Teoria do Direito II
Prof. Fábio Perin Shecaira
fabioshecaira.wordpress.com fabioperin@direito.ufrj.br
Dois lugares comuns
sobre o direito
(1) O direito está repleto de “casos difíceis”.
Casos que geram desacordo (sincero) entre juristas.
(2) O governo deve respeitar o ideal do estado de direito (ED).
Sua ação deve ser previsível e baseada em regras pré-existentes.
Dois lugares comuns
(1)
Um exemplo de caso difícil: Maclennan v. Maclenann (1958)
Dois lugares comuns
(2)
Lon Fuller (1902-1978)
Dois lugares comuns
Fuller – respeitar ED significa governar com base em regras:
1. gerais, 2. públicas,
3. prospectivas, 4. claras,
Dois lugares comuns
5. consistentes entre si, 6. possíveis,
7. duráveis,
Dois lugares comuns
(1) O direito está repleto de “casos difíceis”.
(2) O governo deve respeitar o ideal do estado de direito (ED).
Dois lugares comuns
(1) e (2) são compatíveis entre si?
Dois lugares comuns
1ª Casos difíceis são menos comuns do que se imagina.
Dois lugares comuns
2ª O conceito de ED tem sido mal interpretado. (Fuller x MacCormick)
Neil MacCormick (1941-2009)
Dois lugares comuns
O que Fuller deixou de fora - as autoridade têm mais dois deveres:
9. fundamentar suas decisões,
Dois lugares comuns
3ª Uma ideia a ser explorada neste curso:
Talvez seja possível, mesmo em casos difíceis, argumentar de formas que respeitem ED.
Revisão
Dois lugares comuns:
1. O direito está repleto de casos difíceis. 2. O governo deve respeitar o ideal do ED. 1 e 2 são incompatíveis?
- Casos difíceis não são tão frequentes assim. - A concepção comum de ED deve ser revista.
- Talvez seja possível argumentar, mesmo em casos difíceis, de uma maneira que respeite ED.
Próximo ponto (1a): Conceitos básicos de argumentação jurídica
Leitura obrigatória: Shecaira/Struchiner, Caps 1 e 2 Perguntas:
1. Qual é a diferença entre argumentação institucional e substantiva?
2. Qual é a diferença entre justificação interna e externa do silogismo jurídico?
Argumentação
Argumentar é oferecer razões em defesa de uma conclusão...
... normalmente com o objetivo de persuadir um interlocutor.
Argumentação
A argumentação teórica defende conclusões teóricas.
Também chamadas descritivas ou factuais.
Ex: chove lá fora; morreram 6 milhões no Holocausto; o universo está em expansão.
Argumentação
A argumentação prática defende conclusões práticas.
Também chamadas prescritivas ou normativas.
Ex: é melhor levar um guarda-chuva; devemos reduzir as emissões de CO2; o racismo é
Argumentação
Nem toda conclusão é facilmente classificada:
Houve em 1964 um golpe de estado; Madre Teresa foi uma mulher de muita fé.
Argumentação prática
AS – Argumentação prática aberta a
considerações políticas, morais, sociais, econômicas.
Argumentação prática
A falta não deve ser marcada para que a torcida não fique irritada e violenta.
A falta não deve ser marcada porque o lance não foi violento e seria injusto punir o autor de uma jogada limpa.
Argumentação prática
AI – Argumentação prática em que o uso de
considerações substantivas é limitado por regras e procedimentos estabelecidos em fontes
Argumentação prática
A falta deve ser marcada porque há uma regra que proíbe esse tipo de jogada no futebol.
A falta não deve ser marcada porque o lance já acabou e o juiz perdeu a oportunidade de apitar.
Argumentação prática
Autor: O réu me deve 500 reais. Réu: Discordo do autor.
Autor: O réu me deve 500 reais porque realizamos um contrato válido de compra e venda, eu forneci o produto e o réu nao pagou.
Réu: Reconheço que o autor forneceu o produto e que eu não paguei, mas não reconheço a validade do contrato.
Argumentação prática
Juiz: Autor, prove que vocês têm um contrato válido.
Autor: Eis um documento assinado por nós dois. Réu: Não reconheço a autenticidade deste
documento.
