divide o compasso em 7 unidades de tempo, que podem ser agrupadas em 2 grupos de 2 (elementos curtos) e um grupo de 3 tempos (elemento longo), formando uma razão não simétrica de 3:2 (SNYDER et al., 2006; REPP et al,.2005; TILLMANN; STEVENS; KELLER, 2010).

2.1. COMPLEXIDADE RÍTMICA

Para definir se um compasso ou um ritmo é ou não complexo precisa-se saber como definir ou como medir esta complexidade. Contudo, definir complexidade é uma tarefa complexa por si só. De modo geral, a complexidade de um objeto reflete a quantidade de informação nele contida. Entretanto, quando o ser humano faz parte do contexto a ser

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avaliado, deve-se tomar cuidado com a noção de complexidade, que se torna subjetiva (SHMULEVICH; POVEL, 2000). Informalmente, a complexidade rítmica pode ser pensada como a dificuldade que um ser humano tem de escutar e executar um ritmo ou reconhecer a sua estrutura (THUL, 2008). Pressing (1999) sugere que a complexidade pode ser comparada com a dificuldade de aprendizado, que por sua vez pode ser expressa por reconhecimento ou reprodução. Este autor também alega que a complexidade é “multifacetada”. Uma destas facetas seria a chamada complexidade hierárquica (hierarchical complexity), que se refere à existência simultânea de estruturas em diferentes níveis. Estes diferentes níveis estruturais que ocorrem simultaneamente podem ser vistos nas subdivisões rítmicas, como a divisão do metro em pulsos, e os pulsos, por sua vez, em pulsos fortes e fracos (PRESSING, 1999; SHMULEVICH; POVEL, 2000). A complexidade rítmica é largamente estudada por Thul (2008), que procura determinar em sua tese uma forma apropriada de medir a complexidade de ritmos musicais, discorrendo sobre diversas propostas de outros pesquisadores. O autor traz diferentes definições, interpreta-as e mede-as através de diferentes métodos, entre os quais: “Toussaint’s Metrical Complexity”, que atribui um “peso” métrico para cada batida dentro de um ritmo, e o método “Longuet-Higginsand Lee Complexity”, que propõe designar unidades métricas em diferentes níveis dentro de uma hierarquia métrica. Pressing (1999), por exemplo, propõe uma divisão hierárquica do ritmo e em cada divisão procura padrões sincopados, que irão determinar a complexidade do ritmo, de modo que quanto mais sincopado, mais complexo é o ritmo. Apesar de que ritmos sincopados são mais difíceis de acompanhar e de memorizar do que ritmos não sincopados (FITCH; ROSENFELD, 2007), a síncope pode ser apenas um aspecto da complexidade.

2.2. COMPLEXIDADE RÍTMICA E EXPERTISE MUSICAL

De acordo com Snyder et al. (2006), estudos mostram que a dificuldade de adultos norte americanos com ritmos não simétricos viria do costume com o uso de compassos simples na música ocidental, e não da dificuldade intrínseca do compasso complexo. Contudo, ele afirma que um dos fatores que influencia a percepção de ritmos complexos é a forma que as batidas são agrupadas dentro do compasso, além da sua própria estrutura métrica. Estes dois fatores ressaltam a importância da acentuação, uma vez que a ocorrência de pulsos fortes direciona a atenção para os eventos acentuados, o que facilita e melhora a percepção destes eventos (KUNG et al., 2011). Para Snyder et al. (2006), a lógica de testes de acompanhamento com palmas é de que a exatidão e precisão dos movimentos das mãos

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devem refletir a dificuldade de processamento do ritmo e de sua estrutura métrica. A pesquisa de Repp et al. (2005), também mostrou que o acompanhamento de ritmos com palmas é mais influenciado pelo agrupamento temporal do que pelo metro em si. Esta influência pode estar relacionada ao fato de que o agrupamento de estruturas rítmicas na percepção auditiva segue os princípios de similaridade da teoria da Gestalt, em que sons consecutivos que estão próximos ou compartilham certas características tendem ser percebidos como se fossem de um mesmo grupo (KUNG et al., 2011). A teoria da Gestalt diz que o todo não pode ser entendido apenas como a soma das partes, pois a soma de duas ou mais partes gera um novo elemento com características próprias. Por exemplo, duas notas tocadas consecutivamente, ou duas células rítmicas executadas em sequencia formam um novo elemento, um novo grupo, que passa a ser entendido como uma coisa só.

Segundo Fitch e Rosenfeld (2007), estímulos auditivos, ou um ritmo, que contenham informações conflitantes acerca da acentuação da estrutura métrica são difíceis de assimilar como um único estímulo. Assim, subdividindo um ritmo complexo e reinterpretando-o como sendo grupos menores coexistentes, o ritmo torna-se mais fácil de assimilar. O experimento de Tillmann et al. (2010), com ritmos com padrão 2:2:3, mostrou que os ouvintes tendem a assimilar os padrões de tempo relativos ao invés do padrão absoluto, dividindo o ritmo em partes menores. Contudo, ritmos assimétricos podem até ser produzidos sem uma subdivisão mental, desde que haja um contraste considerável entre os intervalos curtos (divisão em dois, como duas colcheias, por exemplo) e longos (divisão em três) (REPP et al., 2005).

