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Trabalho Final de Mestrado em Engenharia Ambiental Modalidade: Dissertação
EVOLUÇÃO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS - RJ
Autora: Ligia Bernardo Machado Orientador: Adacto Benedicto Ottoni
Co-orientadora: Rosa Maria Formiga Johnsson
Centro de Tecnologia e Ciências Faculdade de Engenharia
Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente
Junho de 2009
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EVOLUÇÃO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS - RJ
Ligia Bernardo Machado Trabalho Final submetido ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Ambiental.
Aprovada por:
__________________________________________
Prof. Adacto Benedicto Ottoni, D.Sc.
PEAMB/UERJ
_________________________________________
Prof
a. Rosa Maria Formiga Johnsson, D.Sc.
PEAMB/UERJ
_________________________________________
Prof. Ubirajara Aluizio de Oliveira Mattos D.Sc.
PEAMB/UERJ
________________________________________
Prof. Dalton Marcondes Silva, D.Sc.
ENSP/FIOCRUZ
_________________________________________
Prof. Mauricio Ballesteiro Pereira, D.Sc.
IB/UFRRJ
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Junho de 2009
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MACHADO, LIGIA BERNARDO
Evolução da Degradação Ambiental da Bacia Hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas - RJ [Rio de Janeiro] 2009.
18, 178 p. 29,7 cm (FEN/UERJ, Mestrado, Programa de Pós- Graduação em Engenharia Ambiental - Área de Concentração: Saneamento Ambiental - Controle da Poluição Urbana e Industrial, 2009.)
Dissertação - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
1. Gestão de Recursos Hídricos 2. Lagoas Costeiras
3. Degradação Ambiental
I. FEN/UERJ II. Título (série)
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Resumo do Trabalho Final apresentado ao PEAMB/UERJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Ambiental.
Evolução da Degradação Ambiental da Bacia Hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas - RJ
Ligia Bernardo Machado
Junho de 2009
Orientador: Adacto Benedicto Ottoni
Co-orientadora: Rosa Maria Formiga Johnsson
Área de Concentração: Saneamento Ambiental - Controle da Poluição Urbana e Industrial
O objeto desse estudo foi a bacia hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas e
seus problemas de degradação ambiental. Trata-se de uma lagoa costeira localizada em
uma das maiores áreas urbanas do mundo, com presença de bairros de classe alta e
moradia subnormais (favelas). Apresenta alto grau de descaracterização do ecossistema,
com eventos de mortandades de peixes, aterramentos das margens em decorrência da
intensa expansão imobiliária, tendo já ocorrido extinção de espécies da flora e fauna
nativas. Foi apresentado um panorama da trajetória no tempo desta lagoa,
proporcionando uma abordagem abrangente da questão e importância funcional do
Canal da Rua General Garzón, Canal do Jardim de Alah e Canal da Avenida Visconde
de Albuquerque, enfocando impactos ambientais adversos decorrentes de fatores
antrópicos e naturais e, a partir das informações coletadas, ao final, houve a proposição
de sugestões de ações sustentáveis fundamentadas em medidas ecologicamente corretas
5
tanto para a prevenção, mitigação da degradação e controle sanitário como para a recuperação do potencial turístico.
Palavras-chave: Lagoas Costeiras, Estado do Rio de Janeiro, Eutrofização,
Antropização
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Abstract of Final Work presented to PEAMB/UERJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Environmental Engineering.
Evolution of Environmental Degradation of Watershed of Rodrigo de Freitas Lagoon - RJ
Ligia Bernardo Machado June 2009
Advisors: Adacto Benedicto Ottoni Rosa Maria Formiga Johnsson
Area: Environmental Sanitation - Urban and Industrial Pollution Control
The object of this study was the basin of Rodrigo de Freitas Lagoon and problems of environmental degradation. It is a coastal lagoon located in one of the largest urban areas of the world, with the presence of high-class neighborhoods and housing subnormal (slums). Displays high degree of adulteration of the ecosystem, with events of fish mortalities, grounding of the margins due to intense swelling property and has been extinction of species of native flora and fauna. It presented an overview of the history of the lake in time, providing a comprehensive and functional importance of the issue of Canal da Rua General Garzón, Canal do Jardim de Allah and Canal da Avenida Visconde de Albuquerque, focusing on adverse environmental impacts resulting from anthropogenic factors and natural and from the information collected at the end, there was the proposal of suggestions for actions based on sustainable eco-correct measures both for prevention, mitigation and control degradation of health and for the recovery of the tourism potential.
Keywords : Sea shore Lagoon, Rio de Janeiro State, Eutrofication, Antropization
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DEDICATÓRIA
A meu marido. A minha mãe e meu pai, irmãos, avós e avôs, tias e tios,
primas e primos, minha sobrinha, amigas e amigos. À Gaia e à cidade do
Rio de Janeiro.
8
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para que eu pudesse superar mais uma etapa na eterna busca do saber da vida.
Ao orientador D.Sc. Adacto Benedicto Ottoni, por sua dedicação e por sempre acreditar em meu potencial.
À co-orientadora D.Sc. Rosa Maria Formiga Johnsson, pela força oferecida para que o trabalho pudesse ser finalizado.
Aos ex-professores do curso de Mestrado de Engenharia Ambiental da UERJ
D.Sc. Gandhi Giordano D.Sc. João Alberto Ferreira D.Sc. Luciene Pimentel da Silva D.Sc. Olavo Barbosa Filho Aos membros externos da banca D.Sc. Dalton Marcondes Silva D.Sc. Mauricio Ballesteiro Pereira
A amiga de turma Ana Paula Nogueira Canelas.
A Msc. Cristina Grafanassi Tranjan - Escola de Belas Artes Depto. de Técnicas de Representação /UFRJ.
