A
CANÇÃO
DA
VIDA
“A
percepção
da
Verdade
é
uma
experiência
finale
definitiva.Eu
tor-nei
a
criar-me
segundo
a
Verdade.
Não
sou
poeta.
Apenas
procurei
tra-duzir
em
palavras
o
meu
processo
de
conhecimento
íntimo
**.Eis
o
que
adverte
Krishn^murti
no
início
deste
poema.
Sem
dúvida,
o
%mundo
atual
espera,
ansioso,
por
uma
nova
luz.Cansada
dos
erros
que
cercam
a
religiãoe
a
filosofia,
as
superstições e
crenças,
a
humanidade
precisa
ouvir
a
voz
de
um
homem
que
realize,com
o
exemplo
individual,aquilo
que
ele
mesmo
en-sina.
Esse
homem
é
Krishnamurti.
Nascido
brâmane,
no
sul
da
India,educado
consoante
a
mais
elevada
cul-tura
do
Oriente e
do
Ocidente,
dotado
de
rara
penetração
espiritual,com
seus
sábios
conceitos,
que
esclarecem
e
solucionam os
problemas
dà
existên-cia
moderna,
jáconseguiu
Krishna-murti,
no
plano
universal,
elevada
po-sição
como
psicólogo e pensador.
Nos
outros
dois
livrosde
versos:
A
BUSCA
e
O
AMIGO
IMORTAL,
des-creve
ele
como
chegou
à
plena e
cons-ciente
união
com
a
própria
Vida.
Nos
seus
diversos
trabalhos
em
prosa
de-monstra
como
podemos
todos
atingir,J.
KRISHNAMURTI
A
CANÇÃO
DA
VIDA
4.a
EDIÇÃO
TRADUÇÃO
DE
HUGO
VELOSO
INSTITUIÇÃO
CULTURAL
KRISHNAMURTI
Av. Fres. Vargas, 418, sala TI
09
Rio
de Janeiro - RJ.ADVERTÊNCIA
A
percepção daVerdade
éuma
experiên-. cia final e definitiva.
Eu
tornei a criar-mese-gundo
a Verdade.Não
sou poeta.Apenas
procurei traduzir
em
palavraso
meu
processode conhecimento íntimo.
I
Faze do teu desejo o desejo do
mundo;
Do
teuamor
oamor
domundo.
Nos
teus pensamentos considera omundo;
Nos
teus atos possa omundo
contemplar a tua eternidade.Podes tirar muita água de
um
poço;Mas
nunca aplacarás a sede dos teus desejos.Teu
coração pode guardar a jlor do seu amor;Mas,
com
a vinda da morte, a flor emurchece.Teus pensamentos
podem
ascender a objetivos elevados,Mas
estão presos à ansiedade e à dor.Qual flecha lançada por braço hercúleo,
Deixa que tua meta se aprofunde na eternidade.
Como
o riacho damontanha
puro e célere,
Deixa a tua mente correr ardorosa para a liberdade.
Minha
voz, que desperta da profundeza do amor,Ê
a voz da compreensão, Nascida do incessante penar.Quem
pode
dizer seo
teucoração
estáimaculado?
Quem
pode
dizer sea
tuamente
estápura?
Quem
pode
satisfazero
teu desejo?Quem
pode
curar-teda
ardentedor
da
saciedade?Haverá
quem
tedê
compreensão,
Ou
temostre
o caminho do
amor?
Poderás
furtar-teao temor
daquiloque
sechama
morte?
Poderás
afastarde
tia
dor
da
solidão,Ou
fugirao
clamor
da
ansiedade?
Poderás
ocultar-tenos
álacressons
da
música?
Ou
entregar-tea
alegres divertimentos?A
sabedoriahá de
nascerda
compreensão,
Ela
faz soara
sua
voz
No
turbilhãodo
extremo
caos.Um
homem
viu assombras
a dançar,E
saiuem
busca
da
causa de
tanta beleza.Pode
a
vidamorrer?
