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Padre Cícero e seu espírito público

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Academic year: 2018

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(1)

D O S S I

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Ê

,

PADRE CICERO

,

,

E SEU ESPIRITO

PUBLICO

P

ersonagens que, por

sua existência contra-ditória, por sua forte

ação, por seu desem penho

intenso e fora dos padrões

considerados norm ais e

corriqueiros, tenham deixado

m arcas indeléveis na

História, este gênero de

personagens, repito,

ten-dem quase sem pre a

provocar dissensão e a

suscitar polêm ica na

interpretação de seus atos,

de sua personalidade e de

seu percurso vital. O Pe. Cícero Rom ão Batista

(1844-1934) é, na nossa história provincial e

regional, a m ais bem talhada figura a.entrar no m olde dessa tendência.

Assim , diferentem ente do que costum a rezar a

tradição segundo a qual o distanciam ento trazido

pelo tem po propiciaria a serenidade da análise

crítica e de seu julgam ento, quanto m ais se tom a

longínqua a sua existência concreta, tanto m ais

acum ula-se a m ontanha dos escritos de seus

detratores e de seus apologistas. Dessa literatura

vasta e desigual a seu respeito, talvez a única

validade resida no registro de alguns fatos relevantes;

e, por vezes, nem isso, visto que não passam de

m eras repetições. Além do m ais, sua herm enêutica

inclina-se sem pre no rum o que tom a exclusivas as

vias de acesso, que enquadra rigidam ente os

questionam entos, tendendo a obstar ou dissim ular

a possibilidade de outros olhares e, enfim , a adensar

a brum a da incom preensão no horizonte de sua

historiografia. Daí que sejam raras as obras que, com o

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

M i l a g r e e m j o a s e i r o , de Ralph Della Cava, logram escapar a essa espécie de m aldição que se exprim e

num a obsessão persecutória ou laudatória.

M as im põe-se, com o exigência perm anente, a

revisão de rum os. A tarefa é difícil, m as não é

im possível. Posto que, no caso, esteja em jogo antes

a obra de um a vida e não, propriam ente, obra

literária do passado, pode-se encontrar bom

princípio de leitura crítica

nesta sintética e lúcida

observação do vetusto

Cõnego Fem andes Pinheiro

(1825-76), conservador,

porém de boa cepa em

m atéria de ensaio histórico:

"Condição essencial é do

crítico a transportar-se pela

im aginação à época em que

foi escrita a obra que tem de julgar, fazendo consciencioso

estudo das idéias que então

dom inavam (. ..

)"l.Obvia-m ente, não pretendo aqui

em preender esse esforço. Apenas assinalo o

cam inho a explorar. E para ilustrâ-Io, nos lim ites

desta exposição, pinçarei três ou quatro exem plos

na vasta, com plexa e fecunda atividade do criador

da cidade de ]uazeiro do Norte, no Ceará. Para tanto, utilizarei cópias ou docum entos origirIais da extensa

correspondência que m anteve o padre ao longo

de sua vida, correspondência quase sem pre

cuidadosam ente arquivada.! A m aior parte do

acervo da docum entação c i c e r o n i a n a constitui hoje os "Arquivos do Padre Cícero", cujos depositários são os Salesianos de ]uazeiro do Norte (Ceará), seus herdeiros testam entários. Todavia, parte significativa

desse m aterial desapareceu, extraviou-se ou se

deteriorou. M esm o assim , são m ilhares de

docum entos m anuscritos ou datilografados, pois o

Padre, ínclusíve pela prudência que lhe aconselhava

a longa luta que teve de m anter com o autoritarism o de seus superiores hierárquicos, cultivava a louvável

providência de reproduzir a correspondência que

expedia ou recebia. Tais cópias foram na sua

m aioria m anuscritas por ele m esm o, pois só depois

de 1926, aos 82 anos de idade, quando a dupla

catarata se intensificara, é que se observam outras

caligrafias: ou seja, a partir dessa data, quase tudo

que escreveu era ditado e os textos m anuscritos

ou datilografados vêm assinados por ele. Além dessa

docum entação, existem dezenas de livros que foram

da sua biblioteca particular. Foi som ente a partir de

CBA

E D U A R D O D I A T A H Y

B.