Clayton Alves de Oliveira - Serviço de Documentação – SERLA (atual
INEA)
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À amiga Dalila Gomes
Djavan da Silva - Serviço de Documentação – SERLA (atual INEA) Dolores Alves Fonseca - Biblioteca – FEEMA (atual INEA)
Ao amigo Felipe Gustavo Diogo Antonio, Mestre em Letras pela UFRJ na Área de História da Língua do Setor de Vernáculas pela correção de acordo com as novas normas ortográficas da língua portuguesa
Fernanda Nagem - Hidrologia – SERLA (atual INEA) Msc. Gláucia Freitas Sampaio – FEEMA (atual INEA)
Jerli de Medeiros Poulis - Biblioteca – SERLA (atual INEA)
Ao D.Sc. Júlio Domingos Nunes Fortes por elucidar dúvidas estruturais da dissertação
À minha tia Msc. Judith Bernardo Molinaro pelas leituras do texto Jurandir Nascimento de Mesquita - Biblioteca FEEMA (atual INEA)
Marcia Lopes da Costa Rodrigues – Assessoria de Gestão Ambiental CREA-RJ
Marion Baptista de Oliveira - Gestão Ambiental – SERLA (atual INEA) Renata Maria Vasconcelos Pereira - Subsecretaria de Gestão de Bacias Hidrográficas - Rio Águas Prefeitura do Rio de Janeiro
Ao irmão Rafael Miranda Machado
Sylvio Ferreira Torres - Serviço de Documentação – SERLA (atual INEA)
Thiago de Oliveira Protomartire da Silva - Gestão Ambiental - SERLA
(atual INEA)
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„‟O mais alto que pode alcançar a mente humana é uma atitude de assombro diante dos fenômenos elementares da natureza. „‟
Johann Wolfgang von Goethe
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SUMÁRIO
RESUMO 4
ABSTRACT 6
LISTA DE FIGURAS 14
LISTA DE TABELAS 16
LISTA DE SIGLAS 18
1. INTRODUÇÃO 19
2. OBJETIVOS ...21
3. MATERIAL E MÉTODOS 22
4. ÁREA DE ESTUDO 23
4.1. Bacia Hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas 23
4.1.1. Sub-bacia do rio Cabeça 26
4.1.2. Sub-bacia do rio dos Macacos 27
4.1.3. Sub-bacia do rio Rainha 27
4.2. Lagoa Rodrigo de Freitas 27
4.2.1. Características Climáticas 33
4.2.2. Qualidade da água 35
4.2.3. Processos de Modificação da Paisagem e Desenvolvimento Urbano 37
4.2.4. Parques no entorno da LRF 48
5. BIOMAS 52
5.1. Manguezal 53
5.1.1. Macrófitas 56
5.2. Mata Atlântica 60
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6. ANÁLISE AMBIENTAL DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS 66
6.1. Enfoque Holístico da Antropização da Bacia Hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas 66
6.2. Análise Genérica Sobre o Monitoramento da Qualidade de Água da Bacia Hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas
78
6.3. Estado dos Canais e Comportas 94
6.3.1. Canal da Rua Gal. Garzón 94
6.3.2. Canal do Jardim de Alah 97
6.3.3. Canal da Av. Visconde de Albuquerque 103
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES GERAIS 106
REFERÊNCIAS 111
ANEXOS 146
Anexo 1 Escala do Tempo Geológico 146
Anexo 2 Lei Orgânica da Cidade do Rio de Janeiro 147
Anexo 3 Decreto de 13 de Junho de 1808 151
Anexo 4 Legislações Parque Natural Municipal da Catacumba 157
Anexo 5 Resolução CONAMA n
o397/2008 158
Anexo 6 Resultados de amostragens do rio Cabeça 162
Anexo 7 Resultados de amostragens do rio dos Macacos 164
Anexo 8 Resultados de amostragens do rio Rainha 166
Anexo 9 Nutrientes inorgânicos dissolvidos LRF (valores máximos,
(medianos e mínimos das variáveis físico-química) 168
Anexo 10 Variação da concentração de nitrato nas quatro estações de
coleta
169
13
Anexo 11 Variação da concentração de amônia (N-NH
4+) na LRF nas
quatro estações de coleta
170
Anexo 12 Variação da concentração de ortofosfato dissolvido na LRF nas quatro estações de coleta
171
Anexo 13 Variação da concentração de nitrogênio total (NT) na LRF nas quatro estações de coleta
172
Anexo 14 Variação da concentração de fósforo total (PT) na LRF nas quatro estações de coleta
173
Anexo 15 Diagrama de variação das concentrações de coliformes fecais na LRF
174
ANEXO 16 - Diagramas de variação das concentrações de salinidade na LRF (2002 a 2004).
176
14
LISTA DE FIGURAS
Figura .1 - Limite da Bacia de Drenagem Contribuinte a LRF 24
Figura 4.2 - Bacia de Drenagem da LRF 26
Figura 4.3 - Vista da LRF 29
Figura 4.4 -: Aterros da LRF 31
Figura 4.5 - Mapa de localização da Lagoa Rodrigo de Freitas na costa brasileira e no Estado do Rio de Janeiro (modificado de Souza, 2003) 32
Figura 4.6 - Vista da paisagem da LRF 37
Figura 4.7 - Fábrica Real de Pólvora 40
Figura 4.8 - Construção do Corte de Cantagalo 43
Figura 4.9 - Construção do viaduto Augusto Frederico Schimidt, década de 1960 44
Figura 4.10 - Viaduto Augusto Frederico Schimidt 45
Figura 4.11 - Favelas na Lagoa 48
Figura 4.12 - Peter Fuss, Vista do Morro da Catacumba, 1930 49
Figura 4.13 - Favela do Morro da Catacumba 50
Figura 5.1 - Biomas Brasileiros 53
Figura 5.2 - Mangue da LRF 56
Figura 5.3 - Tipos de macrófitas 59
Figura 5.4 - Taboa 60
Figura 6.1 - Aterros da Lagoa Rodrigo de Freitas 68
15
Figura 6.2 - Batimetria da Lagoa Rodrigo de Freitas 70
Figura 6.3 - Localização dos pontos de monitoramento no rio Cabeça 80
Figura 6.4 - Localização dos pontos de monitoramento do rio dos Macacos 82
Figura 6.5 - Localização dos pontos de monitoramento no rio Rainha 85
Figura 6.6 - Localização dos pontos de monitoramento na LRF 88
Figura 6.7 - Localização dos pontos de controle nas saídas das GAPs 93
Figura 6.8 - Comporta Canal Rua Gal. Garzón 95
Figura 6.9 - Barramento ineficiente 96
Figura 6.10 - Saída de água da LRF no Clube Caiçaras 98
Figura 6.11 - Comporta do Canal do Jardim de Alah 99
Figura 6.12 - Foz do Canal do Jardim de Alah 100
Figura 6.13 - Aporte de águas pluviais no trecho em frente ao Shopping Leblon 101
Figura 6.14 - Aporte de águas pluviais no trecho em frente à Cruzada São Sebastião 102
Figura 6.15 - Aporte de águas pluviais em frente à Cruzada São Sebastião 103
Figura 6.16 - Comporta do Canal da Av. Visconde de Albuquerque 104
Figura 6.17 - Saída do Canal da Av. Visconde de Albuquerque na
Elevatória de esgoto Leblon
105
16
LISTA DE TABELAS
TABELA 4.1 - Alturas pluviométricas registradas na Estação Meteorológica do Jardim Botânico (em mm)
34
TABELA 4.2 - Médias de pluviosidade Sumaré 35
TABELA 4.3 - População residente das VI e XXVII Regiões Administrativas (R. A.) por bairro 47
TABELA 5.1 - Grupos de macrófitas quanto ao tipo de colonização 58
TABELA 5.2 - Flora da LRF 63
TABELA 5.3 - Fauna da LRF 64
TABELA 6.1 - Aterramento do espelho d‟água da LRF 69
TABELA 6.2 - Fitoplâncton LRF 73
TABELA 6.3 - Mortandade de peixes de 1944 a 2004 76
TABELA 6.4 - Coliformes fecais resultados das amostragens realizadas no rio Cabeça em 03/12/2003 79
TABELA 6.5 - Coliformes fecais resultados das amostragens no rio Cabeça realizadas em 17/06/2004 79
TABELA 6.6 - Descrição dos pontos de amostragem no rio Cabeça 81
TABELA 6.7 - Descrição dos pontos de amostragem no rio dos Macacos 83
TABELA 6.8 - Coliformes fecais resultados das amostragens realizadas no rio dos Macacos em 18/08/2004 84
TABELA 6.9 - Coliformes fecais resultados das amostragens realizadas no rio dos Macacos em 28/10/2004 84
TABELA 6.10 - Descrição dos pontos de amostragem no rio Rainha 86
17
TABELA 6.11 - Coliformes Fecais resultados da amostragem realizada
em 31/05/2005 – calha principal do rio Rainha
87
TABELA 6.12 - Coliformes Fecais resultados da amostragem realizada em 31/05/2005 – calhas secundárias (rio Rainha 2 – RN210 e rio Rainha 3 – RN310) do rio Rainha
87
TABELA 6.13 - Pontos de monitoramento na LRF 89 TABELA 6.14 - Relação dos pontos de lançamento das Galerias de
Água Pluviais (GAPs)
92
18
LISTA DE SIGLAS
LRF Lagoa Rodrigo de Freitas
BH Bacia idrográfica
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INEA Instituto Estadual do Ambiente
OD Oxigênio Dissolvido
GAPs Galerias de Água Pluviais
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1. INTRODUÇÃO
Para entender os processos de degradação da LRF é necessário realizar uma retrospectiva desde sua formação geológica e ocorrência de processos naturais e antrópicos. O planeta Terra tem cerca de 4,6 bilhões de anos, para a compreensão da evolução planetária são utilizadas ferramentas sob os pontos de vista estratigráfico e geotectônico correlacionados aos dados mundiais fundamentados em registros fossilíferos, aleomagnéticos e datações geocronológicas. O tempo geológico é dividido em unidades cronoestratigráficas denominadas éons, eras, períodos, épocas e idades (Anexo 1).
