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Jessica Gadziala. The Henchmen MC #2

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Academic year: 2021

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Jessica Gadziala

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Jessica Gadziala

Minha vida é fundada em três coisas: fraternidade, diversão e mulheres.

Fácil. Nada complicado. Foi assim até Willow Swift voltar à minha vida, com

o rosto sangrando, batendo nos portões do complexo do Henchmen

pedindo um favor. Agora, dívida é dívida e tenho que ser bom, mas se há

uma mulher no mundo que não preciso na minha vida, é a dura como

pedra e sexy como o pecado, Willow Swift e qualquer que seja o

misterioso fantasma do seu passado que esteja assombrando seu

presente.

Minha vida não passa de duas coisas: difícil e complicada. A última pessoa

que quero em minha vida é o notório — me ame e me deixe Cash, mas

preciso de ajuda e ele é o único que pode me apoiar sem que eu me

preocupe com o que ele descobrirá do meu passado. Mas estou

começando a me perguntar se talvez ele seja um novo tipo de perigo, que

me faz querer algumas coisas que há muito tempo aprendi que não são

possíveis para mim — como me apaixonar por um cara que eu não posso,

nunca, deixar ver meu eu verdadeiro.

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Jessica Gadziala

PRÓLOGO

Summer

Reign tem igreja hoje no complexo como em toda sexta-feira. Ele saiu dez minutos atrás, largando uma nove milímetros no balcão da cozinha e beijando o lado do meu pescoço.

“Dê-me uma hora, então coloque sua bunda na caminhonete e dirija até o complexo”, diz ele, apertando minha bunda antes de se afastar.

Escuto sua moto roncar quando olho a arma. Reign não é exatamente romântico e nunca espero que isso mude. Mas ele mostra que me ama do jeito dele — como quando me deixa sozinha, mas sempre se certifica de que estou com uma arma. É sua versão de flores e doces. Proteção. Segurança. Essas são algumas das coisas que mais aprecio sobre estar com ele. Posso não ser uma flor delicada, mas ele sempre me dá o quente e latejante conhecimento de que me valoriza o suficiente para querer se certificar de que estou sempre segura.

O abrupto tap tap tap na porta de correr de vidro na sala de jantar faz meu coração voar para a garganta e minha mão automaticamente pegar a arma, tirando a trava, e apontando-a na escuridão.

Movo-me lentamente para fora da cozinha, levando minha mão livre para o bolso de trás, pego meu telefone e disco o número de Reign.

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Jessica Gadziala

Quem está na porta usa preto, tornando-o invisível na

escuridão. Mas então uma mão branca desliza para fora da manga e sobe, tirando o capuz da cabeça.

Janie. De Hailstorm, o acampamento de sobrevivência na colina. Eu a conheci há pouco mais de um ano, quando ela e sua líder, Lo, ajudaram Reign, Cash e Wolf a me salvar da psicopata do comércio de pele, chamada “V”, que me sequestrou e torturou durante meses para tentar fazer meu pai concordar com algum tipo de acordo envolvendo o uso de seus contêineres. V está sob os cuidados do meu pai, o chefão da cocaína, (leia-se: prisão) desde então. Meu pai e eu conseguimos fazer as pazes, apesar dele mentir para mim por toda a vida sobre ser um homem de negócios normal e honrado. Inferno, quem sou eu para julgar? Eu me apaixonei por um motociclista que negocia armas, que se mostrou bastante hábil em tirar vidas.

Mas desde aquela noite, nunca vi ninguém de Hailstorm. Nem mesmo Lo. Pelo que posso dizer, Reign e os outros não ouviram falar deles também.

Janie está na porta dos fundos... Não tenho ideia se isso é bom ou ruim.

“Baby... que porra pode precisar falar comigo? Acabei de sair...” A voz de Reign encontra meu ouvido.

Os olhos de Janie encontram os meus e ela diz algo enquanto me observa, a maior parte não consigo entender. Mas pego uma palavra. Socorro.

Então ela aponta o telefone perto da minha orelha e leva o dedo aos lábios num movimento silencioso.

Merda.

Eu não faço isso. Não escondo as coisas de Reign. Isso não é como nosso relacionamento funciona. Mas há uma mulher

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que uma vez ajudou a me salvar na minha porta traseira pedindo

ajuda e me pedindo para ficar quieta.

“Summer”, a voz de Reign diz, parecendo preocupada. “Oh, oops”, digo ao telefone, tentando parecer confusa. “Desculpa. Eu não queria ligar para você.”

Há uma pequena pausa. “Você tem certeza? Tudo certo?” “Tudo bem. Apenas tentando adivinhar o código do cofre e encontrar armas divertidas”, digo, provocando-o.

“Summer, juro pela porra de Cristo, se você tocar numa das...”

“Estou brincando”, gargalho, revirando os olhos enquanto Janie me observa, a cabeça inclinada para o lado. Ainda tenho a arma apontada para ela. Talvez ela tenha me salvado uma vez, mas aprendi minha lição sobre confiar cegamente nas pessoas.

“Com você, nunca se sabe”, resmunga Reign, lembrando-se de quando ele me deixou usar uma AK automática pela primeira vez. Não percebi o quanto de recuo ela teria e acabei tropeçando e acidentalmente atirando na lateral do complexo. Ninguém se machucou nem nada, mas ele nunca me deixa esquecer isso.

“Vá para a igreja”, digo, balançando a cabeça. “Falo com você mais tarde.”

“Prometa-me que não haverá novos buracos na casa quando eu chegar aí.”

“Sem promessas, mas é improvável.”

Reign suspira e posso imaginá-lo passando a mão pelo rosto. “Ok. Eu tenho que ir.”

“Eu te amo”, digo, as palavras ainda pesadas com significado. Não é o amor irreverente que as pessoas dizem eu

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te amo para terminar uma chamada telefônica. Estou falando

sério. Sinto isso profundamente. E minhas palavras ecoam isso. “Eu também te amo”, ele diz em tom correspondente antes de desligar.

Respiro fundo, colocando o telefone de volta no bolso e caminhando em direção à porta dos fundos. Acendo a luz da varanda e estendo a mão para o bloqueio. Quando ela alcança a maçaneta, recuo, a arma ainda levantada. Sou boa com uma arma, e é Janie, mas ela ganhará em qualquer outro tipo de luta. Não a deixarei chegar perto de mim até saber o que está acontecendo.

“O que está fazendo aqui?” Pergunto quando ela entra, fecha a porta e senta-se à nossa mesa de jantar como se tivesse feito isso cem vezes antes.

“Estou... numa situação e preciso da sua ajuda.” “Vou ligar para Reign...” Começo, pegando o telefone.

“Não”, ela diz, quase um pouco histericamente. É um tom tão inesperado e fora do personagem que congelo.

“O que está acontecendo Janie?”

“Não posso dizer isso sem te envolver. Mas preciso que faça algo sem dizer a ninguém que te pedi para fazer isso.”

“Você quer que eu minta para Reign?” Novamente.

“Sim. Mas isso vai mantê-lo seguro. E Cash, Wolf, o resto dos Henchmen e seu pai.”

Meu pai? E todos os Henchmen. Cristo. Em que diabos ela se meteu?

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“Não”, ela diz, seus olhos azuis perfurando os meus

enquanto ela passa a mão pelo longo cabelo escuro. “E ela não pode saber.”

“Janie...” Tento raciocinar, notando um leve tremor em suas palavras. Se ela está fazendo algo por conta própria, sem Lo e o resto de Hailstorm atrás dela...

“Só preciso que traga seu pai, Cash, Wolf e Lo aqui em uma noite, Summer. É tudo que preciso. Basta falar para que todos concordem e trazê-los aqui. É isso.”

“Janie se precisa de ajuda...”

“Isso é tanto para você quanto para mim, Summer. Apenas diga sim. Tudo o que precisa fazer é convidá-los e mantê-los aqui por algumas horas.”

“Você estará segura?” Pergunto, abaixando a arma finalmente, mas mantendo-a na mão.

Janie respira devagar, um de seus pequenos ombros subindo e descendo num encolher casual. “Provavelmente. Esperançosamente. Eu não sei. Mas isso não é problema seu”, ela diz, levantando e colocando o capuz. “Aqui”, diz ela, tirando um pedaço de papel do bolso e colocando-o na mesa da sala de jantar.

“Janie. Sério... se está em problemas...”

“Não se preocupe comigo. Eu vou me virar. Sempre faço”, ela diz, abrindo a porta e desaparecendo na noite.

Vou até a mesa de jantar, pego o pedaço de papel que me deu com data e hora e tranco a porta dos fundos.

