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Análise do impacto da liderança nos blocos econômicos: o caso da Alemanha na União Europeia e do Brasil no Mercosul

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS - DEPEC

ISABELLA CROISFELT SANTOS

ANÁLISE DO IMPACTO DA LIDERANÇA NOS BLOCOS ECONÔMICOS: O CASO DA ALEMANHA NA UNIÃO EUROPEIA E DO BRASIL NO MERCOSUL

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ISABELLA CROISFELT SANTOS

ANÁLISE DO IMPACTO DA LIDERANÇA NOS BLOCOS ECONÔMICOS: O CASO DA ALEMANHA NA UNIÃO EUROPEIA E DO BRASIL NO MERCOSUL

Monografia apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. João Paulo Martins Guedes

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ISABELLA CROISFELT SANTOS

ANÁLISE DO IMPACTO DA LIDERANÇA NOS BLOCOS ECONÔMICOS: O CASO DA ALEMANHA NA UNIÃO EUROPEIA E DO BRASIL NO MERCOSUL

Monografia apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. João Paulo Martins Guedes

Aprovada em: ___ / ____ / ______.

___________________________________________ Prof. Dr. João Paulo Martins Guedes

Orientador DEPEC (UFRN)

___________________________________________ Prof. Dr. Igor Ezio Maciel Silva

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Santos, Isabella Croisfelt.

Análise do impacto da liderança nos blocos econômicos: o caso da Alemanha na União Europeia e do Brasil no Mercosul / Isabella Croisfelt Santos. - 2018.

72f.: il.

Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Economia. Natal, RN, 2018. Orientador: Prof. Dr. João Paulo Martins Guedes.

1. Integração Econômica - Monografia. 2. União Europeia - Monografia. 3. Mercosul - Monografia. 4. Brasil - Monografia. 5. Alemanha - Monografia. 6. VEC - Monografia. I. Guedes, João Paulo Martins. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/Biblioteca Setorial do CCSA CDU 339.92(4/8)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer aos meus principais motivadores durante toda a minha vida: minha família. Muito obrigada por sempre me incentivar a buscar o que eu almejo para o meu futuro, me deixando livre para agir como acho melhor, mas todo o tempo me aconselhando e me encorajando a ser a melhor versão de mim.

Além disso, agradeço também aos meus amigos que me aguentaram durante esse período intenso de produção de TCC e que fizeram de tudo para me distrair e me dar momentos de diversão e apoio nesse semestre. Estes amigos se dividem entre minhas meninas do Gringos e do Universitárias, que estiveram o tempo todo comigo, e o pessoal da Econsul, que foram grandes amigos desde a minha entrada na empresa até agora, no final do meu curso.

Muito obrigada também ao meu orientador, João Paulo, por comprar essa briga comigo mesmo sendo uma pessoa extremamente ocupada. Me ajudou demais nesse trabalho e durante o curso, sempre me ensinando e me divertindo muito com as suas aulas e nossos encontros para debater sobre o TCC e sobre outras coisas.

Finalmente, agradeço aos meus professores do curso de Economia que me fizeram amar Macroeconomia e Econometria: André, Fabrício e, novamente, João Paulo. Muito obrigada por me ensinar a gostar de economia mesmo, e ter motivação de chegar até o final desse curso complicado, mas que tem o seu lado bom.

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RESUMO

O objetivo geral desta monografia foi identificar qual a significância do impacto que as oscilações na produção do Brasil e da Alemanha, no curto e no médio prazo, têm sobre os demais países dos blocos que ocupam, Mercosul e União Europeia, respectivamente. Tal análise foi realizada com base nas abordagens da teoria da Integração Econômica e da formação dos blocos econômicos estudados. As metodologias utilizadas foram os modelos de Vetores Autoregressíveis – VAR e de Vetores de Correção de Erros (VECM), com séries trimestrais do PIB real dos principais países de cada bloco para o período entre 1995 e 2016. Durante a análise dos resultados, observa-se que o impacto dos países supostamente líderes de seus blocos nos demais membros é majoritariamente positivo, tanto no caso da União Europeia, quanto no caso do Mercosul, porém esse impacto se apresentou de forma diferente quando comparados os dois blocos. No bloco europeu, nota-se uma resposta relativamente similar ao impacto alemão em todos os países, mas com a formação de dois sub-blocos com resultados convergentes: um bloco com os países com menor PIB (Espanha, Itália e Portugal) e outro bloco com os países mais economicamente bem-sucedidos (França, Holanda e Reino Unido). Já no bloco sul-americano, nota-se uma total divergência nos resultados, com a única semelhança entre os países com o fato do impacto brasileiro ser positivo durante todo o período analisado. Além disso, o caso do Paraguai apresenta significativa instabilidade da influência brasileira, com resultados desequilibrados durante todo o período. Portanto, estes resultados comprovam a significância do impacto dos países líderes sobre os demais membros de seu bloco, e compactuam com a teoria da integração econômica, por comprovar que, quanto mais evoluída a forma de integração, maior será esse impacto.

Palavras-chave: Integração Econômica, União Europeia, Mercosul, Brasil,

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ABSTRACT

The general aim of this thesis was to identify the significance of the impact that the oscillations in the production of Brazil and Germany, in the short and medium term, have on the other countries members of the blocs they occupy, Mercosur and European Union, respectively. This analysis was carried out based on the approaches of the theory of Economic Integration and the formation of the economic blocs studied. The methodologies used were the Autoregressive Vectors - VAR and Vector Error Correction (VECM) models, with quarterly series of real GDP of the main countries of each bloc for the period between 1995 and 2016. During the analysis of the results, it is noted that the impact of the countries that are supposedly leaders of their blocs into the other members is mostly positive, both in the case of the European Union and in the case of Mercosur, but this impact was presented differently when compared within the two blocs. In the European bloc, there is a relatively similar response to the German impact in all countries, but with the formation of two sub-blocs with convergent results: one bloc containing the countries with the lowest GDP (Spain, Italy and Portugal) and another bloc with the most economically successful countries (France, the Netherlands and the United Kingdom). In the South American bloc, there is a complete divergence in results, with the only similarity between countries being the fact that the Brazilian impact is positive throughout the entire analyzed period. In addition, the case of Paraguay presents significant instability of the Brazilian influence, with unbalanced results throughout the period. Therefore, these results prove the significance of the impact of the leading countries on the other members of their bloc, and they are consistent with the theory of economic integration, proving that the more developed the form of integration, the greater the impact.

Keywords: Economic Integration, European Union, Mercosur, Brazil, Germany,

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Funções de Impulso-Resposta de Espanha, Itália e Portugal ... 33

Gráfico 2: Funções de Impulso-Resposta de França, Holanda e Reino Unido ... 35

Gráfico 3: Função de Impulso-Resposta da Argentina ... 45

Gráfico 4: Função de Impulso-Resposta do Paraguai ... 46

Gráfico 5: Função de Impulso-Resposta do Uruguai ... 47

Gráfico 6: Séries trimestrais do PIB Real dessazonalizado dos países da União Europeia ... 58

Gráfico 7: Teste de Estabilidade Dinâmica do Modelo - União Europeia ... 60

Gráfico 8: Séries trimestrais do PIB Real dessazonalizado dos países do Mercosul 60 Gráfico 9: Teste de Estabilidade Dinâmica do Modelo - Mercosul ... 62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Testes KPSS e GLS-DF entre os países da UE ... 30

Tabela 2: Teste de Cointegração de Johansen entre os países da UE ... 31

Tabela 3: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB da Espanha ... 36

Tabela 4: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB da França ... 37

Tabela 5: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB da Holanda ... 38

Tabela 6: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB da Itália ... 39

Tabela 7: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB de Portugal ... 40

