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REPOSITORIO INSTITUCIONAL DA UFOP: A análise da dispensa do EIA para o licenciamento ambiental prévio da atividade de destilação de álcool – estudo de casos no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MG).

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(1)

Engenharia Ambiental

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental

Dissertação

A Análise da Dispensa do EIA para o Licenciamento

Ambiental Prévio da Atividade de Destilação de

Álcool – Estudo de Casos no Triângulo Mineiro e

Alto Paranaíba (MG)

Juliana Pedrosa Silva

(2)

Escola de Minas - Departamento de Engenharia Ambiental

A ANÁLISE DA DISPENSA DO EIA PARA O LICENCIAMENTO

AMBIENTAL PRÉVIO DA ATIVIDADE DE DESTILAÇÃO DE

ÁLCOOL – ESTUDO DE CASOS NO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO

PARANAÍBA (MG)

Juliana Pedrosa Silva

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(4)

Escola de Minas | Departamento de Engenharia Ambiental

JULIANA PEDROSA SILVA

A ANÁLISE DA DISPENSA DO EIA PARA O LICENCIAMENTO

AMBIENTAL PRÉVIO DA ATIVIDADE DE DESTILAÇÃO DE

ÁLCOOL – ESTUDO DE CASOS NO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO

PARANAÍBA (MG)

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Ambiental.

Área de Concentração: Meio Ambiente

Orientador: Prof. Dr. José Francisco do Prado Filho

(5)

“A Análise da dispensa do EIA para o licenciamento ambiental prévio da atividade de destilação de álcool – estudo de casos no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MG)”

Dissertação defendida e aprovada, em 25 de março de 2011, pela banca examinadora constituída pelos professores:

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me concedido saúde para realizar este trabalho e iluminado o caminho nas horas difíceis.

Ao Professor Doutor José Francisco do Prado Filho pela orientação e confiança em mim depositada na elaboração deste trabalho e por sempre ter estado disponível para a direção das minhas dúvidas.

Aos Professores Ana Augusta Passos Rezende e Arnaldo Freitas de Oliveira Júnior pelas observações e críticas por ocasião do seminário de qualificação, que permitiram o enriquecimento deste trabalho.

A Universidade Federal de Ouro Preto pela oportunidade de elaborar este trabalho. A SUPRAM-TM-AP, em especial ao Rodrigo Angelis Alvarez, a Kamila Borges Alves e ao José Antônio, que de forma tão prestativa disponibilizaram os documentos e as informações, sem os quais não teria sido possível a elaboração deste trabalho.

Ao Dúlio Sepúlveda pelos valiosos esclarecimentos sobre o ZEE-MG.

Ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais por ter me autorizado a frequentar o mestrado e, em especial, à Shirley Fenzi Bertão, ao Luciano Badini e Cristina Kistemann Chiodi.

Aos amigos Cláudia Ferreira Pacheco de Freitas e Marcos Pereira Anjo Coutinho pelo apoio nos momentos de impossível conciliação entre a elaboração desse trabalho e aquele exercido na 12ª. Promotoria de Justiça de Belo Horizonte.

Ao Rafael Augusto Monteiro de Alvarenga pelo indispensável auxílio na formatação dos quadros e das tabelas.

(7)

O grande potencial de crescimento da produção de cana-de-açúcar no Brasil e da demanda internacional por etanol implica no consequente aumento da demanda por recursos ambientais e na geração de significativos impactos ambientais. Dentre os indispensáveis mecanismos de controle a que estão sujeitas essas atividades, destaca-se o licenciamento ambiental, que deve ser antecedido pela realização de estudos ambientais que irão subsidiar a decisão do órgão ambiental. Nesse contexto, o Estudo de Impacto Ambiental, previsto no artigo 225, § 1º. , IV, da Constituição Federal, é um dos mais importantes instrumentos de avaliação de impactos socioambientais e tem por objetivo o estudo da viabilidade ambiental e de alternativas de empreendimentos causadores de significativo impacto ambiental, mediante análise de suas diferentes etapas. A Resolução CONAMA 01/86 constitui a principal regulamentação do EIA, estando ali previsto um rol de atividades para as quais se exige esse estudo, o qual é vinculado ao licenciamento ambiental. Apesar disso, verifica-se que o EIA tem sido dispensado pelo órgão ambiental estadual de Minas Gerais, com substrato no Zoneamento Ecológico Econômico de Minas Gerais, para o licenciamento ambiental prévio da atividade de destilaria de álcool, a qual é causadora de significativo impacto ambiental e está arrolada no inciso XII do artigo 2º. da Resolução anteriormente mencionada. Diante desse quadro, o presente trabalho buscou, com base em processos de licenciamento ambiental e outros documentos disponíveis no órgão ambiental estadual, analisar a dispensa do EIA para o licenciamento prévio de empreendimentos sucroalcooleiros situados na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, principal área de expansão desse setor no Estado de Minas Gerais. Os resultados permitiram observar que a dispensa do EIA não se fundamenta em critérios técnicos nem científicos, bem como não encontra amparo legal, posto que os instrumentos da PNMA devem se relacionar e não se sobreporem. Ademais, para o estudo ambiental exigido (RCA) em substituição ao EIA foram identificadas deficiências consistentes na ausência de estudo de alternativas tecnológicas e locacionais e de identificação dos impactos cumulativos e sinérgicos. Também foram apontadas repercussões de natureza legal, haja vista que o licenciamento, o EIA e o ZEE estão vinculados por lei.

(8)
(9)

Figura 1 - Mapa da produção de cana-de-açúcar no Brasil (ÚNICA, 2010d) ... 26

Figura 2 - Fluxograma resumido de uma usina com destilaria anexa

(PIACENTE, 2005) ... 38

Figura 3 - Queima de canavial (IPVS, 2011) ... 46

Figura 4 - Critérios de triagem para avaliação de impacto ambiental

(SANCHEZ, 2008) ... 74

Figura 5 – Etapas de EIA com ZEE (OLIVEIRA, 2004)... 128

Figura 6 - Fluxograma do procedimento utilizado para análise da dispensa do EIA para empreendimentos sucroalcooleiros situados no Triângulo

Mineiro e Alto Paranaíba... 147

Figura 7 - Mapa dos municípios que integram a região do Triângulo Mineiro e

Alto Paranaíba (adaptação: SEMAD, 2010c) ... 149

Figura 8 - SUPRAMs e Unidades Regionais Colegiadas – URCs – do Conselho Estadual de Política Ambiental do Estado de Minas

(10)

Quadro 5.1 - Municípios que integram a URC-TM/AP com as suas respectivas

populações e áreas de extensão (SEMAD, 2010e) ... 151

Quadro 5.2 - Principais particularidades dos empreendidos objetos do estudo

de caso ... 164

Quadro 6.3 - Situações das licenças dos empreendimentos sucroalcooleiros localizados na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba que foram objeto de licenciamento ambiental protocolizado até

28.10.20.10 ... 168

Quadro 6.4 - Empreendimentos cujos processos de licenciamento ambiental encontravam disponíveis para consulta na SUPRAM-TM-AP no

período de 10 a 13.05.10 ... 184

Quadro 6.5 - Dados da carta de vulnerabilidade ao plantio da cana para os empreendimentos analisados (Relatório Técnico DIRIM 08/07 e

Processos de Licenciamento Ambiental analisados)... 216

Quadro 6.6 - Dados da ponderação dos recursos hídricos para os

empreendimentos sucroalcooleiros objetos do estudo de caso (Relatório Técnico DIRIM 08/07 e Processos de Licenciamento

Ambiental analisados... 220

Quadro 6.7 - Confrontação dos dados relativos aos consumos hídricos

declarados pelos empreendimentos com aqueles informados nos RCAs (Relatório Técnico DIRIM 08/07 e Processos de

(11)

processos de licenciamento ambiental (Relatório Técnico DIRIM

08/07 e Processos de Licenciamento Ambiental analisados)... 223

Quadro 6.9 - Lista de verificação e resultados da análise das deficiências encontradas nos RCAs analisados, relacionadas aos estudos das alternativas tecnológicas e locacionais e de não execução do

projeto (adaptação: LOPES, 2008) ... 238

Quadro 6.10 - Lista de verificação e resultados da análise das deficiências encontradas nos RCAs analisados, relacionadas aos impactos

(12)

