O ÚLTIMO ELVIS
Carlos Gutiérrez é um imitador
de Elvis. À noite, no mundo
esplendoroso de imitadores
de celebridades de Buenos
Aires, ele é uma estrela. De
dia, é um empregado fabril sem
futuro. Até que um acidente
trágico o obriga a reconsiderar
as suas prioridades.
Carlos Gutiérrez é um imitador de Elvis que tem uma filha pequena que
raramente vê. A crença absoluta de ser a reencarnação de Elvis leva a
uma negação completa da sua própria realidade. À noite, no mundo
esplendoroso de imitadores de celebridades de Buenos Aires, ele é
uma estrela. De dia, é um empregado fabril sem futuro. Sentindo-se
mais próximo do Rei do que da sua própria família, Gutiérrez continua
a afastar-se da realidade até que um acidente trágico o obriga a aceitar
as suas responsabilidades no mundo real.
NOTAS DO
REALIZADOR
O ÚLTIMO ELVIS
Eu sou um realizador de terceira geração. Quando era pequeno,
costumava ir às rodagens do meu pai e do meu avô. Trabalhei como
figurante, em produção, na pesquisa de locais de rodagem, enquanto
realizador. Não sei exactamente porque é que o faço. Sei apenas que
gosto de o fazer e não me vejo a fazer outra coisa.
Acredito que o cinema, sendo uma combinação da maioria das outras
artes, quando é bem feito, é, sem dúvida, a arte que mais fundo vai e
que mais sentimentos diferentes mobiliza. É também a mais difícil de
levar a cabo, porque ter tanta gente envolvida torna fácil falhar em
áreas diferentes: o argumento, a representação, a música, a montagem,
a realização. Se não se está consciente de tudo o que se passa à volta,
pode haver resultados inesperados que parecem destoar ou que dizem
alguma coisa que não tem nada a ver com o que se tinha planeado.
E, no mundo actual, acredito que o cinema ainda é um trabalho de artesão,
ainda que, hoje, os meios de comunicação sejam sobretudo digitais. Tem de
se fazer pouco a pouco, passo a passo, com total dedicação.
O ÚLTIMO ELVIS é um filme sobre identidade, sobre falta de carácter, sobre
moldar a nossa personalidade de acordo com o que vemos nos outros. É
a história íntima de um homem que vive a vida imitando outro, que chega
mesmo a acreditar que é esse outro, e isso afecta a sua família, em especial
a filha. Este homem tem uma realidade que o rodeia e um sonho a alcançar.
É um filme com diferentes registos e estados de espírito. É por isso que eu
acho que o cinema era a melhor maneira de o contar, porque me permitia
misturar a música de Elvis com esta realidade que não tem nada a ver com
ele. A realidade em que vive Carlos Gutiérrez, o personagem principal. O
cinema permite-me narrar visualmente a loucura de Carlos e também
mostrar como ele consegue alcançar o seu sonho, aquilo que ele mais
deseja.
SOBRE O
REALIZADOR
Nascido em Buenos Aires, em 1978, Armando Bo tem trabalhado em cinema
e publicidade desde os 17 anos. Pertence à terceira geração de uma família
de realizadores. Em 2005, com Patricio Alvarez, criou a Rebolucion, uma das
maiores produtoras comerciais da Ibero-América. É um dos realizadores de
publicidade mais procurados do mundo, actividade que lhe valeu para cima
de 50 prémios internacionais. Em 2009, co-escreveu BIUTIFUL com Alejandro
González Iñárritu e Nicolás Giacobone, nomeado para o Óscar de Melhor Filme
de Língua Estrangeira.
A sua primeira longa-metragem, O ÚLTIMO ELVIS , estreou no Festival de
Sundance.
