• Nenhum resultado encontrado

O instituto da interdição com o advento da Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O instituto da interdição com o advento da Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015"

Copied!
68
0
0

Texto

(1)

MARIA ELIZA DA SILVA CAMPOS

O INSTITUTO DA INTERDIÇÃO COM O ADVENTO DA LEI Nº 13.146 DE 06 DE JULHO DE 2015

Palhoça 2019

(2)

MARIA ELIZA DA SILVA CAMPOS

O INSTITUTO DA INTERDIÇÃO COM O ADVENTO DA LEI Nº 13.146, DE 06 DE JULHO DE 2015

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Gisele Martins Rodrigues Goedert, MSC.

Palhoça 2019

(3)
(4)
(5)

Dedico este trabalho aos meus pais, Hercílio José Campos (in memoriam) e Nilzete Eliza da Silva (in memoriam), que dedicaram suas vidas a me passarem bons exemplos de caráter, educação e perseverança, e que serviram, e ainda servem, como alicerce para todas as minhas realizações.

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me segurar nos braços e me dar forças quando eu achei que não existiam mais motivos para continuar, pela saúde para levantar todos os dias e correr atrás dos meus sonhos, e por colocar em minha vida todas as pessoas que agradeço a seguir.

Aos bons amigos espirituais, que não me deixaram desamparada em momento algum, sempre me trazendo boas energias e vibrações.

Ao meu pai, Hercílio José Campos (in memoriam), que nunca mediu esforços para me educar da melhor maneira possível, com exemplos de integridade e determinação.

A minha mãe, Nilzete Eliza da Silva (in memoriam), que abdicou de sua própria vida para me tornar uma mulher segura, forte, corajosa, e com valores que levarei para toda a minha existência.

Ao meu irmão Ricardo Campos, e minha tia Cristiane Rosires Campos, por todo o incentivo e palavras de apoio dado em momentos difíceis.

A minha melhor amiga, Manoela Vasco da Silva, por ser a irmã que eu não tive, e por compartilhar comigo todos os desafios da vida.

Aos meus sogros Sandra e Lairton, colocarem no mundo um dos melhores presentes que já recebi, por serem meus segundos pais.

Ao meu marido Lucas Lairton Jorge, por ser meu parceiro de vida, e por fazer de tudo para colocar um sorriso no meu rosto, mesmo quando tudo parecia difícil e sem saída.

A Antônia, Maycon e Tamara, advogados que tanto admiro, por me acolherem logo no início da graduação, e por todo o aprendizado tido até aqui.

Ao Dr. Ezequiel Rodrigo Garcia, exemplo de ser humano, e sua assessoria, por terem me escolhido para fazer parte da equipe, e por tudo o que agregaram em minha vida pessoal e profissional.

A minha orientadora, Gisele Rodrigues Martins Goedert, por todos os ensinamentos passados, pela acolhida e pela paciência e por todas as palavras de apoio.

A todos os meus professores, que contribuíram grandemente para a formação do ser humano que sou hoje.

Aos trabalhadores da Casa de Oração Ave Cristo, por todo o aprendizado, e todo o incentivo dado nesta reta final da graduação.

Por fim, a todos os amigos, e aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para que este trabalho pudesse ser finalizado.

(7)

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Eclesiastes 3:1).

(8)

RESUMO

O presente estudo tem como escopo apresentar o instituto da Interdição sob o enfoque da Lei nº 13.146/2015 que instituiu uma série de modificações significativas. Para tanto, aborda-se inicialmente o instituto da personalidade e da capacidade, bem como a identificação do rol das incapacidades previsto no Código Civil brasileiro. Em um segundo momento, apresenta-se o instituto da curatela e as pessoas à ela sujeitas, e da interdição, as pessoas legitimadas a promover o seu requerimento, e o procedimento adotado para a sua decretação. Por fim, são apresentadas as efetivas alterações e os reflexos trazidos pela Lei nº 13.146/2015 ao ordenamento jurídico brasileiro, os direitos fundamentais dos portadores de deficiência, as alterações promovidas no regulamento da capacidade civil, o novo instituto de proteção chamado de tomada de decisão apoiada e demais alterações promovidas pela lei no que toca a outros aspectos civis, como a prescrição, decadência, matrimônio e responsabilidade civil. Para tanto, o método de pesquisa aplicado é o pensamento dedutivo, partindo da personalidade e capacidade, com a abordagem dos institutos da curatela e interdição, para chegar às alterações promovidas pela Lei nº 13.146/2015. Assim, sendo considerados plenamente capazes de exercer os atos da vida civil, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, como assim é chamada, visa o exercício integral dos direitos e liberdades fundamentais inerentes a todo e qualquer ser humano, independentemente se deficiente ou não, sobretudo sendo-lhe possibilitada a vida em sociedade, sem a aplicação de qualquer distinção.

(9)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 2 PERSONALIDADE E CAPACIDADE ... 11 2.1 PERSONALIDADE ... 11 2.1.1 Pessoa natural ... 13 2.1.2 Pessoa jurídica ... 16 2.2 CAPACIDADE CIVIL ... 19 2.2.1 Conceito ... 19

2.2.2 Evolução histórica da incapacidade... 22

2.2.3 Representação e assistência ... 24

2.2.4 Cessação da incapacidade ... 25

3 CURATELA E INTERDIÇÃO ... 27

3.1 CONCEITO DE CURATELA ... 27

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA CURATELA ... 28

3.3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A CURATELA ... 30

3.4 PESSOAS SUJEITAS À CURATELA ... 31

3.4.1 Curatela daqueles que não podem exprimir sua vontade por causa transitória ou permanente ... 31

3.4.2 Curatela dos ébrios habituais ... 32

3.4.3 Curatela dos viciados em tóxicos ... 33

3.4.4 Curatela dos pródigos ... 34

3.4.5 Curatela dos nascituros ... 36

3.5 AUTOCURATELA ... 37

3.6 CONCEITO DE INTERDIÇÃO ... 37

3.6.1 Legitimidade para o requerimento de interdição... 38

3.6.2 Procedimento da ação de interdição ... 39

4 AS ALTERAÇÕES E OS REFLEXOS TRAZIDOS PELA LEI Nº 13.146 NO INSTITUTO DA INTERDIÇÃO ... 42

4.1 LEI Nº 13.146, DE 06 DE JULHO DE 2015 – ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ... 42

4.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA ... 43

4.3 ALTERAÇÃO NO REGULAMENTO DA CAPACIDADE CIVIL ... 46

(10)

4.5 CRIAÇÃO DO INSTITUTO DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA ... 51

4.6 OUTRAS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI Nº 13.146/2015 ... 54

4.7 PROJETO DE LEI 757/2015 ... 56

5 CONCLUSÃO ... 58

(11)

1 INTRODUÇÃO

A Lei nº 13.146, também conhecida por Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi promulgada no ano de 2015, e sua inclusão no ordenamento jurídico acarretou diversas alterações a institutos já conhecidos.

A motivação da pesquisadora surgiu de curto período de estágio não obrigatório realizado na Vara da Família da Comarca de Palhoça, e pela consequente observação dos diversos obstáculos e desafios enfrentados pelos familiares e pelos procuradores atuantes na área da interdição civil, em razão das alterações promovidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Assim, o tema é de suma importância, visando à compreensão dos direitos da pessoa com deficiência e às consequências de sua inclusão na sociedade por ser considerado plenamente capaz de exercer os atos da vida civil.

Entretanto, em razão de serem considerados plenamente capazes, a partir do advento da Lei nº 13.146/2015, surgiram diversas outras questões, afetando os institutos da curatela e interdição, prescrição, casamento, etc.

Nesse contexto, o problema de pesquisa a ser respondido é: quais as alterações promovidas pelo advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência ao ordenamento jurídico brasileiro?

