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AS MINAS DE ERVEDOSA (1906-1969) Efígie de memória e narrativa

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UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DOCUMENTAIS

Título: Lavaria nº3

Fotografia obtida por: arquivo pessoal de Carlos Lindley (década de 30)

AS MINAS DE ERVEDOSA (1906-1969)

Efígie de memória e narrativa

Celina Maria Busto Fernandes

Orientador: Professor Doutor José Manuel Subtil

Dissertação apresentada à Universidade Autónoma de Lisboa,

Departamento de Ciências Documentais, para a obtenção do grau

de Mestre em Ciências Documentais, especialidade de Arquivo e

Sistemas de Informação.

I Volume

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Dedicatória

A todos os mineiros e respectivas famílias que trabalharam no Couto Mineiro de Ervedosa. Aos meus queridos pais, irmão e irmã. Ao meu mirandês e à Ritinha, que me acompanhou nesta pesquisa desde o seu primeiro dia de gestação.

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Agradecimentos

Ciente de que este trabalho não seria possível sem a participação/colaboração de alguns intervenientes, quero publicamente aqui expressar os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que me disponibilizaram tempo, informação e meios para a concretização deste projecto. Em primeiro lugar, agradeço a todos os meus informantes pela forma como prontamente colaboraram, especialmente ao Sr. Américo Ricardo, da Soutilha, que esteve sempre disponível para partilhar a sua experiência e saber mineiros, bem como, pela sua amabilidade e boa disposição, tornando os nossos encontros tão proveitosos quanto agradáveis. Dirijo um agradecimento particular à família Bennetts, por me ter recebido em sua casa, enriquecendo toda esta experiência com o seu testemunho e por me ter cedido documentação sobre as minas, e ao Sr. Charles Lindley, por me ter facultado o álbum fotográfico de seu tio.

Agradeço também ao Sr. Amílcar Sá, de Ervedosa (filho de mineiro), ex-Presidente da Junta de Freguesia de Ervedosa, que gentilmente me cedeu a documentação que se encontrava na sua posse e me indicou algumas pessoas que no seu entender estariam disponíveis para colaborar, bem como, todo o incentivo que me deu para a elaboração deste trabalho, reconhecendo a sua importância para a comunidade. Agradeço ainda aos funcionários e responsáveis pelas instituições onde realizei a pesquisa documental e a Hugo Novais pela cedência de bibliografia, pois também se encontrava a elaborar a sua tese de mestrado intitulada “Avaliação da qualidade dos solos e da água subterrânea na envolvente das Minas de Ervedosa (NE de Portugal)”.

Um agradecimento especial ao meu marido, Orlando, por todo o seu apoio, carinho e incentivo. Agradeço também à minha amiga Ana Barros por todo o apoio oferecido, assim como ao meu irmão, Bruno Dinis, pelo apoio que me prestou no trabalho de campo, bem como, pelos momentos de boa disposição na partilha do nosso passado regional.

Por último, agradeço a inestimável atenção, entusiasmo e apoio do meu orientador, Professor José Subtil, que sempre acreditou neste projecto, dando-me a confiança e a ajuda necessária para a sua realização.

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Prospecção

Não são pepitas de oiro que procuro. Oiro dentro de mim, terra singela! Busco apenas aquela

Universal riqueza

Do homem que revolve a solidão: O tesoiro sagrado

De nenhuma certeza, Soterrado,

Por mil certezas de aluvião. Cavo,

Lavo, Peneiro,

Mas só quero a fortuna De me encontrar. Poeta antes dos versos E sede antes da fonte. Puro como um deserto.

Inteiramente nu e descoberto.

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Resumo

Neste trabalho pretendemos (re)construir a narrativa do Couto Mineiro de Ervedosa, de 1906 a 1969. Este couto mineiro situava-se no distrito de Bragança, concelho de Vinhais, na freguesia de Ervedosa. Para a concretização deste objectivo foi necessário reunirmos fontes documentais impressas e manuscritas, bem como, recorrer a testemunhos orais, entrevistando os intervenientes directos, para a partir desta memória colectiva recriar o espaço social, vivido no quotidiano da mina.

Deste modo, foi possível recuperarmos o passado histórico-social de uma localidade específica, valorizando o património local, enquanto fundamento da memória colectiva/ individual, factor contributivo para a construção da identidade regional, articulando com a recolha de todas as fontes documentais referentes às minas de Ervedosa.

