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Relação entre desemprego e asão ao risco: uma análise do mercado de trabalho de Fortaleza Ce

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

MESTRADO ACADÊMICO EM ECONOMIA

JIVAGO RIBEIRO GONÇALVES

RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E AVERSÃO AO RISCO: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE TRABALHO DE FORTALEZA-CE

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JIVAGO RIBEIRO GONÇALVES

RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E AVERSÃO AO RISCO: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE TRABALHO DE FORTALEZA-CE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Economia.

Área de Concentração: Métodos

Quantitativos Aplicados.

Orientador: Prof. PhD. Ricardo Brito Soares

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JIVAGO RIBEIRO GONÇALVES

RELAÇÃO ENTRE DESEMPREGO E AVERSÃO AO RISCO: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE TRABALHO DE FORTALEZA-CE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Economia.

Área de Concentração: Métodos

Quantitativos Aplicados.

Aprovada em: ___ / ___ / ______.

Banca Examinadora

___________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Brito Soares (Presidente)

Universidade Federal do Ceará - UFC

___________________________________________ Prof. Dr. José Raimundo de Carvalho

Universidade Federal do Ceará - UFC

___________________________________________ Prof. Dr. Emerson Luís Lemos Marinho

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar sempre presente em minha vida.

A minha mãe Virgínia, minha tia Ana Luíza e meu tio Nelson, por acreditarem em mim, me apoiarem e me incentivarem.

A toda minha família e amigos, pela torcida.

A minha namorada Paulinha, pelo apoio.

A todos os meus professores do colégio INEC, Universidade Federal do Piauí (UFPI), curso CATE e Curso de Pós-Graduação em Economia (CAEN), por contribuírem para o meu desenvolvimento intelectual e me tornar preparado para seguir pelo caminho profissional escolhido por mim.

A todos os funcionários do CAEN, pela infinita disposição em ajudar.

Ao meu orientador Ricardo Brito, pela disponibilidade manifestada em orientar este trabalho, pela valiosa ajuda na definição do objeto de estudo, pela orientação, pela revisão, pelos comentários, esclarecimentos, opiniões e sugestões.

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RESUMO

A teoria da busca por emprego prediz que indivíduos mais avessos ao risco possuem salários de reserva menores que indivíduos menos avessos ao risco e, por conseguinte, teriam uma menor probabilidade em estarem desempregados (PISSARIDES, 1974; NACHMAN, 1975; LIPPMAN e McCALL, 1976). Evidências empíricas para esta hipótese, no entanto, são bastante escassas nos mercados de trabalho de países desenvolvidos e praticamente inexistente em países com mercados caracterizados por um alto grau de informalidade. Este trabalho tem por objetivo averiguar esta teoria neste último contexto, e mais especificamente para o mercado de Fortaleza-CE (Brasil), utilizando para isso uma base de dados que contêm informações de mercado de trabalho, juntamente com indicadores de comportamento de risco dos indivíduos. A partir desta base de dados, classificaram-se os indivíduos quanto à aversão ao risco, realizaram-classificaram-se estimativas de probabilidade de desemprego a partir de modelos Logit, e encontraram-se resultados condizentes com a teoria, principalmente quando se compara indivíduos nesta condição com aqueles no mercado informal.

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ABSTRACT

The job search theory predicts that more risk averse individuals have lower wages than less risk-averse individuals booking and therefore would be less likely to be unemployed (PISSARIDES, 1974; NACHMAN, 1975; LIPPMAN and McCALL, 1976). Empirical evidence for this hypothesis, however, are quite scarce in labor in developed and practically nonexistent in countries with markets characterized by a high degree of informality country markets. This paper aims to investigate this theory in the latter context, and more specifically for the market of Fortaleza, CE (Brazil), using for this purpose a database containing information of the labor market, along with indicators of risk behavior of individuals . From this database, classified themselves as individuals to risk aversion, there were estimates of the probability of unemployment from logit models, and met results consistent with the theory, especially when comparing individuals with this condition those in the informal market.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1: A RELAÇÃO ENTRE AVERSÃO AO RISCO E DESEMPREGO 11

1.1 Referencial Teórico 11

1.2 Evidências Empíricas 14

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA 17

2.1 Medidas de Aversão ao Risco 17

2.2 Modelos Empíricos 21

CAPÍTULO 3: RESULTADOS 23

CONCLUSÃO 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 28

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INTRODUÇÃO

O modelo de busca por emprego desenvolvido por McCall (1970) e Mortensen (1970) analisa o processo de aceitação ou não de uma oferta de emprego pelos indivíduos que estão desempregados. O modelo parte da ideia que todos os indivíduos que estão buscando emprego possuem um salário de reserva, que corresponde ao menor valor que torna o indivíduo disposto a deixar sua condição de desempregado e aceitar uma oferta de emprego. Quanto menor for o salário de reserva do indivíduo, maiores serão as chances dele aceitar uma proposta de emprego e sair da condição de desempregado, bem como o período que ele permanecerá desempregado será menor. O fator mais importante que determina a condição de desemprego é a fricção entre oferta e demanda movida por informações imperfeitas (STIGLER, 1961 e 1962) e desajustes temporais entre as ofertas disponíveis e os tipos de trabalhadores.

O modelo tradicional de busca por emprego assume algumas hipóteses extremamente simples e, dentre elas, está à hipótese que os indivíduos são neutros ao risco. Entretanto, se considerarmos que os indivíduos possuem comportamentos heterogêneos frente ao risco, poderemos tirar uma série de conclusões de como este comportamento afeta a sua tomada de decisão no mercado de trabalho.

Segundo os trabalhos de Pissarides (1974), Feinberg (1977) e Pannenberg (2007), trabalhadores muito avessos ao risco possuem baixos salários de reserva e aceitam baixas ofertas salariais. Como consequência, esses indivíduos possuem uma menor probabilidade de estarem desempregados (LIPPMAN e McCALL, 1976), pois ficam menos tempo nesta condição (FEINBERG, 1977). Além disso, aversão ao risco deveria reduzir a intensidade de busca por emprego dado que este processo

de searching é um investimento de risco (GUISO e PAIELLA, 2004; HANCHANE et

al., 2006; e PFEIFER, 2008). Assim, trabalhadores muito avessos ao risco estariam menos propensos a mudar de emprego, vis-à-vis, indivíduos pouco avessos ao risco (GUISO e PAIELLA, 2004; e PFEIFER, 2008).

