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Não havia o contorno, não conseguia tocar a fr onteira de seu começo, nem de seu fim

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Academic year: 2021

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MARUZIA DE ALMEIDA DULTRA

CADERNO DECURSO

Experimento da dissertação Corpografias: incursão em pele imagem escrita pensamento, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Área de concentração Poéticas Visuais, Linha de Pesquisa Multimeios, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como

requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Artes Visuais.

Orientação: Profª Drª Branca Coutinho de Oliveira

São Paulo 2012

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história infinita

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Despertou e já não sentia os limites de seu corpo. Não havia o

contorno, não conseguia tocar

a fr onteira

de seu começo, nem

de seu fim. Estava derramada:

espalhada na cama, nas par edes–

pod ia ser os lençóis e não podia.

Continuava pensa ndo, ainda sabia

seu nome e quaisquer resquícios de memór

ia que davam alguma

segurança. Lembrava de outr

as pessoas, de af etos, lembr

ava de si.

Mas saber tudo isso não diminuía

a paisagem que custava a imaginar:

os órgãos estariam soltos , mergulhados em que

, s obr eviv end o com o?

O temor dessas imag ens-possibilidades só não se

agigantava porque

toda tentativa era de se r estituir em pele

com o con stit uiri a seu

corpo, não f osse ela? Porém,

naquele átimo-derr ame, não

cabia

espaço para a pr oblematização:

o que quer ia apenas era voltar a ser-se

.

Haveria outr a forma,

além desta?

O infinitivo pur o arremessava par

a outro lado do f ora:

Ser. Despertei e já não sentia os limites de meu corpo. Não havia o contorno, não conseguia tocar a fronteira de meu começo, nem de meu fi m. Estava derramada: espalhada na cama, nas paredes – podia ser os lençóis e não podia. Continuava pensando, ainda sabia meu nome e quaisquer resquícios de memória que davam alguma segurança. Lembrava de outras pessoas, de afetos, lembrava de mim.

Mas saber tudo isso não diminuía a paisagem que custava a imaginar:

os órgãos estariam soltos, mergulhados em que, sobrevivendo como?

O temor dessas imagens-possibilidades só não se agigantava porque toda tentativa era de me restituir em pele – como constituiria meu corpo, não fosse ela? Porém, naquele átimo-derrame, não cabia espaço para problematização: o que queria apenas era voltar a ser-me.

Haveria outra forma, além desta?

O infi nitivo puro arremessava para outro lado, o fora: Ser.

um derramamento

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Despertou e já não sentia os limites de seu corpo. Não havia o contorno, não conseguia tocar a fronteira de seu começo, nem de seu fim. Estava derramada: espalhada na cama, nas paredes–

podia ser os lençóis e não podia. Continuava pensando, ainda sabia seu nome e quaisquer resquícios de memória que davam alguma segurança. Lembrava de outras pessoas, de afetos, lembrava de si.

Mas saber tudo isso não diminuía a paisagem que custava a imaginar:

os órgãos estariam soltos, mergulhados em que, sobrevivendo como?

O temor dessas imagens-possibilidades só não se agigantava porque toda tentativa era de se restituir em pele – como constituiria seu corpo, não fosse ela? Porém, naquele átimo-derrame, não cabia espaço para a problematização: o que queria apenas era voltar a ser-se.

Haveria outra forma, além desta?

O infinitivo puro arremessava para outro lado do fora: Ser.

Despertei e já não sentia os limites de seu corpo.

Não havia o

contorno, não conseguia tocar a fr onteira de seu começo,

nem de

meu fim.

Estava derramada:

espalhada na cama, nas par edes–

pod ia ser os lençóis e não podia.

Continuava pensa ndo, ainda sabia

meu nome e quaisquer resquícios de memór ia que davam alguma

segurança.

Lembrava de outr as pessoas, de af

etos, lembr ava de si.

Mas saber tudo isso não diminuía

a paisagem que custava a imaginar:

os órgãos estariam soltos , mergulhados em que

, s obr eviv end o com o?

O temor dessas imag ens-possibilidades só não se

agigantava porque

toda tentativa era de se r estituir em pele

com o con stit uiri a seu

corpo, não f osse ela? Porém,

naquele átimo-derr ame, não

cabia

espaço para a pr oblematização:

o que quer ia apenas era voltar a ser-se

.

Haveria outr a forma,

além desta?

O infinitivo pur o arremessava par

a outro lado do f ora:

Ser.

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Ser o que?

Não sabia. Desejava somente o que era antes: dez dedinhos embaixo, cinco de cada lado, sensores intradérmicos viabilizando a propriocepção, polegares opositores, curvas digitais bem definidas, o tato mais uma vez, o corpo provendo a forma.

