• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA- UNB INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS- IH DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL- SER. Murilo Martins Braga

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA- UNB INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS- IH DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL- SER. Murilo Martins Braga"

Copied!
63
0
0

Texto

(1)

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS- IH DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL- SER

Murilo Martins Braga

AS EXPRESSÕES DA “QUESTÃO SOCIAL” NA FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA DA DÉCADA DE 1950 ATÉ O FIM DA DITADURA CIVIL

-MILITAR

Brasília-DF 2018

(2)

Murilo Martins Braga

AS EXPRESSÕES DA “QUESTÃO SOCIAL” NA FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA DA DÉCADA DE 1950 ATÉ O FIM DA DITADURA CIVIL

MILITAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Brasília como requisito para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof. Dr. Michelly Ferreira Monteiro Elias

Brasília- DF 2018

(3)

Murilo Martins Braga

AS EXPRESSÕES DA “QUESTÃO SOCIAL" NA FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA DA DÉCADA DE 1950 ATÉ O FIM DITADURA

CIVIL-MILITAR Banca Examinadora

________________________________________________________________ Profª. Drª Michelly Ferreira Monteiro Elias

(Orientadora)

________________________________________________________________ Prof. Dr. Reginaldo Ghiraldelli (SER/UNB)

_____________________________________________________________ Profª. Drª. Andreia Oliveira (SER/UNB)

Brasília –DF 2018

(4)

Aos meus pais, Silveira de Jesus e Maria Du Carmo Martins, e a minha querida irmã, Bruna Martins, motivadores das minhas conquistas.

(5)

Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade de ingresso a universidade, pela força, pela determinação e pela sabedoria que me concedeu para concluir esse trabalho.

Aos meus pais, minha irmã, um cunhado e meus sobrinhos, que alegram meus dias e me dão motivação frente as dificuldades e lutas da vida. Sou grato pelo suporte e pela força nos momentos de dificuldade, a caminhada se torna fácil com apoio de vocês.

Aos queridos amigos e colegas de curso com quem tive o privilégio de conviver, compartilhar experiências e conhecimento. Assim como os colegas do grupo de pesquisa e estudos TRASSO, com quem tive a oportunidade de crescer e obter importantes acúmulos que permitiram desenvolver esse trabalho. À cada um desses que foram importante no processo de formação neste curso de graduação.

Da mesma forma aos irmãos do amado Núcleo de Vida Cristão (NVC), que foram verdadeiros amigos que me deram momentos incríveis de suporte e de afago na minha passagem pela universidade. Vocês me motivaram e me deram o apoio de prosseguir lutando.

Aos professores e professoras do curso de Serviço Social da UNB, especialmente àqueles (as) com quem tive a oportunidade de conviver durante a Graduação e que foram cruciais no processo de formação profissional. Nesse sentido destaco a pessoa do professor Reginaldo Ghiradelli, que me possibilitou oportunidades acadêmicas que foram um divisor de águas na minha formação. Admiro seu profissionalismo e sua pessoa.

À professora Michelly Elias, minha orientadora no processo de construção desse trabalho. Obrigado pela persistência, pela credibilidade, pela paciência e pela confiança de sua parte que envolveram a construção desse trabalho. Sem sua compreensão e seu excelente trabalho não seria possível.

E por fim a tantos amigos e irmãos nessa caminhada da vida que fazem os meus dias serem leves e alegres. Devo muito do que sou a vocês todos que me incentivam a crescer como pessoa e como profissional, louvado seja Deus por suas vidas.

(6)

Este trabalho teve por objetivo analisar as expressões da “questão social” na formação social Brasileira da década de 1950 até o fim da ditadura civil-militar. Com a finalidade de refletir sobre os impactos dos processos de transformação capitalista na organização e na estruturação da burguesia brasileira, assim como nas suas consequências e reflexos sobre a vida e as lutas sociais da classe trabalhadora no contexto deste período. Desta forma baseando-se no método materialista-histórico-dialético e tendo-se como procedimento metodológico a análise teórico-bibliográfica, a análise engloba as decorrências das investidas imperialista na década de 1950 no Brasil, as correlações de forças que envolveram o processo de irrupção e consolidação do capitalismo monopolista e a configuração das lutas sociais no seu processo de avanço até fim da ditadura civil-militar. O estudo realizado nos permitiu apreender que a consolidação do capitalismo monopolista no contexto brasileiro, se configurou num processo em que as requisições imperialistas em função da acumulação extraordinária, movimentaram a construção de uma autocracia burguesa que direcionada à superexploração do trabalho, à repressão política e ao autoritarismo, com base no resgate das piores tradições que perpassam a Formação Social Brasileira. A “questão social” nesse sentido se expressa num quadro de supressão das lutas sociais, das organizações e da vida política da classe trabalhadora.

Palavras-chave: Questão Social; Formação Social Brasileira; Lutas Sociais;

(7)

This study aimed to analyze the expressions of the "social question" in the Brazilian social formation of the 1950s until the end of the civil-military dictatorship. With the purpose of reflecting on the impacts of the processes of capitalist transformation on the organization and structure of the Brazilian bourgeoisie, as well as its consequences and reflexes on the life and social struggles of the working class in the context of this period. In this way, based on the materialist-historical-dialectical method and having as a methodological procedure the theoretical-bibliographic analysis. The analysis encompasses the consequences of the imperialist onslaughts in the 1950s in Brazil, the correlations of forces that involved the process of capitalist irruption and consolidation, and the configuration of social struggles in their process of advancement to the civil- military. The study allowed us to understand that the consolidation of monopoly capitalism in the Brazilian context was a process in which imperialist requisitions due to extraordinary accumulation, moved the construction of a bourgeois autocracy in the form of the technocratic state the political repression of movements, authoritarianism and the rescue of the worst traditions that permeate the Brazilian Social Formation. The “social question” Aiming expressions at suppressing the social struggles, of organizations and the political life of the working class.

Key-Words: Social Issues; Brazilian Social Formation; Social Struggles; Capitalist

(8)

ABC – Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C) AI – Ato Institucional

ALN – Ação Libertadora Nacional ANL – Aliança Nacional Libertadora AP – Ação Popular

BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento COLINA – Comando de Libertação Nacional

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas CGT – Central Geral dos Trabalhadores

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho ESG – Escola Superior de Guerra

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FMI – Fundo Monetário Internacional

FUNABEM – Fundação Nacional de Bem-estar do Menor IBAD - Instituto Brasileiro de Ação Democrática

MDB – Movimento Democrático Brasileiro MVR - Movimento Nacional Revolucionário PAEG – Programa de Ação Econômica do Governo PCB – Partido Comunista Brasileiro

PCdoB – Partido Comunista do Brasil PIB – Produto Interno Bruto

POLOP – Organização Revolucionária Marxista – Política Operária SINPAS – Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social SALTE - Saúde, alimentação, transporte e energia

SER – Departamento de Serviço Social (UNB) SNI – Serviço Nacional de Informações

SUMOC - Superintendência da Moeda e do Crédito UDN – União Democrática Nacional

UnB – Universidade de Brasília UNE – União Nacional dos Estudantes VPR – Vanguarda Popular Revolucionária

(9)

INTRODUÇÃO... 10 CAPÍTULO 1 – QUESTÃO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E LUTA DE CLASSES NO BRASIL DE 1950 ATÉ O PRÉ- 64

1.1 – Breve introdução acerca da “questão social”...14 1.2 – Desenvolvimento econômico e luta de classes até o pré-64...17

CAPÍTULO 2 – DITADURA CIVIL-MILITAR, AUTOCRACIA BURGUESA E TECNOCRACIA ESTATAL

2.1 – Significado sócio-histórico do golpe civil-militar...35 2.2 – As características da autocracia burguesa na ditadura civil-militar... 39

CAPÍTULO 3 – SUPEREXPLORAÇÃO DO TRABALHO E LUTAS SOCIAIS NO CICLO AUTOCRÁTICO BURGUÊS DA DITADURA CIVIL MILITAR.