Tabela 8: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB do Reino Unido . 41 Tabela 9: Testes KPSS e GLS-DF entre os países do Mercosul ... 42

Tabela 10: Teste de Cointegração de Johansen entre os países do Mercosul ... 43

Tabela 11: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB da Argentina .... 48

Tabela 12: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB do Paraguai ... 50

Tabela 13: Decomposição da variância do erro de previsão do PIB do Uruguai ... 51

Tabela 14: Modelo da estimação do VEC – União Europeia ... 59

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 1

2. REVISÃO DA LITERATURA ... 4

2.1. Teoria da Integração Econômica ... 4

2.2. Processo de Integração Econômica da União Europeia ... 8

2.3. Processo de Integração Econômica do Mercado Comum do Sul (Mercosul) 15 3. METODOLOGIA ... 22

3.1. Base de Dados utilizada ... 22

3.2. Estacionariedade nas séries econômicas ... 23

3.2.1. Teste Dickey-Fuller com método de mínimos quadrados generalizados (GLS-DF) ... 24

3.2.2. Teste KPSS ... 24

3.3. Método de Cointegração de Johansen... 25

3.4. Metodologia dos Modelos Autorregressivos (VAR) ... 26

3.4.1. Modelo Vetor de Correção de Erros (VECM) ... 27

3.5. Função Resposta ao Impulso e Decomposição da Variância ... 28

4. RESULTADOS ... 30

4.1. União Europeia ... 30

4.1.1. Testes de Raiz Unitária ... 30

4.1.2. Testes de cointegração ... 31

4.1.3. Função Resposta ao Impulso ... 32

4.1.4. Decomposição da Variância ... 35

4.2. Mercosul ... 42

4.2.1. Testes de Raiz Unitária ... 42

4.2.2. Testes de cointegração ... 43

4.2.3. Função Resposta ao Impulso ... 44

4.2.4. Decomposição da Variância ... 47

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1. INTRODUÇÃO

A teoria da integração econômica afirma, majoritariamente, que os países envolvidos em alguma forma de integração, seja qual for, tem a tendência de, por meio do impacto econômico resultante da relação entre eles, se desenvolver de forma mais igualitária e economicamente desejável para ambos. Autores divergem sobre como o impacto ocorre entre esses países, com alguns citando a expansão dos mercados (Machado, 2000) e outros considerando a integração como uma alternativa para viabilizar uma estratégia de desenvolvimento (Prebisch, 1959), mas o consenso é de que esse impacto é real, e, quanto mais evoluída a forma de integração entre essas nações, maior o impacto de um suposto líder do bloco sobre os demais membros.

Globalmente, ao analisar os processos de integração econômica espalhados pelo mundo atualmente, e desde o início dos estudos da área, após o fim da Segunda Guerra Mundial, pode-se identificar diversas formas de integração presentes, desde simples Zonas Livres de Comércio, até o maior caso de sucesso de união econômica, a União Europeia. Tal heterogeneidade de formas de integração presentes atualmente pode ser explicada pelos diferentes estágios de desenvolvimento que os países se encontram, de forma que a maturidade para se envolver em blocos econômicos não seja a mesma para todos, além das questões sociais, políticas e culturais, que colaboram na diferenciação das nações e do modo como se integram com os outros países.

Entre todas as formas de integração presentes na atualidade, duas se sobressaem por sua relevância na economia global, seja por sua importância econômica para seu continente, ou pela importância social e política para sua região: o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia. Estes dois blocos econômicos apresentam situações completamente distintas em relação à sua forma de integração, de forma que o Mercosul é considerado uma União Aduaneira imperfeita, e a União Europeia é considerada uma União Econômica e Monetária, para a maioria dos autores, como, por exemplo, para Machado (2000) e Pinto (2004), e no entanto, apresentam uma similaridade interessante: a presença de supostos países líderes que impactam de forma mais intensa os demais membros da união e os influenciam em diversos aspectos.

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Desde os primeiros indícios de uma formação de um bloco econômico europeu após a Segunda Guerra Mundial, é possível observar a presença mais imponente de alguns países sobre outros, tendo maior relevância não só durante a guerra em si, mas após tal momento, de forma que se tornam basicamente os “orientadores” de toda a região. No caso europeu, nota-se o crescimento de dois países como possíveis líderes da região: França e Alemanha, que apresentavam os melhores resultados econômicos da área, em conjunto com o Reino Unido.1

No entanto, mesmo com três países apresentando os melhores resultados econômicos na Europa, a Alemanha se sobressai principalmente na questão política e monetária, com apoio do maior colaborador da região após a guerra: os Estados Unidos. Durante o progresso da história europeia e do processo de integração econômica europeu, é possível notar a soberania alemã em diversos momentos descritos por Miranda (2014), como, por exemplo, na época do Sistema Monetário Europeu, que tinha como base os princípios do Banco Central alemão (Bundesbank) e a moeda alemã, o Marco, como moeda líder do sistema.

Já no caso do Mercosul, desde os primeiros passos para uma integração sul-americana, percebe-se a hegemonia da economia brasileira como líder do movimento, não apenas pelos resultados econômicos, mas também pela influência política e social que o Brasil apresentava sobre os demais países da região. Além disso, outra influência importante durante o processo de integração da América do Sul foram os estágios de industrialização que os países estavam, o que ajudou a colocar o Brasil ainda mais na posição de líder, por ser a nação com a indústria mais desenvolvida no momento, como pôde ser visto em Kume e Piani (2005).

Na literatura em geral, são conhecidos alguns trabalhos que analisam o impacto geral, sem focar no impacto causado por países específicos, da integração regional na produção dos países membros dos blocos, como em Kutan e Yigit (2007) e Monteagudo e Watanuki (2003) e outros trabalhos que analisam a relação entre a União Europeia e o Mercosul, porém mais focados na relação comercial entre os blocos, como pode ser visto em Philippidis, Resano e Sanjuán (2014). Desta maneira, manifesta-se a necessidade de um trabalho que observe o impacto interno causado

1 O presente trabalho foi desenvolvido durante o processo de saída do Reino Unido como parte da União

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pelos supostos líderes de cada bloco, comparando-os de forma indireta, por serem formas de integração diferentes.

Portanto, ao identificar essa lacuna na literatura, neste trabalho pretende-se investigar se os países citados acima (Brasil e Alemanha) realmente têm um impacto significativo nas economias dos demais membros dos blocos que compõem, no curto e no médio prazo. Tal estudo será realizado a partir da análise do comportamento das variáveis de produção dos países membros dos blocos em relação às oscilações na produção dos países supostamente líderes destes blocos.

O objetivo geral é identificar, utilizando a metodologia de Vetores Autoregressíveis – VAR, qual a significância do impacto que as oscilações na produção do Brasil e da Alemanha, no curto e no médio prazo, têm sobre os demais países dos blocos que ocupam, Mercosul e União Europeia, respectivamente. Já os objetivos específicos são: fazer uma breve revisão teórica entre autores, acerca da teoria da integração econômica; fazer uma breve análise histórica do processo de integração econômica dos blocos União Europeia e Mercosul; entender os impactos entre as variáveis e identificar suas consequências, a partir de uma estimação de dois modelos de vetores de correção de erro; e realizar análises econômicas a partir dos resultados obtidos com as estimações dos modelos VECM.

A organização do projeto será dividida em cinco capítulos, incluindo esta introdução. O segundo capítulo abordará a revisão da literatura acerca da teoria da integração econômica, seguida pela linha cronológica do processo de integração dos blocos estudados: Mercosul e União Europeia, nessa ordem.