Era isso. Não suportaria ser toda força, não era sustentável.

um despencamento um desmonte um despejo

Forar-se daquele jeito não seria possível, não por muito tempo. Como tinha apego à película que sempre havia estado ali, delimitando (e nem se dera conta). Discreta, cor-de-pele, quase invisível, embora fosse ela toda superfície de visibilidade. Uma imagem tátil, corpoimagem – que forjava o perene, apesar de ser tão-somente mudança.

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O vislumbre estava anotado.

quis escrever, e não tinha como (pois me obriguei a viajar sem cadernos para constranger o aparecimento de ideias). se tivesse ali uma caneta, poderia escrever na pele, clichê do livro de cabeceira. mas não tinha e veio a vontade: organizar as células de maneira que, com elas, escrevesse os pensamentos.

Mas aquele derramar tinha sido o contrário: desforma.

Nem caderno, nem corpo.

Estava como falha entre o contorno e o entorno, diluída entre todas as possibilidades que eles se podiam.

Não sobrou o que rachar

e escorria... Uma página molhada que, de tão aguada, já não se reconhecia além da água. Mas se queria. Poder estar novamente naquilo que chamava de seu – meu corpo. Um esposar-me.

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(E se não houvesse bloco de notas?)

Que fosse possível alinhá-las para formar letras; das letras, palavras;

conjugar verbos, formular frases, períodos, ideias. Que a escrita dispensasse o lugar fixo e corresse como sangue, umidificasse as mucosas, cedesse às enzimas e labilidades hormonais. Que as celulazinhas permitissem um ordenar outro de incrição do vivo.

nem uma brecha nem uma fresta era a quebra

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Num outro mundo, eu sou uma dançarina e dançar é tudo que meu corpo pode É o que basta ao mundo, a todos os outros mundos Eu não quis a dança, mas ela sempre me quer (eu não quis o corpo, mas ele sempre) o corpo sempre sempre - como o nunca nunca, de nosso verbo nuncar

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Ser o que?

Qualquer coisa, Outrar. Eu outro, tu outras, ele outra, nós outramos, vós outrais, eles outram. Por que a resistência a esse lugar que não conhecia? Por que não o conhecia? Não se conhecia nele, poderia escoar... Mas e se deixasse? Era esse o risco: do Mesmo não voltar mais, nem em dose mínima que fosse, como a receita prescrevia. Como continuar depois do desencontro – o corpo não mais coincidindo com o Mesmo, o corpo sendo Outro? Um apartar. limite tênue

que separa a construção do desmoronamento

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entre fugaces muertes sin memoria

y a tantos otros otros grasos ceros costrudos que me opan mientras sigo y me sigo

y me recontrasigo

de un extremo a otro estero aridandantemente

sin estar ya conmigo ni ser un otro outro

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O preto no branco, O pente na pele:

Pássaro espalmado No céu quase branco.

Em meio do pente, A concha bivalve Num mar de escarlata.

Concha, rosa ou tâmara?

No escuro recesso, As fontes da vida A sangrar inúteis Por duas feridas.

Tudo bem oculto Sob as aparências Da água-forte simples:

De face, de fl anco, O preto no branco.

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una apariencia de la ausencia una entelequia inexistente las trenzas náyades de Ofelia o sólo un trozo ultraporoso de realidad indubitable una despótica materia el paraíso hecho carne una perdiz a la crema

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No processo de construção das personagens, cada ator recebeu uma ação.

O meu verbo e, com isso, meu objetivo, era:

desaparecer.

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“uma coisa vazia, sem fundamento

nem na nossa natureza nem nas nossas necessidades

“era uma ideia, uma pura ideia

“uma figurinha de biscuit,

que se esfacelou em inúmeros fragmentos, quase sem ruído

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Fui convocada a “ter corpo”, ser um. Nem lembrava mais como era (e como evitava):

o quanto ficou soterrado enquanto fingia existir sem ele. Mas ele nunca desgrudou. Sua companhia imposta sempre foi única:

incontornável, intransferível, intransponível. (Pelo menos era o que achava).

Apenas no sono vislumbrava algum respiro.

(Mas também não era).

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Nunca estive sem ele.

Estava apenas esquecido, deixado de lado –

embora ele nunca tenha sido menos que o centro:

de onde vejo, transpiro, respiro, de onde ouço.

Como a tela:

o onde da imagem.

Onde penso.

Onde existo.

Onde sou.

Onde estou.

Corpo diário.