3.1 – As consequências da autocracia burguesa na vida da classe trabalhadora ...49 3.2 – As organizações da classe trabalhadora e as lutas sociais na Autocracia Burguesa...52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 57 REFERÊNCIAS... 63

(10)

INTRODUÇÃO

Esse estudo tem como objetivo principal analisar as expressões da “questão social” na formação social brasileira da década de 1950 até o fim da ditadura civil-militar. Desta forma buscaremos refletir acerca dos impactos dos processos de transformação capitalista na organização e estruturação da sociabilidade burguesa brasileira no período de irrupção e de consolidação do capitalismo monopolista. Assim como analisaremos as consequências e os reflexos desses processos sobre a vida e as lutas sociais da classe trabalhadora no ciclo autocrático nesta realidade.

As contradições advindas do estabelecimento do modo de produção capitalista no cenário mundial culminaram no processo sócio-histórico da manifestação da “questão social” nos termos da sociabilidade burguesa dos séculos XVIII e XIX. As tensões e os conflitos inerentes à reprodução das relações sociais no âmbito dessa sociabilidade, desaguaram na corrente da problematização e do reconhecimento político da classe trabalhadora de sua condição de subordinação ao capital, de exploração e de alienação no que se refere às relações de produção no sistema capitalista.

As expressões deste processo na realidade social brasileira ganham forças a partir do séc. XX, tendo em vista a formação da sociabilidade burguesa brasileira e o acirramento dos processos de transformação capitalista numa realidade “tardia” com relação à ascensão da sociedade industrial na Europa e no Estados Unidos da América. No que se refere a formação social brasileira, os moldes que marcam o surgimento da burguesia nacional se diferenciaram daqueles que estabeleceram o pensamento e o ethos

burguês na realidade europeia.

As premissas da liberdade e da igualdade que fomentaram as revoluções burguesas na Europa, não coadunaram com a realidade das transformações capitalista na América Latina e no Brasil. As requisições para o “desenvolvimento econômico” do capitalismo “tardio” não permitiram na realidade brasileira o desenvolvimento de uma burguesia nacional autônoma e as intenções que vislumbravam essa possibilidade esbarraram na prevalência das práticas sociais e políticas das elites tradicionais, que se reificaram no ethos da burguesia brasileira, e na dependência e subordinação da nação ao capital estrangeiro.

(11)

As configurações que envolveram o processo de desenvolvimento do capitalismo na realidade nacional, sob a lógica da dependência ao imperialismo, incidiram e tiveram peso decisivo no que se refere às formas de expressão da “questão social” na realidade de irrupção do capitalismo monopolista no Brasil e de sua consolidação nos termos da autocracia burguesa estabelecida na ditadura civil-militar. As consequências para a classe trabalhadora nesse processo foram devastadoras no sentido da repressão e criminalização da sua vida política e na precarização de sua vida material, gerada pela superexploração do trabalho que fomentou níveis de mais-valia extraordinários para a acumulação capitalista da grande empresa privada nacional e estrangeira.

As dinâmicas que perpassam a formação social brasileira, assim como os movimentos históricos que conformaram a “questão social” nas suas múltiplas e diversas manifestações, são carregadas de particularidades e singularidades, que nos permite refletir sobre os processos e dinâmicas da vida econômica e política nacional. Aprender e refletir sobre esses processos tendo por consideração as manifestações sociais, econômicas e políticas em torno da transformação capitalista e da conformação das correlações de forças que se instauraram ao longo da história brasileira, subsidia as mediações necessárias para compreender a reprodução das relações sociais na atual sociabilidade capitalista. Assim como contribui com reflexões que permitem adensar a produção do conhecimento destinada ao fortalecimento das lutas sociais da classe trabalhadora em função da superação dos entraves e limites colocados à sua reprodução social no âmbito da sociabilidade burguesa.

Nesse sentido tendo em vista o compromisso ético-político hegemônico da profissão do Serviço Social, materializado nos termos da Lei Nº 8.662 de 1993 e no código de ética da profissão de 1993, esse trabalho se apresenta como uma contribuição que visa atender os interesses da classe trabalhadora com a pretensão de contribuir com a produção do conhecimento, que sirva de subsidio para os enfretamentos e lutas da classe trabalhadora.

Tendo por eixo norteador da produção do conhecimento no Serviço Social, As diretrizes curriculares de 1993 da ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social)1, a contribuição pretendida se direciona no sentido do aprofundamento da discussão da formação social brasileira nos meios de produção do conhecimento do da profissão, com vista de que a discussão da formação sócio-histórica da profissão e da

1 Nesse sentido destacamos um dos núcleos que perpassam os fundamentos da formação em Serviço Social, o do estudo da realidade sócio-histórica brasileira e da profissão.

(12)

sociabilidade em que essa se insere, sendo esse um dos núcleos principais que direcionam o ensino e a pesquisa na categoria profissional.

Desta forma este trabalho surge com o objetivo de analisar as expressões da “questão social” na formação social brasileira da década de 1950 até o fim da ditadura civil-militar, a fim de refletir sobre os impactos dos processos de transformação capitalista na organização e estruturação da burguesia brasileira, assim como, nas suas consequências e reflexos sobre a vida e as lutas sociais da classe trabalhadora.

Para corroborar com a finalidade desta pesquisa, o percurso metodológico adotado neste trabalho reside no entrelaçamento do objeto e objetivo de estudo, tendo em vista uma abordagem qualitativa no processo de pesquisa tendo por referência para a análise pretendida o método materialista histórico- dialético. A partir da natureza do método e da abordagem qualitativa da pesquisa, a metodologia adotada residiu em um estudo bibliográfico de obras de autores da tradição marxista do Serviço Social e de autores tradicionais que discutem a Formação Social Brasileira, que tratavam especialmente da discussão pretendida no Estudo no período da década de 1950 até o fim da ditadura civil-militar.

As análises que compõem o arcabouço bibliográfico constitutivo do estudo são a contribuição de Fernandes (1975) para se discutir os processos de “desenvolvimento econômico” e a configuração e consolidação da autocracia burguesa na ditadura civil-militar. De Netto (2009) e Iamamoto (2008) para introduzir a discussão acerca da categoria “questão social”, de Marini (2014) para a reflexão das lutas sociais e a configuração dos governos burgueses, assim como, a evidência da categoria superexploração do trabalho, Netto (2014) para análise sócio-histórica da ditadura civil-militar, o significado sócio-histórico do golpe civil-milita de Ianni (1981) para compreensão dos marcos que caracterizam a tecnocracia estatal e os impactos da política econômica ditatorial na vida política e econômica da classe trabalhadora, de Antunes (2011) para discutir as lutas sociais na américa latina e no Brasil, e as configurações das organizações partidárias e políticas da esquerda brasileira na ditadura e por último de Santos (2012) para discutir as particularidades da “questão social” brasileira.

Para melhor compreensão, esse estudo foi divido em três capítulos sendo que cada um deles foi divido em dois tópicos. O primeiro capítulo aborda as expressões da “questão social” no contexto do desenvolvimento econômico e da irrupção do capitalismo monopolista na década de 1950. Nesse sentido, o primeiro tópico do capitulo trata-se de uma breve introdução acerca da categoria “questão social” e de seu entrelaçamento com

(13)

os processos de desenvolvimento econômico na sociabilidade capitalista. No segundo tópico mais precisamente se discutiu o processo de ascensão do capitalismo monopolista no Brasil, as contradições e tensões sociais que antecederam o estabelecimento da autocracia até o advento do golpe civil-militar.

