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A política externa estadunidense e as origens dos grupos terroristas no Iraque

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TALICIA OLIVEIRA BELICHE

A POLÍTICA EXTERNA ESTADUNIDENSE E AS ORIGENS DOS GRUPOS TERRORISTAS NO IRAQUE

Florianópolis 2017

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TALICIA OLIVEIRA BELICHE

A POLITICA EXTERNA ESTADUNIDENSE E AS ORIGENS DOS GRUPOS TERRORISTAS NO IRAQUE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Luciano Daudt da Rocha, Ms.

Florianópolis 2017

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Dedicado ao meu amigo Kais Altabbaa, pelo contexto retratado neste trabalho ter sido a sua realidade vivenciada no Oriente Médio, e a todos aqueles que se identificam e estudam a fundo o tema proposto.

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AGRADECIMENTOS

Aqui se finaliza o meu primeiro sonho de um tema escolhido para ser estudado desde o início do curso. Durante o processo da elaboração deste sonho, só tenho motivos para agradecer a Deus como uma força maior, por nunca ter me esquecido e ter me concedido saúde novamente nos momentos mais difíceis para finalizar este trabalho. Aos meus pais, Jorge e Lane Beliche, com todo o meu coração, que mesmo de longe nunca deixaram de ter fé em mim, e por terem me concedido todo o apoio emocional e todo o conforto possível, durante esses quatro anos de universidade, ainda mais nos últimos meses, vocês são um exemplo de pais e uma fonte de inspiração eterna. Ao meu irmão Thiago Weyk, por ter me oferecido apoio e momentos de descontração, de forma que eu pudesse aproveitar muito suas vindas a Florianópolis. Ao meu orientador Luciano Daudt, a quem eu tive a honra de conhecer em 2014 no primeiro dia de aula, e pelo privilégio de ser orientanda por quem eu tenho profunda admiração, tanto pelo método de trabalho quanto pela inteligência. Além de ter realizado juntamente comigo profundas reflexões acerca de vertentes sobre o tema escolhido, aprendi muito. A banca composta: por Rogério Costa e Luana Balieiro Cosme, agradeço pela oportunidade de apresentar todo o conhecimento adquirido durante os últimos anos sobre o terrorismo e a política externa estadunidense para a elaboração deste trabalho. Ao meu namorado Marcelo Macruz, por nunca ter me deixado desistir de correr atrás dos meus sonhos e por ter tido e me concedido toda paciência, força, amor e compreensão que um ser humano poder ter, com os mesmos valores tradicionais que nos mantém juntos desde o primeiro dia. Meu coração é seu. A minha melhor amiga-irmã Nathany Tavares, por ter sido minha companheira na universidade e sempre ter me concedido seu tempo para me ajudar no que fosse preciso no decorrer deste projeto e destes últimos anos de universidade, além do seu apoio emocional e ombro amigo, para me dar força e me dizer as palavras certas nos momentos mais difíceis. Você é um exemplo de garra para mim e para sempre terei orgulho da nossa amizade de longe ou perto. E por fim, a todos os demais amigos e familiares que possuem carinho por mim e que de alguma forme torceram pelo meu sucesso durante toda a minha vida e ao longo dos anos da universidade. De todo meu coração, meus agradecimentos a todos.

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"A emoção da batalha costuma ser um vício forte e letal, pois, a Guerra é uma droga". Chris Hedges

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RESUMO

Esta monografia se propõe a analisar a política externa estadunidense e sua influência nas origens dos grupos terroristas no Iraque. Para tanto, foi contextualizada historicamente a ascensão dos Estados Unidos como hegemonia, baseando-se em seus valores universais; e o desenvolvimento do Iraque, marcado por golpes políticos e conflitos étnicos, como país no sistema internacional. A partir disso, foi realizado um debate sobre as origens das intervenções realizadas no Iraque em 1991 e 2003, alicerçado na análise histórica das relações entre esses dois países, bem como o processo decisório sobre o tipo de força a ser utilizado na Guerra do Iraque após o bem-sucedido ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, que provocou mudanças significativas na política externa estadunidense. Em seguida, foram investigados: o surgimento de grupos terroristas no contexto das intervenções; a contribuição política e financeira estadunidense para a consolidação destes grupos, com ênfase para a Al Qaeda e o Estado Islâmico; e as suas implicações para a segurança internacional. Para elaboração desta monografia foram utilizadas fontes bibliográficas, tais como livros, artigos e publicações acadêmicas; mapas; e memorandos de órgãos governamentais estadunidenses. Como resultado desta pesquisa, observou-se que o emprego do termo terrorismo pelo governo estadunidense, no contexto dos conflitos no Oriente Médio, pode ser encarado como uma forma de justificar as ações de cunho imperialista dos Estados Unidos no Iraque, e que a manutenção da influência política e militar desta nação naquela região fortalece e prolonga a existência de sentimentos antiocidentais na sociedade iraquiana. Verificou-se ainda que mesmo que os grupos terroristas atuantes naquela região deixem de existir, outros possivelmente irão renascer.

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ABSTRACT

This monograph aims to analyze the American external policy and its influence on the origin of terrorist groups in Iraq. For this purpose, the rise of the United States of America as hegemony, with basis on their universal values, and the development of Iraq, marked by political coups and ethnic conflicts, as a country in the international system were historically contextualized. Henceforth, the origins of the interventions in Iraq in 1991 and 2003 were discussed, with basis on the historical analyses of the relations between these two countries, as well as the decision-making process on the kind of force to be used in the Iraq War after the successful September 11th terrorist attack in 2001 in the United States, which caused significant changes in the American external policy. Subsequently, the appearance of terrorist groups in the context of the interventions, the American political and financial contributions for the consolidation of these groups, especially the Al Qaeda and Islamic State, and their political implications in what comes to international security were investigated. In order to write this monograph, bibliographical sources such as books, academic articles and papers; maps and U.S. governmental agencies’ memorandum have been used. As a result, this study has found that the use of the word “terrorism” by the U.S. government, in the context of the Middle East conflicts, may be used as a means to justify the U.S. imperialistic type actions in Iraq and that the perpetuation of that country’s political and military influence in the region strengthens and extends the existence of anti-Western sentiments in the Iraqi society. Also, that even if the present active terrorist groups cease to exist in that region, new ones are likely to replace them.

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LISTASDEILUSTRAÇÕES

Imagem 1 – Declaração da Independência dos Estados Unidos ... 36

Imagem 2– As treze colônias da América do Norte. ... 37

Imagem 3– Orçamento ordinário das Nações Unidas. ... 44

Imagem 4– Etnias no Oriente Médio. ... 46

Imagem 5 – A derrubada da estátua de Saddam Hussein. ... 69

Imagem 6 – Bases de Operação Avançada estadunidenses na invasão de 2003 ao Iraque. .... 70

Imagem 7 – Acampamentos Militares estadunidenses na invasão de 2003 ao Iraque. ... 70

Imagem 8 – Postos Avançados de Combate e Bases Aéreas estadunidenses na invasão de 2003 ao Iraque. ... 71

Imagem 9 – Líder da Al Qaeda: Osama Bin Laden. ... 75

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LISTASDESIGLAS

AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica, das Nações Unidas al-Nusra – Al Qaeda na Síria

AQI – Al Qaeda no Iraque

BIRD – Banco Mundial para Reconstrução e Desenvolvimento

CIA – Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, do inglês Central Intelligence Agency

CSNU – Conselho de Segurança das Nações Unidas DOD – Departamento de Defesa dos Estados Unidos

EI/ISIS/EIIS/ISIL - Estado Islâmico do Iraque e do Levante, do inglês Islamic State of Iraq and the Levant

EUA – Estados Unidos da América FMI – Fundo Monetário Internacional

INC – Congresso Nacional do Iraque, do inglês Iraq National Congress

ISI – Serviço de Inteligência do Paquistão, do inglês Inter-Services Intelligence ONU – Organização das Nações Unidas

OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte

UNMOVIC – Comissão de Monitoramento, Verificação e Inspeção das Nações Unidas, do inglês United Nations Monitoring, Verification, and Inspection Commission

UNSCOM – Comissão Especial das Nações Unidas, do inglês United Nations Special Comission

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ... 13

1.1 - EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA ... 13

1.2 - OBJETIVOS ... 15 1.2.1 - OBJETIVO GERAL ____________________________________________________________ 15 1.2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS ____________________________________________________ 15 1.3 - JUSTIFICATIVA ... 16 1.4 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 17 1.4.1 - QUANTO À APLICABILIDADE _______________________________________________ 17 1.4.2 - QUANTO AOS OBJETIVOS ___________________________________________________ 17 1.4.3 - QUANTO À ABORDAGEM ____________________________________________________ 18 1.4.4 - QUANTO AOS PROCEDIMENTOS ____________________________________________ 18 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 19

2.1 - O ESTADO ... 19

2.1.1 - O ESTADO LIBERAL _____________________________________________________________ 21 2.2 - O SISTEMA INTERNACIONAL E AS ORDENS INTERNACIONAIS ... 22

2.2.1 - CONCEITO DE ORDEM INTERNACIONAL __________________________________________ 22 2.2.2 - AS ORDENS INTERNACIONAIS NA HISTÓRIA _______________________________________ 23 2.3 - A HEGEMONIA ... 24 2.3.1 - O CONCEITO DE HEGEMONIA ____________________________________________________ 24 2.3.2 - A HEGEMONIA NO SISTEMA-MUNDO ______________________________________________ 25 2.4 - ESTADOS FALIDOS ... 27 2.5 - CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES ... 27 2.6 - SEGURANÇA INTERNACIONAL ... 28 2.7 - TERRORISMO ... 30

2.7.1 - O TERRORISMO: DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XXI _______________________________ 30 2.7.2 - O TERRORISMO TRANSNACIONAL ________________________________________________ 31 2.7.3 - TIPOS DE TERRORISMO __________________________________________________________ 32 2.7.3.1. Quanto à sua amplitude: ... 33

2.7.3.2. Quanto à motivação: ... 33

2.7.3.3. Quanto ao alvo ou natureza do ataque: ... 34

2.7.3.4. Quanto ao contexto das organizações terroristas: ... 34

3 - ESTADOS UNIDOS E IRAQUE: ORIGENS DE UMA DICOTOMIA ... 34

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3.1.1 - ORIGENS _______________________________________________________________________ 35 3.1.2 - DO ISOLACIONISMO AO UNIVERSALISMO _________________________________________ 38

3.2 - A FORMAÇÃO DO ESTADO IRAQUIANO ... 45

3.2.1 - DEBATES SOBRE O ESPAÇO E A POPULAÇÃO ______________________________________ 45 3.2.2 - O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO IRAQUE _____________________________________ 50 3.2.3 - O IRAQUE NO SÉCULO XX: O GOVERNO DE SADDAM HUSSEIN ______________________ 52 4 - AS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E IRAQUE ... 53

4.1 - PERIODO DA GUERRA FRIA ATÉ O 11 DE SETEMBRO ... 53

4.2 - OS ESTADOS UNIDOS PÓS 11 DE SETEMBRO DE 2001 ... 55

4.3 - AS INTERVENÇÕES NO IRAQUE ... 58

4.3.1 - RETROSPECTOS HISTÓRICOS _______________________________________________ 58 4.3.2 - A PRIMEIRA INTERVENÇÃO DE 1991, SOB A ÉGIDE DA ONU ______________ 59 4.3.3 - O PLANO DA GUERRA CONTRA O IRAQUE _________________________________ 61 4.3.4 - O PAPEL DA ONU NO IRAQUE _______________________________________________ 64 4.3.5 - A SEGUNDA INTERVENÇÃO DE 2003, SEM A ÉGIDE DA ONU ______________ 68 5 - AS CONSEQUÊNCIAS DA INTERVENÇÃO: A FORMAÇÃO DE GRUPOS TERRORISTAS... 73

5.1 - AL QAEDA: UM INIMIGO DERROTADO, NÃO É UM INIMIGO DESTRUÍDO ... 73

5.2 - ESTADO ISLÂMICO DO IRAQUE E DO LEVANTE (ISIS) ... 80

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 86

REFERÊNCIAS ... 93

APÊNDICES ... 101

APÊNDICE A – Mapa de Localização dos Acampamentos Militares dos Estados Unidos no Iraque ... 102

APÊNDICE B – Mapa de Localização dos FOBs, COPs e Bases Aéreas Militares dos Estados Unidos no Iraque - ... 103

ANEXOS ... 104

ANEXO A – Ata de Reunião entre Saddam Hussein e Rumsfeld ... 105

ANEXO B – Trecho do Relatório da Comissão sobre Capacidade da Inteligência dos Estados Unidos a Respeito de Armas de Destruição em Massa. ... 108

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1 - INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como propósito avaliar a influência e a atuação hegemônica estadunidense sobre o Oriente Médio e de que forma isto contribui para o surgimento de grupos terroristas no século 20, sobretudo no Iraque. Para tal, desenvolve-se um estudo acerca da invasão estadunidense no Iraque, levando em consideração a trajetória destes dois países ao longo da história, bem como os conflitos étnicos já existentes na região. No primeiro capítulo da presente pesquisa serão apresentados os passos que orientaram o projeto em relação ao tema estudado.

1.1 - EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA

O terrorismo é um fenômeno antigo que perdura até os dias atuais. A origem propriamente dita do termo “terrorismo” está relacionada à violência estatal exercida na Revolução Francesa (1789-1799). Nesta época, o terrorismo era caracterizado pela violência praticada através do governo. Porém, ao longo do século XIX a manifestação do terrorismo muda de violência estatal para violência praticada contra o estado. Portanto, considera-se que as duas formas de terrorismo prevalecem nos dias de hoje. (SCHMID, 2004).

Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir de 1960 criou-se um elo entre o financiamento estrangeiro e o terrorismo no Oriente Médio. Os países ocidentais que praticavam terrorismo nesta região, davam suporte às suas próprias operações de guerras irregulares, que motivaram a ascensão de grupos terroristas na queda de governos ditatoriais pelo mundo em prol de seus interesses. Isso proporcionou a criação de uma rede de terrorismo que se ampliou rapidamente, devido aos inúmeros ataques realizados em âmbito estrangeiro, apresentando-se assim, como uma ameaça à segurança internacional. (VISACRO, 2009).

Com o surgimento da globalização e da maior interdependência entre os países, as ações terroristas passam a ser cometidas de uma forma diferente e tendo uma importância cada vez maior, estando submersas pelas disparidades culturais, religiosas e políticas. A evolução tecnológica passou a ser também essencial para esses grupos terroristas, pois, começou a ser utilizada como ferramenta para a difusão de sua ideologia, que contribuiu para o recrutamento de novos membros em defesa de uma causa cada vez mais consolidada. (IANNI, 2004).

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14 Entretanto, o terrorismo só passa a ter uma atenção maior da comunidade internacional após os atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, quando se percebeu que o terrorismo deixou de atingir apenas o patamar doméstico, passando a ter uma característica transnacional, mesmo este não tendo sido o primeiro ataque a ser cometido fora de âmbito nacional. Os traços de grupos terroristas são marcantes tanto pela sua diversidade de motivação e de “modus operandi” quanto por serem alvos de autoria não estatal, atuando em prol de seus objetivos e aumentando de forma significativa a preocupação com a proliferação de armas nucleares e de destruição em massa nas mãos desses indivíduos. Portanto, tornaram-se indispensáveis políticas de segurança entre as nações. (SCHMID, 2004).

