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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

INTERESPE:

Interdisciplinaridade

e

Espiritualidade na Educação

ISSN 2179-7498

Número 8 | Jun. 2017

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação

ISSN 2179-7498

número 8 jun., 2017

=========================================================================== Publicação Oficial do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (INTERESPE) – Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação

Publicação Oficial do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (INTERESPE) - Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP

Site: http://www.pucsp.br/interespe/

© Copyright 2017

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação / Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (INTERESPE) – Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade – no. 8 (jun. 2017) – São Paulo: PUCSP, 2017.

Periodicidade anual, com possibilidade de números eventuais.

ISSN 2179-7498

As opiniões emitidas nas matérias desta Revista são de inteira responsabilidade dos seus autores. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, porém, deve-se citar a fonte.

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017. Revista 8

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação

Editor Científico

Ruy Cezar do Espírito Santo (ruycezar@terra.com.br)

Editora Executiva

Herminia Prado Godoy (herminiagodoy@ymail.com)

Conselho Editorial

Gazy Andraus (yzagandraus@gmail.com )

Ivani Catarina Arantes Fazenda (jfazenda@uol.com.br) Maria Regina Cerávolo (mrceravolo@uol.com.br)

Marilice Pereira Ruiz da Amaral Mello (m.marmello@uol.com.br) Simone Andrioli Andrade (simone50@terra.com.br)

Telma Teixeira Oliveira de Almeida (telmateix@yahoo.com.br)

Pareceristas

Adriana Beneduzzi Passarelli (abeneduzzi@hotmail.com) Ana Lúcia Machado (analucianaturalarte@yahoo.com.br) Denise Assis (dassis.denise@gmail.com)

Elenice Giosa (elenicegiosa@gmail.com) Jaime Paulino (profjaime@terra.com.br)

Rodrigo Mendes Rodrigues (rodrigofilosofiaclinica@hotmail.com) Suely Aparecida Marqueis (vocaresua@gmail.com)

Telma Maria Beneduzzi (tbeneduzzi@uol.com.br)

Técnica

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

SUMÁRIO

EDITORIAL (Ruy Cézar do Espírito Santo)... 07-08

APRESENTAÇÃO (Simone Andrioli de Moura Andrade)...

ARTIGOS

09-16

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESPIRITUALIDADE,

RELIGIOSIDADE E RELIGIÃO (Telma Maria Beneduzzi) ... 18-23 2 SEXUALIDADE: Um momento de transformação para o

cuidado do Ser Integral (Simone Andrade)... 24-32

3 TEC/NÃO/LOGIA E DES/COMUNICAÇÃO? (Gazy Andraus)

4 A GRANDE TRANSFORMAÇÃO: liberdade e política. (Maria Regina Cerávolo)... 5 NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO (Ana Lúcia Machado)... 6 SEGURANÇA E MEDO: ressurgimento do sagrado como um caminho de transformação (Suely Aparecida Marqueis)... 7 MEDITAÇÕES JUNGUIANAS: inspirações para momentos de transformação. (Vinícius Alexandre Rocha Piassi)...

33-40 41-48 49-58 59-67 68-73 PESQUISAS DO INTERESPE

8 RELATÓRIO DE PESQUISA 1- ESPIRITUALIDADE E AUTOCONHECIMENTO (Ruy Cézar do Espírito Santo, Herminia

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

8.1 ESPIRITUALIDADE, AUTOCONHECIMENTO E O TRABALHO ENERGETICO – REIKI (Herminia Prado Godoy e Telma Maria Beneduzzi)... 8.2 AUTOCONHECIMENTO E ESPIRITUALIDADE EM VIVÊNCIAS SIMBÓLICAS NAS ÁREAS DE EDUCAÇÃO E SAÚDE (Simone Andrade e Elenice Giosa)...

8.3 ESPIRITUALIDADE, AUTOCONHECIMENTO E

EXPRESSÃO ARTÍSTICO-CIENTÍFICA (Gazy Andraus e Maria Regina Cerávolo)......

8.4 CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL E AUTOCONHECIMENTO CORPORAL (Telma Teixeira e Jaime Paulino)... 8.5 INCLUSÃO NA DIVERSIDADE: a contribuição da espiritualidade e interdisciplinaridade - Projeto de Pesquisa (Marilice Pereira Ruiz do Amaral Mello)...

LANÇAMENTO DE LIVROS... 77-78 79-85 86-96 97-99 100-104 106-107

O GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA SOBRE INTERDISCIPLINARIDADE E ESPIRITUALIDADE NA

EDUCAÇÃO – INTERESPE... 108-108

EQUIPE EDITORIAL... 109-114

DIRETRIZES E NORMAS DE SUBMISSÃO E REVISÃO

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

EDITORIAL

Há cenas inacreditáveis em nosso planeta...

Por que diariamente os jornais publicam fotos de cenas inacreditavelmente violentas e trágicas?

Qual o sentido das cenas objeto de tais fotos? O que podemos fazer?

Por que o ser mais evoluído do planeta (ao menos dentre os conhecidos) é o único que chega a tais níveis de sofrimento, isto sem considerar a existência de drogados ou depressivos.

Este é um lado da realidade.

O outro lado é a existência de ‘médicos sem fronteira’ ou ‘anistia internacional’, dentre outros movimentos voluntários a revelar um espírito acolhedor e querendo cuidar das pessoas e do planeta.

Para onde caminhamos? Há sentido em tudo isso? Quem somos nós?

Se fossemos simplesmente um ‘aglomerado’ de átomos em processo evolutivo, apenas os mais ‘fortes’ sobreviveriam. No entanto, como vive hoje a maioria da humanidade?

Por outro lado, há um abismo entre os seres vivos conhecidos e o ser humano...

Somos os únicos seres vivos ‘conhecidos’ a fazer música. A compor poesias. A chegar a Lua. Inexiste para tais acontecimentos qualquer traço ‘evolutivo’. Há um ‘mistério’ interior extremamente criativo, que é a raiz de tais ‘fenômenos’.

Chegou o momento de ‘acordarmos’ para tal mistério de nossa identidade! Seguramente é o: “conhece-te a ti mesmo”, princípio de toda a sabedoria, como afirmado por Sócrates. É preciso como afirmado por Carl Gustav Jung integrarmos nosso ‘ego’ ao self, numa linguagem científica.

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

Há um poder e uma força no Ser Humano que se forem ‘ignoradas’ poderão nos conduzir mesmo às imagens diárias trazidas pela mídia.

Podemos talvez agora entender porque Jesus Cristo, já ‘pregado numa cruz’ proclamava: ‘Pai perdoai porque eles não sabem o que estão fazendo’ (referindo-se àqueles que o assassinavam). Sim, chegou o momento de sairmos dessa ‘ignorância’, que hoje se revela na mídia como referido. Para finalizar essa breve reflexão devo acrescentar que o ponto de partida para ‘desvendar’ o ‘sentido’ dos acontecimentos aqui levantados é a ‘liberdade’, o livre arbítrio, que conduz o Ser Humano além de uma vivência puramente instintiva. Sim o self, uma vez ignorado, não impedirá uma ação fruto do livre-arbítrio, que sendo inconsciente, poderá conduzir como ocorre, a uma autodestruição e/ou a destruição de nosso ‘entorno’. Vamos pensar nisso e tentar ir adiante nessa reflexão. É o momento que estamos vivendo! Este momento chama-se: Momento de Transformação, que abarca o que poderíamos chamar de totalidade da Vida humana. Nesse sentido seguem o que denomino de Momentos de Transformação.