Tabela 4.1 - Composição química do bagaço (CORTEZ, 2002, apud

LANZOTTI, 2000, p. 32) ... 40

Tabela 4.2 - Composição química média da vinhaça de diferentes tipos de motos (PENATTI et al., 1988, apud CORTEZ, MAGALHÃES E

HAPPI, 1992, p. 09) ... 41

Tabela 4.3 - Composição química da torta de filtro (FERREIRA,1986, apud

Lanzotti, 2000, p. 33) ... 41

Tabela 4.4 - Usos médios da água em unidades produtoras de açúcar e etanol

(BRASÍLIA, 2009) ... 49

Tabela 4.5 - Determinação da classe do empreendimento a partir do potencial

poluidor da atividade e do porte (DN COPAM 74/04) ... 107

Tabela 4.6 - Determinação de potencial poluidor/degradador geral do

empreendimento (adaptação: DN COPAM 74/04) ... 107

Tabela 4.7 - Porte e classe de empreendimentos de fabricação/refinação açúcar

(adaptação: DN COPAM 74/04) ... 110

Tabela 4.8 - Potencial Poluidor de empreendimentos de fabricação/refinação

açúcar (adaptação: DN COPAM 74/04) ... 111

Tabela 4.9 - Porte e classe de empreendimentos sucroalcooleiros (adaptação:

DN COPAM 74/04) ... 111

Tabela 4.10 - Potencial Poluidor de empreendimentos sucroalcooleiros

(adaptação: DN COPAM 74/04) ... 111

Tabela 4.11 - Porte e classe de áreas de cultura de cana-de-açúcar com queima

(adaptação: DN COPAM 74/04) ... 112

Tabela 4.12 - Potencial Poluidor de áreas de cultura de cana-de-açúcar com

(13)

Tabela 4.14 - Potencial Poluidor de áreas de cultura de cana-de-açúcar sem

queima (adaptação: DN COPAM 74/04) ... 113

Tabela 4.15 - Estrutura metodológica de vulnerabilidade natural das áreas

(SCOLFORO; OLIVEIRA; CARVALHO, 2010) ... 133

Tabela 4.16 - Estrutura metodológica de potencialidade social dos municípios

(14)

AAE - Avaliação Ambiental Estratégia

AAF - Autorização Ambiental de Funcionamento ADA - Área Diretamente Afetada

AIA - Avaliação de Impacto Ambiental AID - Área de Influência Direta

ANA - Agência Nacional de Águas CEE - Comunidade Econômica Europeia CERH - Conselho Estadual de Recursos Hídricos CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CF/88 - Constituição Federal de 1988

CEI - Centro de Estatística e Informações CEPP - Centro de Estudos de Políticas Públicas CID - Câmara de Atividades Industriais

CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

COPAM - Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais CTC - Centro de Tecnologia Canavieira

DAERP - Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio

(15)

EIA - Estudo de Impacto Ambiental

FCE - Formulário de Caracterização do Empreendimento

FCEI - Formulário Integrado de Caracterização do Empreendimento FEAM - Fundação Estadual de Meio Ambiente

FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FOB - Formulário de Orientação Básica

FOBI - Formulário Integrado de Orientação Básica

GEDIN - Gerência de Desenvolvimento e Apoio Técnico as Atividades Industriais

HPAS - Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

IBEGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IEE - Índice Ecológico Econômico

IEF - Instituto Estadual de Florestas

IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas

INDI - Não encontrada

IPEVS - Instituto de Pesquisa em Vida Selvagem e Meio Ambiente ISPN - Instituto Sociedade, População e Natureza

LI - Licença de Instalação

LIC - Licença de instalação Corretiva LO - Licença de Operação

(16)

NEPA - National Environmental Policy Act ONG - Organização não Governamental PA - Procedimento Administrativo PCA - Plano de Controle Ambiental PL/MG - Partido Liberal de Minas Gerais PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente

PRODEMGE - Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais RAP - Relatório Ambiental Preliminar

RCA - Relatório de Controle Ambiental RIMA - Relatório de Impacto Ambiental

SEDE - Secretaria de Estado Desenvolvimento Econômico

SEMAD - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

SEMAM/PR Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República SIAM - Sistema Integrado de Informações Ambientais

SIAMIG - Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais

SINDIAÇÚCAR/MG - Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Minas Gerais SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza STJ - Superior Tribunal de Justiça

SUPRAM - Superintendências Regionais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do estado de Minas Gerais

(17)

URC - Unidade Regional Colegiada ZEE - Zoneamento Ecológico Econômico

(18)

CO - Monóxido de Carbono CO2 - Dióxido de Carbono

SO2 - Dióxido de Enxofre

O3 - Ozônio

Ca(OH)2 - Hidróxido de Cal

pH - Potencial Hidrogeniônico

kg - Quilograma

(19)

1. INTRODUÇÃO ... 24

3. OBJETIVOS ... 30

3.1. Objetivo Geral ... 32

3.2. Objetivos Específicos ... 32

4. REVISÃO DE LITERATURA ... 33

4.1. Agroindústria Sucroalcooleira ... 33

4.1.1. Caracterização da atividade ... 33

4.1.2. Intervenções precedentes ao processamento da cana ... 33

4.1.3. Fabricação do açúcar ... 35

4.1.4. Fabricação do álcool ... 36

4.1.5. Principais resíduos do processo agroindustrial canavieiro ... 38

4.1.6. Principais impactos ambientais negativos causados pela agro-indústria canavieira ... 42

4.2. Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA ... 52

4.2.1. Considerações iniciais ... 52

4.2.2. Objetivos da PNMA ... 57

4.2.3. Avaliação de impactos ambientais (AIA) ... 58

4.2.4. Licenciamento ambiental ... 94

(20)

5.1. Atividades da Pesquisa ... 140

5.2. Caracterização Quantitativa dos Licenciamentos Ambientais dos Empreendimentos Sucroalcooleiros situados no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e da situação das Licenças ... 141

5.3. Identificação dos Empreendimentos Sucroalcooleiros julgados pelo COPAM, através da URC/TM-AP ... 142

5.4. Identificação e Seleção dos Empreendimentos que se Enquadraram nos Critérios de Estudo – os casos estudados e as suas classificações quanto ao porte e potencial poluidor ... 142

5.5. Análise dos Documentos Ambientais dos Empreendimentos Selecio-nados ... 143

5.6. Organização e Análise dos Dados ... 143

5.7. Identificação e Análise dos Fundamentos da Dispensa do EIA Constan-tes dos Documentos Emitidos pelo Órgão Ambiental ... 144

5.8. Análise Comparativa dos Dados ... 145

5.9. A Análise das Principais Repercussões da Dispensa do EIA para o Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Sucroalcooleiro na Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ... 145

5.10. A Área de Estudo: o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ... 148

5.11. Breve descrição dos Empreendimentos Selecionados para Estudo ... 153

5.11.1. Cabrera Central Energética Açúcar e Álcool Ltda. ... 153

5.11.2. Usina Araguari Ltda. ... 154

(21)

5.11.5. Transcap Álcool e Açúcar S/A ... 157

5.11.6. Agroerg das Minas Gerais Ltda. ... 158

5.11.7. Companhia Energética de Açúcar e Álcool Vale do Tijuco Ltda. ... 159

5.11.8. Usina Caeté S/A (Unidade Águas Claras) ... 160

5.11.9. Companhia Energética Vale do São Simão ... 161

5.11.10. Usina Tupaciguara Açúcar e Álcool Ltda. ... 162

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 166

6.1. Panorama Numérico da Dispensa do EIA para Empreendimentos Sucroalcooleiros no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba no período de 2003 a 2010 ... 166

6.2. Identificação, Seleção e Definição de Empreendimentos Sucro-alcooleiros Situados na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba para estudo ... 182

6.3. Subsídios adotados pela SEMAD para a Dispensa do EIA no licencia-mento prévio dos Empreendilicencia-mentos Sucroalcooleiros do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ... 187

6.3.1. Identificação dos subsídios ... 187

6.3.2. Contextualização do Relatório Técnico DIRIM 08/07 ... 187

(22)