Da investigação salientámos que a exploração mineira modificou a história desta região. Lembrámos que a mina representou novas oportunidades de trabalho, atraindo mão-de-obra de todo o país. Este movimento migratório deu origem a uma população heterogénea, inter-regional, que encontrou num novo bairro operário um lar temporário. Nasceu uma nova localidade, anexa à mina, com uma área dormitória, um posto de GNR, uma cantina que funcionava como ponto comercial, uma escola, uma padaria, um posto médico, uma Casa do Povo, uma capela, balneários públicos, um grupo desportivo e uma área de cultivo. À povoação da mina chegou a electricidade muito antes do que a outras aldeias da região. A verdade é que a mina representava a possibilidade de futuro e de industrialização.

Assim, a recuperação do passado através da memória individual e colectiva foi a forma encontrada para homenagear todos aqueles que trabalharam directa e/ou indirectamente nas minas de Ervedosa, prestigiando não só o seu principal protagonista - o mineiro - mas também as várias famílias.

Palavras-chave: Fontes de informação; exploração mineira; património local; Couto Mineiro

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Abstract

In this work we intend (reverse speed) to construct the narrative of the Couto Miners of Ervedosa, of 1906 the 1969. This Couto placed itself in the district of Bragança, council of Vinhais, in the place of Ervedosa. For the concretion of this goal it was necessary to congregate me the sources documentary printed and written by hand, as well as, to appeal the verbal certifications, interviewing intervening the direct ones, it stops from this collective memory recreate the social space, lived in the day by day of the mine.

In this way, it was possible to recoup the description-social past of a specific locality, valuing the local property, while bedding of the individual collective memory, it is a factor for the construction of the regional identity, articulating with the retraction of all the referring documentary sources to the mines of Ervedosa.

Of the inquiry we pointed out that the mining exploration modified the history of this region. We all remembered that the mine represented new chances of work, attracting man power of the country. This migratory movement gave origin to a heterogeneous, interregional population, that it found in a new laboring quarter a temporary home. A new locality, attached was born to the mine, with a dormitory area, a rank of GNR, a canteen that functioned as commercial point, a school, a bakery, a medical rank, a public House of the People, chapel, health-resorts, a porting group and an area of culture. At the population of the mine the electricity before what arrived very to other villages of the region. The truth is that the mine represented the industrialization and future possibility.

Thus, the recovery of the past through the individual and collective memory was the found form to not only homage all those that had worked direct and/or indirect in the mines of Ervedosa, sanctioning its main protagonist - the miner - but also the some families.

Key-wor: Sources of information; mining exploration; local property; Couto Miners of Ervedosa.

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Índice Geral

Agradecimentos ... 4

Resumo ... 6

Índice dos gráficos... 9

Índice de Figuras ... 10

Índice de fotos ... 10

INTRODUÇÃO GERAL ... 12

I. CAPÍTULO ... 16

O QUADRO TEÓRICO E CONTEXTUAL ... 16

Introdução... 16

I.1. Linhas gerais conceptuais ... 17

I.1.1. Conceitos... 17

I.1.2. A construção social da informação ... 19

I.2. Os contextos naturais e sociais... 21

I.2.1. A geografia da região e do concelho... 21

I.3. O enquadramento histórico ... 25

I.3.1. A I República... 25

I.3.2. O Estado Novo... 27

Conclusão ... 30

II. CAPÍTULO... 32

A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO... 32

Introdução... 32

II.1. Caracterização e tipologia das Fontes de Informação ... 34

II.1.1. Documentos administrativos ... 34

II.1.1.1. Diário do Governo... 34

II.1.1.2. Registo da Nota do Descobrimento ou Nota de Registo ou Registo do Manifesto de minas... 40

II.1.1.3.- Processos das minas da Borralheira (nº 492); do Pereiro (nº493); do Alto do Vale da Veiga (nº 631); e do Couto Mineiro de Ervedosa (nº31) ... 44

II.1.1.4. Ofícios... 76

II.2. Outros... 80

II.2.1. Auto de Investigação ... 80

II.2.2. Actas da freguesia de Ervedosa ... 80

II.2.3. Relatórios ... 82

II.3. Periódicos ... 83

II.3.1. Revista - Boletim de Minas... 83

II.3.2. Revista - Revista Mineira ... 122

II.3.3. Revista – Revista de Obras Públicas e Minas ... 122

II.3.4.- Revista – Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro... 122

II.3.5. Jornal Regional – Mensageiro de Bragança ... 126

II.3.6. Artigos (monografias ou revistas)... 126

II.4. Testemunhos orais... 127

II.5. Iconografia ... 152

II.5.1. Fotografias ... 152

Conclusão ... 153

III. CAPÍTULO ... 156

AS REALIDADES DAS MINAS DE ERVEDOSA ... 156

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III.2. A geografia da mina ... 158