O ÚLTIMO ELVIS
REVISTA DE
IMPRENSA
Tal como outra longa-metragem recente da América Latina, TONY MANERO, de 2008, o drama argentino O ÚLTIMO ELVIS anda à volta de uma obsessão da cultura pop que pendeu para o território da ilusão perigosa. Mas a primeira longa-metragem do realizador Armando Bo — seleccionada para o recente Festival de Cinema de Los Angeles — está muito longe de ser tão negra ou politicamente orientada como o filme chileno citado. Ancorado num desempenho demolidor de John McInerny, um imitador real de Elvis Presley, o estudo de carácter solidário de Bo centra-se no vazio da vida de um homem, enquanto este se prepara para a sua última aparição.
Bo e o co-argumentista Nicolás Giacobone, dois dos argumentistas creditados de BIUTIFUL, de Alejandro González Iñárritu, não proporcionam conclusões fáceis ou redenção ao seu protagonista (ELVIS é um filme muito mais coeso e convincente do que BIUTIFUL). Operário fabril de dia e estrela medíocre à noite, Carlos “Elvis” Gutiérrez construiu a vida inteira, tal como é, em torno desta identidade emprestada. No seu apartamento decrépito e escassamente mobilado, o que vê no pequeno ecrã resume-se a concertos e entrevistas de Presley. Insiste em chamar a ex-mulher (Griselda Siciliani) Priscilla, apesar de o nome dela ser Alejandra, e a filha pequena deles (Margarita Lopez) chama-se, naturalmente, Lisa Marie.
As tentativas desajeitadas de Carlos de ter um comportamento paternal tendem a ser conselhos como “Lembra-te de te manter calma” e a oferta de um pássaro que ele ensinou a dizer “Elvis.” Tendo esgotado a paciência e acreditando que ele não é uma boa influência para a filha de ambos, Alejandra está a tentar obter custódia total. Mas, depois de um acidente grave deixar a ex-mulher no hospital, Carlos e a desconfiada aluna da primária estabelecem um laço mais fundo, ainda que ele se esforce para lhe oferecer algo mais duradouro do que sandes de manteiga de amendoim e banana. O acidente também coloca em suspenso o grande esquema de Elvis – só revelado perto do fim do filme. As suas chamadas para companhias aéreas e de aluguer de limusinas, bem como o plano de interpretar o estarrecedor Unchained Melody num concerto, denotam um afastamento da linha de montagem. Se isso o vai realizar ou afundar na ilusão depende da interpretação, mas quando o filme sofre uma viragem brusca, para fora de Buenos Aires, Bo e McInerny fazem com que os acontecimentos rebuscados e o final ambíguo funcionem.
Arquitecto e intérprete de Elvis a tempo parcial, contratado originalmente por Bo para treinar o seu actor principal, McInerny é absolutamente arrebatador. Ele leva-nos a torcer pelo improvável Carlos, revelando a centelha ainda faiscante por trás de uma aparência corpulenta e abatida. Quando Carlos entra em palco com o seu fato branco do tempo de Vegas, a sua voz suave de barítono e o fraseado gracioso evidenciam não apenas o talento, mas também a dignidade que torna o seu esforço tão animador quanto lastimoso. Entre os outros imitadores de celebridades com quem se cruza (Iggy Pop, John Lennon e Mick Jagger aparecem em várias cenas), Carlos considera-se nada menos do que o Rei (…).
Um dos 10 melhores filmes de Sundance 2012.
Rolling Stone
Quanto mais [o filme] se define, mais O ÚLTIMO ELVIS se aproxima da tragédia, com um rigor de causar calafrios na espinha. (…) Sai-se, para citar Elvis – o verdadeiro! –, totalmente abalado.
Thomas Sotinel, Le Monde
Quanto mais o filme avança, mais se liberta dos seus lugares-comuns para desvelar a sua natureza, expondo os sintomas de uma bela obra (…).
Guillaume Tion, Libération
Uma primeira obra argentina sensível e melancólica sobre um homem pronto a levar ao limite a sua paixão e a sua loucura.
Emmanuelle Frois, Le Figaroscope
Argentina, Estados Unidos | 2012| Cor | 92 min.