O
valedorme
, oculto, na escuridãode
uma
nuvem,
Mas
o
cimo
da
montanha
é sereno,No
contemplaro
céu aberto.Nas
margens do
sagrado rio,O
peregrino repeteum
cânticosem
parar,E, isolado
em
frio templo,Um
homem
,de
joelhos, engolfa-seem
sussurros devotos.Mas,
escuta!—
soba
densa poeirado
verão Jazuma
verde folha.Quem
te libertaráda
tua prisão?Ou
rasgaráo
véu dos teus olhos?Uma
vereda sobe, vagarosa, a encosta damontanha
,Mas
,quem
carregará a ticomo
fardo próprio?Eu
vium homem
trôpegoque
caminhava
em
direção amim,
Derramei
lágrimasde
dolorosaslembranças
.Na
imensa
distânciaUma
estrela solitáriaimpera
no
céu.Dll
O
fim de iodas as coisas estáno
próprio começo,Retido e oculto,
Â
esperada
libertaçãoPelo ritmo
da
dor edo
prazer.Colhido na agonia
do
Tempo,
Imerso na angústia íntima de sua expansão,
ó
Amado
,O
Ser,do
qual tu és o todo,Procura
o
caminho
do
iluminado êxtase.Moldado
na poesiado
ritmo,
Colhendo
a riqueza da persecução da vida,Ô
Amado,
O
Ser,do
qual tu éso
todo,Marcha
para o centro de todas as coisas.No
secreto santuáriodo
desejo,Pelos recessos de
um
amor
envolvente,Õ
Amado,
O
Ser,ão
qual tu és o todo,Pela infinidade
do
visível e invisível,
Na
sucessão de nascimento e morte,Ô A
fnado,O
Ser,do
qual tu és o todo,Une
o intervalo da separação.Confuso
na fervente adoração,
Seduzido pelas vãs pesquisas
do
pensamento,Ó
Amado,
O
Ser,do
qual tu és a totalidade,Está
em
fusão para unir-seao
Incorruptível.Como
sempre,Ô
Amado,
IV
Escuta, ó
amigo
,
Eu
te falareido
secretoperfume da
Vida.A
Vidanão
tem
filosofia,Nem
sutis sistemas de pensamento.A
Vida
não
tem
religião,Nem
adoraçãoem
íntimos santuários.A
Vidanão
tem
deus,Nem
o
fardo de temerosos mistérios.A
Vidanão
tem
morada,
Nem
a dolorosa angústiado
declínio.A
Vidanão
encerra prazernem
dor,Nem
a corrupçãodo
amor
implacável.A
Vidanão
éboa
nem
má,A
Vidanão
dá
consolação,Nem
repousano
sacráriodo
esquecimento.A
Vidanão
é espíritonem
rrmtêriu.Nela
não
existe a cruel divisãoda
ação eda
inércia.A
Vidanão tem
morte
,Nem
ovácuo
da
solidãona
sombra
do
Tempo
.
/
Livre é
o
homem
que
viveno
Eterno
,V
Mil
olhoscom
mil cenários,
Mil corações
com
milamures
, Eiso que
eu sou.
Assim
como
omar
recebe, indiferente,Os
cristalinos eimpuros
rios,Assim
sou eu.Profundo
é o lagoda
montanha
,Claras são as águas da fonte,
Meu
amor
é a origem oculta de todas as coisas.Ah,
vem, provado
meu
amor.Então,
como
o
lótusque
nascenuma
tarde fresca,Encontrarás o secreto anelo
do
teu coração.O
perfume
do
jasmim enche o
arda
noite;Da
florestaprofunda
Vem
oadeus
do
diaque
morre.A
vidade
meu
amor
não
carrega fardo;VI
O
amor
é sua própria divindade,
Se
o
seguires,Alijando
o
pesado
fardoDa
mente
ardilosa,Dstarás então livre das
apreensões
%
Do
ansiosoamor.
O
amor
não
está confinadoNo
espaço
nem
no
tempo,
Nem
nas coisas desalegresda
mente.Dsse
amor
deleita-seNo
coração daquele
que
muito
vagueou
Dela
confusão
dos
anseiosdo
próprioamor.
O
Ser, oAmado,
A
oculta e integral beleza,
D
a imortalidadedo amor.
Oh,
porque
procurarmais
longe?Dorque,
amigo?