Tillmann et al. (2010), alegam ainda que o uso de estruturas rítmicas não familiares permite que estudos da assimilação destas estruturas sejam controlados em laboratório, uma vez que os ouvintes praticamente não possuem conhecimento prévio do material.Os autores afirmam que na cultura ocidental ritmos não familiares não conseguem ser assimilados dentro das estruturas métricas familiares. Desta maneira, é mais fácil reproduzir padrões rítmicos cujos intervalos têm razão simples do que complexa, como demonstraram Povel e Essens (1985). Contudo, existem fatores que podem auxiliar e facilitar a reprodução de ritmos complexos, como o uso de acompanhamentos musicais (SNYDER et al., 2006). Outro fator é o treinamento em longo prazo, que permite ao ouvinte detectar regularidades temporais e construir uma estrutura métrica de forma mais eficiente em sua mente (KUNG et al., 2011). Assim, em estudos acerca da assimilação e reprodução de ritmos, é importante considerar tanto músicos como não músicos. Estudos mostram que músicos são mais precisos que não músicos em termos de sincronização e reprodução de ritmos métricos e não métricos (KUNG et al., 2011). Mas até mesmo músicos (ocidentais) são menos precisos ao acompanhar ritmos

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irregulares, ou assimétricos, do que ritmos regulares (TILLMANN et al., 2010; FITCH; ROSENFELD, 2007). Além disto, o estudo de Tillmann et al. (2010) mostrou que não músicos também conseguem assimilar ritmos complexos e assimétricos que não são culturalmente familiares.

2.3. RITMO E EMOÇÃO

Uma característica importante do ritmo é a capacidade de gerar expectativas e emoções nos ouvintes. De acordo com Tillmann et al. (2010), ouvintes que foram expostos predominantemente à música ocidental, que apresenta basicamente ritmos simples, desenvolvem expectativas temporais relativamente simples. Em relação à emoção, de forma análoga à dissonância tonal, uma dissonância rítmica, na forma de síncope ou complexidade rítmica, também cria tensão, que pode ser resolvida em ritmos mais simples. Segundo a hipótese de Fitch e Rosenfeld (2007), a dissonância rítmica pode causar ao ouvinte uma elevada excitação física quando estiver batendo o pulso acompanhando um ritmo complexo. Esta excitação irá diminuir quando ele resolver a dissonância ao assimilar o ritmo, reinterpretando-o como um ritmo mais simples. Tal tensão e relaxamento rítmico, implementados em diferentes escalas de tempo, podem oferecer uma nova dimensão de inovação e expressão musical (FITCH; ROSENFELD, 2007). Para estudar e classificar ritmos em termos de emoção e expectativa é importante saber como defini-las e descrevê-las.

Evidências levaram muitos psicólogos da música descrever emoção como um conjunto de dimensões, como angústia, depressão, excitação, desprazer, entre outras, de modo que cada dimensão varia independentemente umas das outras (RUSSEL, 1980). Contudo, Russel (1980) afirma que, de acordo com outras evidências, antes de serem independentes, estas dimensões da emoção se relacionam em uma forma altamente sistemática. Ele sugere que os diferentes estados emocionais sejam representados através de um círculo em um espaço bipolar bidimensional, chamado de Modelo Circumplexo de Russel (Figura 1).

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Figura 1 - Modelo Circumplexo de Russel: oito estados emocionais distribuídos em uma ordem circular.

Este círculo se orienta por dois eixos: horizontal: prazer-desprazer (valência); vertical: excitação-sonolência (arousal). Assim, os oito estados emocionais são distribuídos circularmente sobre os eixos da seguinte forma: prazer (0º), entusiasmo (45º), excitação (90)º, angústia (135º), tristeza (180º), depressão (225º), sonolência (270º), relaxamento (315º). Russell (1980) defende a ideia de que a experiência emocional em si é o produto final do processo cognitivo, ou seja, é o processo cognitivo que traz significado e definição à emoção. Seguindo este pensamento pode-se dizer que um ritmo ao ser assimilado pode gerar algum tipo de sentimento, emoção ou expectativa. A emoção “agradabilidade”, que é um dos focos desta pesquisa, se localiza juntamente à emoção “prazer”, à 0º no Modelo Circumplexo. Uma vez que os eixos representam os níveis de valência na horizontal e excitação na vertical, tem-se que a agradabilidade apretem-senta um valor positivo de prazer e um valor próximo de zero, nem positivo nem negativo, para excitação. Assim, ao medir apenas o nível de agradabilidade, não é necessário levar em conta o nível de excitação, eixo vertical, considerando apenas o eixo horizontal, verificando se a valência é positiva ou negativa.

Portanto, o objetivo deste estudo é analisar aspectos cognitivos de padrões rítmicos com diferentes fórmulas de compasso por meio de um estudo empírico que busca medir níveis de agradabilidade e de complexidade em participantes músicos e não músicos.

Danilo Ramos 10/3/2013 03:53 Comment [1]: Temos que colocar de onde você retirou essa figura (a fonte) e inserir a referência no final (sessão referências). Blz?

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3. METODOLOGIA

O experimento foi composto por duas etapas:

Primeira Etapa

Objetivo específico: investigar o grau de agradabilidade dos diferentes padrões rítmicos em diferentes fórmulas de compasso para bateristas, músicos não bateristas e não músicos.

Participantes: 30 pessoas, com idade entre 16 e 31 anos (média de 22,8 anos), divididas em três grupos: 10 músicos bateristas, 10 músicos não bateristas (ambos os grupos compostos por indivíduos que tenham pelo menos 5 anos de prática instrumental) e 10 não músicos, definidos no presente estudo como indivíduos que nunca fizeram aula sistemática de algum instrumento musical.

Materiais e equipamentos: o teste foi realizado em uma sala silenciosa, com paredes brancas, sem interferência de estímulos visuais que pudessem distrair os participantes. O experimento contou comum notebook para o armazenamento e apresentação dos diferentes padrões rítmicos, um amplificador com caixas de som, para a reprodução e amplificação dos ritmos no ambiente; software Microsoft Excel para o registro dos resultados.

Caracterização dos padrões rítmicos: cada padrão rítmico possuía apenas um compasso de extensão (conforme a respectiva fórmula de compasso), que foi repetido quatro vezes. Todos os ritmos possuíam andamento de 120 bpm. Foram compostos cinco ritmos diferentes para cada uma das três diferentes fórmulas de compasso (4/4, 5/4, 7/4), totalizando 15 trechos rítmicos. Cada um dos cinco ritmos possuía o seu equivalente para cada fórmula de compasso, proporcionando cinco níveis diferentes e equivalentes para cada compasso (ANEXO A). A equivalência dos níveis foi dada pela utilização de células rítmicas semelhantes. Cada estímulo foi composto apenas por elementos rítmicos, sem alturas definidas, como sons de peças de uma bateria (apenas bumbo, caixa e chimbal) e todos os ritmos tinham o mesmo som para cada peça. Os padrões rítmicos foram criados por meio de samplers com sequências de comandos MIDI, utilizando o software Pro Tools 10.