Abraço grande. Ruy1

1 Ruy Cezar do Espirito Santo: Professor Titular da Faculdade de Educação da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo- PUCSP e professor titular da Fundação Armando Álvares Penteado (FAP) e professor na UNIMESP, no programa latu-sensu denominado "Docência do Ensino Superior". Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade – INPERESPE, e Colaborador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade- GEPI do Programa de Pós-Graduação: Educação/Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP. Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/1998). Mestre em Educação/Currículo pela PUCSP (1991). Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP/1957). CV: http://lattes.cnpq.br/7857468452892458; Contato: ruycezar@terra.com.br

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

APRESENTAÇÃO

Simone Andrade2

Figura 1: momentos de transformação (ANDRADE, 2016).

2 Simone Andrioli de Moura Castro Andrade: doutoranda em Educação: Currículo- PUC/SP.

Especializada em bases da Medicina Integrativa pelo Einstein. Possui Certificação Internacional de Coaching Mentoring & Holomentoring pelo instituto Holos. Especialista em psicoterapia de orientação Junguiana coligada às técnicas corporais no Instituto Sedes Sapientes. Graduada em Psicologia - PUC/SP. Desenvolve trabalho como orientadora profissional, em clínica, escolas, com atendimento individual ou em grupo. Psicoterapeuta de jovens, adultos e orientação de pais. Cocriadora do projeto: “Projeto terapêutico de orientação profissional”. Coordenou o Projeto social Integração Real durante cinco anos. Psicoterapeuta da Regressão pelo CDEC, Terapeuta da Consciência Multidimensional - Centro de Estudos e Pesquisas da Consciência. Pesquisadora do GEPI, Membro da Aliança pela Infância e INTERESPE. CV: http://lattes.cnpq.br/0618029679833651. Contato: simone50@terra.com.br

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017. Queridos leitores,

Nesta e na próxima edição abarcaremos ou ‘embarcaremos’ nos ‘Momentos de Transformação’3, conforme nos foi tão belamente explanados acima são

temas inspiradores que podem servir para ponto de partida de muitas discussões em sala de aula ou mesmo poderiam fazer parte do currículo de nossas escolas. Por que nas aulas são priorizados conteúdos com informação, ao contrário de temáticas que promovam a formação e autoconhecimento dos indivíduos?

Atualmente, a informação está muito acessível em função da tecnologia e este não deveria ser o papel principal da escola, não estamos dizendo que os conteúdos informativos das disciplinas não são importantes, sim, são fundamentais na educação. A questão é o como e para que são ensinadas e como são inseridas no currículo, muitas vezes são completamente desconectadas da realidade do aluno. Poderiam ser articuladas para promover o interesse e a vontade de aprender, o ideal é que a aprendizagem faça sentido: o saber conectado com o Ser. Por que a aprendizagem ainda continua tão fragmentada? Por exemplo, quando o professor de biologia ensinar o corpo humano, porque não despertar e integrar com as outras dimensões do ser? Seria importante integrar a dimensão física, emocional, energética, mental e espiritual no processo de aprendizagem. Os alunos poderiam ser estimulados nesta aula a sentir o seu corpo e não só a pensar sobre o seu corpo. A educação física também seria uma boa oportunidade para que esta aprendizagem da fisiologia do corpo não ficasse só no nível mental, compreender e conscientizar as sensações e sentimentos poderia ser complementado à prática esportiva. Este é um pequeno exemplo de como a aprendizagem poderia se tornar integrada. As práticas interdisciplinares vêm contribuído neste sentido, estimulam a integração do Ser na educação. Enfim, nesta edição e na próxima serão descritos alguns ‘Momentos de Transformação’, desenvolvidos pelo nosso querido mestre Ruy Cesar do Espírito Santo, bem como, serão apresentados artigos elaborados a partir destes ‘Momentos’, com a intenção de despertarmos o educador para a importância de proporcionar a elaboração e consciência para importantes

3 Momentos de Transformação: Renascimento do Sagrado na Educação (ESPÍRITO SANTO,

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

temas existenciais em sua sala de aula, ou como diria, Paulo Freire, temas inerentes ao ‘Mundo Vida’.

Aproveitamos para questionar o nosso papel de educadores no nosso Mundo Vida, de uma forma consciente ou não, não somos educadores a partir de nossas atitudes com quem está ao nosso lado? Qual é o Mundo que desejamos para nós e nossos filhos? Quais são as pequenas transformações que podemos fazer hoje no nosso dia a dia?

Desejamos a todos boas inspirações…, e o mundo continua cada vez melhor, só depende do ângulo que você escolher olhar....

Momentos de Transformação

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abarcados nesta edição

Figura 2: Cabo de San Lucas – México (Fonte: acervo Andrade, 2017).

1 Transformações ocorridas no campo da sexualidade: trata-se de tudo aquilo que ocorre com o ser humano em seu processo de individuação (ou autoconhecimento), seja como homem ou como mulher. Examinam-se desde as implicações culturais de se nascer

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

‘menino’ ou ‘menina’ até as mudanças físicas da puberdade, bem como as definições emocionais, sociais e religiosas emergentes a cada passo. Convida-se o educando a examinar o momento atual de sua maturidade masculina ou feminina, dando-lhe a certeza da continuidade das transformações, enfatizando-se a importância do desenvolvimento da consciência de tal movimento de transformações. Cabe também inserir a visão junguiana de anima e animus, na visão integradora dos sexos.

Figura 3: Cabo de San Lucas – México (Fonte: acervo Andrade, 2017).

2 Nossa relação com o universo da tecnologia e das informações: hoje, especialmente desde muito cedo, as crianças estão ligadas à ‘babá eletrônica’... Não bastasse isso estamos mergulhados em um caótico mundo de outdoors, revistas em quadrinhos, programas de rádio, computadores, jornais, celulares, vídeo-games, ipods, enfim, toda essa parafernália, que contata o mundo inteiro. De um lado louve-se a capacidade de contatar o Ser Humano em qualquer lugar remoto do planeta, mas por outro lado, o risco de um processo de massificação é evidente. Assim, como nos itens anteriores quero mostrar a relevância da atenção ao momento presente, sendo que nesse caso, mais do que nunca, far-se-á necessário observar as mudanças inconscientes a que estamos sendo submetidos. À semelhança de uma verdadeira lavagem cerebral, vamos recebendo uma profusão de informações, que torna difícil uma percepção imediata de suas consequências em nossas vidas. Caberá hoje, especialmente ao educador, trazer para sua sala de aula o despertar crítico de tal quadro para seus educandos. Não se tratará simplesmente de impedir ou proibir o uso de qualquer tecnologia, até porque isto seria inútil, mas, sim, despertar o necessário nível de consciência de seus alunos para perceberem o risco que vivemos ao permanecermos inconscientes diante de tal situação. Saramago dizia que se Platão fosse vivo ficaria admirado de verificar o retorno das pessoas ao ‘fundo da

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caverna’. Sim ficamos grande parte do tempo presos às imagens presentes nas telinhas e perdemos a ‘Vida’ do lado de fora...

Figura 4: Cabo de San Lucas (Fonte: acervo Andrade, 2017).