Juiz (ao réu): Visto que o documento parece autêntico, prove que ele nao é.
Réu: Este laudo atesta que a minha assinatura foi forjada.
Argumentação prática
Autor: O laudo não serve como prova, pois eu tive conhecimento dele muito tarde no
processo.
Argumentação prática
A argumentação jurídica é predominantemente institucional!
Esclarecimentos:
1. Predominantemente ≠ exclusivamente
2. A argumentação jurídica nem sempre é sincera 3. A diferença entre AI e AS é de grau
Com base na lei, decido que...
Por motivos
morais/sociais/políti cos, decido que...
Com base na lei, decido que...
Por motivos morais/sociais,
Próximo ponto (1b): Justificação interna e justificação externa.
Leitura: Shecaira/Struchiner, Caps. 1 e 2 (mesmo texto do ponto anterior).
Justificação interna (JI)
e externa (JE)
JI e JE
Um exemplo:
Numa de suas aventuras, Sherlock Holmes encontra um velho chapéu de feltro. Embora
não conheça o seu proprietário, Holmes conta a Watson muita coisa a seu respeito – afirmando, por exemplo, que se trata de um intelectual. O Dr. Watson, como de hábito, pede que Holmes o esclareça.
JI e JE
À guisa de resposta, Holmes coloca o chapéu sobre a cabeça. O chapéu resvala pela sua testa até apoiar-se no seu nariz. “É uma questão de volume”, diz Holmes. “Um homem com uma cabeça tão grande deve ter algo dentro dela”.
JI e JE
Padronização do argumento de Holmes:
1. Há um chapéu grande que tem algum dono 2. Donos de chapéus grandes têm cabeça
grande
3. Pessoas com cabeça grande têm cérebro grande
4. Pessoas com cérebro grande são intelectuais Logo,
JI e JE
1 a 4 são “premissas”
JI e JE
Argumento simples
Premissa(s) Logo,
JI e JE
Argumento complexo Premissa(s) Logo, Conclusão Premissa(s) Logo, Conclusão1. A Constituição de SP não permite que o
governador assuma outro cargo na administração pública.
2. O cargo de governador é equiparável ao cargo de vice-governador.
Logo,
3. A Constituição de SP não permite que o vice-governador assuma outro cargo na administração pública.
4. Afif é vice-governador de SP. Logo,
5. Afif não pode assumir outro cargo na administração pública.
1. A Constituição de SP não permite que o
governador assuma outro cargo na administração pública.
2. O cargo de governador é equiparável ao cargo de vice-governador.____________________________ 3. A Constituição de SP não permite que o
vice-governador assuma outro cargo na administração pública.
4. Afif é vice-governador de SP._________________ 5. Afif não pode assumir outro cargo na
JI e JE
Silogismo jurídico
Premissa maior (norma geral) Premissa menor (fatos)
Logo,
JI e JE
1. Quem dirige sob a influência do álcool deve ser punido.
2. João dirigiu sob a influência do álcool. Logo,
JI e JE
... finalmente, JI e JE
São testes de qualidade de silogismos jurídicos. Um bom silogismo jurídico deve estar
JI e JE
JI => “subsunção”, isto é, encaixe dos fatos na norma geral
JI e JE
JI?
1. Quem dirige sob influência do álcool deve ser punido
2. João dirigiu sob a influência do álcool Logo,
JI e JE
JI?
1. Quem dirige sob influência do álcool deve ser punido
2. João fumou maconha antes de dirigir Logo,
JI e JE
JE => premissas verdadeiras
A premissa maior faz referência a uma norma válida?
O fato descrito na premissa menor realmente ocorreu?
JI e JE
JE?
1. Quem dirige sob influência do álcool deve ser punido.
2. João dirigiu sob a influência do álcool. Logo,
JI e JE
Cursos de TD tendem a se concentrar na premissa maior.
JI e JE
0. Uma norma que puna motoristas embriagados resulta em estradas mais seguras
Logo,
1.Quem dirige sob a influência do álcool deve ser punido
2. João dirigiu sob a influência do álcool Logo,
JI e JE
0. O Código Penal estabelece punição para quem dirige embriagado
Logo,
1.Quem dirige sob a influência do álcool deve ser punido
2. João dirigiu sob a influência do álcool Logo,
JI e JE
Que tipo de argumento é preferido por juízes, advogados e professores de direito?