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Procedimento: após o preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO B), referente ao Comitê de Ética e Pesquisa da UFPR, o participante recebia as seguintes instruções: “Sua tarefa consiste em escutar os trechos rítmicos e atribuir-lhes um grau de agradabilidade. Cada trecho será reproduzido apenas uma vez. Após a escuta de cada trecho rítmico, você deverá atribuir uma nota de 0 a 10 para o trecho em questão, em que ‘0’ significa nada agradável e ‘10’ significa muito agradável. Você pode começar quando quiser”. Cinco sequências distintas de apresentação dos estímulos foram criadas, cada uma com a apresentação dos trechos rítmicos em ordem aleatória. Cada participante recebia uma sequência de acordo com seu número.Todo o experimento foi realizado de acordo com o Protocolo Experimental (ANEXO C), onde consta a descrição detalhada de todo o procedimento experimental.

Análise de dados: uma análise de variância foi aplicada para comparar as médias das respostas dos participantes dos três grupos em relação ao tempo de assimilação de cada trecho musical, configurando um design experimental: 3 (Grupos) x 5 (Músicas) x 3 (Compassos). Foram consideradas diferenças estatísticas significativas, níveis de p menores ou iguais a 0,05.

Segunda Etapa

Objetivo específico: verificar a complexidade de assimilação dos ritmos com diferentes fórmulas de compasso por bateristas, músicos não bateristas e não músicos.

Participantes: os mesmos participantes da primeira etapa do presente estudo.

Materiais e equipamentos: os mesmos materiais e equipamentos da primeira etapa do presente estudo, incluindo uma interface de áudio, um cabo de áudio e um microfone.

Caracterização dos padrões rítmicos: os mesmos padrões rítmicos da primeira etapa do presente estudo, porém, apresentados em trechos de doze compassos, com uma contagem inicial contendo o número de pulsos do compasso referente ao padrão rítmico.

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Procedimento: a segunda etapa do estudo foi realizada imediatamente após a primeira e foi gravada. O participante ficava em pé no centro da sala, de frente para o microfone e para as caixas de som, de modo que conseguia ouvir claramente os ritmos reproduzidos.

Foram passadas as seguintes instruções: “a segunda etapa do experimento consiste na audição e acompanhamento de diferentes padrões rítmicos com palmas. Neste sentido, um ritmo soará e você deve, então, por meio do bater de suas palmas, acompanhá-lo até o seu final, ou seja, até ele parar de tocar. Os ritmos são executados com sons de bateria, e você deve acompanhar o ritmo batendo palmas nos tempos marcados com a caixa. Haverá um pequeno intervalo entre um ritmo e outro e, para facilitar a sua tarefa, antes de cada ritmo, haverá uma contagem. Após o início desta segunda etapa do experimento, não haverá pausa até o término da execução de todos os trechos rítmicos. Para que não haja dúvidas vamos fazer uma demonstração”.

Em seguida é realizado o pré-teste (demonstração), com um ritmo diferente dos demais que serão apresentados, para que o participante esclareça qualquer eventual dúvida e para o ajuste do ganho do microfone.

Após a realização do pré-teste, o participante recebia as seguintes instruções: “Vamos iniciar a segunda etapa do experimento. Vale ressaltar que: haverá uma contagem antes de cada ritmo; haverá um pequeno intervalo entre cada ritmo; você deve acompanhar o ritmo até o final do mesmo; após o início desta etapa, não haverá pausa até o término da execução de todos os trechos rítmicos; podemos começar?”. Os trechos rítmicos foram apresentados de forma aleatória.

Após a execução e acompanhamento de todos os ritmos foi feito um questionário qualitativo referente à expertise do participante e às duas etapas do experimento (ANEXO D). Posteriormente, por meio do áudio gravado, foi feita uma a análise descritiva dos resultados de cada participante. Esta análise possibilitou o levantamento da porcentagem de acertos de cada participante para cada trecho a partir da contagem de quantas palmas foram executadas corretamente (batendo junto ao tempo marcado com o som da caixa) de cada um dos ritmos. Também foi feita a contagem de quantos compassos o participante acompanhou corretamente (acertando todas as batidas do compasso). Foram desconsiderados os dois primeiros compassos de cada trecho, os quais são necessários para percepção do período de repetição e assimilação dos padrões rítmicos, sendo assim analisados dez compassos por trecho rítmico.

Análise de dados: um teste estatístico ANOVA foi aplicado para comparar as médias das respostas dos participantes dos três grupos em relação a porcentagem de acertos para cada trecho musical, configurando um design experimental: 3 (Grupos) x 5 (Ritmos) x 3

(18)

(Compassos). Foram consideradas diferenças estatísticas significativas níveis de p menores ou iguais a 0,05.

(19)

4. RESULTADOS

Considerando os resultados referentes à primeira etapa do experimento a Figura 2 representa a média das respostas referentes ao nível de agradabilidade em função das fórmulas de compasso dos trechos rítmicos apresentados, fornecidas pelos músicos bateristas, músicos não bateristas e não músicos.

Figura 2 - Médias das respostas referentes ao nível de agradabilidade em função das fórmulas de compasso dos trechos rítmicos apresentados fornecidas pelos músicos

bateristas, músicos não bateristas e não músicos.

A análise de variância mostrou que a diferença entre as médias das respostas para o nível de agradabilidade não é significativa entre os três grupos, nem entre as diferentes fórmulas de compassos.