No
solodo
amor
inalterávelh'stende-se a rota infinita
da
Vida
.VII
Ama
a Vida.Nem
o
começo,
nem
o
fim
Mostra de
onde
ela veio.Porque
aVida
não tem
começo
nem
fim.A
vida é.Na
plenitudeda
Vidanão
há
morte
,Nem
a dorda
grande
solidão.A
vozda
melodia,a
vozdo
queixume
,O
riso eo
grito dedor
SSo
a própria Vidaem
suamarcha
paraa
plenitude.Olha
nos
olhosdo
teupróximo
E
te encontraráscom
aVida
,
AH
está a imortalidade,A
Vida eterna,mutável.
Para
aqueleque
não
estáenamorado
da Vida
Existe
o
fardo angustianteda
dúvida
E
o
temor da
solidão;Ama
a Vida,
E
teuamor
não
conhecerá corrupção.Ama
a Vida, e teu discernimento te sustentará.Ama
aVida
, enão
te desviarásDa
senda
da compreensão.
Assim
como
oscampos
da
terra são divididos,Assim,
o
homem
criauma
divisãona Vida
,
E, desta
forma
, gera o sofrer.Adora
,não
os velhos deusesCom
incensos e flores,Mas
a vida,com
grande júbilo.Grita,
num
êxtase de alegria,Não
hádesordem
na
festa da Vida.Dessa
Vida, imortal e livre,Eu
sou a eterna fonte.VIII
Não
procureso
perfume de
um
coração solitário,Nem
demores
no
seu grato conforto.Porque
lá resideTemerosa
solidão.Eu
chorei,Porque
viA
solidãode
um
amor
insulado.Nas
sombras que
se agitamJaz
uma
flormurcha.
O
adorar a muitosnum
sóConduz
ao
sofrer.Mas
oamar
aum
sóem
muitosCom
que
facilidadeTurba-se a lagoa tranqüila
Ao
passardos
ventos!Não,
amigo!
Não
procuresa
felicidadeNas
coisas transitórias.Só
existeum
caminho;
lile está
em
timesmo,
X
Um
sonho
nascede
uma
multidão de desejos.Quando
amente
estiver tranquila,Não
atormentada
pelopensamento
,
Quando
o coração
for casto.Cheio
de
um
amor
puríssimo,Então,
6
amigo
,Além
da
ilusão das palavras,
Descobrirás
um
mundo.
AU
está aunidade
de todaa
Vida,AU
está a silenciosa Fonte,Que
nutre os vertiginososmundos.
Naquele
mundo
não
há
céunem
inferno,
Não
há
passado, presente,nem
futuro;
Não
existem as ilusõesdo
pensamento,
Não
seouvem
osmurmúrios
do
amor
expirante.Oh,
busca aquelemundo,
Em
cujo êxtaseluminoso
amorte não
se agita,Onde
as manifestaçõesda
Vida
São
como
assombras
que
o sereno lago reflete.XI
Como
do
ventreprofundo
da
montanha
Nasce
veloz riacho,
Assim, da dolorosa
profundeza
de
meu
coração
Brotou o
amor
risonho,O
perfume
do
mundo.
Através
dos
vales' ensolaradosPrecipitam-se as águas,
Entrando
de
lagoem
lago,Sempre
correndo,sem
nunca
parar;Assim
também
éo
meu
amor,
Que
se esvaziade
coraçãoem
coração.Como
aságuas
rolam
tristemente,Através
de cavernoso
e escuro vale,Assim
meu
amor
se tornou sombrio,Obscurecido
pelos fáceis impulsosdo
desejo.Como
as grandes árvores são destruídasFeia forte correnteza das águas
Que
lhes nutriram as raízes profundas,Assim
omeu
amor
arrebatou cruelmenteDe
seu regozijoo
meu
coração.Eu
espedacei a rochaem
que
cresci.Como
o largo rioque
foge para omar
agitado,Cujas
águasnão
conhecem
escravidão,XIS
Oh, alegra-te!
Entre as
montanhas
reboam
trovões,
Sombras
longas atravessam a verde superfíciedo
vale.As
chuvasfazem
apontarOs
verdes brotosNos
velhos troncosmonos.
Lá
,no
alto, entre os rochedos,Uma
águia constrói o seu ninho.Com
a Vida, tudo é belo e grandioso.()
Amigo
,A
Vida preenche omundo.