Parece que tenho um jantar para planejar.

E um ajuste épico para fazer se quero que alguém concorde em vir...

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CAPÍTULO UM

Cash

A entrada da garagem de Reign nunca esteve ocupada com tantos carros antes. Até um ano atrás, ninguém sabia onde era seu lugar, exceto eu. Paro a moto ao lado da caminhonete gigantesca de Wolf e saio. Bato meu punho na lateral de uma van preta danificada quando passo, fazendo Janie pular e virar para mim, com a arma levantada. É um movimento idiota, mas ela é divertida de irritar. Quero dizer, quem não gosta de cutucar um urso dormindo de vez em quando? E Janie, a garota de vinte e poucos anos, tatuada, de cabelos escuros e olhos azuis, que na verdade é uma das melhores mentes táticas dentro do campo de sobrevivência conhecido como Hailstorm, sim, ela é uma porra de urso dormindo.

“Jesus Cristo, Cash”, ela suspira, balançando a cabeça. “Eu poderia ter atirado na sua cabeça. Quero dizer... não que eu ache que o dano cerebral seria notado ou qualquer outra coisa, mas...”

“Você vem?” Pergunto, apontando para a casa de Reign. “Não. Estou apenas deixando Lo.”

Lo é sua chefe, assim como Lo é a mulher por trás de Hailstorm, que, além de ser uma especialista no campo de sobrevivência, também trabalha para capturar pessoas, faz segurança privada e executa assassinato por contrato.

“Lo está aqui?” Pergunto, sentindo meu sorriso cair um pouco.

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Gosto de todo um banquete de buceta. Alta, baixa, gorda,

magra, loira, morena, ruiva. Vinte. Quarenta. Não dou à mínima. Eu amo todas.

Todas exceto a porra da Lo, cara.

Embora possa admirar o modo como aquela mulher segura uma arma e fala o que pensa, não consigo entender o fato de que ela e seu pessoal estão envolvidos com quaisquer civis em acertos por dinheiro. Estou bem com assassinato: pela família, por amigos, pela irmandade, por negócios, inferno, mesmo pelo país. Mas matar apenas por que a porra do pagamento é alto o suficiente? Inferno, caralho, não.

Tenho amigos que fazem essa merda. Tenho amigos que quebram joelhos ou pior. Tenho um amigo que é o melhor maldito atirador do país e usa essas habilidades. E posso sair com eles, posso beber, fazer apostas sobre qual de nós terá a garota mais gostosa, mas não me envolvo com essa merda.

E foder uma mulher, mesmo que apenas por uma noite, significa estar envolvido.

“Sabe”, diz Janie, cortando meus pensamentos. “Vi você atirar num homem bem entre os olhos. Você nem sequer vacilou.”

Alcanço a janela aberta e seguro seu queixo. “É diferente, criança. Você e eu, ambos sabemos disso. Lo não sabe.”

Viro para continuar meu caminho, mas ouço Janie dizer baixinho, como se para si mesma: “Talvez eu também não.”

Dou de ombros quando chego até a porta, abrindo-a e entrando.

“Só direi o que todo mundo aqui está pensando”, digo enquanto olho ao redor. “Esta é a porra de jantar mais estranho que já aconteceu.”

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E tem que ser.

Estamos na casa do meu irmão, traficante de armas, líder motociclista com sua esposa, que tem um amor quase alarmante pelas referidas armas. Seu pai, um notório senhor do crime da cocaína, está parado num canto, num terno de três mil dólares, parecendo totalmente desconfortável. Wolf, Reign, meu amigo mais antigo, estão encostados no balcão da cozinha, de braços cruzados, parecendo assustador pra caralho com sua longa barba escura e olhos assombrados. Não ajuda que o filho da puta nunca diga mais do que um punhado de palavras de cada vez. Viro a cabeça ligeiramente para encontrar Lo me observando.

Vê-la é como um chute no estômago. Primeiro, porque ela é linda, com longos cabelos loiros, um rosto cheio e olhos castanhos. Ela tem pernas longas, grandes quadris e uma postura fenomenal, porra. Ela é alguns anos mais velha do que eu e provavelmente a mulher mais sexy que já vi. Ela simplesmente não é o tipo de pessoa com quem quero ter alguma coisa. Infelizmente, meu pau não recebe a mensagem sobre a segunda parte. Estou meio duro apenas olhando para ela em seu jeans apertado e camiseta branca com uma arma amarrada na coxa.

Puta merda, ela é gostosa.

Um lento sorriso conhecedor se espalha por suas feições enquanto ela me pega a olhando. “Coloque a língua de volta na boca, Cash”, diz ela, inclinando sua cerveja para mim antes de tomar um gole.

“Oh, querida”, digo, sorrindo. “Se tivesse alguma ideia do que posso fazer com minha língua, não teria como me dizer para colocá-la de volta na boca.”

Sou recompensado por ela se engasgando, cerveja jorrando de sua boca enquanto tosse.

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“Se pudesse tentar evitar matar meus convidados”, Summer

diz, entregando uma toalha de papel para Lo, “eu realmente apreciaria.”

“Ei, linda”, digo, sorrindo para ela antes de levantá-la de seus pés e girar em um círculo.

Tenho um fraquinho por Summer. Talvez seja porque ela é a primeira mulher em muito tempo que não tenho nenhum interesse sexual. Não é que ela não seja linda com seus longos cabelos ruivos e rosto delicado, mas esteve claro desde o primeiro dia que ela pertence ao meu irmão. Deus sabe que o homem precisa de um pouco de suavidade em sua vida e é exatamente isso que Summer lhe dá. Ela ajuda a suavizar suas bordas ásperas. Ela também o mantem na ponta dos pés. Não há um dia que eles não estão discutindo e inventando, quando não estão desafiando e consolando um ao outro.

Ela dá ao meu irmão alguém para quem voltar para casa, alguém para lembrá-lo de entregar o peso da liderança de vez em quando. Por isso, sempre sinto que devo a ela. É por isso que estou em seu estúpido jantar festivo em primeiro lugar.

Além disso, ela é uma merda absoluta quando qualquer um de nós tenta arranjar desculpas para não aparecer.

“Tire as mãos da minha mulher”, diz Reign, levantando-se enquanto coloco sua mulher para baixo, envolvendo um braço em volta de sua cintura, colando metade de seu corpo ao dele. “Você vai se comportar?” Ele me pergunta, dando um quase imperceptível empurrão de queixo em direção a Lo, que está agachada, limpando a cerveja derramada do chão.

Dou-lhe um sorriso. “Oh, você me conhece. Fodido anjo, cara”, digo, batendo no ombro dele e indo em direção a Wolf.

“'Jantar Wolf?” Pergunto, alcançando atrás dele por uma cerveja.

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Jessica Gadziala

“Estranha festa fodida”, ele diz, usando o mínimo de

palavras possível, assim como de costume.

Wolf é um monte de coisas, nenhuma delas sendo falante. “Sim. Se Repo e cerca de três dúzias de psicopatas armados estivessem aqui, seria uma fodida reunião.”

“Eu entendo”, Wolf começa, acenando com a mão para si, para mim e para Reign. “Não os entendo”, diz ele, apontando para Lo e Richard Lyon, o rei da cocaína, pai de Summer.

“Bem, ele é o pai dela”, dou de ombros. “E Lo?”

Esse é um bom ponto. “Talvez Summer sinta que deve a ela? Lo foi realmente quem nos permitiu ir lá e tirá-la.”

Deus sabe que nós, os Henchmens, devemos a Lo e Hailstorm um grande e fodido favor no futuro, um fato que pesa mais sobre mim do que em Reign por algum motivo. Acho que ele imaginou que o que quer que fosse, valeria a pena para ter a mulher que ama de volta.

“Todos juntos?” Pergunta Wolf, virando os olhos insondáveis para mim.

Esse é outro bom ponto. Claro, faz sentido que Summer queira ver seu pai. Também faz sentido que ela queira ver Lo novamente. Ela convida Wolf e eu o tempo todo. Mas por que, de repente, todos precisamos estar na mesma sala, especialmente considerando que muitos de nós não nos damos bem?

“Não sei.” Digo, observando Lo se aproximar de Richard Lyon como se ele não fosse um dos maiores traficantes da costa leste. Então, novamente, eu a vi andar até uma comerciante de pele, insensível e cruel como se tomassem o brunch de domingo juntas todos os dias durante anos.

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“Cadelas, cara”, diz Wolf e me viro para encontrá-lo sorrindo

afetuosamente para Summer.