A Figura 3, por sua vez, representa as médias das respostas referentes ao nível de agradabilidade fornecidas pelos músicos bateristas, músicos não bateristas e não músicos, em função do nível de complexidade dos ritmos apresentados, independentemente das fórmulas de compasso. 0   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   4/4   5/4   7/4   Músicos   bateristas   Músicos  não   bateristas   Não  músicos  

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Figura 3 – Médias das respostas referentes ao nível de agradabilidade em função do nível de complexidade dos ritmos apresentados fornecidas pelos músicos bateristas,

músicos não bateristas e não músicos.

A análise de variância mostrou diferenças significativas para o grau de agradabilidade entre os ritmos (F=4,011 e p=0,002177), assim como a diferença entre as médias dos grupos referente aos ritmos (F=2,159 e p=0,040888). Os dados apresentados na Figura 3 mostram certo padrão nos resultados, que varia um pouco para cada grupo de participante. Para os músicos bateristas, o ritmo cinco (“R5”) foi o mais agradável, com média 7,19, enquanto o ritmo dois (“R2”) foi o menos agradável, com média 6,08. Pode-se observar que a agradabilidade cresce de acordo com os ritmos, apenas variando no ritmo dois que apresenta média mais baixa que o ritmo um (“R1”, média=6,50). Para o grupo dos músicos não bateristas, assim como para os bateristas, o R2 também foi o ritmo menos agradável, obtendo a média mais baixa (6,28), e o ritmo quatro (“R4”) apresentou a média mais alta, de 7,92. Os ritmos R3 e R5 obtiveram médias próximas, 6,38 e 6,33, respectivamente. O grupo dos não músicos, assim como o grupo dos músicos não bateristas, teve como mais agradável o ritmos R4, com média 6,98, seguido do ritmo R2, com média 6,97, o qual obteve as médias mais baixas nos demais grupos. Para os não músicos os ritmos menos agradáveis foram R1, R5 e depois R3, com médias 6,47, 6,50 e 6,63, respectivamente.

Para os resultados referentes à segunda etapa do experimento, a Figura 4 representa as médias das porcentagens de acerto dos músicos bateristas, músicos não bateristas e não músicos em função das fórmulas de compasso dos trechos rítmicos apresentados. Já a Figura

0   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   R1   R2   R3   R4   R5   Músicos   bateristas   Músicos  não   bateristas   Não  músicos  

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5 representa as médias das porcentagens de acertos dos músicos bateristas, músicos não bateristas e dos não músicos em função do nível de complexidade dos ritmos apresentados.

Figura 4 – Médias das porcentagens de acerto, de músicos bateristas, músicos não bateristas e não músicos em função das fórmulas de compasso dos trechos rítmicos

apresentados.

Figura 3– Médias das porcentagens de acertos dos músicos bateristas, músicos não bateristas e dos não músicos em função do nível de complexidade dos ritmos

apresentados.

As Figuras 4 e 5 mostram as médias da porcentagem de acerto dos grupos na tarefa de acompanhamento dos ritmos, e pode-se observar a mesma tendência em ambas as figuras. O

0   10   20   30   40   50   60   70   80   90   100   4/4   5/4   7/4   Músicos   bateristas   Músicos  não   bateristas   Não  músicos   0   10   20   30   40   50   60   70   80   90   100   R1   R2   R3   R4   R5   Músicos   bateristas   Músicos  não   bateristas   Não  músicos  

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teste ANOVA das porcentagens de acerto mostrou que as variações dos resultados foram significativas entre os grupos (F=8,279 e p=0,002822), entre as fórmulas de compasso (F=15,403 e p=0,000126) e principalmente entre os ritmos (F=43,406 e p=0,000000). Pode-se perceber que os não músicos tiveram mais dificuldade que os músicos não bateristas, e os músico músicos não bateristas, por sua vez, apresentaram maior dificuldade que os músicos bateristas na tarefa de acompanhamento rítmico, independentemente da fórmula de compasso ou do ritmo, pois os bateristas obtiveram as maiores porcentagens de acerto e os não músicos as menores. A Figura 4 mostra que os ritmos com fórmula de compasso 5/4 e 7/4 foram mais complexos que os ritmos em 4/4, para todos os grupos. Os músicos bateristas tiveram as médias mais próximas para as porcentagens de acerto em função das diferentes fórmulas de compasso, sendo a média de 96,93%,para os ritmos em compasso 4/4, a mais alta. Já para os ritmos em compassos 5/4 e 7/4 as médias foram 91,27% e 92,70%, respectivamente. O grupo dos músicos não bateristas obteve as médias 93,53%, 81,20% e 80,36% para os compassos 4/4, 5/4 e 7/4, respectivamente. Enfim, o grupo dos não músicos obteve média de 76,83% para os ritmos em compasso 4/4, de 67,52% para 5/4 e de 68,3% para 7/4. Contudo, o teste ANOVA mostrou que não houve um efeito da fórmula de compasso sobre a variável grupo. Estes dados permitem analisar se há diferença no processamento rítmico entre os diferentes grupos, além de verificar e comparar a complexidade dos diferentes padrões rítmicos (R, R2, R3, R4 e R5), assim como das diferentes fórmulas de compasso (4/4, 5/4 e 7/4).

A Figura 5 mostra que os três grupos obtiveram a média mais alta de acertos para o R2, e média mais baixa para o R5, apresentando grande variação entre as médias (variação de 19,41% no grupo dos músicos bateristas, que chega a 33,99% para o grupo dos não músicos). A variação das médias das porcentagens de acertos foi maior entre os diferentes ritmos do que entre as diferentes fórmulas de compasso. Os músicos bateristas obtiveram médias acima de 95% de acerto para os ritmos 1, 2, 3 e 4 (chegando a 99,47% para o R2), entretanto para o R5 a média caiu para 80,06%. O grupo dos músicos não bateristas teve médias acima de 90% para R1, R2 e R3, caindo até 64,54% em R5. Já o grupo dos não músicos obteve as médias mais baixas, sendo a mais alta de 85,43% para R2, seguida de 82,44% para R1, chegando a 51,44% em R5. Levando em consideração a relação das variações das médias de porcentagem de acertos dos ritmos entre os três grupos praticamente não há diferença estatística relevante segundo o teste ANOVA.