III.2.1. O jazigo de Ervedosa ... 158

III.2.2. A concessão da mina da Borralheira – Mina de estanho nº 492... 161

III.2.3. A concessão da mina do Pereiro – Mina de estanho nº 493 ... 163

III.2.4. A concessão da mina do Alto do Vale da Veiga – Mina de estanho nº 631 ... 163

III.2.5. As concessões mineiras nº 492/ nº493 / nº631 ... 164

III.2.6. Couto Mineiro de Ervedosa (1938) – Mina de estanho nº31... 168

III.3. Os métodos de extracção e funcionamento das minas... 169

III.3.1. As minas... 170

III.3.2. Lavarias ou lavandarias... 178

III.3.3. Transporte do minério ... 183

III.4. Os recursos técnicos e humanos ... 184

III.4.1. Acção social ... 188

III.4.2. Admissão do pessoal ... 190

III.5. O mosaico quotidiano... 191

III.6. A multiplicidade dos olhares ... 198

III.6.1. As autoridades judiciais ... 198

III.6.2. A sociedade envolvente... 203

III.6.3. – Os proprietários ... 203

Conclusão ... 209

CONCLUSÃO FINAL ... 212

FONTES ... 216

BIBLIOGRAFIA ... 216

Índice dos quadros Quadro 1 - Diários do Governo relacionados com a concessão mineira da Mina da Borralheira ... 38

Quadro 2 - Diários do Governo relacionados com a concessão mineira da Mina do Pereiro . 39 Quadro 3 - Diários do Governo relacionados com a concessão mineira da Mina do Vale da Veiga ... 39

Quadro 4 - Diários do Governo relacionados com o Couto Mineiro de Ervedosa ... 39

Quadro 5 - Inventário dos processos existentes no Arquivo Histórico Mineiro do INETI... 45

Quadro 6 - Ofícios trocados entre a concessionária mineira e o poder Local e Central ... 78

Quadro 7 - Revista - Boletins de Minas ... 84

Quadro 8 - Artefactos mineiros em pedra ... 124

Quadro 9 - Referências bibliográficas... 126

Quadro 10 - Caracterização sumária dos entrevistados ... 129

Índice dos gráficos Gráfico 1 - Fonte: Boletim de Minas – 1912 -1939... 186

Gráfico 2 - Fonte: Boletim de Minas – 1912 -1939... 186

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Índice de Figuras Figura 1 ... 157 Figura 2 ... 158 Índice de fotos Foto 1... 16 Foto 2... 32 Foto 3... 156 Índice de anexos

Anexo I – Diários do Governo relacionados com a concessão mineira da mina da Borralheira. Anexo II – Diários do Governo relacionados com a concessão mineira da mina do Pereiro. Anexo III – Diários do Governo relacionados com a concessão mineira da mina do Alto do

Vale da Veiga.

Anexo IV – Diários do Governo relacionados com a concessão mineira do Couto Mineiro de

Ervedosa.

Anexo V – Portaria de 2 de Abril de 1868.

Anexo VI – Folha de Rosto do primeiro Livro de Registos de minas, do concelho de Vinhais,

23 de Abril de 1868.

Anexo VII – Primeiro registo referente à mina da Borralheira – nº24.

Anexo VIII – Nota de Manifesto de René Lafleur registando o descobrimento da mina de

cassiterite e volfrâmio, no sítio da Borralheira – 12 de Dezembro de 1905.

Anexo IX – Nota de Manifesto de René Lafleur registando o descobrimento da mina de

cassiterite e volfrâmio, no sítio do Pereiro – 9 de Março de 1906.

Anexo X – Nota de Manifesto de René Lafleur registando o descobrimento da mina de

estanho e outros matais, no sítio do Alto do Vale da Veiga – 18 de Janeiro de 1909.

Anexo XI – Folha de Rosto dos processos das concessionárias, consultado no Arquivo

Histórico do INETI, de Alfragide.

Anexo XII – Ofício de 29 de Setembro de 1913.

Anexo XIII – Ofício de 17 de Abril de 1933 e notícia do jornal nacional, A Voz. Anexo XIV – Ofício de 21 de Outubro de 1933.