3 Religiosidade e espiritualidade: é fundamental nesse ponto que se verifique quão profundamente uma criança é atingida, por mal digeridas normas morais oriundas de preceitos religiosos! Quanta culpa vai sendo armazenada e quanto medo vai cerceando a criatividade e o prazer do jovem! Precisamos retomar a clareza de princípios universais de todas as religiões, que não só são marcadas pelo Amor, como também pelo desenvolvimento do Deus Interior presente em cada ser humano. Outro ponto a ser enfatizado diz respeito ao encontro da ciência com a fé. Veja-se, por exemplo, como a própria Igreja Católica, aquela de maior presença no Ocidente, que a partir do Papa João XXIII começa a abrir suas portas para uma visão ecumênica e de profundo diálogo com o mundo científico. Do lado da ciência temos, dentre outros, o trabalho de Fritjof Capra, em sua obra Ponto de Mutação. Os educandos hoje precisam desenvolver uma consciência da visão junguiana de espiritualidade, que acentua a percepção da integração do ego com o self, o que vai significar, por parte da ciência, um fundamental encontro com a religiosidade. O educador deverá ao conduzir reflexões nessa direção, acentuar o profundo respeito que se deve ter às crenças individuais, inclusive no que diz respeito a posições agnósticas ou ateias. O fundamental será acentuar a busca da importância de uma integração de todas as tendências religiosas ou não

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religiosas existentes. Um outro cientista que também avançou nessa direção foi Amit Goswami, já aqui referido, sendo de grande relevância conhecer o documentário intitulado ‘O Ativista Quântico’.

Figura 5: Cabo de San Lucas (Fonte: acervo Andrade, 2017).

4 Medo: trata-se de observar o quanto nosso corpo fica marcado, com frequência até a vida adulta, por medos impostos em tenra idade. São medos de insetos, do escuro, de fantasmas e tantos outros que vão nos tornando pessoas inseguras. Não bastassem tais medos primeiros, vamos adquirindo outros medos, que mais nos amarram: medo da morte, do fracasso, de adoecer, de envelhecer, de amar, de vencer na vida, de ser assaltado, da violência como um todo, e tantos outros. Lidar com as transformações decorrentes de tais medos é como nos outros casos, indispensável para sairmos de uma das mais terríveis ignorâncias, que é essa vivência plena de temores. Literalmente deixamos muitas vezes de viver. Cercamos-nos de seguros, armas, vidros escuros nos automóveis, deixando que um processo entrópico se instale em nossas vidas. Curioso exemplo da origem desses medos é a inconsistência da maioria deles, o que nos é revelado por crianças com quem desenvolvemos esse trabalho e que quando indagadas: que medos vocês têm? Uma responde: tenho medo de baratas. Ao ser arguida no sentido óbvio de que a barata é que deveria ter medo dela, dada a diferença de tamanho e a inofensividade do inseto, a criança responde de imediato: então por que minha mãe tem medo? Ou seja, o medo não era da barata, mas sim um medo transferido pela mãe. Quantos de nós não adquirimos medos semelhantes? Assim, a tarefa do educador será tornar consciente a origem dos medos buscando uma transformação indispensável para uma vida saudável. Na verdade, podemos considerar o medo como sendo o grande obstáculo ao Amor!

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017. Figura 6: Cabo de San Lucas (Fonte: acervo de Andrade, 2017).

5 Liberdade: trata-se de resgatar o movimento da liberdade, como ação do Homem integral e não simplesmente uma questão de ultrapassar limites, situados permanentemente, de fora para dentro. Buscar-se-á levar o educando a percepção da liberdade, como um processo crescente de autotransformação, onde irá germinar a plenitude da relação humana. Jung denominava a integração do ego com o self, como já me referi, como sendo a realização do processo de individuação, ou seja, a vivência plena do ser humano. Há nisso um mistério curioso, que diz respeito ao sentido profundo do que seria o nosso self. Sim, nenhum outro ser vivo desenvolve esta busca de liberdade presente ao ser humano... O mundo animal e vegetal já nasce de certa forma, ‘pronto’. O único Ser Vivo, conhecido, a ser educado e a usar o ‘livre arbítrio’ na sua realização é o ser humano! O mistério de nosso self envolverá exatamente a profundidade do ‘conhece-te a ti mesmo’ apregoado por Sócra‘conhece-tes. Sinto que a melhor metáfora para ‘explicar’ nossa essência, ou seja, nosso self é o Amor! Sim, as Tradições, especialmente a cristã que nos é mais próxima, afirma que ‘Deus é Amor e o Homem Sua Imagem e Semelhança’. Curiosamente tal metáfora do Amor irá explicar a raiz da ‘liberdade’, pois nenhum Pai consegue ‘exigir’ amor do filho. Poderá exigir obediência ou respeito, mas ‘amor’ será sempre fruto de um querer livre. Por isso é que no momento que Teilhard de Chardin anunciava que o Ser Humano chegava ao ponto Ômega, num processo de conscencialização (que não deixa de ser a conscientização, trazida por Paulo Freire) é que vamos ter pela primeira vez na História o surgimento de ONGS, ou seja, organizações que nascem de um voluntariado, como ‘Médicos sem Fronteira’ ou ‘Anistia internacional’, dentre outras. Será uma vivência social desse Amor que se torna consciente. Vê-se, assim, a importância de se trabalhar esse ‘despertar’ para a verdadeira consciência da liberdade, transformando as ‘prisões’ que nos bloqueiam desde crianças.

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Figura 7: educar 5

6 Processo educativo, a que fomos submetidos: inclui, desde a ação da família, como também, eventuais formações religiosas, e ainda aquilo que decorre da cultura presente em nossa sociedade como um todo, para finalmente chegarmos à Escola propriamente dita. Como nos demais momentos, a reflexão remeter-nos-á às atuais transformações, ou seja, como continuamos a ser ‘educados’? Estaremos conscientes do processo? Além desse viés caberá também verificar, em que medida estamos nós educadores hoje, conduzindo a educação, como instrumento de conscientização do educando, tal como referido por Paulo Freire, ou, ao contrário, ‘mantemos’ a tradicional ‘escola bancária’, mencionada pelo mesmo Freire, que simplesmente conduz os alunos a serem um ‘depósito’ de informações, que vai se perdendo com o tempo? Será que nós educadores percebemos, que o ‘conscientizar antes de alfabetizar’ implicará em trazer o aluno ao processo de autotransformação, ou seja, o autoconhecimento?

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ARTIGOS

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CONSIDERAÇÕES

SOBRE

ESPIRITUALIDADE,

RELIGIOSIDADE

E RELIGIÃO

CONSIDERATIONS ON SPIRITUALITY, RELIGIOSITY AND RELIGION.

Telma Maria Beneduzzi6

RESUMO: este artigo discorre sobre as definições dos constructos espiritualidade, religiosidade e religião. Embora por vezes usados indistintamente, cada um deles pode ter seu sentido próprio de acordo com os autores pesquisados. De uma maneira resumida a espiritualidade é entendida como universal, podendo ou não estar associada à fé religiosa; a religiosidade como sendo a experiência pessoal da religião e esta como expressão institucional da fé de determinados grupos socioculturais.

Palavras-chave: Espiritualidade. Religiosidade. Religião.

ABSTRACT: this article discusses the definitions of the spirituality, religiosity and religion constructs. Although sometimes used interchangeably, each of them can have its own meaning according to the authors researched. Briefly, spirituality is understood as universal, and may or may not be associated with religious faith; religiosity as the personal experience of religion and this as an institutional expression of the faith of certain sociocultural groups.

Keywords: Spirituality. Religiosity. Religion.

6 TELMA MARIA BENEDUZZI: Psicóloga. Mestre em psicologia clínica (PUC/SP). Especialista

em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica (NEPP) e em Terapia Regressiva (CDEC/SP). Mestre Reiki. Membro dos grupos de pesquisa sobre interdisciplinaridade, espiritualidade e consciência (GEPI, INTERESPE e GEC). Contato: tbeneduzzi@uol.com.br

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Figura 8: religião e espiritualidade7.