“Tem toda razão”, concordo, batendo minha cerveja na dele. “Como foi a corrida?” Pergunto, observando Lo jogar a cabeça para trás e rir de algo que Richard diz, sua risada é um som estranho e baixo que atravessa a sala.

“Dê-me uma”, diz Reign, caminhando, apontando para minha cerveja.

Eu lhe dou uma garrafa e, incapaz de me impedir, sorrio. “Quão caralho de pau-mandado é você para permitir que este desastre aconteça, mano?”

Reign bufa, balançando a cabeça para si mesmo. “Você já viu Summer já colocar a merda de uma ideia na cabeça antes. Ela começa a usar palavras de seis sílaba e porra, dia e noite, nunca diminuindo.”

“Há outras maneiras de tirar a mente dela disso”, sugiro, levantando uma sobrancelha. Ele sabe o que quero dizer.

“Cara, eu tentei. Dez minutos depois, ela se sentou e começou de novo. Pensei, que mal pode haver?”

“Lo tem uma arma amarrada na coxa”, aponto.

“Você tem uma arma nas suas costas. Wolf tem uma no quadril. Summer”, diz ele incisivamente “tem uma dentro da bota dela. Não pense que podemos julgar.”

“Quantos pratos têm essa coisa?” Pergunto, olhando em volta para todas as bandejas (sim, bandejas... no meu irmão, a casa do líder dos Henchmen), dispostas no balcão da cozinha, só esperando que comida seja posta nelas.

“Jantar e sobremesa”, diz Reign com um suspiro. “Ela queria quatro pratos.”

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“Porra, sério?” Wolf pergunta, perigosamente perto de rir.

“Sério sobre o quê?” Pergunta Lo. Nem a vi caminhar, mas lá está ela, ao lado de Reign.

O silêncio após sua interrupção é palpável e estranho com Reign se recuperando primeiro, tomando um gole da cerveja e respondendo: “Summer queria que isso fosse uma coisa de quatro pratos. Falando nisso...”, diz ele, virando a cabeça por cima do ombro para o local onde parece que Summer e seu pai estão tendo um debate acalorado. “Tenho que ver o que está acontecendo.” Com isso, ele sai.

Wolf olha para mim com uma risada silenciosa e trêmula no peito e diz: “Você está por sua conta.” Ele pega uma cerveja nova e se afasta, inclinando o queixo para Lo quando passa. “Mulher”, ele diz em sua voz profunda antes de ir.

Lo vira para vê-lo se afastar, um pequeno sorriso estranho brincando em seus lábios. Quando ela se vira para mim depois que Wolf está fora de vista, ela diz: “Eu gosto dele.”

“Quer que eu te ajude a arranjar isso?” Pergunto, dando um longo gole na minha cerveja. Jesus me foda se ela ficar justamente com um dos homens, se fizesse isso, por lealdade, eu pararia de imaginá-la nua, montando-me forte e rápido, seus peitos saltando enquanto ela o faz, sua cabeça jogada para trás enquanto ela geme meu nome...

Lo está me dando um sorriso malicioso. “Tanto quanto gosto do tipo forte e silencioso”, ela começa, avançando alguns passos de modo que sua frente está praticamente grudada contra a minha e por um momento horrivelmente longo, penso que ela vai me beijar. Então ela pega outra cerveja e recua. É então que percebo que prendi a respiração e inalo um pouco de ar. “Ele não é feito para mim.”

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“Feito para você?” Pergunto, sorrindo. “Baby, não estamos

falando de para sempre. Estamos falando de uma noite.”

Sem ênfase, ela encolhe os ombros. “Não sou feita para isso também. E não sou seu baby.”

“Oh querida”, digo, sorrindo, entrando em seu espaço até que ela está a um passo de distância, “Posso te levar a um ponto onde estará me implorando para chamá-la de baby.”

“Bastante confiante, hein?” Ela pergunta com o que posso descrever como um desafio nos olhos.

“Sim”, concordo com um aceno de cabeça.

Ela avança um passo, pressionando os seios no meu peito e inclinando a cabeça para me olhar nos olhos. “Porra, isso nunca vai acontecer, Cash.”

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CAPÍTULO DOIS

Lo

Quando eu tinha oito anos e disse ao meu pai que queria estar nos fuzileiros como ele quando crescesse, ele me disse que mulheres nas forças armadas não passam de uma responsabilidade ou distração e que será um dia frio no inferno se ele deixar qualquer filha dele ser a razão pela qual um pelotão de bons homens perca suas vidas.

Quando eu tinha dezesseis anos, fui a uma loja de conveniência depois da escola. Enquanto procurava opções de comida, um homem entrou com uma arma, exigindo dinheiro. O homem atrás do balcão, em seus quarenta anos, estrangeiro, mas de um país que não consegui descrever, foi para a caixa registradora, mas deve ter simultaneamente pego uma arma. Estava meio erguida no ar quando o tiro disparou e observei com horror absoluto quando a bala se enfiou entre os olhos do dono da loja num jorro de sangue incrivelmente vermelho na parte de trás da cabeça do homem, espalhando-se por toda a prateleira de cigarro. Seu corpo pairou em seus pés por alguns segundos nauseantes antes de cair sobre o balcão.

O assaltante, implacável, enfiou a mão na registradora, roubou o dinheiro e fugiu.

Estava congelada quando a esposa do dono da loja veio da parte de trás, sem dúvida, depois de ouvir o tiro. Ela parou por alguns segundos na porta, olhando ao redor até seus olhos pousarem no marido. Ela correu para o corpo dele com um grito

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que ainda posso ouvir quando a noite fica muito quieta, um grito

que soava como se uma parte dela morresse também.

A polícia entrou, meu pai chegou, o interrogatório foi feito. Respondi numa estranha dormência enquanto observava a esposa ter que ser arrancada do cadáver de seu marido, seu corpo tremendo tanto pelas lágrimas que ela parecia ter uma convulsão.

E eu soube, naquele momento eu soube, com total clareza, que nunca em minha vida teria um amor como esse.

São memórias estranhas para ter sua mente constantemente lembrando, especialmente tendo em conta que décadas se passaram. A coisa de fato é, estes são dois dos cinco maiores momentos de mudança na minha vida que me fizeram a mulher que sou. São memórias que trabalho duro para lembrar em detalhes excruciantes, temendo que se perder um segundo delas, perderei uma parte integral de mim mesma.

São os pensamentos que tenho em mente quando a porta da casa de Reign e Summer abre e Cash entra.

Cash, esse é seu nome verdadeiro, como Reign é o nome verdadeiro de seu irmão. Poder e dinheiro, são as únicas coisas que importavam para seu pai. Reign parece o pai deles, alto e musculoso, cabelo escuro, olhos verdes claros. Feroz. Tudo sobre o líder do The Henchmen MC é feroz, sombrio e perigoso.

Cash, para tristeza de todas as malditas mulheres que cruzaram seu caminho desde o dia em que sua voz apareceu, herdou a aparência de sua mãe. Ele é tão alto quanto o irmão, mas onde a aparência de Reign corre em direção ao escuro, Cash vai em direção à luz. Ele tem o cabelo loiro longo de um lado da cabeça e raspado numa penugem do outro lado. Seus olhos são de um tom profundamente verde e seus lábios estão quase perpetuamente virados para os lados. Então, claro, há tatuagens. Nem quero entrar nas tatuagens. Oh meu Deus.

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Veja, o problema com Cash é que ele é simpático. Um

homem como ele não cruza seu caminho e se comporta do jeito errado. Ele é descontraído, engraçado, paquerador. Se ele estiver na presença de uma mulher, pode se dizer que ele a aprecia e não apenas se ela é uma merda sexy (embora ele certamente... aprecie estas ainda mais). É quase como se pudesse sentir que ele gosta genuinamente das mulheres com todas as suas contradições e complexidades. Ele não é o tipo de homem que reclama sobre sermos emocionais, carentes ou difíceis de conseguir (porque, para ele, elas nunca são). Ele apenas aceita as mulheres como elas são.

E, porra, é como erva de gato.

Vamos apenas dizer que não é segredo que Cash é uma puta. Inferno, ninguém pode culpá-lo com a aparência que tem, andando como ele anda (ele simplesmente... desfila), falando como ele fala (a língua prateada do diabo), e andando de moto com seu colete de couro. Sim. Ele pode ter qualquer mulher que quiser. E Cash quer muitas mulheres diferentes.

Particularmente não tenho um problema com mulherengos. Se as mulheres te querem e estão se doando alegremente, bem, por que não aproveitar? Ele é jovem, ele é gostoso, ele é solteiro. Não me importo com quantas mulheres ele já mergulhou seu pavio.

Dito isto, ele não chegará perto de mim.