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Anexo XVI – Ofício de 2 de Setembro de 1935. Anexo XVII – Ofício de 4 de Fevereiro de 1937. Anexo XVIII – Ofício de 9 de Fevereiro de 1937. Anexo XIX – Ofício de 27 de Fevereiro de 1937. Anexo XX – Ofício de 31 de Maio de 1937.

Anexo XXI – Auto de Investigação (original manuscrito e dactilografado). Anexo XXII – Acta da Sessão Ordinária da Junta de Freguesia de Ervedosa. Anexo XXIII – Auto nº2 de 19 de Fevereiro de 1913.

Anexo XXIV – Relatório de 1914.

Anexo XXV – Relatório sobre a empresa Tuella Tin Mines, Lda. de 1969. (Língua original e

tradução).

Anexo XXVI – Boletim de Minas – folha de rosto e mapas estatísticos.

Anexo XXVII – Artigo: Arqueologia mineira: notícia sobre um pilão de minérios

pré-histórico. De O. da Veiga Ferreira e L. de Albuquerque.

Anexo XXVIII – Notícia do encerramento do Couto Mineiro de Ervedosa, publicada no

jornal regional, Mensageiro de Bragança.

Anexo XXIX – Diário da República nº128, III série, aprovação dos símbolos heráldicos da

Freguesia de Ervedosa.

Anexo XXX – Planta de Reconhecimento e Demarcação da mina da Borralheira, da mina do

Pereiro e da mina do Alto do Vale da Veiga.

Anexo XXXI – Novo plano de lavra – 1925.

Anexo XXXII – Requerimento solicitado por Carlos Lindley, pedindo a publicação do

abandono do Couto Mineiro. 23 de Setembro de 1927.

Anexo XXXIII – Declaração de falência da sociedade Ervedosa Tin Mines Lda. – 16 de Maio

de 1928.

Anexo XXXIV – Escritura de Arrendamento – 10 de Maio de 1929. Anexo XXXV – Escritura Social.

Anexo XXXVI – Mapa com os vários níveis.

Anexo XXXVII – Trabalhos executados nos respectivos níveis, aos longo dos anos de

funcionamento.

Anexo XXXVIII – Ficha de um trabalhador. Anexo XXXVIX – CD – Fotografias.

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INTRODUÇÃO GERAL

No âmbito de uma investigação em Ciências Documentais, surgiu a oportunidade de conciliar dois projectos, acarinhados também por motivos de ordem pessoal: por um lado, a recolha e o estudo de toda a documentação relacionada com as Minas de Ervedosa, por outro, a preservação das memórias e afectos que formaram uma comunidade perdida no tempo e na geografia transmontana. Neste sentido, a escolha do tema é justificada por condicionantes de afectividade pessoal, mas também pela necessidade sentida por um colectivo anónimo, que vive, ainda hoje, dependente da herança social e económica, legada pelas experiências de um passado tão particular, oferecendo a toda a região um património humano, que consideramos de valor histórico.

Como transmontana, “natural”1 do concelho de Vinhais, distrito de Bragança, é um privilégio divulgar a herança patrimonial da freguesia de Ervedosa e, sobretudo, compreender a importância da indústria mineira existente nesta freguesia durante a primeira metade do século XX, como motor de desenvolvimento da região e garante da população local. Mais do que o gosto pessoal pelo tema, motiva-me a responsabilidade de perpetuar uma identidade regional.

As “histórias” contadas sobre as minas de Ervedosa fazem parte de uma cultura regional e são transmitidas oralmente, de geração em geração, como relato de vidas passadas, tempos de grandes dificuldades e trabalhos, que marcaram, para sempre, a população local. Assim, surge a ideia de pesquisar este tema, de forma metódica, e redigir um testemunho, para divulgá-lo quer à própria região, quer à comunidade científica. Os relatos e memórias dos intervenientes terão, desta forma, uma oportunidade de alcançar o espaço público. A ligação entre memória e informação revela-se convergente, interliga-se aos mecanismos de produção, organização e recuperação da informação. O importante é presentificar o passado. No entanto, a tentativa de uma investigação profunda encontrou alguns obstáculos e limitações, uma vez que nos encontrámos condicionados pela pouca informação documentada e pelo facto desta se encontrar dispersa e sobre a tutela de vários organismos.