Considerando os resultados das duas etapas do experimento, a Figura 6 mostra a variação das médias dos resultados, fornecidos por todos os participantes do experimento, referentes ao

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nível de agradabilidade (em porcentagem) e das porcentagens de acertos em função do nível de complexidade dos trechos rítmicos apresentados.

Figura 6 - Médias dos resultados referentes ao nível de agradabilidade e das porcentagens de acertos em função do nível de complexidade dos trechos rítmicos

apresentados fornecidos por todos os participantes do experimento.

Pode-se observar o comportamento inversamente proporcional entre as duas variáveis estudadas, diferindo um pouco apenas no último ponto. A porcentagem de acerto sobe de 90,80% em R1 para 93,53% em R2, e cai até 65,35% em R5. Em contrapartida a agradabilidade apresenta uma queda de 64,89% para 64,44% de R1 para R2, ascendendo até 72,89% em R4 e caindo para 70,08% em R5. 60   65   70   75   80   85   90   95   100   R1   R2   R3   R4   R5   Porcentagem  de   acertos   Agradabilidade   (em  %)  

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5. DISCUSSÃO

O presente estudo visa analisar a influência da complexidade rítmica e de diferentes fórmulas de compasso sobre a agradabilidade de padrões rítmicos para diferentes grupos de pessoas, através de um teste experimental.

O teste realizado consistiu de duas etapas: uma voltada para a medição do grau de agradabilidade dos ritmos e outra para a medição do nível de complexidade dos ritmos.

A medida quantitativa da agradabilidade pôde ser vista como o resultado do processo cognitivo do participante ao ouvir e assimilar um padrão rítmico, uma vez que, segundo Russel, a experiência emocional pode ser considerada o resultado do processo cognitivo (Russel, 1980). Já a complexidade rítmica foi avaliada pela porcentagem de acertos de cada participante na tarefa de acompanhamento dos padrões rítmicos com palmas. Segundo Snyder et al.(2006), testes de acompanhamento com palmas refletem a dificuldade de processamento do ritmo. Assim, pode-se considerar que os ritmos que apresentam maiores porcentagens de acerto são menos complexos, enquanto aqueles com menor porcentagem de acerto são mais complexos. Estes dados permitem analisar se há diferença no processamento rítmico entre os diferentes grupos, além de verificar e comparar a complexidade dos diferentes padrões rítmicos (R1, R2, R3, R4 e R5), assim como das diferentes fórmulas de compasso (4/4, 5/4 e 7/4).

5.1. INTERPRETANDO OS DADOS

Os resultados obtidos no experimento revelam alguns aspectos cognitivos sobre o processamento rítmico dos grupos pesquisados, permitindo uma análise da interação dos participantes com a agradabilidade e complexidade rítmica, no contexto em questão. Entenda-se “processamento rítmico” como a estratégia ou a forma com que o participante interpreta e assimila o ritmo apresentado.

5.1.1. QUANTO À AGRADABILIDADE

O experimento realizado neste estudo envolveu apenas uma das dimensões propostas por Russel (1980) para se avaliar emoções dentro do modelo circumplexo: a agradabilidade (ou

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valência, representada pelo eixo horizontal no modelo circumplexo), que pode ser vista como o nível de prazer ou desprazer.

O questionário preenchido pelos participantes ao final de experimento trouxe informações sobre características que podem ajudar a definição de agradável. A questão: “Quais critérios você utilizou para atribuir o grau de agradabilidade de cada ritmo?”, obteve respostas bastante diversas, mesmo para indivíduos do mesmo grupo, contanto alguns critérios foram mais recorrentes que outros. Dos trinta participantes, vinte e quatro colocaram em suas respostas termos que de alguma forma se relacionam ou refletem a complexidade, como simples/complexo, padrões e simetria, compreensão e reconhecimento, fácil/difícil. Os demais levaram em conta características como afinidade, gosto pessoal e estilo musical apenas. Desta maneira, mesmo tendo critérios e aspectos diversos, há uma coerência na avaliação da agradabilidade. Isto também se justifica pelo modelo Circumplexo de Russel, pois considerando o eixo da agradabilidade, pode se encontrar diferentes emoções com níveis semelhantes de agradabilidade (RUSSEL, 1980), como alegria, satisfação, calma e serenidade, por exemplo, de modo que se pode ter uma característica comum para diferentes avaliações do grau de agradabilidade dos ritmos.

A análise de variância mostrou que não houve diferença significativa entre os resultados de agradabilidade entre os grupos ou entre as fórmulas de compasso. Da mesma forma, não se observa diferença significativa nos níveis de agradabilidade entre as diferentes fórmulas de compasso. Portando, de acordo com os resultados, não se pode afirmar queno presente estudo uma fórmula de compasso tenha sido julgada como sendo mais agradável que outra, mostrando que o nível de agradabilidade dos eventos rítmicos apreciados não esteve associado à fórmula de compasso.

Ao traçar uma relação entre as respostas de agradabilidade dos três grupos com os cinco padrões rítmicos, o teste ANOVA revelou que a diferença entre as médias foi significativa. Os níveis de agradabilidade atribuídos a cada ritmo representaram as respostas emocionais dos grupos de forma significativa. Ou seja, o nível de agradabilidade dos eventos rítmicos apreciados esteve associado às células rítmicas utilizadas, e não à fórmula de compasso de cada ritmo. Além disso, a diferença de julgamento dos ritmos entre os grupos se mostrou significativa estatisticamente, e os dados revelaram uma tendência semelhante nos níveis de agradabilidade atribuídos aos cinco ritmos em cada grupo. Observou-se um aumento, não linear, do nível de agradabilidade dos ritmos de acordo com o aumento da complexidade. Isto mostra que os grupos respondem emocionalmente de forma semelhante a estímulos rítmicos,

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independentemente de o indivíduo ser músico (baterista ou não) ou não músico, ele terá reações emocionais diferentes ao escutar um ritmo simples e um ritmo mais complexo.