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isso se deve à falta de informações conjuntas em uma mesma pesquisa sobre o tipo do trabalhador com relação ao risco e a sua inserção no mercado. Mais recentemente algumas pesquisas de mercado de trabalho vêm incluindo perguntas diretas ou situacionais que permitem mensurações de riscos dos indivíduos, possibilitando investigações empíricas sobre o assunto.

A Pesquisa da Renda e Riqueza Familiar realizada pelo Banco da Itália1, por exemplo, possui informações sobre preços de reserva em loterias hipotéticas, o que foi utilizada por Guiso e Paiella (2004) e Diaz-Serrano e O´Neil (2004) para a classificação dos indivíduos quanto a aversão ao risco, e como isto afeta suas participações no mercado de trabalho.

O Painel Socioeconômico Alemão2 também possibilita a construção de indicadores de aversão ao risco tanto pelo método direto de auto percepção do indivíduo quanto pela forma indireta de escolhas em situação de riscos envolvendo mudanças de rendimentos (propostas de empregos com salário variável, por exemplo). Dohmen et al. (2005) e Pfeifer (2008) utilizaram esta base de dados investigando os efeitos que a aversão ao risco pode ter no tipo, estabilidade, salário e satisfação com o emprego. Além destas bases de dados tradicionais da Europa, Ding et al. (2010) realizaram uma pesquisa na Universidade de Pequim, em 2008, com o objetivo de validar os 2 métodos (direto e indireto) de estimação de aversão ao risco, e como elas repercutem de forma similar nas decisões individuais.

No Brasil, não se tem informações sobre estudos empíricos correlacionando a aversão ao risco do indivíduo e sua condição no mercado de trabalho. Do ponto de vista teórico, vale mencionar Cysne (2006), que transformando aversão ao risco em impaciência (taxa de desconto) no modelo de trabalhadores heterogêneos de Pissarides (1974), mostra como esta heterogeneidade pode afetar o desemprego, e como este afeta a distribuição de renda.

Este trabalho utiliza uma base de dados de uma pesquisa realizada com 4.030 indivíduos no município de Fortaleza que contem informações sobre atitudes de risco e posições no mercado de trabalho. Estas informações possibilitam a investigação de possíveis correlações existentes entre aversão ao risco e desemprego que é o foco deste trabalho. Esta correlação seria negativa conforme

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Pissarides (1974) e Lippman e McCall (1976), o que não foi verificado nos trabalhos de Diaz-Serrano e O’Neill (2004) para a Itália e Pfeifer (2008) para a Alemanha. A falta de proteção maior ao trabalhador na situação de desemprego, juntamente com um mercado informal proeminente pode levar o caso Brasileiro a seguir conforme a teoria. Desta forma, estimam-se modelos de probabilidade de desemprego versus ocupações (formais ou informais), tendo-se como variável chave adicional a qualificação do trabalhador quanto a sua aversão ao risco. Vale destacar ainda que os modelos de probabilidade de desemprego são estimados por meio de modelos logit com efeitos aleatórios (modelos em multinível) para os entrevistadores da pesquisa3. Estes efeitos tanto podem estar capturando efeitos locais do mercado de trabalho, dado que cada entrevistador é responsável por uma área geográfica específica, quanto à própria influência do entrevistador. Pode-se argumentar, por exemplo, que as respostas dos indivíduos entrevistados possam ser afetadas pela clarividência das situações hipotéticas caracterizadoras de atitudes de risco, e que esta é influenciada pela exposição do entrevistador. Como nos microdados da pesquisa também se tomou o cuidado de identificar os entrevistadores, esta hipótese será testada através do efeito aleatório do mesmo, e de como a inclusão do efeito aleatório influencia os efeitos dos indicadores de risco.

Este trabalho está dividido em 3 capítulos para que se possa perceber a contribuição do mesmo na literatura relativa ao mercado de trabalho e aversão ao risco. No capítulo 1, apresenta-se o referencial teórico da relação entre aversão ao risco e desemprego e algumas evidências empíricas sobre o tema. No capítulo 2, apresentam-se trabalhos feitos anteriormente no intuído de medir aversão ao risco dos indivíduos, e descrevem-se como os mesmos foram classificados na pesquisa disponível. Ainda nesta seção apresenta-se o modelo empírico a ser estimado (Logit com efeito aleatório), sendo os resultados expostos no capítulo 3. Vale adiantar que os resultados foram em acordo com a hipótese teórica, o que passa ser discutido na conclusão.

3 Foram utilizados 20 entrevistadores na pesquisa para cobrir a amostra que é representativa da cidade de

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CAPÍTULO 1

A RELAÇÃO ENTRE AVERSÃO AO RISCO E DESEMPREGO

1.1 Referencial Teórico

A teoria neoclássica da oferta de trabalho analisa o equilíbrio no mercado de trabalho entre as forças de oferta e procura. Essa teoria parte de 2 pressupostos: o primeiro pressuposto refere-se ao fato dos indivíduos não sofrerem de ilusão monetária e, por isso, o que determinaria o equilíbrio no mercado de trabalho seria o salário real, e não o nominal; e o segundo pressuposto refere-se ao fato de existir informação perfeita no mercado de trabalho, ou seja, os agentes tem conhecimento de todas as oportunidades de emprego existentes e os salários oferecidos pelas firmas. Sendo assim, dado que os agentes possuem um tempo limitado (24 horas), eles decidem quantas horas dedicar-se ao trabalho e quantas horas dedicar-se ao lazer. Para essa teoria, indivíduos que decidem não dedicar nenhuma hora ao

trabalho são chamados de “não participantes” do mercado de trabalho. Ela assume, portanto, que ou os indivíduos estão empregados, ou não participam do mercado de trabalho, não admitindo assim a existência de indivíduos “desempregados”.