Revisão
Silogismo jurídico
Premissa Maior: norma geral Premissa menor: fato(s)
Conclusão: norma individual
Justificação interna & Justificação externa JE => premissas verdadeiras
JI => subsunção
A premissa maior é justificada normalmente por meio de argumentos institucionais
0. O Código Penal estabelece punição para quem dirige sob a influência do álcool
Logo,
1.Quem dirige sob a influência do álcool deve ser punido
2. João dirigiu sob a influência do álcool Logo,
0. Uma norma que puna motoristas embriagados resulta em estradas mais seguras
Logo,
1.Quem dirige sob a influência do álcool deve ser punido
2. João dirigiu sob a influência do álcool Logo,
Próximos pontos:
> A importância do silogismo (1c)
> Questão de fato x questão de direito (1d)
Textos:
1c: mesmo texto dos pontos anteriores 1d: Guastini, Cap. 3, pp. 68-74
Perguntas:
1. O silogismo faz parte da argumentação jurídica em
todos os casos?
Nós superamos aquela que eu chamaria a escola da subsunção, que supunha
que já existem soluções prontas e acabadas no ordenamento jurídico para
(a) Nós superamos aquela que eu chamaria a escola da
subsunção, que (b) supunha que já existem soluções
prontas e acabadas no ordenamento jurídico para
A importância do silogismo
Segundo Eros Grau, a “escola da subsunção” nega a existência de casos difíceis.
A importância do silogismo
Maclennan v. Maclennan (1958)
O divórcio é permitido em caso de adultério.
Sra. Maclennan engravidou artificialmente sem consentimento de Sr. Maclennan.
Logo,
-1. O divórcio é permitido em caso de adultério. 0. A inseminação artificial sem consentimento do marido é uma traição tão grave quanto o adultério convencional.
Logo,
1. O divórcio é permitido em caso de inseminação artificial sem consentimento do marido.
2. Sra. Maclennan engravidou artificialmente sem consentimento de Sr. Mclennan.
Logo,
O silogismo desempenha um papel estruturante fundamental no pensa-mento jurídico. Ele fornece
a moldura dentro da qual os outros argumentos
fazem sentido.
Questão de fato e Questão de direito
Forma comum de fazer a distinção:
QDs são questões sobre a premissa maior. QFs são questões sobre a premissa menor.
QF & QD
1. Quem dirige sob influência do álcool deve ser punido.
2. João dirigiu sob a influência do álcool. Logo,
QF & QD
Essa distinção tem uma limitação: Como classificar questões sobre JI?
QF & QD
O divórcio é permitido em caso de adultério
Sra. Maclennan engravidou artificialmente sem consentimento de Sr. Maclennan
Logo,
QF & QD
Obs: O debate não é meramente teórico! A distinção é processualmente importante.
Ex:
CPC, Art. 517: “As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas na
apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo
por motivo de força maior.”
Revisão
> O silogismo cumpre um “papel estruturante fundamental” na argumentação jurídica
> Isso não significa negar a existências de casos difíceis
Pontos 2a e 2b: Dogmática jurídica
Textos:
2a: Nino, cap. 6, pp. 377-394
2b: pdf no site – leitura opcional
Perguntas:
1. O que é que a dogmática jurídica diz que faz? 2. O que que é ela de fato faz?
3. Por que é que os juízes de alguns países citam mais a doutrina do que outros?
Dogmática jurídica
“A doutrina” => obras acadêmicas sobre o direito.
Dois tipos:
> Zetética (predominante no 1º ano)
Dogmática jurídica
Dogmática => tipo de doutrina que aborda o direito a partir de uma perspectiva predomi-nantemente institucional.
Dogmática jurídica
Segundo Nino, dogmática é a disciplina que se distingue:
(1) pela forma como se apresenta;
(2) pelas funções que exerce;
Dogmática jurídica
(1) Como se apresenta?Como tendo o objetivo de explicar o conteúdo do direito e suas consequências para casos
Dogmática jurídica
(2) Funções que de fato exerce? Duas:
a) Explica o conteúdo do direito e suas consequências para casos concretos.