A metodologia aplicada no presente trabalho tem como fundamento o pensamento dedutivo, tendo em vista que parte da personalidade e capacidade civil como um todo, passando pelos institutos da interdição e curatela, chegando, por fim, à Lei nº 13.146/2015 e as alterações trazidas ao ordenamento jurídico. Ainda, o método de procedimento é monográfico e histórico, contando com técnica de pesquisa bibliográfica baseada em legislação, doutrina e artigos científicos.

O presente estudo está pautado em três capítulos de desenvolvimento. O primeiro capítulo será dedicado à conceituação da personalidade, tanto da pessoa natural (também chamada de física) quanto da pessoa jurídica, e as teorias a respeito do seu surgimento, bem como a capacidade civil, com sua evolução histórica e a incapacidade e seus meios de suprimento.

O segundo capítulo busca explicar os institutos jurídicos da curatela, com suas disposições gerais e as pessoas a ela sujeitas, e da interdição, apresentando os legitimados ao seu requerimento, e o procedimento para tanto.

(12)

O terceiro e último capítulo de desenvolvimento apresenta a Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015, seus principais objetivos, a razão para a sua apresentação, os direitos fundamentais inseridos aos portadores de deficiência, as alterações promovidas no ordenamento jurídico como um todo, bem como o novo instituto chamado de tomada de decisão apoiada, e breve síntese sobre projeto de lei ainda em tramitação, que visa alterações no Estatuto da Pessoa com Deficiência.

(13)

2 PERSONALIDADE E CAPACIDADE

Neste capítulo, será abordada a personalidade, com a distinção entre a civil e a jurídica, bem como a pessoa natural e a jurídica.

Ainda, terá como temática a capacidade civil, sua evolução histórica, seus aspectos gerais e os institutos da representação e assistência.

2.1 PERSONALIDADE

A personalidade é caracterizada como atributo jurídico, dotada por todo e qualquer homem, que desempenha um papel jurídico na sociedade, com direitos e deveres, segundo Gomes (2016, p. 102).

De acordo com Nader (2016, p. 185), não se pode confundir a personalidade do ponto de vista psicológico, que é caracterizada pela maneira de ser, agir e reagir de cada indivíduo, com a personalidade jurídica, que é a titularidade de direitos e deveres civis.

A observação de Venosa (2019, p. 124) é de que a “personalidade jurídica é projeção da personalidade íntima, psíquica de cada um; é proteção social da personalidade psíquica, com consequências jurídicas”.

O artigo 2º do Código Civil determina que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” (BRASIL, 2002).

A partir da aquisição da personalidade, “a pessoa humana ganha a possibilidade de defender o que lhe é próprio, como sua vida, sua integridade físico-psíquica, seu próprio corpo, sua carga intelectual, sua moral, sua honra subjetiva ou objetiva, sua imagem, sua intimidade.” (TARTUCE, 2018, p. 176).

Cassettari (2019, p. 47) leciona que a aptidão para aquisição de direitos e contração de deveres é conferida por meio da personalidade, e é por esta, por exemplo, que se pode admitir que alguém seja parte em uma relação negocial.

De acordo com Tartuce (2018, p. 176), os direitos da personalidade relacionam-se diretamente com o princípio da dignidade da pessoa humana e com as três dimensões (ou gerações) dos direitos, advindos da Revolução Francesa.

Para Bittar (2015, p. 65), “nos direitos da personalidade, a pessoa é, a um só tempo, sujeito e objeto de direitos, remanescendo a coletividade, em sua generalidade, como sujeito passivo”, motivo pelo qual se diz que são abrangentes a toda a sociedade.

(14)

No decorrer dos últimos anos, passaram a ser mencionadas diferentes expressões, como “direitos humanos”, “direitos fundamentais” e “direitos da personalidade”. Contudo, a variedade de termos não deve ser problema, uma vez que todos buscam a proteção jurídica da pessoa humana, em diferentes aspectos. (SCHREIBER, 2014, p. 13).

Há que se distinguir, entretanto, a personalidade jurídica da capacidade jurídica, sendo a primeira conceito absoluto, e a segunda conceito relativo. Nas palavras de Alves (2019, p. 98), “a personalidade jurídica é a potencialidade de adquirir direitos ou de contrair obrigações; a capacidade jurídica é o limite dessa potencialidade”.

Como atributo da personalidade tem-se o estado da pessoa, que, nas palavras de Venosa (2019, p. 162), “sua importância reside no fato de ser ele pressuposto ou fonte de direitos e deveres, assim como fator fundamental para a capacidade e legitimidade da pessoa para a prática de determinados atos”.

Contudo, a personalidade não é um atributo exclusivamente da pessoa humana, segundo Pereira (2019, p. 170):

Como o ser humano é o sujeito das relações jurídicas, e a personalidade a faculdade a ela reconhecida, diz-se que toda pessoa é dotada de personalidade. Mas não se diz que somente a pessoa, individualmente considerada, tem essa aptidão. O direito reconhece igualmente personalidade a entes morais, sejam os que se constituem de agrupamentos de indivíduos que se associam para a realização de uma finalidade econômica ou social (sociedades e associações), sejam os que se forma mediante a destinação de um patrimônio para um fim determinado (fundações), aos quais é atribuída com autonomia e independência relativamente às pessoas físicas de seu componentes ou dirigentes.

Corrobora com o mesmo pensamento Gonçalves (2009, p. 71):

O direito reconhece personalidade também a certas entidades morais, denominadas pessoas jurídicas, compostas de pessoas físicas ou naturais, que se agrupam, com observância das condições legais, e se associam para melhor atingir os seus objetivos econômicos ou sociais, como as associações e sociedades, ou constituídas de um patrimônio destinado a um fim determinado, como as fundações.

De igual modo, o art. 52 do Código Civil de 2002 dispõe que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.” (BRASIL, 2002).

É este o entendimento de Azevedo (2019, p. 24):

Quando a pessoa atua individualmente, quer como pessoa natural ou física, quer como empresa individual, quer, ainda, somando esforço e/ou recursos com outras pessoas (sociedade) com interesses comuns, ela adquire direitos e deveres/obrigações, sendo, assim, sujeito de relação jurídica. A relação jurídica é um complexo de direitos e deveres que tem, sempre, coo titular pessoas naturais (físicas) ou jurídicas (morais),

(15)

que são agentes de direito. A pessoa, assim, seja natural ou jurídica, diante da norma agendi (direito objetivo), que mostra como deve ser o comportamento humano e quais as sanções em caso de descumprimento desse dever, é sujeito de direito, que deve saber o que é lícito, para respeitar, e o que é ilícito, para evitar, com faculdade de agir (facultas agendi).

Ainda, a Súmula nº 227 do Superior Tribunal de Justiça enuncia que “a pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. (BRASIL, 1999)

Percebe-se, pois, que tanto a pessoa natural, quanto a pessoa jurídica (esta no que lhe couber), detém a personalidade e os direitos e deveres dela decorrentes.

2.1.1 Pessoa natural

A pessoa natural, segundo Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 129) é “o ser humano, enquanto sujeito/destinatário de direitos e obrigações”.

Para Pereira (2019, p. 172), a designação pessoa natural é usada para indicar a pessoa, em sua existência, com todos os seus atributos e faculdades, conferindo-lhe os direitos da personalidade.

No tocante ao momento da aquisição da personalidade, existem três principais teorias, sendo elas a concepcionista, natalista e teoria da personalidade condicionada.

A teoria concepcionista sustenta que a aquisição da personalidade se dá desde a concepção, e o nascimento serve única e tão somente para consolidação da capacidade jurídica. (MALUF; MALUF, 2017, p. 94).

Já a teoria natalista defende que o nascituro não pode ser considerado pessoa, tendo em vista que o Código Civil impõe o nascimento com vida para a aquisição da personalidade civil, motivo pelo qual o nascituro possui única e tão somente expectativa de direitos, e não os direitos propriamente ditos. (TARTUCE, 2019, p. 131).