5.1.2. QUANTO À COMPLEXIDADE

A complexidade rítmica é uma variável difícil de definir e medir, de modo que na literatura encontram-se diferentes definições, conceitos e métodos no que tange a complexidade e percepção rítmica (WINDSOR; DESAIN, 2000; FITCH; ROSENFELD, 2007;REPP et al., 2005; SNYDER et al. 2006; SHMULEVICH; POVEL, 2000).

Testes de acompanhamento com palmas refletem a dificuldade de processamento do ritmo, de modo que a medida de complexidade é dada, neste caso, pela porcentagem de acertos dos participantes no teste. Assim, os ritmos que apresentam maiores porcentagens de acerto são menos complexos, enquanto aqueles com menor porcentagem de acerto são mais complexos (SNYDER et al., 2006; THUL, 2008; PRESSING, 1999). Outros estudos experimentais sobre complexidade e percepção rítmica já foram realizados utilizando tarefas de acompanhamento, além de Snyder et al. (2006), se tem Repp et al. (2005) e Fitch e Rosenfeld (2007) por exemplo. O presente estudo apresentou cinco ritmos diferentes equivalentes para cada fórmula de compasso. Estes cinco ritmos foram criados para apresentarem níveis crescentes de complexidade, de modo que o ritmo 1 seria o mais simples e o ritmo cinco o mais complexo. Isto foi realizado tendo em vista que, de acordo com pesquisas sobre complexidade rítmica, quanto mais informação e mais síncopes o ritmo conter, mais complexo será (FITCH; ROSENFELD, 2007; SHMULEVICH; POVEL, 2000). Os resultados obtidos na segunda etapa do experimento revelam diversos aspectos sobre a complexidade rítmica em relação aos diferentes grupos de participante, assim como em relação aos diferentes ritmos e fórmulas de compasso. As figuras 4 e 5 apresentam as diferenças dos resultados dos três grupos para a tarefa de acompanhamento, e, conforme a hipótese original descrita no estudo, os bateristas obtiveram índices de acerto mais elevados do que os músicos, e estes, por sua vez, tiveram um desempenho melhor do que os não músicos no desenvolvimento da tarefa, confirmando também o que afirma Kung et al. (2011). Contudo, é importante observar que os três grupos apresentaram uma curva de desempenho semelhante, tanto em relação aos diferentes compassos (Figura 4), quanto em relação aos diferentes ritmos (Figura 5), mostrando que não houve diferença entre os três grupos quanto ao processamento dos diferentes ritmos e das diferentes fórmulas de compasso. Isto também destaca que a complexidade rítmica pode estar associada tanto às fórmulas de compasso

(27)

quanto às células rítmicas utilizadas. Entretanto, de acordo com os dados, alterar as células rítmicas pode ter uma maior influencia na complexidade de um ritmo do que alterar sua fórmula de compasso.

Tais dados nos relevam características cognitivas dos grupos em relação à assimilação e produção de ritmos. Percebe-se a diferença de habilidade motora entre os grupos, de acordo com a hipótese original descrita no estudo, uma vez que os bateristas possuem um nível de expertise em ritmo, enquanto os músicos de uma maneira geral possuem algum treinamento básico em ritmo, e os não músicos não possuem praticamente nenhum treinamento rítmico específico, o que é revelado nas médias dos índices de acerto. Contudo, apesar desta diferença notável, os resultados revelam que o processamento rítmico dos três grupos foi semelhante. Em outras palavras, a fórmula de compasso que foi mais complexa para o baterista também foi mais complexa para o músico, e, da mesma forma, para o não músico, assim como o ritmo que foi menos complexo para um grupo também foi menos complexo para os demais.

Além disso, as respostas do questionário mostram que apenas oito dos trinta participantes pensaram na subdivisão rítmica ou na fórmula de compasso para a grande maioria dos trechos na tarefa de acompanhamento, e, destes oito, cinco pertencem ao grupo dos bateristas e três ao grupo dos músicos. Participantes não músicos, apesar de apresentarem maior dificuldade no desenvolvimento da tarefa, foram capazes de acompanhar ritmos complexos e não familiares, assim como mencionou Tilmann et al. (2010).

Com relação às diferenças entre compassos sobre a variável complexidade, ficou clara a diferença dos resultados dos três grupos para o compasso 4/4 em relação aos compassos 5/4 e 7/4. Além de poder ser observada no gráfico, a diferença entre as porcentagens de acertos para as diferentes fórmulas de compasso foi significativa segundo o teste ANOVA. Mesmo as médias sendo muito diferentes entre os três grupos, observou-se uma curva de variação semelhante quanto à porcentagem de acertos em relação às fórmulas de compasso (Figura 4). Portanto, de acordo com estes dados, os ritmos apresentados com as fórmulas de compasso 5/4 e 7/4 foram mais complexos do que aqueles em 4/4, independentemente do grupo ou da complexidade das células rítmicas utilizadas, mostrando que, cognitivamente, o processamento rítmico foi semelhante para todos os participantes.

Analisando do mesmo modo as diferenças entre os cinco padrões rítmicos sobre a variável complexidade, fica maior e mais evidente a diferença das médias das porcentagens de acertos. Para os diferentes ritmos a análise estatística de variância mostrou que a diferença entre as médias é relevante. Conforme aumentava a complexidade do ritmo (de R1 para R5), a porcentagem de acertos diminuía. Estes dados confirmam o que defendem Snyder et al.

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(2006) a respeito das tarefas de acompanhamento com palmas, o fato de que tais tarefas podem refletir a complexidade e a dificuldade de processamento do ritmo. O desempenho dos grupos quanto ao acompanhamento dos cinco ritmos diferentes reitera que não há diferença no processamento rítmico entre músicos bateristas, músicos não bateristas e não músicos.