Porém, a segurança das nações não deve ser preservada apenas quanto a um inimigo imaginário, representado por suspeitas, mas sim quanto a um inimigo real. No entanto, as grandes potências agem sempre como se houvesse um motivo para justificar seus atos nas intervenções ou na própria guerra, quando na prática, estão atendendo aos seus próprios interesses. Desta forma, independentemente da força dos grupos terroristas, a guerra começa somente quando uma nação não se satisfaz com o domínio que tem e necessita expandir-se mais, abrindo-se então, caminho para o autor Chomsky (2007, p. 134), sobre os Estados Unidos, quando diz que:

“[...] quando alguém pratica o terrorismo contra nós ou contra nossos aliados, isso é terrorismo, mas, quando nós ou nossos aliados o praticamos contra outros, talvez um terrorismo muito pior, isso não é terrorismo, é antiterrorismo ou guerra justa.”.

A partir deste pensamento estadunidense, podemos observar que o “American Way of Life”, propagado como uma sugestão de estilo de vida, se manifesta na realidade como uma imposição aos países de cultura diversa. Desta forma, vêm se tornando cada vez mais evidente que as intervenções que aguçaram a guerra do Iraque, as dispersões de valores ocidentais, principalmente dos Estados Unidos, e o interesse deste país em assuntos políticos e econômicos, sob o manto de democracia e liberdade, foram na realidade um espaço forçado adquirido no Oriente Médio.

Como fruto dessa imposição cultural, sucedeu-se um choque de civilização que se evidencia considerando que, as organizações terroristas atuantes do Oriente Médio almejam estar fora desse ciclo de dominação, desejando então o retorno para a vida com base no fundamentalismo islâmico radical, que acabou adotando a mesma postura que os Estados Unidos de espalhar os seus valores por meio da violência e não aceitar posições contrárias. (HUNTINGTON, 1997).

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15 O discurso civilizatório dos Estados Unidos pelo mundo, desde a época da Guerra Fria, potencializado pela sua influência na mídia global, demonstra que esta potência não perdeu o velho dilema de segurança, que sempre fez parte dos seus propósitos hegemônicos, ao eleger um inimigo e dar máxima publicidade as suas ações e não as dele próprio. Dividindo assim o mundo de acordo com sua concepção de certo e errado, bem como apresenta Hobsbawm (2007, p. 136), quando diz que:

A política atual dos Estados Unidos tenta reviver os terrores apocalípticos da Guerra Fria, quando já não lhe é plausível inventar “inimigos” para legitimar a expansão e o emprego do seu poder global.

A guerra ao terror ou guerra preventiva é apenas um instrumento de muitos que os Estados Unidos criaram para legitimar o seu poder ao redor do mundo, colocando o seu expansionismo acima de qualquer sociedade. Este modus operandi gerou reações de mesmo caráter por parte dos grupos terroristas que acabaram se fortalecendo com o tempo no cenário internacional. Assim, os Estados Unidos ajudaram a criar o seu próprio pesadelo que futuramente iria aterrorizá-los. (HOBSBAWM, 2007). Diante destes fatores, este trabalho tem por intenção responder à seguinte questão: Como podemos analisar o papel dos

Estados Unidos para a formação de grupos terroristas no cenário internacional?

1.2 - OBJETIVOS

Possuindo como base o problema do trabalho, a seguir são apontados os objetivos gerais e específicos, que concomitantemente formam o propósito desta monografia.

1.2.1 - Objetivo Geral

Entender a contribuição dos Estados Unidos para a formação dos grupos terroristas, no caso da intervenção no Iraque.

1.2.2 - Objetivos Específicos

Para complementar e satisfazer o objetivo geral foram formulados os seguintes objetivos específicos:

a) Contextualizar historicamente os percursos dos Estados Unidos e Iraque no sistema internacional;

b) Debater as origens da intervenção no Iraque em 2003, a partir de uma análise histórica das relações entre Estados Unidos e Iraque;

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16 c) Investigar o surgimento de grupos terroristas no contexto da intervenção

estadunidense sobre o Iraque e as consequências na segurança internacional; 1.3 - JUSTIFICATIVA

Diante do momento final do curso de uma graduação, escolhido um assunto com o qual mais se identifica desde o início do curso, além de saciar as dúvidas da pesquisadora ao tentar entender as causas dos conflitos no Oriente Médio, sobretudo, no Iraque, e compreender o real conceito do terrorismo como uma ferramenta moral e política, é chegado o momento de apresentar o conhecimento adquirido, chamando a atenção dos demais pesquisadores para os principais pontos que contribuíram para a eclosão do tema proposto.

Sendo o assunto desta pesquisa muito debatido atualmente na mídia e de extrema importância em reuniões governamentais entre nações e em áreas acadêmicas, esta monografia tem como intuito contribuir para a área de Relações Internacionais acerca de aprofundar ainda mais o conhecimento a respeito das origens e consolidação dos grupos terroristas no cenário internacional, visto que este fenômeno faz parte de um mundo globalizado, que demanda maior cooperação por parte dos serviços de inteligência e dos Estados acarretando em consequências para a segurança internacional. Este trabalho também busca alertar o leitor sobre a influência dos Estados Unidos no Oriente Médio como um dos principais “padrinhos” do fortalecimento dos grupos terroristas, partindo do pressuposto de que, as nações para serem livres precisam ser educadas com valores estadunidenses e que qualquer nação que representar uma ameaça ao seu interesse nacional ou for contra os seus princípios universais, deverá ser contida por meio de um esforço conjunto de outros Estados.

Ademais, há uma grande preocupação da sociedade global em relação à atuação dos grupos terroristas que comprometem a estabilidade da segurança internacional, uma vez que, o principal objetivo do terrorismo é demonstrar a vulnerabilidade do país, espalhar o terror, expor o medo e dizer que qualquer local pode ser alvo de atentados. Essas razões são a justificativa para o incentivo desta monografia, compreendendo o quão relevante o tema é para as Relações Internacionais, para a sociedade e para o desenvolvimento acadêmico e profissional do pesquisador.

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17 1.4 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De acordo com Severino (2007, p.100): “A ciência se faz quando o pesquisador aborda os fenômenos aplicando recursos técnicos, seguindo um método e apoiando-se em fundamentos epistemológicos.”

Desta forma, são contempladas nesse trabalho quatro classificações diferentes de procedimentos metodológicos: aplicabilidade e natureza (básica ou aplicada); objetivos (exploratória descritiva ou explicativa); abordagem (qualitativa ou quantitativa); procedimentos (bibliográfica, documental, experimental, levantamento, modelagem e simulação, estudo de caso, pesquisa e ação). Diante disso, serão descritos alguns desses itens que foram selecionados pelo pesquisador com o intuito de contribuir para o conteúdo desta monografia.

1.4.1 - Quanto à aplicabilidade

Quanto à aplicabilidade é caracterizada como aplicada, pela qual é possível gerar conhecimentos a partir de uma pesquisa básica, dispensando originalidade, mas não rigor científico, é uma pesquisa baseada na utilização de uma metodologia adequada, na interpretação de fatos e ideias, bem como oferece ao estudante uma bagagem cultural, preparando-o para que futuramente este possa desenvolver pesquisas mais aprofundadas e trabalhos originais (ANDRADE, 1998).

De acordo com o autor Oliveira (1997, p.123):

Uma pesquisa aplicada “[...] requer determinadas teorias ou leis mais amplas como ponto de partida, e tem por objetivo pesquisar, comprovar ou rejeitar hipóteses sugeridas pelos modelos e fazer a sua aplicação às diferentes necessidades humanas”.

Neste trabalho, foram utilizadas como base as pesquisas de Henry Kissinger (2015), Perry Anderson (2015), Hans Blix (2004) e Alessandro Visacro (2016), que abordaram principalmente a relação entre Estados Unidos e organizações terroristas.

1.4.2 - Quanto aos objetivos

No que se refere aos objetivos, a pesquisa é de caráter explicativo, tendo como principal objetivo identificar os fatores que contribuem ou definem a ocorrência de determinado fenômeno, procurando analisar o porquê das coisas e tentando explicar suas razões, na medida em que o conhecimento da realidade é aprofundado. (GIL, 2012).