Ele é sexy. Estou afetada. Isso não significa que eu seja idiota.

Tenho alguns anos a mais que Cash. Conheço da vida. Tive minha cota de mulherengos. Sei que não há nada além de sexo quente e sensações doloridas com homens como ele. Claro, às vezes, uma mulher precisa de um pouco de sexo quente. O problema é que nunca fui o tipo de mulher que não se senta e

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pensa “e se” e “se ao menos” quando acorda na cama de um

homem.

Então, sim, meu corpo fica praticamente elétrico quando ele está perto o suficiente para eu ver seu sorriso ou ouvir sua risada... Mas a questão de fato é... Essa porra nunca vai acontecer.

“Cuidado, bonita, isso soa como um terrível desafio”, diz ele com a voz baixa e sedutora que atravessa meu sistema como uma corrente elétrica.

“Considere-o como quiser, lindo, mas deixe-me dizer agora”, digo, tendo que me esforçar para manter contato com os olhos quando seus lábios me dão aquele sorriso diabólico, “você vai perder.”

“Aw, Lo...” Ele começa quando o forno apita alto, fazendo nós dois saltarmos e darmos dois passos para trás antes mesmo de perceber o que fizemos.

“Preciso de um homem grande e forte para me ajudar a tirar este presunto do forno”, Summer entra, dando-me um sorriso conhecedor quando passa por mim.

“Homem grande e forte, hein? Parece que alguém está chamando meu nome”, diz Cash, virando-se para ela e observo seus olhos suavizarem.

Então nós jantamos. É tenso, na melhor das hipóteses, no início, Summer tenta brincar desajeitadamente e Cash ou eu entramos para salvá-la. Quando o café e a sobremesa são servidos, as coisas ficam um pouco mais soltas com Cash e Reign e, ocasionalmente, Wolf, contando velhas histórias de guerra, sobre os problemas em que se meteram quando crianças. É uma conversa de jantar generosamente cheia de “foda” e “porra” e “bucetas,” mas pelo menos parece mais natural.

Reign se senta em sua cadeira, o braço indo ao redor das costas de Summer enquanto sua atenção se volta para ela.

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Não tenho certeza de como ela pode ficar lá sendo a destinatária

de sua intensa atenção. Eu me contorço no lugar e sua cabeça fica completamente virada de mim.

“Então tivemos este estúpido jantar festivo, baby”, ele diz a ela casualmente, seu tom de provocação. “E nunca faremos isso de novo, ok?” Ele pergunta, parecendo quase rir enquanto suas bochechas aquecem ligeiramente. Ela sabe tão bem quanto o resto de nós que desastre a noite foi.

Então ela faz a coisa mais estranha, ela vira completamente em sua cadeira, inclinando-se em Reign e olhando por cima da pia da cozinha. Meu olhar segue o dela para encontrá-la olhando o relógio.

Ela morde o lábio inferior por um segundo antes de sentar-se e dar a Reign um sorriso doce. “Certo”, ela concorda.

Que merda foi essa?

“Saindo”, diz Wolf, repentinamente, sua altura insana fazendo-me sentir subitamente uma garotinha quando giro o pescoço para olhá-lo. “Summer, boa comida”, diz ele, dando-lhe um sorriso com os lábios tensos. Seu olhar vaga para Richard, que recebe um levantar de queixo, depois para mim, que recebo um “mulher” e finalmente para Cash e Reign. “Igreja.” Com isso, ele leva seu corpo de homem-motoqueiro por toda a casa e sai pela porta da frente.

Sua caminhonete ganha vida quando checo meu telefone para ver se Janie me mandou uma mensagem. Ela costuma fazer isso, mas às vezes, se os planos são realmente concretos, ela não se incomoda, por isso, agradeço a Reign e Summer, pergunto se posso ajudar na limpeza, depois caminho para fora quando sou expulsa da cozinha.

Está fresco do lado de fora e imediatamente me arrependo da escolha de ir sem casaco enquanto estou na entrada de

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Reign, as sobrancelhas franzidas, porque Janie e a van não estão

à vista. Não é típico dela. Ela sempre aparece na hora marcada, geralmente mais cedo. Coloco a mão no bolso, clicando o número dela e ouvindo o toque.

“Janie, deixe uma mensagem.”

“Merda”, gemo, encerrando a chamada e ligando novamente. Mais três vezes. Na quarta, bloqueio o telefone em um resmungo. “Puta que pariu.”

“Janie deu o cano em você?” Cash pergunta atrás de mim, fazendo-me pular. Ele não deveria ter sido capaz de me assustar. Estou sendo descuidada.

“Ela provavelmente está apenas atrasada.”

“Provavelmente”, ele concorda, movendo-se para ficar ao meu lado em sua jaqueta de couro preta irritantemente quente. Ele ergue os braços acima da cabeça, arqueando as costas ligeiramente num estiramento que faz sua camiseta sair do cós da calça jeans e expor alguns deliciosos centímetros de seu abdômen definido que eu me encontro não conseguindo desviar o olhar. Ouço sua risada baixa e percebo que ele me pegou olhando. “Gosta do que vê, querida?

Oh, bom Cristo, esses apelidos. Há algo mais sexy do que um cara que os usa tão prontamente e com tamanha variedade?

“Eh”, digo, encolhendo os ombros enquanto faço contato visual.

Ele me encara, seus olhos sorrindo como se soubesse que estou zoando com ele e pesando se ele pagará para ver ou não. Aparentemente, ele pensa melhor, porque a próxima coisa que sei é que sua mão se move e seu dedo acaricia meu braço nu e arrepiado, criando um arrepio por uma razão completamente diferente. “Está um pouco frio para ficar aqui esperando uma

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carona”, ele observa, o polegar e indicador agarrando a borda da

manga da minha camiseta por um segundo antes de se afastar. Solto uma respiração lenta, esperando que ajude a retardar meu coração acelerado no peito. “Ficarei bem”, digo, fingindo casualidade quando há um muito (e quero dizer muito) persistente pulsar entre as minhas coxas.

“Lo”, diz Cash, seu tom assumindo uma seriedade que me faz voltar o olhar para ele, as sobrancelhas juntas. “Entendo que é toda independente e pode lidar com suas merdas, mas que ponto está fazendo aqui parada no frio?” Ele pergunta, e bem, ele tem razão. “Peça-me uma carona, Lo.”

Claro que o idiota não poderia me oferecer uma. Não, ele quer que eu peça por isso.

Olho meu telefone e ainda nada de Janie. Estou começando a não só ficar frustrada, mas genuinamente preocupada. Janie nunca deixou de ligar ou mandar uma mensagem de texto. Preciso voltar para Hailstorm e ver se alguém ouviu dela.

Suspiro colocando meu celular no bolso. “Tudo bem. Você pode me dar uma carona?”

“Não vai dizer, por favor?” Ele pergunta, os lábios se contorcendo.

“Esqueça isso”, resmungo, passando por ele para voltar para a casa. Prefiro pegar uma carona com Summer ou Reign do que lidar com o absurdo dele.

“Lo, baby, engula o fodido orgulho e suba na minha moto”, ele diz, soando tão exasperado quanto eu me sinto.

Viro para vê-lo já descendo a estrada em direção a sua moto, o cascalho sendo esmagado sob suas grandes botas. Observo seu corpo magro e forte se mover enquanto ele desfila (Deus, ele é tão sexy) em direção a sua moto, montando-a, então

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Jessica Gadziala

finalmente olha em minha direção, ainda parada silenciosamente

nos degraus da frente.

“Oh, foda-se”, murmuro para mim mesma, sentindo um calafrio percorrer meu corpo enquanto vou em direção a sua moto, colocando um pouco de entusiasmo na caminhada porque ele está me encarando.

“Não tenho capacetes, querida”, diz ele, inclinando a cabeça ligeiramente quando chego ao redor. “Terá que confiar em mim”, diz ele, em seguida, uma luz atinge seus olhos novamente, uma luz que eu não confio, “e segurar firme.”

Ah, merda.

Irei totalmente segurar.

“Tudo bem”, digo, jogando uma perna sobre a lateral da moto e montando, mantendo meu corpo o mais longe possível do dele.

Ele ri e vira a moto, então espera. Meu palpite é que ele está esperando por eu segurá-lo. Quando não o faço, ele dá um tranco na moto até que meus braços voam e agarram os lados de sua jaqueta. “Que tal isso, querida?” Ele pergunta, pegando minhas mãos e puxando-as em torno de seu peito e sob (sim sob) sua camiseta, colocando minhas mãos congeladas contra sua pele quente. Sinto-me tremer com o contato, tentando me afastar. “Relaxe”, ele murmura de uma forma tão baixa e suave que automaticamente obedeço. Ele solta minhas mãos e fecha a jaqueta para selar ainda mais o calor. Suas mãos se movem para o guidão e a moto ganha movimento.

