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1 3 4 COLUNA/COLUMNA - ANO 3 (3) - SETEMBRO-DEZEMBRO 2004 ARTIGO ORIGINAL

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ARTIGO ORIGINAL

Técnica experimental para inserção de parafuso no processo

articular da coluna cervical inferior*

An experimental technique to insert a screw in

the lower cervical articular process

Gláucio Coelho de Azevedo1

Hamilton da Rosa Pereira2

*Parte da Tese de Doutorado do 1.o autor intitulada “Técnica Experimental para Inserção de Parafuso no Processo Articular da coluna Cervical Inferior”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Experimental – Área de Concentração em Bases Gerais da Cirurgia e Cirurgia Experimental, da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Campus de Botucatu, Botucatu, SP, para obtenção do título de Doutor em Medicina.

1Professor convidado do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Marília, Marília, SP; Ex-assistente do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina de Marília, da Fundação Municipal de Ensino, Marília, SP.

2Professor Assistente Doutor do Departamento de cirurgia e Ortopedia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, campus de Botucatu, Botucatu, SP. Endereço para correspondência: Av. Rio Branco, 1276 - CEP 17.502-000, Marília SP. Fone/fax (14) 3433-8999 ou fax 423-2829. E-mail: glaucioazevedo@itelefonica.com.br

ABSTRACT

This experimental paper presents a new and efficient technique to insert a screw in the cervical lateral mass with the less risk of damaging the vertebral artery, the nerve root and the articular facet. This procedure is carried out by using a new device which measures the screw insertion angle and lock the screw after it goes through the posterior cortical area. This paper also aims at determining the effective screw length to be used in this technique. Five human lower cervical spines from C3 to C7 were used. Two holes were made in both sides of these 25 vertebrae. Therefore 50 holes were made. Two vertebrae groups were selected: C3-C6 and C7. In the C3-C6 group the start point of the screw was placed in a medial and caudal position 2mm in relation to the central point of the articular process, the screw tip was directed to the half of the lateral vertebral line at a 21,5° angle in the cranial direction; for the C7 vertebrae the screw initial point was placed at a 2 mm medial position in the vertical mean line just below the upper articular level; the screw tip was directed to the half of the lateral vertebral line at a 16,5° angle in the caudal direction. In both vertebral groups the screw was laterally deviated at a 42,5° angle. The conclusion is that this new technique is efficient and safe because: 1) it utilizes a new device to guide and measure the screw insertion and lock the screw after it goes through the posterior cortical area; the insertion is thus adequate for each specific lateral mass and decreases the risk of damage to the vertebral artery and to the nerve root; in fact it did not occur in both vertebral groups; 2) it presents a low rate of articular facet violation; 3) it presents a 10,7 mm. screw length which is effective for both vertebral groups; 4) therefore there occurs a good bone fixation and the important anatomic structures are preserved.

KEY WORDS: intramedullary nailing, spinal fusion,

bone screws

RESUMO

Este trabalho experimental propõe a demonstração de uma técnica eficiente, com menor risco para introdu-ção de parafuso no processo articular cervical, utilizando um novo dispositivo e determinando o comprimento efetivo médio do parafuso. Foram usadas cinco colunas cervicais de esqueleto humano de C3 a C7, num total de 25 vértebras e 50 perfurações. Foram selecionados dois grupos de vértebras: um de C3 a C6, outro de C7. No primeiro grupo, o ponto inicial do parafuso situou-se a 2mm mediais e caudais do ponto central do proces-so articular, dirigindo-se a ponta do parafuproces-so a 21,5º no sentido cranial. No outro grupo, o ponto inicial foi localizado a 2mm da linha média vertical, logo abaixo da superfície articular superior, dirigindo-se a ponta do parafuso a 16,5º no sentido caudal. Em ambos os gru-pos, o parafuso foi desviado lateralmente a 42,5º. Con-cluímos que a técnica apresentada demonstrou eficiên-cia e segurança, pois: 1) Utiliza um dispositivo que mede o ângulo de introdução do parafuso, bloqueando-o após a ultrapassagem da cortical anterior, introduzindo so-mente o comprimento ideal para cada processo articu-lar, diminuindo o risco de lesão; 2) Não causa lesão na artéria vertebral e na raiz nervosa; 3) Apresenta baixa incidência de violação da superfície articular, 7,5% nas vértebras C3 a C6 e 0% nas C7; 4) Apresenta um com-primento efetivo do parafuso de 10,7 mm para ambos os grupos vertebrais, oferecendo boa fixação óssea e boa margem de segurança, em relação às estruturas anatô-micas importantes.