O segundo capítulo retrata as contradições entre capital e trabalho no ciclo autocrático burguês da ditadura civil-militar, assim como o processo de aprofundamento no esquema integrado de acumulação capitalista sob a subordinação do imperialismo. O primeiro tópico se configura numa análise do significado sócio-histórico que perpassou o golpe civil-militar propiciando a instauração da autocracia burguesa na realidade brasileira do regime ditatorial. O segundo tópico aborda a configuração da autocracia burguesa, nos termos das contradições e das correlações de forças que gravitavam em torno dessa, assim como a configuração e papel da tecnocracia estatal tutelada pelos militares no período da ditadura civil-militar até a crise do regime ditatorial com a queda do “milagre econômico” e o processo de “transição democrática”.

Por último, o terceiro capítulo aborda as consequências da autocracia burguesa sobre a vida e as lutas sociais da classe trabalhadora. O primeiro tópico aborda a análise dos impactos da política econômica da ditadura, assim como, os reflexos da tecnocracia estatal sobre a vida material e política da classe trabalhadora enfatizando o papel da

superexploração para configurar níveis extraordinários de mais-valia do capital sobre o

trabalho na realidade do arrocho salarial promovido pela ditadura.

O segundo tópico aborda a configuração das organizações e das lutas da classe trabalhadora, assim como os entraves, limites e possibilidades impostos pela repressão, criminalização e perseguição política dessa pela campanha combativa do anticomunismo. O capitulo se encerra enfatizando o processo de crise do regime ditatorial, na ocasião da decaída do crescimento econômico promovido no “milagre brasileiro” e o papel das lutas sociais da classe trabalhadora, a nível da luta armada e sindical para o processo que culminou na “transição democrática”.

(14)

CAPÍTULO 1 – QUESTÃO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E LUTA DE CLASSES NO BRASIL DE 1950 ATÉ O PRÉ- 64

Trata-se neste primeiro capítulo das expressões da “questão social” na particularidade do desenvolvimento capitalista no Brasil no cenário sócio-histórico da década de 1950 e do início da década de 1960 até a ascensão do golpe que culminou na ditadura civil-militar.

O primeiro se trata de uma breve introdução conceitual acerca da “questão social” e salienta para o enlace de suas expressões com o desenvolvimento do capitalismo. Nesse sentido destacamos a concepção conceitual adotada nesse trabalho, tendo por referencial teórico autores da tradição marxista no Serviço Social, Netto (2009) e Iamamoto (2008).

O segundo vai abordar de forma mais precisa o desenvolvimento econômico e as lutas sociais, nos diversos governos que se estabeleceram no período antecedente a ditadura civil-militar, a partir da década de 1950. Se atendo para as particularidades que conformaram a relação de dependência da burguesia brasileira em função do capital externo e seus reflexos no campo das lutas entre as classes sociais. Para essa análise tomamos por referência análise de autores tradicionais da formação brasileira, Marini (2014) e Fernandes (1975) como base para discussão pretendida. Pela natureza metodológica desse trabalho, não se procurou ressaltar as divergências, teóricas, conceituais e políticas entre esses autores, mas sim a contribuição de suas análises para tecer a reflexão pretendida.

1.1 - Breve introdução acerca da concepção de “questão social”

A “questão social”2como expressão e concepção está longe de ser empregada e atribuída a uma única concepção semântica e teórica. Esta abarca uma diversidade, que se estabelece a partir dos diferentes marcos referenciais em que pode ser adotada, conforme afirma Netto (2009). A existência de suas expressões nos diversos contextos do capitalismo mundial se faz visível e pode se dizer que independente da abordagem ideo-política adotada, dificilmente esta é negada. Porém quanto às explicações de sua gênese

2 A escrita em aspas do termo ”questão social” se dá neste trabalho devido à concepção teórica e política adotada a partir do referencial da teoria social marxista. Dessa forma procura-se ressaltar a diferenciação da concepção de sua origem conservadora.

(15)

e as formas de enfretamento direcionadas a ela, essa se torna diversa quanto às abordagens feitas pelos diferentes segmentos da teoria social, segundo Santos (2012).

No que se refere à tradição da teoria social marxista, a concepção dessa categoria incorpora um caráter de classe específico que está no âmbito das relações sociais da sociabilidade capitalista. Sob essa ótica pode se dizer que:

A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo o seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção. O Estado passa a intervir diretamente nas relações entre o empresariado e a classe trabalhadora [...] com um novo tipo de enfrentamento da questão social (IAMAMOTO, 2008, p.165)

Desse fato pode-se entender que a “questão social” não se expressa de forma única, e que nos diferentes cenários sócio-politicos da sociedade capitalista suas expressões são múltiplas. Isso nos levar a compreender que a particularidade de cada um desses cenários vai ditar as formas como se estabelecerão as relações entre capital e trabalho (SANTOS, 2012). Nesse sentido, não implica dizer que a diversidade de expressão gera novas questões sociais, como defenderam os franceses Rosavallon e Castel, Designando a essa um novo estatuto centrado no individuo, que negava a problematização histórica das relações sociais entre classes que se deu no contexto a ascensão do capitalismo monopolista na Europa Ocidental na segunda metade do século XIX, por parte de setores da classe trabalhadora. (IAMAMOTO, 2008).

Antecedente a esse processo, a expressão “questão social” foi empregada de forma inicial na primeira metade do século XIX. Utilizada por diversos críticos sociais, que se colocavam sob os diferentes espectros políticos. Essa surge inicialmente, segundo Netto (2009), para trazer explicações ao fenômeno social do pauperismo3, que se ascende no estágio industrial-concorrencial do capitalismo no contexto da Europa Ocidental do século XVIII. Enfim, foi no contexto da primeira metade do século XIX “a partir de uma reversão da ordem burguesa em que o pauperismo designou-se como “questão social” (NETTO, 2009 p. 154) tendo em vista os desdobramentos sociais, que levaram a classe trabalhadora a problematização de sua condição pauperizada.

3“Pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a

capacidade social de produzir riquezas” (NETTO, 2009, p.153). A de se salientar que o surgimento

histórico desse fenômeno social do pauperismo está estritamente vinculado a lógica de acumulação capitalista evidenciada em O capital por Marx. A forma estrutural dada pobreza surge da necessidade de promoção do desenvolvimento capitalista, assim sendo pobreza socialmente produzida.

(16)

Conforme se acentuava a precarização novos contornos eram dados no campo social e passavam a surgir de forma inicial movimentos de combate às condições estabelecidas. Porém, esses eram incipientes no sentido de uma conscientização política de classe, somente na segunda metade do século XIX, mais especificamente em junho de 1848, essas lutas e organizações manifestaram a “questão social” a partir da mudança na consciência de classe em si para a consciência para si. A classe trabalhadora passa a se reconhecer nos ditames das relações de produção e reprodução no âmbito do capitalismo e passa a problematizar os aspectos da vida social ditados pela ordem do capital e enfim assume seu lugar no cenário político das lutas sociais.

Ao passo que nesse contexto o termo “questão social” passava a ser incorporado no vocabulário conservador-burguês. Nesse sentido, a “questão social” estava posta na ordem do enfrentamento dos ditos “problemas sociais”, atribuídos às massas trabalhadoras pauperizadas, que passa a ser culpabilizada por sua moral desviante dos interesses burgueses, seja por suas condições de vida precária ou por sua ascensão no cenário político. A burguesia, mais precisamente em seus diversos setores se reinventa para manter seu status quo frente às novas determinações postas nas relações entre classes.

Assim, pode-se dizer que a “questão social”, a partir de uma concepção que visa destacar o antagonismo entre burguesia e proletariado, nasce a partir do desenvolvimento do capitalismo e ao longo da história assume diferentes dinâmicas nos diversos contextos do desenvolvimento capitalista nas realidades mundiais e nacionais. Suas expressões a partir de uma Lei comum terão suas particularidades nos diferentes contextos e realidades da sociabilidade do capital em torno do mundo.