D E M E N E Z E S *

R E S U M O

E s tu d o c r ític o d o c o r r e s p o n d ê n c ia m a n tid o p e lo P o d r e C íc e r o , r e s s a lta n d o o s q u e s tõ e s q u e o in q u ie ta v a m , s e u e s p ír ito p ú b lic o e s u o ín d o le m is s io n á r io . A n e x o ín d ic e d o s P o s to s e A r q u iv o s d o P o d r e C íc e r o d e p o s i-ta d o e m J u a z e ir o d o N o r te .

* P r o fe s s o rT itu la r d o D e p a r ta m e n to d e C iê n c ia s S o -c ia is e F ilo s o fia d o U F C .

(2)

1964 que Ralph Della Cava, com a ajuda do bibliotecário do Colégio Salesiano, Pe. M anuel Isaú, iniciou a enorme tarefa de organização e classificação

desse arquivo. Algum tempo depois, foram tiradas

cópias xerográficas desse material e distribuídas a

alguns

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

c i c e r ó l o g o s (Amália Xavier de Oliveira,

Renato Casimiro, Luitgarde de Oliveira, etc.).

Posteriormente, desde 1976, o Pe. Antenor de

Andrade Silva, então diretor do Colégio, assumiu a

responsabilidade de sua divulgação mediante

algumas publicações. 3

Um aspecto que ressalta à vista de quem se der ao trabalho de percorrer essa volumosa correspondência,

que se manteve regularmente até perto de sua morte

em 20 de julho de 1934 - tanto a que já foi

organizada e publicada, quanto aquela que se acha

dispersa em arquivos privados de inúmeras pessoas

-, é o seu arguto senso da realidade, a constante

dedicação à sua gente romeira, o atento e

empenhado interesse pelas graves questões de sua

região e do país, enfim, numa palavra, seu admirável

espírito público.

Uma das questões que mais parecia inquietar o

seu espírito generoso era naturalmente a presença

cíclica das secas no vasto território de nosso

serní-árido, das quais ele testemunhou, na sua longa

existência de quase 90 anos, algumas das maiores,

como as de 1877-1880, 1888-1889, 1903-1904,

1915 e a de 1931-1932.

Quando da pavorosa seca de 1915, aquela que

fornecera o quadro para o primeiro romance de

RacheI de Queiroz, constata-se amplamente a sua

empenhada diligência em buscar soluções, conforme

se constata neste telegrama, de 11 de novembro

daquele ano, ao "Dr. Floro", que se achava em

Fortaleza: "Faça esforço telegraphando Governo

salvar vidas mandando ja trabalhos, socorros. Aqui

sepultam todos dias de pura fome. Outros caidos

ruas, caminhos. Socorros agenciados todos Estados,

nada vem aqui. (...). Cearenses tem direito reclamar. Pe. Cícero".

Desde essa época, segundo se pode observar em

carta datada de "[oaseiro, 12 de outubro de 1915", dirigida ao Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho," na qual o Pe. Cícero afirma ter escrito ao "illustre Dr. Aarão

Reis,s pedindo para que mande iniciar os trabalhos

do açude de Carás, já estudado, bem como outras

obras públicas, a fim de que, por esses meios, possa

salvar-se a população desta zona, maximé desta

cidade que está a morrer de fome.

C .. ).

Ao M estre

amigo peço empregar toda sua influência perante

o digno Dr. Aarão ...".