No terceiro capítulo será apresentada e explicada a metodologia utilizada no trabalho, esclarecendo os testes e estimações realizados, como as análises de raiz unitária, modelos VAR e VECM, modelos de cointegração, entre outros. Tal capítulo é seguido pelo quinto, que apresentará os resultados de tais testes e estimações, somados às análises econômicas destes. E, por último, o sexto capítulo irá expor as conclusões do trabalho.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Teoria da Integração Econômica

A primeira definição de integração econômica feita por autores brasileiros vem de Balassa (1961), que a considerava um processo voluntário de crescente interdependência de economias separadas que pressupõe medidas que conduzem à supressão de formas de discriminação. É possível analisar em sua definição a simplicidade do argumento, que ainda não considerava muito os fatores econômicos, e sim mais focados às questões sociais.

Um exemplo de interpretação é visto em Gonçalves (1999), em que se define a integração econômica como o processo de criação de um mercado integrado, a partir da eliminação de barreiras ao comércio. O autor considera importante também a criação de instituições que permitam a coordenação ou unificação de políticas econômicas na região integrada, o que demonstra um avanço no pensamento mais focado na área econômica da teoria.

A opinião de Machado (2000) segue, majoritariamente, as ideias de Gonçalves, porém considera a integração econômica apenas como “o processo de eliminação de fronteiras e barreiras de natureza econômica entre dois ou mais países”. Desta maneira, considera que, ao eliminar os obstáculos de conexão entre as nações, supostamente seriam melhores alocados os recursos devido ao incremento da concorrência, levando à preços mais baixos, melhoria da qualidade dos produtos e aumento da produtividade dos fatores de produção.

Além disso, o autor também acreditava que, no que diz respeito às relações com mercados terceiros, a integração econômica de alguns países aumentaria o poder de barganha destes membros.

Portanto, percebe-se que há uma convergência dos autores mais recentes quanto a definição geral do tema, mas é evidente que houve uma evolução da teoria no tangente ao aspecto econômico da integração, em que passaram a ser considerados fatores como instituições e concorrência no seu estudo.

Em relação ao objetivo principal da integração econômica, Gonçalves (1999) acreditava que os projetos de integração propostos tinham como finalidade servir como instrumento político para construção de estratégias regionais de desenvolvimento e construção de vantagens comparativas para os países envolvidos.

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A visão de Machado (2000) sobre o objetivo da integração econômica segue um caminho levemente diferente de Gonçalves, focando na finalidade de criação de mercados maiores. Seguindo a visão clássica de que mercados maiores operam de forma mais eficiente que menores, o autor concorda que a integração de países serviria para esse intuito.

Finalmente, a última perspectiva entre os autores estudados, de Pinto (2004), considera o objetivo primordial da integração a criação de condições que levassem ao comércio mais livre, de forma que ocorresse uma abolição de barreiras e, consequentemente, um maior equilíbrio entre os países.

Desta maneira, é possível observar que existe maior divergência de opiniões sobre o tema quanto ao objetivo principal da integração do que à definição. Os três autores analisados consideram três objetivos bastante diversos, o que indica uma falta de convergência relevante no tangente ao principal objetivo da integração econômica. A integração econômica começou a ser discutida durante o período de formação de alguns importantes Estados nacionais, como a Itália e a Alemanha, por exemplo. No entanto, apenas se estabeleceu como parte da teoria econômica por volta da década de 1950, após a conclusão da Segunda Guerra Mundial.

O início da integração econômica estabelecida como parte da ciência econômica em si se deve à visão de Viner, considerado o pioneiro da teoria clássica da integração com sua obra The Customs Union Issue, publicada em 1950. Essa vertente era baseada no resultado dos modelos clássicos de comércio internacional no conceito ricardiano de vantagens comparativas, e sua principal contribuição para a discussão foi, segundo Machado (2000), demonstrar que, em determinadas circunstâncias, a formação de áreas de livre comércio ou uniões aduaneiras não constitui necessariamente um movimento em direção ao livre comércio.

A evolução da teoria segue com os chamados modelos de segunda geração, derivados do modelo proposto por Viner de criação e desvio de comércio, com autores como Lipsey (1957) como referência principal da vertente. A principal contribuição destes autores foi a inclusão da análise do impacto da formação de uniões aduaneiras não só sobre a produção, mas também sobre o consumo, o que fez com que chegassem à conclusão de que, diferentemente do resultado obtido por Viner, os processos de integração econômica sempre produziriam ganhos de bem-estar, porque constituem um movimento em direção ao livre-comércio.

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Seguindo cronologicamente o progresso da teoria da integração econômica, inicia-se, na década de sessenta, uma mudança de abordagem da teoria das uniões aduaneiras, de forma que houvesse uma ruptura dos modelos tradicionais. Os autores desta década passaram a analisar os custos e benefícios da união aduaneira não só exclusivamente do ponto de vista de seus impactos sobre a produção e o consumo de bens, mas também observaram seus efeitos dinâmicos e as alterações nos termos de troca.

Os desdobramentos da evolução teórica do fenômeno da integração econômica, até o final da década de setenta, estiveram fundamentados na teoria convencional do comércio internacional, orientados por tópicos como os retornos decrescentes de escala e os paradigmas microeconômicos de concorrência perfeita. No entanto, a partir do início da década de oitenta, a teoria da organização industrial passa a tomar novos rumos, alterando de forma essencial os fundamentos dos modelos de comércio internacional, e, consequentemente, interferiram nas reflexões a respeito da integração econômica.

Desta maneira, a teoria da integração econômica passa a se adequar a chamada “nova teoria do comércio internacional”, ou seja, a partir desse momento inicia-se a análise dos processos de integração em termos de seus impactos sobre o tamanho dos mercados, escalas e pautas de produção e também se foca no impacto da eliminação dos obstáculos à arbitragem entre países no comportamento das firmas. Além disso, passa-se a reconhecer a importância da distribuição espacial das atividades econômicas, com o trabalho de Krugman (1990), que apresenta modelos que levam em consideração os efeitos da concentração espacial das indústrias.

Portanto, a teoria da integração econômica evoluiu muito desde o seu início após a segunda guerra mundial até os estudos mais atuais, de maneira que, atualmente, é considerada muito importante entre os temas econômicos, e cada vez mais relevante em aspectos sociais e culturais.

Explicada a base e o histórico da teoria da integração econômica, é possível introduzir a classificação das formas de integração existentes, algumas consideradas unanimidades entre todos os autores estudados, e outras muitas vezes com alguma divergência nominal, mas que, de forma geral, apresentam o mesmo significado.

A primeira forma de integração apresentada, apenas por Machado (2000), foi a Zona Preferencial de Comércio, também conhecida por acordos de cooperação comercial. Este tipo de integração é caracterizado pela eliminação parcial das

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barreiras alfandegárias em geral, sob a forma de redução de alíquotas, com ou sem fixação de cotas de importação e, teoricamente, só é permitido entre países em desenvolvimento e ocorrem por intermédio do Sistema Geral de Preferências da UNCTAD.

A segunda e uma das principais formas de integração conhecidas e exibida por todos os autores analisados, é a Área de Livre Comércio, cuja característica principal é a eliminação de tarifas aduaneiras e outras restrições ao comércio entre os países participantes (apenas com a certificação da origem dos produtos), porém estes países mantêm sua autonomia na gestão da política comercial em relação a países não-membros da área. Alguns dos exemplos deste tipo de integração econômica hoje em dia são o North American Free Trade Agreement (NAFTA) ea Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC).

Outro tipo de integração econômica muito importante é a União Aduaneira, também destacada por todos os autores analisados para a construção deste trabalho, caracterizada pela livre circulação de mercadorias entre os países participantes, combinada com uma política comercial em comum: a criação de uma tarifa externa comum (TEC), que será aplicada a países fora da região. Os principais exemplos deste tipo de integração são o MERCOSUL e a Zollverein, que ocorreu nos estados germânicos em 1834.