Sabemos pela história ocidental que a supremacia do pensamento racionalista atingiu o auge no Iluminismo, proporcionando para a ciência condições de desenvolvimento que o obscurantismo da época medieval reprimiu e condenou. Ao mesmo tempo que promoveu o desenvolvimento científico baseado na evolução do pensamento mecanicista, o racionalismo também deixou as questões da fé, crenças e espírito em sua ampla acepção restritas aos saberes religiosos e filosóficos.

Na passagem do século XIX para o século XX surgiram cientistas e pensadores que apesar de estarem também inseridos nos ideais positivistas, proporcionaram revoluções nas ciências exatas, naturais e humanas. Albert Einstein e Sigmund Freud são símbolos personificados dessa época, pois as descobertas do primeiro permitiram o surgimento da Física Moderna e as teorias freudianas proporcionaram o desenvolvimento das diversas compreensões do psiquismo humano existentes na atualidade.

Durante a primeira metade do século XX tivemos as duas grandes guerras mundiais e importantes acontecimentos sócio-políticos como a revolução comunista na Rússia czarista, com o surgimento das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e partir disso revoluções na China, Cuba entre outros países. A

7 Fonte: Extraído do site:

https://www.google.com.br/search?q=religiao+e+espiritualidade&rlz=1C1PRFC_enBR702BR70

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Segunda Guerra Mundial deixou como herança a Guerra Fria e um mundo divido entre duas ideologias político-econômicas. Essa situação fez com que as grandes forças mundiais investissem pesadamente em pesquisas científicas e assim proporcionassem um desenvolvimento científico-tecnológico de gigantesca proporção que continua na atualidade.

Como reação à essa situação, nos anos 60 do referido século surgiram em todas as áreas movimentos contra culturais que revolucionaram os padrões vigentes na época. Nessa, o questionamento do sonho materialista levou as pessoas a buscarem interiormente a satisfação que a busca no exterior não conseguiu. Essa busca de autoconhecimento, o uso de substancias psicoativas, práticas que induzem a um estado incomum de consciência, como a meditação entre outras, trouxeram de volta o interesse pela espiritualidade e misticismo. Era uma fase em que as religiões orientais estavam sendo descobertas e popularizadas no ocidente, portanto tiveram grande influência nesse momento. Esse interesse reativado pelas questões espirituais tomou dimensões mundiais com aproximação da virada de milênio que representou a chegada do século XXI.

Assim como a expressão (bem ou mal compreendida) de Friedrich Wilhelm Nietzsche ‘morte de Deus’ popularizou a secularização do pensamento, é atribuída a André Malraux (filósofo francês contemporâneo) a frase: ‘o século XXI será espiritual ou não será’. Parece que está sendo.

Na primeira e segunda década desse século muito foi escrito sobre espiritualidade, religião e religiosidade, mas nem sempre explicitando cada uma delas, e vezes até as utilizando como sinônimos.

Este texto se propõe a preencher essa lacuna, sugerindo a cada um dos termos um sentido próprio segundo os estudiosos do assunto.

Na passagem do século XIX para o século XX, William James (1842-1910) estudou as variedades da experiência religiosa. Nas Conferências Gifford, realizadas na Escócia, usou as seguintes palavras para definir religião pessoal:

A religião, por conseguinte, como agora lhes peço arbitrariamente que a aceitem, significará para nós os sentimentos, atos e experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se sintam relacionados com o que quer que possam considerar o divino. Uma vez que a relação tanto pode ser moral quanto física ou ritual, é evidente que da religião no sentido que a aceitamos, podem brotar secundariamente teologias, filosofias e organizações eclesiásticas. (JAMES,1902/1991, pp.31-32. Grifo do autor).

Para Valle (2010) essa definição pioneira se tornou clássica e muito aceita em Psicologia. Segundo o autor, William James e Rudolf Otto relacionavam a natureza do religioso com os sentimentos; Émile Durkheim, por outro lado,

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identificava a religião como o conjunto de crenças, ritos e instituições que constituem a sociedade e por ela são constituídos.

Para Gyatso (2000), o atual Dalai Lama, a espiritualidade está relacionada com as virtudes do espírito humano: amor, compaixão, tolerância, paciência, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção harmonia. Estas qualidades interiores, que trazem ao seu cultivador transformação e felicidade tanto para si mesmo quanto para os outros, podem estar relacionadas com a fé religiosa ou não: podem ser desenvolvidas em alto grau sem estarem atreladas a qualquer sistema religioso ou metafísico. A religião, por sua vez, está relacionada com a crença no direito à salvação pregada pelas tradições de fé, que têm como um de seus principais aspectos a aceitação de realidade metafísica ou sobrenatural, incluindo a ideia de paraíso ou nirvana e os rituais, as orações e os ensinamentos religiosos empregados para conquistá-lo.

Para Boff (2001) a espiritualidade está relacionada com a experiência da realidade como um todo ao qual pertencemos; desenvolver a espiritualidade é desenvolver a capacidade de contemplação e escuta das mensagens e dos valores que estão no mundo em que vivemos. Os ritos, as celebrações, as doutrinas e os dogmas religiosos são apenas caminhos institucionais que podem ajudar a viver a espiritualidade: “Nasceram da espiritualidade, contém espiritualidade, mas não são a espiritualidade. São água canalizada, não a fonte da água cristalina”. (BOFF, 2001, p.66).

Boff (1993) entende o espírito como uma expressão que designa a totalidade do ser humano enquanto energia, sentido e vitalidade. Ter espiritualidade significa, então, viver segundo a dinâmica profunda da vida. Ela revela um lado exterior que diz respeito à convivência com o outro, a sociedade e a natureza, produzindo solidariedade, respeito à diversidade e sentido de complementação; possui também um lado interior, que se manifesta no diálogo com o eu profundo, no mistério que é também chamado de Deus, mediante a contemplação, a interiorização e a busca do si mesmo. A espiritualidade permite, em um processo dinâmico, a construção da pessoa integral e integrada no mundo que a cerca. Esse autor utiliza a palavra mística para se referir à atitude da pessoa perante o mistério, no sentido da profundidade indecifrável que a experiência contém. “Pertence ao mistério ser conhecido. Mas pertence também ao mistério continuar mistério no conhecimento. Aqui está o paradoxo do mistério. Ele não é o limite da razão. Ao contrário. É o ilimitado da razão” (BOFF, 1993, p.145).

Pinto (2009) também caminha nessa direção quando argumenta que espiritualidade e religiosidade são temas próximos, mas indicam fenômenos diferentes. Para ele a espiritualidade tem lugar na estrutura da personalidade humana e está presente na possibilidade de hierarquização dos valores, nas decisões, nas reflexões sobre a existência e na necessidade do ser humano de buscar um sentido para sua vida. O autor considera que podem existir

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experiências espirituais sem conotação religiosa: uma das maneiras, mas não a única, de cultivar e manifestar a espiritualidade é por meio da religião. Segundo ele, no panorama das definições existentes para o entendimento do que seja religião, existem alguns pontos que são comuns: a religião é vista como um sistema de orientação e de devoção; os símbolos religiosos evocam sentimentos de reverência e admiração e se associam a rituais, sentimentos, atos e experiências concernentes ao que é considerado como sagrado; os mitos, em especial aqueles sobre a origem e o fim da vida, estão presentes na cultura. Para Pinto a religiosidade, advinda da religião, está relacionada ao processo, sendo uma experiência pessoal da religião. Ele considera que há pessoas de muita religiosidade e pouca espiritualidade, e vice-versa. Segundo o autor a espiritualidade busca o sentido da existência e, quando encontra a religiosidade, essa busca abarca também o sentido último da vida.