O Fanerozóico é o éon mais recente, iniciado há cerca de 542 milhões de anos e que se estende até os dias atuais. O Cenozóico tem sido uma era de resfriamento em longo prazo, com um leve aquecimento no Mioceno (a primeira época do período Neogeno), iniciada há 65,5 milhões de anos. Foi nessa era que a superfície da Terra assumiu sua forma atual, houve atividades vulcânicas e a formação das grandes cadeias montanhosas dos Andes, Alpes e Himalaia. Durante o Pleistoceno, ocorreu uma grande glaciação no hemisfério norte e uma menor no hemisfério sul. Ocorreu também o aparecimento dos mamíferos e extinção de espécies arcaicas, a evolução das espécies pastadoras e o aparecimento do
Homo heidelbergensis (o hominídeo mais antigoconhecido há cerca de 450.000 anos). O
Homo sapiens provavelmente surgiu há cercade 250.000 anos, antes do Homo neanderthalensis.
As lagoas costeiras são corpos d'água conectados parcialmente ou totalmente
isoladas do oceano, formadas durante as oscilações do nível do mar em função das
modificações climáticas mundiais nas épocas glaciais e inter-glaciais durante o
Holoceno e da formação das restingas arenosas através dos processos marinhos. São
efêmeras na escala de tempo geológico caracterizadas como áreas de rápida acumulação
de sedimentos de granulometria fina, ricas em materiais orgânicos de origem autóctone
(nativo) e alóctone (exótico), em razão da minimização de fontes de energia como
marés, ondas e correntes que possuem pequena taxa de renovação de águas, com longo
tempo de residência. Sua existência depende, principalmente, das flutuações do nível do
mar e da interferência humana. A ligação com o mar é feita através de canais ou barras e
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a quantidade e tamanho são determinados pela quantidade de água que flui em determinado intervalo de tempo, onde o volume dessa água é controlado pela variação das marés e descarga de águas introduzida pelos rios tributários. Podem ser geomorfologicamente classificadas pelas características dos canais que as conectam com o oceano (KJERFVE e MAGILL, 1989), podendo ser lagunas sufocadas; restritas ou abertas.
No Cenozóico, principalmente, durante o Neogeno as oscilações climáticas e variações do nível do mar originaram a forma do litoral do Rio de Janeiro. A origem e evolução da LRF também estão associadas a vários eventos de oscilação do nível médio dos oceanos ocorridos durante o Cenozóico, a formação ocorreu a partir do fechamento de uma enseada primitiva pelo cordão litorâneo (restingas de Ipanema e Leblon), num processo de deposição de sedimentos de fina granulometria, ricos em matéria orgânica e sedimentos carreados das encostas dos maciços da Tijuca pelos pequenos riachos que drenam a região até a antiga enseada.
No Estado do Rio de Janeiro, as lagoas costeiras são importantes ecossistemas costeiros, localizadas entre áreas urbanizadas da costa e o oceano aberto. Vários estudos enfocando o sedimento, a água, a comunidade zooplanctônica e comunidades bacterianas demonstraram a extensão da influência antrópica sobre estes ecossistemas aquáticos e a eutrofização da LRF ou disponibilidade de nutrientes que favorece o crescimento acentuado de algas e cianobactérias. Esses estudos serviram de base para a compilação deste trabalho, partindo da formação geológica deste tipo de acidente geográfico, passando por características climáticas, qualidade da água, um histórico de modificação ecológica de sua paisagem e desenvolvimento urbano, e características de composição de seu bioma, culminando numa análise ambiental da BH da LRF, e a partir desta análise concluir com a proposição de sugestões de ações sustentáveis.
Apesar da bacia hidrográfica (BH) da Lagoa Rodrigo de Freitas (LRF) possuir
extensa literatura, esta dissertação se propõe a reconstituir, de forma abrangente e
sistêmica, com uma extensa pesquisa que culminou numa compilação única, fornecendo
respostas quanto ao grau responsabilidade da sociedade na deterioração ecossistêmica
da bacia de drenagem estudada, servindo de suporte para estudos posteriores e na
escolha de melhores intervenções.
21
2. OBJETIVOS
Esta dissertação tem por objetivo geral a reconstituição do processo de degradação ambiental da bacia hidrográfica (BH) da Lagoa Rodrigo de Freiras (LRF), na cidade do Rio de Janeiro, em termos geológicos, evolutivo e ecológicos. Como objetivo específico de análise de degradação ambiental, foram trabalhadas a avaliação da evolução histórica de ocupação, intervenções realizadas na bacia de drenagem e um diagnóstico de monitoramento para proposição de mitigações via sugestões de ações sustentáveis a partir da avaliação ambiental.
A dissertação é composta por sete capítulos, incluindo conclusões e sugestões de
ações sustentáveis, bibliografia e anexos. O primeiro capítulo constitui a parte
introdutória da dissertação; no Capítulo 2 objetivos geral e específico e organização do
trabalho; no Capítulo 3, a descrição de materiais e métodos utilizados para a compilação
do trabalho; no Capítulo 3, a descrição da área de estudo, partindo da bacia hidrográfica
(BH) da Lagoa Rodrigo de Freitas (LRF) e suas sub-bacias, passando pela descrição da
referida lagoa, características climáticas, qualidade da água e um histórico de uso e
ocupação do solo, bem como das atividades desenvolvidas na localidade abordadas no
item 4.2.3. Processos de Modificação da Paisagem e Desenvolvimento Urbano; no
Capítulo 5, a descrição dos biomas presentes na área de estudo; no Capítulo 6, a análise
ambiental demonstrando um panorama mais atual do estado de degradação antrópica da
BH da LRF, incluindo o estado da qualidade das águas de seus rios, canais de drenagem
e da própria LRF. Na última parte da dissertação, no Capítulo 7, a conclusão dos
estudos junto às proposições de sugestões de ações sustentáveis.
22
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos, livros, acessos à internet, além de análise de dados requisitados diretamente à SERLA (atual INEA) e FEEMA (atual INEA). O conteúdo desses artigos científicos, livros, acessos à internet e dados foi analisado através de uma leitura crítica, tendo-se procurado separar os conteúdos consistentes, pela comparação das informações. O material estudado visou fornecer, por meio de um panorama da degradação tanto natural quanto antrópica, base para descrever seus aspectos naturais, geológicos, ambientais, evolutivos e ecológicos e seus consequentes impactos.
Foram retiradas fotos dos canais de drenagem e da própria Lagoa Rodrigo de Freitas. Usou-se uma foto retirada do Google Earth da BH da LRF que foi sobreposta, redimensionada e translúcida a uma figura de três aterramentos ocorridos no espelho d‟água da LRF com a utilização do programa Photoshop.
Dessa forma procurou-se estabelecer um histórico da área da BH da LRF,
focalizando os eventos importantes e relacionando-os à degradação do ambiente natural.