O Mercado Comum, quarta forma de integração analisada, também é identificado pela livre circulação de mercadorias, porém, diferentemente da união aduaneira, todos os fatores de produção podem circular livremente, isto é, mão-de-obra, capital e empresas podem mover-se livremente entre os países da região. Tal medida demanda harmonização dos instrumentos da política comercial, fiscal, financeira, trabalhista e de previdência social entre os países da área. O principal exemplo deste tipo de integração é, de acordo com Pinto (2004) e Gonçalves (1999), a União Europeia.

A próxima forma de integração examinada é a União Econômica, que pode ser considerada um passo adiante do mercado comum, ou seja, além das características citadas no parágrafo acima, esta união é caracterizada pelo estabelecimento de uma autoridade supranacional que preza pela harmonização das legislações econômicas nacionais, de forma que haja coordenação e unificação de algumas políticas para haver convergência de resultados. A principal questão desse tipo de integração é a

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perda de soberania nacional por parte dos países membros na gestão de determinadas políticas.

Outra forma de integração, denominada por Machado (2000) como Integração Total, e por Pinto (2004) como União Monetária, pode ser caracterizada pela substituição das moedas dos países participantes por uma moeda única e a criação de um banco central regional independente. Tal união pode ser somada à outras formas de integração, como por exemplo à União Econômica, ou pode ser realizada separadamente. A questão econômica envolvida nessa situação é a perda total e autonomia dos estados nacionais na gestão da política monetária.

Finalmente, a última forma de integração analisada é a União Política, exposta por Machado (2000) e Gonçalves (1999), cuja característica principal é a instituição de uma união política ou formação de uma confederação de Estados, onde a região transforma-se juridicamente em um único país.

2.2. Processo de Integração Econômica da União Europeia

A União Europeia é considerada por diversos autores, como Osório (2013) e Lins (2014), desde a sua formação, uma das iniciativas mais importantes de integração regional na história contemporânea. Tal projeto foi classificado por autores como Miranda (2014), como pioneiro no tema, e um dos mais bem-sucedidos, se não o mais, por passar por etapas diferentes de integração, chegando à uma das mais evoluídas e estabelecendo uma União Econômica e Monetária.

O estabelecimento de um projeto de integração entre os países europeus já havia aparecido em ideias de alguns economistas e políticos, como, por exemplo, Winston Churchill, Robert Schuman e Jean Monnet, previamente ao acontecimento das Grandes Guerras Mundiais, no entanto, não havia real interesse de cooperação por parte dos países. Contudo, com o decorrer da segunda guerra, e, principalmente, com a entrada dos EUA em 1941, os países Aliados já começavam a pensar em como seria a reorganização mundial após o fim da guerra, irrompendo cada vez mais os ideais integracionistas.

O contexto geral europeu na década de 1940 era de destruição em massa e crise econômica geral, de maneira que, de acordo com Miranda (2014), os principais desafios da região eram: integrar as diferentes economias nacionais, pavimentando um caminho de paz duradoura e implantar um modelo de proteção social e de

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regulação das relações trabalhistas. Segundo Osório (2013), além desses desafios, observava-se também o crescimento das ideias socialistas, fazendo com que as elites capitalistas europeias ocidentais fossem movidas a aceitar a ajuda financeira estadunidense, que era oferecida principalmente devido à ameaça de que o modelo econômico do Leste pudesse irradiar para a Europa naquele momento de fragilidade. Desta forma, ainda na visão de Osório, a Alemanha Ocidental passou a ser o foco principal da ajuda norte-americana, de maneira que o país se tornou naquele momento o polo irradiador do crescimento econômico regional, como parte de uma estratégia dos EUA de europeizar os interesses alemães, para tentar controlar o crescimento do socialismo naquela área.

Portanto, o que pode ser considerado o ponto de virada da economia europeia após as guerras, e que começou a abrir as portas para as iniciativas de integração regional, foi o Plano Marshall, que entrou em vigor em 1948. Segundo Osório (2013), o plano tinha objetivos econômicos claros, como a intensificação dos vínculos comerciais entre os países europeus e os EUA, a dolarização da dívida europeia, a introdução da moeda estadunidense no comércio europeu e, por meio da ajuda para a reconstrução da zona atingida pela guerra, o estreitamento da dependência ao poder hegemônico norte-americano.

A principal consequência do Plano Marshall que começou a impulsionar, de fato, a integração europeia, foi a criação da Organização Europeia para Cooperação Econômica (OECE) em 1948, com o objetivo inicial de administrar os recursos oriundos da injeção de dólares na economia europeia provindos do plano. Essa organização viabilizou a criação da União Europeia de Pagamentos, cuja finalidade era facilitar a conversão gradual das moedas europeias em dólar, e, desta maneira, criou-se a primeira iniciativa econômica de cooperação monetária na Europa Ocidental.

Conforme visto em Osório (2013), com a implantação do Plano Marshall e a situação geral de crise europeia, surge a necessidade do aumento da intervenção estatal na economia, ligada à uma expansão dos direitos sociais, aspectos estes que fazem parte do modelo conhecido como de bem-estar social. Portanto, desse modelo algumas consequências emergem, como a obrigação de conciliação entre as finanças e os interesses industriais, e o fato de os investimentos externos advindos do Plano Marshall serem direcionados para infraestrutura e indústrias pesadas.

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O panorama explicado acima colaborou na justificativa da necessidade de administração multilateral dos bens de produção para a guerra, como por exemplo o carvão e o aço. Tal conjuntura levou à assinatura do Tratado de Paris em 1951, que instituiu a Comunidade Europeia de Carvão e Aço (CECA), que, de acordo com Lins (2013), tinha como objetivo situar as atividades de produção dos países sob controle e planejamento supranacional, e resultou no surgimento de uma espécie de mercado comum setorial entre os países membros: Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, França, Itália e Alemanha.

Lins (2013) afirma que os primeiros passos da integração teriam sido dados com a criação da CECA, por incentivar a criação de um mercado comum pelo menos setorial na Europa. Tal avanço na integração europeia é intensificado com a assinatura do Tratado de Roma, em 1957, que ao instituir a Comunidade Econômica Europeia (CEE), tinha como objetivo integrar globalmente as economias dos países membros da CECA e da Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom).

Durante os anos 60, os ideais integracionistas foram cada vez mais se aprofundando e tomando forma na elaboração de diversas políticas comuns entre os países europeus, de maneira que já existia uma união aduaneira de seis países (CEE) e já se tinha avançado na integração regional de algumas cadeias produtivas, principalmente com empresas francesas e alemãs. No entanto, percebe-se que a estabilidade cambial das moedas do Mercado Comum era uma condição necessária para a continuidade do projeto de constituição da comunidade europeia, e a situação do mercado cambial estava cada vez mais se deteriorando com o sistema estabelecido em Bretton Woods.

Desta forma, em 15 de agosto de 1971 é oficialmente anunciado o rompimento dos Estados Unidos com a cláusula de Bretton Woods, decretando a falência do sistema de câmbio mundial vigente na época. Tal acontecimento, segundo Lins (2013), fez com que as nações industrializadas precisassem estabelecer um modelo de relacionamento entre suas moedas que lhes garantisse estabilidade nas contas externas e não onerasse muito suas políticas econômicas domésticas.

Portanto, ainda de acordo com Lins (2013), a melhor alternativa para os europeus seria caminhar na direção de uma coordenação monetária dentro do seu próprio bloco econômico, no que se refere à condução das políticas econômicas domésticas e à determinação das taxas de câmbio. Este caminho traçado pelos europeus em busca da autonomia monetária teve início a partir do Acordo de Basileia,

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de 1972, que criava uma “serpente cambial”, delimitando uma zona de paridades fixas em que as moedas deveriam flutuar, em relação ao dólar, dentro de bandas predeterminadas, com o objetivo de diminuir o peso das restrições ligadas ao dólar sobre a Europa.