Deste modo, a recuperação do passado através da memória individual e colectiva foi a forma encontrada para homenagear todos aqueles que trabalharam directa e/ou indirectamente nas minas de Ervedosa, prestigiando não só o seu principal protagonista - o mineiro - mas

1 Utilizo natural entre aspas, porque nasci em França (Dijon) onde residi 9 anos. Com 10 anos de idade vim viver

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também as várias famílias, que, muitas vezes, sofriam grandes desgostos pelo súbito desaparecimento de um ente querido que a mina lhes roubava. Todos eles trabalharam arduamente, de sol a sol, para que a mina obtivesse os resultados pretendidos pelos seus proprietários, mas mais do que isso, a mina era o centro das suas vidas, o seu espaço, o seu sustento e o gigante a conquistar. Este trabalho de pesquisa é o prémio possível oferecido aos heróis anónimos desta região, pelo trabalho árduo de muitas décadas.

Assim, como ponto de partida para este trabalho estabelecemos os objectivos gerais desta dissertação: recuperar o passado histórico-social de uma localidade específica, valorizando o património local, enquanto fundamento da memória colectiva/ individual, factor contributivo para a construção da identidade regional, em articulação com a recolha de todas as fontes documentais referentes às minas de Ervedosa, para a (re) construção da sua narrativa, recorrendo também à recolha de testemunhos orais, como forma de partilha de experiências e vivências locais. Deste grande propósito, deriva a já referida homenagem à comunidade mineira, analisando o impacto desta actividade económica no desenvolvimento da região e na construção do modo de vida local.

De forma a alcançar o nosso grande objectivo, foi necessário definir uma metodologia inicial, valorizando aspectos como: a reconstituição da história económico-social das minas de Ervedosa, a partir do enquadramento histórico da I República e do Estado Novo; a recolha de informação para fundamentar a narrativa das minas de Ervedosa, a partir de factos documentados articulados com testemunhos particulares; a localização e identificação das fontes documentais, impressas e manuscritas, existentes sobre as minas de Ervedosa, no intuito de contribuir para a sua divulgação.

Em benefício da organização e análise dos conteúdos, estruturamos esta dissertação em três capítulos. No primeiro capítulo, pretendemos apresentar uma noção teórica de alguns conceitos relacionados com a informação e com a sociologia da informação (pois esta visa o estudo da informação encarada na perspectiva social). Ainda neste capítulo caracterizamos a região onde se inseria o Couto Mineiro de Ervedosa, nomeadamente a região de Trás-os-Montes, o distrito de Bragança e o concelho de Vinhais, elaborando uma breve contextualização histórico-geográfica. Por último, ainda neste capítulo, elaboramos o enquadramento histórico do período que englobou a laboração das minas, tendo em conta que este atravessou dois períodos políticos diferentes: a I República e o Estado Novo. Este aspecto apenas nos interessa no sentido de relacionar as directrizes políticas com alguns problemas sentidos no seio da empresa mineira.

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O segundo capítulo é constituído pela construção do sistema de informação, no qual incluímos uma recolha exaustiva da documentação relacionada com o processo das minas de Ervedosa. Recorremos, também, a entrevistas para completar a informação da documentação impressa. Depois de feito o levantamento da documentação, tentamos apresentá-la, separadamente, tendo em conta o local em que foi encontrada e de seguida apresentá-la, de acordo com a sua tipologia e caracterização. Quanto aos testemunhos orais, são recolhidos tendo como objectivo a diversificação dos assuntos e das funções exercidas pelas testemunhas, complementando os conteúdos encontrados nas fontes impressas.

A recolha de informação pode ser definida como o processo organizado, posto em prática, para obtenção de informações junto de inúmeras fontes, com o objectivo de ultrapassar determinado nível de conhecimento, no quadro de uma acção deliberada, cujos objectivos foram claramente definidos inicialmente e que apresentam uma validade reconhecida. Após determinarmos as informações que pretendemos recolher, é sempre necessário elaborar uma estratégia de recursos a métodos de recolha de informação.

Para a elaboração deste trabalho recorremos às entrevistas e ao estudo de documentos, pois a maioria dos trabalhos científicos exige uma análise documental. Em alguns casos servirá para complementar a informação obtida por outros métodos; noutros constituirá o método de pesquisa central. Quando iniciamos um estudo que inclui análise documental podemos escolher entre duas abordagens diferentes. Uma designada por “abordagem orientada para as fontes”, a outra denominada por “orientada para o problema”. A primeira é a própria natureza das fontes que determina o projecto e ajuda a formular as questões a que a investigação vai responder. A segunda, mais comum, implica formular perguntas através da leitura de fontes secundárias, ler o que já foi descoberto acerca do assunto em análise, para depois trabalhar com as fontes primárias (produzidas durante o período a ser investigado), estas podem ser documentos manuscritos, impressos ou audiovisuais, oficiais ou privados, pessoais ou provenientes de um organismo.