6.4.1. Análise da existência de parâmetros legais para a dispensa do

EIA nos casos objetos de estudo ... 195

6.4.2. Análise do critério da ponderação da carta do ZEE-MG para a

vulnerabilidade ao plantio da cana-de-açúcar ... 200

6.4.3. Análise do critério da ponderação sobre os recursos hídricos ... 208

6.4.4. Análise do suporte técnico para a dispensa do EIA pelo órgão

ambiental nos casos estudados ... 213

6.4.5. Análise do critério da ponderação da carta de vulnerabilidade ao plantio da cana para os empreendimentos objetos do estudo

de caso ... 214

6.4.6. Análise do critério da ponderação sobre os recursos hídricos

obtidos para os empreendimentos objetos do estudo de caso ... 218

6.5. Confrontação entre os dados sobre os recursos hídricos considerados na dispensa do EIA e aqueles constantes nos processos de licenciamento

ambiental analisados ... 221

6.5.1. Usina Araguari Ltda. ... 224

6.5.2. Fle Empreendimentos Ltda. ... 225

6.5.3. Cabrera Central Energética Açúcar e Álcool Ltda. ... 225

6.5.4. Transcap Álcool e Açúcar S/A ... 226

6.5.5. Companhia Energética de Açúcar e Álcool Vale do Tijuco Ltda. ... 227

(23)

6.5.9. Agroerg das Minas Gerais Ltda. ... 230

6.5.10. Usina Caeté S/A (Unidade Águas Claras) ... 232

6.5.11. Resultados da análise da confrontação entre o consumo de água declarado por ocasião da dispensa do EIA e aquele

informado no RCA ... 232

6.5.12. Análise da confrontação entre o valor da pré-avaliação da

disponibilidade hídrica e da disponibilidade real ... 233

6.6. Principais Deficiências Encontradas nos Estudos Ambientais (RCAs) ... 235

6.6.1. Deficiências encontradas nos estudos RCAs analisados,

rela-tivas aos estudos de alternarela-tivas tecnológicas e locacionais ... 238

6.6.2. Deficiências encontradas nos RCAs relativas à cumulatividade

e sinergia de impactos ... 246

6.7. Discussão Pública e Publicidade dos RCAs Analisados ... 249

6.8. Panorama Quantitativo da Incidência da Compensação Ambiental

Pre-vista na Lei do SNUC (Lei Federal 9.985/2000) ... 252

6.9. Efeitos da dispensa do EIA nas licenças concedidas para os

empre-endimentos analisados ... 258

6.9.1. Nulidade da licença ambiental ... 258

6.9.2. Decisões de Tribunais brasileiros acerca dos efeitos da dispensa

do EIA na licença concedida ... 260

6.9.3. Análise da conduta do servidor público responsável pela dis-pensa do EIA para o licenciamento ambiental dos

(24)

8. RECOMENDAÇÕES ... 288

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 289

ANEXOS ... 309

Anexo 1 - Cana de açúcar processada por usinas brasileiras ... 309

Anexo 2 - Produção brasileira de Etanol ... 310

Anexo 3 - Produção brasileira de açúcar ... 311

Anexo 4 - Papeleta de despacho - Dispensa de EIA/RIMA com base no ZEE/MG Companhia Energética Açúcar e Álcool Triângulo

Mineiro – Usina Vale do Tijuco ... 312

Anexo 5 - Mapa - ZEE- Companhia Energética Açúcar e Álcool

Triângu-lo Mineiro – Usina Vale do Tijuco ... 313

Anexo 6 - Relatório Estatístico - (Raio 50 KM)- Companhia Energética

Açúcar e Álcool Triângulo Mineiro – Usina Vale do Tijuco- ... 314

Anexo 7 - Relatório Estatístico - (Raio 25 KM)- Companhia Energética

Açúcar e Álcool Triângulo Mineiro – Usina Vale do Tijuco- ... 315

Anexo 8 - Lista dos empreendimentos sucroalcooleiros do estado de Minas

(25)

1.

INTRODUÇÃO

A cana de açúcar está diretamente ligada à história do Brasil, sendo que desde o século XVI, com o descobrimento de nossas terras por espanhois e portugueses, o açúcar já começava a ser produzido e exportado, em pequena escala, para países da Europa e a cultura se desenvolvia no nordeste por meio de engenhos (LELIS NETO, 2008, p. 13). Sua importância econômica, embora atenuada após a descoberta de minérios na parte central do Brasil, sempre se manteve em posição de destaque na economia nacional (PEREIRA, 2009).

Já a produção de álcool combustível no Brasil iniciou-se precariamente por volta da década de 1930, quando o Decreto 22.789, de 1º. de junho de 1933 criou a Comissão de Estudos sobre o Álcool-Motor que era ligado ao extinto Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA1 (PIACENTE, 2005, p. 08; PEREIRA, 2009). Nesse mesmo ano instalou-se em Campos, no Rio de Janeiro, a primeira destilaria de álcool anidro no Brasil.

Entre os anos de 1969 e 1973 houve uma alta no preço do açúcar que ocasionou um aumento na sua produção mundial; contudo, entrou em fase de depressão em 1975, devido à grande oferta do produto e a baixa cotação do seu preço (LANZOTTI, 2000, p. 13). Paralelamente, o setor energético enfrentava a primeira crise do petróleo, já que a partir de setembro de 1973 o preço do barril começou a aumentar. Em razão da dependência da economia brasileira da utilização do petróleo foi necessário encontrar fontes alternativas para a sua substituição (Op. cit.).

Em 1975 o governo brasileiro criou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool – Decreto 76.593), visando solucionar os dois problemas energéticos que atingiram o país na década de 70 e, inicialmente, baseou-se na produção de álcool anidro para mistura nos carros à gasolina (LANZOTTI, 2000, p. 13). O programa também diversificou a atuação da indústria açucareira com grandes investimentos apoiados pelo Banco Mundial, possibilitando a ampliação da área plantada com cana-de-açúcar e a implantação de destilarias de etanol (UNICA, 2010).

(26)

Em 1979, com a nova crise do petróleo (LANZOTTI, 2000, p. 14), surgiram os motores especialmente desenvolvidos para funcionar com etanol hidratado, sendo que em 1984, os carros a etanol passaram a responder por 94,4% da produção das montadoras instaladas no Brasil. Desde 1986, a redução do impacto da crise do petróleo e os planos econômicos internos para combater a inflação estimularam uma curva descendente na produção de carros a etanol, que culminou com a crise de abastecimento de 1989. Com isso, a participação anual dos veículos a etanol caiu para 1,02% na frota nacional, em 2001. A queda da demanda do etanol hidratado foi compensada pelo maior uso do anidro (sem água) misturado à gasolina até que em 2003 foi lançado o carro bicombustível, iniciando uma nova onda de crescimento do setor (UNICA, 2010).

No Brasil, a principal matéria prima para a produção de etanol é a cana de açúcar, que atualmente, ocupa cerca de 7 milhões de hectares ou cerca de 2% de toda a terra arável do país, sendo o maior produtor mundial, seguido por Índia, Tailândia e Austrália. As regiões de cultivo são Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste, permitindo duas safras por ano (UNICA, 2010).

Na safra de 2008/2009 o Brasil produziu 569.062.629 toneladas de cana-de-açúcar, dos quais 504.962.891 ocorreram na região Centro-Sul e 64.099.738 na região Norte-Nordeste. Desse total, produziu 27.512.962 litros de etanol2 e 31.049.206 toneladas de açúcar. No mesmo período, a exportação de etanol foi de 4.7219 litros e de açúcar 20.7949 toneladas (UNICA, 2011a; 2011b; 2011c).

A figura 1 mostra em vermelho as áreas onde se concentram as plantações e usinas produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade, segundo dados oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas – SP) e do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) (UNICA, 2010).

(27)

FIGURA 1 - Mapa da produção de cana-de-açúcar no Brasil Fonte ÚNICA (2010d)

O estado de Minas Gerais ocupa o segundo lugar entre os maiores produtores brasileiros de etanol, ficando atrás apenas de São Paulo. Relativamente à produção de açúcar e cana no Brasil, Minas Gerais está em terceiro lugar, estando atrás de São Paulo e do Paraná (UNICA, 2011a; 2011b; 2011c).

Existem em Minas Gerais 46 (quarenta e seis) unidades sucroalcooleiras instaladas e 11 (onze) projetos sucroalcooleiros, bem como 03 (três) unidades de biodiesel instaladas e 08 (oito) em projeto (UDOP, 2011).

(28)

o que representa 7,46% da produção nacional.3 A produção de etanol foi de 2.167.61 litros de etanol, vale dizer, 7,87% da fabricação nacional.4 Já a produção de açúcar foi de 2.207.621 toneladas de açúcar, ou seja, 7,11% da produção nacional (UNICA, 2011a; 2011b; 2011c).5

As regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, onde se desenvolveu a pesquisa, detêm a liderança da produção de álcool no Estado de Minas Gerais, sendo que ali está situada a maior parte dos empreendimentos sucroalcooleiros e são consideradas as principais regiões de expansão da cana-de-açúcar (ZANZARINI; SANTOS; ALBINO, 2010).