PALAVRAS-CHAVE: osteossíntese intramedular,

(2)

INTRODUÇÃO

Muito tempo depois da primeira osteossíntese com cercla-gem dos processos espinhosos da coluna vertebral, em 1891, descrita por Hadra1 vários outros autores o seguiram. Rogers

(1942)2 reportou sobre a redução e fixação com fio de aço

nos processos espinhosos, mostrando bons resultados e pou-cas complicações. Essa técnica foi amplamente difundida, porém, com limitações no tratamento das fraturas dos pro-cessos articulares, dos propro-cessos espinhosos e das lâminas vertebrais, em que a cerclagem com fio de aço não pode ser usada. Coube a Judet et al. (1954)3 a idéia de usar placas e

parafusos na coluna vertebral.

A estabilização com a fixação dos processos articula-res das vértebras cervicais inferioarticula-res, ou seja, de C3 a C7, iniciou-se com Roy-Camille, no Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Grupo Hospitalar de La Pitié-Salpetriè-re, em Paris. Roy-Camille e Saillant4, em 1970,

publica-ram um trabalho sobre estabilização com placa-parafusos para estabilização das lesões traumáticas cervicais instá-veis com fraturas, fraturas-luxações e entorses com ruptu-ra do complexo ligamentar posterior. Essa fixação poste-rior e bilateral proporciona uma estabilidade imediata e facilita a reabilitação precoce dos pacientes. Esse sistema tem a vantagem de poder ser usado quando existe lesão do arco posterior vertebral.

Inúmeros autores têm citado como complicações da estabilização cervical posterior o afrouxamento, a sol-tura, o deslocamento do parafuso5-11,o risco de lesão da

artéria vertebral12 e da raiz nervosa 13, 10, a violação da

superfície articular e a fratura do processo articular14.

O objetivo deste trabalho experimental é propor e avaliar uma nova técnica de introdução de parafuso no processo articular cervical, estudando a sua viabilida-de em vértebras humanas, tendo como finalidaviabilida-de dimi-nuir o risco de lesão da artéria vertebral, da raiz nervo-sa, da superfície articular, e determinar o comprimento ideal do parafuso.

MATERIAL E MÉTODO Material

Foram usadas, para estudo, cinco colunas cervicais de C3 a C7, totalizando 25 vértebras de esqueleto humano adul-to, limpas sem inserções de partes moles (músculos-liga-mentares, vásculo-nervosas e discais), de ambos os sexos que não apresentavam alterações de morfologia exceto as variações degenerativas. As colunas foram cedidas pela Disciplina de Anatomia das Faculdades de Medicina de Marília (FAMEMA) e de Botucatu (UNESP). Por en-contrarmos características anatômicas diferentes, utiliza-mos dois grupos de vértebras: um de C3 a C6, semelhan-tes entre si e outro de C7, diferensemelhan-tes das demais. Foram observadas em ambos os grupos de vértebras diferenças entre as vértebras normais e as degeneradas.

Neste estudo, observamos que o centro do pedículo co-incide no plano sagital, a 2mm da projeção da borda infe-rior da superfície articular supeinfe-rior, nas vértebras de C3 a C6, e a 1mm, nas vértebras C7 (Figura 1). O centro

pedi-cular é a porção vertebral do arco posterior de maior mas-sa óssea e, conseqüentemente, a melhor área de fixação do parafuso.

Olhando a vértebra no plano frontal, a ponta da broca será dirigida para o ponto lateral da vértebra, situado a 1 ou 2mm, abaixo da borda inferior da superfície articular (Figura 2).

O processo articular, visto no plano sagital, como mos-tra a figura do rombóide (Figura 3), apresenta-se mais fino na extremidade superior e inferior e vai engrossando medialmente.