Por sua vez, a teoria da personalidade condicionada acredita, tal qual a teoria natalista, que o início da personalidade dá-se a partir do nascimento, admitindo, entretanto, “a produção de efeitos extunc do início da personalidade, para que o recém-nascido adquira todos os direitos que teria adquirido enquanto nascituro”. (DONIZETTI; QUINTELLA, 2018, p. 37). A legislação brasileira adota a teroia da personalidade condicionada, tendo em vista o disposto no artigo 2º do Código Civil, que assevera que o início da personalidade da pessoa natural começa do nascimento com vida, assegurados, entretanto, desde a concepção, os direitos do nascituro. (BRASIL, 2002).

(16)

A Resolução nº 001, emitida em 1988 pelo Conselho Nacional de Saúde, por meio do seu artigo 29, inciso VI, conceitua o nascimento com vida como a “expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta.” (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1988).

O nascituro é aquele que se espera que venha à vida, ser humano já concebido, e a lei resguarda os seus interesses desde a sua concepção, no entanto, a este não se confere a personalidade, antes do seu nascimento. (SOUZA; GIACOMELLI, 2018, p. 30).

Entretanto, Venosa (2019, p. 129) observa:

O fato de o nascituro ter proteção legal, podendo inclusive pedir alimentos, não deve levar a imaginar que tenha ele personalidade tal com a concebe o ordenamento. Ou, sob outros termos, o fato de ter ele capacidade para alguns atos não significa que o ordenamento lhe atribuiu personalidade. Embora haja quem sufrague o contrário, trata-se de uma situação que somente se aproxima da personalidade, mas com esta não se equipara. A personalidade somente advém do nascimento com vida. Silmara Chinelato e Almeida, em estudo profundo sobre a matéria, conclui, contudo, que a personalidade do nascituro é inafastável (2000:160). Para efeitos práticos, porém, o ordenamento pátrio atribuiu os necessários instrumentos para a proteção do patrimônio do nascituro. Há tentativas legislativas no sentido de ampliar essa proteção ao próprio embrião, o que alargaria em demasia essa “quase personalidade”.

O Conselho da Justiça Federal, por meio do artigo 2º do Enunciado 1 da I Jornada de Direito Civil dispõe que “a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura”. (CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL, 2002).

Dentre os direitos da pessoa natural, encontram-se divididos os “direitos do homem” e os “direitos fundamentais”, sendo os primeiros relacionados ao direito público e a relação homem x Estado, e os segundos relacionados aos direitos das relações entre particulares. (BITTAR, 2015, p. 55).

Ainda para Bittar (2015, p. 65), considerando-se a pessoa, em seu conjunto, incidem sobre ela os direitos da personalidade, com efeitos erga omnes, e os direitos pessoais, com efeitos inter partes.

Os direitos da personalidade são tutelados por duas vias, sendo elas a via da proibição, com estabelecimento de restrições, por meio dos artigos 11 a 13 do Código Civil, e pela via da reparação, com a previsão de possibilidade de indenização decorrente de lesão a direito da personalidade, disposta no artigo 12 do mesmo diploma legal (DONIZETTI; QUINTELLA, 2017, p. 77):

(17)

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. (BRASIL, 2002)

Segundo Borda (1991 apud VENOSA, 2019, p. 171), os direitos da personalidade, por estarem diretamente ligados à pessoa humana, possuem as seguintes características:

(a) são inatos ou originários porque se adquirem ao nascer, independendo de qualquer vontade; (b) são vitalícios, perenes ou perpétuos, porque perduram por toda a vida. Alguns se refletem até mesmo após a morte da pessoa. Pela mesma razão são imprescritíveis porque perduram enquanto perdurar a personalidade, isto é, a vida humana. Na verdade, transcendem a própria vida, pois são protegidos também após o falecimento; são também imprescritíveis; (c) são inalienáveis, ou, mais propriamente, relativamente indisponíveis, porque, em princípio, estão fora do comércio e não possuem valor econômico imediato; (d) são absolutos, no sentido de que podem ser opostos erga omnes. Os direitos da personalidade são, portanto, direitos subjetivos de natureza privada.

Ainda no que toca aos direitos da personalidade, o Conselho da Justiça Federal legisla, por meio do Enunciado 4 da I Jornada de Direito Civil, que “o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”. (CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL, 2002).

E mais, por meio do Enunciado 274, da IV Jornada de Direito Civil (CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL, 2006):

Os direitos da personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo Código civil são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana) em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação.

A responsabilidade civil das pessoas naturais encontra-se disciplinada nos artigos 186, 187 e 927 do Código Civil, legislando que aquele que causar danos a outrem, ainda que de ordem exclusivamente moral, deve ressarci-los.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

(18)

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (BRASIL, 2002).

O domicílio da pessoa natural, nos termos do artigo 70 do Código Civil, é onde estabelece sua residência com ânimo definitivo. Se, porém, a pessoa natural tiver mais de uma residência, considera-se seu domicílio qualquer delas, conforme dispõe o artigo 71 do mesmo diploma legal. (BRASIL, 2002).

Somente com a morte é que ocorre a extinção da pessoa natural, conforme disposto no artigo 6º do Código Civil, extinguindo-se também sua personalidade jurídica e seus direitos. (VALENTE, 2017, p. 51).

Neste mesmo sentido, Venosa (2019, p. 160):

Em que pese à morte tudo findar, há incontáveis consequências jurídicas que dela decorrem: apenas como exemplo, podemos citar que, pelo art. 354, a legitimação dos filhos falecidos aproveitava a seus descendentes no sistema do Código anterior; o art. 948 prevê a indenização em caso de homicídio, e o art. 951 manda que os médicos satisfaçam ao dano sempre que agirem com culpa. Além de tudo, a honra dos mortos é protegida em prol dos vivos, seus parentes, em homenagem a sentimentos com relação às pessoas caras.

O ordenamento jurídico atual não reconhece a possibilidade de perda da personalidade em vida, somente com a morte há a sua extinção. (PEREIRA, 2019, p. 178).

2.1.2 Pessoa jurídica

A pessoa jurídica pode ser caracterizada como um grupo de pessoas unidas para a realização de fins comuns, dotada de personalidade jurídica, e criada de acordo com os ditames da lei. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 228).

Assim, de acordo com Gonçalves (2009, p. 182), pode-se afirmar que “pessoas jurídicas são entidades a que a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações”.

(19)

Caracterizam-se as pessoas jurídicas: (a) por sua capacidade de direito e de fato, própria, distinta da capacidade dos membros que a compõem; (b) pela existência de uma estrutura organizativa artificial; (c) pelos objetivos comuns de seus membros; (d) por um patrimônio próprio e independente do de seus membros e (e) pela publicidade de sua constituição, isto é, o registro dos seus atos constitutivos nas repartições competentes.

Cassettari (2018, p. 88) conceitua a pessoa jurídica como “a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações”.

São três os requisitos necessários à constituição da pessoa jurídica, sendo eles a vontade humana criadora, a observância das disposições legais e a legitimidade dos seus propósitos. (PEREIRA, 2019, p. 240).

Com relação à capacidade da pessoa jurídica, esta é “limitada à finalidade para a qual foi criada, abrangendo também aqueles atos que direta ou indiretamente servem ao propósito de sua existência e finalidade”. (VENOSA, 2019, p. 245).

De acordo com Montoro (apud DINIZ, 2012, p. 301), “as pessoas jurídicas de direito público iniciam-se em razão de fatos históricos, de criação constitucional, de lei especial e de tratados internacionais, se se tratar de pessoa jurídica de direito público externo”.

Por outro lado, a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começa a partir da inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, nos termos do artigo 45 do Código Civil. Em alguns casos, é necessária a autorização ou aprovação do Poder Executivo. (BRASIL, 2002).