Quanto à análise da complexidade entre diferentes compassos e diferentes ritmos, percebeu-se que a diferença entre as porcentagens de acertos para os cinco ritmos é maior que para as diferentes fórmulas de compasso. Isto mostra que a complexidade dos ritmos foi mais influenciada pelas células rítmicas e seu agrupamento temporal do que pelas fórmulas de compasso, ou o metro. Este resultado também foi encontrado na pesquisa de Repp et al. (2005), e está de acordo com o que diz Kung et al., sobre a forte influência do agrupamento de estruturas rítmicas na percepção auditiva.

5.1.3. RELAÇÃO AGRADABILIDADE E COMPLEXIDADE

Além de analisar de forma detalhada a agradabilidade e complexidade rítmica separadamente, o estudo busca encontrar e traçar possíveis relações entre os resultados obtidos de agradabilidade e complexidade para os grupos, e verificar a influencia da complexidade rítmica sobre respostas emocionas quanto à agradabilidade.

Uma das questões levantadas foi a influência da agradabilidade e da complexidade no uso ou desuso de ritmos com fórmulas de compasso diferentes da subdivisão comum, ou seja, diferentes de 4/4. De acordo com as figuras 2 e 4 e com a análise estatística, os resultados não permitem traçar uma relação clara entre a agradabilidade e a complexidade das diferentes fórmulas de compasso. O fato de que os compassos 5/4 e 7/4 foram mais complexos que o 4/4 não influenciou diretamente nas respostas emocionais, pelo menos no que tange a medida de prazer e desprazer.

Quanto à agradabilidade, a análise de variância mostrou que não houve diferença no julgamento da apreciação dos eventos rítmicos por parte dos grupos na relação dos grupos com as respostas de agradabilidade. Já na relação dos grupos com a complexidade foi possível observar claramente a diferença nos índices de acertos, mostrando que os grupos eram diferentes em termos de expertise rítmica. Contudo, cognitivamente, se mostraram semelhantes, não havendo diferença na forma que processavam os diferentes ritmos e fórmulas de compasso.

Além disso, foi possível observar uma relação direta entre a complexidade e os diferentes ritmos e fórmulas de compasso. Os resultados mostraram que quanto maior é a quantidade de

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informação, maior é a complexidade, refletindo os resultados de Shmulevich e Povel (2000). Contudo, também se pôde observar que o nível de complexidade foi mais influenciado pelas características intrínsecas do ritmo do que pela fórmula de compasso utilizada, ou seja, houve uma relação mais estreita e mais forte entre complexidade e ritmo (células e agrupamentos rítmicos) do que entre complexidade e fórmulas de compasso (TILLMANN et al., 2010; KUNG et al., 2011).

Os resultados obtidos no presente estudo permitem traçar uma relação entre agradabilidade e complexidade rítmica. Como o teste ANOVA mostrou serem relevantes as variações da agradabilidade de acordo com os ritmos e as variações de complexidade para os ritmos, é possível comparar tais resultados. Portanto, existiu uma relação inversamente proporcional entre a agradabilidade e a porcentagem de acertos, ou, em outras palavras, houve uma relação diretamente proporcional entre nível de agradabilidade e complexidade rítmica, de modo que quanto mais complexo era o ritmo maior era o grau de agradabilidade, exceto para o último ponto, referente ao ritmo cinco.

A conclusão de que, de um modo geral, os ritmos mais complexos foram mais agradáveis pode estar relacionada ao fato de os participantes estarem acostumados à música ocidental, que apresenta basicamente ritmos simples (TILMANN et al., 2010). Assim, a exposição a ritmos diferentes e mais complexos pode causar um elevado grau de excitação (FITCH; ROSENFELD, 2007), levando a um maior grau de agradabilidade.

5.2. NOVAS HIPÓTESES E DIREÇÕES FUTURAS

O experimento realizado obteve uma série de resultados que permitiram analisar a hipótese proposta e levaram a novas hipóteses e ideias para novas pesquisas e estudos futuros. A hipótese inicial deste estudo previa que as fórmulas de compasso diferentes de 4/4 apresentassem maior nível de complexidade e, consequentemente, menor grau de agradabilidade, no intuito de que estes resultados se mostrassem como motivos plausíveis para o uso escasso de tais fórmulas na música ocidental. A análise das respostas do experimento mostrou que as fórmulas de compasso diferentes de 4/4 apresentaram maior nível de complexidade, mas não necessariamente um menor grau de agradabilidade.

O experimento mostrou que as fórmulas de compasso 5/4 e 7/4 foram mais complexas que a fórmula de compasso mais comum, confirmando a hipótese inicial do estudo. Entretanto, vale ressaltar que a fórmula de compasso se mostrou como um elemento menos influente na

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complexidade rítmica em relação à organização intrínseca do ritmo. Outra conclusão obtida foi que não houve diferença significativa entre o grau de agradabilidade entre as fórmulas de compasso.

Desta maneira, tais resultados ilustram aspectos cognitivos de diferentes grupos em relação ao processamento rítmico, corroborando com a proposição de novas hipóteses e novos estudos. Em relação à diferença de agradabilidade e complexidade de diferentes fórmulas de compasso, se faz necessária a realização de novos estudos envolvendo mais e diversos compassos, uma vez que são inúmeras as possibilidades, buscando novas respostas para a utilização intensa de uma formula de compasso em detrimento de outras. Além disso, o fato de se utilizar predominantemente fórmula de compasso 4/4 na música ocidental e não utilizar outros compassos mais incomuns pode estar mais intrinsecamente ligado a outros fatores, que não foram levados em conta neste estudo, tais como a influência cultural ou até a educação e prática musical na cultura ocidental.