Entretanto, conforme observou Stigler (1961, 1962), essa hipótese de informação perfeita no mercado de trabalho é simplista demais e não corresponde à realidade uma vez que os indivíduos que estão buscando emprego não sabem quais firmas estão, de fato, contratando, e quais são os salários pagos por elas. Assim, partindo do pressuposto que no mercado de trabalho a informação não é perfeita, a teoria da busca por emprego desenvolvida por McCall (1970) e Mortensen (1970)

considera o fato de haver indivíduos “desempregados”, ou seja, indivíduos que não estão empregados, mas estão procurando emprego. Esses indivíduos são conhecidos na literatura como “candidatos a emprego”.

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situado em um ambiente estacionário, os indivíduos possuem função de utilidade linear (neutros ao risco), os indivíduos não podem procurar por outro emprego uma vez que eles estejam empregados, não é permitido a eles escolher a intensidade de busca por emprego, e os benefícios do seguro desemprego são exógenos ao modelo.

Uma oferta de emprego consiste em uma proposta de trabalho com um salário nominal constante w em que o trabalhador receberá em cada data este salário enquanto ele permanecer trabalhando para esta firma. Assumindo que o agente é neutro ao risco e, por uma questão de simplicidade, omite-se o cálculo da desutilidade marginal do trabalho, a utilidade instantânea do agente será simplesmente igual a w. Isso significa que durante um curto intervalo de tempo, dt em duração, o agente obtém um nível de satisfação instantânea igual a w dt.

Segundo Lippman e McCall (1976), a quantidade de ofertas de emprego que os indivíduos recebem depende diretamente do seu nível de esforço utilizado na procura, ou seja, quanto mais um indivíduo se esforçar na busca por emprego, mais ofertas de emprego ele receberá. Em contrapartida, procurar emprego envolve um custo (imprimir currículos, usar transporte para ir a entrevistas de emprego, etc.), de modo que quanto mais os indivíduos se esforçarem no processo de busca por emprego, maiores serão seus gastos. Assim, os indivíduos desempregados maximizarão a seguinte função de utilidade:

Yn = max (X1, X2, ... ,Xn) nc

onde Y representa a chance do indivíduo conseguir um emprego no período n, X

representa a quantidade de ofertas de emprego em cada período, n representa a quantidade de períodos e c o custo por período de buscar emprego.

Para simplificar a exposição, assumisse que um candidato a emprego pode apenas encontrar um único empregador em qualquer data (MORTENSEN, 1986). O empregador oferece ao candidato a emprego um salário constante w sob a duração do seu emprego, o qual ele está livre para aceitar ou recusar. A estratégia de busca por emprego ótima é:

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ii. Se o candidato a emprego recebe uma oferta salarial w, ele aceitará se, e somente se, essa oferta salarial for maior ou igual ao seu salário de reserva (w wr). Caso contrário, ele continuará procurando emprego.

Esse salário de reserva do indivíduo que está buscando emprego (wr) é definido pela teoria da busca por emprego como sendo o salário mínimo pelo qual o indivíduo aceita uma proposta de emprego e, portanto, deixa sua condição de

“desempregado”. Há apenas um valor ótimo para esse salário de reserva, e ele maximiza a utilidade intertemporal de um candidato a emprego (McCALL, 1970; LIPPMAN e McCALL, 1976; E CAHUC e ZYLBERBERG, 2004).

Conforme Cahuc e Zylberberg (2004) existem um conjunto de fatores que afeta o nível do salário de reserva (wr) do indivíduo, tais como a renda advinda com o desemprego (seguro-desemprego), o custo do desemprego (custo de oportunidade), condições no mercado de trabalho (taxa de chegada de ofertas de emprego e taxa de demissões), taxa de juros que vigora no mercado, nível educacional e tempo de experiência no mercado de trabalho. A teoria da busca por emprego procura analisar como cada um desses fatores afeta o nível do salário de reserva dos indivíduos. Entretanto, além desses fatores, é necessário levar-se em conta o comportamento dos indivíduos frente ao risco por dois motivos: em primeiro lugar, os indivíduos possuem comportamentos heterogêneos frente ao risco (GUISO e PAIELLA, 2004); e, em segundo lugar, atitudes individuais frente ao risco afetam as escolhas dos agentes econômicos (NACHMAN, 1975). Assim, neste trabalho, será relaxada essa hipótese inicial de neutralidade ao risco dos indivíduos e verificaremos como o grau de aversão ao risco dos indivíduos afeta esse processo de busca por emprego.

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Ao relaxar a hipótese de neutralidade ao risco no modelo de busca por emprego, Pissarides (1974), Nachman (1975) e Lippman e McCall (1976) chegaram a conclusões semelhantes: quanto mais avesso ao risco for o indivíduo, menor será o seu salário de reserva, o que implica em aceitar mais rapidamente uma oferta de emprego uma vez que indivíduos mais avessos ao risco atribuem menor valor aos ganhos futuros esperados de pesquisa e, portanto, estão mais inclinados a recusar a proposta de continuar procurando emprego, em favor de estar empregado. Por conseguinte, indivíduos mais avessos ao risco permaneceriam desempregados por menos tempo em relação aos indivíduos menos avessos ao risco, bem como sua probabilidade em estar desempregado em um dado período de tempo t seria menor.

1.2 Evidências Empíricas

Alguns estudos empíricos já foram realizados com o objetivo de averiguar a relação entre a atitude dos indivíduos frente ao risco e suas decisões no mercado de trabalho, tais como: suas escolhas ocupacionais, decisão em empreender, mudança de emprego, investimento em treinamentos e busca por emprego.

Com relação às escolhas ocupacionais, indivíduos mais avessos ao risco são menos prováveis a se tornarem autônomos ou empresários que indivíduos menos avessos. Em contrapartida, eles possuem uma maior probabilidade em se tornarem funcionários públicos em relação aos menos avessos ao risco (GUISO e PAIELLA, 2004). Em estudo semelhante, Bonin et al. (2006) concluíram que indivíduos mais avessos ao risco possuem uma maior probabilidade em trabalhar no setor público, vis-à-vis, trabalhar no setor privado. Isto se justifica em virtude de empregos públicos darem uma maior estabilidade ao trabalhador que empregos privados, muito embora os empregos públicos paguem, em média, salários menores que o setor privado. Em decorrência disso, indivíduos mais avessos ao risco tendem a ganhar menos que indivíduos menos avessos ao risco. (GUISO e PAIELLA, 2004; PANNENBERG, 2007; e PFEIFER, 2008).