Durante os anos de 1972 e 1978, a serpente cambial funcionou como o regime cambial europeu, porém em 1978, percebe-se a necessidade de ganhar competitividade no comércio mundial que surgia dada a depreciação do dólar norte-americano, e é criado o Sistema Monetário Europeu (SME). O SME substituiu a Serpente, fixando as paridades bilaterais entre as moedas envolvidas e estabelecendo metas comuns em matéria monetária, e, por isso, é anunciado como a primeira etapa do processo de unificação monetária.

Segundo Lins (2013) e Osório (2013), os objetivos do SME eram minimizar a vulnerabilidade da economia europeia diante das oscilações do dólar, criando uma zona de estabilidade monetária interna e externa; promover uma maior cooperação das políticas econômicas da região e estipular políticas comuns aos choques monetários. Para atingir esses objetivos, foi introduzido o European Currency Unit (ECU) como moeda paralela formada por uma cesta de moedas com participação ponderada por tamanho das economias nacionais, tendo o marco alemão como moeda âncora e o Bundesbank como principal ator em políticas monetárias.

Neste momento da história europeia, percebe-se a influência da nação alemã em relação ao bloco europeu, de maneira que, segundo Miranda (2014), a serpente cambial passou a ser uma zona monetária em torno do marco alemão. Osório (2013) apresenta uma visão ainda mais aprofundada dessa influência germânica, afirmando que essa seria implicitamente a assunção da hegemonia germânica no continente, em que a política do Bundesbank era a majoritária, tirando graus de liberdade das políticas nacionais dos demais países e elegendo como prioridades a baixa inflação e a estabilidade cambial.

Avança-se para a década de 1980, que, de acordo com Osório (2013), pode ser considerada o ponto de inflexão que explica em grande parte os atuais rumos do processo de integração europeia, por ser o momento em que o tópico sobre integração europeia voltou a tomar força entre os políticos e estudiosos da área. O momento considerado o mais importante dessa década para o processo de integração europeia foi a assinatura do Ato Único Europeu, em 1986, que havia sido articulado por Jacques Delors em 1985.

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Segundo Lins (2013), o Ato Único Europeu transformou e complementou o Tratado de Roma e teve como objetivo principal uma reforma institucional no bloco, para que fosse possível acolher os novos países e consolidar a criação do Mercado Único Europeu. Na visão de Krugman (2010), assinando esse ato, os membros europeus deram os passos políticos cruciais para remover as barreiras internas que ainda existiam no comércio, nos movimentos de capital e da força de trabalho, ao permitir, a partir do ato, a livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais entre os países membros.

Entre o final da década de 80 e o início da década de 90, é novamente possível observar o impacto da economia alemã sobre os outros países europeus, com os choques derivados da reunificação alemã que geraram pressões macroeconômicas assimétricas no bloco europeu. De acordo com Miranda (2014), o impacto dessas pressões assimétricas advindas da Alemanha e da política monetária do Bundesbank gerou crises de balanço de pagamentos em alguns países, crises de liquidez em outros e, em todos, uma elevação do custo de financiamento da dívida pública.

Nesse cenário de início de divergências econômicas no continente europeu, foi estabelecido um comitê, em 1989, para planejar e estabelecer prazos para uma transição em 3 estágios para uma meta comum: a União Econômica Monetária (UEM). Segundo Osório (2013), essa meta tinha como objetivo final a adoção de taxas de câmbio fixas e uma política monetária única para a área, além da substituição das moedas nacionais por uma moeda única, administrada por um único banco central.

Desta forma, como pode ser visto em Miranda (2014), a condição principal alemã para a aceitação da futura área monetária unificada foi a definição da institucionalidade e governança do Banco Central Europeu. Novamente mostrando o seu poder de influência e impacto no bloco europeu, os alemães requisitaram que a futura autoridade monetária fosse criada com base no Bundesbank, com a sua única função de manter a estabilidade dos preços e deveria ser um banco totalmente independente de pressões políticas e financeiras dos países da área monetária em questão.

A proposta alemã acabou sendo aceita pelos franceses, de maneira que, segundo Lins (2013), foi necessário transformar o Tratado de Roma em uma união aduaneira com políticas econômicas comuns, nascendo assim o Tratado de Maastricht. Iniciado em 1991 e entrando em vigor em 1993, este tratado pode ser considerado, de acordo com Krugman (2010), uma esperança de estabilidade política

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na Europa, e, segundo Lins (2013), foi um marco por determinar formalmente a intenção e o plano para a criação de uma moeda regional.

O Tratado de Maastricht é considerado o ponto de partida da União Europeia e a organizou em torno de três pilares: um pilar da comunidade, composto por CE, Euratom e CECA, o segundo pilar dedicado à política externa e de segurança e o terceiro dedicado à cooperação policial e judiciária em matéria penal. Além disso, o tratado estabeleceu as regras para a criação do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), criou o organismo que precedeu o Banco Central Europeu e introduziu diretrizes com a intenção de disciplinar a relação entre políticas fiscais e monetárias.

Portanto, o Tratado de Maastricht pode ser considerado o mais importante na história da integração europeia, principalmente por estabelecer o calendário para a criação da moeda única e pela criação oficial da UEM no mercado único da UE. Segundo Osório (2013), tal progresso na integração europeia é exposto pela intenção de transformação do então mercado comum europeu em mercado único, somado à previsão de uma moeda comum para a zona em questão.

Segundo Osório (2013), após o estabelecimento do Tratado de Maastricht, foram instituídas fases de adaptação para os países membros, tendo em primeiro momento a coordenação e liberalização financeira, seguida pela consolidação de novas estruturas, e, por último, a transferência de responsabilidades dos países para os órgãos competentes. A terceira fase tinha como foco a compatibilidade econômica entre os países que seria alcançada com o estágio de atingimento dos critérios de convergência estabelecidos no tratado, com o objetivo de conduzir os membros a um máximo grau de homogeneidade para permitir o acesso de cada país à UEM.

O próximo momento importante para o processo de integração europeu após o Tratado de Maastricht, foi o Tratado de Amsterdã, assinado em 1997 e vigente em 1999. Este tratado, segundo Lins (2013), procurou prioritariamente estabelecer reformas institucionais, com ênfase a temas sociais como emprego, direitos dos cidadãos, saúde e imigração, com o objetivo de acomodar melhor os novos membros do bloco econômico, reforçando o papel da Europa no mundo.

A moeda única europeia, o euro, nasceu oficialmente em 1º de janeiro de 1999, momento em que foram fixadas as taxas de câmbio das moedas nacionais dos onze países participantes, e ocorre também o início da implementação de uma política monetária unificada para a Europa. Segundo Lins (2013) e Krugman (2010), é importante ressaltar que, ao abrir mão de sua moeda, os países sacrificaram a

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soberania de suas políticas monetárias, isto é, terão agora que compartilhar a responsabilidade sobre instrumentos cruciais de política, como a taxa de câmbio e a taxa de juros, por exemplo.

No entanto, além dessa grande desvantagem para os países, haviam diversas vantagens para a opção pela entrada na UEM, como a ausência de custos na conversão cambial, uma maior transparência dos preços, resolução do problema de credibilidade das moedas e garantia da livre circulação de capitais, facilitando a integração dos mercados financeiros e de bens. Porém, de acordo com Osório (2013), mesmo com uma quantidade expressiva de vantagens, para alguns países os pontos negativos pesaram significativamente, fazendo-os optarem por uma aceitação parcial das disposições, ocasionando no surgimento de subdivisões dentro da União Europeia.