Não sou estranha com motos. Nem sequer desgosto delas, mas algo sobre estar sem um capacete em alta velocidade me fez avançar, apertando minhas coxas do lado de fora das dele e pressionando as mãos firmemente em seu abdômen tonificado. Ok, isso é uma completa e absoluta besteira.

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Seguro-o porque ele está quente e ele me chama de bonita

com aquela voz rouca e grave e realmente quero saber como seria senti-lo dentro de mim, mas também sei que segurá-lo enquanto ele me leva para casa é o mais próximo que chegarei dele.

Paramos nos portões de Hailstorm, depois do que parece um período muito curto, parando para que eles sejam desbloqueados antes que Cash avance e entre sem ser convidado a fazê-lo.

Estamos quase no edifício principal, quando a primeira explosão ocorre, enviando a nós e a moto voando pelo ar.

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CAPÍTULO TRÊS

Cash

Estou prestes a desligar o motor, pegá-la, envolver suas pernas em minha cintura e levá-la para sua cama, ou um sofá, ou uma maldita parede, bate-la contra ela e mostrar que isso vai, com fodida certeza, acontecer.

No segundo seguinte, há um flash, um som alto o suficiente para silenciar o mundo, e de repente estou voando pelo ar.

Leva apenas alguns segundos para perceber que Lo ainda está ao meu redor antes de cairmos no chão a vários metros de distância.

Lo solta um gemido com o contato enquanto eu amaldiçoo, tentando me levantar, desenredando meus membros dos dela. Outra explosão ocorre, fazendo com que nossos corpos tremam ao som. Pressiono meu antebraço sobre seu corpo, minha mão livre movendo-se para o lado de seu rosto, tocando logo abaixo de um corte de sete centímetros ao lado de sua bochecha. Está sangrando em direção ao ouvido dela, mas é superficial, se ela o tratar, não precisará nem de pontos. “Você está bem?” Pergunto, sentindo como se estivesse gritando, mas meus ouvidos estalam e não ouço direito.

Sua boca não abre, mas sua cabeça assente, seus olhos ficam vagos por um momento. Então, vejo quando ela realmente percebe: Hailstorm, sua casa, seu complexo cheio de pessoas, foi bombardeado. Seus olhos ficam enormes e ela se levanta de repente, batendo as mãos contra meu peito até que me movo

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para trás, sentando minha bunda nos calcanhares para que ela

consiga se levantar e eu possa olhar em volta.

A coisa boa sobre Hailstorm, de um ponto de vista inteiramente logístico, é que é feito de contêineres de transporte reciclados, o que significa que tudo é indestrutível. À prova de fogo, à prova de vento e, aparentemente, a prova de bomba. Não há nenhum incêndio residual acontecendo.

“Lo!” Digo enquanto ela move-se e começa a correr. Mas ela não me ouve, ou não se importa, enquanto corre com um ligeiro mancar atingindo o quadril esquerdo, onde o peso da minha parte inferior do corpo caiu sobre ela, e cai ao lado dos corpos deitados de um grupo de seus homens.

Mesmo de longe, posso ver que eles estão vivos e respirando. Levanto-me lentamente, virando e procurando por qualquer outra pessoa ferida, indo para o lado de um dos prédios, onde vejo o que parece ser um longo cabelo escuro espreitando para fora de um canto. Meu primeiro pensamento é: Janie. Com certeza, não a conheço muito, mas o que conheço, eu gosto, e sinto meu coração bater mais rápido quando caminho para o corpo.

Abaixo ao lado dela, percebendo primeiro, que ela é muito mais robusta do que Janie e, segundo, que ela também está respirando. Há um corte desagradável em sua testa onde ela bateu na lateral do suporte de um painel solar.

“Você está bem?” Pergunto, afastando seu cabelo do caminho quando Lo se joga ao meu lado.

“Gale? Merda, você está sangrando...”

“Ela está bem”, digo, tranquilizando-a, apesar de sua voz estar calma, de verdade, como se ela estivesse em trincheiras de guerra o tempo todo e o sangue não a afetasse.

“Que porra está acontecendo?” Pergunta-se Lo, olhando ao redor do terreno com olhos intensos.

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“Lo, você precisa buscar algum antibiótico triplo para sua

cabeça se estiver...”

“Hey, você é um Henchmen, certo?” Outra voz pergunta e nós dois viramos a cabeça para ver um homem negro alto e de boa aparência de pé em cima de nós, uma mancha de sangue cobre seu agasalho branco, mas além disso parece ileso.

“Sim, por quê?” Pergunto, ficando de pé enquanto Lo ajuda Gale a levantar, observando-nos.

“Merda, cara”, o homem diz, balançando a cabeça.

“O que foi?” Pergunto, sentindo todo meu corpo tensionar. Ele inclina a cabeça para mim, vira-se e aponta para o morro. Sigo seu olhar, e vejo... Porra... Fogo no lugar que tem que ser o complexo dos Henchmens.

“Porra!” Grito, já correndo em direção a minha moto, fazendo uma oração silenciosa para que ela ainda seja capaz de funcionar.

“Cash! Cash!” Estou vagamente ciente da voz de Lo me chamando, e, porra, se meu nome não soa bem em seus lábios, mas estou muito ocupado levantando minha moto e tentando dar a volta. “Cash, ligue para eles”, Lo diz, agarrando meu braço num forte aperto e puxando com força até que viro para olhá-la. “Ligue para eles”, ela repete, pegando minha mão, virando-a e colocando o celular na palma.

Olho a capa rosa protegendo seu celular, sentindo meus lábios curvarem, apesar da situação, em ver uma sugestão de suavidade debaixo de todas as suas arestas afiadas. “Certo”, digo, pegando o telefone e discando o número do complexo. Toca quatro, cinco vezes, antes de ouvir um ruído de fundo e um grunhido seco.

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Repo. Esse é o Repo. Graças a Cristo. Se há uma pessoa

com a garantia de estar no complexo (já que ele mora lá e é jovem, solteiro e sem filhos e, portanto, quase casado com o clube), é Repo.

“Repo. O que está acontecendo?”

“Cash? Foda-se homem”, ele diz e eu posso ouvir gritos ao fundo. “É um fodido caos.”

“Está todo mundo bem e contabilizado?”

“Todo mundo estava em casa menos eu, Jazz e Shredder. Você, o chefe e Wolf estão bem?”

“Até onde sei. Reign está em casa com Summer. Na última vez que vi Wolf, estava a caminho de casa. Estou em Hailstorm”, digo, olhando para baixo da colina para o fogo que parece subitamente menos devastador do que há um momento atrás.

“Eles estão fodidos também”, observa Repo como se olhasse ao longe para mim. “Assim está o lugar de Lyon, o bar de Mallick e o de Lex McMansion.”

“Que porra é essa?” Pergunto, virando para olhar Lo e seus homens que estão me olhando de forma incisiva. “Quem caralho bombardearia todos os grandes jogadores da cidade?” Pergunto, olhando Lo com uma sobrancelha levantada. Ela acena com a cabeça para alguns de seus homens que correm para o pátio interno, onde fica uma casa de tijolos, que é o centro de comando deles. Já estive lá antes quando Reign, Wolf e eu viemos a Hailstorm implorando para que nos ajudassem a recuperar Summer.

“Não sei, cara. Mas eles simplesmente foderam com as pessoas erradas”, diz Repo com uma espécie de feroz determinação que Reign realmente apreciava nele quando ele era nada além de um prospecto para nós. Mesmo agora, totalmente remendado, ele não perdeu nada de sua exuberância juvenil.

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“Como está o complexo?”

“O fogo pegou o galpão de trás”, ele diz, as palavras pesadas porque aquele é o galpão onde levamos pessoas que precisam... Aprender uma lição. É velho e muito antigo para demolir, mas há uma espécie de nostalgia ligada à maldita coisa e nunca tivemos tempo para isso.

“Só isso?”

“Este lugar é uma fortaleza”, ele me lembra com mais do que um pouco de orgulho.

“Certo. Reign sabe disso?”

“Ele está a caminho. Você está vindo?”

Olho Lo, ainda me encarando, o corte em seu rosto ainda sangrando indiferentemente. “Assim que puder. Diga ao meu irmão que estou bem.”

“Certo. Vejo você quando chegar aqui.”