23
4. ÁREA DE ESTUDO
4.1. Bacia Hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas
A bacia hidrográfica (BH) da LRF (Figura 4.1) está localizada da zona sul do
município do Rio de Janeiro, formada pelas sub-bacias dos rios Cabeça, Macacos e
Rainha e pelas praias de Ipanema e Leblon. É uma pequena bacia drenante, com uma
área de cerca de 23,5 Km2, que pode ser dividida em dois compartimentos
geomorfológicos distintos: o Maciço Costeiro, composto de encostas que são drenadas
pelos rios do Maciço da Tijuca, e a Planície Costeira que abrange a área que vai do sopé
das encostas do maciço até o mar. Drena as águas da vertente sudeste da Serra da
Carioca, no maciço da Tijuca, limitando-se ao Norte com a Serra Carioca e ao Sul com
o Oceano Atlântico. Os divisores de águas que limitam a área da bacia vão desde a praia
do Arpoador, passando pelos cumes dos morros dos Cabritos e Saudade, chegando até
os morros do Corcovado, Alto Sumaré, Pico Carioca, Morro do Queimado, Mesa do
Imperador, Morro Dois Irmãos, Alto Leblon e retornando até a praia do Leblon.
24 Figura 3.1 - Limite da Bacia de Drenagem Contribuinte a LRF.
Figura 4.1 - Limite da Bacia de Drenagem Contribuinte a LRF Fonte: Ambiental, 2001.
A bacia de drenagem abrange os bairros de Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico e Gávea. Vizinha ao Maciço da Tijuca, em sua vertente sul, junto a Serra da Carioca (Figura 4.2). Essa BH encontra-se emoldurada pela presença de diversas áreas institucionais de preservação ambiental que lhe atribuem beleza singular, ainda que muitas dessas áreas sejam ameaçadas pela expansão urbana. Nas partes mais altas, os mananciais encontram-se protegidos pela existência do Parque Nacional da Tijuca, o que não acontece em relação aos pontos localizados em cotas mais baixas, cujo desmatamento foi provocado pelo aumento do volume de construções de ocupação, tanto subnormais (favelas) como de elevado padrão. O processo de desflorestamento é agravado pela existência do capim colonião, que favorece a ocorrência periódica de incêndios. O controle de uso e ocupação das encostas reflete nas partes mais planas da bacia, sobretudo sob a forma de assoreamento do sistema de drenagem, da BH da LRF.
A rede de drenagem da LRF foi modificada através da retificação dos rios e canais,
alterando a área de contribuição da bacia drenante que primeiro causou a diminuição da
25
quantidade de sedimentos que chegava à LRF. No entanto, à medida que a densidade urbana foi aumentando o despejo de esgoto e lixo se tornou comum e a qualidade dos sedimentos e águas que chegavam à Lagoa também mudou (AMBIENTAL, 2002). Os rios dos Macacos e Cabeça desembocam na LRF através de um único canal, o Canal das Tábuas nas proximidades da ilha do Piraquê (que é o nome indígena para entrada de peixes), através do canal da Rua General Garzón. O rio Rainha teve seu curso desviado para o canal da Av. Visconde de Albuquerque, que deságua, em tempos de chuva intensa no extremo oeste da praia do Leblon. Em períodos de tempo seco, a comporta fica fechada, sendo o volume d‟água bombeado para o emissário de Ipanema (LOUREIRO et. al, 2006). Com a finalidade de impedir maior comprometimento na qualidade das águas da LRF, grande parte das águas escoadas pelos rios Cabeça, Macacos e Rainha são desviados pelos canais da Av. Lineu de Paula Machado, da Rua Gal. Garzón e o do Jockey Clube, que tem como ponto de deságue o Canal da Av.
Visconde de Albuquerque que desemboca no mar no bairro do Leblon. Há uma
comporta que permite o extravasamento dos rios Cabeça e Macacos para a LRF pelo
canal da Rua Gal. Garzón, quando há ocorrência de alta pluviosidade, podendo originar
episódios de cheias. O Parque Nacional da Tijuca, o Jardim Botânico e o Parque da
Cidade compõem as três áreas de conservação ambiental inseridas na região e ocupam
parte das sub-bacias dos rios Cabeça, Macacos e Rainha. Há uma característica básica
das sub-bacias, a divisão em dois trechos bastante distintos, um trecho inicial que possui
declividade bastante acentuada com ampla cobertura vegetal e trecho final com
pequenas declividades e solo densamente urbanizado e ocupado, com a sub-bacia
costeira apresentando características semelhantes ao segmento final dos rios. (FEEMA,
2006).
26
Figura 4.2 - Bacia de Drenagem da LRF.
Fonte: Daniel Dias Loureiro, 2006.
4.1.1. Sub-bacia do Rio Cabeça
Possui uma área de drenagem de cerca de 1,9km2, essa parte da área do Jardim
Botânico nasce nos contrafortes do morro do Corcovado em cotas de 520m, dentro do
Parque Nacional da Tijuca e deságua no canal da Av. Lineu de Paula Machado que
desemboca no rio dos Macacos, no trecho da Rua Gal. Garzón.
27
4.1.2. Sub-bacia do Rio dos Macacos
Nasce nos contrafortes dos morros dos Queimados e Sumaré, em cotas perto 520m na área do Parque Nacional da Tijuca. O rio dos Macacos é formado pelos ribeiros tributários Algodão, Caixa-d‟Água, Cachoeira, Andaraí e Lagoinha, possui área de drenagem de cerca de 7,2km2 e drena os bairros do Alto da Boa Vista e Jardim Botânico. Em seu trecho final, há um desvio do rio dos Macacos para uma comporta na Rua Gal. Garzón para o Canal do Jockey e deste ponto até o mar.
4.1.3. Sub-bacia do Rio Rainha
Nasce na encosta Sul da Serra da Carioca com cotas de 680m, sua área de drenagem é de quase 4,3km2, drena o bairro da Gávea e deságua diretamente no Canal da Av. Visconde de Albuquerque, sendo seu destino final controlado por um sistema de comporta (ativada manual ou automaticamente, restabelecendo o fluxo anterior ao período de enchente, até o mar) e recalque, permitindo direcionar o escoamento dos efluentes desse corpo d‟água em tempo seco para o sistema de escoamento de esgoto sanitário da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e, daí, para o emissário submarino de Ipanema. Esta é a sub-bacia que apresenta o pior estado de desflorestamento, com vegetação bastante fragmentada pela malha urbana, com ocupação composta por condomínios de alto luxo e ocupações subnormais. Recebe esgotos domésticos in natura provenientes da favela da Rocinha.
4.2. Lagoa Rodrigo de Freitas
As lagoas costeiras são corpos de águas continentais separadas do oceano por
uma barreira natural, conectadas a uma ou mais enseadas restritas que estão abertas
intermitentemente, em geral não apresentam grandes profundidades, com elevada
produtividade primária e florações planctônicas características que apresentam variação
28
de salinidade com dependência de balanço hidrológico. São consideradas ecossistemas de transição muito sensíveis que sofrem diretamente com as atividades humanas. Nota- se que o processo de transição ocorre naturalmente ao longo de eras geológicas. São áreas com uma velocidade alta de acumulação de sedimentos e geralmente contém grande quantidade de matéria orgânica tanto de origem autóctone, resultado da decomposição local de organismos presentes no ambiente, como de origem alóctone, sedimentos provenientes da drenagem pluvial (ODUM, 2001) e, no caso da LRF, principalmente, do lançamento de efluentes domésticos sem tratamento.
De acordo com a classificação de Kjerfve (1986), a LRF é categorizada como
lagoa sufocada (Figura 4.3) por possuir uma única ligação estreita com o oceano,
dissipando a força da maré dentro do canal do Jardim de Alah, que resulta num longo
período de residência de água e escassa troca de água com o mar, sendo sua dinâmica
determinada basicamente pelos ventos, alto potencial de acumulação de sedimentos e
acelerando processo de eutrofização. Uma lagoa é considerada estável do ponto de vista
ecológico quando há entrada adequada de luz solar, ritmo adequado na afluência de
água e materiais provenientes da bacia de drenagem. (ODUM, 2001).