Por mais importante que o etanol e a agroindústria canavieira sejam para a sociedade e economia, não se pode ignorar que o plantio de cana de açúcar e a destilação de álcool promovem modificações no meio ambiente, as quais são capazes de causar significativos impactos ambientais ao solo, água, ar, águas, a paisagem, cobertura vegetal, a fauna. Tais modificações ocorrem desde o cultivo da cana de açúcar, principal matéria prima das destilarias de álcool, até a produção do etanol, merecendo destaque a queima da palha da cana e os resíduos gerados pelas destilarias, tais como, água de lavagem da cana, bagaço, vinhaça, torta de filtro.

Ademais, cuida-se de um setor altamente dependente de recursos naturais, principalmente água (PEREIRA, 2009) e solo, e que está instalado em áreas econômica e socialmente importantes do país (PIACENTE, 2005, p. 05).

Assim, a preocupação com os impactos sociais e ambientais deve fazer parte da política, do planejamento e da execução dos programas que envolvem o setor sucroalcooleiro, de forma a garantir um desenvolvimento sustentável. Conforme destaca Souza (2000, p. 35), embora a realidade brasileira demonstre a existência de sérias dificuldades para a implementação da atual política de meio ambiente, sobretudo devido ao marcante compromisso da sociedade com o poder dominante, ao perseguir o bem-estar comum, o governo “deve fazer com que as demais políticas incorporem a perspectiva ambiental,

3 Os estados de São Paulo e do Paraná processaram, no mesmo período, 346.292.969 e 44.829.652 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, respectivamente.

4 A produção de São Paulo, que ocupa o primeiro lugar no ranking dos maiores produtores de etanol do Brasil, para o mesmo período, foi de 16.722.478 bilhões de litros.

(29)

buscando a consecução dos pressupostos do desenvolvimento sustentável em sua plenitude”. Com efeito, as premissas do desenvolvimento sustentável estão expressas na Política Nacional do Meio Ambiente estabelecida pela Lei 6.938/81, em seus princípios e objetivos, sendo que para a sua operacionalização dispõe de alguns instrumentos, dentre os quais se insere a avaliação de impactos ambientais, que para Souza (2000, p. 41), “tem por objetivo o estudo da viabilidade ambiental do empreendimento, analisando para isso suas diferentes etapas: projeto, implantação, operação e desativação”.

Nesse contexto, não é sem razão que a Resolução CONAMA 01/86, em seu artigo 2º, prevê quais as atividades dependerão de elaboração de estudo de impacto ambiental (EIA) e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA –, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, dentre as quais se inclui o licenciamento das destilarias de álcool (inciso XII).

Esse estudo, em linhas gerais, “consiste no conjunto de atividades científicas e técnicas que incluem o diagnóstico ambiental, a identificação, previsão e medição dos impactos, sua interpretação e valoração e a definição de medidas mitigadoras e de programas de monitorização destes” (CAPPELLI, 2011, p. 02).

Apesar disso, conforme se tem verificado por meio da análise de decisões tomadas no âmbito do licenciamento ambiental do setor sucroalcooleiro, desde fevereiro de 2007 a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais – SEMAD -, através da Fundação Estadual de Meio Ambiente - FEAM - tem dispensado o EIA, com suporte no ZEE-MG, para os licenciamentos ambientais das destilarias de álcool a serem implantadas (ou em fase de implantação) na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MG), o que tem sido referendado pelo Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais – COPAM – órgão colegiado, composto por representantes do governo e da sociedade civil, a quem compete decidir sobre os licenciamentos ambientais, através de suas Unidades Regionais Colegiadas – URCs.

(30)

Tal dispensa foi constatada por esta subscritora no exercício da atividade voluntária de Conselheira do COPAM/TM-AP, como representante do Ministério Público, na 37ª Reunião Ordinária realizada na cidade de Araxá em 11.10.2007, ocasião em que aquele órgão aprovou a concessão de Licença Prévia ad referendum à Usina Araguari Ltda., para a atividade de destilação de álcool e produção de energia termoelétrica no município de Araguari (PA nº. 15925/2006/001/2007), sem a prévia elaboração de EIA. Nas reuniões do COPAM-TM/AP que se seguiram foram aprovadas diversas outras Licenças Prévias em que houve a dispensa do EIA, conforme será explicitado nos resultados e na discussão.

Em razão da dispensa do EIA para as destilarias de álcool, o licenciamento ambiental destas atividades tem sido objeto de polêmica e produzido questionamentos por Conselheiros do COPAM (Unidade Regional Colegiada/Triângulo Mineiro-Alto Paranaíba), representantes da sociedade e do Ministério Público, existindo fatores que devem ser analisados para que se possa averiguar a efetiva proteção ao meio ambiente.

Em substituição ao EIA está sendo exigido, sem qualquer previsão legal ou normativa, para o licenciamento das destilarias de álcool, o Relatório de Controle Ambiental (RCA), estudo este que não contempla os mesmos níveis de detalhamento que aquele e está previsto na legislação federal e de Minas Gerais para empreendimentos minerários e atividades relacionadas à exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural e de saneamento.

Além do aspecto da legalidade da dispensa do EIA para atividade causadora de significativo impacto ambiental e constante na lista da Resolução CONAMA 01/86, algumas falhas têm sido constatadas na elaboração do RCA, com sérios prejuízos à comprovação de viabilidade ambiental do empreendimento e à tomada de decisão, sendo que falhas semelhantes também já foram detectadas na análise de EIAs, conforme apontam Almeida (2010), Lopes (2008) e o Ministério Público Federal (2004).

Destarte, cumpre num primeiro momento distinguir o universo do EIA e do ZEE, suas responsabilidades no contexto do licenciamento ambiental e possibilidade de conexão entre eles.

(31)

para, em seguida, averiguar se os mesmos encontram respaldo técnico, científico e legal, bem como se permitem o alcance e eficácia que se espera do licenciamento ambiental, para, ao final, abordar as principais repercussões da dispensa do EIA.

2.

JUSTIFICATIVA

A relevância de se estudar o setor sucroalcooleiro está na sua grande importância nacional e internacional. No Brasil, essa atividade se diferencia dos demais países do mundo, sobretudo em relação a sua escala de produção e a posição de destaque da cana em relação a outras culturas, quanto à área de plantio e ao valor da produção (PIACENTE, 2005, p. 06).

O grande potencial de crescimento da produção de cana-de-açúcar no Brasil e da demanda internacional por etanol, como substituto ou aditivo da gasolina, para promover a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa, tendo em vista principalmente o aumento do preço do petróleo e as exigências ambientais traduzidas nas regulamentações do Protocolo de Kyoto, é um fator que também motiva a investigação, haja vista que o aumento da produção do álcool implica, obrigatoriamente, no aumento da demanda por recursos ambientais e na produção de resíduos passíveis de causarem significativos impactos ambientais.

Dentro desse panorama, verifica-se a relevância de se adotar mecanismos de controle do exercício da referida atividade, a fim de assegurar o tão preconizado desenvolvimento sustentável, o que pode ser materializado, dentre outros, através do licenciamento ambiental.

Para subsidiar a decisão do órgão ambiental no âmbito do licenciamento ambiental é imprescindível a elaboração de estudos ambientais, sendo que, em se tratando de empreendimentos potencialmente causadores de significativa degradação ambiental, dentre os quais se insere as destilarias de álcool, exige-se a elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental (Resolução CONAMA 01/86).

(32)

preventivo de gestão ambiental, e nisto consiste um dos motivos para se justificar o estudo de sua dispensa nas hipóteses objetos deste trabalho.

Acrescente-se, ainda, que a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental representou um marco na evolução do ambientalismo brasileiro, já que, até meados da década de oitenta, somente os aspectos técnicos e econômicos eram considerados nos projetos de empreendimento, sem qualquer preocupação mais séria ao meio ambiente e, não raras vezes, em evidente embate com o interesse público (MILARÉ, 2001). Assim, qualquer ato que possa representar retrocesso ou ameaça à consolidação desse estudo precisa ser pesquisado.