Safra (2005) também faz distinção entre espiritualidade, religiosidade e religião. Para ele a espiritualidade é sair de si em direção a um sentido último, uma transcendência ontológica; a religiosidade, todavia, é a espiritualidade relacionada a concepções de divino; e a religião, enfim, é o sistema representacional de crenças e dogmas conscientes pelos quais uma pessoa pode conduzir sua vida, seja de modo espiritual ou não.

Ao estudar as mudanças de significados dos constructos espiritualidade, religiosidade e religião nos últimos quarenta anos, e levando em conta a simplicidade e a clareza de sua exposição, Pargament (2007) define o termo espiritualidade como a busca do sagrado, reservando a utilização dos termos religião e religiosidade para se referir aos contextos social, institucional e cultural mais amplos.

Grof (2000) alinha-se com Pargament quando diz que a espiritualidade envolve uma relação especial da pessoa com o cosmos, sendo baseada em experiências diretas com aspectos e dimensões não comuns da realidade e não requerendo mediadores oficiais nem lugares especiais para acontecer. Diz ele: “Os místicos não precisam de igrejas ou templos. O contexto em que experienciam a dimensão sagrada da realidade, incluindo sua própria divindade, são seus corpos e a natureza” (GROF, 2000, p.204). Grof (2000) considera a espiritualidade universal e abrangente como baseada na experiência mística pessoal, e não em dogmas ou escrituras. A religião organizada, para ele, é uma instituição que se manifesta em atividades grupais que acontecem em locais especiais e envolvem pessoas que podem ou não ter vivenciado experiências pessoais espirituais.

Ainda segundo Grof (2000), as experiências espirituais diretas se manifestam de duas formas:pelas experiências do divino imanente e do divino transcendente. A primeira envolve a percepção súbita e profundamente transformadora da realidade cotidiana: a pessoa que a tem enxerga o mundo a sua volta como um conjunto de manifestações de um campo unificado de energia criativa, uma experiência da natureza traduzida como Deus. Nessa

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perspectiva a percepção usual de mundo permanece, mas é redefinida em uma nova dimensão. Já a experiência do divino transcendente envolve a manifestação de seres arquetípicos e domínios não habituais de percepção da realidade, inatingíveis em um estado comum da consciência diária.

Em síntese, posso afirmar que há uma sintonia de compreensão entre minhas próprias reflexões e a dos referidos autores, na qual a espiritualidade é entendida como universal e podendo ou não estar associada à fé religiosa, enquanto a religiosidade pode ser a experiência pessoal da religião, sendo esta a expressão institucional da fé de determinados grupos socioculturais.

REFERÊNCIAS

BOFF, L. Espiritualidade: um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.

_____. Ecologia, Mundialização e Espiritualidade. São Paulo: Ática, 1993.

GROF, S. Psicologia do futuro, lições das pesquisas modernas da consciência. Niterói: Heresis, 2000.

GYATSO, T. Uma ética para o novo milênio/Sua Santidade, o Dalai Lama. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

JAMES, W. As Variedades da Experiência Religiosa. São Paulo: Cultrix, 1991.

PARGAMENT, Kenneth I. Spiritually Integrated Psychotherapy: understanding and addressing the sacred. New York: The Guilford Press, 2007. PINTO, E. B. Espiritualidade e Religiosidade: Articulações. In: REVER: Revista de Estudos da Religião, ano 09, dez. 2009, pp. 68-83.ISSN 1677-1222. Disponível em: <http://www.pucsp.br/rever/rv4_2009/t_brito.htm>>. Acesso em: 13 de set. 2011.

SAFRA, G. Espiritualidade e Religiosidade na clínica contemporânea. In: AMATUZZI, M. M. (Org.). Psicologia e espiritualidade. São Paulo: Paulus, 2005.

VALLE, E. Psicologia e Experiência Religiosa. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2010.

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2 SEXUALIDADE: um momento de transformação para o

cuidado do Ser Integral

SEXUALITY: a moment of transformation for the care of the Integral Being

Simone Andrade8

Figura 9: sexualidade9.

8 Simone Moura Andrioli de Castro Andrade: doutoranda em Educação: Currículo- PUC/SP.

Especializada em bases da Medicina Integrativa pelo Einstein. Possui Certificação Internacional de Coaching Mentoring & Holomentoring pelo instituto Holos. Especialista em psicoterapia de orientação Junguiana coligada às técnicas corporais no Instituto Sedes Sapientes. Graduada em Psicologia - PUC/SP. Desenvolve trabalho como orientadora profissional, em clínica, escolas, com atendimento individual ou em grupo. Psicoterapeuta de jovens, adultos e orientação de pais. Cocriadora do projeto: “Projeto terapêutico de orientação profissional”. Coordenou o Projeto social Integração Real durante cinco anos. Psicoterapeuta da Regressão pelo CDEC, Terapeuta da Consciência Multidimensional - Centro de Estudos e Pesquisas da Consciência. Pesquisadora do GEPI, Membro da Aliança pela Infância e INTERESPE. CV: http://lattes.cnpq.br/0618029679833651. Contato: simone50@terra.com.br

9Extraído do site:

https://www.google.com.br/search?q=sexualidade&rlz=1C1PRFC_enBR702BR703&source=ln ms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjGvrfIlObTAhUKkJAKHf81BDoQ_AUIBigB&biw=1366&bih =589#imgrc=7bMLzcgBYyFMXM Acesso em 12/05/2017.

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RESUMO: este artigo foi inspirado na obra de Ruy Cesar do Espirito Santo sobre os ‘Momentos de Transformação’, na qual são indicados temas para serem trabalhados na Educação. Com a finalidade de se oferecer subsídios para educadores, neste texto são apresentadas algumas considerações sobre a sexualidade. Inicia-se com a definição do conceito, bem como, aborda-se a dimensão psicológica do tema a partir dos autores Freud e Jung. Destaca-se que Jung ampliou a concepção da sexualidade e do erotismo, compreendendo a sexualidade como uma metáfora para a vivência de união, transcendência e plenitude. Assim, pretende-se ampliar a compreensão da sexualidade como um aspecto do cuidado integral, na medida em que inclui as dimensões do físico, emocional, mental e espiritual. Desta forma, para a contribuição na formação de sujeitos íntegros e conectados com a sua essência, sugere-se que educadores acolham, contemplem e conscientizem o desenvolvimento da sexualidade de uma forma integral.

Palavras-chave: Sexualidade. Transcendência. Cuidado Integral.

ABSTRACT: this article was inspired by the work of Ruy Cesar do Espirito Santo on the 'Moments of Transformation ', in which themes are indicated to be worked on in Education. With the purpose of offering subsidies to educators, this text presents some considerations about sexuality. It begins with the definition of the concept, as well as, it approaches the psychological dimension of the theme from the authors Freud and Jung. It is emphasized that Jung extended the conception of sexuality and eroticism, understanding sexuality as a metaphor for the experience of union, transcendence and fullness. Thus, it is intended to broaden the understanding of sexuality as an aspect of integral care, insofar as it includes the dimensions of the physical, emotional, mental and spiritual. In this way, for the contribution in the formation of healthy subjects and connected with their essence, it is suggested that educators welcome, contemplate and conscientize the development of sexuality in an integral way.