29
Figura 4.3 - Vista da LRF
Fonte:
http://www.globoonliners.com.br/upload/escritofoto/27285_im_grande.jpg
A figura 4.3 mostra a LRF em época anterior a sua urbanização. Nela já se notam algumas residências com aspecto rural e o Canal da Barra da Lagoa (atual Jardim de Alah) com sua dimensão original, muito mais largo e menos extenso, bem diferente do que podemos observar atualmente.
A LRF originalmente era uma bacia aberta ao oceano que sofreu intempéries e a
erosão das rochas da Serra do Corcovado propiciaram a lenta formação de um cordão de
areia que foi carreado pelo mar e levado pelas correntes originando uma restinga que se
entendia da ponta do Arpoador ao Vidigal, compreendendo os bairros de Ipanema e
Leblon. Sua característica principal é estar ligada ao mar por fluxo e refluxo de águas,
funcionando como receptora natural de sub-bacias fluviais. Sua água é salobra, sendo
influenciada pela maré (água salgada) e pelas contribuições de águas fluviais e pluviais
(água doce). O resultado da mistura de águas doce e salgada determina o grau de
salinidade da água, que pode ser o fator determinante para o estabelecimento ou não de
muitas espécies de animais e vegetais (RANGEL, 2002). Considerada um corpo
30
aquático continental salobro em meio urbano, apresentando em seu entorno aspectos peculiares quanto à questão de circulação das águas e saneamento. Foi classificada pelo naturalista inglês Charles Robert Darwin (1832) durante sua passagem pelo Brasil como uma laguna de água salgada, com um teor de salinidade pouco menor do que o da água do mar.
No Estado do Rio de Janeiro, existiam originalmente mais de 300 lagunas
costeiras (AMADOR, 1997). O processo de urbanização da cidade do Rio de Janeiro
modificou por completo as características da LRF, os sucessivos aterros que se deram às
margens diminuíram cerca de 1/3 a área ocupada pelo espelho d‟água, para dar lugar às
novas construções para ocupação humana (Figura 4.4). Localizada em área de
assentamento urbano consolidado, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, entre as
latitudes 22º57‟02‟‟ e 22º58‟09‟‟ Sul e as longitudes 043º11‟‟09‟‟ e 043º13‟03‟‟ W
(Figura 4.5), apresenta uma superfície de 2,4 km2, seu perímetro é de e 7,8km e seu
diâmetro é de 3 km em sua maior largura, possui um espelho d‟água de 2,2km2, com
volume de cerca de 6.200.000m3, profundidade média da ordem de 2,8m e máxima em
torno de 4,0m. O canal do Jardim de Alah é sua ligação com o mar, possui cota de
fundo de 0,70m, 800m de comprimento e entre 10 e 18 metros de largura, tem a
finalidade de promover a renovação das águas da lagoa, além de servir de extravasor
nos períodos de chuvas mais intensas (FEEMA, 2006). Com o avanço da taxa de
impermeabilização do solo (Figura 4.4), apresenta escoamento superficial acelerado,
ocasionando o aumentando do volume das águas pluviais a ser drenado, aumentando os
riscos de enchentes, agravadas pelo ineficiente sistema de micro e macrodrenagem e o
assoreamento de canais de escoamento, motivo pelo qual, já não apresenta muita
semelhança com o ecossistema original.
31
Figura 4.4 - Aterros da LRF.
Fonte: http://www.barlagoa.com.br/imagens/aterros.gif
32
Figura 4.5 - Mapa de localização da Lagoa Rodrigo de Freitas na costa brasileira e no Estado do Rio de Janeiro (modificado de Souza, 2003).
Fonte: MAGINA, Fernanda C. & SILVA E SILVA, Loreine Hermida da, 2008.
O fundo da LRF é recoberto por uma camada espessa e irregular de sedimento,
principalmente, de granulometria de areia média, de 30% a 80% e areia fina com 7% a
30%. Associados aos sedimentos são encontrados fragmentos de moluscos,
diatomáceas, foraminíferos, celenterados, poríferos, artrópodes e biozoários tipicamente
do Holoceno (BRITO e LEMOS, 1982). Como as águas do fundo da LRF são total ou
parcialmente estagnadas e esta é explicável pela geologia, que igualmente explica a
origem da própria LRF, resultante de um processo de barragens devidas à justaposição
33
de sucessivas restingas, o sedimento é composto por uma vaza muito fina onde são retidos metais pesados e gases tóxicos. A vasa (lodo) de coloração cinza escura é formada por material vegetal que prolifera na LRF, e material orgânico em decomposição procedente de esgotos, esse material se acumula no fundo devido ao efeito da floculação e da gravidade em momentos de marés cheias. O gás sulfídrico (H
2S) proveniente do lodo, quando na superfície da LRF, gera o odor fétido, sulfuroso e falta de oxigenação das águas superficiais, fato que dificulta a respiração dos peixes e tem potencial de provocar mortandades. A formação de vasa negra no substrato é um fenômeno natural, pois suas águas são relativamente plácidas e recebem há muito tempo o afluxo de detritos inorgânicos, proveniente dos ecossistemas aquáticos e terrestres. A LRF possui uma complexidade de renovação de suas águas e de incorporação de substâncias alóctones, intensificadas devido a sua localização e ao seu papel de bacia sedimentar. Processos que alteraram seu contorno original foram realizados via aterros marginais que visaram à exploração do mercado imobiliário. A consequência dessas ações provocou redução da circulação e da renovação de suas águas, diminuição do volume d‟água, do espelho e da profundidade, que podem ter modificações na estrutura da comunidade de peixes. Já em meados do século XIX, principiaram-se os estudos para o saneamento da LRF, que continham projetos para a manutenção de uma comunicação permanente com o mar via um canal com comporta e abrigado por um quebra mar. Em 1922, foi realizada uma intervenção de engenharia hidráulica, o Canal do Jardim de Alah, onde foi instalada uma draga para abrir e aprofundar a barra para a circulação de água salgada e escoar a vazão das águas pluviais para o mar em períodos de precipitação elevada. Após essa interferência criaram-se os terrenos do Jockey Clube Brasileiro, da Ilha Caiçaras, da Praia do Pinto e da Ilha do Piraquê.
4.2.1. Características Climáticas
A região do Maciço da Tijuca e da Serra da Carioca possui clima tropical úmido,
com temperatura média anual de 22ºC. A LRF está localizada numa região plana, de
clima mais ameno por ficar situada entre o mar e as encostas. Proporciona temperaturas
inferiores a 22,7ºC e umidade acima dos 78%, caracterizando-se como um território que
tem clima tropical chuvoso com pequena estação seca. Por intermédio de pluviômetros
34
ou pluviógrafos instalados na região, podemos saber as medidas pluviométricas (Tabelas 4.1 e 4.2) que são acumuladas sobre uma superfície plana. Tais registros nos pluviômetros são periódicos, geralmente em intervalos de vinte e quatro horas, enquanto nos pluviógrafos os registros são constantes, permitindo o estudo da relação intensidade/duração/frequência (VILELA, 1975).
Tabela 4.1 - Alturas pluviométricas registradas na Estação Meteorológica do Jardim Botânico (em mm).