A análise marxiana da “lei geral da acumulação capitalista”, contida no vigésimo terceiro capítulo do livro publicado em 1867, revela a anatomia da “questão social”, sua complexidade, seu caráter de corolário (necessário) do desenvolvimento capitalista em todos os seus estágios. O desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a “questão social” – diferentes estágios

capitalistas produzem diferentes manifestações da “questão social”; esta não

é uma sequela adjetiva ou transitória do regime do capital: sua existência e suas manifestações são indissociáveis da dinâmica específica do capital tornado potência social dominante. A “questão social” é constitutiva do desenvolvimento do capitalismo. Não suprime a primeira conservando a segunda. (NETTO, 2009, p.157).

Portanto, a partir da compreensão desse enlace dinâmico entre a “questão social” e o desenvolvimento capitalista e de uma concepção centrada na teoria social marxista, entraremos na discussão das particularidades das expressões da “questão social” na formação social brasileira, mais precisamente no cenário sócio-histórico da década de

(17)

1950 até o esgotamento da ditadura civil-militar no país. Tendo em vista os processos do desenvolvimento capitalista na realidade nacional e as suas consequências nas lutas sociais durante esse período de irrupção e consolidação da autocracia burguesa.

1.2 – Desenvolvimento econômico e lutas de classes de 1950 até o pré-64.

Antes de entrar no quadro mais especifico do desenvolvimento econômico na realidade brasileira da década de 1950 e do início da década de 1960 e as suas consequências nos ditames da luta entre classes, salientamos o contexto estrutural do desenvolvimento do capitalismo mundial no pós-segunda guerra mundial. Especificamente em relação à dominação imperialista e seus desdobramentos sob os países da América Latina sob a égide do capitalismo monopolista e suas requisições para o desenvolvimento econômico dos países “periféricos”.

Com o fim da segunda guerra mundial, se colocaram novas requisições ao capitalismo em sua ascensão monopolista. As experiências revolucionárias de cunho socialista e seu sucesso em casos como o da revolução cubana trouxeram a necessidade, diante um mundo polarizado geopoliticamente, da expansão da dominação dos países capitalistas centrais sobre os países ditos “periféricos” (NETTO, 2008). Tendo em vista que no cenário mundial esses se colocavam como os últimos espaços propícios a expansão da acumulação e do desenvolvimento capitalista (MARINI, 2014).

Considerando esse contexto dos interesses norte-americanos em relação às economias dos países da América Latina, estes se voltaram para uma integração dos sistemas de produção, a fim de estabelecer uma relação de desenvolvimento integrado entre nação dominante e nação periférica. Conforme Marini (2014) duas determinações se colocam no campo desses interesses.

A primeira se refere a acumulação que se deu em ordem mundial, o que proporcionou abundância de capital a ser investido no esquema das grandes corporações, que viam as emergentes economias periféricas como espaço propício para sua expansão, acumulação e desenvolvimento por meio de seus investimentos nesses. A segunda determinação se coloca na ordem do desenvolvimento na produção de bens de capital nas nações centrais que com incremento tecnológico, viam a necessidade de expansão de mercado, direcionando a comercialização de sua produção aos países dependentes, especialmente os de capital obsoletos ainda não amortizados para as indústrias nacionais. De forma sintética o sentido dessa dominação se deu em função do estabelecimento da lei geral da acumulação capitalista entre nações do centro dominantes e nações

(18)

periféricas dependentes. Onde os países ditos “subdesenvolvidos” passaram a ser um dos polos dinâmicos incorporados ao desenvolvimento do capitalismo monopolista na “periferia”.

A indirect rule não se configura como uma realidade histórica passageira: ela surge como uma condição estrutural permanente, que iria assumir feições históricas mutáveis de acordo com a evolução do capitalismo nas nações que exerceram algum tipo de dominação imperialista sobre a América Latina. (FERNANDES, 1975, p.222).

Assim, colocava-se a necessidade de consolidação de uma ordem de dependência na qual se proporcionava o desenrolar econômico visando os interesses cumulativos das potências centrais hegemônicas, ou seja, os países dependentes se colocavam num contexto mundial no qual para proporcionarem a mais valia central, precisavam se adequar de forma subalterna às exigências do capital externo dentro do processo de desenvolvimento do capitalismo internacional (MARINI, 2014).

Essa dinâmica imposta se dava pela sustentação do papel das burguesias nacionais e pelo aparato de um Estado regulador, que passava atuar sobre as pressões externas em favor do projeto de internacionalização do capital. Os governos “populistas” nos quais se designou um certo bonapartismo e os segmentos da burguesia industrial nacional que visavam um certo desenvolvimento econômico autônomo, tiveram suas intenções suprimidas frente ao estabelecimento da ordem imposta pelo capitalismo monopolista. Ao serem deixadas essas tendências nacionais verificou-se “a queda dos regimes liberais democráticos que haviam se acendido no pós-segunda guerra mundial e abre o campo para a implantação das ditaduras tecnocráticas-militares” (MARINI, 1985 p. 46).

Há de se destacar que diferente dos moldes das revoluções burguesas nos países centrais, o desenvolvimento do capitalismo nos países periféricos se deu de forma muito mais abrupta e selvagem, sendo desvinculado desses processos qualquer ensejo que conciliasse o capitalismo e a democratização (FERNANDES, 1975). Os diversos movimentos em função da libertação nacional e social foram recrudescidos em função do estabelecimento de uma ordem social que assegurava a máxima segurança para o desenvolvimento (NETTO, 2008).

“O desenvolvimento capitalista integrado acrescenta, pois o divórcio entre a burguesia e as massas populares, intensificando a sobre-exploração a que essas estão submetidas e negando- lhes o que representa a sua reivindicação mais elementar- o direito ao trabalho” (MARINI, 1985, p.46).

(19)

Portanto cabe ressaltar que o processo de ascensão do capitalismo monopolista na América Latina foi marcado por uma série de rupturas e aprofundamentos. Quanto às rupturas essas se colocaram no sentido do surgimento de iniciativas e movimentos que visavam um projeto de nação autônomo econômica e socialmente. O advento do desenvolvimento econômico deu condições para a abertura de novos espaços de discussão de projetos de sociabilidade alternativos a ordem monopolista (FERNANDES, 1975), porém esses e qualquer iniciativa que representou riscos para o esquema de acumulação norte americano foram suprimidos com ascensão dos regimes autocráticos burgueses, dando continuidade aos padrões heteronômicos de dominação, sob novos aspectos.

Quanto aos aprofundamentos, destaca-se a superexploração4 da classe trabalhadora. Conforme Marini (2014) o subsídio da mais-valia dos países centrais vai resultar dessa intensificação da exploração sob a força de trabalho. Um novo patamar passa a se impor nas relações de produção e as burguesias nacionais sob a lógica de seus governos autocráticos, acham no aparelho estatal o aparato necessário para o desejado desenvolvimento seguro do capital. Desta forma a “questão social” na América Latina tem por uma de suas expressões a superexploração do trabalho. Sendo que uma das características principal do processo de industrialização na América Latina, sob a ótica da “questão social” foi intensificar a exploração sobre as massas trabalhadoras da cidade e do campo.

Por fim o mais evidente aprofundamento se refere a essa relação de dependência que conformou o desenvolvimento capitalista na América latina. Os regimes ditatoriais que se estabeleceram foram carregados de um caráter subalterno, no qual nas diversas realidades nacionais se evidenciava o controle externo induzido de fora para dentro.