Ademais, a dispensa do EIA para o licenciamento ambiental das destilarias de álcool envolve fatores que devem ser analisados, como por exemplo, os critérios e fundamentos utilizados para a dispensa desse importante estudo, bem como se estes se sustentam técnica e cientificamente, conforme registra Cappelli (2011).

Acrescente-se, ainda, que os critérios utilizados para a dispensa do EIA estariam respaldados em dados constantes do recente ZEE-MG, o que também precisa ser analisado, já que a aprovação deste instrumento é posterior à constatada dispensa daquele estudo para o setor sucroalcooleiro e, conforme sustenta Oliveira (2004, p. 62-63), este instrumento tem o papel de complementar o EIA, fornecendo-lhe o diagnóstico para identificação de todas as alternativas locacionais, o que contribuiria para aliviar o EIA, que passaria a contemplar tão somente o universo específico do empreendimento.

Também existem poucos estudos sobre a dispensa do EIA para as destilarias de álcool, além daqueles existentes não terem abordado os aspectos destacados neste estudo, o que também será suprido pela experiência desta autora como Conselheira do COPAM-URC/TM-AP, no período de fevereiro de 2007 a abril de 2009 e de 2010 até os dias atuais.

(33)

Por fim, a pesquisa trará uma nova compreensão sobre o assunto e poderá servir de paradigma para direcionar a política ambiental do Estado, até então adotada para o setor sucroalcooleiro, com as consequentes contribuições para o aprimoramento do sistema na região e no estado.

3.

OBJETIVOS

3.1.

Objetivo Geral

O objetivo principal do presente trabalho é avaliar a dispensa do EIA para o licenciamento ambiental (Licença Prévia) da atividade de destilação de álcool nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, tendo como pressuposto o ZEE-MG.

3.2.

Objetivos Específicos

Já os objetivos específicos consistem em:

3.2.1 – verificar o objeto, a relevância e abrangência da avaliação de impacto ambiental, bem como a obrigatoriedade do EIA nos casos especificados na legislação;

3.2.2 – discutir as interfaces do ZEE, com a EIA e o licenciamento ambiental, verificando se o ZEE é substrato para a dispensa do EIA;

3.2.3 – apresentar panorama quantitativo do licenciamento ambiental das destilarias de álcool na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, identificando aqueles em que houve a dispensa do EIA;

3.2.4 – analisar, através do estudo de casos, processos de licenciamento ambiental (Licença Prévia) cujo objeto é a destilação de álcool, que foram julgados pelo COPAM, através da URC-TM/AP, em que houve a dispensa do EIA;

(34)

3.2.6 - discutir as principais repercussões da dispensa do EIA para o setor sucroalcooleiro, frente à legislação vigente.

4.

REVISÃO DE LITERATURA

4.1.

Agroindústria Sucroalcooleira

4.1.1. Caracterização da atividade

A agroindústria canavieira é uma atividade complexa, na medida em que envolve um setor agrícola e outro estritamente industrial (PIACENTE, 2005), sendo que este muitas vezes está dividido em três etapas, a saberem: a produção de açúcar, a destilação de álcool e a co-geração de energia.

A parte agrícola apresenta aspectos ligados diretamente a essa vertente da economia, ao processo de ocupação territorial e a utilização de recursos naturais, como vastas áreas (solo) para o plantio da cana-de-açúcar e água para o cultivo desta (PIACENTE, 2005).

Já o processo industrial, além da utilização de quantidade considerável de água, apresenta aspectos mais relacionados à transformação de matéria-prima, com a consequente geração de efluentes (PIACENTE, 2005).

4.1.2. Intervenções precedentes ao processamento da cana

A cana-de-açúcar sempre foi utilizada para a fabricação de vários produtos, merecendo destaque o açúcar e o álcool, como os principais.

No momento em que atinge o seu ponto de maturação a cana plantada está pronta para ser colhida, seja manual ou mecanicamente. Em seguida, é transportada até as usinas para ser processada. Antes, porém, do processamento a cana passa pela pesagem, amostragem, análise de qualidade, descarregamento e armazenamento. Na sequência, passa pelo processo de extração do caldo, seguindo para a fabricação de açúcar e álcool (LANZOTTI, 2000, p. 12).

(35)

carregamento de cana que chega à indústria até a moagem:

� Coleta de amostra para avaliação, metodológica, da porcentagem de fibras6, de sólidos solúveis (Brix)7 e de sacarose (Pol)8 do caldo;

� descarregamento no pátio;

� lavagem9 para retirada das impurezas minerais que se agregaram durante o processo agrícola;10

� encaminhamento a uma esteira onde a cana é picada e desfibrilada para destruir a casca e o nós (parte dura da cana), romper os vasos celulares onde se localizam o caldo e uniformizar a cana, facilitando o processo de extração do caldo;

� extração do caldo, onde a cana desfibrilada passa por um conjunto de moendas, denominadas ternos, e ali é espremida entre três rolos ou cilindros, escoando o caldo através de ranhuras até um outro recipiente.11

O produto final do processo de moagem ou extração da cana é o caldo, que consiste em uma solução diluída de sacarose. Esse caldo passa por um processo de tratamento, por

6 A fibra consiste em uma fração sólida composta de substâncias orgânicas insolúveis em água, está presente no

colmo da cana de açúcar, caracteriza-se pela sua heterogeneidade do ponto de vista químico e morfológico. Constitui-se principalmente de celulose e o seu teor depende, dentre outros, da variedade e da idade da cana, girando entre 10 e 16% (MITRANI et al. 1999 apud PIACENTE (2005, p. 11).

7 O Brix é a porcentagem de sólidos solúveis contidos no caldo amostrado, sendo os sólidos agrupados em

açúcares e não açúcares. Os açúcares são representados pela glicose, frutose e principalmente sacarose que é o componente mais importante para a etapa de processo industrial da cana (STUPIELLO, 1987, apud PIACENTE (2005, p. 11).

8 O Pol é a porcentagem do principal açúcar, a sacarose, que é encontrado no caldo da amostra. A quantidade de

sacarose presente no caldo é de fundamental importância para um bom processamento e rendimento da matéria-prima, já a frutose e a glicose também chamadas de açúcares redutores contribuem positivamente para o processo industrial de cristalização da sacarose. (STUPIELLO, 1987, apud PIACENTE (2005, p. 11).

9 Algumas usinas não realizam o processo de lavagem da cana ou apenas o utilizam em processos emergenciais

de acúmulo elevado de impureza mineral, como terra, pois tal lavagem, mormente da cana picada em razão da colheita mecanizada, retira parte da sacarose localizada na face de corte dos colmos da cana e esse açúcar não é recuperado em etapas posteriores. (PIACENTE, 2005, p. 12).

10 Segundo PIACENTE (ob. cit.), a lavagem da cana é feita com jatos de água antes da sua entrada na esteira de

processamento. As águas residuárias dessa lavagem apresentam alto potencial poluidor, exigindo a instalação de sistema de tratamento desse efluente, antes do seu descarte em algum manancial ou utilização na lavoura.

11 Em cada uma dessas etapas de extração o bagaço processado sofre um embebidamento com água a fim de

(36)

aquecimento e decantação, que se subdivide, no processo de produção, em açúcar e álcool, quando a usina gera os dois produtos (PRADO, 2007, p. 85).

Já o bagaço, que é o subproduto do processo de moagem, é constituído basicamente por fibras vegetais (celulose), sendo muito utilizado como recurso energético (combustível), como matéria-prima da indústria de celulose, na indústria química, na construção civil (material alternativo) e como ração animal (LANZOTTI, 2000, p. 32).

4.1.3.

Fabricação do açúcar

De maneira geral, a etapa de produção de açúcar pode ser resumida nas seguintes operações: tratamento do caldo, evaporação, centrifugação, secagem do açúcar, acondicionamento e armazenagem.

Inicialmente o caldo passa por um processo de eliminação de parte das impurezas, tais como terras, bagacilhos e materiais corantes que interferem na qualidade final do açúcar. Assim, o caldo é sulfitado com dióxido de enxofre (SO2) para auxiliar na coagulação das matérias coloidais, na formação de precipitados que arrastarão as impurezas durante a sedimentação e na desinfecção do caldo e, ao final, caleado com leite cal (Ca(OH)2) para igualmente coagular parte do material coloidal, precipitar certas impurezas e neutralizar o pH (SILVA et al., 2009, p. 64).