1997 1998 1999 2000 2001 2002 Média
JAN 188,50 302,80 178,50 131,30 050,00 054,20 150,88 FEV 29,60 255,80 55,00 101,70 39,40 164,20 107,62 MAR 78,60 162,50 157,00 41,80 87,40 44,60 95,32
ABR 56,30 72,80 35,80 23,70 46,40 18,80 42,30
MAI 49,00 158,90 41,40 28,40 119,60 148,80 91,02 JUN 40,80 94,90 72,96 29,90 81,60 117,60 72,96 JUL 38,10 54,30 124,00 42,90 173,00 38,00 78,38
AGO 104,90 43,70 76,90 54,70 7,60 21,80 51,60
SET 103,80 196,80 85,10 200,00 69,40 194,20 141,55 OUT 89,50 241,70 128,10 52,40 75,20 54,80 106,95 NOV 78,60 107,50 111,30 94,20 81,40 250,40 120,57 DEZ 87,90 251,30 93,10 249,00 274,80 179,40 189,25 ANO 945,60 1.943,00 1.159,16 1.050,00 1.105,80 1.286,80 1.248,39
Fonte: GEORIO, 2003.
35
Tabela 4.2 - Médias de pluviosidade Sumaré.
1997 1998 1999 2000 2001 2002 Média
JAN 221,00 377,70 148,20 137,20 87,00 92,00 168,42
FEV 45,00 401,50 50,70 139,20 49,20 165,60 141,87
MAR 99,20 290,00 241,30 135,70 99,60 64,60 155,07
ABR 133,50 211,70 167,50 51,50 55,60 64,60 114,07
MAI 135,00 222,90 73,30 60,40 192,60 182,20 144,40
JUN 38,70 81,20 335,20 30,90 143,60 135,60 127,53
JUL 78,90 192,90 288,00 72,70 259,60 69,60 145,28
AGO 85,60 123,50 152,70 191,90 7,80 36,00 99,58
SET 253,00 484,20 203,10 463,60 136,20 244,20 297,38
OUT 174,70 468,50 415,90 108,60 96,60 138,80 233,85
NOV 222,90 281,60 188,80 126,40 146,20 344,80 218,45
DEZ 126,10 395,60 89,20 257,60 418,60 544,00 305,18
ANO 1.613,60 3.441,30 2.353,80 1.775,70 1.692,60 2.082,00 2.151,09
Fonte: GEORIO, 2003.
Os registros dos níveis pluviométricos das Estações Jardim Botânico e Sumaré são dados que demonstram que a melhor distribuição das precipitações ocorre na Estação do Sumaré. A diferença percebida entre as medidas das precipitações das Estações explica-se pela diferença de altitude entre os dois pontos em questão.
4.2.2. Qualidade da Água
A qualidade da água da LRF sempre foi motivo de preocupação e discussão,
pois desde o princípio da ocupação urbana de seu entorno comentava-se sobre a
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ocorrência dos fenômenos naturais de águas fétidas provenientes da exalação de gases nocivos e mortandade de peixes. Esses eventos motivaram a realização de intervenções, onde diversos projetos foram apresentados visando à melhoria da qualidade das águas, tanto em tentativas de transformá-la em ambiente marinho quanto de água doce.
Na década de 1920, foram executadas intervenções por solicitação e intermédio da então Prefeitura do Distrito Federal, época marcada por intensas intervenções efetuadas no urbanismo da cidade pelo Prefeito Francisco Pereira Passos, a denominada Reforma Passos, que marca uma mudança da postura do Estado, adotando uma ação direta de intervenção no urbanismo em detrimento da ação indireta. Durante essas intervenções, o engenheiro sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito buscou resolver os problemas de inundação e renovação das águas, resultando na abertura dos canais de ligação com o mar do Canal da Barra (atual Canal do Jardim de Alah) e do Canal da Av. Visconde de Albuquerque.
Para diagnóstico da qualidade da água da LRF são analisados os parâmetros de temperatura, salinidade, pH, turbidez, oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), material particulado em suspensão, nitrogênio (Anexo 13), fósforo (Anexo 14) e amônia (Anexo 11), e emitidos relatórios de monitoramento e medições realizados pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Anexos 6, 7 e 8).
Fenômenos naturais e intervenções antrópicas ocorrem na LRF tornando
complexa a aplicação de soluções sustentáveis através de ações diversificadas e
interdisciplinares para a melhoria da qualidade ambiental. O mau funcionamento do
sistema de esgotamento sanitário com constantes extravasamentos de esgotos
adicionados a várias contribuições impróprias de águas pluviais (que carreiam
sedimentos) são responsáveis pela baixa qualidade das águas da LRF. A noção de
poluição deve estar associada ao uso que se faz da água (BRAGA, 2002). E de acordo
com a Resolução nº 357, de 17.03.2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), que classifica as águas brasileiras, as águas da LRF são salobras, com
salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30 ‰ (30 por 1000). Em fevereiro de 2000, um
evento de mortandade de peixes fez com que a Assembléia Legislativa e Câmara de
Vereadores do Rio de Janeiro desse prosseguimento à convocação do Ministério
Público Estadual, que originou a Resolução CECA/CLF Nº 3914, de 11.07.2000, que
37
em seu Art. 1º, determina que a CEDAE apresente relatórios anuais de Auditoria Ambiental no Sistema de Esgotamento da Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro, incluso a BH da LRF.
4.2.3. Processos de Modificação da Paisagem e Desenvolvimento Urbano
A área da LRF compreendia toda a região da Lagoa e Copacabana (Figura 4.6) e era habitada pelos índios Tamoios. Suas terras abrangiam onde hoje estão localizados os bairros de Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Humaitá, Jardim Botânico e Gávea. A laguna era denominada pelos índios de Capôpenypau (local de raízes chatas, por causa da aparência das macrófitas do local), Piraguá (água parada) e Ipanema que significava lagoa pútrida (I - água, líquido; Penema - ruim, mau, imprestável) e as terras do entorno de Sacopenapã (topônimo resultante provavelmente duma aliteração da contração dos vocábulos de origem tupi socó-apê-nupã, que significa caminho batido de socós - o socó ave pernalta da família dos ardeídeos, abundante nas restingas do Rio de Janeiro, que se alimenta de peixes, de preferência mortos e têm como habitat terrenos alagadiços, rios, igapós e lagoas aonde encontram meio favorável para sua sobrevivência).
Figura 4.6 - Vista da paisagem da LRF.
Fonte: http://www.jbrj.gov.br/pesquisa/historia/original/foto0040original.jpg
38
Estudos históricos indicam que a cidade do Rio de Janeiro começou a se desenvolver, por volta de 1567, 1568 quando o Governador Geral do Brasil Mem de Sá transferiu a cidade da Praia Vermelha para as áreas de várzea localizadas no entorno do Morro do Castelo, para facilitar o desenvolvimento das atividades de agricultura e pecuária. A ocupação desenvolveu-se na planície entre as várias lagoas e pântanos que havia no Rio Antigo, resultando na sobrevivência das lagunas de Jacarepaguá, Camorim, Marapendi e Rodrigo de Freitas. Sacopenapã pertencia aos descendentes de Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro. Na parte menos alagada do entorno da LRF plantava-se cana-de-açúcar, a principal riqueza do Rio de Janeiro que ocasionou a formação do Engenho Nossa Senhora da Conceição.
No século do descobrimento, a LRF se ligava com o mar por meio de um amplo canal, com cerca de 100 m de comprimento e 200m de largura separando as praias de Ipanema e Leblon. Com o passar dos anos esta largura foi se estreitando, chegando ao início do século XIX com cerca de 40m, possui variação atual de 10m a 18m.
Entre 1574 e 1577 o então governador do Rio de Janeiro, Antônio Salema, jurista formado em Coimbra, descobriu em seu mandato uma lei editada pela Metrópole isentando de impostos por dez anos quem erguesse engenhos de cana-de-açúcar no Brasil, decidiu então eliminar os índios Tamoios das aldeias da Lagoa, Ipanema e Leblon (aldeia tamoia Kariané no Leblon) e erguer o Engenho d'El Rey às margens da lagoa. Para atingir seus objetivos, determinou que fossem espalhadas roupas contaminadas com varíola às margens da lagoa, os índios as manusearam e em pouco tempo pereceram. Esse acontecimento representa a primeira guerra biológica do Brasil.