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Me estrechaba entre sus brazos chatos y se adhería a mi cuerpo, con una violenta viscosidad de molusco. Una secreción pegajosa me iba envolviendo, poco a poco, hasta lograr inmovilizarme. De cada uno de sus poros surgía una especie de uña que me perforaba la epidermis. Sus senos comenzaban a hervir. Una exudación fosforescente le iluminaba el cuello, las caderas;

hasta que su sexo —lleno de espinas y de tentáculos— se incrustaba en mi sexo, precipitándome en una serie de espasmos exasperantes. Era inútil que le escupiese en los párpados, en las concavidades de la nariz. Era inútil que le gritara mi odio y mi desprecio. Hasta que la última gota de esperma no se me desprendía de la nuca, para perforarme el espinazo como una gota de lacre derretido, sus encías continuaban sorbiendo mi desesperación; y antes de abandonarme me dejaba sus millones de uñas hundidas en la carne y no tenía otro remedio que pasarme la noche arrancándomelas con unas pinzas, para poder echarme una gota de yodo en cada una de las heridas...

¡Bonita fi esta la de ser un durmiente que usufructúa de la predilección de los súcubos!

Me estrechaba entre sus brazos chatos y se adhería a mi cuerpo, con una violenta viscosidad de molusco. Una secreción pegajosa me iba envolviendo, poco a poco, hasta lograr inmovilizarme. De cada uno de sus poros surgía una especie de uña que me perforaba la epidermis. Sus senos comenzaban a hervir. Una exudación fosforescente le iluminaba el cuello, las caderas;

hasta que su sexo —lleno de espinas y de tentáculos— se incrustaba en mi sexo, precipitándome en una serie de espasmos exasperantes. Era inútil que le escupiese en los párpados, en las concavidades de la nariz. Era inútil que le gritara mi odio y mi desprecio. Hasta que la última gota de esperma no se me desprendía de la nuca, para perforarme el espinazo como una gota de lacre derretido, sus encías continuaban sorbiendo mi desesperación; y antes de abandonarme me dejaba sus millones de uñas hundidas en la carne y no tenía otro remedio que pasarme la noche arrancándomelas con unas pinzas, para poder echarme una gota de yodo en cada una de las heridas...

¡Bonita fi esta la de ser un durmiente que usufructúa de la predilección de

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ossos, essa coisa dura onde a carne se gruda, se monta e me atrai estranhamente, pendurando-me móvel no mundo

corpo do corpo do corpo que já é outra coisa

nessa presença precária, a um só tempo plúmbea e impalpável Imprimir a geografia do corpo. Sem fim, sem objetivo, Sem que isso represente um naufrágio

trabalho do pensamento que é o trabalho que se faz numa carreira acadêmica

Água fria dá contorno ao corpo que produz o seu calor. escápulas se juntam, corpo perde peso,

Uma trajetória, uma linha que costura, um caminho que se abre Pedaços, pedras, caminhos caminham em mim

Ao traçar um caminho me deparo com uma história de vida. Um susto que é susto chega sem avisar. Desmonta. Derruba as miçangas no chão.

As células têm que se organizar. O corpo não para. Linha de produção aguda. Outras possibilidades podem existir, mas não existem. Não querer mais aquele contorno, não querer contorno algum. Troca de ares, de sangue, de pele. Tanto. Tudo. Nada. Eu nado. Na imensidão, um oceano deságua e jorrrrra. Onde estão minhas plaquetas para conter este fluxo que vaza?

Disseram-me, aconselharam, estava escrito, mas sem grito

desautoria

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Desfaço das peças que dediquei tanto a unir um homem que se torna mar inteiro assim que some dos seus olhos

Quem diz formas de vida, diz vida Feminilidades adormecidas no limbo, aquém e além dos gêneros,

encruzilhando os mundos, erguem-se de suas covas aquáticas e falam a virgindade originária:

jogo sutil de distâncias e ressonâncias, de celibatos e contaminações - É chegada a hora do infanticídio da criança não-nascida.

modos “menores” de viver que habitam nossos modos maiores Duvidem da polêmica feminista. Assassinou-se o instante, o agora que

agora já foi, e foi, e novamente foi. No velório do instante, não haverá caixão para tanto piscar de olhos. Costurem as vaginas, até que as crianças voltem a nascer pelas órbitas.

alguma coisa vibrando no vazio. aprendendo a ser contemporâneo...

A humilhação de quem, por um momento, duvidou desta realidade.

a capitalização disto tudo. uma trama subterrânea de passagens Nosso desafio é seguir o nosso desassossego. Secretaria do Estado de Confinamento. esta é uma luta por outras formas de lutar. delírio da afirmação. um êxodo. formigas contrabandistas. de re-existência? Estender a mão é mais do que pedir, é quase tocar. Algo como uma constelação

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Se em algum mundo eu sou uma dançarina, meu corpo dança no caos que me causa, cais de mim, espera o levante tsunâmico, sem fugir, para dançar sobre ele...

exulta de um mundo a outro, experimenta tantos outros todos

sin mí ni yo al después sin bis y sin después sin mí ni yo al después

sin bis y sin después

Referências

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