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Com relação à mudança de emprego, indivíduos mais avessos ao risco possuem uma menor propensão a mudar de emprego em relação aos indivíduos menos avessos ao risco. (GUISO e PAIELLA, 2004; PFEIFER, 2008).

Quando se analisa a relação entre aversão ao risco e investimento em capital humano, percebe-se que indivíduos mais avessos ao risco investem menos em treinamentos que indivíduos menos avessos ao risco, pois capital humano pode ser considerado um ativo de risco e o retorno sobre seu investimento é incerto (GUISO e PAIELLA, 2004; HANCHANE et al., 2006; e PFEIFER, 2008).

Quanto a análise da relação entre busca por emprego e aversão ao risco, despontam 3 trabalhos: Feinberg (1977), Diaz-Serrano e O’Neill (2004) e Pfeifer (2008).

Feinberg (1977) utilizou uma base de dados do Painel de Estudos da Dinâmica da Renda, preparada pelo Centro de Pesquisa da Universidade de Michigan para os anos de 1969, 1970 e 1971, classificou os indivíduos quanto à aversão ao risco a partir de informações comportamentais dos mesmos, e concluiu que indivíduos mais avessos ao risco permanecem por menos tempo desempregados, o que está de acordo com a teoria. Diaz-Serrano e O’Neill (2004) estimaram um modelo Probit utilizando dados dos anos de 1995 e 2000 (dados em painel) de uma pesquisa feita pelo Banco da Itália sobre a riqueza e a renda das famílias italianas. Os resultados encontrados por eles mostraram que indivíduos mais avessos ao risco, ao contrário do que a teoria afirma, são significativamente mais prováveis estarem desempregados. Outro a realizar estudo semelhante foi Pfeifer (2008) que utilizou dados do Painel Socioeconômico Germânico e realizou estimativas Probit para averiguar como o grau de aversão ao risco dos indivíduos afetava emprego em tempo integral, trabalho temporário, mudança de emprego e realização de treinamentos. Os resultados encontrados por ele também apontaram que indivíduos mais avessos ao risco são menos prováveis em estarem empregados. Estes resultados contra intuitivos encontrados em Diaz-Serrano e

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tendem a continuar desempregados mesmo com um menor salário de reserva. Um sistema de proteção ao desemprego mais amplo e generoso permitiria esse esforço menor.

Outra característica importante destes mercados de trabalho, vis-à-vis, o mercado brasileiro é que o mercado informal é de pouca relevância. Os indivíduos

que estão procurando emprego na Europa estão “restritos” a trabalhar quase que

apenas na formalidade contratual, ao contrário dos trabalhadores brasileiros que contam com um amplo mercado informal no país que ocorre a margem da estrutura fiscal do estado. Assim, aqueles que buscam emprego e não conseguem no Brasil, acabam tendo no mercado informal uma opção com menor custo de entrada.

Diante do exposto acima, podem-se testar duas hipóteses de relacionamento entre aversão ao risco e condições no mercado de trabalho no Brasil:

i. quanto menos avesso ao risco for o indivíduo, maior será a probabilidade dele estar desempregado, conforme afirmaram Pissarides (1974) e Lippman e McCall (1976);

ii. esta probabilidade é ainda maior quando a alternativa ao desemprego é o mercado informal.

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CAPÍTULO 2

METODOLOGIA

2.1 Medidas de Aversão ao Risco

A aversão ao risco dos indivíduos é um importante conceito teórico, com potencial poder preditivo para vários comportamentos individuais como: escolha ocupacional, empreendedorismo, escolha de portfólio, demanda por seguros (vida, saúde, bens), busca por emprego, etc. Contudo, encontrar medidas de aversão ao risco ou estimá-las não é uma tarefa fácil. Essa dificuldade decorre do fato que nas bases de dados tradicionais disponíveis, não há informações que permitam aos pesquisadores realizar tal análise de risco, e quando existentes ainda são aproximadas ou sujeitas às críticas de subjetivismo ou imprecisão das percepções dos entrevistados.

Dentre as informações incluídas nas pesquisas já realizadas para a medição do grau de aversão ao risco dos indivíduos destacam-se duas possibilidades: medir

aversão ao risco de uma forma “direta”, acrescentando às pesquisas uma pergunta

onde os entrevistados se auto avaliam em uma escala de 0 a 10, onde 0 representa o indivíduo totalmente avesso ao risco e 10 representa o indivíduo amante ao risco;

ou medir aversão ao risco por meio de uma forma “indireta”, que pode ser feita de 2

maneiras: ou através da análise comportamental dos indivíduos, ou através de loterias.

Os primeiros estudiosos que se aventuraram em medir o grau de aversão ao risco dos indivíduos, por não disporem de uma base de dados que lhes permitissem

realizar uma análise comportamental de risco “direta”, utilizaram medidas “indiretas”

de aversão ao risco, ou seja, a partir das respostas dadas pelos entrevistados nas pesquisas sobre seu comportamento em determinadas situações cotidianas, criava-se uma metodologia para classifica-los quanto à aversão risco.

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Universidade de Michigan para os anos de 1969, 1970 e 1971. Como esta base de dados utilizada não continha uma medida de risco direta, ele construiu um índice de risco dos indivíduos considerando seu comportamento em determinadas situações tais como se o indivíduo possui seguro para o seu carro, se ele utiliza cinto de segurança enquanto dirige, e se ele fuma. Assim, indivíduos que possuem carros segurados, usam cinto de segurança enquanto dirigem e não fumam, foram classificados como mais avessos ao risco, vis-à-vis, indivíduos que não possuem carros segurados, que dirigem sem cinto e que fumam.