Dando continuidade ao processo de tratamento do caldo, este passa por um balão de flash para remover gases incondensáveis que prejudicam o processo de decantação; após é adicionado ao caldo polímero para ocasionar a formação de flocos mais densos e de maior tamanho no processo de clarificação; na decantação do caldo ocorre a separação das impurezas existentes através da deposição das partículas que foram conglomeradas durante as etapas de calagem e adição de polímero floculante; o lodo obtido na decantação é filtrado para recuperação do açúcar nele existente, sendo que a torta de filtro obtida é utilizada como fertilizante na lavoura, e o filtrado é misturado ao caldo logo após a adição de cal (DIAS, 2008, p. 11-15).

(37)

é bombeado aos tachos de cozimento para cristalização do açúcar. O produto obtido nesse processo é uma mistura de cristais e mel. Em seguida, a massa cozida com cristais e mel é submetida a uma centrífuga, onde o mel é novamente deslocado para tacho de cozimento e o açúcar é deslocado para a secagem, acondicionamento e armazenagem (SOUZA, 2007, p. 68).

O mel proveniente da massa de menor pureza, que foi várias vezes cozido e centrifugado, é denominado de melaço ou mel final, sendo enviado para a destilaria para a produção de álcool ou comercializado como subproduto in natura(STUPIELO, 1987, p. 790-791, apud PIACENTE, 2005, p. 14-15).

4.1.4.

Fabricação do álcool

Utiliza-se normalmente o termo álcool para denominar a substância conhecida como etanol, metilcarbinol, álcool de cana ou de grãos. A diferença entre o etanol anidro (álcool etílico anidro) e o etanol hidratado (álcool etílico hidratado) está no teor de água contido no mesmo. Enquanto o teor de água do etanol anidro é aproximadamente 0,5%, em volume, o etanol hidratado, vendido nos postos de combustíveis, possui cerca de 5% de água em volume. Em sua produção industrial, o tipo hidratado é o que sai diretamente das colunas de destilação, sendo que no caso do anidro, é necessário um processo adicional para a retirada da maior parte da água presente (UNICA, 2007).

O processo produtivo do álcool hidratado constitui-se por quatro etapas básicas de produção: extração do caldo, tratamento do caldo, fermentação e destilação.

Segundo OMETTO (2005, p. 29), sua fabricação pode ser feita por via fermentativa baseada no aproveitamento do mel final ou melaço das usinas (destilaria anexa) ou na fermentação direta do caldo de cana (destilaria autônoma), sendo que a descrição a seguir é baseada na produção de álcool a partir do caldo obtido no processo de extração, já descrito anteriormente, e enviado diretamente para a produção do álcool.

(38)

eliminação dos microorganismos contaminantes. A preparação do fermento é de fundamental importância para uma satisfatória multiplicação das leveduras capazes de transformarem os açúcares do mosto em álcool e gás carbono. Ao mosto é acrescentada a levedura, iniciando-se a primeira etapa do processo contínuo de fermentação. Em seguida o produto é recalcado para um decantador onde se elimina parte das bactérias remanescentes. O excesso de fermento é novamente aproveitado no processo, e o produto da fermentação, chamado de vinho, é encaminhado para a destilaria (PIACENTE, 2005, p. 16).

Conforme aponta OLIVEIRA (2010), o vinho, resultante da fermentação, possui de 7º. a 10º. GL de álcool, sendo composto por elementos líquidos, sólidos e gasosos. Os elementos líquidos, além do álcool, são água (cerca de 89 a 93%), glicerol, alcoóis homólogos superiores, furfural, aldeído acético, ácidos succínico e acético e outros. Os sólidos são compostos por bagacilhos, leveduras e bactérias, açúcares não-fermentescíveis, sais minerais, matérias albuminóides e outros, e os gasosos, sobretudo pelo CO2 e SO2.

(39)

FIGURA 2. Fluxograma resumido de uma usina com destilaria anexa (PIACENTE, 2005, p. 14)

Em cada etapa do processo é gerado um produto final, que é encaminhado à etapa seguinte, e um subproduto que nem sempre é passível de posterior utilização e, portanto, deve ter uma destinação final adequada, sobretudo, do ponto de vista ambiental.

4.1.5.

Principais resíduos do processo agroindustrial canavieiro

(40)

no Brasil tem como objetivo atender as metas diretamente ligadas à produção de açúcar para o mercado interno e externo e à produção de álcool combustível. A definição de processos cada vez mais direcionados à obtenção de açúcar de alto padrão (sem impurezas e com cristais uniformes) desencadeou a geração de uma linha de descartes agroindustriais conhecida como subprodutos. Ademais, com o incremento da produção do álcool (PROÁLCOOL, 1975) uma outra linha de subprodutos passou a integrar a anterior (Op. cit.), conforme a seguir especificado (Cortez, Magalhães e Happi, 1992).

Dentre os diversos sub-produtos ou resíduos gerados pelas empresas que processam a cana-de-açúcar podem ser destacados, dentre outros, a água de lavagem da cana, bagaço, vinhaça e torta de filtro, que se não forem armazenados, tratados, depositados ou reaproveitados adequadamente, acarretam sérios prejuízos ao meio ambiente (SILVA et. al., 2009), além das águas residuárias (PEREIRA, 2009) e da levedura.

Conforme destaca Rodrigues (2001, p. 23-25), uma tonelada de cana gera 240 kg de bagaço, que determinam 70 kW/h, dos quais 40 são excedentes, não necessários na produção de açúcar e álcool, ensejando a co-geração de energia.12

A tabela 1 apresenta a composição química do bagaço.

(41)

Tabela 1 - Composição química do bagaço

Item In natura Hidrolisado

Matéria seca (%) 48,31 44,32

Em g/ 100g de matéria seca:

Proteína bruta 1,86 1,67

Fibra bruta 45,09 34,45

Extrato etéreo 2,26 4,86

Matéria mineral 2,73 4,77

Extrativo não-hidrogenao 48,06 54,25

Fibra em detergente neutro 85,24 58,16

Fibra em detergente ácido 62,33 62,65

Celulose 44,69 43,99

Hemicelulose 22,91 ----

Ligina em detergente ácido 14,89 15,06

Ca n.d.1 0,12

P n.d. 0,02

K n.d. 0,16

Fonte: CORTEZ (2002) apud LANZOTTI (2000, p. 32)

O efluente gerado na lavagem da cana é, em média, 2,2 m3/t cana total (podendo variar de 2 a 5 m3/t cana total) e a quantidade de impurezas minerais, isto é, terra trazida da lavoura, varia de 0,14 a 3,21%, compondo, em última análise, o lodo retirado, no sistema de decantação. Em sistema fechado de lavagem de cana com decantadores circulares há uma produção de lodo estimada em 5% da água em circulação, vale dizer, produz-se como lodo 0,1 m3/t cana. O efluente efetivo referente à lavagem é a purga do lodo, que atinge altas concentrações de matérias orgânicas (180 a 500 mg/L DBO5) e materiais sólidos devido à recirculação para reuso (BRASÍLIA, 2009).

A vinhaça, resultante da destilação e fermentação da cana na fabricação de álcool, é o efluente de destilarias com alto poder poluente, cerca de cem vezes maior que o do esgoto doméstico, pois é rica em matéria orgânica, tem baixo pH, elevada corrosividade e altos índices de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), além de elevada temperatura na saída dos destiladores (LELIS NETO, 2008, p. 15). Para a produção de um litro de álcool são gerados de 13 a 15 litros de vinhaça (PEREIRA, 2009).

(42)

Tabela 2- Composição química média da vinhaça de diferentes tipos de mosto (kg/m Vinhaça)

Componentes Mosto

Melaço Misto Caldo

N 0,7-0,8 0,3-0,5 0,2-0,4

P2O5 0,1-0,4 0,1-0,8 0,1-0,5

K2O 3,5-7,6 2,1-3,4 1,1-2,0

CaO 1,8-2,4 0,6-1,5 0,1-0,8

MgO 0,8-1,4 0,3-0,6 0,2-0,4

SO4 1,5 1,6 2

M.0 37,3-56,9 19,1-45,1 15,3-34,7

Ph 4,0-4,5 3,5-4,5 3,5-4,0

Fonte: PENATTI et al. (1988) apud CORTEZ, MAGALHÃES E HAPPI (1992, p.9)

A torta de filtro é proveniente do processo de clarificação do caldo, sendo que para cada tonelada de cana moída são produzidos de 30 a 40 kg de torta de filtro (Cortez; Magalhães; Happi, 1992). A tabela 3 apresenta a composição química da torta de filtro

Tabela 3- Composição química da torta de filtro

Matéria Orgânica C N P2O5 K2O CaO MgO Cinzas

---% da matéria seca (umidade = 75%)---

85,14 36,52 1,41 1,04 0,72 5,46 0,56 14,86

Fonte: FERREIRA(1986) apud LANZOTTI (2000, p. 33)

A levedura, rica em proteína, vitamina e sais minerais, não é um excedente desejado pela agroindústria canavieira. Segundo Cortez, Magalhães e Happi (1992, p. 21), cada litro de álcool produzido rende entre 25 e 40g de levedura, que é vendida para ser usada em ração animal.