Para Venosa (2019, p. 239, grifo do autor):

Passada a fase da manifestação da vontade, no sentido de criação do novo ente, a pessoa jurídica já existe em estado latente. Para que essa pessoa jurídica possa gozar de suas prerrogativas na vida civil, cumpre observar o segundo requisito, qual seja, a observância das determinações legais. É a lei que diz a quais requisitos a vontade preexistente deve obedecer, se tal manifestação pode ser efetivada por documento particular ou se será exigido o documento público, por exemplo. É a lei que estipula que determinadas pessoas jurídicas, para certas finalidades, só podem existir mediante prévia autorização do Estado. É o ordenamento que regulamenta a inscrição no Registro Público, como condição de existência legal da pessoa jurídica. É, pois, por força da lei que aquela vontade se materializa definitivamente num corpo coletivo. Finalmente, a atividade do novo ente deve dirigir-se para um fim lícito. Não se adapta à ordem jurídica a criação de uma pessoa que não tenha finalidade lícita. Não pode a ordem jurídica admitir que uma figura criada com seu beneplácito contra ela atente. Se a pessoa jurídica, em suas atividades, desviar-se das finalidades lícitas, o ordenamento tem meios para cercear e extinguir sua personalidade.

No tocante à concepção da pessoa jurídica, Donizetti e Quintella (2017, p. 92, grifo dos autores) destacam que a doutrina divide-se em dois grandes grupos, os da teoria da ficção

(20)

(que nega a existência da pessoa jurídica enquanto tal), e os da teoria da realidade (que, por outro lado, afirmam a existência da pessoa jurídica):

Entre as teorias da ficção destaca-se a teoria da ficção legal, defendida por SAVIGNY, segundo a qual somente as pessoas naturais podem ser sujeito de direitos e obrigações, consistindo as pessoas jurídicas em uma criação artificial, imaginária. Entre as teorias da realidade, destacam-se a teoria da realidade objetiva e a teoria

da realidade jurídica, também chamada de teoria da realidade técnica. A primeira,

concebida por GIERKE e ZITELMAN, sustenta que a vontade humana é apta para criar um organismo – a pessoa jurídica – que passa a ter existência autônoma. A segunda, delineada por FERRARA, argumenta que a personalidade é atributo jurídico, o qual o Direito concede tanto às pessoas naturais quanto às pessoas jurídicas.

Assim como a pessoa natural, ou física, a pessoa jurídica possui preservados os direitos à integridade moral (objetivamente), segredo, imagem, etc., conforme ensinamento de Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 243).

A capacidade jurídica da pessoa jurídica decorre, de acordo com Cassettari (2018, p. 102), da personalidade a ela conferida pela ordem jurídica, e, portanto, possui direitos como a denominação, a nacionalidade, o domicílio, bem como a proteção dos direitos da personalidade (nome, marca, imagem, liberdade, privacidade, existência, segredo, etc.).

Venosa (2019, p. 188) observa que “a pessoa jurídica, entidade moral criada pela vontade do homem, desempenha inúmeras atividades e funções da pessoa natural. Embora não possa ser atingida na sua honra objetiva, há agressões morais de cunho objetivo que atingem, sem dúvida, as entidades”.

No âmbito da responsabilidade civil contratual, não há qualquer diferença efetiva entre a pessoa jurídica de direito privado e a pessoa jurídica de direito público, devendo cumprir aquilo que foi compactuado, respondendo com o seu patrimônio em caso de inadimplemento, como previsto no artigo 386 do Código Civil. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 273).

Ainda para Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 274), no tocante à responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto nos artigos 187 e 927 do Código Civil inclusive às pessoas jurídicas, vez que os mencionados artigos não fazem acepção de quem são os destinatários da norma.

Tendo ou não fins lucrativos, e qualquer que seja a natureza, a pessoa jurídica responde pelos danos por ela causados, entendimento exarado por Gonçalves (2009, p. 221).

O domicílio da pessoa jurídica encontra-se disciplinado no artigo 75 do Código Civil, onde tem-se que as pessoas jurídicas de direito público tem como domicílio a sede de seus governos e local de administração (União – Distrito Federal; Estados e Territórios –

(21)

capitais; Município – local onde funcione a administração municipal), enquanto que as demais pessoas jurídicas possuem como domicílio o “lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos”. (BRASIL, 2002).

A personalidade das pessoas jurídicas também se extingue, e esta extinção poderá ocorrer de diversas formas, “mas em qualquer hipótese a personalidade subsistirá até que se ultime a liquidação e se proceda a anotação cartorária devida”. (NADER, 2016, p. 255).

A extinção da pessoa jurídica de direito público pode se dar de três modo, para Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 287):

a) convencional – é aquela deliberada entre os próprios integrantes da pessoa jurídica, respeitado o estatuto ou o contrato social;

b) administrativa – resulta da cassação da autorização de funcionamento exigida para determinadas sociedades se constituírem e funcionarem;

c) judicial – nesse caso, observada uma das hipóteses de dissolução previstas em lei ou no estatuto, o juiz, por iniciativa de qualquer dos sócios, poderá, por sentença, determinar a sua extinção.

Ainda, há que se mencionar a chamada teoria da desconsideração da personalidade jurídica, utilizada nos casos de desvio de finalidade e de confusão patrimonial, que encontra-se elencada no artigo 50 do Código Civil. (BRASIL, 2002).

De outro lado, a extinção da pessoa jurídica de direito público, assim como a sua criação, decorre única e tão somente da lei.

2.2 CAPACIDADE CIVIL

Com a aquisição da personalidade, tratada no tópico anterior, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e obrigações, possuindo, portanto, capacidade, segundo Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 137).

Diz-se que a personalidade tem sua medida na capacidade, motivo pelo qual importa a sua distinção. (GOMES, 2016, p. 121)

2.2.1 Conceito

A capacidade encontra-se delimitada no artigo 1º do Código Civil, na medida em que afirma que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. (BRASIL, 2002).

(22)

Para Diniz (2012, p. 167), a capacidade é a “maior ou menor extensão dos direitos e deveres de uma pessoa”.

A capacidade civil pode ser classificada de duas formas, segundo Tartuce (2018, p. 128):

Capacidade de direito ou de gozo – é aquela comum a toda pessoa humana, inerente à personalidade, e que só se perde com a morte prevista no texto legal, no sentido de que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil (art. 1º do CC).

Capacidade de fato ou de exercício – é aquela relacionada com o exercício próprio dos atos da vida civil.

Assim, entende-se que toda pessoa possui capacidade de direito, contudo, nem toda pessoa possui a capacidade de fato, pois lhe podem faltar elementos para o exercício de certos atos. (TARTUCE, 2018, p. 128).

Basta a condição de ser humano para a aquisição da capacidade de gozo e de direito, contudo, nem todo ser humano possui a capacidade de fato/exercício. Nas palavras de Nader (2016, p. 192):

Basta ser ente humano para ser agente capaz de adquirir direitos e contrair obrigações na ordem civil. Esta capacidade é, portanto, atributo essencial da personalidade humana. Capacidade de fato é aptidão para exercitar direitos e deveres. A lei permite a qualquer pessoa a titularidade de bens, assim, um recém-nascido ou alguém mentalmente incapaz, poderá ser proprietário de um apartamento, mas falece-lhe condição para administrar o imóvel por si mesmo. Ambos possuem capacidade de direito, todavia são incapazes de fato.

Para Maluf e Maluf (2017, p. 101):

A capacidade distingue-se da legitimação: enquanto a capacidade de gozo é pressuposto meramente subjetivo do negócio jurídico, a legitimação é pressuposto subjetivo-objetivo; a legitimação é a aptidão para a prática de determinados atos jurídicos em virtude de sua posição especial em relação a certos bens, pessoas ou interesses. Consiste em determinar se uma pessoa, em virtude de determinada relação jurídica, tem ou não capacidade para estabelece-la. É um pressuposto objetivo.