Lu
e eu estamosem
eterna união.A
Vida écomo
as águasQue
mitigam
, igualmente, a sede aos reis e aos mendigos:O
rei,com
a taça de ouro,() mendigo,
com
a taçade
barro,
Que
sequebra
em
pedaços
junto à fonte.Existe a solidão.
Existe
o
temor
da
solidão.Existe a dor
do
diaque
morre,Existe a tristeza
da
nuvem
que
passa.A
Vida, desprovidade amor,
Vai errando de
casaem
casa,Sem
que
ninguém
proclame
a sua beleza.Da
rochade
granitoForma-se
uma
imagem
esculpidaQue
oshomens
consideram
sagrada.Mas
elespisam descuidadamente
as pedrasDo
caminho
que
conduz ao
templo.Ó
Amigo,
A
Vida preenche
o
mundo
!
XIII
Pesquisa os secretos
movimentos
de
teu desejo,Assim,
não
viverásna
ilusão.
Que
podes
saber sobre a felicidade,Se
não
caminhaste pelo valedo
sofrimento?Que
podes
saber sobre a liberdade,Se
não
te revoltaste'' contra a tua escravidão?Que
podes
saber acercado
amor
,Se
não
pensaste aindaem
te libertarDas
complicaçõesdo
amor?
I.u vi as flores
que
desabrochavam
Nas
horas escurasde
uma
noite serena.XIV
Quem
sabe seo pingo de
chuva
Não
contém
em
sia
torrenteimpetuosa?
Quem
sabe seo pingo de
chuva, ele somente,Não
alimentaráa
árvore solitáriada
colina?Quem
sabe seo pingo de
chuva,na
suagrande
queda,Não
criao
ameno
som
de
muitaságuas?
Quem
sabe se opingo
de
chuva,em
sua
pureza,Não
aplaca a torturante sede?Insensato é aquele que,
na
Vida,Persegue a sua própria
sombra.
A
Vida lhe escapa,Porque
anda
perdido noscaminhos
da
escravidão.Para
que
a lutana
solitudeda
desunião?Eu
não
tenhonome;
Sou
como
a brisa íresca dasmontanhas.
Não
tenho refúgio;Sou
como
as águas errantes.Não
tenho santuário,como
os deuses obscuros.Não
existo nasombra
dos
templos profundos.Não
tenho livros sagrados.Não
estouimbuído
de tradições.Não
estouno
incensoQue
sobe dos altares,Nem
napompa
das cerimônias.Não
me
encontroem
imagens
esculpidas,Nem
no
cantosonoro
de
uma
voz. melodiosa.Não
estou acorrentadopor
teorias,Nem
corrompido
por crenças.Não
me
acho
escravizado às religiões,Nef?i à devota agonia dos seus sacerdotes.
Não
estou iludido pelas filosofiasNão
sou
humilde
nem
glorioso,Sou
o
adorador
eo
adorado
,Sou
livre.Minha
canção
é acanção
do
rioQue
se projetapara o
mar
aberto,XVI
Não
ames
o
formoso
ramo da
árvore,Nem
abriguesno
teu coraçãoapenas
a suaimagem
.
Ela morre.
Ama
a árvore toda.Então,
amarás
o galho elegante,*
Amarás
a folhanova
e a folhamurcha
,
O
broto tímido, a flordesabrochada
f
A
pétala caída e o topoque
se balança,A
sombra
esplêndida deum
amor
completo.Ah,
ama
aVida
em
sua plenitude,
XVII
O
sofrimentocedo
se esquece,E
o
prazertem
por
limite as lágrimas.Somente
aquelesque
vêem
claro Selembrarão
das feridasprofundas
,Dos
seus passados suspiros.O
penar
éa
sombra
Que
segueo
prazer.No
seu ansiosovôo
éardoroso
o
desejo;A
celeridadede
suaação
Desvendará
a fonteda
alegria.O
conflitoda
insatisfação é sofrimento;O
bom
acolhimento
ao
penar
Ê
ocaminho
da
felicidade.A
morada
da Vida
XVÍIS
Oh,
a sinfonia daquela canção!O
íntimo santuárioSufoca
com
oamor
da
multidão.A
chama
se agitacom
seus múltiplos pensamentos.O
perfume
da
cânforaqueimada
enche
o
ar.Indiferente, o sacerdote entoa
um
cântico.O
ídolo refulge, parecemover-se
,Farto daquela infindável adoração.