Dogmática jurídica
b) Reapresenta e reformula o direito,
“tornando precisos os seus termos vagos, completando suas lacunas, resolvendo suas incoerências e ajustando suas normas a
Dogmática jurídica
(3) Técnicas que usa? > Legislador racionalDogmática jurídica
Legislador racional(Aguardem a aula sobre métodos de interpretação.)
Dogmática jurídica
PrincípiosEx:
Todo cidadão do sexo masculino maior de 16 anos pode votar.
Todo cidadão do sexo feminino maior de 16 anos pode votar.
Dogmática jurídica
Todo cidadão maior de 16 anos pode votar.
Todo habitante do país maior de 16 anos pode votar.
“Área exclusiva para pedestres”
Dogmática jurídica
Ressalvas:
1. Nino escrevia na década de 70; as coisas mudaram desde então.
2. “Dogmática”, hoje, no Brasil, não tem conotação pejorativa.
Revisão
> Dois tipos de doutrina: dogmática e zetética > Na dogmática predomina AI; na zetética, AS > Nino: uma concepção crítica da dogmática
Dogmática jurídica
Há dogmática jurídica em países de “common law”?
Dogmática jurídica
Obs: Kötz não distingue ente dogmática e zetética.
Dogmática jurídica
França: raras citações
Inglaterra: até o início do séc. XX, convenção contra a citação de autores vivos
Estados Unidos: citações frequentes Alemanha: citações muito numerosas
Dogmática jurídica
Fatores:- prestígio da comunidade acadêmica - qualidade dos escritos doutrinários
- disponibilidade de tempo e outros recursos - positivismo (?)
Onde o positivismo reina e os juízes acham que o direito pode
ser deduzido a partir das leis e precedentes existentes, a especulação acadêmica sobre
interesses e considerações políticas relevantes será menos
Revisão
> Dois tipos de doutrina: dogmática e zetética > Na dogmática predomina AI; na zetética, AS > Nino: uma concepção crítica da dogmática > Uso judicial da doutrina ao redor do mundo
Revisão (três primeiras semanas)
Introdução – dois lugares-comuns sobre o direito: “casos difíceis” e “estado de direito”
Pontos 1 e 2:
- Arg. institucional ≠ arg. substantiva - Silogismo jurídico, JI e JE
- Questão de fato ≠ questão de direito - Dogmática ≠ zetética
AI – Argumentação prática em que o uso de
considerações substantivas é limitado por regras e procedimentos estabelecidos em fontes dotadas de autoridade.
Ponto 3: Norma jurídica
Leitura: Hart, pp. 33-41 e pp. 101-107 (3c) Perguntas:
1. Todas as normas jurídicas impõem deveres? 2. O que é uma norma secundária?
3. Qual é a relação entre normas secundárias e normas que conferem poderes?
Dispositivo jurídico vs. norma jurídica
Dispositivo = uma unidade de texto legal (um artigo, um inciso, um parágrafo na lei)
≠
Norma = uma diretiva sobre como se deve ou se pode agir
Dispositivo jurídico vs. norma jurídica
Dois motivos para enfatizar a diferença:
1º Nem todo dispositivo corresponde a uma única norma.
Dispositivo jurídico vs. norma jurídica
Há dispositivos que contêm mais de uma norma. Ex: CF, Art 5º, XLIII, “a lei considerará crimes
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos...”
Dispositivo jurídico vs. norma jurídica
Há dispositivos que contêm apenas parte de uma norma.
Ex: CP, Art. 141, “As penas cominadas neste
Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
Dispositivo jurídico vs. norma jurídica
Há dispositivos que não correspondem a norma alguma(?)
Ex: CF, Art 13, § 1º, “São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.”
Dispositivo jurídico vs. norma jurídica
... dois motivos para enfatizar a diferença (cont.) 2º Um mesmo dispositivo pode ser
interpre-tado através de métodos diferentes, gerando normas diferentes.
“Quem dorme na estação de trem deve ser expulso”
> Quem dorme na estação de trem deve ser expulso.
> Quem usa a estação de trem como abrigo deve ser expulso.
Quem dorme na estação de trem deve ser expulso.