Toda essa dinâmica do desenvolvimento capitalista no contexto mundial e latino americano englobou a realidade socioeconômica brasileira. Ao passo que em sua totalidade o quadro desses processos teve seus desdobramentos no que se refere a particularidade da “questão social brasileira” e nas correlações de forças que se deram até a instauração do golpe militar nos diversos setores da sociedade. Seja essa nas disputas de interesses intra-burguesia nacional, entre os projetos para o desenvolvimento nacional autônomo e de desenvolvimento integrado, entre burguesia e proletariado e os diversos agentes políticos que teceram a realidade das lutas sociais.

4 “A superexploração do trabalho constitui, portanto, o princípio fundamental da economia subdesenvolvida, com tudo que isso implica em matéria de baixos salários, falta de oportunidades de emprego, analfabetismo, subnutrição e repressão policial” (MARINI, 2014, p.52)

(20)

Conforme Fernandes (1975) a ascensão5 do capitalismo monopolista6 no contexto

brasileiro se dá a partir da década de 1950 e a sua consolidação foi concomitante ao regime ditatorial, estabelecido com o golpe militar em abril de 1963. Esse período da década de 1950 até o pré-golpe foi marcado por uma série de mudanças nos campos econômico, social e político, que trouxeram novas conformações às expressões da “questão social” nessa realidade.

Na primeira metade da década de 1950, processos como o crescimento dos grandes centros, a consolidação da burguesia nacional industrial, as investidas imperialistas norte- americanas, a crescente superexploração do trabalho, entre outros, abriam espaço para o acirramento das lutas sociais. Ao passo que as requisições antecedentes para o desenvolvimento econômico dependente brasileiro levaram a processos que possibilitaram uma ascensão política da classe trabalhadora tanto no campo como nos grandes centros, sendo manifestos novos movimentos de luta contrários aos diversos interesses burgueses (FERNANDES,1975).

Para Marini (2014) essas requisições significaram a necessidade de uma ruptura de complementaridade quanto ao desenvolvimento econômico do país, entre capital industrial e agricultura, que teve seu ápice na crise de 1953. O alcance do setor agrário-exportador diminuía pela baixa das exportações, a crescente concorrência no pós-guerra e as preferências de comercialização dos exportadores dos produtos brasileiros com outras nações.

Esse movimento culminou num massivo êxodo rural, provocando o inchaço populacional dos grandes centros urbanos e por outro lado abria a demanda por abastecimento de matérias-primas e insumos básicos, que este setor agrário naquela realidade não conseguia suprir, culminando na alta dos preços de produtos alimentícios. Nesse sentido, a insatisfação e más condições de vida tanto no campo quanto na cidade, proporcionaram o surgimento de movimentos e organizações de trabalhadores. Novas pautas reivindicativas colocam em questão de forma inicial a necessidade de uma reforma agrária em função das elites latifundiárias se viam pressionadas devido a sua insuficiência

5 O desenvolvimento capitalista na sociedade brasileira se deu em três fases:[...]”a) eclosão de um mercado capitalista especificamente moderno; b) fase de formação e expansão do capitalismo competitivo; c)fase de irrupção do capitalismo monopolista”(FERNANDES, 1975, P.224) conforme o autor nessas três fases o desenvolvimento capitalista significou coisas distintas ,” em nenhuma delas tivemos um desenvolvimento capitalista característico das Nações tidas como centrais e hegemônicas “ (idem,p.223).

6 “ Se caracteriza pela reorganização do mercado e do sistema de produção, através das operações comerciais, financeiras e industriais da “grande corporação” (predominantemente estrangeira, mas também estatal ou mista” (FERNANDES, 1975, p.225)

(21)

produtiva, tanto pelos trabalhadores do campo e pela burguesia industrial, que requisitava uma nova organização do setor em função do novo esquema de produção estabelecido (FERNANDES, 1975).

Esse processo significou um momentâneo declínio das oligarquias agrárias brasileiras no que se refere ao seu protagonismo nas atividades econômicas e políticas do país. Enfim, a burguesia industrial nacional7 surgiu como expoente do desenvolvimento econômico brasileiro e pelos entraves impostos ao desenvolvimento tão pretendido se distanciou das elites agrárias e se aliou de forma mais precisa ao capital externo. Sendo assim, a conformação da burguesia e sua consolidação no cenário brasileiro no seio do capitalismo monopolista se deu sob uma lógica de “ruptura” e dependência.

Contudo, esse distanciamento com as oligarquias agrárias não implicou em dizer que ele foi tipificado pelo abandono dos preceitos que caracterizavam as antigas formas de dominação das elites brasileiras. Pelo contrário, segundo Fernandes (1975) eles deram os moldes para a ascensão da revolução burguesa no Brasil, sob a lógica de um desenvolvimento capitalista dependente. As práticas autocráticas e mandonistas no seio da elite brasileira foi o campo fértil para a supressão de todo projeto que se direcionava em função de um pretenso desenvolvimento nacional autônomo.

A dinâmica desse processo e a ascensão da burguesia industrial brasileira8 não foi

pautada na autonomia da burguesia nacional, mas resultou da convergência dos interesses externos em promover o desenvolvimento econômico. Isso implicava na incorporação de uma nova ordem na qual “a economia brasileira já não concorre, apenas, para intensificar o crescimento do capitalismo monopolista no exterior: ela se incorpora a este crescimento, aparecendo, daí em diante, como um dos seus polos dinâmicos da periferia” (FERNANDES, 1975, p.255). Nesse contexto a irrupção do capitalismo monopolista no

7A burguesia atinge sua maturidade, e ao mesmo tempo, sua plenitude de poder, sob a irrupção do

capitalismo monopolista, mantidas e agravadas as demais condições, que tornaram a sociedade brasileira potencialmente explosiva, com o recrudescimento inevitável da dominação externa, da desigualdade social e do subdesenvolvimento. Em consequência o caráter autocrático e opressivo de dominação apurou-se e intensificou-se.” (FERNANDES, 1975, p.220).

8 Aqui cabe destacar a distinção dos setores da burguesia brasileira para Marini (2014) essa se dividia entre a grande burguesia, a burguesia industrial que se voltava as requisições do capital estrangeiro e procurava a associação a esse na realidade nacional, e a burguesia nacional, que representava a média e pequena burguesia que defendia o desenvolvimento econômico com base no nacionalismo e no ideal de políticas reformistas e protecionistas, ao passo que o incremento do capital externo representava a essa o abafamento das condições de acumulação devido a competição desigual ao incremento de novas tecnologias nas grandes indústrias. A realidade nacional antecedente a ditadura civil-militar vai ser o palco dos conflitos entre esses setores da burguesia brasileira, que direcionaram numa correlação de forças as práticas governamentais ao longo de período, até a consolidação do capitalismo com ditadura civil-militar e a sua junção para fazer oposição as pressões operárias e populares em 1964.

(22)

Brasil teve como um de seus principais aportes, o interesse dos países centrais de alocarem seus investimentos por meio do esquema da instalação das grandes corporações no Brasil e da disposição da iniciativa privada interna e do Estado darem as possibilidades aliados o terreno propicio para que essas pudessem se desenvolver no território nacional. Nesse contexto, destaca-se que Getúlio Vargas9 ascendeu à presidência do país em 1950 num quadro de aprofundamento das crises sociais vinculadas a insuficiência salarial, desemprego e precarização da vida social, que proporcionaram o distanciamento das massas trabalhadoras das antigas elites. Essas massas se aproximaram de setores da burguesia nacional que visavam a ampla expansão econômica e o desenvolvimento econômico nacional (MARINI, 2014). Nesse sentido, os ideais nacionalistas pregados pelo governo e esses setores burgueses exerceram naquele contexto o controle sobre essas massas. Ao passo que o governo se direcionava a uma política trabalhista objetivando atrair o apoio do proletariado, tendo por ministro do trabalho João Goulart.