Somente a partir dos anos 90 foram incluídas nas pesquisas realizadas perguntas diretas sobre risco ou loterias para avaliação da disposição dos indivíduos a correr riscos. Guiso e Paiella (2004) utilizaram dados retirados da Pesquisa da Renda e Riqueza Familiar realizada pelo Banco da Itália em 1995. Nessa pesquisa, realizada com 8.135 famílias italianas, havia uma questão que era uma loteria com possibilidade de ganhar 10 milhões de Liras com probabilidade de 50%, e possibilidade de perder o valor investido de 50%. Perguntou-se aos entrevistados qual o valor máximo que eles estariam dispostos a pagar para participar dessa loteria. Os autores partiram do princípio que quanto mais avesso ao risco for o indivíduo, menor será o valor que ele estará disposto a pagar para participar da loteria, podendo até mesmo não querer pagar nada. Sendo assim, e dado que o valor esperado do jogo é de 5.000.000 de Liras, indivíduos que estavam dispostos a pagar um valor inferior ao valor esperado do jogo foram classificados como avessos ao risco, indivíduos que estavam dispostos a pagar um valor exatamente igual ao valor esperado do jogo foram classificados como neutros ao risco e indivíduos que estavam dispostos a pagar mais do que o valor esperado do jogo foram classificados como amantes ao risco.

Diaz-Serrano e O’Neill (2004) utilizaram os mesmos dados de Guiso e Paiella

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Dohmen et al. (2005) utilizaram uma amostra de 22.000 indivíduos de uma pesquisa realizada em 2004 pelo Painel Socioeconômico Alemão. Os autores

mediram aversão ao risco utilizando dois métodos: um “método direto” e um “método indireto”. O “método direto” consistiu em perguntar aos entrevistados qual a disposição dos mesmos em tomar risco, em geral, utilizando como parâmetro uma escala de 0 a 10 sendo que quanto mais próximo de 0, mais avesso ao risco é o indivíduo, e quanto mais próximo de 10, menos avesso ao risco ele será, ou seja, será amante ao risco. Além disso, eles foram questionados qual era a sua disposição em tomar riscos em temas específicos como dirigir carro, finanças,

esportes e lazer, carreira e saúde. O “método indireto” consistiu em um experimento onde, hipoteticamente, os indivíduos deveriam considerar o recebimento de uma herança de 100.000 euros e que um banco de boa credibilidade faria uma proposta de investimento onde eles teriam a opção de investir 0, 20.000, 40.000, 60.000, 80.000 ou 100.000 euros com possibilidade de dobrar seu investimento em 2 anos com probabilidade de 50%, ou perder metade do dinheiro investido com probabilidade de 50%. Eles encontraram resultados bastante similares utilizando os dois métodos e, por isso, concluíram que ambos são eficazes em medir aversão ao risco dos indivíduos.

Pfeifer (2008) utilizou a mesma base de dados que Dohmen et al. (2005), mas levou em consideração nas suas estimativas de aversão ao risco apenas as respostas dos entrevistados sobre o quanto eles estariam dispostos a correr riscos em suas carreiras. Ele concluiu que, em média, os indivíduos tendem a ser mais avessos ao risco com relação à carreira.

Ding et al. (2010) realizaram estudos semelhantes aos de Dohmen et al. (2005). Eles realizaram uma pesquisa na Universidade de Pequim, em 2008, com o

objetivo de validar os 2 métodos de estimar atitudes de risco: o “método direto” onde

pergunta-se aos indivíduos o grau de aversão ao risco deles em uma escala de

atitude de risco e o “método indireto” onde pergunta-se o preço de reserva de um

ticket de loteria hipotético. Assim, eles questionaram os entrevistados sobre o seu

grau de aversão ao risco de uma maneira geral, variando de 0 (totalmente avesso ao risco) a 10 (amante do risco). Também se questionou o grau de aversão dos mesmos com relação a questões específicas tais como finanças, lazer, carreira,

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consistiram em 6 loterias diferentes onde entre uma loteria e outra eles mudavam o valor do prêmio e a probabilidade de ganho. Eles concluíram que existe uma substancial heterogeneidade nas atitudes de risco, ou seja, indivíduos que são muito avessos ao risco nas áreas de finanças e carreira, podem ser pouco avessos em lazer e esportes, por exemplo. Além disso, ambos os métodos mostraram-se satisfatórios na estimação do grau de aversão ao risco dos indivíduos.

Neste estudo, utilizou-se a base de dados de Carvalho (2012), na qual foram entrevistados 4.030 cidadãos no município de Fortaleza sobre suas condições socioeconômicas, experiências de vitimização (vítima de arrombamento domiciliar, roubo pessoal, agressão física, violência doméstica de gênero), expectativa de vitimização (expectativa de o indivíduo ser vítima de algum crime) e avaliação de risco (disposição do indivíduo a correr riscos em determinadas situações que envolvem finanças, emprego, esportes e vida). Nessa pesquisa, foram utilizados 20 entrevistadores, onde cada um ficou responsável por realizar entrevistas em uma determinada região da cidade. As variáveis utilizadas nesse estudo foram as variáveis socioeconômicas e a disposição dos indivíduos em correr risco em suas carreiras.

Entretanto, como nessa base de dados não há medidas diretas de risco dos indivíduos, utilizou-se um “método indireto” por meio de loterias para classificar a

amostra quanto ao grau de aversão ao risco dos indivíduos. É importante salientar que todos os indivíduos tiveram que responder a essas loterias, independente de estarem ou não empregados.4

Nessa pesquisa foram apresentadas 3 propostas de mudança de emprego

aos entrevistados em forma de “loterias”. Inicialmente, os entrevistados deveriam

supor que estavam empregados e que recebiam uma renda hipotética de R$ X, sendo que essa renda era a única renda familiar. A partir disso, foram feitas ofertas

de mudança de emprego em forma de “loterias” onde a probabilidade de ganho e de

perda eram iguais, isto é: P(Ganhar) = P(Perder) = ½. Sabendo disso, era feita ao indivíduo uma proposta de um novo emprego, tão satisfatório quanto o atual, onde

em caso de “ganho”, o indivíduo teria um aumento no salário atual de 50%, e em

4 Neste trabalho, assumisse que o grau de aversão ao risco dos indivíduos é uma característica intrínseca a eles e,

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caso de “perda”, seu salário atual diminuiria em 33%. Caso ele aceitasse essa

proposta, ele receberia uma nova proposta de mudança de emprego onde em caso

de “ganho” seu salário atual aumentaria em 50% e em caso de “perda” seu salário

atual diminuiria em 50%. Entretanto, caso ele tivesse recusado a primeira proposta de mudança de emprego, ele receberia uma nova proposta onde em caso de “perda”

seu salário atual diminuiria em 20%.5 As propostas de mudança de emprego estão apresentadas no apêndice A.