Um
tranquilo silêncio envolveo
ar.E,
de
súbito,Uma
canção
melodiosade
infinitoamor
Traz-me
aos olhos lágrimas inefáveis.Uma
mulher de
brancas vestesCanta
ao
coraçãode
seuamor
Acerca
da maternidade que
jamaisconheceu
,
Do
risode
criançasao
seioaconchegadas
,
Do
amor
que
cedo morreu,Da
desdita deum
lar infecundo,Da
solidão -na noite tranquila,Da
vida estérilem
meio
à terra florida.Eu
choro
com
ela.Fundem-se
nossos corações.Ela
deixao
refúgiodo
suntuárioAnsiando
pela alegriada
próxima
adoração.Sigo-a pela eternidade.
0
ser adorado,Tu
e eupercorreremos
A
estrada livredo
verdadeiroamor.
Vivi
o
bem
eo
mal
dos
homens,
E
turvo se tornouo
horizonte demeu
amor.
Conheci
amoralidade
e a imoralidade doshomens,
E
cruel se fez omeu
ansiosopensamento.
Tive parte
na
piedade eimpiedade
humana
,
l\ o fardo
da
vida seme
tornou pesado.( oncorri
com
os ambiciosos,l a glória
da
vidame
pareceu vá.XX
Com
u plenitudedo
leu coraçãoAcolhe
o sofrimento,E
terásabundante
alegria.Como
os rioscrescem
Depois
das grandeschuvas
E
os seixos denovo
sealegram
No
sussurro das águas correntes,Assim,
vagando
ao longodos
caminhos,Encherás
o vazio que. cria temor.O
sofrer desdobrará a teiada
vida;O
sofrer dará a força da solidão;
O
sofrer abrirá para tiAs
portas cerradasdo
teu coração.O
gritodo
penar
é a vozdo
preenchimento
E
a alegriaque
nele encontrasXXI
Não
recorroa
ninguém
senão a Ti,Ô
Amado,
Tu
estásem
mim.
E, olha, ai
Tenho
o
meu
refúgio.Tenho
lido sobre Tiem
muitos livros.Eles
me
dizem
que
muitossemelham
a
Ti,Que
muitos templos se constroem para Ti,Que
há
diversos ritosPara
Te
invocarem.9
Mas
eunão
tenho íntimacomunhão
com
des
,Porque
eles todos revestem apenasOs
pensamentos
doshomens.
Ó
amigo!Procura
o
Amado
Nns
secretos recessosdo
teu coração.Morto
está o tabernáculoNão
recorroa
ninguém
senão
a Ti,Ó
Amado!
Tu
estásem
mim.
E, olha, aí
XXII
Meu
irmão
morreu.Nós
éramos
como
duas estrelasnum
céu límpido.Ele era
como
eu,Queimado
pelo sol ardente,Na
terra das suaves brisas,Das
palmeiras que se balançam,Dos
refrescantes rios,Onde
há sombras
inúmeras,Papagaios coloridos, pássaros canoros
;
Na
terraem
que
a copa verde das árvoresBalouça sob
o
sol brilhante;Onde
existem areais douradosE
mares
azul-verdes;Onde
se vive sob a intensidadedo
sol,Que
faz a terra tostar-se;Onde
cintilam os verdes arrozaisQue
vicejam nas águas lodosas;
Onde
corpos nus, bronzeados, reluzem.Livres,
na
fulgurante luz;A
terraDa mãe
que, à beirada
estrada,amamenta
o
filhinho;Do
amoroso
devoto
Que
oferece garridas flores;Do
sacrárioà
margem
do
caminho,
Do
intenso silêncio,Da
paz
imensa.Ele
morreu.
Chorei
na
solidão.Para
onde
quer
que
eu fosse, ouvia-lhe avoz
E
o
riso feliz.Procurava o
seu rostoEm.
cada
passante,E
acada
um
perguntava
se encontrarameu
irmão,Mas
nenhum
delespôde
consolar-me.A
dorei,Rezei.