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18 Nesta pesquisa, foi analisado o fenômeno da formação de grupos terroristas no Iraque e buscou-se estabelecer relações deste fenômeno com a invasão do Iraque, o expansionismo estadunidense e o histórico de conflitos étnicos no Oriente Médio.

1.4.3 - Quanto à abordagem

A abordagem é classificada como qualitativa, sendo esta uma variável que não pode ser mensurada, relacionando o mundo real (objeto) e o sujeito (pesquisador), que tem como um dos principais objetivos facilitar a interpretação e exploração do assunto, obtendo um conhecimento mais amplo e aprofundado sobre o tema da pesquisa (FLICK, 2009).

As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos. (OLIVEIRA, 1997, p.116).

O desenvolvimento desta pesquisa partiu da hipótese de que os Estados Unidos influenciaram na formação de grupos terroristas no Iraque. Para isso, foram analisados os interesses econômicos dos Estados Unidos no Oriente Médio, o financiamento dos grupos terroristas pelos Estados Unidos, a prática da imposição dos valores ocidentais sobre Estados Falidos, a pluralidade de etnias e credos religiosos no Oriente Médio, além da disputa de poder nesta região.

1.4.4 - Quanto aos procedimentos

Os procedimentos podem ser caracterizados como bibliográficos documentais e como estudo de caso. Sendo que a pesquisa bibliográfica pode ser entendida como qualquer material previamente analisado e publicado como em: artigos científicos, livros, endereços eletrônicos, dicionários especializados, permitindo ao pesquisador ter ou já ter tido um breve conhecimento sobre o assunto, por tê-lo estudado, dando ao pesquisador a oportunidade de aprofundar o seu conhecimento na medida em que é realizado esse trabalho (CERVO, 1996).

Segundo o autor Gil (2012, p.44):

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise de diversas posições acerca

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de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas.

Apesar de o procedimento documental ser bastante semelhante à pesquisa bibliográfica, a principal diferença entre ambas é que enquanto a pesquisa bibliográfica se dispõe de materiais já produzidos por diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais não analisados e que podem ser reproduzidos de acordo o objeto da pesquisa, tendo como base fontes muito mais diversificadas e dispersas, exigindo uma capacidade analítica do pesquisador em relação a documentos com fontes secundárias, como: relatórios, arquivos, etc. (GIL, 2012).

Para este trabalho foram utilizadas tanto fontes bibliográficas (livros, artigos e publicações acadêmicas), quanto documentais, tais como memorandos de órgãos governamentais estadunidenses.

Por sua vez, um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo aprofundado sobre determinado assunto, levando em consideração os principais elementos que compõem o objeto pesquisado, na busca de uma análise detalhada que pode contribuir para obtenção de ideias e possíveis soluções e revelações dentro de um contexto real. (FACHIN, 2003).

Os procedimentos típicos de estudo de caso foram aplicados neste trabalho por meio do estudo detalhado da Guerra do Iraque, no intuito de revelar informações e expandir as análises específicas desta guerra para um contexto mais amplo dos conflitos existentes no Oriente Médio e a proliferação de grupos terroristas.

2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No presente capítulo, apresentam-se os aportes teóricos imprescindíveis para a contextualização histórica desse trabalho. Observaremos o conceito de Estado, Ordem Mundial, Hegemonia, Estados Falidos, Choque de Civilizações, Segurança Internacional e por último Terrorismo. Calcados em principais obras e autores lúcidos necessários para a construção desta monografia.

2.1 - O ESTADO

A origem embrionária da palavra Estado está calcada na renascença. O seu conceito evoluiu com o tempo, tendo surgido primeiramente os termos “Polis” na Grécia, “Civita” em Roma e “Estado” durante a Idade Média. Contudo, a palavra só ganha força com Maquiavel através da sua obra “O Príncipe”. (FRIEDE, 2007).

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20 Antes disso, os Helênicos chamaram o Estado de polis, que quer dizer cidade e de onde se origina o termo “política”, a arte ou ciência de governar as cidades. Isto se deve ao fato de o Estado Grego, determinar limites de uma cidade, constituindo Estado-Cidade ou Cidade-Estado. Logo para os Romanos o Estado é a Civita, isto é, a comunidade dos habitantes, ou a res publica, que quer dizer algo comum a todos. (FRIEDE, 2007).

No entanto, de acordo com Maquiavel (2002), a condução de um governo está orientada pelas ponderações do governante. Dotado de amplos poderes, este deveria ter o equilíbrio e o senso necessários para que a ordem fosse mantida. Em sua obra “O Príncipe”, Maquiavel sugere que um príncipe deveria simplesmente abandonar o controle dos pressupostos morais para que tivesse condições de imperar conforme seus interesses. O autor (2002, p.102-203) ainda afirma que:

O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, bastando que aparente possuir tais qualidades (...). O príncipe não deve se desviar do bem, mas deve estar sempre pronto a fazer o mal, se necessário.

O Estado era o órgão mais completo e importante das instituições, pois ele requer: ordem, lei e dever. Porém, embora o autor preserve tanto a figura do Estado, este não deve ser compreendido como uma instituição que apenas funcionaria para impor limite e gerir leis. O Estado é baseado na figura do príncipe, um príncipe virtú (habilidade de agir da maneira certa no momento certo), o qual teria o poder para fazer o que bem entendesse, seja guerra ou paz. Isso deu para o Estado uma característica mais territorial e de domínio particular, e o príncipe teria que ter de fato grandes virtudes e uma enorme responsabilidade, pois, suas ações é que iram ser julgadas. (MAQUIAVEL, 2002).

Nesse mesmo sentindo, o filósofo Hobbes (1979) também descreve o que o Estado representa em sua visão, porém, apesar de defender o Estado absolutista como Maquiavel, o autor se diferencia um pouco ao ver o Estado como uma forma de proteger os homens de sua própria periculosidade, e da implantação do Estado ser através de um contrato social.

De acordo com Hobbes (1979) o Estado também surge como uma instituição fundamental capaz de regular as relações humanas, uma vez que, o Estado anterior dos homens, que seria o Estado natural é totalmente perigoso para eles próprios. No Estado de natureza paira a total insegurança, e nessa condição há um status de “guerra de todos contra todos”, ou melhor, “o homem é o lobo do próprio homem”. Com a criação do Estado, a paz e a prosperidade permanecerão, visto que, todos entregam totalmente suas liberdades

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21 individuais nas mãos do soberano para que este, em um poder unívoco, administre, controle e corrija as posturas destoantes (do Estado de Natureza).

É importante ressaltar que para Hobbes (1979) a instituição do Estado não é obrigatória, sendo esta efetivada pelas escolhas livres dos homens. O contrato, quando é firmado entre os homens, não basta ter fundamento jurídico, é preciso que exista um Estado armado para forçar os homens a respeitar as leis e as regras. Assim, o soberano tem a obrigação de garantir a ordem da sociedade e a vida dos seus súditos, pois os seres humanos só abrirão mão do direito natural se possuírem a segurança. Se esta não for garantida, o súdito tem o direito de se rebelar, e o pacto se torna nulo.

Assim, fica claro que, o modelo de Estado absolutista desconsiderava todas as formas de liberdades individuais; considerava não haver espaço para a democracia; e pregava o uso da força, da austeridade e da repressão. No entanto, estes elementos acabam por causar desigualdade e instabilidade, ocasionando a ascensão de Estados liberais.

2.1.1 - O ESTADO LIBERAL

O conceito de Estado liberal é inspirado pelos ideais da Revolução Francesa de 1979: liberdade, igualdade e fraternidade. Nasce o liberalismo no nível institucional do Estado no século XVIII, limitando a ação do Estado absolutista que dominou a Idade Média. A essência política desta revolução era a liberdade jurídica, de modo a garantir o direito do povo. Portanto, antes de tudo era necessária a instauração da liberdade civil, que fizesse com que esse direito e liberdade fossem entregues aos homens. (WEFFORT, 1989).