João dorme na estação enquanto espera o trem. Logo,
Tipos de norma
Normas gerais ≠ normas individuais
Quem entra em uma relação contratual deve, sob pena de multa, cumprir os termos do
contrato ≠
Tipos de norma
1. Quem entra numa relação contratual deve, sob pena de multa, cumprir os termos do contrato
[NORMA GERAL]
2. João entrou numa relação contratual com José, mas descumpriu o termos do contrato [FATOS]
Logo,
3. João deve pagar multa a José [NORMA INDIVIDUAL]
Tipos de norma
Distinção fraca (ou de grau):
Ps & Rs diferem apenas quanto ao grau de vagueza.
P: Dirija com cuidado.
Tipos de norma
1. Deve ter guarda sobre a criança quem tem maior renda
2. Deve ter guarda sobre a criança quem tem dado mais atenção à criança
3. Deve-se levar em consideração o bem-estar da criança
Tipos de norma
Distinção forte (ou quanto à origem):
Rs são normas explícitas no direito positivo. Ps são normas implícitas.
Obs: A identificação de Ps muitas vezes requer raciocínio substantivo.
Tipos de norma
LICC (LINDB), Art. 4º: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”
John Austin (1790 - 1859)
Tipos de norma
C é proibida C é obrigatória
C é permitida ≠
Tipos de norma
Normas que impõem deveres
Exs: Norma que proíbe matar. Norma que obriga dirigir pela direita. Norma que permite
Tipos de norma
Normas que conferem poderes
Exs: Norma que autoriza o cidadão a criar
contratos. Norma que autoriza o legislativo a criar leis. Norma que autoriza o judiciário a julgar casos concretos.
Tipos de norma
Normas primárias regulam a nossa conduta. Normas secundárias regulam as normas
primárias, isto é:
Tipos de norma
Tipos de norma
Sociedade pré-jurídica:
1. pequena e baseada em relações de parentesco;
Tipos de norma
Obs: características de normas costumeiras: 1. dependem da adesão da maioria;
Tipos de norma
Na medida em que a sociedade cresce surgem problema:
(i) incerteza quanto às normas em vigor; (ii) transformação lenta e desorganizada; (iii) resolução ineficaz de conflitos.
Tipos de norma
Normas introduzidas para solucionar os desafios i, ii e iii (respectivamente):
“regra de reconhecimento” “regras de alteração”
Proibições criminais
Obrigações ambientais de empresas
Normas que definem a condições de validade de um testamento
Normas sobre como formular um contrato de compra de venda
Normas que definem as competências do Congresso Nacional
Tipos de norma
LINDB, Art. 4o: "Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito."
Próximo ponto (3d): Conflitos entre normas (antinomias)
Leitura: Dimoulis, Cap. 11 Perguntas:
1. Qual é a diferença entre um conflito real e um conflito aparente?
2. Como se resolvem conflitos reais?
3. É sempre possível resolvê-los sem apelo a considerações substantivas?
Tipos de norma
C é proibida C é obrigatória
C é permitida ≠
Conflitos entre normas
O que significa dizer que uma conduta é permitida?
Conflitos entre normas
(1) A conduta está expressamente permitida. CF, Art 5º, XVI, “todos podem reunir-se
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização...”
Conflitos entre normas
(2) A conduta não está permitida expressamente...
... mas acaba sendo permitida por uma norma que converte em permitido o que não está proibido.
Conflitos entre normas
Conflitos reais (CR) x conflitos aparentes (CA) CRs geram um genuíno problema para o
Conflitos entre normas
CR – condições:
(i) normas incompatíveis (ii) normas em vigor*
(iii) normas do mesmo sistema jurídico*
(iv) normas com mesmo âmbito de validade *Ponto 3e
Conflitos entre normas
Incompatibilidade – três casos: > N1 obriga C e N2 proíbe C
> N1 obriga C e N2 permite não-C > N1 proíbe C e N2 permite C
Conflitos entre normas
Obs: Incompatibilidade x incoerência
Carros vermelhos: 60km/h. Carros azuis: 90km/h.
Caminhões podem entrar no parque; carros de passeio, não.