Mas
os
deusesguardaram
silêncio.Já
não pude
chorar,Nem
tampouco
sonhar.Procurei-o
em
todas as coisas,Em
todos os climas.E
então,
Em
minha
busca,Eu
te contemplei,O
Senhor de
meu
coração;Em
Tisomente
Vi
o
rosto demeu
irmão.Em
Ti somente,0
meu
eternoAmor
,Contemplo
as facesDe
todos os vivos ede
todos osmortos
.XXIII
Eu
te digoQue
a ortodoxia se estabeleceQuando
amente
e ocoração
decaem.
Como
ospoços
tranqüilosda
florestaDormem
escondidos sobum
manto
verde,Assim
a
Vida
está coberta peloacúmulo
De
pensamentos
outonais.Como
a
tenra folha pejadada
poeiraDo
último verão,Assim
aVida
pesaQuando
oamor
agoniza.Se o
pensamento
e o sentimentoSe
acham
cerceados pelotemor
da
corrupção,Então,
ó
amigo
,Ficas cativo
na
escuridãoDe
um
diaem
declínio.Uma
folha tenraemurchece
XXIV
Como
a
flor encerra o perfume,Assim
eu te contenho,ô
mundo,
Em
meu
coração.Guarda-
me
dentrodo
teu coração,
Porque
eu sou a Libertação,A
felicidade infinitada
Vida.Como
apedra
preciosaJaz
no
seio profundo da terra,
Assim
eu estou escondidoNa
profundidadedo
teu coração.ê
Apesar
denão
me
conheceres,
Eu
teconheço
muito bem.Embora
não
pensesem
mim
,
O
meu
mundo
está cheio de ti.Conquanto
não
mc
ames,Ês
omeu
inalterável amor.Embora
tume
adoresEm
templos, igrejas e mesquitas,Eu
sou para tium
estranho;Como
asmontanhas
protegem
O
vale sereno,
Assim
eu te cubro,Ô
mundo,
Com
asombra
deminha mão.
Como
aschuvas
vêm
Ã
terra ressequida,
Assim,
ómundo
,Eu
venho
Com
o
perfume
do
meu
amor.Conserva
o
teu coraçãoPuro
e simples,Õ
mundo
;
Porque
eu então te serei benvindo.Sou
o teuamor
,O
desejodo
teu coração.Conserva
a tua orienteTranquila e clara,
Õ
mundo;
Pois nela está a
compreensão
de
timesmo
,Eu
souo
teu entendimento,A
plenitudeDa
tua própria experiência.Estou sentado
no
temploOu
àmargem
do caminho,
XXV
A
razão éo
tesouro damente
,O
amor
,o perfume
do
coração.Ambos
sãode
uma
só substância,
Embora
fundidosem
diferentesmoldes
.Como
amoeda
de ouroTem
duas imagens,Separadas por tênue
camada
de metal,Assim
, entre -oamor
e a razãoEncontra-se o equilíbrio da
compreensão
,Essa
compreensão
Que
é tantoda
mente
como
do
coração.Ó
Fídfl,O
Amado
,ew
ti estáo
perene amor,XXVI
Como
a faíscaQue
dará calorEstá oculta entre as
pardas
cinzas,Assim,
ó
amigo
,A
luzQue
há
de guiar-teEsconde-se
Sob
o
pó
Da
tua experiência.XXVII
ô
amigo
,
Tu
não
podes
limitar a Verdade.Ela ó
como
o
ar.Livre,
sem
limites ,Indestrutível, Imensurável.