A capacidade de direito tem como base a aquisição e transmissão de direitos, e a contração de obrigações, enquanto que a capacidade de exercício, também chamada de capacidade negocial ou capacidade de fato, tem efeitos no tocante às relações que envolvem patrimônio. (LOBO, 2017, p. 115-120).

A capacidade de direito, que não pode ser recusada a nenhum indivíduo, é a aptidão para ser sujeito de uma relação jurídica, ao passo que a capacidade de fato (ou de exercício)

(23)

pode ser conceituada como a aptidão de exercício dos direitos, sem qualquer representação ou assistência de terceiros. (CASSETTARI, 2019, p. 54).

Por outro lado, a incapacidade civil é a falta de aptidão para o exercício ou gozo de certos direitos. Os incapazes encontram-se previstos nos artigos 3º e 4º do Código Civil, in

verbis:

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

IV – os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (BRASIL, 2002)

As incapacidades, abaixo abordadas, incidem única e tão somente sobre o exercício dos direitos, tendo em vista que a capacidade de direito é ilimitada, da qual todos os indivíduos são possuidores. (CASSETTARI, 2019, p. 55).

A incapacidade absoluta é o impedimento para a prática de qualquer ato da vida civil, por si só, enquanto que na incapacidade relativa a prática dos atos da vida deve ser exercida mediante a representação (ou assistência) de um terceiro. (NADER, 2016, p. 192).

Cassettari (2019, p. 60) conceitua a incapacidade absoluta como a “proibição total do exercício do direito pessoalmente pelo incapaz, sendo necessária a sua representação por seu representante legal (pai, mãe, tutor, curador)”.

São considerados totalmente inaptos, pela lei, os absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil, que são aqueles que “têm direitos, podem adquiri-los, mas não são habilitados a exercê-los. São apartados das atividades civis; não participam direta e pessoalmente de qualquer negócio jurídico”. (PEREIRA, 2019, p. 218).

Na hipótese de incapacidade relativa, esta pode ser atribuída “àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos por quem o Direito encarrega desse ofício, em razão de parentesco, de relação de ordem civil ou de designação judicial”. (CASSETTARI, 2019, p. 60).

A incapacidade relativa, segundo Gomes (2016, p. 126), “atinge certos atos ou a maneira de exercê-los. Suas causas também se prendem ao estado individual encarado sob o ponto de vista da idade, do sexo e da saúde”.

(24)

Essa capacidade civil de fato, estudada na Parte Geral do Código Civil, chama-se

capacidade genérica, pois é aplicada a todos os atos que não estejam regulados por

lei especial. A capacidade específica para a prática de certo ato, que é regulada por lei especial, chama-se legitimação.

[...]

Portanto, não se pode confundir capacidade com legitimação, que é conceituada como uma capacidade específica, para a prática de certo ato. Somente quem tem capacidade de fato pode ter legitimação.

Ainda, há que se registrar a diferença entre os termos “capacidades especiais” e “proibições legais”. A primeira refere-se a requisitos exigidos em determinados casos, como, por exemplo, a exigência de determinada idade para a posse em cargos públicos, enquanto que as segundas são impostas em função de situações em que as pessoas se colocam, como, por exemplo, a anulação de doação por parte de cônjuge adúltero ao seu cúmplice (artigo 550 do Código Civil), a nulidade de doação de todos os bens sem reserva de meios de subsistência do doador (artigo 548 do Código Civil). (BRASIL, 2002).

2.2.2 Evolução histórica da incapacidade

Como mencionado no tópico anterior, a capacidade de fato é aquela que todos possuem (artigo 1º do Código Civil), enquanto que a capacidade de direito é a aptidão para exercício dos direitos.

Contudo, os conceitos de capacidade nem sempre foram classificados como os conhecemos nos dias de hoje.

Para o direito romano, a nem todos os homens era reconhecida a qualidade de sujeito de direito, sendo instituídos alguns requisitos para tanto, como a liberdade, e a condição de cidadão de Roma. (ALVES, 2019, p. 98).

Ainda de acordo com Alves (2019, p. 98), a capacidade jurídica plena só era adquirida pelo pater famílias (chefe de família).

Com o passar dos anos, o escravo passou a ser reconhecido como homem, não só em Roma, como no resto do mundo.

O Código Civil de 1916 dividia os incapazes de dois modos, sendo eles os relativamente incapazes e os absolutamente incapazes, elencados, àquela época, nos artigos 5º e 6º, ipsis litteris:

Art. 5º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I. Os menores de dezesseis anos.

(25)

II. Os loucos de todo o gênero.

III. Os surdos mudos, que não puderem exprimir a sua vontade. IV. Os ausentes, declarados tais por ato do juiz.

Art. 6º. São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, n. 1), ou à maneira de os exercer:

I. Os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos (arts. 154 a 156). II. As mulheres casadas, enquanto subsistir a sociedade conjugal.

III. Os pródigos. IV. Os silvícolas.

Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar, estabelecido em leis e regulamentos especiais, e que cessará à medida de sua adaptação. (BRASIL, 1916)

A Lei nº 4.121, de 27 de agosto de 1962, conhecida como Estatuto da Mulher Casada, alterou o artigo 6º do Código Civil em vigor à época, retirando a mulher casada do rol dos incapazes. (BRASIL, 1962).

A promulgação do Código Civil de 2002 trouxe nova redação aos supramencionados artigos, por meio dos artigos 3º e 4º:

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos;

II – os que, por enfermidade ou doença mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;

III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II – os ébrios habituais, os viciados e tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o desenvolvimento reduzido;

III –os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. (BRASIL, 2002)

Por sua vez, o advento da Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015 alterou mais uma vez o disposto nos artigos 3º e 4º do Código Civil, que passaram a dispor que somente as pessoas maiores de 16 (dezesseis) anos são absolutamente incapazes, nos seguintes termos:

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e os menores de dezoito anos;

II – os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;

III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

IV – os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (BRASIL, 2002)

Para Tartuce (2018, p. 131), não há que se falar, no ordenamento jurídico atual, incapacidade absoluta de maior de idade. Por conseguinte, não existe mais ação de interdição

(26)

absoluta, em razão da inclusão social a que se destina o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).

No interregno de 86 (oitenta e seis) anos passados entre a promulgação do Código Civil de 1916 e a entrada em vigor do Código Civil de 2002, percebe-se que foram retirados do rol de absolutamente incapazes os loucos de todo gênero, os surdos mudos e os ausentes. (BRASIL, 1916, 2002).

No que toca ao rol dos relativamente incapazes, entre 1916 e 2002 foram excluídas as mulheres casadas e os silvícolas.

Entre 2002, promulgação do Código Civil em vigor, e 2015, advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) passaram a constar como absolutamente incapazes os menores de 16 (dezesseis) anos, e excluídos deste rol aqueles que não podem exprimir a sua vontade por causa transitória e os que não possuem discernimento para a prática de certos atos em razão de enfermidade ou doença mental. (BRASIL, 2002, 2015b).

2.2.3 Representação e assistência

As incapacidades podem ser absolutas ou relativas, e encontram-se expostas nos artigos 3º e 4º do Código Civil, já abordadas no subitem 2.2.1.

Para garantir a proteção da existência jurídica dos incapazes, o direito implementou mecanismos chamados de representação e assistência. (VALENTE, 2017, p. 43).

No sentido literal da palavra, a representação é o “vínculo de uma pessoa a outra, de modo que a vontade da primeira, em todos ou em certos atos da vida civil, seja identificada com a vontade da última, e que é estabelecido tanto por decisão do representado, como por imperativo de lei”. (SIDOU, 2016, p. 540).