E pelas décadas seguintes, é possível acompanhar

suas insistentes demandas junto às autoridades para

construção desse Açude Carás. De fato, em carta

de 28 de fevereiro de 1934, na sua avançada velhice, ele ainda se dirigia ao "Dr. José Américo [de Almeidal,

M inistro da Viação, para lembrar-lhe a promessa

dessa obra: "Tanto lhe tenho pedido o que ainda

vai ser o objectivo desta que já temo ser

considerado importuno. V. Excia. entretanto me

saberá desculpar porque sabe, por conhecimento

proprio, que se trata de pedido justo e patriotico,

cuja insistência, de minha parte, se apoia no meu

grande amor a esta terra e á sua gente, adivinhando,

certamente, que me refiro á construção do "Açude

Carás". Quando V. Excia. andou aqui e,

pessoalmente observou o local desse reservatorio,

deixou-nos a confiança inabalavel de que o açude

seria construido. Entretanto, não sei porque motivo,

longo já é o silêncio sobre o assumpto. M as elle nos

interessa profundamente, porque o consideramos

problema vital da continuidade do progresso de

Joaseiro, e dahi a razão porque não me canço de

bater á porta de V. Excia., na esperança de ainda

ser atendido.

C ..).

Isto aliás nada valerá ( P e . C í c e r o

r e f e r i a - s e a o s c u s t o s d a o b r a ) em comparação com o beneficio patriotico que V. Excia. fará a esta terra

e ao seu povo, dando meios sufficientes para a

definitiva estabilidade de uma cidade de cerca de

cincoenta mil habitantes ... ". E terminava a carta, firmando-a com assinatura trôpega e quase ilegível.

Nessa mesma quadra, que se desenrola à volta

da destruidora seca de 1932, há um longo telegrama

do Padre para o mesmo M inistro José Américo (cuja

cópia ele assinala ter enviado também para o

Presidente Getúlio Vargas), que vale como um

testemunho ousado e veemente de sua dedicação

ao seu povo nordestino, mas também onde já se

notam as divergências e desigualdades regionais

entre norte e sul do país: "Em 16 abril 1932. Dr.

José Américo, M . D. M inistro Viação - Rio. Acabo ler

jornaes Fortaleza governo deliberou conceder

passagem flagellados nordeste, fim escaparem

terrivel morte pela fome em outro lugares mais

favorecidos natureza. M inha alma de sacerdote e

patriota sente-se profundamente compungida com

esse exilio forçado nossos patricios, como

certamente se sentirá a de V. Excia. authentico

nordestino, tanto pela origem, como pela grandeza,

generosidade e heroismo das acções. Nestas

condições, peço a V. Excia. que, como legitimo

representante deste povo soffredor e forte, e

prestigiado auxiliar do actual governo da Republica,

se opponha a essa medida extrema e dolorosa de

supposta salvação da nossa gente, ja em outros

tempos lembrada, como um escarneo aos nossos

sofrimentos, por certas mentalidades do Sul. Confio

(3)

que V. Excia. agirá com desassombro e os maiores

esforços no sentido de se conseguir que os nossos

patricios sejam socorridos nos seus proprios Estados,

como é patriotico e humano. M ande pois o governo

trabalho e elles, derramando o seu suor, se salvarão

sem o sacrifício supremo de abandonarem seus lares

e a terra querida onde nasceram, contribuindo ao

mesmo tempo para o desenvolvimento e grandeza

da Nação. (...). Espero na sabia, generosa e superior

administração do actual governo que, ouvindo o

nosso clamor, attenderá ao nosso pedido, mandando

sem demora necessarios recursos para salvação de

um povo que é incontestavelmente, na expressão

de Euclydes da Cunha, o cerne da nacionalidade".

Na mesma época, o jornal O

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

G l o b o ,do Rio de

Janeiro, reproduziu esse telegrama.

Noutro telegrama desse período, dirigido ao

presidente Getúlio Vargas, o Padre Cícero retoma

essa mesma preocupação: "Inteirado patriótica

sugestão desembargador alivio Camara abertura

credito especial 20 mil contos [ d e r é i s lpara imediato

socorro flagellados nordeste, iniciando-se serviços

differentes municipios regiões torturadas crise

climaterica, tomo liberdade insistir, perante V. Excia.,

serem atacados trabalhos ramal ferroviario

joaseíro-Barbalha, açude Carás ja estudado, bem como

prolongamento RVC partindo de M issão Velha ... ". Por outro lado, em meio à sua correspondência passiva, não é difícil assinalar cartas e telegramas

de personalidades ou instituições que buscavam e

agradeciam a ajuda prestada pelo Padre Cícero a

questões do mesmo gênero.

XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

É o caso, por exemplo,

de carta datada de Orós, em 3 de abril de 1922, a

ele dirigi da por J. A. Sargent, Superintendente de

"Dwight P. Robinson and Company, Inc., Engineers

And Constructors, Administradores pela Inspectoria

Federal de Obras contra as Seccas", na qual, entre outros assuntos, ele agradece ao Padre: "O valioso

auxilio de V. Revma. e os esforços do Sr. José

M acedo em angariar pessoal para os nossos serviços,

são immensamente apreciados por nós".

Para concluir esse rápido perfil da face pública

do Padre Cícero, em sua índole missionária, porém

atenta à importância política de problemas cruciais

para o interesse nacional, como fora a campanha

de que resultou a Constituição de 1934, reproduzo

a seguir os trechos principais de valiosa carta ao Dr.

Alceu de Amoroso Lima, mais conhecido por Tristão

de Athayde, seu pseudônimo literário. Antes,

porém, seria fecundo contrastar o texto desta carta

com alguns trechos de um editorial passional,

preconceituoso, mordaz e cruel do jornal OC e a r á ,

de 9 de abril de 1926, quando, após a morte de

Floro Bartolomeu, que ocupava então seu segundo

8 6 R e v is tod e C iê n c ia s S o c ia is v .2 6 n .1 /2 1 9 9 5

mandato como deputado federal, o nome do Padre

Cícero foi indicado para substituí-Io:

"O Ceará em peso ficou certo ontem de que o

Padre Cícero aceitou sua candidatura para

representante do Estado.

C .. ).

E s t a n d o n ó s e n t r e o s q u e p e n s a m d e v e r s e r a r e p r e s e n t a ç ã o d e u m E s t a d o c o n f i a d a a s u a e l i t e i n t e l e c t u a l e a o s s e u s v a l o r e s s o c i a i s , e n f i l e i r a m o

-n o s , p o r i s s o , -n a l e g i ã o c o -n t r á r i a à i n d i c a ç ã o d o n o m e d o c h e f e p o l í t i c o d o j u a z e i r o . ( . . .) .

Possui o candidato conservador energia física e

capacidade intelectual para desempenhar com

eficiência o mandato que se lhe vai confiar em nome do povo?

E v i d e n t e m e n t e q u e n ã o .

Octogenário, de saúde profundamente combalida,

faltar-lhe-á talvez a força para empreender uma

viagem ao Rio, onde tem de exercer as suas funções de nosso mandatário.

S o b o p o n t o d e v i s t a c u l t u r a l , p o r m a i s b a i x o q u e e s t e j a o n í v e l d a C â m a r a , S. S . , n ã o e s t â e m c o n d i ç õ e s d e r e p r e s e n t a r a i n t e l e c t u a l i d a d e c e a r e n s e . D e i n t e l i g ê n c i a n ã o a c i m a d o c o m u m , t e n d o a i l u s t r a ç ã o t e o l ó g i c a d o s s e u s p a r e s , o

p a s t o r d o

BA

[u a z e iro , p o r t e r c o n f i n a d a t o d a a s u a v i d a n a e s t r e i t e z a d o m e i o s e r t a n e j o , é h o j e u m c é r e b r o a n q u i l o s a d o , p o v o a d o d e i m a g e n s d o f a n a t i s m o e d o c a n g a c e i r i s m o .

c. ..).

"r,

O editorialista se prolonga por vários comentários

em que imagina perversamente situações ridículas

que o Padre representaria na capital da República

no exercício desse mandato, ao qual na verdade

renunciou. A melhor resposta ao texto do jornal de

oposição encontra-se na carta que, segundo assinalei

acima, o velho sacerdote escreveu a Tristão de

Athayde seis anos depois daquele editorial. Veja-se

o seu teor:

"Ioaseíro, 18 de outubro de 1932. Amigo Snr. Dr. Tristão de Athayde. M inhas Saudações.