Cabe ao investigador procurar compreender, procurar descrever, pôr ou verificar uma hipótese, avaliar as prestações de uma pessoa, avaliar uma acção, um projecto, estes são os passos fundamentais para o êxito da investigação. Sendo o assunto principal do nosso trabalho a actividade mineira e sendo uma actividade quase extinta no nosso país, foi necessário inteirarmo-nos deste tema, bem como localizar a documentação com ele relacionada.

Deste modo, obrigou-nos a uma investigação complementar, para aprofundar o conhecimento necessário a nível de terminologia, para abordar as técnicas e alguns conteúdos

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sobre o assunto, também visitámos o museu de “La Mineria y de la Industria”, em El Entrego, Oviedo, Espanha. Este museu documenta muito bem o trabalho efectuado nas minas e foi possível efectuar uma visita (simulada) ao interior de uma mina, onde nos foram descritas as várias técnicas utilizadas para a extracção do minério. Também, realizámos uma visita ao Museu do Ferro de Moncorvo, no distrito de Bragança, onde encontrámos a descrição dos trabalhos relacionados com a extracção do minério, e ficámos elucidados sobre determinados ferramentas utilizadas pelos mineiros. Alguma da nossa bibliografia foi aí adquirida.

Através da análise das várias fontes, pretendemos fornecer às gerações mais jovens conhecimentos exactos sobre a história da mina de Ervedosa, lembrando a sua importância regional e humana, bem como divulgando todo este património físico e documental. Pretendemos, também, que esta investigação possa facultar informação, reunida e organizada, para posteriores trabalhos, pois o tema permite certamente outras abordagens no campo da economia e da sociologia.

No terceiro capítulo, depois da análise da documentação recolhida, pretendemos reconstruir a história que envolve as origens das minas de Ervedosa, até ao seu encerramento, em 1969. Iniciamos o capítulo, com a apresentação da freguesia de Ervedosa e da geografia da mina; segue-se a apresentação das concessões mineiras e dos métodos de extracção e funcionamento das minas, assim como dos recursos técnicos e humanos utilizados ao longo dos anos de laboração da mina. Apresentamos, ainda, o mosaico quotidiano e por último elaboramos uma biografia sumária dos proprietários, que estiveram na gerência do Couto Mineiro de Ervedosa. Estes dois últimos itens são complementados com testemunhos orais, visto ser-nos ainda possível contar com o auxílio do testemunho dos protagonistas da história.

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Foto 1

Título: A mina - desmontes

Fotografia obtida por: arquivo pessoal de Carlos Lindley (década de 30)

I. CAPÍTULO

O QUADRO TEÓRICO E CONTEXTUAL

Introdução

Neste capítulo, pretendemos, inicialmente, fazer uma apresentação de noções teóricas: explorando o conceito de informação e outros relacionados com a sociologia da informação (que tem como objectivo o estudo da informação encarada na perspectiva social). Para a definição de informação existem várias perspectivas, tais como: (i) a informação como conhecimento subjectivo, reconhecida nos contextos de biblioteca e ciências da informação; (ii) a informação enquanto conjunto de dados úteis, reconhecida nos sistemas de informação. Os sistemas transformam dados avulsos em informação; (iii) a informação e conhecimento como recurso, nas organizações, a informação é um recurso utilizado, gerido e atingido como

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como elemento constitutivo da sociedade, na medida em que constitui um agente, na criação da estrutura social. Todas estas acepções são válidas e ao longo da nossa pesquisa foram sendo actualizadas, no sentido de formar um universo de conhecimento sobre o tema em foco.

Num segundo momento, caracterizamos a região onde se encontrava inserido o Couto Mineiro de Ervedosa. Este situava-se na região de Trás-os-Montes, no distrito de Bragança, no concelho de Vinhais e na freguesia de Ervedosa. Deste modo, caracterizamos a região de Trás-os-Montes e o concelho de Vinhais elaborando uma breve contextualização histórico-geográfica. A freguesia de Ervedosa será apenas apresentada no terceiro capítulo, como introdução do mesmo, uma vez que se dedica à narrativa das minas de Ervedosa.