O filosofo Locke (1973) é considerado o pai do liberalismo. Para o autor, a existência do indivíduo antecede a sociedade e o Estado. Os homens viviam originalmente num estágio pré-social e pré-político, caracterizado pela mais perfeita liberdade e igualdade, denominado Estado de natureza. O homem além de ter o direito à liberdade tem o direito à propriedade. Ele é o dono de sua própria pessoa e também o dono de seu trabalho, sendo que a essência do trabalho é um critério original de aquisição de propriedade. Ou seja, quando o indivíduo aplica força de trabalho em determinada área, esta passa a se tornar posse do sujeito por direito e ninguém pode intervir nisso. Mesmo que o indivíduo não seja dono de grandes extensões de terra e que isso acabe resultando em desigualdade.

Partindo dos mesmos pressupostos, Rousseau (1997) acredita na natureza humana. Porém, ele vai analisar não o aspecto jurídico do Estado, mas sim o aspecto social.

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22 Diante disso, o autor aborda três aspectos: o Estado de natureza, o Estado de sociedade e o contrato social.

De acordo com o autor, o homem é bom por natureza e sua natureza é uma das mais adaptáveis. Ao contrário de John Locke, que não qualifica o homem, Rousseau afirma a bondade nativa do ser humano, motivo pelo qual sustenta a volta ao Estado de natureza. Segundo o autor o homem se corrompeu após a chegada de outros homens, abandonando o Estado de natureza e passando para um Estado de sociedade ruim. Neste contexto, o contrato social surgiu como uma solução para a situação alienada em que a sociedade se encontrava. Este contrato é definido como o momento de reflexão dos indivíduos enquanto sociedade para incorporação da proposta de um novo Estado transformador. (ROUSSEAU, 1997).

A principal função do Estado seria a de, através de políticas públicas, favorecer a emancipação política do cidadão para que ele possa resgatar sua empatia natural. Ou seja, a democracia direta é o principal elemento para a criação de soberania popular, partindo dos pressupostos de que o povo é soberano, e que a soberania é inalienável e intransferível ao Estado, não existindo a separação de poderes. (ROUSSEAU, 1997).

Desta forma, acreditava-se que era possível construir uma igualdade social e que a liberdade seria garantida. A filosofia rousseauniana estimulou inúmeras revoluções pelo mundo, e contribuiu para a reestruturação da ordem internacional no mundo e as formas como os países se relacionam politicamente e economicamente, conforme o tópico que veremos a seguir.

2.2 - O SISTEMA INTERNACIONAL E AS ORDENS INTERNACIONAIS

Neste tópico, trataremos do conceito de ordem mundial, sobretudo a sua aplicação na história das Relações Internacionais, e de que forma essas ordens contribuíram para a origem do equilíbrio de poder dos Estados no sistema internacional.

2.2.1 - CONCEITO DE ORDEM INTERNACIONAL

O termo “ordem internacional” está completamente vinculado ao imperialismo, pois, a “ordem” possui um significado subjetivo de interesses ora individuais, ora coletivos. Já o termo “internacional” foi criado pelo jurista e filósofo Jeremy Bentham, em 1780, a fim de designar os laços legais entre os Estados Nacionais. No entanto, o termo também se refere ao próprio conceito de nações. Logo, a Ordem Internacional é a ordem determinada por um conjunto de Estados, ou, por um único. (KISSINGER, 2015).

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23 Nunca houve uma verdadeira “ordem global”. As civilizações definiam seus próprios conceitos de ordem, e cada uma delas se via como centro do mundo e considerava seus princípios como universalmente relevantes. Há três tipos de ordens: mundial, conceito partilhado por região ou civilização que considera cabível a todos; internacional, que é a aplicação desse princípio a uma parte significativa do globo; e regional, que é a existência dos mesmos princípios em áreas geográficas determinadas. E nesse conjunto de ordens, há dois componentes: regras de aceitação geral e equilíbrio de poder. (KISSINGER, 2015).

Para Saraiva (2007), o elemento catalisador de uma “ordem internacional” é alcançar um equilíbrio, com o intuito de evitar guerras permanentes. Por um longo período, a balança do poder evitou a destruição da Europa, apesar de haver conflitos, pode-se dizer que os impactos foram reduzidos a essa estratégia dos Estados.

Porém, tão logo os Estados acabavam com uma hegemonia, logo surgiam outras em seu lugar. Em 1648 o Tratado de Vestfália surgiu com o intuito de acabar com os conflitos reconhecendo pela primeira vez a soberania de cada Estado. Contudo, os reinados na Europa desequilibravam o tratado. Em 1815, o Congresso de Viena também tentou estabelecer um equilíbrio de poder que buscasse a paz, porém, não conseguiu conter a ganância dos Estados, visto que, estes reformulam a ordem internacional conforme o momento em que estão vivendo e de acordo com os interesses nacionais. (SARAIVA, 2007).

2.2.2 - AS ORDENS INTERNACIONAIS NA HISTÓRIA

Até 1815 a luta pela supremacia mundial se concentrava em duas potências: França e Inglaterra. Com a vitória britânica, ela pode redesenhar suas alianças e firmar o cenário de acordo com seus anseios. Ao longo da história, a Inglaterra continuou sendo o principal construtor da ordem mundial liderando a revolução industrial e o poder naval, além de compelir o resto do mundo aos seus valores e cultura. O poder britânico começou a perder força na década de 1870 com a ascensão da Alemanha e dos Estados Unidos como rivais, a luta pela hegemonia foi travada e o resultado foi danoso. Com a as duas grandes guerras mundiais do século XX, a ordem se remodelou, pois, pôs de um lado os Estados Unidos como potência em ascensão e do outro a Europa totalmente destruída, assim proporcionando poder aos estadunidenses de liderar o cenário internacional realmente pela primeira vez. (LESSA, 2005).

Com o advento da Guerra Fria a ordem mundial, passou a ser configurada novamente, só que dessa vez, pelos Estados Unidos e União Soviética, tornando-se uma

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24 ordem bipolar, onde todos os países estavam condicionados às decisões desses dois atores, visto que, eram os únicos que possuíam um poderio militar significativo. Logo, com o fim da Guerra Fria esse critério não era mais o fator determinante da potencialidade global de um Estado nacional. O quesito econômico então passou a ser este fator principal e outras potências surgiram para rivalizar com os Estados Unidos, sendo este novo período classificado como multipolaridade. (LESSA, 2005).

Neste sentido, para o autor Fukuyama (1992, p.155):

O que podemos testemunhar não é apenas o fim da Guerra Fria, ou a passagem de um determinado período de história do pós-guerra, mas o fim da história como tal: isto é, o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como forma final de governo humano.

As convicções de Fukuyama estavam inseridas e sustentadas em um contexto onde estas ideias eram as que prevaleciam no período em questão. Elas pregavam que o mundo estava entrando em um novo ciclo de paz e cooperação e, por isso, os conflitos existentes estavam com os dias contados, havendo ainda uma percepção generalizada após a vitória do ocidente. Contudo, após a queda do muro de Berlim, as crenças supracitadas logo foram substituídas por nuvens de incerteza. Mas, de qualquer forma, estas incertezas não restringiram a posição estadunidense como figura hegemônica. (PECEQUILO, 2011). 2.3 - A HEGEMONIA

Para discorrer sobre hegemonia será feito um relato de alguns autores, com destaque para: Antônio Gramsci, Robert Cox, Andrew Walter, Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi. Serão apresentados conceitos de hegemonia, hegemonia no sistema-mundo e teoria dos ciclos hegemônicos, de forma que possam contribuir para a definição do conceito da hegemonia, principalmente em relação ao seu papel e a sua influência no cenário-mundial.

2.3.1 - O CONCEITO DE HEGEMONIA

A palavra hegemonia procede do grego hegemón (chefe, líder, governante). Essa palavra foi muito utilizada principalmente no que se referenciava à dominação política e militar de uma determinada Cidade-Estado sobre a outra. Porém, anos mais tarde, com o surgimento do Estado-Nação esta palavra não perdeu o seu significado, continuando a fazer alusão ao domínio, só que dessa vez, seria a influência de um país sobre os demais. (WALTER, 1991).