Durante o início do século XXI, na visão de Osório (2013), a integração europeia mostrava cada vez mais adaptabilidade diante a conjuntura internacional, servindo de parâmetro para diversas iniciativas de integração econômica no sistema mundial, como, por exemplo, para o Mercosul. Outros momentos importantes para a integração europeia ocorreram nesse período, como o Tratado de Nice, assinado em 2001 e vigente em 2003, que deu reforço às instituições e determinou mudanças na composição da Comissão Europeia e no Parlamento Europeu, e em 2002, o euro transforma-se em moeda autônoma e com curso oficial, substituindo de uma vez as moedas nacionais.

Ainda no período do início do século XXI, é introduzida a proposta de criação de uma Constituição Europeia, que é recusada pelas sociedades holandesa e francesa, e com isso surge a necessidade de avançar na construção das instituições. Desta forma, celebra-se a assinatura do Tratado de Lisboa em 2007 que, segundo Osório (2013), buscava adequar e adaptar as estruturas políticas do contexto da época às alterações econômicas definidas em Maastricht, por meio da união dos três pilares em um só e diversas mudanças na governança europeia

Logo após a assinatura do Tratado de Lisboa em 2007, houve a crise financeira e econômica mundial que afetou, intensamente e diversificadamente, países em todos os continentes. Em relação ao continente europeu, segundo Lins (2013), a crise levou os governos a investir muito mais em operações de salvamento de instituições financeiras e para evitar os efeitos da recessão.

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Além disso, para os países europeus, a piora da crise coincidiu com o aniversário de dez anos do euro, abrindo espaço para questionamentos sobre o futuro da moeda única, principalmente em países que foram mais afetados pela recessão, como a Irlanda e outros países do sul da Europa, como Portugal, Espanha, Itália e Grécia, países em que a situação do endividamento se tornou muito delicada. No entanto, mesmo que nenhum país da zona do euro tenha sido totalmente imperturbado pelos distúrbios econômicos, alguns voltaram a crescer logo após 2009, como por exemplo a Alemanha, que junto com a França, são considerados os países “locomotivas” da União Europeia, de acordo com Lins (2013).

Portanto, a condução do processo de negociação das saídas para a crise na Europa ficou sob a liderança de Alemanha e França, os dois considerados mais influentes no bloco. Em 2012, foram criados o Fundo Europeu de Facilidades Especiais (FEFE) e o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), atuando como o único captador de fundos emprestáveis no mercado de capitais, com o objetivo de minimizar o agravamento da instabilidade sistêmica na área monetária comum, porém, segundo Lins (2013), sua efetividade ainda não está comprovada.

Diante do exposto, é possível concluir que o processo de integração europeia teve seu início oficial em meio às circunstâncias geopolíticas do pós-guerra, tendo como objeto central inicial a união da produção e comercialização do carvão e do aço, seguida pela integração comercial e a construção de um mercado único, e, por último, a união monetária. Durante o processo, os europeus contaram com a tutela financeira e ideológica dos Estados Unidos, o que acarretou na posição de liderança comercial regional proporcionada à Alemanha, cuja elite conservadora foi beneficiada pela estratégia conhecida como desenvolvimento a convite dos norte-americanos.

2.3. Processo de Integração Econômica do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um dos principais projetos de integração conhecidos globalmente, envolvendo os países Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. No entanto, diferentemente da União Europeia, seu nível de sucesso, quando analisado seu objetivo central inicial, é bastante contestado por diversos autores desde o seu início até os dias atuais.

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As ideias introdutórias sobre o assunto tiveram início em 1924, com a obra de Mariategui que constituía, de acordo com Medeiros (2008) o chamado dilema central da América indo-espanhola. Tal dilema se centrava nas oposições de que, por um lado era possível perceber a solidariedade do destino histórico dos povos latino-americanos, que haviam sido construídos por uma matriz comum, de outro era clara a inexpressividade dos vínculos econômicos entre as economias destes países.

Ainda na visão de Mariategui (1924), tal encolhimento das relações econômicas intra-regionais ocasionava na falta de infraestrutura de comunicações e transportes entre os países da América Latina, tendo como consequência a balcanização econômica regional. Desta forma, durante toda a sua formação e mesmo após o início do processo de industrialização da América Latina, por volta dos anos 30, a região sempre demonstrou uma grande desunião entre os países, seja esta no aspecto econômico, social ou político.

Portanto, essa desunião somada a deterioração dos termos de troca e o próprio processo de industrialização, que segundo Couto (2007) necessitava de importações, foram os motivos apontados por Prebisch (1959) como os determinantes para o desequilíbrio nos balanços de pagamentos dos países periféricos. Logo, para atacar esse desequilíbrio externo, Prebisch não via outra solução senão o processo de substituição de importações na América Latina.

No entanto, essa industrialização por meio da substituição de importações na América Latina não mostrou resultados relevantes de maneira rápida, fazendo com que os mercados nacionais se tornassem estreitos e as indústrias de pequena escala. Desta maneira, Prebisch (1959) e a CEPAL defendiam a criação de um mercado comum latino-americano, segundo Medeiros (2008), como forma de garantir maior racionalização ao processo de substituição de importações através de maiores escalas para as novas indústrias provenientes das exportações e da maior complementaridade intra-regional.

O principal objetivo desse mercado comum seria assegurar a industrialização racional dos países da América Latina, além de melhorar o intercâmbio tradicional de produtos primários. Couto (2007) também afirmava que, com um mercado comum, a industrialização passaria a contar com maiores mercados e ganhos de escala, de modo que a vulnerabilidade externa dos países diminuiria.

Segundo Couto (2007), a criação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) em fevereiro de 1960, seria o resultado da luta de Prebisch em

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busca do mercado comum. Tal associação, de acordo com Miranda (2014) propunha-se a promover a expansão do comércio regional como mecanismo de expansão da renda e de integração dos mercados nacionais da região. Medeiros (2008) acrescenta a seus objetivos intenção da constituição de uma área de livre comércio entre os países latino americanos.

Entre as décadas de 1960 e 1970, segundo Miranda (2014), o comércio intra-regional expandiu-se, entretanto, os resultados dessa expansão foram assimétricos entre os países latino americanos. Tal assimetria é considerada por Miranda o determinante principal para o fracasso da ALALC como área de livre comércio, pois ocasionou na polarização dos resultados dos balanços comerciais entre os países da região, favorecendo alguns e desfavorecendo outros, o que seria exatamente o contrário do objetivo do projeto.

Deste modo, os níveis distintos de desenvolvimento dos países foram se intensificando cada vez mais, com um avanço desigual do processo de substituição de importações na América Latina. De acordo com Miranda (2014), era possível perceber que as economias que mais se industrializavam, Brasil e Argentina, eram as que recebiam investimentos diretos de multinacionais americanas e europeias, e se tornaram, consequentemente, os países com maiores fluxos de exportação e importação para a região, enquanto outros tinham peso reduzido no comércio regional.

Seguindo adiante no processo de integração da América Latina, a década de 80 foi marcada pelo conflito de interesses em torno da dívida externa, crise de balanço de pagamentos, estagnação e inflação. Na visão de Miranda (2014), a experiência malsucedida da ALALC redefiniu os termos do pensamento latino-americano sobre integração regional em dois lados divergentes: de um lado o pensamento cepalino que vinculava a integração à adoção de políticas industriais, tecnológicas e financeiras, e de outro as políticas liberalizantes do Chile, da Argentina e do Uruguai.

Além disso, para Thorstensen (1992), a década de 80 também teve como ponto importante a tomada de consciência por parte da América Latina de que deveria enfrentar a crise fiscal e realizar as reformas estruturais orientadas para o mercado, devido ao esgotamento do seu velho modelo de desenvolvimento protecionista. Desta forma, essa motivação unida à mudança radical da dinâmica macroeconômica e regulatória da economia internacional na época, fez com que a maioria dos países latino-americanos iniciassem uma série de reformas nas suas formas de produzir,

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financiar, gerir e estabilizar a economia, comercializar e inserir-se na economia internacional.