Por último, elaboramos o enquadramento histórico do período que englobou a laboração das minas – de 1906 a 1969 – tendo em conta que atravessou duas épocas políticas diferentes, nomeadamente, a I República e o Estado Novo, o que nos importa para relacionar com alguns problemas sentidos no seio da empresa mineira.

I.1. Linhas gerais conceptuais I.1.1. Conceitos

A Sociologia da Informação tem como objectivo o estudo da informação encarada na perspectiva social, isto é, como elemento constitutivo da sociedade, na medida em que a informação é vista como um agente na criação da estrutura social. Interessa, ainda, a informação como conhecimento tácito ou subjectivo, que pode ser partilhado numa organização, e que nos leva a considerar a informação como recurso nas organizações, matéria que tem uma importância fundamental na Sociedade da Informação. Por outro lado, o conhecimento explícito ou objectivo, falado e escrito, está relacionado com conceitos como leitura e literacia.

A Sociologia é o corpo de conhecimentos sobre os fenómenos sociais e as leis que os regem. É um corpo sistematizado de conhecimentos recolhidos da observação dos fenómenos sociais. Estes são factos que decorrem da forma de agir dos indivíduos em sociedade. Actualmente, procura-se fazer a análise objectiva da sociedade, isto é, a análise objectiva dos fenómenos sociais. No passado, os estudos eram orientados no sentido de entender o modo como a sociedade deveria ser constituída ou organizada, procurava-se o modelo.

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individual, interessa a pessoa social. Deste modo, na sociologia, o fenómeno social é o corpo de conhecimentos sobre os fenómenos sociais, mas é a partir dos diferentes contributos de cada uma das ciências (históricas, filosóficas, humanas) que podemos compreender o fenómeno social na sua complexa unidade. Assim, o facto social é uma unidade, mas, se determina um acontecimento da vida em sociedade, poderá constituir um fenómeno, com significado social particular, isto é, um fenómeno social. Como não devemos compartimentar essa unidade, pois correríamos o risco de obter informações parcelares, é imperioso que o abordemos sob perspectivas disciplinares/científicas diferentes. Denominamos interdisciplinaridade a essa atitude metodológica que procura integrar o contributo das várias ciências no sentido de encontrar uma explicação e um entendimento mais profundo da realidade social.

Todos os fenómenos da realidade social são fenómenos sociais, isto é, têm implicações em diferentes níveis do real (histórico, religioso, jurídico, sociológico, e outros.) e podem ser objecto de pesquisa, por parte de todas, ou apenas algumas, ciências sociais. Para melhor compreendermos os factos sociais, devemos inseri-los, sempre, no contexto social em que ocorreram, pois estes verificam-se em determinado espaço e momento.

Portanto, observar as relações entre os fenómenos sociais, apoiando-se em elementos de natureza estatística, histórica, linguística, demográfica, etnográfica, sociográfica, entre outros, constitui matéria do âmbito da sociologia actual. Neste sentido, encaramos a ciência como sistema de produção, ou seja, a ciência é a actividade a que se dedicam os investigadores.

Por seu lado, as ciências sociais são ciências factuais pelo seu objecto ser o facto social. Os estudiosos da realidade social devem recuperar a perspectiva globalizante dos fenómenos sociais, integrando as diferentes vertentes em que é possível, artificialmente, separar os fenómenos sociais. A sociologia estuda, com a objectividade possível, os fenómenos sociais, adoptando uma atitude científica, afastando-se do senso comum e dos preconceitos sociais, procurando de uma forma neutra conhecer as causas e as relações entre as diversas variáveis e pondo sempre em questão as suas conclusões.

Se a Sociologia é uma ciência pelo facto de as suas conclusões, explicações ou soluções serem produzidas de acordo com o método científico, isso significa que o cientista da problemática social percorre várias etapas no seu trabalho de investigação onde só o confronto das suas propostas com as diversas provas de validação concederão validade científica às soluções apontadas. QUIVY e CAMPENHOUGT (2003, p.107) consideram que

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pergunta de partida; a seguinte etapa será a exploração; depois a problemática; em quarto a construção do modelo de análise; a seguir a observação; depois a análise das informações; e

por último retirar as conclusões da investigação.