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25 De acordo com Walter (1991), o termo hegemonia não contempla somente a dominação financeira, militar e política, mas engloba também os meios implícitos de poder, os quais seriam: a língua, a cultura, a música, entre outros.

Logo, para Gramsci (1978) a hegemonia sempre esteve relacionada à sociedade civil e política. A hegemonia se forma com determinado grupo ou classe social que exerce a liderança moral e intelectual. Depois de ter atingido o poder, este grupo tem a dominação em mãos. Mas, mesmo quando ele estiver no auge do seu poder, não pode deixar de “liderar”. Para o autor, “liderar” não tem o mesmo conceito que “dominar”, pois, liderar requer consentimentos da sociedade, mesmo que indiretamente, para que essa sociedade se torne esquema de dominação por determinado grupo-líder. A hegemonia se torna ainda mais poderosa quando ambos os protagonistas, o dominante e o dominado, acreditam que o poder vigente é completamente satisfatório ou pelo menos abrange boa parte de suas necessidades e expectativas.

Todavia, para Cox (1986) a hegemonia não se limita apenas a luta de classes, a competição de Cidades-Estados, nem a questão de dominante e dominado. Para o autor a hegemonia possui uma amplitude suficiente para se encaixar no sistema internacional de maneira mais profunda, seja na questão política ou econômica.

Por outro lado, o autor Arrighi (1997, p.27), define hegemonia como: “A capacidade de um Estado de exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas”. Para o autor, o Estado realiza o seu papel hegemônico ao liderar o sistema na direção desejada, ou apenas deixando claro ao seu povo o modelo estrutural de poder.

Assim, o autor elabora uma teoria que pode ser observada no sistema mundo, e que irá analisar a forma cíclica do desenvolvimento hegemônico, como veremos no próximo tópico.

2.3.2 - A HEGEMONIA NO SISTEMA-MUNDO

A interdependência econômica entre regiões que são culturalmente e politicamente distintas é denominada sistema-mundo e a imposição de regras e dominação dos Estados mais fortes sobre os mais fracos é caracterizada como hegemonia no sistema-mundo.

Para Wallerstein (1996) a hegemonia do sistema-mundo, que nasce com a “economia-mundo moderna”, é a primeira a ser inteiramente capitalista, mesmo não tendo sido a primeira economia a surgir. Ela pode ser divida em dois tipos: o primeiro é o dos

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26 impérios-mundo que envolve dois ou mais grupos culturalmente distintos, porém, dependentes de um único governo. O outro, é a divisão internacional do trabalho que pode ser caracterizada por processos produtivos e centrais distribuídos por Estados fortes, semiperiféricos e periféricos.

Essa divisão é resultado da expansão por regiões diferenciadas de interesses monopolistas e da acumulação do capital desigual. Os Estados mais fortes possuem uma alta influência na relação centro-periferia, pois esses Estados apoiam regiões centrais e absorvem excedentes não só de seus trabalhadores, como também de trabalhadores de outras regiões, causando assim uma relação desigual. O excedente é retirado da periferia e concentrado no centro, fazendo com que Estados mais fortes possuam um poder de dominação maior do que se pode imaginar ao submeter os mais fracos aos seus interesses. (WALLERSTEIN, 1996).

Nesse mesmo sentido, Arrighi (2008) o sistema-mundo surgiu como uma reorganização fundamental ocorrida em momentos da história do capitalismo. Mas o autor se atenta não só a estrutura e as relações existentes do sistema, mas também as mudanças que constituem esse sistema. As mudanças definem um conjunto de inovações e estratégias que colocam as potências na posição de liderança no mundo e isso se dá através de alianças entre Estados e dos “ciclos sistêmicos de acumulação”.

A teoria dos ciclos hegemônicos de Arrighi (1997) refere-se à análise da ordem capitalista, e às relações de poder nela estabelecidas por quedas e ascensões de hegemonias. Portanto, para o autor existiram quatro ciclos sistêmicos de acumulação de capital que marcaram a transferência de poder de um país para o outro. Estes foram: o ciclo genovês do século XV, que foi responsável por introduzir o desenvolvimento do capitalismo para as outras nações ao estimular o comércio e a produtividade através de inovações tecnológicas; o ciclo holandês do início do século XVI, que desenvolveu o método de navegação e as formas de explorar os mercados a um preço acessível; o ciclo britânico, que ocorreu na segunda metade do século XVIII, o qual introduziu o conceito do livre comércio (baseado na teoria da “mão invisível” de Adam Smith) e utilizou diversos meios para manter sua expansão marítima; e o ciclo estadunidense datado do fim do século XIX, que é caracterizado pela inserção geopolítica em relação aos países produtores de petróleo, pelo seu keynesianismo militar e social, para evitar crises como a de 1929 e por uma hegemonia que até os dias atuais se diz conquistar e não dominar.

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27 2.4 - ESTADOS FALIDOS

O Estado nasce com as funções de ser o provedor de necessidades básicas dos cidadãos e de proporcionar segurança e bens políticos públicos para o seu povo. Tais bens abrangem direitos e deveres dos cidadãos, que são oriundos de um contrato social entre o governante e o governado. (ROTBERG, 2003).

Nesse mesmo sentido, Fukuyama (2007) argumenta sobre a importância dos Estados em cumprir esses tipos de funções, e que tais funções são divididas em três tipos: funções mínimas, que ressaltam a relevância do fornecimento de bens públicos, tais como direitos a propriedade, lei e ordem; funções intermediárias, referentes à preocupação com a educação da sociedade, meio ambiente, seguro-social, entre outros; e por último, funções ativistas, que tratam de questões como redistribuição de riqueza e política industrial.

O termo Estado Falido surge como um tema de grande importância na agenda internacional, devido aos conflitos por ele originados, que tem uma profunda relação com o final da Guerra Fria e do 11 de setembro de 2001. Tal termo caracteriza um determinado Estado que possui uma base limitada e prejudicada de atuação, por ser desprovido de elementos que são considerados indispensáveis ao seu povo para sobreviver. (GROSS, 1996). Se toda ou pelo menos parte das funções essenciais do Estado não estiver sendo executada como deveria ser, o Estado acabará se deparando com o fracasso, produzindo consequências perigosas, e podendo resultar em um extremo, nos Estados Falidos.

Assim, a falência estatal não ocorre apenas como consequência de desastres naturais e falta de prestação de serviços básicos. Mas também quando o Estado se torna inapto em relação a capacidades institucionais, econômicas e políticas, sendo incapaz de atuar e cumprir responsabilidades, em função da má administração da governança interna. Isso pode ocasionar graves consequências para o desenvolvimento de uma nação, pois, o Estado se transforma em um elemento totalmente figurativo de ordem, contribuindo para a insegurança de sua população, gerando problemas tais como: tráfico de drogas, fluxo de refugiados em função de crises e por fim, a proliferação do terrorismo em alto grau. (GROSS, 1996).

2.5 - CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES

A história da humanidade caracteriza o desenvolvimento das antigas civilizações como, por exemplo, a egípcia, a islâmica, a hindu e as civilizações ocidentais. Estas civilizações proporcionaram as identificações mais amplas em relação a sua trajetória

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28 apresentando os resultados, as causas, o crescimento, os declínios e as interações entre os povos. (HUNTINGTON, 1997).