Figura 1

Identificação do centro do pedículo no plano sagital

Figura 2

Identificação do centro do pedículo no plano frontal

Figura 3

Vértebra cervical no plano sagital e frontal, com a figura geométrica mostrando que a linha em diagonal é a que ocupa a maior área óssea

(3)

Neste trabalho, procuramos ressaltar as diferen-ças morfológicas entre vértebras com articulações normais e as com processos degenerativos dessas articulações. Os processos articulares, quando dege-nerados, hipertrofiam-se, diminuindo a distância entre eles no plano frontal. Isso dificulta a identifi-cação do ponto inicial de perfuração. Nesses casos, a distância intrarticular normal, que é de 13mm, re-duz-se pela metade. Também ocorre o aumento da concavidade da superfície articular, diminuindo a área óssea para a fixação do parafuso, aspectos es-ses importantes, os quais não foram mencionados pelos autores consultados.

Equipamentos

Foram utilizados fios de Kirchnner de 2mm de diâ-metro e 10 cm de comprimento, em substituição ao uso de parafusos para facilitar a pesquisa. Também se usaram perfurador elétrico de baixa rotação, bro-ca de 2mm regulável, goniômetro de brobro-ca, paquí-metro, perfurador ósseo manual de ponta triangular, medidor de profundidade de parafusos e transferi-dor angular.

O goniômetro de broca utilizado pode ser visua-lizado na Figura 4.

A régua angulada é fixada ao cilindro por um parafu-so recartilhado, que permite fixar o ângulo desejado de perfuração do processo articular cervical. Essa régua apresenta uma escala de zero a 45 graus. A

Figura 4

Goniômetro cirúrgico

A – Goniômetro desmontado: 1. Broca de 2mm de diâmetro e 150 mm de comprimento; 2. Cilindro guia da broca; 3. Haste em “Z” e régua centimetrada; 4. Chave Allen para fixar o cilindro limitador; 5. Cilindro limitador da broca; 6. Parafuso fixador da régua centimetrada; 7. Parafuso fixador da conexão da haste em “Z” do cilindro guia da broca; 8. Nível com bolha d’água; 9. Anel inferior fixador do anel superior; 10. Anel superior limitador da broca

B – Régua centimetrada curva C – Goniômetro montado D – Nível com bolha d’água

bolha do nível deverá estar sempre na perpendicu-lar, coincidindo com o zero grau. Apenas o cilindro se movimenta, marcando os graus de inclinação. O anel limitador da broca determina com segurança, o comprimento em que esta deverá ser introduzida na cortical anterior. O anel superior eleva-se aproxima-damente 2mm, e o inferior fixa-o nessa posição im-pedindo que a broca continue perfurando a cortical anterior. O cilindro e a broca estarão sempre dirigi-dos para o sentido da perfuração a ser feita (lateral, cranial ou caudal). Foi utilizado como modelo inici-al um goniômetro articulado de plástico. Acoplamos em um dos braços deste a broca, e no outro, um ní-vel de acrílico com a bolha d’água. Foram feitos vá-rios protótipos: de cartolina, de alumínio e, final-mente, de aço.

Método

Foram usados cinco colunas cervicais de cinco vértebras cada no total de 25 vértebras, em que foram feitas duas perfurações por vértebras, uma em cada lado, perfazendo um total de 50 perfurações. As vértebras foram trabalha-das, separadamente, para facilitar a análise de cada intro-dução dos fios de Kirchnner.

Determinamos o ponto inicial da introdução da broca introduzindo-a no sentido póstero-anterior ver-tebral, observando o ponto de saída. Em seguida, medimos, com um transferidor, o ângulo formado pela broca e o plano horizontal, introduzindo a bro-ca sob visão direta.

Desta forma, podemos evitar a lesão da raiz ner-vosa, da artéria vertebral e da superfície articular. No forame medimos também com um paquímetro a distância entre a cortical anterior e posterior do pro-cesso articular (comprimento efetivo). Foi utilizado um aparelho de raio X, da marca Toshiba de 500 mA, para radiografar as peças anatômicas.