Quando se encontrava em plena actividade a

revolução de São Paulo, dirigi a sua Emminencia o

Sr. Cardeal D. Sebastião Leme o telegramma cuja

copia envio.

aquelle tempo, preoccupava-me o espírito o

horror da guerra fratricida, que ensanguentava o

fecundo solo da terra bandeirante, pondo em risco

até a integridade do Brazil.

A g o r a , v o l t a m - s e a s m i n h a s p r e o c c u p a ç ô e s p a r a

o u t r a q u e s t ã o d e i g u a l o u , q u i ç á , d e m a i o r i m p o r t â n c i a , s o b r e t u d o p a r a n ó s c a t h o l i c o s , a

q u e s t ã o da r e f o r m a c o n s t i t u c i o n a l . D e f a c t o , os

(4)

d op o s i t i u i s m o , d e r a m - n o s u m a c o n s t i t u i ç ã o a t b é a , c a r e c i d a d e o r i e n t a ç ã o p r a t i c a , a l h e i a á s n e c e s s i d a d e s b r a z i l e i r a s , e d a h i o c o r t e j o i n f i n d a v e l d o s m a l e s , q u e a c o m p a n h a r a m a n o s s a R e p ú b l i c a , d e s d e o s e u i n i c i o , e t i v e r a m o s e u

e p i l o g o n a r e v o l u ç ã o d e o u t u b r o d e 1 9 3 0 . E n t e n d o , c o n s e q u e n t e m e n t e , q u e o s d e s t i n o s d e n o s s a n a c i o n a l i d a d e , a p a r t i r d a n o v a p h a s e c o n s t i t u c i o n a l d o

BA

P a iz , d e p e n d e r ã o , u i s c e r a l m e r u e , d a m a g n a c a r t a q u e n o s b a d e r e g e r .

S e e l l a a i n d a v i e r a f a s t a d a d e D e u s , d o s

e n s i n a m e n t o s d a m o r a l c b r i s t ã , s e m

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o s e n s o p r a t i c o , a s c a u t e l a s , a s p r e v i s õ e s , q u e a e x p e r i e n c i a

a c o n s e l h a , c a m i n h a r e m o s , i n e v i t a v e l m e n t e , p a r a

o a b y s m o , v i v e n d o , d ' o r a e m d i a n t e , d e c h o q u e e m c h o q u e , d e e s b a n j a m e n t o s e m e s b a n j a m e n t o s , d e e r r o e m e r r o , a t é a r u i n a c o m p l e t a d a N a ç ã o .

M esm o na historia hodierna da Am erica,

encontrarem os exem plos justificativos desse nosso

m odo de pensar. Basta volverm os o olhar para o

M éxico de Cales." Quando esse terrivel caudilho se desbragava em inom inaveis violencias contra o clero

e a Igreja de sua Patria, invocava, para cohonestar

os seus crim es, certos dispositivos que a

inexperiencia ou m aldade dos legisladores da sua

terra enxertaram na constituição.

P o r t a n t o , n ó s b r a z i l e i r o s e , p r i n c i p a l m e n t e , n ó s c a t b o l i c o s , d e v e m o s e s t a r a l e r t o sIs ic tln a e l a b o r a ç ã o d e n o s s o f u t u r o p a c t o f u n d a m e n t a l . E o S e n h o r , q u e é u m c a t h o l i c o s i n c e r o e u m e s p i r i t o b r i l h a n t e , d e v e , q u a n t o a n t e s , o c c u p a r o l u g a r d e d e s t a q u e q u e l h e é , n a t u r a l m e n t e , r e s e r v a d o , n a v a n g u a r d a d a c a m p a n h a c o n s t i t u c i o n a l i s t a , d e f e n d e n d o c e r t a s i d é a s .