Palavras-chave: Sexuality.Transcendence. Fulness.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo foi inspirado pelos ‘Momentos de Transformação’, desenvolvido pela primeira vez por Espírito Santo em sua obra Pedagogia da Transgressão

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(1996), o qual aponta várias temáticas fundamentais para serem trabalhadas na Educação. Pode-se compreender como temas inerentes ao desenvolvimento e o cuidado do Ser Integral. O autor aponta na humanidade uma grande transformação em curso (ESPÍRITO SANTO, 2015) o que demanda aos educadores uma necessidade de conscientização sobre vários aspectos do desenvolvimento do Ser integral.

Inserido neste contexto descrito acima, o ‘momento’ que os convido para refletir diz respeito à sexualidade. Segundo Espírito Santo (2008, p. 118), este momento diz respeito às:

Transformações ocorridas no campo da sexualidade. Trata-se de tudo aquilo que ocorre com o ser humano em seu processo de individuação (ou autoconhecimento), seja como homem ou como mulher. Examinam-se desde as implicações culturais de se nascer “menino” ou “menina” até as mudanças físicas da puberdade, bem como as definições emocionais, sociais e religiosas emergentes a cada passo. Convida-se o educando a examinar o momento atual de sua maturidade masculina ou feminina, dando-lhe a certeza da continuidade das transformações, enfatizando-se a importância do desenvolvimento da consciência de tal movimento de transformações.

Em relação à transformação da sexualidade neste ‘momento’, o autor aponta para o respeito à dimensão do feminino. Complementa que em tempos de adolescência da humanidade, havia uma ênfase na diferença dos opostos, o que causava uma grande discriminação entre homem e mulher, havendo uma submissão da mulher diante do homem, bem como, um enfrentamento entre o homem e a mulher. Esta dinâmica levou em muitas culturas e ainda leva, hoje, o ‘uso’ da mulher para a satisfação sexual do homem. O que ficou evidenciado, no entanto, que simbolicamente esta dinâmica pode ser ampliada como submissão da expressão das funções do feminino e não concretamente da figura da mulher. Desta forma, segundo o autor caberia também inserir a visão junguiana de ‘anima’ e ‘animus’, na visão integradora dos sexos (SANTO, 2015).

Qual a importância desta dimensão na trajetória da humanidade? O que significa sexualidade? Segundo o dicionário10 sexualidade quer dizer o conjunto

de caracteres especiais, externos ou internos, determinados pelo sexo do indivíduo; qualidade sexual.

Sabe-se que sexualidade é um assunto complexo e de conceituação difícil, pois depende dos aspectos que serão considerados. O conceito pode ser

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abordado pelo ponto de vista psicológico, antropológico, social, religioso, entre outros.

Na educação, segundo Espírito Santo (2015), é um tema que merece ser discutido em suas dimensões física, emocional e espiritual, permitindo-se que os educandos reconheçam e discutam a sua sexualidade em desenvolvimento. Segundo Rohden (2005), educar deriva do latim do verbo educare, que significa conduzir, ‘eduzir’, ou seja, despertar no homem as suas potencialidades, o que implica na tarefa do educador auxiliar o educando a reconhecer aspectos dormentes da sua essência, facilitando o desenvolvimento integral do seu Ser.

O que você aprendeu sobre a sexualidade? Como você aprendeu? Como se ensina a sexualidade? O que é sexualidade para você? Qual é a importância da sexualidade inserida como uma dimensão do cuidado? Qual é o papel da sexualidade no desenvolvimento integral do ser humano?

Assim como os questionamentos e conceitos, as respostas também serão diversas, pois o conceito sofre influencias culturais, desta forma, será que encontrar-se-ão respostas muito diferentes, inclusive dependendo do gênero dos sujeitos que responderem estas perguntas?

Neste artigo, portanto, pretende-se tecer algumas considerações sobre o tema da sexualidade com a finalidade de se oferecer subsídios para que que os educadores possam lidar com esta temática no contexto educacional.

Sexualidade x cuidado integral: a partir da concepção do cuidado para além das atitudes e presente em todas as ações humanas, assim como Boff o descreve: "representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro” (2013, p.37) o educador também é um cuidador. Neste sentido, contemplar o processo de bem-estar físico, emocional, social, ambiental e espiritual dos educandos faz parte do papel do educador.

A sexualidade é um dos aspectos que faz parte deste cuidar. Implica que o educador esteja consciente da necessidade de abordar este tema na sala de aula.

Faz parte do cuidador integral acolher o desenvolvimento da sexualidade dos seus alunos em seus diversos aspectos e não somente trabalhar com a educação sexual a partir de um prisma biológico/ físico, priorizando a função fisiológica e pró-criativa da sexualidade.

Apesar de todos os avanços tecnológicos da humanidade, qual é o avanço psicológico e emocional que encontramos na atualidade? A dissociação entre afetividade e corporeidade parece ter aumentado em algumas culturas. Se por

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um lado, fala-se mais de sexualidade, aparentemente com mais liberdade, mas qual a qualidade da sexualidade? Qual é a qualidade dos relacionamentos? O desenvolvimento da sexualidade interfere na qualidade dos relacionamentos? Quanto o jovem está comprometido e consciente do seu desenvolvimento sexual? Os jovens podem experimentar e explorar a sua sexualidade de uma forma mais livre e aberta. Mas estão felizes? Qual é o sentido da sexualidade no desenvolvimento humano?

Sexualidade x dimensão psicológica

Na psicologia, a concepção sobre sexualidade vai depender da abordagem adotada.

Sigmund Freud e sexualidade: na visão psicanalítica freudiana da sexualidade humana, segundo Bearzoti (2009), Sigmund Freud atribuiu à libido uma natureza exclusivamente sexual.

Compreendendo que o homem apresenta necessidades sexuais como quaisquer outras, a biologia nomeia de instinto sexual. Da mesma forma, que para explicar a fome, seria o instinto da nutrição. A esta necessidade sexual dá-se o nome de libido, que seriam forças instintivas da vida sexual para Sigmund Freud. Para ele, a excitação sexual origina-se em todos os órgãos e não somente naqueles denominados sexuais. Sigmund Freud dá ao termo um significado bem mais amplo situando sexualidade tanto aquém como além do ato sexual. Ele denomina psicossexualidade. Como Sigmund Freud propôs um modelo energético para o aparelho, energia é a primeira parcela do conceito: sexualidade é: “ energia vital instintiva passível de variações quantitativas, vinculada à homeostase, às relações sociais, às fases do desenvolvimento da libido infantil e à genitalidade” (BEARZOTI, 2009, p. 116, grifo do autor)

Percebe-se, portanto, a conotação da dimensão energética, atrelado às condições físico-sociais e ao próprio desenvolvimento no conceito de sexualidade.

Além, das relações sexuais que fazem parte da genitalidade, o erotismo, o prazer que engloba a excitação sexual como um todo e, em especial, aquela proveniente das zonas erógenas, amplia-se mais ainda o conceito de sexualidade. Complementa que além da ideia das relações sexuais, atreladas ao conceito de genitalidade, há a necessidade de preservação, ampliando ao conceito a função de preservação da espécie. Finalmente, o autor (BEARZOTTI, 2009, p.116) esclarece o conceito e complementa a visão psicanalítica como:

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Sexualidade é energia vital instintiva direcionada para o prazer, passível de variações quantitativas e qualitativas, vinculada à homeostase, à afetividade, às relações sociais, às fases do desenvolvimento da libido infantil, ao erotismo, à genitalidade, à relação sexual, à procriação e à sublimação.

Sigmund Freud entende como sublimação um deslocamento da libido para satisfação em objetos não sexuais; por exemplo, a arte, amizade.