No âmbito das respostas emocionais, o experimento revelou dados que apresentaram diferentes níveis de agradabilidade para diferentes ritmos. Neste sentido, novas pesquisas podem dar continuidade ao estudo da influencia rítmica sobre respostas emocionais, tanto para músicos como para não músicos, utilizando não apenas ritmos diferentes, mas expandindo para a influência dos ritmos sobre outras emoções, como aquelas abordadas pelo modelo Circumplexo de Russel (Russel, 1980).

Tendo como base o resultado obtido para a agradabilidade em relação à complexidade rítmica propõe-se uma nova hipótese a ser averiguada em estudos futuros: até um determinado nível de complexidade rítmica, a agradabilidade pode ser diretamente proporcional ao nível de complexidade. Então, é possível que acima deste nível, a agradabilidade passa a diminuir conforme aumentaria o nível de complexidade. Além disto, para explicar o fato de a agradabilidade aumentar conforme aumenta a complexidade rítmica, pode ser levantada uma hipótese, com base nos estudos de Tilmann et al. (2010) e Fitch e Rosenfeld (2007): ofato de o indivíduo estar habituado à escuta da música tonal ocidental (que apresenta, no geral, ritmos menos complexos) pode fazer com que a exposição a ritmos mais complexos desencadeiem um elevado grau de excitação, e isto por sua vez, dependendo do contexto musical, poderia resultar em um maior grau de agradabilidade.

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5.3. CONCLUSÃO

Após a realização do experimento e análise aprofundada dos resultados, o presente estudo possibilita estabelecer algumas conclusões. Com base nos resultados obtidos e na análise de variância, pode-se concluir que não houve diferença no processamento rítmico entre os diferentes grupos pesquisados. Conclui-se também que não existiu diferença significativa no nível de agradabilidade entre as diferentes fórmulas de compasso utilizadas. Desta maneira, de acordo com os resultados, as fórmulas de compasso incomuns na música ocidental, 5/4 e 7/4 no caso, não são necessariamente menos agradáveis que o tempo comum (4/4), mesmo tendo se mostrado mais complexas, e, portanto, não são mais incomuns por serem menos agradáveis.

Considerando todos os resultados obtidos, a pesquisa se mostrou pertinente em relação às variáveis estudadas acerca do ritmo. Foram obtidos resultados relevantes acerca da influencia da complexidade rítmica sobre respostas emocionais de músicos e não músicos. Encontraram-se também dados sobre processos cognitivos em relação à percepção, assimilação e produção rítmica em relação aos diferentes grupos de participantes, ritmos e fórmulas de compasso, contribuindo com novos dados e hipóteses para a literatura da área.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO A – PADRÕES RÍTMICOS

Padrões rítmicos utilizados no experimento. Os padrões rítmicos mostrados abaixo representam os ritmos executados com som de caixa, que deveriam ser acompanhados com palmas na segunda etapa do experimento.

  4/4   5/4   7/4   1         2         3         4         5        

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ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO

Termo de Consentimento

Você está sendo convidado (a) a participar do estudo intitulado “Influência da complexidade rítmica sobre respostas emocionais de músicos e não músicos”, que está sendo desenvolvido no Departamento de Artes, Setor de Ciências Humanas, de Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Tal estudo será realizado na sala 208, sob a supervisão de Eduardo Prado (pesquisador responsável, que lhe apresenta o seguinte termo) e do Prof. Dr. Danilo Ramos (orientador do presente estudo).

O objetivo deste estudo é avaliar a influência da complexidade de padrões rítmicos sobre as respostas emocionais geradas quanto à agradabilidade, tanto para músicos como para não músicos. Neste sentido, você irá realizar tarefas de escuta, acompanhamento e julgamento musical, além de responder algumas questões relacionadas ao estudo. Esta metodologia já está bastante consolidada na literatura científica em Cognição Musical, não existindo, portanto, métodos alternativos que possam produzir a exatidão dos dados necessários para este tipo de estudo.

A sua participação durará, em média, 25 minutos e é de extrema importância, porque contribuirá para um maior entendimento da complexidade rítmica e das respostas emocionais, gerando assim, uma relevante contribuição para a área de Rítmica,bem como para a área de Cognição Musical (em especial, o estudo das emoções desencadeadas pela música, e, neste caso mais especificamente, pelos ritmos).

Durante toda a sua participação, eu estarei acompanhando-o, pronto para esclarecer quaisquer questões referentes ao estudo.

Este estudo não apresenta desconfortos ou riscos previsíveis à sua integridade física e moral ou mesmo à sua saúde. No entanto, você tem total liberdade para perguntar o que quiser antes e depois de sua participação. Se, de algum modo, o estudo lhe provocar constrangimentos ou qualquer tipo de prejuízo, você tem total garantia de se recusar a participar em qualquer momento, sem que isto acarrete qualquer penalidade, nem represálias de qualquer natureza.

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O pesquisador responsável garante o sigilo confidencial dos dados; assim, todas as gravações executadas serão mantidas no anonimato.

Você não será reembolsado por sua participação neste estudo, uma vez que não houve nenhum gasto envolvido.

Uma cópia deste documento lhe será entregue assim que você assiná-lo.

Para maiores esclarecimentos, contactar: 1) Dr. Danilo Ramos

Departamento de Artes – DeArtes – UFPR

Rua Coronel Dulcídio, 638 - Bairro Batel / CEP 80420-170 - Curitiba - PR Telefone: (041) 3222-6856 / Fax: (041) 3222-6568

E-mail: danramosnilo@gmail.com

2) Eduardo Figueiredo Prado

Departamento de Artes – DeArtes – UFPR

Rua Coronel Dulcídio, 638 - Bairro Batel / CEP 80420-170 - Curitiba - PR Telefone: (041) 9685-5039

E-mail: edufprado@gmail.com

Eu li a proposta acima e entendi os procedimentos. Eu me disponho a participar deste estudo e autorizo a utilização do som para fins científicos.

Nome:____________________________________________________________________

Assinatura:_____________________________________

Referências

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