Q u a n t o a m i m , d e s e j a r i a , p r i n c i p a l m e n t e , q u e s e i n s t i t u i s s e m n o r m a s p o n d o f r e i o á f a l t a d e e s c r u p u l o c o m q u e o s n o s s o s a d m i n i s t r a d o r e s t e e m s a c r i f i c a d o o P a i z , e m t r a n s a ç õ e s c r i m i n o s a s [as m esm as "tenebrosas transações" de que m uito m ais tarde falará Chico Buarquel, c o m o s ã o a s c o n c e s s õ e s

d e t e r r a s a e s t r a n g e i r o s , o s e m p r é s t i m o s e x t e r n o s e t c . I s s o d e v e r á f i c a r e x p r e s s a m e n t e p ro b ib id o , c o m a c o m i n a ç ã o d e n ã o f i c a r e m o s b r a z i l e i r o s r e s p o n s a o e i s p o r t a e s t r a n s a ç õ e s .

D e s e j a r i a m a i s q u e f o s s e c r i a d o u m t r i b u n a l "

p e r m a n e n t e , c o m a s a t t r i b u i ç õ e s d e o r g a n i z a r

XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o s

p l a n o s p a r a a s o l u ç ã o d o s d i f f e r e n t e s p r o b l e m a s d a N a ç ã o , o u s e j a ,op l a n o g e r a l d a a d m i n i s t r a ç ã o d o P a iz , o q u e a s s e g u r a r i a a c o n t i n u i d a d e d e s s a a d m i n i s t r a ç ã o , e v i t a n d o - s e op r u r i d o d e i n o v a ç õ e s d e c a d a g o v e r n o q u e s u r g e , s e m p r e e m c o n t r a p o s i ç ã o á s i n i c i a t i v a s d o s g o v e r n o s q u e s a e m . 9 (...).

T r a b a l h e , S n r .A tb a y d e , p a r a q u e t e n h a m o s u m a

c o n s t i t u i ç ã o o r i e n t a d a p o r e s t a s i d é a s . E n t e n d a -s e c o m -s u a e m i n e n c i a , o S n r . C a r d e a l , e c o n s i g a q u e E l l e c h e f i e e s s a c a m p a n h a , d a n d o i n s t r u ç õ e s a t o d o s o s B i s p o s e A r c e b i s p o s p a r a q u e p o n h a m e m a c ç ã o o c l e r o , a f i m d e p o d e r m o s d e s p e r t a r o c i v i s m o d o s c a t h o l i c o s d o B r a z i l , f a z e n d o v i c t o r i o s a s e s t a s n o s s a s a s p i r a ç õ e s .

Se isso acontecer, terá o Snr. contribuido para a

felicidade e para a grandeza da nossa idolatrada

Patria.

Com m uita adm iração subscrevo-m e.

S e u v e l h o a m » . a t t » .

P e . C í c e r o R o m ã o B a t i s t a .11

ANEXO

CBA

P a s t a s d o A r q u i v o d e P a d r e C í c e r o R o m ã o B a t i s t a

01. Docum entos Avulsos: 1926-1934

02. Correspondência Política e Oficial: 1911-1926 03. Diário Espiritual: 09 de julho de 1919

04. Correspondência com D. )oaquim )osé Vieira: 1889-1910

05. Correspondência com D. )oaquim )osé Vieira: 1884-1890

06. Correspondência com Pe. Alexandrino de Alencar, D. Quintino, D. Francisco de Assis Pires e D. M anuel 07. Correspondência Política e Oficial: 1900-1910 08. Floro Bartolom eu

09. Livro de José M arrocos sobre os Fatos de )uazeiro 10. Ainda sobre José M arrocos

11. Correspondência Política e Oficial: 1911-1914 12. Correspondência Pessoal e Oficial: 1827-1898 13. Relatório e Processo sobre os Fatos de )uazeiro. Outros docum entos

14. Correspondência com )uvêncio Santana

15. Correspondência com D. Luiz Antônio dos Santos: 1872-1880

16. Questão Religiosa: 1899 17. Questão Religiosa: 1898 18. Questão Religiosa: 1897

19. Docum entos Im portantes separados das pastas originais: 1889-1924

20. Com ércio 21. Legião da Cruz

22. Correspondência para Pe. Cícero, Antero, Glycério. M ons. M onteiro, Sother

23. Vários Docum entos

24. Questão Religiosa: 1893-1896

25. Correspondência do Pe. Cícero, Clero, Ordens Religiosas, etc.

26. Fatos do )uazeiro e Questão Religiosa

27. Correspondência depois da m orte: 1935- 1939 28. Correspondência do Pe. Cícero

29. M unicípio do ]uazeiro 30. M issas

31. Salesianos

32. Terras, Casas, Heranças, Juros

(5)