Utilizamos um goniômetro, que contém um dire-cionador da broca e regulador de profundidade da mesma. Este dispositivo mede o ângulo de introdu-ção do parafuso, e o bloqueia após a ultrapassagem da cortical, introduzindo apenas o comprimento ideal para cada processo articular. Eleva-se o anel superior do cilindro em aproximadamente 2mm e em seguida para fixa-lo nesta posição (Figura 5D). A ponta da broca, pre-viamente medida e fixada pelo anel limitador (Figura 5C) possibilitará que a cortical posterior seja perfurada lenta-mente até que não se encontre resistência óssea. O com-primento efetivo da ponta da broca a ser introduzida no processo articular foi determinado pela média das medi-das medi-das vértebras C3 a C7 com um paquímetro (Figura 5B) após a introdução do fio, entre ambas as corticais, o qual foi igual a 10,7mm (Figura 5E). A folga foi de 2mm. Para ultrapassar a cortical posterior poderá ser aumenta-da de acordo com a variação anatômica de caaumenta-da vér-tebra.

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óssea, o fio metálico deveria estar em diagonal ao processo articular.

Por esse motivo, usamos a diagonal em todas as técnicas. No grupo vertebral de C3 a C6, a diagonal maior foi no sentido cranial; no grupo C7, foi no sentido caudal. Para nos desviarmos das estruturas vásculo-nervosas vertebrais devemos inclinar, late-ralmente, a broca em ambos os grupos vertebrais.

Após a introdução dos fios metálicos em todas as vértebras, medimos o ângulo com um transferidor plástico, fazendo coincidir o arco posterior vertebral com o horizontal (Figura 2A). Determinamos, dessa forma, a média dos ângu-los laterais igual a 42,5º para ambos os grupos de vértebras, o ângulo cranial das vértebras de C3 a C6 igual a 20,3º e o ângulo caudal das vértebras C7 igual a 16,5º.

I) Técnicas de perfuração do processo articular: a) Técnicas para vértebras de C3 a C6: Tomamos como ponto inicial para introdução da broca, um ponto localizado a 2 mm medial e caudal do ponto central do processo articular, direcionando a ponta do parafuso para o ponto médio entre os processos articulares supe-rior e infesupe-rior situada lateral e cranialmente, a 20,3ºe a 42,5º respectivamente.

b) Técnica para vértebra C7: o ponto inicial localiza-se a 2mm medial da linha média vertical, 1mm abaixo do limite inferior do processo articular, e a ponta do parafuso será dirigida lateralmente para o ponto médio entre os processos articulares superior e inferior, a 16,5º no senti-do caudal e 42,5ºlateral.

Figura 5

Demonstração da obtenção dos ângulos vertebrais e da utilização do goniômetro cirúrgico

Figura 6 Técnica para as vértebras C3 a C6

II)Variáveis estudadas em ambas as técnicas:

a) Risco de lesão da artéria vertebral e da raiz nervosa: consideramos que há risco de lesão da artéria vertebral quando a ponta do fio de Kirchnner, que está em sua dire-ção, ultrapassar a cortical anterior do processo articular.

b) Violação da superfície articular: consideramos que há risco de lesão da superfície articular, quando a ponta do fio a ultrapassar.

c) Comprimento efetivo do fio: é aquele que corres-ponde à distância entre ambas as corticais do processo articular (anterior e posterior). É o comprimento efetivo de fixação na massa óssea.

As medidas do ângulo cranial das vértebras de C3 a

ÂNGULO LATERAL

PONTO INICIAL ÂNGULO CAUDAL

Figura 7

(5)

RLAVD-3 C6 0% RLAVE-C3 C6 0% RLRND-C3 C6 0% RLRNE-C3 C6 0% RLAVD-C7 0% RLAVE-C7 0% RLRND-C7 0% RLRNE-C7 0%

Variável Máxima Mínima Amplitude

Total Mediana Média

Desvio-padrão %

C6, as do ângulo caudal de C7 e as dos late-rais de todas as vértebras foram feitas com um transferidor de ângulos sob visão direta. A medida do comprimento efetivo do fio metáli-co foi feita metáli-com um paquímetro. O número de articulações em que houve violação da super-fície articular e o risco de lesão da artéria ver-tebral e da raiz nervosa foram verificados pela visualização direta da ponta do fio. A seguir, foi determinada a média dos ângulos de am-bos os grupos de vértebras. Também foi deter-minada a média tanto dos ângulos laterais quanto dos comprimentos efetivos de ambos