As águas residuárias do setor sucroalcooleiro são formadas pela soma dos diversos efluentes líquidos industriais, atualmente compostos de purgas de sistemas fechados da lavagem de cana, purgas de circuitos de resfriamentos, purga do sistema de retentores do material particulado (MP) dos gases a chaminé, sobra de águas condensadas, flegmaça e lavagem de pisos e equipamentos (BRASÍLIA, 2009).

(43)

Magalhães e Happi (1992), há uma série de experiências no Brasil e no mundo de utilização dos mesmos, sendo que alguns têm se destacado pela sua importância comercial ou mesmo para ajudar a reduzir custos pela substituição de produtos.

Mas somente um correto gerenciamento desses resíduos gerados nas várias etapas da cadeia produtiva da agroindústria canavieira, através de um rigoroso programa de gestão ambiental e utilização de técnicas mais condizentes com os conceitos de desenvolvimento sustentável, podem conduzir à melhoria da qualidade ambiental em relação à utilização dos recursos hídricos e prevenir danos ambientais.

4.1.6.

Alguns impactos ambientais negativos causados pela

agroindústria canavieira

A agroindústria canavieira foi responsável por impactos ambientais, tais como a destruição de áreas com mata nativa, perda da diversidade da produção rural e lançamento de vinhaça nos rios (LANZOTTI, 2000).

Segundo Pereira (2009), conquanto a agroindústria canavieira tenha obtido resultados no uso de tecnologias modernas para o incremento de sua produtividade agrícola, o setor dependeu fortemente da incorporação de novas áreas para elevar o volume de sua produção nos últimos quarenta e oito anos.

Entre 1960 e 2008, a área de cana colhida passou de 1,16 para 7,29 milhões de hectares, ao passo que a produtividade dos canaviais passou de 34 para quase 80 toneladas por hectare, demonstrando que o novo padrão tecnológico determinado pela industrialização da agricultura está associado à expansão da fronteira agrícola canavieira, com sérias implicações ambientais (PEREIRA, 2009).

Ainda hoje a agroindústria causa problemas ambientais diversos, sendo que parte deles está ligada à utilização de recursos naturais e outra decorre do processo de fabricação do álcool e açúcar.

(44)

Em razão da complexidade do setor, serão tratados de forma pormenorizada apenas os impactos mais relevantes, originados a partir do plantio e colheita da cana, bem como relacionados ao uso de água e à disposição da vinhaça.

4.1.6.1.

Impactos ambientais negativos verificados na

área agricultável

4.1.6.1.1.

Impactos gerais

A fase agrícola do processo canavieiro, segundo Ometto (2005, p. 22-27), considerando que a área já tenha sido desmatada e utilizada para fins agrícolas, envolve as seguintes etapas: limpeza e nivelamento do terreno, estudo de sua qualidade, aração e gradagem; preparo do solo; plantio, tratos culturais que incluem a aplicação de agrotóxicos e, quando necessário, adubos; colheita, na qual se utiliza a prática da queima da palha da cana, previamente ao corte.

Aquelas diversas etapas estão associadas à possibilidade de ocorrência de danos diversos ao meio ambiente, dentre os quais Miranda (2009) destaca o impacto ambiental causado em razão das grandes extensões de áreas de monocultura, pelas práticas agrícolas, pelo uso de agrotóxicos, pela queimada da cana-de-açúcar e disposição indiscriminada da vinhaça.

(45)

O uso intensivo de agrotóxicos no solo pelos produtores de cana-de-açúcar são fontes potenciais de contaminação de recursos hídrico, através de percolação ou lixiviação (PRADO, 2007).

Ademais, segundo Pereira (2009) a cultura da cana-de-açúcar demanda, naturalmente, grande volume de água para atender a suas necessidades fisiológicas, de modo que o seu cultivo é capaz de causar mudanças no balanço hídrico territorial. Além da água retirada dos solos por suas raízes, a planta interfere na recarga das bacias hidrográficas interceptando grande parte da precipitação incidente. Mais do que outras culturas comerciais e do que a vegetação nativa, a atividade canavieira interfere na quantidade de água que atinge o solo e se infiltra nos aquíferos, constituindo uma forma de consumo geralmente ignorada por estudos teóricos que avaliam a questão do uso da água na indústria canavieira (ob. cit.).

4.1.6.1.2.

Queima da palha da cana

A prática da queima da cana de açúcar na área de influência imediata, direta da indústria, como método despalhador e facilitador da cana-de-açúcar, principal matéria prima das destilarias de álcool, é uma das principais causas de impactos negativos ao ecossistema e à população (Figura 3).

Além de impactos sociais, agronômicos e econômicos, a queima dos canaviais causa danos ambientais, os quais não são mitigáveis, provocando alterações no meio ambiente que afetam direta ou indiretamente a saúde, a segurança e o bem estar da população, bem como a biota, destruindo diversas espécies de vegetação e fauna.

Lanzotti (2000, p. 21) aponta como desvantagens decorrentes da queima dos canaviais, o desperdício da energia contida nas folhas, palhas e ponta da cana; o aumento da temperatura e a diminuição da umidade do solo, causando uma maior compactação, perda de porosidade e desequilíbrio da biota; a poluição da atmosfera com CO e CO2, resultantes da combustão; a

(46)

Cortez, Magalhães e Happi (1992) destacam que o sistema de colheita da cana queimada, além de reduzir o seu aproveitamento energético integral, causa efeitos negativos, tais como, fonte poluidora, emissão de fuligem e CO2, danos ao sistema de distribuição

elétrica, dentre outros.

Piacente (2005, p. 23) destaca como consequências danosas para as características físicas do solo a alteração da concentração de gases, a diminuição da fertilidade e umidade do solo, a perda de nutrientes voláteis e a exposição do terreno a efeitos erosivos. No que tange aos efeitos ligados ao meio biológico, destaca o autor a redução de populações de espécies de vertebrados e insetos pela eliminação de habitat ou morte pelo fogo.

Também existem estudos científicos relacionando o câncer e até mutações genéticas com as substâncias liberadas nas queimadas, a exemplo daquele realizado por Zamperlini (1997), onde a autora afirma que as queimadas dos canaviais liberam 40 substâncias policíclicas aromáticas, conhecidas como hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) e seus derivados, que são considerados cancerígenos e mutagênicos; essas substâncias sofrem reações atmosféricas com outros gases, originando derivados aromáticos de poder cancerígeno e mutagênico superior aos próprios HPAs. A autora afirma, ainda, que as partículas inaláveis da fuligem proveniente da queima da palha da cana-de-açúcar — aquelas inferiores a 1,0 micrômetro — depositam-se na região que fica entre os bronquíolos e os alvéolos pulmonares, onde permanecem num período variável de dias a anos. Com a movimentação dos alvéolos, essas partículas acabam se concentrando na região superior aos bronquíolos, compreendida entre o esôfago e os brônquios. Os HPAs adsorvidos nessas partículas são metabolizados ou adsorvidos nessas regiões, provocando alterações no código genético das células (mutagênese), aumentando o número de células mutantes, ocasionando tumor cancerígeno.

(47)

Entretanto, no caso das queimadas dos canaviais, esses custos (prevenção dos danos ambientais provocados pela queima da palha da cana-de-açúcar, através da aplicação de técnicas e tecnologias alternativas) são transferidos de forma perversa para a sociedade, conforme tem se comprovado empiricamente.

A sociedade banca as despesas de atendimento ambulatorial e hospitalar da rede pública no atendimento das pessoas portadoras de doenças respiratórias agravadas no período das safras. O doente tira de seu salário o montante necessário ao pagamento de remédios, em regra, caros.