Carl Jung x Sigmund Freud: Carl Jung tratou do amor e do erotismo englobando a sexualidade. A sua discórdia com Sigmund Freud seria por achar que ele reduzia a sexualidade, mas não por negar a potência da mesma. Carl Jung procurava englobar o aspecto ‘numinoso’ e simbólico que achava que Sigmund Freud não havia considerado. Um aspecto numinoso seria a força imaginativa, a capacidade humana de fantasiar, que Carl Jung considerava reduzida ao biológico em Sigmund Freud.

Carl Jung enfatiza que a sexualidade necessita resgatar esse aspecto numinoso, assim, nesta perspectiva, engloba-se não só a realidade corporal do corpo percebido, mas ganha-se a dimensão simbólica do corpo.

A sexualidade, desta forma, para Carl Jung é muito mais do que uma força instintiva, insere no conceito uma ênfase espiritual.

Anima e animus: Carl Jung apresenta um conceito de estrutura da Psique nomeado de Arquétipos. Segundo o autor, são conjuntos de ‘imagens primordiais’, como se fossem simbolicamente ‘diferentes moldes’ originadas de uma repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações, armazenadas no Inconsciente coletivo, ou seja, são estruturas que se formam com as experiencias da espécie, assim não são de uma ordem individual. Todo o arquétipo traz a polaridade positiva e a negativa. Os arquétipos nos ajudam a satisfazer algumas de nossas principais necessidades, por exemplo: necessidade de realização, pertença, independência e estabilidade.

Como exemplo de Arquétipos, pode-se citar o da Grande Mãe, da Criança divina, do Velho Sábio entre outros. Anima e Animus também são importantes arquétipos, que influenciam em sua manifestação o desenvolvimento psíquico. Neste local inconsciente estão preservados conteúdos, atitudes, formas de pensar e modelos que refletem por exemplo, o feminino, sendo compostos por toda história da humanidade. Além disto, também neste ambiente, estarão resguardadas todas as experiências pessoais com as mulheres e homens em sua vida, inclusive a figura da mãe.

A anima em um homem impulsionará com atitudes relacionadas ao universo feminino, tais como vaidade, fraternidade, afetuosidade, intuição, etc. O homem

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na medida em que entra em contato com essa influência, se torna mais sensível nas relações com as pessoas. Assim, em harmonia com esta energia, pode agregar a sua personalidade, não só a tendência masculina de ser tão racional ou objetivo nas suas relações pessoais, mas pode se tornar mais cuidadoso, generoso, paciente, gentil, atencioso, zeloso com sua aparência e higienização, atento a sua saúde, harmonioso com seu corpo, intuitivo.

Para o animus a abstração é mais notória, já que anima se vincula a Eros, mas o animus à discriminação. Por um lado, pode-se entender que a função erótica para Carl Jung pertence ao eu da mulher, e ao inconsciente do homem. Essa diferença, no entanto, não se sustenta, a atração e fascínio pelo outro mobilizam a consciência e o inconsciente traz fantasias de sedução em ambos os sexos, ou seja, ambos fantasiam com o erótico.

Carl Jung complementa que a primeira imagem portadora da anima é a mãe. Assim, para que o homem amadureça emocionalmente é necessário que ele tenha consciência da sua anima, se diferenciando do que recebeu da sua mãe como imagem da alma. Em muitas culturas, há rituais que possibilitam esta separação simbólica da mãe. Segundo Jung (1987), como frequentemente há essa lacuna no desenvolvimento do homem e: “A consequência desta lacuna é a que anima, sob a forma da imago maternal, é transferida para a mulher” (JUNG, 1987, p.73). Esta falta gera muitas vezes um relacionamento imaturo, onde o homem pode ficar procurando na mulher, de forma inconsciente, uma mulher que desenvolva magicamente, o papel da mãe.

Em relação ao animus, segundo Jung (1987) significa a figura compensadora de caráter masculino. Para ele o animus não aparece como uma personificação de um homem, como se apresenta na anima, mas como uma pluralidade de pessoas. O animus produz opiniões às vezes, um tanto quanto irracionais, oriundas do inconsciente e por isso, segundo Jung (1987) devem ser examinadas, caso contrário, há um risco por exemplo, de dogmatismo nas mulheres. Além disso, segundo o autor, quando o homem está tomado pela anima pode efeminar-se e a mulher, quando tomada pelo animus, corre o risco de perder a feminilidade.

Assim, anima e animus são complexos autônomos, habitam uma dimensão sombria, constituem uma função de equilíbrio psicológico tanto no homem, como na mulher, só podendo ser integrados à consciência a partir do autoconhecimento.

Na medida em que são elaborados de uma forma saudável, consequentemente, possibilitam relacionamentos mais saudáveis e menos projetivos. Os conceitos de anima e animus, em última instância, simbolicamente, possibilitam a união dos opostos a vida e despertam a essência de ser.

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Desta forma, Carl Jung procurou ampliar a dimensão da sexualidade e do erotismo, compreendendo também a sexualidade, como uma metáfora para a vivência de união, transcendência e plenitude.

CONSIDERAÇÕES

Como evidenciou-se, a sexualidade pode ser considerada mais do que qualidade sexual determinada pelo sexo do indivíduo. É um tema que pode ser compreendido por meio de várias abordagens, decorrente de sua complexidade.

A partir do enfoque psicológico junguiano, a sexualidade não só seria a energia vital instintiva direcionada para o prazer, vinculada à afetividade, às relações sociais, ao erotismo, à genitalidade, à relação sexual, à procriação e à sublimação, mas representa uma função simbólica e transcendente, pois traz em sua natureza, a possibilidade de união dos opostos e completude. Esta função espiritual da sexualidade talvez seja a grande ‘chave’ para a transformação da dimensão do feminino na atualidade, pois a integração dos opostos possibilitaria a integração dos princípios femininos tão necessários nas relações humanas, tais como: cuidado, paciência, acolhimento, gentileza e tolerância.

Apesar de ser um tema instigante que abarca o autoconhecimento e que provoca mais questionamentos do que oferece respostas, o que também é inerente à natureza humana, a discussão sobre o papel da sexualidade na trajetória do desenvolvimento humano, reforça a responsabilidade do educador oferecer espaços para essa temática seja contemplada como algo natural. A sala de aula precisa ser mais do que um lugar depositário de conteúdos, como menciona Paulo Freire sobre a concepção de ‘educação bancária’.

O educador poderá contribuir para a formação de sujeitos mais conectados com sua essência na medida em que promove reflexões e discussões que permeiem temas que ampliem o autoconhecimento. Cabe ressaltar a importância do papel da educação em relação aos relacionamentos e vínculos saudáveis para que potencialidades e integralidade do indivíduo possam ser desenvolvidas. Pode por exemplo, dar preferência aos trabalhos em equipe com grupos compostos por ambos os gêneros, em que os educandos possam exercitar cooperação e colaboração ao invés de competição entre os sexos.

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Assim, a sexualidade pode ser compreendida como um aspecto do cuidado integral, na medida em que inclui as dimensões do físico, emocional, mental e espiritual.

Desta forma, é interessante que o educador possa inserir este aspecto em seu cuidado integral e na medida do possível, ampliar a consciência sobre esta temática. Ampliando a sua própria consciência, também pode ajudar os educandos a ampliarem a conexão com sua própria essência, ou seja, do ego com o self, que segundo Espírito Santo (2015) possibilitaria a vivência da beleza, alegria e amor. Educar para formar sujeitos conectados com seu propósito de vida e integrados com a sua natureza humana, talvez seja um dos grandes desafios para o educador na contemporaneidade, inseridos em tantos momentos de transformação, assim como Espírito Santo (2015) nos alerta em sua obra.