“Prepare o fodido uísque”, digo, passando a mão pelo lado raspado da minha cabeça enquanto a realidade da situação começa a se instalar. As coisas acabaram de se estabelecer na cidade. Não houve qualquer guerra real faz muito tempo.

Inferno, a última merda que aconteceu foi iniciada por nós. Desde então, houve relativa paz, todos cuidando de seus próprios fodidos negócios.

Mas as bombas explodiram não em uma, mas em cinco das maiores organizações criminosas da região. Alguém está tentando enviar uma mensagem. Essa mensagem parece ser: você pode ser grande e mal, mas somos maiores, mais malvados e estamos indo atrás de vocês. O fato de que não houve qualquer dano apenas significa que é uma manobra destinada a nos assustar.

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Eles estão sacudindo nossa gaiola. Os fodidos estúpidos

não sabem que todos nós, cada um, mesmo os Mallicks que não jogam sujo com qualquer uma das outras organizações, são grandes cães fodidos e estamos mais do que dispostos a sair rosnando.

“Certo, cara.”

Termino a ligação, estendendo o telefone na direção de Lo que o pega, parecendo estar prestes a dizer algo. Seus homens correm de volta, um deles com um walkie perto da orelha.

“Lo”, diz ele, balançando a cabeça. “O que é?”

“Lex”, ele responde, deixando que o nome seja entendido. Há um monte de organizações criminosas em torno de nossas casas. Os Henchmen são traficantes de armas que geralmente não fodem com ninguém, a menos que eles fodam com a gente. Os Mallicks são uma família de agiotas (o pai, e seus cinco filhos). Ardilosos, cruéis, mas por outro lado, são bons cidadãos, que possuem cerca de uma dúzia de negócios legítimos que os mantem ocupados, incluindo seu bar que está bombando. Depois, há o pai de Summer, Richard Lyon, que, apesar de ser um chefão da cocaína, de alguma forma consegue administrar seu império com quase nenhum derramamento de sangue. Os Hailstorm aparentemente têm conexões em todos os lugares, alianças que nunca entenderei (e não quero), mas eles não machucam as pessoas pelo inferno disso (apenas por pagamento, aparentemente).

Agora, Lex... Lex é toda uma porra de outra história. Lex é a coisa mais próxima do diabo que anda na face da Terra. Ele é um assassino, bate em mulheres, é um porco estuprador sádico. O dia em que alguém o matar será o dia em que todas as

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mulheres da área poderão respirar aliviadas. Rezo pra caralho

para que isso aconteça.

“O que há sobre Lex?” Lo pergunta, recuperando-se diante de mim, mas seus olhos têm um tipo estranho de assombração que não entendo.

“Bem, todos os lugares: aqui, o complexo deles”, diz ele, acenando com a cabeça para mim: “O bar de Chaz, a propriedade de Lyon, sofreram danos mínimos. O lugar de Lex? Foi explodido, Lo.”

“Interessante”, diz Lo, mas uma guarda se abaixa sobre o rosto dela. Não a conheço bem, mas a conheço o suficiente para saber que, se ela está colocando uma guarda, não há como ela dividir comigo porque isso está lá. Tenho a sensação, no entanto, de que ela e Lex Keith não têm o tipo cordial de relação de amor / ódio que ela tinha com o horrível lixo humano que é V.

Lo odeia Lex Keith com uma paixão ardente. Vejo-me querendo saber o porquê.

“Estamos enviando contato?” Pergunta um dos homens. Uma sobrancelha levanta e um sorriso brinca em seus lábios. “Está realmente perguntando isso?” Ela diz e o cara negro, obviamente mais sênior de alguma forma que os outros, acena com a cabeça para o outro cara que corre, imagino eu, para “fazer contato.”

“Vai nos manter informados?” Pergunto, fazendo Lo virar como se ela tivesse de repente esquecido que estou lá.

“Vou encontrá-lo no comando”, diz ela ao homem que acena para ela, depois para mim, então sai. “Isso depende”, diz ela, fechando um pouco do espaço entre nós.

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“Dos Henchmens compartilharem suas informações

conosco.”

“Terei que falar com Reign”, digo, pela primeira vez na vida lamento o fato de que tenho que me submeter as decisões de outra pessoa. No passado, sempre gostei que Reign estivesse no comando, que ele fosse o único a arcar com o fardo. Assumi esse papel uma vez, por meio dia, e senti fisicamente o peso dele. Mas de pé no pátio de Hailstorm com sua líder, perguntando-me se eu e meus homens a manteremos informada, sim, quero ser capaz de lhe dar uma resposta. Isso me faz sentir abaixo dela por admitir que tenho que pedir permissão a outra pessoa.

Lo acena com a cabeça. “Avise-me.” Cristo, isso parece um chute nas bolas.

Não posso sair me sentindo abaixo dela. Essa merda simplesmente não acontecerá. As coisas precisam se equilibrar um pouco.

Infelizmente, o único cartão que tenho para jogar está na minha manga e é um jeito sujo de ganhar um jogo, mas é tudo que tenho.

Respiro fundo, fechando os poucos metros restantes entre nós, minha mão se levanta para acariciar o lado do corte em sua bochecha. Seu corpo inteiro tensiona, seus olhos vão para os meus, seus lábios entreabertos. Oh, sim, ela me quer. Ela pode não gostar de mim tanto quanto eu não gosto dela, mas seu corpo está a fim. Gosto disso de uma maneira doente.

“O que está fazendo, Cash?” Ela pergunta, tentando ser firme, mas seu tom sai um pouco sem fôlego.

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“Não é nada”, diz ela, tentando sacudir a cabeça para que

minha mão caia, mas meus dedos deslizam por sua mandíbula para segurar seu queixo em vez disso.

“Tem que cuidar de si mesma, linda”, digo, meu polegar se movendo para cima para esfregar a borda do lábio inferior. Seu corpo suaviza ligeiramente, seus olhos ficam nebulosos. Enquanto isso, estou duro como pedra só de tocar seu maldito rosto. Seja o que for entre nós, qualquer tipo de atração que esteja acontecendo, ou precisa ser completamente ignorada ou cedida, porque brincar com isso me dará o pior caso de bolas azuis da história.

“Cash...” Ela murmura, sua voz assumindo um tom rouco que quero ouvir dizendo todos os tipos de coisas obscenas no meu ouvido enquanto a fodo.

Meu dedo desliza para cima, apesar do meu melhor julgamento, e acaricia o vinco em seus lábios. Seu corpo oscila em direção ao meu e me sinto inclinar, observando seus olhos castanhos com uma espécie de fascínio ávido. O som de um carro ressoa, fazendo Lo saltar para longe, seus olhos selvagens, encarando a estrada. Vejo a esperança dela sumir quando o carro que parece ser uma viatura policial aparece, não quem ela está esperando.

“Ótimo”, ela resmunga enquanto se move para os portões que ainda estão abertos de quando entramos. Sigo atrás, observando os dois policiais saírem do carro - um mais jovem, atraente, um mais velho, com a barriga transbordando sobre o cós, parecendo muito desconfortável por ter que estar em Hailstorm.

“Lo”, o policial mais velho diz, acenando com a cabeça para ela, surpreendendo-me que ele realmente sabe quem ela é. Pelo que entendi, ninguém além de outros criminosos conhece Lo de vista. Ela é uma espécie de criminosa de 'reputação’. Ninguém

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sequer sabia que ela é uma mulher: daí seu nome, Lo, tipo em...

'lá em baixo'.

“Detetive Collings”, diz ela acenando para ele. “Rookie”, diz ela para o cara mais jovem, dando um sorriso que o faz limpar a garganta.

“Parece que teve um pequeno problema hoje à noite”, observa Collings.

“Parece que muita gente teve problemas hoje à noite”, Lo responde.

Collings assente, olhando para mim. “O irmão de Reign”, ele meio pergunta, meio declara.

Tenho orgulho de ter Reign como irmão. Dito isto, isso não justifica o orgulho de um homem de ser chamado de irmão de outro homem.

“Cash”, informo com um elevar de sobrancelha.

“Estive no seu... complexo”, diz Collings. “Parece que ninguém tem ideia de quem pode estar ao redor colocando bombas.”

“Imaginei isso”, digo, assentindo.

Collings balança a cabeça ligeiramente, olhando Lo. “Você não tem nenhuma informação para compartilhar conosco, Lo?”

Lo dá um sorriso suave, quase conspiratório: “Quando já tive alguma informação para compartilhar com você, Collings?”

“Se isso não é a maldita verdade”, diz Collings, apontando para seu oficial mais jovem ir em direção ao carro. “Bem, se tiver alguma coisa, você nos avisa, ouviu?” Ele pergunta, olhando para Lo, depois para mim.