Para classificarmos os indivíduos quanto ao grau de aversão ao risco, nos apoiamos na ideia que indivíduos mais avessos ao risco tendem a ser menos propensos a mudar de emprego do que os indivíduos menos avessos (GUISO e PAIELLA, 2004; e PFEIFER, 2008). Sendo assim, e considerando as 3 propostas de mudança de emprego feitas aos indivíduos, percebe-se que há 4 combinações possíveis:

i) O indivíduo recusar as 3 propostas de emprego;

ii) O indivíduo aceitar a proposta de emprego onde há possibilidade de perda salarial de 20% e recusar as demais;

iii) O indivíduo aceitar as propostas de emprego com possibilidade de perda salarial de 20% e 33%, e recusar a proposta com possibilidade de perda salarial de 50%;

iv) O indivíduo aceitar todas as propostas de mudança de emprego.

Diante dessas combinações possíveis, criamos uma escala de 1 a 4, onde 1 representa o indivíduo muito avesso ao risco e 4 o indivíduo pouco avesso ao risco. Assim, quanto mais próximo de 4 na escala, menos avesso ao risco será o indivíduo.

Classificamos então os indivíduos da seguinte forma: aqueles que recusaram as 4 propostas de mudança de emprego, nós o chamamos de “risco 1”; os indivíduos que aceitaram apenas a proposta com possibilidade de perda de 20%,

chamamos de “risco 2”; indivíduos que aceitaram as propostas com possibilidade de perda salarial de 20% e 33% foram classificados como “risco 3”; e os indivíduos que aceitaram todas as 3 propostas foram classificados como “risco 4”. Feita essa classificação, verificamos que a maior parte da nossa amostra (77,95%) foi

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considerada de “risco 1”, ou seja, muito avessa ao risco, em conformidade com o que observaram Dohmen et al. (2005) e Ding et al. (2010). Indivíduos classificados como risco 2, 3 e 4, representaram, respectivamente, 4,3%, 6,6% e 11,2% da nossa amostra.

Além de levarmos em conta nos modelos a variável de risco criada por nós, acrescentamos aos modelos de desemprego alguns cofatores tradicionais de características dos indivíduos tais como chefe de família, mulher, idade, casado, negro, programa social (Bolsa Família, etc.) e nível de escolaridade. As estatísticas descritivas dessas variáveis estão apresentadas nas tabelas B.1 e B.2 do apêndice deste trabalho.

2.2 Modelos Empíricos

Afim de averiguar como o grau de aversão ao risco dos indivíduos afeta a probabilidade de desemprego, utilizou-se modelos Logit e modelos Logit com efeito aleatório (modelo multinível). Os modelos Logit com efeito aleatório foram utilizados em virtude de a pesquisa ter sido realizada por 20 entrevistadores distribuídos cada um em uma diferente região da cidade de Fortaleza. Esses entrevistadores possuem capacidades distintas em apresentar de forma clara as propostas de mudança de emprego aos entrevistados, podendo assim viesar as respostas dos entrevistados. Sendo assim, o modelo Logit com efeito aleatório busca capturar um possível efeito dos entrevistadores sobre as respostas dos entrevistados. Caso contrário, os coeficientes dos modelos Logit e Logit com efeito aleatório tenderão a ser estatisticamente iguais.

Na formulação clássica de resposta latente para variáveis dicotômicas, existe um indicador contínuo de propensão ao trabalho y*, cujo um determinado nível limite

(threshold) determina o estado da natureza observado do indivíduo (desemprego = 1

ou ocupação =0):

�� = { � � ∗ >

� �

Um modelo de regressão linear é então especificado para a variável latente y*, sendo para este trabalho definida por:

(24)

23

onde Zi = 0 + 1 Aversão ao risco + 2 Idade + 3 Idade ao quadrado + 4 Chefe de família + 5 Mulher + 6 Casado + 7 Negro + 8 Programa Social + 9 Fundamental Completo + 10 Médio Completo + 11 Superior Completo.

O erro residual εi é assumido ter média condicional igual a zero (E(εi/X) = 0), e ser independente entre si6. Neste caso, a probabilidade de um indivíduo estar desempregado é igual a:

Pr(yi* > 0/X) = Pr(Zi + εi > 0/X) = Pr{ εi > - Zi/X} = F(Zi)

onde F(.) é função densidade acumulada de εi, cuja função logística é igual a:

Pr(εi < Z) = exp(Z)/(1 + exp(Z))

No modelo Logit com efeito aleatório pode-se relaxar a hipótese de independência entre as observações de um mesmo grupo adicionando um intercepto aleatório para pessoas do mesmo grupo. A regressão para a variável latente ficaria então:

yih*= Zih + ζh + εih

sendo que o subscrito h refere-se ao grupo (nível) a que pertence o indivíduo i, e a

distribuição do seu termo aleatório específico é dado por ζh ~ N(0,ψ). Este termo é também independente entre grupos e das variáveis observáveis X. O modelo pode ser estimado por máxima verossimilhança, utilizando a técnica de adaptive

quadrature para aproximar as integrais envolvidas no modelo (Rabe-Hesketh e

Skrondal, 2012)7.

O modelo apresentado acima foi estimado sob 3 variações:

i. Modelo 1: consideramos os indivíduos desempregados como variável dependente, vis-à-vis, os indivíduos empregados (sem fazer distinção do tipo de emprego);

ii. Modelo 2: consideramos os indivíduos desempregados, vis-à-vis, os indivíduos que trabalham no mercado informal;

iii. Modelo 3: consideramos os indivíduos desempregados, vis-à-vis, os indivíduos que trabalham no mercado formal.