33. Questão Religiosa: 1891 34. Questão Religiosa: 1892

35. Questão Religiosa a partir de 1900

36. Correspondência pessoal do Pe. Cícero; por vezes refere-se ã Questão Religiosa

37. Documentos de 1890-1899 38. M issas e outros documentos 39. M issas

40. Beata M ocinha

41. Pedidos Populares ao Pe. Cícero: 1900-1908 42. Pedidos feitos em 1909

43. Pedidos de janeiro a junho de 1910 44. Pedidos de julho a setembro de 1910 45. Pedidos de outubro a dezembro de 1910 46. Pedidos de janeiro a junho de 1911 47. Pedidos de julho a setembro de 1911 48. Pedidos de outubro a dezembro de 1911 49. Pedidos de janeiro a abril de 1912 50. Pedidos de maio a agosto de 1912 51. Pedidos de setembro a dezembro de 1912 52. Pedidos

53. Correspondência popular de 1914 a 1919 54. Correspondência popular de 1920 a 1929 55. Correspondência popular de 1930 a 1934 56. Cartas e envelopes

57. 102 Cartas 58. 107 Cartas

59. Correspondência Política e Oficial: 1926-1934 60. Regulamento Interno da Câmara M unicipal do Crato 61. Regra dos Crucificados de Jesus Crucificado (em italiano)

62. Apostolado da Oração, etc.

63. Bispado do Cariri, Baronesa de Ibiapaba

64. Correspondência com José G. Bezerra de M enezes 65. Conde Adolpho Van Den Brule, M inas de Coxá, Dr. Geraldo Frank

66. Documentos Irrelevantes 67. Correspondência Avulsa 68. Documentos Incompletos 69. Duplicatas, Relatórios, Súplica 70. Fragmentos: 1887-1914

71. M iscelânea e Diário-visão de uma beata (M aria das Dores)

72. Recortes de Jornais: 1908-1966

CBA

N O T A S

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I . P o s t i l a s d e r e t ó r i c a e p o é t i c a . Rio de Janeiro, 4~ ed., 1901, p. 172, a p u d PINHEIRO, M ário Portugal Fernandes: -Intr oduçã o- i n PINHEIRO, Cônego Fernandes: E s t u d o s H i s t ó r i c o s [acrescidos de "Estudos Avulsos" e "Brasileiros Ilustres"), Rio de janeiro-Brasilia,

2' ed.: Cátedra/INL, 1980, p. XI.

2.Agradeço ao amigo Geová Sobreira, que me cedeu alguns desses documentos do seu arquivo pessoal.

3.Para maiores informações, consultar SILVA, Pe. Antenor de Andrade (salesiano): OsA r q u i v o s d o P a d r e C í c e r o .juazeiro do Norte: s/ed., 1977; do mesmo autor:

C a r t a s d o P a d r e C í c e r o (1877-1934). [Dos originais

8 8

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Re v is tad e C iê n c ia s S o c ia is v .2 6 n .l/2 1 9 9 5

manuscritos). Salvador: E. P. Salesianas, 1982. Consulte-se ainda: URSULINO, Ana Cristina Azevedo (org.):

C a t á l o g o d o s T e l e g r a m a s d o P a d r e C í c e r o . [Resumo da correspondência ativa e passiva do Arquivo do Padre Cícero, de 1912-1916). Fortaleza: UFC-Núcleo de Documentação Cultural (Nudoc), s/d. Ver ainda, em anexo, a lista das pastas que compõem os "Arquivos do Padre Cícero".