os grupos vertebrais.Todas essas medidas foram tomadas de ambos os lados. A confirmação radiográfica da possibilidade de risco de lesão vásculo-nervosa e articular foi feita após a introdução de todos os fios. Radiografias vertebrais foram feitas na incidência axial e mostraram a relação da ponta do fio metálico com o forame vertebral e o da artéria vertebral. Foi utilizada a técnica de 200 MA, 45KV e 0.5 segundos, para todas as incidências radiográficas.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Neste estudo, avaliamos os resultados obtidos, segundo as características das variáveis consideradas, calculando-se suas variações por média, mediana, desvio-padrão e amplitude total: a) Ângulos cranial direito, lateral direito, cranial es-querdo e lateral eses-querdo das vértebras C3 a C6 e ângulos caudal direito, lateral direito, caudal esquerdo, lateral esquer-do das vértebras C7; e b) Comprimento efetivo esquer-dos fios direi-to e esquerdo.

Para a comparação das variáveis: ângulos cranial direito

versus esquerdo, lateral direito versus esquerdo das

vérte-bras C3 a C6, e caudal direito versus esquerdo; lateral direito

versus esquerdo - das vértebras C7; comprimento efetivo dos

fios, direito e esquerdo, foi utilizado o teste de Wilcoxon (Curi, 1997)15 para amostras dependentes. Utilizou-se também o

teste de Mann-Whitney (Curi, 1997)15 para amostras

inde-pendentes com o objetivo de comparar as variáveis: ângulo lateral direito com lateral esquerdo das vértebras C3 C6 e das vértebras C7. Adotou-se, em ambos os testes, o nível de significância de 5% de probabilidade para rejeição da hipó-tese de nulidade.

RESULTADOS

De acordo com a Tabela 1, observou-se que a Violação da Superfície Articular Direita e Esquerda (VSAD e

VSAE) de C3 a C6 apresentaram um risco de 5% e 10% respectivamente. Para as vértebras C7, o risco foi de 0%. Tanto para as vértebras de C3 a C6 e C7, o risco de lesão da artéria vertebral direita e esquerda (RLAVD e RLAVE) e da raiz nervosa direita e esquerda (RLRND e RLRNE), foi de 0%, como pode ser visualizado na Tabela 2.

DISCUSSÃO

Baseados nos detalhes anatômicos, idealizamos uma técnica diferente de introdução de parafusos para o grupo vertebral de C3 a C6, e para o de C7. Para uma osteossíntese cervical posterior ideal, é necessário que seja segura, de rápida exe-cução, produza estabilização imediata, de baixo custo, dis-pense enxerto ósseo e, ainda, disdis-pense estabilização comple-mentar por via anterior, sem grande imobilização externa. A ostessíntese cervical está indicada na presença de instabili-dade cervical óssea ou discoligamentar e, quando houver le-são medular ou radicular, para facilitar a rápida reabilitação do paciente. O sistema de placa-parafuso, via posterior, pre-enche bem as qualidades da osteossíntese ideal, e pode ser usado quando há falência do arco posterior cervical, o que não é possível com as cerclagens com fio de aço. As diferen-tes técnicas de inserção de parafusos estudadas apresentam falhas técnicas como: o risco de lesão da artéria vertebral e da raiz nervosa; de violação da superfície articular; de avul-são de parafusos, com deslocamento secundário e de fratura do processo articular pelo parafuso.

Desde 1970, Roy-Camille e Saillant4 tem usado as placas

metálicas para estabilização das lesões instáveis da coluna cervical. Em 1979, afirmava que o ponto de inserção dos parafusos, centralizado no processo articular, mantendo a bro-ca perpendicular e angulando lateralmente 10º, seria a con-dição para se evitar a lesão vasculonervosa11.

Em 1987, Magerl et al.16 idealizaram a

placa-gancho, mudando a direção dos para-fusos, apontando-os para direção cranial, pa-ralelos à superfície articular e angulando-os lateralmente a 25º. Seu intuito era idealizar uma técnica mais segura, em que o parafuso fosse melhor fixado no processo articular e desviá-lo das estruturas vasculo-nervosas. Desde então, surgiram duas facções de segui-dores à procura da técnica mais segura, a de Roy-Camille e a de Magerl.