6 Neste caso X é a matriz de variáveis explicativas do modelo.

(25)

CAPÍTULO 3

RESULTADOS

3.1 Análise de Resultados

As estimativas dos 3 modelos apresentados na seção anterior estão representadas na Tabela 1. Constata-se que os efeitos aleatórios para todas as versões do modelo são significantes mostrando a importância desta especificação funcional.8

Os 3 modelos apresentaram coeficientes positivos para as variáveis de risco (risco 2, risco 3 e risco 4), o que indica que quanto menos avesso ao risco for o indivíduo, maior será a probabilidade dele estar desempregado. No sentido oposto, indivíduos mais avessos ao risco são também mais avessos ao desemprego. Entretanto, este resultado em acordo com a teoria de busca por emprego apresentou significância estatística apenas para a variável de risco 3 nos modelos 1 e 2. No Modelo 2, a saída do desemprego é para o mercado informal, o que corrobora a hipótese inicial que indivíduos muito avessos ao risco preferem trabalhar no mercado informal a permanecerem desempregados.

No mercado formal, mesmo pessoas com baixos salários de reserva determinados por uma alta aversão ao risco, podem encontrar dificuldades de entrada, o que pode justificar o efeito reduzido das variáveis de risco. Como o custo de entrada no mercado informal é reduzido, a impaciência tem efeitos mais imediatos na busca por uma ocupação.

Nas demais variáveis, tudo como esperado na literatura. A idade apresentou

um efeito em forma de “U” sobre a chance de o indivíduo estar desempregado o que significa que indivíduos muito jovens ou muito velhos possuem chances maiores de estarem nesta condição. Indivíduos chefe de família e casado apresentaram um efeito negativo sobre a chance de desemprego dado que o comprometimento familiar leva-os a aceitar mais rapidamente uma proposta de emprego.

8 Os testes de verossimilhança do logit com efeito aleatório versus o Logit simples também confirmaram a

(26)

25

Em contrapartida, mulheres, negros e indivíduos que recebem programa social possuem chances maiores de estar desempregados. Este último resultado corrobora a ideia que a transferência governamental torna os indivíduos mais seletivos as propostas de empregos, aumentando suas chances de desemprego.

Com relação à educação percebe-se que a mesma é um fator importante de inserção no mercado formal. Quanto mais educado for o indivíduo, menor será a probabilidade dele está desempregado.

Mostrou-se, portanto nestes resultados que o tipo de trabalhador quanto ao risco possui um papel importante na saída da sua condição de desemprego em paralelo com as tradicionais restrições de acesso como as do capital humano, da discriminação, ou da composição familiar. Indivíduos mais avessos ao risco são também mais avessos ao desemprego, o que lhes faz aceitar mais rapidamente

qualquer oferta ou ocupação disponível no mercado. Essa “pressa” por ocupação

ficou mais nítida ainda quando o canal de saída é o mercado informal, dado que os custos de entrada neste setor são menores e as possibilidades operacionais/técnicas maiores.

Nesta condição existe um reforço à informalidade nas situações de incerteza, além de haver uma resistência deste setor quando as condições macroeconômicas são mais favoráveis.

(27)

Tabela 1 – Modelos Logit de Probabilidade de Desemprego. DESEMPREGO X

OCUPAÇÃO EMPREGO INFORMAL DESEMPREGO X EMPREGO FORMAL DESEMPREGO X

Logit Logit

multinível Logit multinível Logit Logit multinível Logit

Risco 2 0.2256

(0.364) (0.419) 0.1717 (0.419) 0.2273 (0.533) 0.1838 0.2281 (0.437) (0.601) 0.1580

Risco 3 0.5271

(0.009)* (0.007)* 0.4800 (0.007)* 0.6114 (0.018)** 0.5634 0.3963 (0.102) (0.182) 0.3340

Risco 4 0.0733

(0.685) 0.0161 (0.198) 0.2583 (0.198) 0.0372 (0.862) - 0.0274 (0.894) 0.0064 (0.975)

Idade - 0.1501

(0.000)* - 0.1513 (0.000)* - 0.1259 (0.000)* - 0.1268 (0.000)* - 0.1638 (0.000)* - 0.1664 (0.000)*

Idade 2 0.0012

(0.001)* (0.001)* 0.0012 (0.062)*** 0.0008 (0.071)*** 0.0008 (0.000)* 0.0016 (0.000)* 0.0016

Chefe de

Família - 0.7150 (0.000)* - 0.7186 (0.000)* - 0.4940 (0.004)* - 0.4633 (0.009)* - 0.9416 (0.000)* - 0.9591 (0.000)*

Mulher 0.3641

(0.004)* 0.3222 (0.025)** 0.1801 (0.199) 0.0385 (0.825) 0.6152 (0.000)* 0.6353 (0.000)*

Casado - 0.5593

(0.001)* - 0.5624 (0.001)* - 0.4699 (0.009)* - 0.4920 (0.007)* - 0.6852 (0.000)* - 0.6701 (0.000)*

Negro 0.2218

(0.310) (0.381) 0.1958 (0.614) 0.1178 (0.856) 0.0446 0.2405 (0.359) (0.431) 0.2111

Programa

Social (0.091)*** 0.2275 (0.092)*** 0.2286 (0.797) 0.0372 (0.820) 0.0336 (0.001)* 0.5199 (0.001)* 0.5374

Fundamental Completo 0.0877 (0.615) 0.0747 (0.671) 0.2490 (0.178) 0.2532 (0.181) - 0.3563 (0.091)*** - 0.3696 (0.082)*** Médio

Completo (0.581) 0.0903 (0.572) 0.0931 (0.001)* 0.5751 (0.000)* 0.6262 - 0.6273 (0.001)* - 0.6411 (0.001)*

Superior

Completo - 0.3539 (0.381) - 0.3300 (0.415) (0.390) 0.3875 (0.335) 0.4423 - 1.3502 (0.001)* - 1.3521 (0.001)*

Constante 1.6394

(0.001)* 1.6654 (0.001)* 1.7550 (0.001)* 1.8057 (0.002)* 2.9246 (0.000)* 2.9640 (0.000)* Efeito Aleatório Sd (constante) 0.2333

(0.041)** (0.000)* 0.4492 (0.083)*** 0.2149

Número de

observações 2426 1512 1291

Fonte: Elaborado pelo autor.

(28)

27

CONCLUSÃO

A teoria da busca por emprego prediz que existe uma relação negativa entre aversão ao risco e a probabilidade do indivíduo estar desempregado. Sendo assim, buscou-se neste trabalho evidencias empíricas que corroborem – ou refutem - tal teoria. Para tal, utilizou-se uma base de dados de 4.030 indivíduos de Fortaleza com informações que possibilitaram a classificação do trabalhador quanto risco, juntamente com sua posição no mercado de trabalho.