Não
tem morada,
Nem
templo,nem
altar,A
nenhum
deus pertence,Por
mais devotoque
seja o seu adorador,Podes
tu dizerDe
que
simples flor,A
abelha colheo doce
mel?Ó
amigo
,
Deixa
a heresiaao
herege,A
religião ao ortodoxo;Mas
colhe aVerdade
XXVIII
Como
o
oleiroPara
a alegriado
seucoração
Modela
o
barro,Assim
tupodes
criar,
Para a glória
do
teu ser,O
teu futuro.Como
ohomem
da
florestaRasga
uma
trilhaNa
espessa mata,Assim
podes
abrir,
No
torvelinhoda
aflição,Um
clarocaminho
Para libertar-te
do
sofrer,Para tua
perene
ventura.Ô
amigo,Assim
como
momentaneamente
As
misteriosasmontanhas
Ficam
ocultasno
nevoeiroque
passa,Assim
tu estás perdidoO
fruto daquiloque
semeiasHá
de pesar sobre ti.Ó
amigo,O
céu eo
infernoSão
palavrasPara te impelirem pelo
temor
às justas ações;Mas
céu e infernonão
existem.Apenas
as sementes de tuas próprias açõesFarão
nascerA
flor dos teus ardentes desejos.Como
o escultorde imagens
Corta
no
granito aforma
humana,
Assim
também,
na rochaDa
tua experiência,Talha
a
tua eterna felicidade.Tua
vida é morte,A
morte
é renascimento.Feliz o
homem
Que
estáalém
das garrasXXIX
A
montanha
desce
até aságuas
revoltas,
Mas
o
seucume
esconde-se
em
nuvem
escura.
No
tocode
um
pinheiromorto
Cresceu
delicada flor.A
substânciade
meu
amor
é
Vida
XXX
A
duvida
éunguento
precioso,Embora
queime
, cura milagrosamente.Eu
te digo:Acolhe
a dúvida
Quando
estiveres tm plenitudedo
desejo.Provoca
adúvida
Sempre
que
a tuaambição
Te
leve a superaroutrem
em
pensamento.
Desperta a dúvidaQuando
o teucoração
exultacom
um
grande amor.
Eu
te digo:A
dúvida faz nascero
amor
eterno,A
dúvida purifica a mente.Assim, a força
do
teu viver Assentarána
compreensão.
Tara a plenitude
do
teu coração,/' para o
voo
da
tua mente,Como
os frescos ventos dasmontanhas
Despertam
assombras
do
vale,Assim
deixaa
dúvida
Reavivar
o
declinanteamor
Da
mente
saciada.Não
deixesa dúvida
entrar a furtono
teu coração.
Eu
te digoque
adúvida
É
unguento
precioso;XXXI
Escuta-me,
Ô
amigo:Sejas tu
um
iogue,monge
, sacerdote,Devoto
cheio deamor
a
Deus,Peregrino à busca
da
felicidade,Banhando-se
nos rios • sagrados.Visitando sagrados santuários;
Sejas tu
o adorador
eventual deum
dia,Um
ledor de muitos livros,
Ou
um
construtor de templos,Meu
amor
pena
por ti.Eu
conheço
ocaminho
do
coraçãodo
Amado.
Essa luta vã,
Esse afã
imenso
,
O
contínuopenar
,O
inconstante prazer,
Essa duvida ardente,
O
fardoda
vida,Tudo
’sso cessará, ó amigo.Meu
amor
pena
por ti.Terei
peregrinado
pela terra?Terei
amado
asimagens?
Terei
entoado
cânticosem
êxtase? Terei vestido as sagradas vestes?Escutado
os sinosdos
templos?
Ter-me-ei
repletadode
estudos? Tereipesquisado?
Terei
andado
perdido?Sim,
muito lenho
experimentado.
Meu
amor
penu
por
ti.Eu
conheço
asenda
do
coração
do
Amado.
Õ
amigo,
Porque
amas
tantas imagens,Se
podes
tera
realidade?Atira
para
longe
os teus sinos, os teusincemos,
Os
teustemores
eos
teus deuses,Põe
de
lado os teus credos, as tuas filosofias.Vem
!Afasta
de
titudo
isso!Eu
conheço
o caminho
do
coração
do
Amado.
Ó
amigo,
XXXII
Através
do
véuda
Forma,
Ô Amado
,Eu
vejo a Ti, amim mesmo
,em
manifestação.Como
são inatingíveis parao
valeAs
montanhas!
Mas
asmontanhas
Contêm
o vale!
Como
é misteriosa a escuridãoQue
faz nascer as vigilantes estrelas;No
entanto, a noite nascedo
dia!Estou
enamorado
da
Vida.Como
o
lago damontanha
Que
recebe muitas correntes d'águaE
despede grandes rios,Mas
conserva as suas misteriosas profundezas,Assim
é omeu
amor.
Sereno
e clarocomo
asmontanhas
aoamanhecer
Ê
omeu
pensamento,
Nascido
do
amor.
Feliz o