4.Thomaz Pompeu de Sousa Brasil Sobrinho (Fortaleza, 1880-1967) foi indiscutivelmente um reconhecido mestre da História, da Geografia, da Antropologia, da Etnografia indígena e dos assuntos do Nordeste brasileiro. Engenheiro Civil pela Escola de M inas de Ouro Preto, foi diretor da antiga Inspetoria de Obras Contra as Secas, o atual DNOCS, eleito membro do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) em 1928, assumiu a sua presidência em 1938, substituindo o Barão de Studart, permanecendo no cargo até o ano de sua morte; foi membro e presidente da Academia Cearense de Letras, professor da Escola de Agronomia e diretor do Instituto de Antropologia da Universidade Federal do Ceará. De sua ampla bibliografia constam obras como:

BA

P ré -H is tô ria d o C e a r á ; P r a t o - H i s t ó r i a d o C e a r á ; H i s t ó r i a d a s S e c a s ; E s b o ç o P is io g râ fic o d o C e a r á ; A C o n s t r u ç ã o d o O r ô s , S i g n i f i c a ç ã o d e A l g u m a s P a l a v r a s I n d í g e n a s ;

OH o m e m d o N o r d e s t e ; e t c .

5.Aarão Leal de Carvalho Reis (Belérn, 1853 - Rio, 1936) foi um dos pioneiros da eletrotécnica no Brasil e professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro; participou de várias obras ferroviárias, portuárias e de açudagern, foi diretor-geral e consultor técnico do M inistério da Viação e destacou-se sobretudo como chefe da comissão de construção de Belo Horizonte (1897), primeira grande inovação urbanística do país. Foi ainda diretor dos Correios e Telégrafos, do Banco do Brasil, da Estrada de Ferro Central do Brasil, do Loide Brasileiro e da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS).

6.Esse editorial foi integralmente reproduzido por LOURENÇO FILHO: [u a z e iro d o P a d r e C í c e r o , 3' ed .. São Paulo: Ediç. M elhoramentos, s/d., pp. 192-194. Retirei daí os trechos citados.

7.Pe. Cícero refere-se aí a Plutarco Elías Calles, que foi presidente da república mexicana de 1924 a 1928. M as interessa assinalar também certas coincidências ou analogias com a nossa situação atual: a campanha pela reforma da Constituição, a referência à situação do M éxico, a corrupção na administração pública, a dívida externa, a desnacionalização do nosso patrimônio, etc., conforme se verá no restante da carta.

8.0 Padre usa esse termo em sua antiga acepção de órgão de deliberação coletiva, de natureza administrativa, consultiva, etc ..

(6)

século passado era conhecido como a

BA

d e rru b a d a .

M anoel de Oliveira Paiva fornece um quadro magistral desse processo, no seu célebre romance, de que dou a seguir apenas um trecho: "Derrubada velha, por toda parte. Voou o coletor provincial, e o coletor geral, o agente do Correio. Voaram o delegado de polícia e os

subdelegados com os respectivos suplentes, os

inspetores de quarteirão, os escrivães das coletorias,

o promotor público da Comarca, o bacharelzinho

Rabelo. Foram assim postos fora, sem motivo expresso,

todos os funcionários demissíveis e nomeados, em

seus lugares, pessoas do outro partido, que subira

com uma sede ardente de patriotismo. Dizem que até

mortos foram exonerados. O juiz M unicipal e seus

suplentes, nos diferentes termos, haviam de pular logo que findassem o quadriênio, exceto algum que virasse casaca em favorável ocasião. Para a Câmara M unicipal e os juizos de paz, aí estavam as urnas, cuja voz não podia destoar dos intuitos regenera dores do partido que subira. O juiz de Direito, se inchasse, tomaria remoção ou processo perante a Assembléia Provincial. Os oficiais superiores da Guarda Nacional, reforma com eles, para ser coronelizada nova gente. E para agaloar mais patriotas, criar-se-iam ainda mais batalhões, corpos, esquadrões e seções das três armas, como exigissem os novos dungas da localidade. (...)". [Cf.PAIVA,M anoel de Oliveira: D o n a G u id in b a d o P o ç o .Rio de janeiro: Edições de Ouro, 1965, pp. 123-1241.

Referências

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