O choque de civilizações abordado por Huntington (1997) propõe que existe uma distinção entre civilização, no singular, e civilizações no plural. O termo no singular foi desenvolvido no século XVIII, pelos franceses, que contrapunham este termo ao conceito de barbarismo. A civilização para eles era explicada através da diferença entre a sociedade civilizada e a primitiva, uma vez que a primeira era estabelecida, urbana e alfabetizada, considerando, que ser civilizado é algo bom; já a segunda possuía características antagônicas em relação à primeira. Este conceito de civilização era o padrão da sociedade para efetuar o julgamento de outras civilizações. Já o termo civilização no plural, surgiu com os europeus que buscavam saber o nível civilizacional de sociedades não europeias, para que estas pudessem fazer parte do sistema internacional. Por este motivo, as pessoas passaram a usar o termo as civilizações, no plural. Neste aspecto, uma civilização é a entidade cultural que caracteriza o estilo de vida em geral de um povo, envolvendo valores, normas e maneiras de pensar. São os elementos culturais que tornam as civilizações, no plural, um termo mais abrangente do que a palavra no singular. Desta forma, o choque de civilizações é um fenômeno que diz respeito ao significado mais recente e abrangente de civilizações.

O autor ainda acredita que o principal ator que iria promover essa ordem civilizacional seria o Estado, sobretudo, os Estados ocidentais. E as relações intercivilizacionais seriam as principais condicionantes geradoras de movimentos de resistência cultural ou de afinidade que determinados agrupamentos culturais apresentariam em relação aos outros. Diante disso, é possível observar que o choque de civilizações é caracterizado de um lado por forças reais de integração que, motivadas por tendências da globalização, querem sobrepor-se a outras; e do outro lado, civilizações que não aceitam ocidentalizar-se. (HUNTINGTON, 1997).

2.6 - SEGURANÇA INTERNACIONAL

Desde o surgimento do Estado e das primeiras organizações internacionais como, por exemplo, Grécia, Império Romano, Westphalia, Utrech, Congresso de Viena (1815), Conferências de Paz de Haia e Liga das Nações, esta última substituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), temos preocupações ligadas à segurança internacional. (NASSER, 2010).

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29 No ano de 2004, o painel de alto nível sobre ameaças, desafios e mudanças produziu um relatório que amplia de forma considerável o conceito de ameaças à segurança internacional. O texto as define como “qualquer evento que cause mortes em massa, diminuição das condições de vida, ou ponha em risco a existência de Estados como unidades básicas do sistema internacional.” (NAÇÕES UNIDAS, 2004).

O painel procurou listar as ameaças, mas isso não reduziu a amplitude do seu conceito. Pois, listaram-se seis categorias de ameaças imprescindíveis: a) ameaças socioeconômicas (incluindo pobreza, doenças infecciosas e degradação ambiental); b) conflitos interestatais; c) conflitos internos (incluindo guerras civis, genocídios e outras atrocidades); d) armas nucleares, radiológicas, biológicas e químicas; e) terrorismo; f) crime organizado transnacional. (NASSER, 2010).

Na Primeira Guerra Mundial, o mundo presenciou uma quantidade considerável de mortes, somando mais de 21 milhões, entre civis e militares. Na Segunda Guerra Mundial, este índice foi muito superior ao da Primeira Guerra, tanto em relação aos civis quanto aos militares. Na visão do autor Gaddis (1986), o período posterior às duas grandes guerras, denominado Guerra Fria, representou uma melhora no âmbito da segurança internacional pelo fato de as potências não terem mais ingressado em nenhum confronto militar direto. Contudo, com o fim desta guerra surgiu uma nova realidade envolvendo conflitos externos e internos, além de diversas ameaças, como: crises econômicas, o crime organizado e o terrorismo. Este último modificou a realidade do cenário internacional sob a ótica da segurança, além de preocupar as autoridades em escala global.

Mesmo após a Guerra Fria, entre 1991 e 2001 cerca de quarenta e cinco países entraram em conflito. O próprio 11 de setembro de 2001 conduziu as mudanças de percepção referentes à segurança internacional tanto para os Estados Unidos quanto para outros países. Logo, com as intervenções no Iraque e no Afeganistão por parte do país estadunidense, os conflitos diretos voltam a ter um papel essencial para as Relações Internacionais, uma vez que, demonstra que o uso do poderio militar não está separado das relações políticas existentes entre os países. (GADDIS, 1986).

Diante disso, os debates teóricos em relação à segurança internacional se tornaram mais acentuados, tanto que segundo o autor Buzan (2002) as perspectivas teóricas em relação à segurança internacional podem ser divididas em: neorrealista, globalista, regionalista e construtivista. Para o autor, a primeira perspectiva é baseada no Estado e propõe um debate referente à distribuição de poder material no sistema internacional. Por

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30 outro lado, a perspectiva globalista é baseada em abordagens culturais, transnacionais e de economia política internacional. Já a terceira perspectiva, a regionalista, parte do pressuposto de que o declínio da rivalidade bipolar reduz a perspicaz qualidade do poder global. Por fim, a perspectiva construtivista é focada nas dinâmicas das interações sociais humanas, com ênfase nos processos em que os seres humanos constroem entendimentos intersubjetivos. 2.7 - TERRORISMO

Neste tópico serão abordadas as fases do terrorismo, considerando sua contextualização histórica, seu desenvolvimento, e por fim suas diferentes classificações, abordadas pelos autores: Paulo Sutti, Silvia Ricardo, Alessandro Visacro, Eugênio Diniz, Jerrold Post, Martha Crenshaw, Antonio Fontes, Paul Rogers e Héctor Luis Saint-Pierre.

2.7.1 - O TERRORISMO: DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XXI

A Revolução Francesa teve uma direta influência na gênese do fenômeno do terrorismo. Por seu intermédio o poder revolucionário derrubou as estruturas do antigo regime, estruturado nos privilégios da nobreza, do clero e de uma monarquia absolutista. Na década de 1790 acirrou-se a disputa entre grupos políticos revolucionários, denominados girondinos, que representavam a grande burguesia, e jacobinos, que eram membros do movimento popular. Nesse período, os jacobinos radicais criaram o Tribunal Revolucionário, que julgava os opositores da revolução e muitas vezes os condenava à morte pela guilhotina. (SUTTI; RICARDO, 2003).

Essa prática de implacável crueldade exaltou ainda mais os ânimos e deu início à uma fase da revolução, extremamente violenta, caracterizada por milhares de execuções e que deu origem ao termo “terror”, usado para definir o extermínio em massa de opositores ao regime. Nesta época, o estado era o principal agente do terror. (SUTTI; RICARDO, 2003).

No final do século XIX, o terrorismo adquiriu uma enorme relevância também na Rússia, quando Mikhail Bakunin, pioneiro do anarquismo russo, pregava o uso do terror como mecanismo revolucionário. Lênin e Bolchevique incorporaram o terrorismo, e anos depois, espalharam-no para todo o mundo, causando o atentando que antecipou a Primeira Guerra Mundial, quando a Mão Negra (organização nacionalista Bósnia patrocinada pela Sérvia) assassinou o arquiduque Francisco Fernando da Áustria durante uma visita a Saravejo. Porém, o terrorismo só ganhou uma verdadeira expansão, após o final da Segunda Guerra Mundial, envolvendo-se em conflitos de libertação nacional. (VISACRO, 2009).

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31 No final de 1970, a Revolução Iraniana simbolizou o surgimento do terrorismo religioso. A partir disso, organizações terroristas como Hezbollah, Hamas e Jihad Islâmica Palestina tem obtido resultados expressivos em suas ações. Desde então, no século XXI, se evidencia que a guerra se manifesta em um novo contexto, assumindo um perfil de guerra irregular. A exemplo disso, há a guerra global contra o terror proclamada pelos Estados Unidos, em resposta a atentados realizados não somente em território estadunidense, como também, em Londres, Madri e Bélgica. O fenômeno terrorismo vem transformando-se em um dos mais angustiantes problemas políticos do século atual. (VISACRO, 2009).

O autor Diniz (2004), referência no estudo sobre o tema no Brasil, alega que não existem definições incontroversas a respeito do terrorismo, mas sim manifestações contrárias, impossibilitando uma possível análise unívoca do termo. A tentativa de utilizar a palavra terrorismo, por vezes, tem como intuito desqualificar ou desdenhar politicamente adversários, sendo o termo, ao mesmo tempo, um termo pejorativo e um fenômeno político. (DINIZ, 2004).