REFERÊNCIAS

BEARZOTI, Paulo. Sexualidade: um conceito psicanalítico freudiano. Arq. Neuro-Psiquiatr. [online]. 1994, vol.52, n.1, pp.113-117.

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra.19 ed. Petrópolis, RJ:Vozes, 2013.

JUNG, Carl Gustav. O Eu e o inconsciente. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987. ESPÍRITO SANTO, C. Ruy. Pedagogia da Transgressão. Campinas: Papirus, 1996.

______. O renascimento do Sagrado na Educação. Petrópolis, RJ.: Vozes, 2008.

______. A grande Transformação. Curitiba: CRV, 2015.

ROHDEN, Humberto. Novos Rumos para a Educação. São Paulo: Martin Claret, 2005.

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3 TEC/NÃO/LOGIA E DES/COMUNICAÇÃO?

TECH/NO/LOGY AND DIS/COMMUNICATION?

Gazy Andraus11

RESUMO: a tecnologia na atualidade tem se tornado cada vez mais

presente no cotidiano, mas ao mesmo tempo, traz questões preocupantes, como a massiva utilização, por exemplo, de telefones celulares de múltiplas funções, causando desatenções escolares, acidentes e problemas sociais quando usados em momentos como no trânsito ou em almoços familiares dentre outras circunstâncias comuns. Há até estudos que reforçam a problemática do uso desses aparelhos por crianças e jovens, cujas estruturas mentais ainda não estão totalmente formadas e maduras, podendo ser as causas de uma postura inadequada nas salas de aulas, tanto ao que concerne na atenção do alunato, como no desenvolvimento de sua psique e mal desenvolvimento de sua coluna. Este texto traz a reflexão dessa premente temática na atualidade.

Palavras-chave: tecnologia; comunicação; educação; celulares.

ABSTRACT: nowadays technology has become increasingly present in everyday life, but, at the same time, it raises issues of concern, such as the massive use of multiple functions smartphones, causing school disruption and even accidents and social problems when they are used at moments such as in the traffic or at family lunches, among other common circumstances. There are even studies that reinforce the problem of the use of these devices by children and young people, whose mental structures are not yet fully formed and mature. They may be the cause of an improper posture in classrooms, concerning the students' attention, as well as the development of their psyche and the poor development of their spine. This text brings the reflection on this pressing issue at the present time.

Keywords: Technology. Communication. Education. Smartphones.

11 Gazy Andraus: graduado em Educação Artística pela FAAP, e mestrado pela UNESP

versando sobre histórias em quadrinhos (HQ) com mensagens koânicas. Seu doutorado em ciências da comunicação pela ECA-USP enfatiza a importância das HQ como arte e comunicação que podem e devem ser usadas no ensino, inclusive o universitário, já que promovem uma inteligência sistêmica (cartesiano/criativa), e sua tese foi premiada como melhor de 2006 pelo HQMIX. É professor designado do curso de Pedagogia da Universidade estadual de Minas Gerais (UEMG), unidade de Campanha-M; pesquisador do Observatório de Quadrinhos da ECA-USP, autor de HQ autorais adultas de temática fantástico-filosófica e editor independente de fanzines. CV: http://lattes.cnpq.br/0256950026952623. Contado: yzagandraus@gmail.com

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017. 1 FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO

A avidez ‘tecnológica’ nos tem tornado apressadamente volúveis sem que nos permitamos o aprofundamento em absolutamente quaisquer temáticas. Consequentemente, aos jovens de hoje, os referenciais e fontes originais (as bases) não são estudados e a História se torna cronologicamente falseada ou aleijada, ficando-se com o ‘aqui e agora’ como se o universo houvesse nascido há somente algumas dezenas de anos ou mesmo depois (quase num calamitoso creacionismo personalizado). É um problema hodierno e crônico

que só tende a piorar com a aceleração de tudo devido à ‘tecnologização12’.

Com essa exasperação veloz, acabamos por conhecermos tudo de maneira resumida e/ou abreviada, sem fundamentarmos com referenciais originais, mas usando cópias de referenciais, como se estas fossem as originais, acarretando com isso, portanto, nossa crença de que já sabemos o suficiente, não explorando, não pesquisando e não nos aprofundando (mas tendo a sensação ilusória de que o fizemos com ‘reconhecida’ abordagem).

É assim que as gerações mais atuais (gerações ‘y’ nascidas junto dum desenvolvimento tecnológico, e gerações ‘z’, nascidas a partir de 1993 convivendo com a não linearidade de informação) culminam num desenfreado e desorganizado frenesi na cata e uso de dados, sem freios, sem discernimentos de maneira aleatória e perdendo a si mesmos (fig.10).

Fig. 10: arte de Troche13.

12 Neologismo necessário a esses tempos!

13 Fonte:

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rev. INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017.

Ou seja, o problema, em se usar desmesuradamente a tecnologia não linear atualmente disponível principalmente na Internet, sem uma pré-educação ou sem uma boa formação, pode levar a um status em que a informação sem a formação não apenas seja prejudicial, mas carente de bases consistentes. A juventude hodierna, composta em sua maioria das gerações citadas (“y” e “z”) tem uma mente aguçada e não linear, que exponencia sua inteligência, mas ao mesmo tempo, sem bases éticas e morais introjetadas, e acaba por usar de forma desequilibrada a tecnologia e informação, sem objetivos lúcidos, pois que têm dados por todos os lados, mas sem uma base, culminando numa fragmentada utilização de tudo de forma prejudicialmente potencial a si mesmos e aos próximos. Um exemplo básico é o cinema: vão a ele ligando celulares, conversando, fazendo barulhos, não conseguem entender que a sala de cinema é um espaço comunitário e que o objetivo lá é focar a atenção na tela e respeitar a atenção do outro, sem prejudicá-lo, mergulhando num universo onírico que nos faz entreter e/ou imaginar e/ou transcender (a depender da película e seu contexto, claro). Assim, se por um lado tais gerações atuais sejam multi-modais em suas realizações e reflexões mentais, por outro, também podem não se aprofundar e consequentemente tornam-se superficialmente não-lineares. Dessa maneira, ainda que tais jovens sejam inteligentes, ágeis e de mente não-linear, isso não prescinde da necessidade de um freio (e também senso ético e moral) para reflexão, de momentos de calmaria mental, pois do contrário, a vida a esses jovens se configurará apenas por ações sem deliberações e sem pesar consequências.

1.1 Educação e perigo da tecnologia à infância...

No texto “10 razões para se proibir tecnologia para crianças” (LEÃO, 11/03/2014), expõe que:

A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria atestam que bebês na idade entre 0 a 2 anos não devem ter qualquer exposição à tecnologia, crianças de 3-5 anos devem ter acesso restrito a uma hora por dia e crianças de 6-18 (sic14) anos devem ter acesso restrito a 2 horas por dia (Fonte: AAP 2001/13, o CPS 2010). Acontece que hoje as crianças e jovens usam a tecnologia em quantidade de 4 a 5 vezes maior do que está recomendada, o que está resultando em consequências graves e ameaças vitais. (Fonte: Kaiser Foundation 2010, Active Healthy Kids Canada 2012).

14 O texto de Leão classifica de 6 a 18 como crianças, mas é bom ressaltar que segundo o ECA, jovens entre 12 a 18 anos são considerados adolescentes (http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2012/07/vinte-e-dois-anos-de-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente).

Referências

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