Entretanto, ressaltam Gagliano e Pamplona Filho (2019, p. 174):

Não se pode confundir, por outro lado, a representação legal, ora tratada, com a representação voluntária ou convencional, a exemplo do que ocorre no contrato de mandato. Neste caso, um parte (mandante) cuida de outorgar, por ato de vontade, mediante procuração (instrumento de mandato), poderes gerais ou específicos para que a outra (mandatário) pratique atos jurídicos em seu nome e no seu interesse. Por isso mesmo, o novo art. 120 preceituou que “os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte especial deste código”.

(27)

A representação é o instituto aplicado aos absolutamente incapazes (artigo 3º do Código Civil), e a assistência aos relativamente incapazes (artigo 4º do Código Civil), nos termos do artigo 1.636, inciso VII, do mesmo diploma legal, ipsis litteris:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:

[...]

VII – representa-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; (BRASIL, 2002)

Ainda, o artigo 1.690 do diploma civilista dispõe que “compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade, representar os filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem emancipados”. (BRASIL, 2002).

A lei processual civil legisla, por meio do artigo 71, que “o incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei”. (BRASIL, 2015a).

Quanto aos menores tutelados, é de competência do tutor “representar o menor, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em que for parte”, regra disposta no artigo 1.747, inciso I, do Código Civil. (BRASIL, 2002).

A diferença entre a incapacidade absoluta e a relativa gira em torno do seu exercício pessoal de direito, sendo o primeiro, como já exposto, representado, e o segundo, assistido.

O absolutamente incapaz encontra-se totalmente proibido de praticar qualquer ato jurídico, ou de participação em negócio jurídico, devendo ser realizado pelo representante legal, sob pena de nulidade, como expõe o artigo 166, inciso I, do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Por outro lado, os relativamente incapazes podem praticar certos atos da vida civil, desde que devidamente assistidos por seus representantes, e, na sua falta, o ato pode ser anulado, conforme previsão do artigo 171, inciso I, da legislação civil. (BRASIL, 2002).

Assim, tem-se a assistência e a representação como meios de suprimento da incapacidade, para que os que ela possuem possam ter seus direitos garantidos, sem qualquer prejuízo.

2.2.4 Cessação da incapacidade

A cessação da incapacidade encontra-se elencada no artigo 5º do Código Civil, nos seguintes termos:

(28)

Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II – pelo casamento;

III – pelo exercício de emprego público efetivo; IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;

V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. (BRASIL, 2002)

A incapacidade acima abordada, como regra, tem o seu fim, quando cessa a enfermidade, menoridade, ou qualquer outro motivo que determine a impossibilidade da pessoa em exercer pessoalmente os seus direitos. (MALUF; MALUF, 2017, p. 110).

De igual modo, Cassettari (2019, p. 63) entende que “extingue-se a incapacidade pela cessação da causa que a originou. A incapacidade etária cessa aos 18 anos e, quando se tratar de problema com discernimento, quando este terminar”.

Realizadas as observações sobre a pessoa, natural ou jurídica, sua personalidade, capacidades e incapacidades, necessário adentrar, no próximo capítulo, ao instituto da interdição, que é o meio jurídico de representação dos maiores sem completa aptidão para a prática dos atos por si mesmos.

(29)

3 CURATELA E INTERDIÇÃO

Neste momento, se faz necessária a elucidação da proteção exercida pela curatela, as pessoas a ela sujeitas, bem como seus aspectos gerais.

De igual forma, aborda-se o instituto da interdição, seu contexto histórico, e o procedimento judicial para tal fim.

3.1 CONCEITO DE CURATELA

A palavra curatela deriva do latim curatella, do verbo curare, que significa cuidar, zelar, e, por isso, desempenha papel social de interesse público. (MALUF; MALUF, 2016, p. 780).

Para Madaleno (2019, p. 1.276), a curatela é um compromisso imposto à alguém, que tem como responsabilidade alguém maior de idade, impossibilitado de reger e exercer pessoalmente os atos da vida civil, e deve servir como medida excepcional, e durar o menor tempo possível.

A curatela, como leciona Rocha (2003, p. 173), pode servir para reger a pessoa e os seus bens, quando esta é maior e impossibilitada, por determinado motivo, ou para reger interesses que não podem ser regidos pela pessoa, mesmo que esta possua capacidade.

A função da curatela pode ser o regimento da pessoa, e a administração dos seus bens, ou única e tão somente a administração dos bens dos maiores considerados incapazes, e os que não podem exprimir suas vontades em razão de diversas causas, sejam estas transitórias ou permanentes. (RIZZARDO, 2019, p. 925).

Entretanto, não se pode confundir a proteção jurídica exercida pela curatela com a tutela, tendo em vista que esta busca proteger o menor, e aquela, dá assistência ao maior, incapaz, que não o é em razão de sua idade, e sim de situações diversas. (AZEVEDO, 2019, p. 410).

Para Carvalho (1995, p. 86):

Na sua estrutura jurídica, tutela e curatela são idênticas. Trata-se, em ambos os institutos, de um encargo, cujo titular deverá ser compromissado perante a autoridade competente. [...]

O que distingue esses institutos é o tipo de incapacidade que reclama a proteção estatal. Na tutela é a incapacidade presumida, em razão da idade da pessoa. Na curatela é a incapacidade real, constatada, em razão de deficiências físicas, morais ou psíquicas, na pessoa que ultrapassou a idade da incapacidade presumida.

(30)

Nas palavras de Dias (2016, p. 670), “a curatela constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível (EPD 84 § 3.º).”

A lei estabelece para a tutela uma ordem de preferência para o seu exercício, observadas as relações de afeto com o curatelado, bem como a disposição e a possibilidade para a prática. (LÔBO, 2008, p. 395).

A curatela apresenta cinco características determinantes, assinaladas por Gonçalves (2019, p. 199):

a) os seus fins são assistenciais; b) tem caráter eminentemente publicista; c) tem, também, caráter supletivo da capacidade; d) é temporária, perdurando somente enquanto a causa da incapacidade se mantiver (cessada a causa, levanta-se a interdição); e) a sua decretação requer certeza absoluta da incapacidade. O caráter publicista advém do fato de ser dever do Estado zelar pelos interesses dos incapazes. Tal dever, no entanto, é delegado a pessoas capazes e idôneas, que passam a exercer um múnus público, ao serem nomeadas curadoras. A certeza da incapacidade é obtida por meio de um processo de interdição, disciplinado nos arts. 747 e s. do Código de Processo Civil de 2015, no capítulo que trata dos procedimentos especiais de jurisdição voluntária.

Maluf e Maluf (2016, p. 783) apontam que a curatela constitui medida de amparo e proteção, e não de penalidade, àqueles impossibilitados de cuidar dos próprios interesses.

Tartuce (2018, p. 691) ensina que “a curatela igualmente é instituto de direito assistencial, para a defesa de interesses de maiores incapazes”, assim como ocorre com a tutela, onde há um múnus público.

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA CURATELA

A curatela tem como origem o direito romano, e poderia ser deferida “a todos os indivíduos maiores não sujeitos à pátria potestas, a menores púberes, protegendo-os ante sua inexperiência para gerir pessoalmente os atos concernentes à vida civil, e até mesmo ao maior de 25 anos de idade, a pedido do próprio interessado.” (MALUF; MALUF, 2016, p. 781).

Para Carvalho (1995, p. 85):

A Lei Plaetoria – cura minorum– surgiu para proteger os egressos da puberdade, os menores de vinte e cinco anos, contra os abusos de que poderiam ser alvos mercê de sua inexperiência. Daí surgiu uma nova figura de curador, a pessoa que assistia a esses jovens, orientando-os e dando consistência jurídica a seus negócios.

Outras espécies de curatoria também surgiram, paulatinamente. Assim, o curator ventri datustinha a missão de administrar os interesses do nascituro. O curator jacentis haereditatis era o administrador do espólio sem herdeiros conhecidos. Ao curator bonis distrahendis era confiado o inventário dos bens do devedor insolvente. Para o

(31)

impúbere de filiação discutida foi criada a figura do curator bonotum possessio exedctio Carboniano.