O então deficitário engenho foi vendido a Diogo de Amorim Soares, e mais tarde transferido para Sebastião Fagundes Varela. No início do seiscentismo (1602-1607 e 1623-1632) Martin Correia de Sá, governa a Cidade por dois mandatos, reforma e amplia o Engenho d'El Rey, e edifica uma capela em tributo a Nossa Senhora da Cabeça, (nome do rio que nasce em um talude do vizinho morro do Corcovado).
Também no século XVII, a extensa região foi decomposta nos engenhos Nossa Senhora
da Cabeça e Nossa Senhora da Conceição da Lagoa. Em 1611, Sebastião Fagundes
passa para Rodrigo de Freitas Mello e Castro, seu genro, o Engenho de Nossa Senhora
da Conceição da Lagoa, cujos herdeiros mantêm durante mais dois séculos a posse da
propriedade até o começo do século XIX constituindo o primeiro pólo de
39
desenvolvimento da região, o Engenho da Fazenda dos Rodrigo de Freitas. O processo de ocupação das terras da bacia da LRF prosseguiu durante o século XVIII. No início do século, quem subia ao alto da serra da Gávea, como na gávea do mastro principal de um navio, via a Rua Marquês de São Vicente em terra batida e a lagoa bem em frente, onde existiam pequenas ilhotas formando um alagadiço, criado pelos riachos que desciam a encosta e ali desaguavam. A Rua Jardim Botânico beirava a lagoa até a desembocadura do rio Cabeça (CAMÕES, 1994).
Com a vinda da Família Real para o Rio de Janeiro em 1808, ocorre impulso no
desenvolvimento e urbanização da cidade. D. João VI desapropria parte das terras do
engenho do Sr Rodrigo de Freitas (Anexo 3) e estabelece ali a Fábrica Real de Pólvora
(Figura 4.7) e oficinas de peças de artilharia, concomitante a um jardim para plantas. A
Real Fábrica de Pólvora desempenhou função de importância vital para a segurança do
Império do Brasil, sendo responsável pela produção e abastecimento de explosivo de
todo o mercado brasileiro. A Casa dos Pilões era uma das unidades de produção da Real
Fábrica de Pólvora da LRF, a etapa mais perigosa do processo de produção do
explosivo, a compactação da pólvora era desempenhada na Oficina do Moinho dos
Pilões. Em 1831, ocorre uma explosão e posteriormente, a edificação passou por várias
reformas e serviu de residência e laboratório ao botânico Dr. João Geraldo. Em seguida,
no terreno ocupado pela Real Fábrica de Pólvora, o rei D. João VI alojou um jardim
para aclimatação de plantas exóticas, que deu origem ao Real Jardim Botânico, com
intuito de introduzir novas espécies, o plantio de madeiras empregáveis na construção
naval e o melhoramento das pastagens. Parte das ruínas da Real Fábrica de Pólvora foi
preservada como preciosidade histórica. Na época de D. João VI, sua carruagem real
parava na Fonte da Saudade, próximo à antiga Praia da Piaçava na orla da LRF e seguia
até o Jardim Botânico. D. João também costumava pegar uma canoa para ir até o seu
horto.
40
Figura 4.7 - Fábrica Real de Pólvora.
Fonte: http://www.jbrj.gov.br/pesquisa/historia/original/foto0032original.jpg
41
Em 1871 chegam os trilhos do bonde, de tração animal, posteriormente substituídos por elétricos, em 1902. É possível que desde o século XIX cerca de 1,5 milhões de m2 da superfície da LRF tenham desaparecido mesmo que parte desta área apresentasse pouca profundidade e se associasse ao espelho d‟água apenas nas cheias, do contrário, tornavam-se pântanos e alagadiços. Durante o transcorrer do século XIX, ocorre a ocupação do entorno do Jardim Botânico a partir de Botafogo e Gávea. No término do século, principia-se a ocupação da área por indústrias devido ao aproveitando do potencial da força hidráulica local e construção de suas respectivas vilas operárias. Próximas ao Parque Lage, foram erguidas as Fábricas de Tecidos Corcovado e Carioca, a Fábrica de Chapéus Braga Costa e o laboratório do médico Oswaldo Cruz, fato que transforma os bairros da Gávea e do Jardim Botânico em uma das terras mais industrializadas do Rio de Janeiro, no extremo do século XIX. São implantados os primeiros sistemas de esgotamento sanitário da cidade via contrato de concessão realizado pelo Governo Imperial, principiando com projetos de divisão da cidade em distritos, com o intuito de proporcionar áreas urbanas mais povoadas de forma autônoma.
Desde a fundação da cidade do Rio de Janeiro (século XVI), a LRF apresentava problemas de insalubridade e frequentes inundações em seu entorno, em 1919 várias autoridades verificaram que as águas da lagoa deveriam ser totalmente doces, sendo construída então uma ponte sobre a barra da LRF, transformada num vertedouro que permitia apenas a saída de água após grandes chuvas, em consequência dessa ação foi o alagamento das margens da LRF e grande crescimento de taboas (Typha domingensis, Figura 5.4), gerando proliferação de mosquitos da malária, por isso, o vertedouro precisou ser destruído.
A partir da urbanização do prefeito e engenheiro Pereira Passos, obras de
envergadura estendem-se além do Centro e da Avenida Beira–Mar, estimulando-se a
ocupação de novas áreas. E também em 1919, o prefeito e engenheiro Paulo de Frontin
fechou a ligação de água do mar com a lagoa, suas margens ficaram alagadas com
dispersão de taboa, aumentando assim a proliferação de insetos gerando focos de
doenças. Após seis meses do término da administração de Paulo de Frontin, o prefeito
Carlos Sampaio (1920-1922) reabriu essa ligação.
42
Em 1920, por empreendimento de Carlos Sampaio houve a construção e inauguração da Av. Epitácio Pessoa que cerca a LRF no sentido de Ipanema, proporcionando dimensões consideradas significativas para a época. Em 1921, a Prefeitura do então Distrito Federal encomendou ao engenheiro sanitarista Saturnino de Brito um projeto para solucionar as inundações da região. Foram realizadas obras de aterramento na parte alagadiça e pantanosa estabelecida entre o Jardim Botânico e a Lagoa.
No início do século XX, ocorre o loteamento do Leblon, desenvolvimento do Jardim Botânico via aterramentos realizados em direção ao Vale dos Macacos e ao talude do Corcovado, a instalação do Jockey Clube ao final da Rua Jardim Botânico, em terreno contíguo aos alagadiços, e em 1922 foi inaugurado o Hipódromo da Gávea. O saneamento na orla da LRF resultou na concepção do sistema de renovação das águas através da construção de dois canais de comunicação da LRF com o mar, o Canal da Barra (atual Canal do Jardim de Alah) e Canal da Av. Visconde de Albuquerque.