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“Você está na discagem rápida”, concordo com um sorriso

que, surpreendentemente, o faz rir.

“Certo”, ele balança a cabeça, indo para a viatura e entrando.

“Velho amigo?” Pergunto ao perfil de Lo enquanto ela os observa ir.

“Algo assim”, ela concorda, com os olhos ainda na estrada, acompanhando-os.

“Certo”, digo, balançando em meus calcanhares, sabendo que o momento se foi. Preciso voltar ao complexo. “Eu tenho que ir”, digo, indo em direção a moto e subindo. Lo se sacode de seu estupor e vem para o lado da minha moto também, observando-me. “Então, estava fodendo com Collings ou realmente não tem ideia de quem fez isso?” Pergunto, sentindo algo estranho sobre ela, mas não sendo capaz de identificar.

Lo respira fundo, encontra meu olhar com firmeza e diz numa voz forte: “Não faço ideia de quem disparou as bombas, Cash.”

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CAPÍTULO QUATRO

Lo

Foi Janie.

Janie, minha doce e pequena Jstorm. Ela disparou as bombas.

Soube no momento em que o nome de Lex Keith foi pronunciado. Tudo se encaixa. É por isso que ela não me pegou na casa de Reign. É por isso que todos os outros locais: o bar de Chaz, o complexo dos Henchmen, a casa de Lyon e Hailstorm tiveram um dano mínimo, se houve dano de verdade. Ela está tentando criar o caos. Ela quer todos se arrastando para encontrar explicações para todas as principais organizações criminosas na área serem alvo.

Merda.

Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Preciso encontrá-la.

Viro, indo até o contêiner principal, contendo sapatos e casaco, em seguida, através daqueles que apoiavam a sala de estar e cozinha, andando até que chego ao quartel. Podemos ter feito uma tentativa para que todos tenham seu espaço pessoal, bloqueando salas para uma ou duas pessoas. Nós certamente temos terra para expandir e os contêineres podem ser obtidos a baixo custo. Mas a grande maioria do meu pessoal é ex-militar, achando os alojamentos confortáveis, familiares, de algum

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modo menos estressante do que tentar se adaptar às condições

normais de vida.

Há apenas algumas de nós, mulheres, em Hailstorm e enquanto ocupamos os conjuntos de beliches na extremidade mais distante, dividimos o espaço com os homens. Simplesmente não há razão para não fazer.

Passo pelas beliches vazias, indo na direção da minha, que fica abaixo da de Janie, com uma crescente sensação de trepidação. Paro na escada, subindo dois degraus e olhando para cima. Sua cama está feita perfeitamente (assim como todas), completa como em hospitais. Mas seus livros estão faltando. Ela sempre tem uma pilha ao pé da cama ao seu alcance quando seus pesadelos, que na verdade são memórias, voltam fortes demais para deixá-la dormir.

Desço, abaixando-me ao lado do seu baú e o abro. Vazio.

“Puta que pariu!” Grito, batendo-o fechado, o som ecoando através do cômodo vazio.

Todos os meus homens importam para mim, cada um deles. Todos têm suas próprias histórias de horror; suas motivações, eles precisavam desaparecer; têm suas próprias razões para não serem capazes de deixar a vida de guerra e violência para trás. Muitos são veterinários, alguns garotos de rua que foram pegos cedo e correram antes que pudessem ser mortos antes dos trinta. Todos eles têm pequenos pedaços do meu coração.

Mas Janie tem um enorme pedaço dele. Janie é como uma irmãzinha para mim, ou como a filha que nunca terei. Ela é áspera, dura e espinhosa e usa sua inteligência como um escudo, mas por baixo de tudo está a menina de dezesseis anos que encontrei uma noite, uma menina que aceitei e criei por oito anos.

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Ela é... Tudo.

E ela acaba de bombardear cinco organizações poderosas no decorrer de uma noite.

Haverá repercussões.

As pessoas irão buscar vingança.

O pior deles nunca perdoará, o resto jamais esquecerá. E porque Janie é Hailstorm, nós nunca mais teremos o mesmo tipo de alianças que tínhamos. Nós nunca seremos capazes de desfrutar de nossa reputação livre de drama novamente.

Mas tudo isso, bem, isso não importa. O que importa é Janie. O que importa é o fato de que ela planejou e orquestrou uma trama tão intrincada e eu de alguma forma nem sequer percebi que ela iria ao fundo do poço. Isso nunca deveria acontecer. Eu deveria ter visto os sinais. Eu deveria ter sido capaz de colocar alguma razão nela.

E se Janie foi embora, se ela empacotou todas as coisas e partiu, então ela f-o-i e-m-b-o-r-a. Ela tem as habilidades para desaparecer. Eu ensinei-a como fazer essa merda. Treinei-a para sair do radar, tornando-se alguém novo. Ela ficou ao meu lado e me viu fazer isso por outras pessoas. Cristo, ela planejou isso o tempo todo? Ela ficou comigo, pegando todo o conhecimento que eu poderia passar e catalogando para mais tarde?

Uma parte de mim não quer pensar que fui tão cega. A outra parte, no entanto, sabe que ela é perfeitamente capaz de ser tão inteligente e calculista.

O que diabos devo fazer?

“Lo?” Malcolm, um homem mais velho, quarenta e poucos anos, alto, magro, em forma, grisalho e de uma forma atraente,

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com os olhos azuis gelo mais nítidos que já vi, militar,

ex-segurança privada, ex-PI, ex-tudo, vem até mim. “E aí?”

Malcolm apareceu em Hailstorm um dia, bem no começo, depois de eu ter estragado um dos seus casos de PI, cuspindo fogo e pronto para quebrar 'aquele cara Lo'. Descobrir que eu era Lo, bem, sua raiva foi drenada, ele jogou a cabeça para trás e riu, e um mês depois, estava morando em Hailstorm e me ensinando tudo o que sei. Ele é como uma figura paterna para todos nós (mesmo que ele seja apenas alguns anos mais velho que eu). E ele me conhece malditamente bem.

“Não posso dizer ainda, Malc”, admito, sabendo melhor do que tentar mentir para ele.

Ele assente, aceitando isso, sentando-se num armário em frente a mim. “É ruim?”

Sento-me também, olhando minhas mãos por um momento. É ruim? É o pior. Não posso possivelmente ter algo pior.

“Sim”, admito, olhando o rosto dele. Ele é atraente, injustamente, mesmo na idade dele, uma característica que só homens parecem possuir.

“Merda.” Ele suspira. “Todos nós devemos nos preocupar?” “Não”, eu digo, com firmeza. “Não é uma ameaça. Vou me certificar de que não se transforme em uma.”

“Sabe que tenho imenso respeito por você. Sei que é uma das melhores lá fora, querida”, ele diz, dando-me um sorriso encantador, “mas nem mesmo você deveria estar se metendo nessa merda sozinha.”

“Não estou nisso sozinha”, digo, meio deitada, sem perceber que acariciava o armário de Janie até o olhar de Malcolm se instalar ali.

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Jessica Gadziala

“Jstorm tem parte nisso?” Ele pergunta, os lábios se

contraindo, revelando seu ponto fraco por ela.

Oh, sim, ela está por toda parte, apenas não do jeito que ele pensa.

“Sim”, digo baixinho.

“As duas juntas? Vocês são um time do caralho. Mas não gosto de duas mulheres entrando nessa merda sozinhas também. Mesmo duas duronas como vocês duas são”, ele acrescenta quando sabe que estou prestes a me lançar nele. O sexismo simplesmente não é aceitável em Hailstorm. Nós, mulheres, ralamos nossas bundas para sermos levadas tão a sério quanto os homens, o que muitas vezes significa que precisamos trabalhar muito mais do que eles, mas ganhamos o direito de ficar ombro a ombro com nossos colegas homens. “Apenas dizendo... você sabe...” Ele acrescenta, os olhos parecendo mais sombrios e preocupados.

“Prometo que se parecer perigoso, trarei alguns homens.” “Bom.”

“Estarei um pouco... sumida lidando com isso”, digo. “Posso confiar em você para manter o forte?”

“Sempre, querida”, diz ele, seu tom sério e sei que posso contar com ele. “Reunirei as tropas e te substituirei. O de sempre.” “Obrigada, Malc”, digo, de pé, assim como ele está e fecho a distância para apertar-lhe no braço. Não sou exatamente um tipo de garota de abraços e ele não se sentiria confortável com sua líder envolvendo os braços ao redor dele de qualquer maneira, isso é tão perto da afeição física quanto conseguimos.

“Fique segura, Lo”, diz ele, fazendo parecer menos um apelo e mais como um comando.