Conflitos entre normas
(iv) normas com mesmo âmbito de validade temporal
espacial pessoal material
É proibido fumar das cinco às sete É permitido fumar das sete às nove É proibido fumar na sala de cinema É permitido fumar na sala de espera Aos adultos é permitido fumar
Aos menores não é permitido fumar É proibido fumar charutos
Conflitos entre normas
CA: suposto conflito, não satisfaz pelo menos uma das condições i – iv.
Conflitos entre normas
Critérios para a solução de CRs
1. Critério hierárquico (lex superior derogat legi
inferior)
O conflito é resolvido a favor da norma que tem origem na fonte superior.
Conflitos entre normas
Observação:
Conflitos entre normas
2. Critério cronológico (lex posterior derogat legi
priori)
O conflito é resolvido a favor da norma mais nova.
Conflitos entre normas
3. Critério da especialidade (lex specialis derogat
legi generali)
O conflito é resolvido a favor da norma mais específica.
Conflitos entre normas
Os diferentes critérios também podem entrar em conflito:
Norma superior geral vs. norma inferior especial Norma superior antiga vs. norma inferior mais nova
EA, Art. 7º “São direitos do advogado:
V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com
instalações e comodidades condignas, e, na sua falta, em prisão domiciliar”
CPP, Art. 295 “Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial [...] quando sujeitos a prisão antes de
condenação definitiva:
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República;
§ 1º A prisão especial [...] consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão comum.”
HC 109213 / SP - SÃO PAULO
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 28/08/2012
Conflitos entre normas
E quando não há critério estabelecido para a solução de um conflito?
Ex:
Conflito entre normas constitucionais simul-taneamente promulgadas.
Conflitos entre normas
Teste de proporcionalidade (Aguardem.)
Revisão
> Conflitos entre normas
> Conflitos aparentes x conflitos reais > Critérios para a solução de CRs
Ponto 3e: Validade jurídica de normas Leitura obrigatória: Reale, Cap. 10
Perguntas:
1. De acordo com o Reale, que condições deve uma norma satisfazer para que seja válida?
Validade das normas
Conflito real entre normas – condições:
(i) normas incompatíveis (ii) normas em vigor
(iii) normas do mesmo sistema jurídico
(iv) normas com mesmo âmbito de validade
Validade das normas
Obs:
Validade das normas
Reale –Três elementos ou aspectos da validade jurídica: 1. Validade formal ou técnico-jurídica
2. Validade social (eficácia)
Validade das normas
Para Reale,
validade jurídica =
Validade das normas
Condições de validade formal: competência do órgão
adequação do procedimento
inexistência de lei (ou decisão judicial) revogadora
Validade das normas
A validade social (eficácia) diz respeito à
Validade das normas
Essa noção é menos simples do que parece. Comparem dois cenários:
N1 é frequentemente cumprida pelos cidadãos.
x
N2 é frequentemente descumprida, mas os
Validade das normas
Validade ética: conformidade com valores como justiça e bem comum.
Validade das normas
Reale:Validade jurídica = validade formal + validade social + validade ética
Positivistas:
Validade jurídica = validade formal + validade social + validade ética
Validade das normas
Eficácia é mesmo condição necessária para validade jurídica?
Reale: “não há norma jurídica sem o mínimo de eficácia”
Validade das normas
Obs:
- normas recém-promulgadas - normas que caem em “desuso”
Revisão – validade das normas jurídicas > Validade formal (técnico-jurídica)
> Validade social (eficácia)
> Validade ética (correção moral) Reale: VJ = VF + VS + VE
Positivistas: VJ = VF + VS
Equações mais simples são raramente defendidas na
Revisão (intro + pontos 1 a 3)
Introdução – dois lugares-comuns: “casos difíceis” e “estado de direito”
Pontos 1, 2 e 3 – conceitos e distinções importantes: - Arg. institucional ≠ arg. substantiva
- Silogismo jurídico, JI e JE
- Questão de fato ≠ questão de direito - Dogmática ≠ zetética
- Tipos de norma jurídica - Conflitos entre normas - Validade das normas
Próximo ponto (4a): Fontes do direito
Leitura obrigatória: Dimoulis, Cap. 9, pp. 164-189
Perguntas:
1. Qual é a diferença entre as fontes formais e materiais?
2. Qual é diferença entre as fontes formais diretas e indiretas?
3. Um juiz pode usar mais de uma fonte formal em sua sentença?