Também no ano de 1922, foi concluída a construção do Canal da Barra que ligava a
LRF ao mar e apresentava 100 m de extensão. A água salgada carreada pelo fluxo das
marés atravessava o canal de forma turbulenta, se alastrava no fundo da LRF
proporcionando renovação permanente das camadas mais profundas de suas águas, e
impedindo sua estagnação. Em 1938, acontece a abertura do Corte de Cantagalo (Figura
4.8). Com a expansão da Cidade na década de 1940, a fábrica da Companhia de Fiação
e Tecidos Corcovado encerra suas atividades. As chácaras são loteadas, surgindo nas
áreas do entorno da LRF, principalmente na orla do Jardim Botânico núcleos
residenciais, terrenos inicialmente ostentados por mansões, que em seguida são
ocupados por edifícios de apartamentos de alto luxo. Em 1942, o prefeito Henrique
Dodsworth, inaugurou o Canal do Jardim de Alah, estabelecendo uma expansão do
Canal da Barra (Canal do Jardim de Alah) aterrando áreas ocupadas pela LRF para
ampliá-lo para a extensão de 800 m e ajardinamento das laterais. Em consequência do
processo de ocupação e intervenções nas terras da bacia da LRF, começa uma nova
sucessão de ocorrência de mortandade de peixes. Devido a sua extensão, o canal passou
a ser constantemente dragado, pois a energia recebida das ondas do mar era dissipada
antes de atingir a LRF. O material retirado do canal era utilizado para aterrar as margens
baixas e pantanosas, resultando com isso nas ilhas artificiais dos Caiçaras e Piraquê
(PEREIRA, 1987). A primeira metade do século XX foi marcada por amplas
43
modificações urbanas no entorno da LRF (Figuras 4.9 e 4.10) por meio de aterros nas áreas marginais alterando e reduzindo bastante o perímetro da área.
Figura 4.8 - Construção do Corte de Cantagalo.
Fonte: http://fotolog.terra.com.br/luizd:99
44
Figura 4.9 - Construção do viaduto Augusto Frederico Schimidt, década de
1960.
Fonte: http://fotolog.terra.com.br/luizd:90
45
Figura 4.10 - Viaduto Augusto Frederico Schimidt.
Fonte: http://br.geocities.com/zostratus15/viaduto-lagoa.jpg
Em meados da década de 1960, concluiu-se o circuito em volta da Lagoa, e em 1965 o término da construção do Túnel Rebouças provoca um novo fluxo de tráfego em torno da LRF, o que provocou a mudança expressiva de sua paisagem. Tais interferências propiciaram loteamentos com preços mais baratos do que em Copacabana.
No período entre 1968 e 1975 foram removidas mais de 150.000 pessoas de
cerca de 100 comunidades, na cidade. A Favela da Praia do Pinto, entre a Lagoa e
Ipanema, sofreu um incêndio em 1968, quando já estava passando por um processo de
remoção, dando lugar a um conjunto de prédios para classe média conhecido como
46
Selva de Pedra (TRANJAN, 1997). A favela da Catacumba foi removida em 1970, durante o Governo de Francisco Negrão de Lima, na Operação Catacumba.
No ano de 1974, limnólogos suecos em representatividade da OMS (Organização Mundial de Saúde), recomendaram a construção de um receptor em torno da lagoa para desviar as águas poluídas e a dragagem de cerca de 80.000 m3 de lodo do fundo. Em 1976, foi construído um cais no perímetro da LRF, iniciando a dragagem do lodo que foi lançado ao mar através do emissário de Ipanema e em 1978, foi concluída a obra do cais e ocorre a delimitação definitiva de suas margens, evitando aterramentos futuros. Vários estudos e projetos ainda foram desenvolvidos, e em 1997 a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro contratou o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC - com sede em Lisboa) para estudar a orla da zona sul e da lagoa, de acordo com o projeto desenvolvido pela COPPE UFRJ.
Na década de 1980, com a expansão da cidade em direção à Barra da Tijuca e
arredores, há uma estabilização no crescimento urbano no entorno da LRF, podemos
então constatar significativa redução da população da bacia contribuinte entre as
décadas de 1980 e 1990. Tal fator ativa a ampliação de regiões favelizadas como as
favelas do Parque da Cidade e Humaitá e da região da vertente da Gávea da Favela da
Rocinha e a de Ipanema da Favela do Cantagalo, áreas localizadas no interior da região
contribuinte da bacia da LRF. Tais fatos podem ser corroborados com a observação dos
dados referentes aos censos demográficos populacionais da região entre 1970 e 2000
(Tabela 4.3). A LRF apresenta sua maior área situada na VI Região Administrativa do
Rio de Janeiro, abrangendo os bairros de Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico e
Gávea, com ressalva a região do entorno da Rua Humaitá, que compete a IV Região
Administrativa.
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Tabela 4.3 - População residente das VI e XXVII Regiões Administrativas (R.
A.) por bairro.
Censo 1970
Censo 1980
Censo 1991
Censo 2000 VI Região Administrativa – Lagoa 175.586 239.363 177.072 174.062
Ipanema - 63.602 48.245 46.808
Leblon - 62.871 49.930 46.670
Lagoa - 23.815 18.652 18.675
Jardim Botânico - 21.084 19.434 19.560
Gávea - 49.774 15.350 17.475
São Conrado - 8.421 13.591 11.155
Vidigal - 9.696 11.870 13.719
XXVII Região Administrativa – Rocinha
- - 42.892 56.338
TOTAL GERAL 175.586 239.363 219.964 230.400
Fonte: Censo Demográfico 2000 – IBGE e Anuário Estatístico do Rio de Janeiro, 1998.
De acordo com o modelo apresentado a seguir, a análise dos modelos elaborados
permitiu concluir que até 1880 a região da LRF era exclusivamente rural. Em 1930,
Copacabana já estava ocupada, e Ipanema com seu arruamento feito. O Jockey Clube,
construído sobre área aterrada à LRF, fica junto ao bairro do Jardim Botânico, também
já ocupado. Nos dois momentos seguintes, é possível perceber que a urbanização de
Ipanema e Leblon foi feita de maneira mais ordenada que Copacabana, mas que as
favelas do Pinto e da Catacumba só seriam removidas após 1965, uma vez que ambas
aparecem neste momento. (TRANJAN, et al, 2007) (Figura 4.11).
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Figura 4.11 - Favelas na Lagoa.
Fonte: Estudo da Evolução Urbana do Bairro da Lagoa, Rio de Janeiro, em uma Visão Tridimensional.
4.2.4. Parques no Entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas
O Parque Natural Municipal da Catacumba, propriedade do Município do Rio de
Janeiro (Anexo 4) está situado numa área de 30,1 ha, localizada no Morro da
Catacumba (Figura 4.12) à beira da LRF e está aberto ao público diariamente de 8 às 17
horas e no horário de verão até às 18:00h. Sua distribuição de área protegida por bairro
se dá da seguinte forma, Copacabana com 0,1881 ha e Lagoa 29,9156 ha. Com a
imigração oriunda do Maranhão nos anos 1940, o morro foi ocupado pela Favela da
Catacumba (Figura 4.13), mas na década de 1970 durante o Governo de Negrão de
Lima, foram removidas cerca de 10 mil pessoas, para criação do Parque Ambiental,
sendo declarado logradouro público da cidade de acordo com o projeto 34.548 aprovado
pelo Decreto 1.290 de 14/11/1977.
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Figura 4.12 - Peter Fuss, Vista do Morro da Catacumba, 1930.
Fonte: http://fotolog.terra.com.br/luizd:83
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Figura 4.13 - Favela do Morro da Catacumba.
Fonte: Janice Perlman.
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O Parque Tom Jobim possui área de lazer de 21 ha onde pode ser apreciado o
espelho d'água da LRF. Localizado numa ampla área verde sem restrição de horário
para uso, equipado com quadras para jogos, parquinho infantil e ciclovia. Nesse parque
há até uma área destinada exclusivamente aos cães, o ParCão. Já o Parque das Taboas
está situado entre o Clube Caiçaras e o Clube de Regatas Flamengo, caracterizado por
ser um local de agrupamento de praticantes de futebol, tênis e skate. O Parque dos
Patins localizado entre o clube Piraquê e o heliporto consiste numa alternativa de lazer
como patinação, shows e gastronomia.
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