Vê-se que o direito romano filtrou as necessidades sociais e particulares dos seus cidadãos, trazendo proteções mantidas até os dias atuais, sem modificações estruturais ao instituto da curatela. (CARVALHO, 1995, p. 86).

O Código Civil Francês de 1804 instituiu por meio do seu artigo 440 a figura da curatela, como garantia àqueles incapazes do exercício de determinados atos, seja por transtorno mental ou inaptidão física. (SOUZA, 2016, p. 159-163).

O Código Civil brasileiro de 1916 previa, por meio do seu artigo 446, a sujeita à curatela aos loucos de todo o gênero, aos surdos-mudos, sem educação que os habilitasse a enunciar precisamente a sua vontade, e aos pródigos. (BRASIL, 1916).

A doutrina e a jurisprudência acompanhavam o entendimento de que o rol do artigo 446 do Código Civil de 1916 era taxativo, mencionando-se, inclusive, julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo, do ano de 1963, que considerou não se incluir na relação de sujeição à curatela a velhice, e qualquer outra debilidade ou insuficiência mental que dela decorrerem. (AZEVEDO, 2019, p. 414).

O artigo 1.767 do Código Civil em vigor atualmente dispõe estarem sujeitos à curatela os que não podem exprimir a sua vontade, seja por causa transitória ou permanente, os ébrios habituais, e os viciados em tóxicos, bem como os pródigos. (BRASIL, 2002).

Ainda entre os sujeitos à curatela, encontram-se os nascituros, com proteção elencada no artigo 1.779 do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Entretanto, não se pode confundir as espécies de curatela acima elencadas com a curadoria instituída para a prática de determinados atos processuais, como nos casos de ausência (artigos 22 a 25 do Código Civil), colisão de interesses dos pais com os filhos (artigo 1.692 do Código Civil), administração de bens de menor herdeiro (artigo 1.733 do Código Civil) e no caso de falecimento de alguém sem testamento ou herdeiro legítimo, com herança (artigo 1.819 do Código Civil). (GONÇALVES, 2019, p. 201).

Percebe-se, pois, que a curatela teve sua instituição no ordenamento jurídico desde os tempos do direito romano, garantido proteção especial, desde sempre, àqueles impossibilitados de exercer os atos da vida civil, ou com dificuldade de fazê-los.

(32)

3.3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A CURATELA

Em que pese ter como objetivo a proteção do maior incapaz, a curatela não se mostra como regime autônomo, uma vez que se vale dos princípios da tutela, nos pontos mais comuns, como bem exposto pelo artigo 1.774 do Código Civil. (VENOSA, 2019, p. 539).

Para Maluf e Maluf (2016, p. 780):

Ao contrário da tutela, a curatela é atípica. São várias as formas de curatelas previstas em lei. Difere da curadoria: esta pode ser definida como a função supletiva protetora que se exerce em um caso determinado, tem natureza temporária; já a curatela tem uma função mais geral de assistência, que apresenta uma duração mais permanente, derivada de uma capacidade civil.

Não se pode confundir a curatela com a representação e assistência, eis que se trata de instituto geral de administração dos interesses de terceiros. De igual modo, não se pode confundir com a tutela, que a proteção de menores. (TARTUCE, 2018, p. 691).

Tal qual como ocorre na tutela, deve o curador prestar contas, de acordo com os artigos 1.755 e 1.774 do Código Civil, uma vez que é o responsável pela posse e administração dos bens do curatelado. (DIAS, 2016, p. 682).

Luz (2009, p. 334) menciona que “ao passo que a capacidade do maior se presume, sua incapacidade exige comprovação mediante o devido processo legal aperfeiçoado com a sentença de interdição”.

Lôbo (2008, p. 394) leciona:

Para a curatela, diferentemente da tutela, a lei estabelece uma ordem de preferência para exercê-la, que observa probabilidade de maior afetividade e disponibilidade para o cuidado. O cônjuge ou companheiro é preferencialmente o curador do outro. Na falta do cônjuge ou companheiro será curador legítimo o pai ou a mãe. Na falta dos pais, assume a curatela o descendente (filho, neto) que demonstrar maior aptidão, no sentido de tempo disponível, de afeição, de habilidade para administração, quando indispensável. Na falta de descendente, qualquer pessoa, não necessariamente parente do interdito, poderá ser nomeada curadora, por escolha do juiz.

Dias (2016, p. 671) assinala que não só o Código Civil, como o Estatuto da Criança e do Adolescente devem ser aplicado à curatela, e imperioso o reconhecimento do curatelado como dependente do curador, para todos os fins e efeitos, inclusive previdenciários.

(33)

3.4 PESSOAS SUJEITAS À CURATELA

As pessoas sujeitas à curatela encontram-se disciplinadas no artigo 1.767 do Código Civil, e são elas: as pessoas que por causas transitória ou permanente não podem exprimir suas vontades (inciso I), os ébrios habituais e os viciados em tóxicos (inciso III), e os pródigos (inciso V). (BRASIL, 2002).

Ainda, os nascituros encontram proteção legal, disposta no artigo 1.779 do mesmo diploma legal. (BRASIL, 2002).

3.4.1 Curatela daqueles que não podem exprimir sua vontade por causa transitória ou permanente

O inciso I do artigo 1.767 do Código Civil determina que estão sujeitos à curatela aqueles que, por causa transitória ou permanente, não podem exprimir as suas vontades. (BRASIL, 2002).

Para Venosa (2019, p. 542), “trata-se de toda e qualquer causa que suprima a possibilidade de expressão de vontade do agente, ainda que transitoriamente”, a exemplo de estado de coma e inconsciência em razão de determinadas enfermidades.

O inciso I do artigo 1.767 do Código Civil tem como destinatários os portadores de deficiência física transitória ou permanente, impeditivas de externação de vontades, sem possibilidade de comunicação. (MADALENO, 2018, p. 1.268).

No mesmo rumo, Carvalho (2018, p. 933) entende que o Código Civil autorizou a interdição dos que não podem expressar suas vontades, seja por ausência de discernimento, ou por impossibilidade de comunicação por outras causas.

Nader (2016, p. 633) acrescenta que as causas transitórias ou permanentes descritas no inciso I do artigo 1.767 do Código Civil deve ser entendida como causas de perturbação da mente, que impeçam a plena cognição da realidade.

A incapacidade de manifestação/expressão da vontade pode decorrer de vários fatores impeditivos, sendo eles transitórios ou permanentes. Para Rizzardo (2019, p. 931):

As transitórias perduram por certo tempo, como no acidente vascular cerebral – AVC, ou derrame cerebral, vindo a pessoa a recuperar a consciência, a compreensão e a comunicação com o passar do tempo. Já as permanentes, em geral congênitas, acompanham a pessoa pela vida toda, ou do momento em que surgem em diante.

(34)

O ato ou negócio jurídico praticado pelo incapaz que não pode exprimir a sua vontade, por causa transitória ou permanente, é considerado não somente nulo, como inexistente, pois não há o elemento essencial, que é a manifestação da vontade, como previsto no inciso I do artigo 1.767 do Código Civil. (BRASIL, 2002).

3.4.2 Curatela dos ébrios habituais

Os ébrios habituais encontram amparo e sujeição à curatela por meio da primeira parte do inciso III do artigo 1.767 do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Nesta categoria, incluem-se “as pessoas que podem ser interditadas em razão de deficiência mental relativa por fatores congênitos ou adquiridos”. (VENOSA, 2019, p. 543).