Tabela 2 - Descrição das variáveis: risco de lesão da artéria vertebral direita e esquerda (RLAVD e RLAVE) e da raiz nervosa direita e esquerda (RLRND e RLRNE)

Tabela 1 -Descrição das variáveis: violação da superfície articular direita e esquerda (VSAD e VSAE)

VSAD-C3 C6 5% VSAE-C3 C6 10% VSAD-C7 0% VSAE-C7 0% V a r i á -vel

Máxima Mínima Amplitude

Total Mediana Média

Desvio-padrão %

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Os autores pesquisados, Raushning et al. (1989)17,

Ebraheim et al. (1989)7, Heller et al. (1991)12, Anderson

et al. (1991)5, An et al. (1991)18, Jonsson e Rauschning

(1994)19 e Ebraheim et al. (1995)20 colocaram o ponto

ini-cial de entrada do parafuso próximo ao ponto central no processo articular. Roy-Camille (1979)11 e Ebraheim et

al. (1989)7 escolheram o ponto central; Anderson et al.

(1991)5, An et al. (1991)18 e Fehlings et al. (1994)8, a

1mm medial desse ponto; Magerl et al. (1987)16

preferi-ram colocá-lo a 2mm medial e cranial; Louis (1979)21

to-mou como ponto de referência a borda inferior da articu-lação, distanciando 5mm dela. Em nossa técnica, o ponto escolhido situa-se a 2mm medial e caudal para as vérte-bras C3 a C6, e 2mm medial da borda articular superior para as C7.

Roy-Camille (1979)11 introduziu a broca

perpendicu-lar; a ele seguiram Louis (1979)21, Ebraheim et al. (1989)7

e Fehlings et al. (1994)8. An et al. (1991)18 utilizaram um

ângulo cranial de 15º. Magerl et al. (1987)16 e Anderson

et al. (1991)5 introduziram a broca paralela à superfície

articular superior. Nesta técnica, o ângulo cranial é de 20,3º para as vértebras de C3 a C6, no sentido de baixo para cima e para as vértebras C7, o ângulo caudal é de 16,5º, dirigindo-se a broca de cima para baixo. Importa lembrar que essa é a única técnica que introduz o parafu-so no sentido caudal.

Em relação ao ângulo lateral, a técnica de Louis (1979)21 é de 0º, a de Roy–Camille (1979)11, Anderson et

al. (1991)5 e Fehlings et al. (1994)8, de 10º; Ebraheim et

al. (1989)7, Magerl et al. (1987)16 e An et al. (1991)18, de

15º, 25º e de 30º respectivamente. Na técnica que descre-vemos, o ângulo foi de 42,5º para as vértebras de C3 a C7. Em todas as técnicas citadas, houve a preocupação em desviar o parafuso lateralmente para não lesar a artéria vertebral e a raiz nervosa. Magerl et al. (1987)16 foram os

primeiros a ousar mudar a direção do parafuso no sentido cranial objetivando conseguir maior massa óssea para fixá-lo. Baseados nessa experiência passamos os parafusos na diagonal do processo articular no sentido cranial ou cau-dal, com a mesma finalidade.

A nossa técnica não adota o ponto central apregoado como seguro por Ebraheim et al. (1989)7 e Xu (1995)22. O

trajeto dos parafusos é seguro porque cruza a projeção daquele ponto, no interior do processo articular. A técni-ca realizada sob visão direta propicia a introdução do pa-rafuso em direção ao ponto médio entre os processos arti-culares superior e inferior, evitando-se, desse modo, o ris-co de lesão das estruturas vasculonervosas e a violação da superfície articular.

Existem técnicas em que o comprimento efetivo é muito grande, como a de Magerl, o que pode lesar estruturas vásculo-nervosas, ou muito pequeno, como na de Roy-Camille e a de Louis, não oferecendo boa fixação óssea para o parafuso. Jonsson et al. (1991)10 indicaram como

comprimento efetivo seguro o que fica entre 10 e 11mm. Em nossa técnica, o comprimento efetivo médio usado entre as vértebras de C3 a C7 é de 10,7 mm, ficando

den-tro da margem de segurança indicada pelo autor. Nesta técnica, a variação mínima de comprimento efetivo do parafuso igual a 8mm, e sendo ainda maior que a de Roy-Camille (1979)11 e a de Louis (1979)21.