A política governamental de caráter nacionalista foi marcada pela implementação de programas que visavam reformas de base e a criação da estrutura necessária para proporcionar o crescimento da industrial nacional. Nesse sentindo, se destacou o Plano SALTE (Saúde, alimentação, transporte e energia) direcionado ao desenvolvimento destas áreas entre os anos de 1949 e 1954 (MARINI, 2014). Quanto ao capital externo no início do Governo se estabeleceu a aproximação do governo norte-americano, que objetivava expandir os investimentos na economia brasileira por meio da criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos10, porém essa iniciativa não perdurou ao longo do

Governo Vargas e o Governo norte americano negou o financiamento.

A tática era clara: tratava-se de impossibilitar o acesso da burguesia brasileira a recursos que lhe permitissem superar com relativa autonomia os pontos de estrangulamento surgidos no processo de industrialização e forçá-la a aceitar a participação direta dos capitais privados estadunidenses, que realizavam como destacamos, uma investida sobre o Brasil. (MARINI, 2014, p.145).

Com apoio limitado externo e sob a ótica de uma política nacionalista, o governo estabeleceu políticas protetivas ao capital interno limitando as facilidades ao capital externo na extração de suas remessas de lucros. E afim de fortalecer a indústria interna criou organismos governamentais como a fundação do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e estabeleceu planos e programas promovendo o

9 Essa se refere ao terceiro mandato presidencial de Getúlio Vargas de 1949 à 1953.

10 “Em 1950 é criada a comissão Mista Brasil - Estados Unidos, tendo sido aprovado por ambos governos um financiamento público estadunidense da ordem de 500 milhões de dólares, para os projetos destinados a superar os pontos de estrangulamento nos setores de bens e infraestrutura. ” (MARINI, 2014, p.144).

(23)

desenvolvimento de setores de base para a economia, assim como, criou monopólios estatais em setores estratégicos11.

Todas essas iniciativas inquietaram os setores dominantes da sociedade, que de certo modo viam nessa possibilidade de reformas e nas políticas adotadas uma direção que colocava em cheque seus interesses juntos ao capital externo. As propostas e implementações acirravam a tensão, ao passo que Vargas se aproximava de agentes políticos no contexto latino americano que se distanciavam em seus pressupostos do tipo de dominação estabelecida pelas elites brasileiras. Daí surgiu o primeiro quadro de pressões em torno do Governo Vargas (MARINI, 2014). A resposta a essas pressões culminou em uma ação governamental que visava assegurar uma certa estabilidade e controle tanto do acirramento das lutas sociais, com a lei de Segurança Nacional, e do cenário econômico e político, por via da reforma cambial de 1953.

A reforma foi colocada em função de equilibrar os déficits na balança comercial brasileira com os agentes externos, a iniciativa tinha por finalidade o aumento do peso relativo das exportações frente às importações. Porém, conforme Marini (2014), essa iniciativa de forma inicial conseguiu equilibrar os déficits brasileiros, mas esbarrou no aprofundamento da crise das exportações no setor agrário, mais precisamente devido às baixas no preço mundial do café. Esse fato levou em 1954 o retorno a crise cambial.

Dentro desse processo no campo do acirramento das tensões políticas, a inflação crescente e a insuficiência salarial levaram as massas trabalhadoras a insatisfação, devido ao aprofundamento da precarização das condições de vida. Tal fato acabou por culminar em movimentos de organização da classe trabalhadora, com pautas revindicativas bem definidas por via das diversas categorias profissionais. Uma série de greves e paralisações eclodiram nos anos de 1953 e 1954. Diante desse fato o governo Vargas se viu pressionado também por aqueles setores em que antes buscou apoio, por meio de políticas populistas, para sua consolidação. Ao passo que agentes políticos como Carlos Lacerda, alguns setores do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e as insatisfações de setores das elites dominantes também pressionavam o Governo para respostas mais

11“ Refletindo essa correlação de forças, Gétulio Vargas não tarda em se definir por uma política progressista e nacionalista, da qual foram frutos: a criação, em 1952, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico; a decisão de concretizar o Plano SALTE( programação dos investimentos públicos nos setores de saúde, alimentação, transporte e energia); o Plano Rodoviário Nacional; o Fundo Nacional de Eletrificação; a renovação de equipamento da marinha mercante e do sistema portuário; o monopólio estatal da marinha mercante e do sistema portuário; o monopólio estatal do petróleo (Petrobras) e o projeto de monopólio estatal de energia elétrica (Eletrobrás).” (MARINI, 2014, p.76).

(24)

efetivas à crise e até viam na deposição desse a solução efetiva para os problemas nacionais (MARINI, 2014).

De um lado, o governo se via pressionado devido a sua vinculação ao capital externo, sendo que a integração para setores da sociedade era posta como a essência da crise econômica que assolava o país. Do outro era pressionado pela burguesia industrial pela sua incapacidade de promover a atração dos investimentos externos, assim não propiciando as condições necessárias para o desenvolvimento aliado ao capital estrangeiro.

Diante desse quadro de aprofundamento da crise cambial, das pressões advindas das correlações de forças entre setores da burguesia nacional que culminou na cisão da complementaridade existente entre burguesia industrial e elites agrárias, assim como a agudização das lutas da classe trabalhadora, se estabeleceu o fim do governo de Vargas no Brasil. O presidente da república se suicida e o Governo fica a mando de Café Filho, que entra no poder a fim de garantir novas eleições.

Quanto a esse quadro de correlações de forças existente nesse período inicial de irrupção do capitalismo monopolista Fernandes (1975) vai identificar que as pressões não tangiam apenas ao Governo. Essas também, ao longo do processo que culminou na consolidação desse modelo de produção integrado, incidiram sob a burguesia nacional. Segundo o autor essa se separava em dois grupos: o das pressões externas e o das pressões internas. “A pressão externa de fora para dentro, nascida nas estruturas e no dinamismo do capitalismo monopolista mundial” (FERNANDES, 1975, p.215) se caracterizava pela imposição do capital externo das condições necessárias para que se promovesse o desenvolvimento integrado do capital com segurança.

Aqui aplicava a necessidade de proporcionar uma revolução da burguesia nacional dentro a ordem, mas distante dos padrões democráticos das revoluções burguesas dos países centrais. Ao passo que todo esse ideário de crescimento ameaçava alguns setores da burguesia interna quanto a sua base de produção, como já destacado o caso das oligarquias agrárias, que viam na irrupção monopolista um certo antagonismo para desenvolver suas atividades econômicas.

As pressões internas se colocavam distintas. Uma procedente do proletariado e das massas populares, que expunha a burguesia ao perigo do estabelishiment de um novo pacto social e a outra precedia das intervenções do Estado na economia. “Essa intervenção nasceu e cresceu da própria continuidade do sistema, nas condições de um capitalismo

(25)

dependente e subdesenvolvido. Todavia, ela atingiu tal peso relativo, que atemorizou a iniciativa privada interna e externa. ” (FERNANDES, 1977, p. 217).

Nesse quadro geral do desenvolvimento do capitalismo monopolista na realidade brasileira, as lutas das classes sociais, assim como da classe trabalhadora refletirão a partir das dinâmicas estabelecidas pelo padrão de sociabilidade estabelecido sob a lógica dependente do capitalismo nacional, seu caráter especifico. Desse modo de forma mais geral pode se dizer que as transformações no padrão de acumulação capitalista sob a égide do capitalismo monopolista deram novas condições para a dinâmica do antagonismo entre as classes sociais, ao passo que;

Ao consolidar e ao dar novos rumos à industrialização, o novo padrão de desenvolvimento capitalista se associa, queira ou não a burguesia, á multiplicação e ao fortalecimento das condições favoráveis aos movimentos operários e a disseminação do conflito de classes segundo interesses especificamente operários. (FERNANDES, 1975, p. 279)

Tais condições e mudanças advindas do crescimento econômico imprimiram uma nova dinâmica, que levaram no quadro geral o estabelecimento de novos meios de consciência da classe e de sua organização em torno de uma solidariedade comum no cenário nacional em função de suas lutas. A base do trabalho assalariado e as melhorias nas condições de vida advindas dessa nova estrutura produtiva, fizeram com que a classe trabalhadora ganhasse o seu espaço no cenário político-econômico nacional deixando de ser um agente exclusivamente passivo aos interesses burgueses, e essa passou atuar no sentido de pressionar o desenvolvimento econômico em função de suas requisições (FERNANDES, 1975).