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“Sempre. Estarei em contato”, digo, saindo do quartel e indo

rapidamente para a fila de veículos que mantemos para uso comum.

Não faço as malas. Eu não preciso. Ensinei todos a manter um kit de sobrevivência escondido em algum lugar próximo e, em seguida, um longe no caso de alguma vez precisarem, na necessidade de se esquivar. Eles sabem disso porque eu sei disso. Tenho cinco kits de sobrevivência escondidos em vários locais por toda a cidade. Nunca soube se alguma merda bateria no ventilador de uma forma que nem mesmo a besta feroz que é Hailstorm poderia consertar. Sempre precisei estar preparada.

Deslizo para trás do volante de um hatchback preto discreto e saio de Hailstorm com uma sensação de chumbo no estômago. Dirijo pela cidade, diminuindo a velocidade para verificar o dano ao bar de Chaz, vendo todos os cinco homens Mallick e seu pai em pé na frente, braços cruzados sobre os peitos largos, parecendo sexys e durões. Cada um deles é um potencial modelo de capa com cabelos negros e olhos azuis.

Eles também parecem muito cruéis e chateados, como se estivessem tendo algum tipo de reunião familiar. Na frente do complexo Henchmen, as motos estão alinhadas, fazendo parecer que todos estão no convés. Eles provavelmente estão tendo Igreja sobre os atentados.

Continuo meu caminho, subindo um pouco a colina para checar os danos na casa de Lex Keith.

É ruim. Quaisquer bombas que Janie colocou (e Janie é bem conhecida por seu trabalho com bombas) foram colocadas para causar o máximo de dano. O portão está aberto para o que, não tenho certeza. Ela não precisaria bombardear os portões para entrar. Ela não estava sozinha? Jesus, ela se juntou a outra pessoa sem me contar?

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Jessica Gadziala

“No que você se meteu, Janie?” Pergunto ao carro,

observando as chamas engolfarem a mansão de Lex cheia de cópias da primeira edição de livros que ele nunca leu e arte que ele não entende.

Uma parte de mim, desagradável e vingativa, no limite da diabólica parte de mim, espera que ele esteja queimando lentamente até a morte ali. A pior morte possível para a pior pessoa possível.

A outra parte de mim, no entanto, tem certeza de que não é possível matar aquele bastardo malvado.

Faço uma reviravolta rápida e vou para o outro lado da cidade, o lado ruim, o lado que até mesmo os membros de gangues endurecidos ficam um pouco assustados para andar sozinho à noite. Faz muito, muito tempo desde que vi minha antiga casa segura.

Treze anos atrás, era tudo que eu tinha no mundo. Comprei com cada centavo de dinheiro roubado que tinha, um roubo de verdade, mas era a propriedade diretamente em frente a uma conhecida e violenta gangue. Então, aos vinte e quatro anos e mulher, não era exatamente um lugar “seguro” para estar, mas era mais seguro do que o que eu precisava fugir. Conforme o tempo passou e construí Hailstorm, não houve realmente nenhuma razão para mantê-la além da nostalgia. Eu posso fazer uma casa segura em qualquer lugar.

Mas a mantive.

Viro o carro, verificando meus espelhos para ver os caras do outro lado da rua se levantarem e me observarem.

Merda.

Faz anos. Os líderes provavelmente vão e vem. Sangue novo não reconhece rostos antigos. Paro o carro na metade do caminho, abro o porta-malas e desço com o motor ainda

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ligado. Vou até o porta-malas, tentando o meu melhor para

ignorar as batidas do meu coração, estendo a mão e pego as duas maiores armas que estão guardadas lá dentro.

Eu me viro, braços levantados, observando a mistura de emoções atravessando seus rostos. Alguns surpresa. Outros medos. Um, nada. Ali está meu líder.

“Ouviram falar de Hailstorm?” Pergunto, levantando a voz para atravessar a rua.

“Sim”, o que identifiquei como o líder responde, levantando o queixo e mantendo contato visual. Frio como um pedaço de pepino. Ele é uma boa escolha para liderança.

“Meu nome é Lo e se você der a porra de um passo nessa propriedade, vou reunir alguns dos meus homens, entrar em sua pequena... sede”, digo, dando ao seu edifício dilapidado um aceno de cabeça, “e pessoalmente cortar seus paus. Você já ouviu meu nome?” Pergunto, vendo outro pequeno queixo sacudir. “Então sabe que sou perfeitamente capaz de cumprir essa ameaça. Então, estamos entendidos?” Pergunto, mantendo contato visual.

“Cadela, estamos entendidos”, diz ele, dando-me um pequeno sorriso que poderia ser encantador se ele não fosse um traficante de heroína e cafetão. “Não colocarei um pé em sua propriedade.”

“Bom”, digo, abaixando as armas e voltando para meu carro. Foi uma jogada arriscada ameaçar uma gangue, sozinha e sendo mulher. Poderia ter terminado de um jeito completamente diferente. Mas o fato é que não posso trazer meus homens para minha casa segura. Essa é uma parte da minha vida que eles não se encaixam. Então, ou preciso estar na frente dos caras malvados locais, ou me afastar e encontrar outro lugar.

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Jogo as armas de volta no porta-malas, entro no carro e

dirijo o resto do caminho em direção a casa.

Chamar de “casa” pode ser generoso. Não é maior do que um grande galpão, feito de estuque branco desmoronando e um telhado preto descascando. As janelas foram trancadas antes de eu me mudar e acrescentei uma porta de segurança para mais tranquilidade. Tudo somado, é bem trancada. Na última vez em que estive lá, liguei uma luz a um temporizador e mantive a energia, a água e o calor, apesar de nunca sequer ter visitado para ver se o lugar ainda estava de pé.

Alcanço debaixo da minha camisa, puxando a corrente que contém as únicas duas chaves que preciso - uma para um cofre onde guardo todas as minhas outras chaves, e outra para minha antiga casa segura.

Tranco o carro, apesar de saber que isso não me fará bem num bairro onde há a possibilidade de que meus pneus, som e transmissão possam estar faltando pela manhã, e caminho até a calçada de cascalho.

Coloco a chave na fechadura, sentindo uma mistura de emoções inundando meu sistema. Primeiro, há nostalgia, a sensação de conforto, familiaridade, especialmente sabendo que, literalmente, todas as últimas coisas dentro dela estarão como as deixei. Em segundo lugar, porém, há uma estranha incerteza que faz meu estômago revirar tão rápido que me sinto enjoada. Atravessando-a, seguro a madeira e estendo a mão para o interruptor de luz ao lado da porta. Aperto-o e nada acontece.

O turbilhão no meu estômago se intensifica quando dou um passo, pegando meu celular para iluminar o caminho até outra fonte de luz. Passo por meus aplicativos, procurando a lanterna quando fecho a porta da frente. Mas então algo acontece.

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Jessica Gadziala

A sensação de redemoinho no meu estômago se transforma

numa sensação de queda.

“Hey, Willow”, uma voz diz. Meu celular cai e me viro para correr.

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Jessica Gadziala

CAPÍTULO CINCO

Cash

“Aponte-me uma direção, Prez”, diz Repo, com os punhos cerrados ao lado do corpo. Ele cresceu desde que foi remendado, mas nunca foi fraco para começar. Ele mantém seu passado trancado, mas há uma escuridão em seus profundos olhos azuis e uma cicatriz que percorre o lado inteiro de seu rosto, cortando a saliência afiada de sua mandíbula. Ele viu alguma merda, fez alguma merda antes mesmo de nós colocarmos os olhos nele. Combine isso com o fato dele ser espancado para tentar salvar Summer uma vez e depois se levantar da cama doente para entrar, com armas em punho, e ajudar o resto de nós a resgatá-la? Sim, ele é um dos favoritos de Reign.

“Não tenho uma direção para apontar ainda, Repo”, diz Reign, tomando uma cadeira e encolhendo os ombros. “Tudo que sei é que alguém está tentando intimidar-nos. Mas nos atacar? Isso é pessoal. Atacar-nos e, digamos, os russos? Isso é sobre tentar levar o comércio de armas na área. Mas nos atacar, Hailstorm, Lyon, os Mallicks e Lex? Isso não é nada além de uma demonstração de poder, dizendo a todos para vigiarmos nossas costas. Nenhum de nós tem nada em comum.”

“Hailstorm nos ajudou”, Vin, um membro mais velho do clube, da época em que nosso pai controlava a merda, entra na conversa. “Eles te ajudaram a pegar Summer de volta. O mesmo fez Lyon. E os Mallicks? Shane nos contou sobre o rato que tínhamos no clube.”

Referências

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