Ocorre que diante da existência de alternativa técnica para a colheita da cana-de-açúcar, prescindindo-se do uso do fogo, até mesmo nas áreas não mecanizáveis (com declividade superior a 12%), ainda que mais onerosa, sem agressão ao meio ambiente, a utilização do fogo não deve ser tolerada pelo órgão ambiental, nem mesmo nas áreas não mecanizáveis, já que compete ao empreendedor arcar com os ônus da prevenção.

Assim sendo, para obter-se um melhor aproveitamento da cana e reduzir significativamente os feitos ecológicos e econômicos negativos referidos, deve-se necessariamente contar com a colheita de cana crua (CORTEZ; MAGALHÃES; HAPPI, 1992).

(48)

4.1.6.2.

Impactos ambientais negativos verificados na

indústria

Em que pese a existência de sistemas de controle ambiental adequados ao exercício da atividade de destilaria de álcool, os impactos ambientais desta atividade decorrem, muitas vezes, da demanda de recursos naturais, tais como grandes volumes de água, alterando a sua quantidade e qualidade, e extensas áreas para o cultivo de sua principal matéria-prima que é a cana-de-açúcar.

Em relação aos principais impactos gerados na indústria e apontados por Piacente (2005, p. 22), podem ser relacionados os seguintes:

� a geração de resíduos potencialmente poluidores, como a vinhaça e a torta de filtro;

� a utilização intensiva de água para o processo industrial da cana de açúcar;

� o forte odor gerado na fase de fermentação e destilação do caldo para a produção do álcool.

Dentre aqueles, merecem considerações específicas o consumo de água e a destinação da vinhaça, efluente do processo industrial.

4.1.6.2.1. Consumo de água

Conforme observa Ometto (2005, p. 156), as atividades de produção de álcool, juntamente com as de geração de vapor e de energia elétrica, são consumidoras de grande quantidade de recursos naturais renováveis, devido, especialmente, ao alto consumo de água que envolve esses processos, sendo que a primeira apresenta a atividade de lavagem de cana como a de maior consumo de água.13

Para Pereira (2009, p. 165), “o impacto mais evidente gerado pela agroindústria canavieira não está associado à parte agrícola, mas sim, à parte industrial”, consistindo no

(49)

grande uso de água pelos processos industriais. Ao fazer uma análise sobre o uso da água na produção sucroalcooleira no estado de São Paulo, o autor constatou que as usinas e destilarias paulistas, “consideradas as mais modernas e com melhor índice de reaproveitamento da água no País”, consomem mais água do que o necessário, tecnicamente, para a produção do açúcar e álcool.

(50)

Tabela 4 - Usos médios da água em unidades produtoras de açúcar e etanol

SETOR FINALIDADE USO ESPECÍFICO

USO MÉDIO [m³/t

cana] [%]

Alimentação, preparo e extração (moendas e difusores)

Lavagem de cana 2,200 m³/t cana total 2,200 9,9

Embebidação 0,250 m³/t cana total 0,250 1,1

Resfriamento de mancais 0,035 m³/t cana total 0,035 0,2

Resfriamento de óleo 0,130 m³/t cana total 0,130 0,6

Subtotal 2,615 11,8

Tratamento

de caldo Resfriamento coluna sulfitação

(*1) 0,100 m³/t cana total 0,050 0,2

Preparo de leite de cal 0,030 m³/t cana total 0,030 0,1

Preparo de polímero (*1) 0,015 m³/t cana total 0,008 0,0

Aquecimento do caldo

p/ açúcar (*1) 160 kg. vapor/t cana

açúcar 0,080 0,4

p/ etanol (*2) e (*4) 50 kg. vapor/t cana

etanol 0,025 0,1

Lavagem da torta 0,030 m³/t cana total 0,030 0,1

Condensadores dos filtros 0,300 a 0,350 m³/t cana total 0,350 1,6

Subtotal 0,573 2,5

Fábrica de

açúcar(*1) Vapor para evaporação 0,414 t/t cana açúcar 0,207 0,9

Condensadores/ multijatos evaporação 4 a 5 m³/t cana total 2,250 10,2

Vapor para cozimento 0,170 t/t cana açúcar 0,085 0,4

Condensadores/ multijatos cozedores 8 a 15 m³/t cana total 5,750 26,0

Diluição de méis e magas 0,050 m³/t cana total 0,030 0,1

Retardamento do cozimento 0,020 m³/t cana total 0,010 0,0

Lavagem de açúcar (1/3 água e 2/3

vapor) 0,030 m³/t cana total 0,015 0,1

Retentor de pó de açúcar 0,040 m³/t cana total 0,020 0,1

Subtotal 8,367 37,8

Fermentação

(*2) Preparo do mosto Resfriamento do Caldo 0 a 10 m³/m³etanol residual 30 m³/m³ etanol 0,100 1,250 0,5 5,6

Preparo do pé-de-cuba 0,010 m³/m³etanol 0,001 0,0

Lavagem gases CO2 1,5 a 3,6 m³/m³ etanol 0,015 0,1

Resfriamento de dornas 60 a 80 m³/m³etanol 3,000 13,6

Subtotal 4,366 19,80

Destilaria (*2) Aquecimento (vapor) 3,5 a 5 kg/m³ etanol 0,360 1,6

Resfriamento dos condensadores 80 a 120 m³/m³ etanol 3,500 15,8

Subtotal 3,860 17,40

Outros Limpeza pisos e equipamentos 0,050 m³/t cana total 0,050 0,2

Uso potável 70 L/funcionário.dia 0,030 0,1

Subtotal 0,080 0,4

Total 22,126 100

Obs. (*1) Itens que não participam do processo do etanol; (*2) os que não participam do processo de açúcar

(*3) os que participam apenas no caso de produção de energia excedente não sendo computado nas somas; (*4) recuperando-se o calor do caldo para mosto.

(51)

Segundo Pereira (2009), a mudança do modelo atual exige a adoção de tecnologias como sistemas para recuperação do vapor formado nos processos de tratamento do caldo, que podem reduzir as perdas por evaporação nas usinas com destilaria anexas em até 86,7%, bem como a lavagem a seco da cana que consegue reduzir a zero o consumo de água.

4.1.6.2.2.

Disposição da vinhaça

Já foi dito que o vinhoto ou vinhaça é um resíduo oriundo da produção do álcool nas destilarias, gerado após a fermentação do mosto e a destilação do vinho.

É apontada por especialistas como o efluente de maior carga poluidora, uma vez que é rico em potássio e matéria orgânica, razão pela qual, se lançado em corpos d’água, consome grande quantidade de oxigênio dissolvido na água, o que provoca maciça mortandade de peixes e de outros seres vivos desse habitat (PEREIRA, 2009). Também causa mau cheiro, em razão da formação de gases decorrentes da decomposição anaeróbia que podem apresentar características de toxicidade; acarreta gosto, turbidez e cor à água, agravando o problema da malária em virtude do aumento de pernilongos (LUDOVICE, 1997, p. 09).

É prática comum e bem disseminada transformar a vinhaça produzida pela indústria em adubo. Com base em estudo e tecnologia, constatou-se que a matéria orgânica, potássio, fósforo e nitrogênio contidos no efluente transformam este em adubo, podendo ser usado como substituto do adubo mineral no próprio plantio da cana-de-açúcar, técnica que é chamada de fertirrigação. O vinhoto é depositado em uma lagoa de decantação e estabilização para tratamento anaeróbio, para posterior distribuição por meio de sulcos de infiltração, aspersão por canhões hidráulicos ou por veículos (tanques). 14

Segundo Lanzotti (2000, p. 30), uma aplicação de 150 m3 de vinhaça por hectare, equivale a uma adubação de 61 kg/ha de nitrogênio, 40 kg/ha de fósforo, 343 kg/ha de potássio, 108 kg/ha de cálcio e 80 kg/ha de enxofre.

Entretanto, adverte Lelis Neto (2008, p. 14), que a vinhaça, uma vez aplicada no solo sem critérios, pode causar desequilíbrio de nutrientes e induzir a uma saturação do solo,

Imagem

FIGURA 1 - Mapa da produção de cana-de-açúcar no Brasil    Fonte ÚNICA (2010d)
FIGURA 2. Fluxograma resumido de uma usina com destilaria anexa (PIACENTE, 2005, p. 14)
Tabela 1 - Composição química do bagaço
Tabela 2- Composição química média da vinhaça de diferentes tipos de mosto (kg/m Vinhaça)
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Referências

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