Diante a isso a “questão social” ganha uma nova forma de se expressar na realidade nacional, ao passo que o desenvolvimento econômico propiciou o campo para o desenvolvimento da consciência de classe das produtivas e a emancipação política de segmentos representativos da classe trabalhadora. Nesse sentido “o incremento da participação econômica servirá de base a maior participação social, cultural “ (Fernandes, 1975, p.282).

Nesse processo vemos a figura de uma burguesia nacional que ascendia num processo de correlações de forças, no qual as suas requisições para se desenvolver esbarravam em pressões advindas das demandas do capital externo e do acirramento da “questão social internamente” frente ao movimento de ascensão na década de 1950 e no início da década de 1960 de setores da classe trabalhadora no que se refere a sua organização no campo das lutas sociais. Portanto cabe destacar os avanços das lutas dos

(26)

trabalhadores do campo na busca por reformas no setor e da consolidação e legitimação dos direitos trabalhistas no campo, que ficaram marcadas pelo surgimentos das ligas camponesas, sendo a pioneira a do Engenho da Galileia que surgiu em 1955, localizada no nordeste brasileiro conforme Antunes (2011), os reflexos dessas lutas espraiaram para os grandes centro onde organizações partidárias como o PCB e organizações sindicais ganhavam forças e adeptos para as suas lutas, acirrando o antagonismo de classes e a disputa de projetos sociais.

Após o suicídio de Vargas, Café Filho assumiu a presidência da república se aliando de forma mais profunda ao império norte-americano. As políticas nacionalistas do governo anterior foram deixadas de lado e a solução para a atenuação da crise se coloca com a facilitação da entrada de investimentos externos na economia brasileira. A esse fato implicava uma ruptura com o nacionalismo do Governo Vargas em função do domínio da burguesia nacional em seus interesses privatistas para o desenvolvimento monopolista.

Por essa via, a burguesia industrial tomava uma posição frente à crise que surgira no setor externo. Agoniada pela escassez de divisas, que ameaçava colapsar todo sistema industrial, a burguesia aceitava que as divisas necessárias para a superação dessa crise fossem fornecidas pelos grupos estrangeiros, concedendo-lhes, em troca, uma ampla liberdade de entrada e de ação e renunciando, portanto, à política nacionalista que havia sido esboçada em Vargas. (MARINI, 2014, p.81).

O marco mais substancial da intervenção estatal, no período do Governo Café Filho, em função do desenvolvimento econômico se referiu à normatização da Instrução 11312 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC). As pressões advindas do capital externo forçaram a burguesia nacional em conjunto com o Estado a assumirem uma nova direção no que concerne à política econômica nacional, sendo assim, aprofundada a dependência brasileira frente ao império norte-americano. Um novo patamar se colocou e conseguinte estabeleceu o fundamento primordial para a política desenvolvimentista do Governo de Juscelino Kubitschek.

Ao caracterizar esse processo de transição do desenvolvimento econômico brasileiro mais especificamente quanto ao seu significado histórico-sociológico Fernandes (1975), vai evidenciar que a burguesia brasileira não conseguia levar a cabo a tão pretendida industrialização, seja por seu papel na ordem mundial do capitalismo como economia subdesenvolvida e seu tardio desenvolvimento econômico a nível histórico se

12 “Facilitava excepcionalmente a entrada de capitais estrangeiros, na medida em que permitia que as máquinas e os equipamentos introduzidos no país por empresas estrangeiras não tivessem cobertura cambial, exigência que era mantida para empresas nacionais.” (Marini, 2014 p. 80)

(27)

comparado aos países centrais ou pela estrutura incipiente as novas práticas econômicas no contexto mundial. Nesse sentido, foi necessário a tomada de uma decisão externa e interna para que se desse de forma gradual essa transição esta requeria:

Alterações tão profundas dos mecanismos de mercado, na organização do mercado financeiro e de capitais, nas dimensões da produção industrial, e medidas correlatas tão complexas (e, ao mesmo tempo, tão nocivas vários grupos e classe sociais, inclusive empresariais), referentes à política econômica e à aplicação de incentivos que privilegiam as economias industriais de escala e a exportação , que ela se torna impraticável sem um apoio interno decidido e decisivo, fundado na base de poder real das classe possuidoras, dos estratos empresariais mais influentes e do Estado.(FERNANDES, 1975, p.258). A decisão externa de alocação de recursos dos países centrais na economia brasileira por via das grandes corporações, afim de adequá-la como um polo de desenvolvimento requeria uma série de alterações. E vemos um movimento mais preciso em direção a essas alterações na segunda metade da década de 1950, ao passo que a decisão interna de assumir esse papel de dependente na divisão internacional do capital, se colocou como única solução para as crises e ganhou maior estatuto nas políticas estabelecidas pelos governos desse período. Ao passo que a burguesia nacional (escrever em minúsculo) adquiriu cada vez mais força nas decisões tomadas pelo Estado.

Fernandes (1975) destaca que alternativas diferentes para o desenvolvimento econômico existiam fora dos padrões do capitalismo monopolista, mas nunca foram consideradas como vias para a burguesia ultraconservadora brasileira. O Estado passou a atuar nesse sentido como a “espinha dorsal da adaptação dos espaços econômico e político interno aos requisitos estruturais e dinâmicos do capitalismo monopolista” (Fernandes, 1975, p. 261). E sendo controlado pelos interesses advindos do esquema da associação entre capital externo e interno passou a atender a essas alterações requisitadas pelo capital internacional.

De forma mais precisa na segunda metade da década de 1950 se verificou um direcionamento dos agentes governamentais nesse sentido. A aliança com o capital externo se colocou no contexto da crise de 1953 como a saída mais eficiente. Com a ascensão de Juscelino Kubitschek à presidência da república, o aprofundamento de uma política nacional desenvolvimentista voltada para a atração de investimentos externos se tornou o principal expoente governamental. Ao passo que “ as condições especiais da economia estadunidense, mais que nunca necessitada de novos campos de investimento” levaram a efetivação, inicialmente nesse contexto, de um acordo firmado para o desenvolvimento integrado da nação.

(28)

As medidas de facilidade ao incremento de capital estrangeiro na economia nacional, expressas na instrução 113 do Governo Café Filho se mantiveram no governo de JK e inicialmente foram efetivas com relação a associação do financiamento estrangeiro por meio da associação da industria nacional no esquema das grandes corporações multinacionais e da aplicação de JK de seu “arrojado” Plano de Metas13.

Conforme Marini (2014) a entrada expressiva desse financiamento trouxe uma resposta às crises que anteriormente se instalaram no país, trazendo uma momentânea trégua aos conflitos sociais que contribuíram para o fim do Governo de Vargas.

A entrada de divisas permitiu que as tensões entre a burguesia industrial e o setor agrário exportador diminuíssem e sustentou de maneira precisa a política de valorização do café por meio do aparato estatal. Ao passo que essa entrada permitiu a pretensa modernização urbana prevista no plano de metas, onde o principal expoente de realização de JK residiu no investimento em obras públicas, sendo seu apogeu a construção da capital da república, Brasília (MARINI, 2014).