Em nossa técnica, o comprimento efetivo médio do parafuso de 10,7mm oferece boa fixação óssea, o que, conseqüentemente, reduzirá o afrouxamento e a soltura do parafuso.

A possibilidade de lesão da raiz nervosa, na técnica de Roy-Camille, é de 10,8 %; na de Magerl, de 26,8%, enquan-to em nossa técnica, o risco de lesão dessas estruturas vascu-lonervosas é inexistente (0%).

Em relação à violação do processo articular, os autores pesquisados divergiram nos resultados. Heller et al. (1991)12

encontraram 22,5% com a técnica de Roy-Camille e 2,4%, na de Magerl; enquanto Choueka et al. (1996)14

encontra-ram valores de 53% e de 0% respectivamente, para as referi-das técnicas. Em nossa técnica, esse percentual é de 0% para as vértebras C7, e de 7,5 %, para as vértebras de C3 a C6. Acreditamos que esse último índice aumentou devido à que-bra da superfície articular de vérteque-bras ressecadas, onde fo-ram feitas diversas perfurações, o que não ocorreria com vér-tebras em condições normais.

Baseados nessas falhas técnicas propusemos uma nova técnica que, auxiliada por um dispositivo, torna mais efici-ente e mais segura a introdução do parafuso. Esse dispositi-vo mede o ângulo de introdução do parafuso e o bloqueia após a ultrapassagem da cortical posterior, introduzindo so-mente o comprimento ideal para cada processo articular. Não encontramos na literatura consultada nenhum dispositivo como esse. O bloqueio da broca, ao ultrapassar a segunda cortical, evita a lesão das estruturas vásculo-nervosas contí-guas, mesmo que o cirurgião erre o ângulo de introdução daquela.

Introduzindo os fios sob visão direta, comprovamos uma técnica em que não ocorre o risco de lesão da artéria verte-bral e da raiz nervosa e em que a violação do processo articu-lar é mínima e constitui a razão deste nosso trabalho.

Em nossa técnica de inserção de parafusos no proces-so articular cervical, a broca é introduzida cranialmente a 20,3º nas vértebras de C3 a C6 e caudalmente a 16,5º nas vértebras C7. O ângulo lateral de 42,5º e o comprimento efetivo do parafuso de 10,5mm foram comuns a todas as vértebras de C3 a C7. Os autores pesquisados indicaram técnicas com valores uniformes para todas as vértebras cervicais inferiores, desprezando a variação anatômica de C7. O adelgaçamento do seu processo articular dificulta a boa fixação do parafuso. Para obtermos maior massa ós-sea, colocamos o ponto inicial da broca mais medial, em relação ao ponto central. Desviamos a broca no sentido em que há maior massa óssea, que é sentido caudal. O ângulo lateral a 42,5º desvia a ponta da broca da artéria vertebral e da raiz nervosa e aproxima-se bem do proces-so espinhoproces-so. É importante lembrar que as perfurações devem seguir o mesmo alinhamento, para facilitar a colo-cação da placa metálica, em caso de cirurgia. Procuramos mostrar que a nossa técnica propicia grande segurança.

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Não foi constatado nenhum risco de lesão da artéria ver-tebral e da raiz nervosa em todas as vértebras perfuradas. Em relação à violação da superfície articular, as vértebras de C3 a C6 apresentaram um risco de 7,5%, enquanto nas do grupo C7 não houve nenhuma lesão. Estatisticamente, comprovamos que, nos testes de Wilcoxon e de Mann-Whitney, as amostras dependentes não foram significan-tes, ao compararmos as variáveis.

CONCLUSÃO

Nas condições deste estudo experimental, concluímos que a técnica proposta é segura pois: (1) é viável em peças anatômicas humanas; (2) utiliza um novo dispositivo que mede o ângulo de introdução da broca e que a blo-queia após a ultrapassagem da cortical anterior, intro-duzindo somente o comprimento ideal para cada pro-cesso articular (comprimento médio de 10,7mm); (3) usando este dispositivo com ângulos e comprimento de broca pré estabelecidos, encontramos: (4) ausência de lesão da artéria vertebral, (5) ausência de lesão da raiz nervosa, (6) menor violação da superfície articular do processo articular.

Visite o site da Sociedade Brasileira de Coluna: www.coluna.com.br

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Referências

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