A hipótese teórica foi testada utilizando-se de um modelo Logit com efeito aleatório para o entrevistador da pesquisa, onde a probabilidade de desemprego, vis-à-vis, ocupação (formal ou informal) foi função de fatores tradicionais da literatura mais um indicador de risco por parte dos trabalhadores. Os resultados empíricos foram favoráveis à teoria, onde indivíduos mais avessos ao risco mostraram também ser mais avessos ao desemprego principalmente quando o canal de saída é o mercado informal.

Em um mercado com trabalhadores heterogêneos reforça-se ainda mais a necessidade de canais de busca por emprego mais efetivos. Diferenciais no risco de desemprego motivados pelas características da oferta de trabalho podem levar a desigualdades persistentes e ainda maiores para o país (CYSNE, 2006). Neste contexto, as agências públicas de encaminhamento possuem um papel fundamental de não apenas capturar as disponibilidades de vagas das demandas, mas também estabelecer o pareamento adequado para aqueles que procuram seus serviços.

(29)

Segundo, com mais informações disponíveis, poder-se-ia testar o ponto mais forte da teoria da busca por emprego com risco que seria o tempo menor de desemprego para os mais avessos ao risco e a menor probabilidade de transição.

Finalmente, é possível que uma única medição de aversão ao risco de forma indireta não seja capaz de capturar os tipos específicos desejados de trabalhadores. Método diretos e indiretos para o cálculo do coeficiente de aversão ao risco devem melhorar a caracterização dos trabalhadores e, portanto, as tendências diferenciadas no mercado de trabalho.

(30)

29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(32)

31

APÊNDICE A PROPOSTAS DE MUDANÇA DE EMPREGO

“Proposta 1: Suponha que o(a) Sr.(a) seja a única pessoa que possui renda em sua família, no valor de R$ X. Este emprego é satisfatório e garantirá o mesmo nível de renda até a sua aposentadoria. Aparece uma oportunidade de iniciar em um novo emprego, tão satisfatório quanto o atual, e que tem uma chance de 50% de dobrar o salário atual, e 50% de diminuir o salário atual em 33%. O(a) Sr.(a) deve escolher

entre os dois empregos. O(a) Sr.(a) aceitaria o novo emprego.”

( ) Sim (vá para proposta 2) ( ) Não (vá para proposta 3) NS/NR

“Proposta 2: Suponha que o novo emprego, tão satisfatório quanto o atual, tem uma chance de 50% de dobrar o salário atual, e 50% de diminuir o salário atual em 50%. O(a) Sr.(a) deve escolher entre os dois empregos. O(a) Sr.(a) aceitaria o novo

emprego.”

( ) Sim ( ) Não NS/NR

“Proposta 3: Suponha que o novo emprego, tão satisfatório quanto o atual, tem uma chance de 50% de dobrar o salário atual, e 50% de diminuir o salário atual em 20%. O(a) Sr.(a) deve escolher entre os dois empregos. O(a) Sr.(a) aceitaria o novo

emprego.”

(33)

APÊNDICE B ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS

Tabela B.1 – Estatísticas descritivas das variáveis Chefes de Família, Gênero, Estado Civil, Raça, Programa Social, Mercado de Trabalho, Tipo de Emprego, Escolaridade e Grau de Aversão ao Risco.

FREQUÊNCIA PORCENTAGEM

VÁLIDA RELAÇÃO COM O

CHEFE DE FAMÍLIA

Chefe de família 1860 46,17

Cônjuge 842 20,90

Filho/Enteado 959 23,80

Pai/Mãe 25 0,62

Outro Parente 288 7,15

Outro 55 1,36

GÊNERO

Homens 1840 45,7

Mulheres 2190 54,3

ESTADO CIVIL

Solteiro (a) 1409 35,0

Casado (a) 1330 33,0

Amigado (a) 772 19,2

Separado (a) 294 7,2

Viúvo (a) 225 5,6

RAÇA

Brancos 1250 31,02

Negros 353 8,76

Pardos 2412 59,85

Amarelos 7 0,17

Indígena 8 0,20

PROGRAMA SOCIAL

Sim 1132 28,1

Não 2898 71,9

MERCADO DE TRABALHO

Empregados 2132 52,94

Procurando emprego 391 9,71

(34)

33

Tabela B.1 – Continuação: Estatísticas descritivas das variáveis Chefes de Família, Gênero, Estado Civil, Raça, Programa Social, Emprego, Escolaridade e Grau de Aversão ao Risco.

FREQUÊNCIA PORCENTAGEM

VÁLIDA TIPO DE EMPREGO

Emprego Formal 952 44,65

Emprego Informal 1180 55,35

ESCOLARIDADE

Sem instrução 1559 38,69

Ensino Fund. Completo 966 23,97

Ensino Médio Completo 1326 32,90

Curso Superior Completo 179 4,44

AVERSÃO AO RISCO

Totalmente avesso ao

risco 3068 77,9

Risco 1 171 4,3

Risco 2 260 6,6

Risco 3 437 11,2

TOTAL 4030 100

Fonte: Elaborado pelo autor.

Notas: (1) Nem todas as variáveis possuem um total de 4030 indivíduos, pois possuem missings. (2) A porcentagem válida foi calculada desconsiderando-se os missings.

Tabela B.2 – Idade.

ESTATÍSTICAS ANOS

Média 39,6

Mediana 37

Moda 18

Desvio padrão 16,9

Mínimo 16

Máximo 94

Total de observações: 3949

Fonte: Elaborado pelo autor.

Imagem

Tabela 1  –  Modelos Logit de Probabilidade de Desemprego.
Tabela  B.1  –   Estatísticas  descritivas  das  variáveis  Chefes  de  Família,  Gênero,  Estado  Civil,  Raça,  Programa  Social,  Mercado  de  Trabalho,  Tipo  de  Emprego,  Escolaridade e Grau de Aversão ao Risco
Tabela B.2  –  Idade.  ESTATÍSTICAS  ANOS  Média  39,6  Mediana  37  Moda  18  Desvio padrão  16,9  Mínimo  16  Máximo  94  Total de observações: 3949

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