Porém, a estrutura agrária se mantinha organizada da mesma forma, insuficiente em sua produção com relação ao mercado interno e ao fim do governo no início da década de 1960, o quadro de conflitos entre os setores dominantes se agravou novamente. As remessas de lucros do exterior eram insuficientes com as previsões dos agentes externos, o que levou a queda da remuneração e da entrada de divisas no país. A inflação dificultou as importações necessárias e conforme Marini (2014) trouxe um estrangulamento ao mercado brasileiro. Ao fim desses processos se encerrou o mandato de JK, e de forma mais violenta uma nova crise nacional se estabeleceu, dando continuidade a um quadro de tensões e conflitos que se perpetuaria até o início do golpe militar.

Diante ao contexto de crise, surgiu no cenário da política nacional a figura controversa de Jânio Quadros. Com propostas que se adequavam aos interesses das massas, sob o fundamento do apoio popular, Quadros foi eleito a presidência da república em 1961. Obteve “enorme penetração popular graças às questões da estabilidade monetária, das reformas estruturais e da política externa independente, nas quais centrou sua campanha eleitoral.” (MARINI, 2014, p. 91).

Contrário a qualquer forma de organização política, Quadros foi contraditório com relação a sua política econômica e política externa, ao passo que essas não coadunavam

13 “Ainda que contasse com facilidades tarifárias e estímulos fiscais à iniciativa privada, o plano, se respaldava, principalmente, no investimento público em setores básicos e na entrada de capital estrangeiro” (MARINI, 2014, p. 83)

(29)

na mesma direção. Do ponto de vista da política econômica, foi estabelecido um novo modelo de organização cambial, com base no liberalismo no qual se estabeleceu um duplo objetivo.

Desafogar o setor externo- abrindo perspectivas para superara a grave crise vivenciada pelo mesmo ampliando simultaneamente os recursos do Estado para atender aos compromissos da dívida externa- e permitir, através de um maior liberalismo econômico, que a economia interna marchasse para uma racionalização, isto é, que setores considerados antieconômicos ou ainda incapazes de enfrentar a concorrência fossem eliminados. (MARINI, 2014, P.92)

Para o autor o alívio do setor externo se deu em duas direções ao passo que o governo negociava as antigas dívidas junto ao capital externo, em função de atrair novos investimentos junto aos norte-americanos. Também se direcionava para outros agentes internacionais que viabilizassem novas fontes de injeção de capital estrangeiro no país e que proporcionassem novos mercados capazes de absorverem as exportações de produtos brasileiros (MARINI, 2014).

Cabe ressaltar quanto a essa política a pretensão de reformas de base, que implicou na abertura de incentivo e crédito para pequenos e médios produtores rurais. Fato que culminou na insatisfação das elites agrárias frente às políticas estabelecidas pelo novo governo. Assim como de setores da média e pequena burguesia que diante a nova política cambial via os privilégios para o desenvolvimento de sua atividade suprimidos.

A contradição quanto a política externa residiu no fato das propositivas alianças feitas para desafogar o mercado brasileiro. De forma que Jânio se aproximou da União Soviética, Cuba e China e nessa direção propôs a criação de um bloco internacional latino-americano a fim de dar relativa autonomia ao desenvolvimento dos países latinos frente ao capital internacional.

Cabe aqui destacar que a supressão às lutas da classe trabalhadora foi marcada por ofensivas no campo da opressão e coerção social e tal fato levou o governo a perder bases de sustentação política. Ao passo que as reivindicações dos sindicatos, dos movimentos dos trabalhadores do campo, do movimento estudantil se frente a intensificação da precarização das condições de vida e da superexploração do trabalho, às reformas tributária e cambial, assim como, a o arrocho salarial contidos nas políticas governamentais agravavam as condições de vida da classe trabalhadora.

Todas as controvérsias quanto às políticas implementadas culminaram em uma crise de governabilidade, onde o governo passou a ser pressionado de todos os lados. A

(30)

base de apoio das massas se esvaia devido ao arrocho salarial e a política cambial que elevava os custos de vida da classe trabalhadora.

A falta de apoio dos militares para aplicação da coerção social frente às organizações reivindicativas dos trabalhadores, que eram rechaçadas pelo governo, agravava a situação. E por fim uma política externa que ameaçava os interesses do imperialismo norte-americano, em conjunto com as ameaças promovidas pelas políticas reformistas em setores de base e no setor econômico a certas classes dominantes da sociedade. Assim, com a pressão tanto dos comunistas como da extrema direita liderada por Carlos Lacerda, todos esses fatores levaram ao quadro de instabilidade nacional, no qual Jânio prevendo o acirramento político e social, renunciou à presidência em 1962 (MARINI, 2014).

Frente a esse quadro os militares promoveram uma campanha para colocar o país sob sua tutela, mas essa se tornou fracassada devido à resistência feita por Leonel Brizola. Diante ao quadro de instabilidade e da renúncia, João Goulart assumiu o poder mesmo com a oposição de diversos setores das classes dominantes que viam na nova figura presidencial uma ameaça aos interesses e ao padrão de acumulação que vinha se estabelecendo no país desde o início da década de 1950. Sob a égide do apoio das organizações sindicais e das massas trabalhadoras, o primeiro passo no poder de Jango foi uma ofensiva campanha para retomada do presidencialismo no país, ao passo que os partidos que estabeleciam a hegemonia do poder parlamentarista, ameaçariam sua efetivação devido a ameaça que as reformas propostas por Jango poderiam apresentar aos segmentos da extrema direita representados nesses partidos.

Em uma fase de certo imobilismo e estagnação do crescimento econômico nacional e de aprofundamento das lutas sociais o governo acreditava que essa iniciativa traria solução a crise estabelecida ao passo que proporcionaria maior autonomia aos planos que visavam uma transformação político-econômica da nação. Com apoio das massas trabalhadoras, Jango por meio da instauração de um plebiscito alcançou seu objetivo e a Constituição foi revista e o regime de governo passou ao presidencialismo.

Há de se destacar nesse período o avanço no que tange aos processos de organização da classe trabalhadora em função de seus interesses. A criação do CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) em 1962 e o fortalecimento das estruturas sindicais vão ser aporte para o acirramento das tensões no campo social (MARINI, 2014). As organizações partidárias da esquerda vinham ganhando corpo e cabe aqui destacar o papel do PCB que teve importante atuação no apoio da organização de diversas frentes sindicais no período,

Referências

Documentos relacionados

a) O conhecimento das determinantes da fidelização, específicas da atividade farmacêutica. b) A satisfação dos utentes entendida como um processo cumulativo, de avaliação

A criatura racional, enquanto possui unicamente a vontade natural de felicidade, só pode desejar a máxima felicidade possível; por tal razão, seu desejo de querer ser igual a

Ademais, diz Tomás que a prudência é uma virtude especial, pois ela que conecta todas as outras virtudes, intelectuais e morais, para que a ação do homem seja a

O autor explica que “a gestão compartilhada entre os sistemas de ensino e de meio ambiente vem sendo intensificada na atual gestão do governo federal, o que possibilita sinergia

entre a data da compra de mercadorias para revenda e a data do recebimento das vendas aos clientes pode ser obtido por meio da seguinte fórmula: PME (prazo médio de esto- cagem)

Na conjunção de limitações e possibilidades deste estudo, os resultados apontam evidências, em todo o filme, da importância de atitudes e comportamentos, considerando-se os

O Laboratório de Avaliação de Medição em Petróleo - LAMP foi criado para fazer as medições de vazão e BS&W através de um método automatizado utilizando misturas

A capacitação sobre o manejo do aleitamento materno e alimentação infantil segura é capaz de preparar os profissionais de ajuda humanitária para apoiar as mães na amamentação,