Dessa maneira, durante a década de 80, algumas instituições e acordos foram estabelecidos, com o objetivo de tentar retomar a integração regional que havia sido malsucedida com a ALALC. O primeiro projeto foi a criação da ALADI em 1980, seguida pela instituição do Programa de Integração e Cooperação Econômica entre a Argentina e o Brasil (PICE) em 1986, e com a assinatura do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento em 1988, que, segundo Kume e Piani (2005), estabelecia um prazo máximo de dez anos para se atingir uma zona de livre comércio, a harmonização gradual das políticas setoriais e a coordenação das políticas macroeconômicas.

No final da década de 80, após uma década de alta de inflação e fuga de capitais, tornou-se quase impossível afirmar um projeto regional, mesmo com diversas tentativas, como as citadas acima. No entanto, alguns países da região, como o Brasil e a Argentina, por exemplo, perceberam que, segundo Thorstensen (1992), a alocação de seus recursos de forma mais eficiente dependia da abertura de seus mercados, o que somado ao aparecimento de novas iniciativas de integração mundiais, como o NAFTA, afetaram radicalmente o processo de integração econômica em curso.

Durante o início da década de 90, na visão de Thorstensen (1992), o Brasil enfrenta um momento de escolha entre duas estratégias, escolha tal que irá afetar diretamente todos os outros países da região. As opções eram manter o multilateralismo, isto é, não estabelecer laços com os outros blocos formados além dos formados com os países do Cone Sul, ou inserir a economia brasileira dentro de um bloco regional liderado pelos Estados Unidos, optando pela integração americana como um todo, não apenas na América Latina, porém perdendo grande parte da autonomia para os ideais norte-americanos.

Esse momento elucida a importância que o Brasil tem para a América Latina, por, além de, como visto em Medeiros (2008), possuir o maior PIB da região, também toma decisões que atingem seus países vizinhos direta ou indiretamente. Entre as opções citadas acimas, o Brasil opta pela integração apenas latino-americana, apoiado inicialmente pela Argentina, a segunda maior economia da região.

Dessa forma, os movimentos da integração latino-americana se intensificam na década de 90, primeiramente com a Ata de Buenos Aires em 1990, que, de acordo

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com Kume e Piani (2005), tinha como objetivo reduzir o prazo para a eliminação das tarifas de importação entre Brasil e Argentina para quatro anos, e agora a meta principal seria o mercado comum. Além disso, em 1991 é assinado o Tratado de Assunção, que estabelece, oficialmente, o início do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

O Tratado de Assunção decretava que deveria ser estabelecido um Mercado Comum entre os quatro países membros (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) até 1994, denominado de Mercado Comum do Sul. Portanto, os objetivos principais eram a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, o estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC) e adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados, e a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os membros.

Portanto, é estabelecido um período de transição para os países, de março de 1991 a dezembro de 1994, ao longo do qual, segundo Kume e Piani (2005), as tarifas aduaneiras entre os países seriam reduzidas de forma linear e gradual, enquanto os países implementavam programas unilaterais de liberalização comercial. A evolução do comércio exterior total do Mercosul foi bastante positiva, e Thorstensen (1992) justifica tal ocorrido pela consciência de que os países do bloco tem de que a integração não poderia excluir uma estratégia de inserção internacional, uma vez que o Mercosul sozinho não teria a dimensão para dinamizar a economia de seus membros e tirá-los da fase recessiva em que se encontravam.

Após o período de transição, em 1995 o Mercosul entra oficialmente em vigor, com o estabelecimento de uma tarifa externa comum que, desde o seu início já gerou críticas à suas diretrizes. Segundo Kume e Piani (2005), as principais observações a respeito da tarifa eram sobre o número excessivo de alíquotas, e à falta de uniformidade da proteção efetiva, que privilegiou a escalada na tarifa normal, enquanto deveria assegurar uma proteção adequada aos produtores regionais sem comprometer substancialmente a competitividade internacional da produção do Mercosul.

Inicia-se então um dos primeiros problemas de funcionamento do Mercosul, as frequentes alterações na tarifa externa comum por parte dos países-membros, que buscam apenas posteriormente a aprovação de seus parceiros. A primeira iniciativa de alteração na TEC vem da Argentina ainda em 1995, seguida pelo Brasil no mesmo ano, depois pelo Paraguai, e, por último, pelo Uruguai, em 2001, que reduziu para

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zero as tarifas de bens de capital e impôs uma alíquota adicional de três pontos de percentagem para as importações restantes, inclusive as provenientes do Mercosul.

À vista disso, na visão de Kume e Piani, a, no momento, união aduaneira imperfeita passou a funcionar como uma zona de livre-comércio, principalmente no período entre 1998 e 2001, em que houve uma baixa atividade econômica na região, associada a intensos atritos comerciais entre os países do bloco. Esse período de crise pode ser explicado, segundo Medeiros (2008), pelo colapso do real em 1999, que ocasionou na queda de exportações para o Brasil, provocando uma ampliação da fragilidade do balanço de pagamentos da Argentina, que estava também em um momento de moratória e alta dívida externa que desvalorizaram sua moeda.

Desta forma, é possível analisar novamente o impacto da economia brasileira sobre as nações vizinhas e companheiras de bloco, pois devido à inicial crise econômica do Brasil que influenciou negativamente as economias vizinhas, intensifica-se a discussão sobre transformar a união aduaneira do Mercosul num simples acordo de livre-comércio, que liberaria os países para praticar as tarifas que desejassem aos países terceiros. Entretanto, Kume e Piani (2005) também justificam esse período de insucesso econômico, e principalmente comercial, latino-americano pelas assimetrias entre os países-membros, e Miranda (2014) acrescenta a heterogeneidade estrutural entre eles

Outra questão levantada por Miranda (2014) que influencia o sucesso econômico da integração latino-americana do Mercosul, é a proliferação de Acordos Preferenciais de Comércio (APCs) entre países sul-americanos. O autor afirma que estes avançaram muito mais rapidamente que os esforços e medidas concretas para a formação de uma zona de livre comércio na América do Sul, de maneira que estão deteriorando as preferências desfrutadas pelo Mercosul na ALADI.

Na visão de Medeiros (2008), em 2001 a forte expansão do mercado mundial e, consequentemente a melhoria das condições no balanço de pagamentos dos países da região, permitiu a afirmação na década de 2000 da união aduaneira. Medeiros acredita também que tais condições unidas à maior semelhança entre os regimes cambiais vigentes no Brasil e Argentina na época estimularam a discussão sobre introdução de políticas voltadas à coordenação macroeconômica, e até a adoção de uma moeda única, seguindo a visão monetarista predominante no Tratado de Maastricht.

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Entretanto, mesmo com a intensificação da discussão sobre avanços no processo de integração sul-americana durante a década de 2000, o processo de regionalização avança, até os dias atuais, apenas através de iniciativas setoriais voltadas à integração energética e alguns projetos de infraestrutura de transportes, como, por exemplo, a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) e a criação da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) em novembro de 2004, transformada em União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Desta maneira, conforme citado anteriormente, a efetividade do Mercosul em relação à integração da América Latina continua sendo questionada até os dias atuais, com atores como Medeiros (2008), afirmando que até o momento em que sua obra é escrita, os efeitos do Mercosul sobre o desenvolvimento regional haviam apenas reforçado as desigualdades subnacionais, principalmente no Brasil e na Argentina. Além disso, Miranda (2014) cita as dificuldades crescentes de negociação entre Brasil, Argentina e Uruguai como “bloqueadores” do funcionamento do Mercosul, prejudicando o aprofundamento da integração comercial.