Logo, o terrorismo para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, segundo o autor, Post (1998, p.23):

(...) É um tipo muito especifico de violência apesar de o termo ser usado para definir outros tipos de violência. Ações terroristas típicas incluem assassinatos, sequestros, explosões de bombas, matanças indiscriminadas, raptos e linchamentos. É uma estratégia política e não militar, e é levado a cabo por grupos que não são fortes o suficiente para enfrentar ataques abertos, sendo utilizada em época de paz, conflito e guerra. A intenção do terrorismo é causar um estado de medo na população ou em setores específicos da população, com o objetivo de provocar num inimigo (ou seu governo) uma mudança de comportamento.

Mas, para a autora Crenshaw (1881) o uso do terrorismo não tem apenas a função de empregar uma estratégia ou estilo de violência, podendo também ser conduzido de acordo com os interesses dos governos, os quais comandam a ratificação dos rótulos ou o seu abandono. Sem conceito, o terrorismo passa a ter apenas características, conforme a conveniência política de cada país.

2.7.2 - O TERRORISMO TRANSNACIONAL

O terrorismo perdeu a sua áurea romântica da época anti-czarista e se tornou uma fonte de energia cada vez mais desestabilizadora. O seu desenvolvimento e a sua internacionalização se tornaram inevitáveis, justamente, pela dependência das organizações terroristas ao auxilio estrangeiro. (RAMOS, 2009).

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Nas últimas três décadas o terrorismo obteve algumas características em seu processo de desenvolvimento, a exemplo da insurgência, complexa reação produzida pelas intervenções estadunidenses no Iraque e no Afeganistão durante a “guerra preventiva” estadunidense; a internacionalização do terrorismo, pois a Al Qaeda e seus afiliados executaram ataques no Egito, Indonésia, Jordânia, Quênia, Marrocos, Paquistão, Arábia Saudita, Tunísia, Turquia, Reino Unido e Iêmen; o terrorismo suicida; propagação rápida de aprendizado das técnicas; ataques a alvos econômicos e o risco da utilização de armas de destruição em massa associado aos movimentos terroristas (ROGERS, 2008, p. 183).

Assumindo uma característica transnacional, o terrorismo contemporâneo trouxe consigo uma nova base de treinamento, com objetivo de melhorar suas técnicas de atuação. Esta nova base consistiu na aquisição de equipamentos e armamentos sofisticados, advindos do exterior, através de governos que financiam os grupos terroristas, não por serem simpatizantes com suas causas, mas sim por interesses domésticos, tornando o fenômeno terrorismo cada vez mais lucrativo, sobretudo na década de 60, quando alguns países como Cuba, Síria, Iêmen e Argélia, se tornaram financiadores destas organizações. Ressaltando que, de forma antagônica, todos os países supracitados possuem regimes totalitários que pregam a repressão e aniquilação do terrorismo. (RAMOS, 2009).

Além do mais, a imprensa, a internet e a globalização também tiveram um papel fundamental na transnacionalização do terrorismo, concretizado por meio da divulgação das imagens dos brutais atos cometidos pelas organizações terroristas e registradas tanto pela imprensa quanto por estas organizações. Isto acarretou na facilidade de divulgação imediata destes registros nas redes sociais a nível global, trazendo a atenção mundial a esses atos, além da cobertura de TV, jornais e revistas. Desta maneira, muitos grupos jihadistas, como por exemplo o ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), fez com que esta forma de divulgação se tornasse uma arma um tanto quanto eficaz, passando a filmar suas atividades, como parte de um pacote altamente propagandístico distribuído abertamente. (ROGERS, 2008).

2.7.3 - TIPOS DE TERRORISMO

Através da tentativa de conceituar o termo “terrorismo” e dentro da necessidade de identificar as fases e os atores envolvidos nos ataques terroristas, os autores Alessandro Visacro e Héctor Luis Saint-Pierre classificam o terrorismo de acordo com os critérios de amplitude, motivação, alvo ou natureza e contexto das organizações terroristas, critérios estes coexistentes.

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2.7.3.1. Quanto à sua amplitude:

Pode ser dividida entre terrorismo transnacional e o doméstico. O terrorismo transnacional busca transcender fronteiras com o impacto de seus atos e exige maiores tempo e paciência na execução dos seus atos. Já o terrorismo doméstico, é praticado por uma organização originada e criada em seu próprio país, e contempla ações executadas contra seus próprios conterrâneos. (VISACRO, 2009).

2.7.3.2. Quanto à motivação:

Segundo o autor Visacro (2009) é possível classificar o terrorismo, da seguinte forma:

a) Terrorismo de Estado: é caracterizado pelo uso ilegítimo da força pelo Estado através de suas agências de segurança, com o objetivo de neutralizar oposição política e perseguir os opositores. O envolvimento estatal com o terrorismo compreende apoio ideológico, assistência financeira, suporte militar, apoio operacional e ações específicas, iniciação de ataques terroristas e, por fim, envolvimento direto nesses ataques.

b) Terrorismo político-ideológico: é um tipo de terrorismo que se utiliza da violência política como arma. Possui caráter destruidor ou revolucionário, e como oposto do modelo anterior, suas ações são direcionadas contra o Estado, ocasionando consequências também para as propriedades privadas e para os patrimônios públicos.

c) Terrorismo político-religioso: é aquele tido como “terrorismo de crença”, sendo um resultado da Revolução Iraniana. É habitualmente associado à militância política islâmica fundamentalista, com forte cunho religioso, mas motivado por fatores de ordem política.

d) Narcoterrorismo: é aquele financiado pelo tráfico de drogas. Sua indústria favorece o crescimento ou manutenção dos lucros obtidos por essa atividade. É usualmente utilizado no contexto de competição entre grupos rivais por áreas de plantio de drogas e por mercados consumidores; e também como técnica de oposição aos órgãos de segurança pública.

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34 e) Terrorismo autotélico: é associado ao banditismo, segregação social e ao fanatismo de seitas radicais ou competições locais de poder entre tribos ou grupos étnicos.

2.7.3.3. Quanto ao alvo ou natureza do ataque:

Os grupos terroristas selecionam seus alvos, de acordo com o efeito de maior intensidade em cada ataque. Podendo ser dividida em: a) A vítima tática: é a vítima direta, podendo ter sido escolhida por alguma característica em especial, ou por pertencer a algum grupo definido de pessoas, ou ainda ter sido fruto de uma escolha aleatória, sem critérios definidos; b) a vítima estratégica: são todos aqueles que sobreviveram a algum atentado, mas que se encontram em posição de serem atingidos novamente; c) a vítima política: é o Estado. Ocorre quando o terrorismo atinge uma estrutura que deveria garantir o bem-estar e vida de seus cidadãos, mas que, mostra-se incompetente em fazê-lo. (SAINT-PIERRE, 2006).

2.7.3.4. Quanto ao contexto das organizações terroristas:

Por fim, há a classificação quanto à modalidade das organizações terroristas, podendo ser observadas em uma escala de quatro diferentes contextos. Primeiro: vinculado às ações terroristas inseridas no contexto de movimentos revolucionários com a intenção de provocar a queda do governo vigente. A segunda é definida por ações de células terroristas, mas que em função do radicalismo se tornam inaptas a atrair e/ou convencer a opinião pública. Já a terceira é caracterizada pela predominância de organizações criminosas conduzidas em função de governos de Estados nacionais. E o quarto e último contexto é retratado por organizações terroristas que possuem a ajuda e apoio de diversos governos simpatizantes com sua ideologia, mas que tem seus atos operados de forma independente. (SAINT-PIERRE, 2006).

3 - ESTADOS UNIDOS E IRAQUE: ORIGENS DE UMA DICOTOMIA

A formação da política externa de uma nação é baseada nos costumes e nas experiências vividas pelos Estados ao longo de sua trajetória. Diante disso, neste capítulo trataremos das formações históricas dos Estados Unidos e do Iraque, baseado na composição interna e externa de cada um deles, o que definiu o rumo da política externa e as relações entre eles no cenário internacional.

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