Rizzardo (2019, p. 935) conceitua os ébrios habituais:

Os ébrios habituais são aqueles que estão na dependência física e psíquica da bebida alcoólica, mas desde que não consigam mais controlar o impulso que os impele a ingerir as bebidas, de modo a manterem-se na maior parte do tempo sob seus efeitos. Podem manter-se íntegras as faculdades intelectuais, por um determinado período de anos. É possível que, embora habitual e inveterada a tendência de ingerir, permaneça intacta a capacidade da vontade. Mas, no curso do tempo, tornam-se insofismáveis a lentidão de raciocínio e a falta de apreensão correta das situações da vida, afetando a mente, e chegando à fase do delirium tremens, quando a vontade não tem mais controle de suas atitudes ou conduta. O ato então emitido, não se reveste de validade.

De acordo com Venosa (2019, p. 543), os referidos estados mentais dos ébrios são reversíveis, uma vez que os ébrios, bem como os viciados em tóxicos (tratados no próximo subitem), podem se submeter a tratamentos, voltando ás suas condutas consideradas normais.

A embriaguez habitual, de acordo com Madaleno (2018, p. 1.270), é o frequente e imoderado consumo de bebidas alcoólicas, deixando a pessoa com os sentidos alterados, e a repetição desta ingestão, transformando-se em alcoolismo crônico. Pouco interessa à proteção da curatela a embriaguez causal, episódica, que não altere as condições psíquicas e a possibilidade de compreensão do indivíduo.

A curatela do ébrio habitual somente pode ser considerada quando o agente já não responde por si, sem discernimento de quaisquer atos, como assinala Carvalho (2018, p. 933).

O entendimento de Azevedo (2019, p. 412) é de que “os ébrios habituais, objeto de curatela, são aqueles que têm seu entendimento profundamente afetado pelo uso descontrolado de bebida alcóolica”, e por este motivo, devem ser protegidos pelo instituto da curatela, já que o discernimento dos fatos não é o mesmo.

(35)

3.4.3 Curatela dos viciados em tóxicos

Os tóxicos são considerados por Venosa (2019, p. 543) como qualquer substancia natural ou sintética que, quando introduzida ao organismo, possa modificar suas funções.

Corroborando com o mesmo pensamento, Carvalho (2018, p. 934) entende que “tóxico é qualquer substância natural, sintética ou modificada, que causa dependência física ou psíquica, modificando as funções do organismo e interferindo na capacidade de discernimento da pessoa.

No que toca aos toxicômanos, Rizzardo (2019, p. 935) leciona:

Quanto aos viciados em tóxicos, de modo geral versa a espécie sobre uma incapacidade relativa (pois “relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer”, prevista no art. 4º, inc. II, do Código Civil, com a redação da Lei nº 13.146/2015, e abrange os incapazes em virtude do vício ou dependência ao tóxico. A pessoa que ingere, ou aplica, ou aspira substancias tóxicas com persistência, chega a um estado patológico tal que é afetada em sua mente. Seja qual for o tipo – morfina, cocaína, éter, ópio, maconha, e dezenas de outros entorpecentes – produz um estado tal de toxicomania que leva o viciado a uma crônica repetição no consumo, ficando dependente física e psiquicamente, sendo por demais conhecidas as consequências maléficas que traz à saúde, como a ebriedade, o transtorno psíquico, a exaltação da fantasia, a excitação psicossensorial, o ofuscamento da inteligência, a deficiência dos sentidos, o obscurecimento da consciência, o enfraquecimento da vontade, o envelhecimento precoce, a falta de apetite e disposição depois de passado o efeito, e muitos outros sintomas, que praticamente reduzem o ser humano a um inválido, e, às vezes, o levam à morte.

Madaleno (2018, p. 1.271) ressalta que “a principal característica da toxicomania está na insuperável necessidade de drogar-se, com tendência ao aumento das doses ingeridas, e a dependência física e por vezes psicológica que ela provoca.”

Santos (apud NADER, 2016, p. 633) leciona acerca da aplicação da curatela aos toxicômanos:

Legislação específica, voltada para os toxicômanos, foi editada com a Lei nº 4.294, de 6 de julho de 1921, regulamentada pelo Decreto nº 14.969, de 3 de setembro de 1921. Por ela os toxicômanos passaram a se sujeitar à interdição limitada, equiparada à dos surdos-mudos, mas conforme o caso ela deveria ser absoluta.

Ainda, Nader (2016, p. 633) acrescenta o meio para a decretação da aplicação da curatela ao toxicômano:

O procedimento previsto para a interdição era sob o contraditório e a decisão judicial deveria ser precedida de laudo de sanidade mental, a cargo de especialistas. Caso necessário, o juiz poderia ordenar a internação do interditando, a fim de ser observado pelos peritos. O Decreto nº 24.559, de 3 de julgo de 1934, que dispõe sobre Assistência

(36)

a Psicopatas e Profilaxia Mental, permitiu aos toxicômanos e aos intoxicados por substâncias de ação analgésica ou entorpecente, por bebidas inebriantes, particularmente as alcoólicas, a internação em estabelecimentos psiquiátricos, públicos ou privados, definindo o regime a que se submetiam. Logo no art. 1º, o Decreto nº 24.559 trocou a expressão “loucos de todo gênero”, adotada pelo Código Beviláqua, pelo termo psicopatas.

O toxicômano passou a ser equiparado ao psicopata, para efeito de sua interdição, a partir do advento do Decreto nº 4.294/1921, como assevera Azevedo (2019, p. 413).

Ressalta-se que “a interdição do dependente não constitui um efeito nocivo da droga, pelo contrário, pois tem a finalidade de amparar aquele que se tornou incapaz para os atos da vida civil. O efeito nocivo é a conversão de uma pessoa saudável em um ser incapaz.” (NADER, 2016, p. 632).

A hipótese de sujeição à curatela do viciado em tóxico não acarreta na interdição total do indivíduo, podendo ele praticar os atos da vida civil da rotina de administração dos seus interesses, tendo em vista a incapacidade relativa (artigo 4º do Código Civil). (LÔBO, 2008, p. 395).

3.4.4 Curatela dos pródigos

O pródigo pode ser definido como aquele que gasta e se desfaz dos seus bens de forma desordenada, e sua sujeição à curatela tem como origem o direito romano, onde a propriedade era considerada bem comum, e o seu desfazimento gerava prejuízo a todo o grupo familiar. (VENOSA, 2019, p. 543).

No que tange à sujeição à curatela dos pródigos, relata Rizzardo (2019, p. 936):

Proveniente a palavra do latim (prodigus), quer significar a pessoa que gasta imoderadamente, desbaratando seus bens e comprometendo-se em dívidas que sua renda não comporta. Chega a tal ponto o desperdício e a malversação de valores, que é capaz de chegar à miséria, comprometendo não apenas o seu sustento, mas também o de seus dependentes.

Vê-se, daí, que o sentido não alcança somente aquele que distribui altruisticamente suas riquezas, em gestos de caridade ou desprendimento, buscando minorar os problemas sociais e saciar a fome de muitas pessoas. Mais que isto, e atualmente com maior incidência, tem-se o pródigo como o perdulário, que, em uma noitada de diversões e jogatinas, é capaz de desbaratar toda a sua riqueza e a própria renda destinada à alimentação, à moradia, à educação e outras necessidades.

Nas palavras de Carvalho (2018, p. 935), a prodigalidade pressupõe habitualidade na dilapidação do patrimônio, com gastos excessivos, entretanto, deve-se observar se o agente

Referências

Documentos relacionados

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins & Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

The aim of this paper is to verify if Second Life‟s development may be considered a remix of the chasing of American dream by understanding how users are taking advantage of

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Por fim, dada as previstas asserções, o presente artigo conclui a nulidade da Língua Esperanto como proposta de embate ao imperialismo americano, conquanto, o

Figure 8 shows the X-ray diffraction pattern of a well-passivated metallic powder and a partially oxidized uranium metallic powder.. Figure 7 - X-ray diffraction pattern of