Logo, o processo de integração econômica da América Latina conteve diversos momentos críticos em sua composição, além da criação de inúmeros blocos econômicos entre os países da região, fazendo com que uma integração geral fosse basicamente impossível. No caso do Mercosul, sua ideia inicial seria a construção de um Mercado Comum, porém, como foi possível observar ao longo do capítulo, o máximo nível atingido foi o de União Aduaneira imperfeita, que ainda assim, sofreu questionamentos sobre o seu funcionamento que mais parecia uma zona livre de comércio em diversos momentos.

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3. METODOLOGIA

Como visto na revisão da literatura em relação à integração econômica, os países envolvidos em blocos econômicos sempre sofrem consequências desta integração em diversas áreas de suas economias, não importando qual a forma em que estejam integrados. Portanto, para tentar encontrar a veracidade ou não da hipótese geral deste trabalho, foram realizadas diversas estimações econométricas que serão melhor explicadas no decorrer deste capítulo.

Todos os testes foram realizados para todos os países, porém divididos conforme o bloco econômico no qual se encontram, isto é, em alguns testes, foram unidos os países do Mercosul em um lado, e em outro os países que compõe a União Europeia. Esta divisão ocorre exatamente para tentar encontrar a veracidade ou não da hipótese geral, de forma que os países são testados dentro do seu grupo para que possa ser identificado, ou não, o impacto que os supostos países líderes teriam sob os outros membros dos blocos.

3.1. Base de Dados utilizada

Os dados utilizados neste trabalho estão na periodicidade trimestral, do primeiro trimestre de 1995 até o último trimestre de 2016, com o total de 88 observações. As variáveis escolhidas para o desenvolvimento dos testes foram os Produtos Internos Brutos Reais de todos os países componentes do Mercosul, isto é, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e dos 7 principais países componentes da União Europeia, em questão de poder econômico: Alemanha, Espanha, França, Itália, Holanda, Portugal e Reino Unido.

As variáveis foram obtidas, em parte no site do Fundo Monetário Internacional (FMI) e em sites de Bancos Centrais de alguns dos países, principalmente do Mercosul, sendo os valores obtidos para o Mercosul em moeda doméstica dos países, e para a União Europeia tendo o Euro (€) como moeda. Após a obtenção, os dados foram deflacionados seguindo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), retirado no site do Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Portanto, o primeiro passo realizado após a obtenção das séries temporais deflacionadas de cada país, foi o ajuste sazonal, ou dessazonalização, isto é, a ferramenta adequada para remover a sazonalidade das séries. Neste trabalho, foi utilizada com o software E-views, a metodologia X13-ARIMA-SEATS, elaborada pelo

U.S. Bureau of the Census em 2012, funcionando como uma aprimoração do modelo

anterior X12-ARIMA.

3.2. Estacionariedade nas séries econômicas

Após a retirada do componente sazonal das séries, existe a necessidade de verificar se os dados, agora dessazonalizados, apresentam ou não estacionariedade. Essa etapa é necessária para proceder a inferências estatísticas sobre os parâmetros estimados com base na realização de um processo estocástico, evitando assim equívocos na análise das séries.

O processo estocástico, ou seja, a série temporal {𝑦𝑡, 1 ∈ ℤ}, ℤ = (0, ±1, ±2, … ) é fracamente estacionária se:

a. 𝐸|𝑦𝑡|2 < ∞;

b. 𝐸(𝑦𝑡) = 𝜇, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡𝑜𝑑𝑜 𝑡 ∈ ℤ, 𝑒 c. 𝐸(𝑦𝑡− 𝜇)(𝑦𝑡−𝑗 − 𝜇) = 𝛾𝑗.

Isto é, para uma série temporal ser considerada estacionária, o segundo momento não centrado deve ser finito, a média deve ser igual para todo período, mesmo que a distribuição da variável aleatória se altere ao longo do tempo, e, por último, a variância é sempre igual para todo período de tempo.

Portanto, ao analisar séries temporais é importante que as variáveis apresentem estacionariedade, principalmente no caso da teoria econômica, que utiliza modelos teóricos e empíricos que dependem do comportamento temporal de diversas variáveis. Dessa forma, foram desenvolvidas técnicas para poder identificar a presença, ou não, de estacionariedade nas variáveis. A seguir, são descritos os testes realizados neste trabalho com essa finalidade.

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3.2.1. Teste Dickey-Fuller com método de mínimos quadrados generalizados (GLS-DF)

Este teste desenvolvido por Elliott, Rothenberg e Stock (1992) é uma variação do modelo Dickey-Fuller Aumentado (ADF), e tem sua diferença na presença de um operador de defasamento padrão L, que aumenta o poder ao testar as características de estacionariedade em relação ao ADF e permite um estudo mais robusto da presença de componentes deterministas.

Desta maneira, a equação geral do modelo é a seguinte: ∆𝑦𝑡 = 𝛿 + 𝑏𝑡+ 𝜆𝑦𝑡−1+ 𝜀𝑡

As hipóteses do teste são: em 𝐻0 o processo é não estacionário, ou seja, possui uma raiz unitária, e em 𝐻𝐴 o processo é estacionário, isto é, não possui raízes unitárias. Desta forma, após a escolha do nível de significância para a realização do teste, é realizada a estatística de teste Tau: 𝜏 = 𝜆

𝑆𝜆, em que a regra de decisão para confirmar ou não a estacionariedade é a seguinte: Se o valor crítico for maior do que t, 𝐻0 é rejeitada, e se o valor crítico for menor do que t, 𝐻𝐴 é rejeitada.

3.2.2. Teste KPSS

O teste KPSS foi criado por Denis Kwiatkowski, Peter C. B. Phillips, Peter Schmidt e Yongcheol Shin em 1992, por isso o nome, e, assim como o teste Dickey Fuller GLS, tem por finalidade determinar a estacionariedade em uma série temporal. No entanto, a hipótese nula para este teste é de que a série é estacionária, isto é, não possui raiz unitária, o oposto do observado no teste anterior.

Na versão mais simples, o teste parte da seguinte função: 𝑦𝑡 = 𝑑𝑡+ 𝑢𝑡, onde ∆𝑢𝑡 é MA (1) ∆𝜀𝑡 = (1 − 𝜃𝐿)𝑣𝑡, com 𝑣𝑡 sendo I (0)

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A hipótese nula é θ =1 (e nesse caso 𝑢𝑡 é I (0), pois 𝑢𝑡 = 𝑣𝑡 + 𝑢𝑜 - 𝑣𝑜). A hipótese alternativa é de que |θ|<1, já que neste caso 𝑢𝑡 tem uma raiz unitária autorregressiva e, portanto, é I (1).

Caso as séries sejam não-estacionárias, procedemos na realização do teste de cointegração de Johansen no intuito de verificar a existência de uma relação cointegrante entre as séries; ou seja, verificar a existência de um equilíbrio de longo prazo entre os países.

3.3. Método de Cointegração de Johansen

Desta forma, após a realização dos dois testes explicados acima, em dois jeitos cada: com apenas intercepto e com intercepto e tendência, e verificada a estacionariedade das séries analisadas, são executados os testes de cointegração seguindo a metodologia de Johansen.

O Método de Johansen verifica através da estimação de máxima verossimilhança, a existência ou não da relação de longo prazo entre as variáveis, isto é, se existe cointegração entre as séries. A metodologia é baseada no teorema de representação de Granger, que permite verificar se existem múltiplos vetores de cointegração e testar a cointegração de variáveis de ordem diferentes.

Segundo Enders (2004), o método utiliza inicialmente um modelo de vetores autorregressivos (VAR) para selecionar o número de defasagens e o ranking das matrizes dos parâmetros, onde a cointegração é testada através dos Testes Traço e de Máximo Autovalor. Na análise, se os valores para as estatísticas de traço e máximo valor forem maiores que os valores críticos então há cointegração, indicando uma relação entre as variáveis no longo prazo.

Referências

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