I.1.2. A construção social da informação

A característica fundamental da sociedade pós-industrial ou sociedade da informação reside na substituição da força física e da energia pela informação – força motora da economia e do desenvolvimento. A evolução da sociedade deriva dos seguintes factores: crescimento contínuo do volume da informação de todos os tipos; existência das tecnologias associadas à criação, comunicação e disseminação da informação; crescente consciencialização da importância da informação, como recurso organizacional fundamental; o reconhecimento da necessidade de gerir eficazmente esse recurso. Existem várias definições para definir o conceito informação, mas talvez se compreendam essas definições se considerarmos diversas perspectivas: (i) a informação como conhecimento subjectivo, reconhecida nos contextos de biblioteca e ciências da informação; (ii) a informação enquanto dados úteis, reconhecida nos sistemas de informação. Os sistemas transformam dados avulsos em informação; (iii) a informação e conhecimento como recurso, nas organizações a informação é um recurso utilizado, gerido e atingido como outro factor de produção, tal como a energia, matérias primas e trabalho; (iv) a informação como elemento constitutivo da sociedade, na medida em que constitui um agente, na criação da estrutura social. Podemos, então, identificar, sumariamente, os seguintes objectivos da informação: facilitar decisões; resolver problemas; comunicar e facilitar as relações interpessoais; aprendizagem e eficácia pessoal e profissional. O acesso à informação é um dos objectivos da sociedade e um elemento impulsor da evolução económica, social, política e cultural da mesma. Portanto, a informação é o registo de conhecimento.

O conhecimento é a representação da informação, o que o indivíduo adquire depois de aceder a factos, imagens, sons, textos, e de os colocar num contexto, ou seja de os interpretar. No domínio da gestão do conhecimento faz-se a distinção entre conhecimento tácito e conhecimento explícito, sendo este o conhecimento objectivo (falado e escrito) e registado nos documentos, aquele o conhecimento individual que pode ser partilhado numa organização. Neste sentido, a informação é o conhecimento partilhado, por ter sido comunicado.

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A informação são dados em contexto, isto é, factos, conclusões, ideias, obras resultantes de um trabalho intelectual e da imaginação do homem, comunicadas formal ou informalmente, em qualquer suporte. É conhecimento partilhado. Essa partilha de conhecimento faz-se através da comunicação (oral, escrita, por signo), isto é, da transferência da informação. A informação, uma vez entendida e avaliada pelo receptor à luz da sua experiência, é o conhecimento. O conhecimento pode ser caracterizado através dos seguintes aspectos: objectividade; acessibilidade; relevância; aceitação; estrutura e organização.

A objectividade do conhecimento é relevante em todas as disciplinas e nos diferentes tipos de conhecimento. Todo o conhecimento é o produto da sociedade e do meio cultural em que foi criado. A acessibilidade está relacionada com a disponibilidade do conhecimento para os seus utilizadores. A relevância do conhecimento tem a ver com os interesses dos utilizadores, isto é, se o conhecimento disponível é o apropriado para a tarefa, ou actividade em curso. A aceitação da informação está relacionada com a actualização da informação. Cada tipo de informação tem o seu ciclo de vida. A estrutura do conhecimento é, muitas vezes, imposta pelos sistemas, quer estes sejam organizações conceptuais, sistemas de comunicação ou sistemas de informação.

Na medida em que a informação é potencialmente transmissível ou comunicável e a sua reprodução pode ser ilimitada, a informação não é apenas um fenómeno, é também um processo e pode ser tratada como tal, nas diferentes etapas de criação, difusão, organização, armazenamento, pesquisa e uso. Como sabemos, a medida do sucesso de um sistema de recuperação da informação é a sua eficácia como acesso global à informação/conhecimento como elemento propulsor da evolução económica, social, política e cultural.

Um documento é todo o testemunho da actividade do Homem registado num suporte. De acordo com a sua tipologia, os documentos são preservados e organizados em arquivos, bibliotecas e centros de documentação. Quanto à sua natureza, os documentos podem ser textuais ou não textuais. Os primeiros são caracterizados por serem documentos impressos, tais como as monografias e as publicações em série. Os segundos, também designados por material não livro, dividem-se em iconográficos (postais, fotografias, cartazes), sonoros (discos, banda magnéticas, cd’s), audiovisuais (filmes, dvd’s), e de natureza material (jogos, fantoches, Braille, e outros).

Os documentos, quanto ao grau de elaboração, são divididos em documentos primários, que se definem por publicações às quais se tem acesso na forma em que foram escritas ou realizadas (um livro, um disco); em documentos secundários, caracterizados por

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directórios); ou em documentos terciários, publicações especializadas, com informação acrescida de texto de síntese, com uma boa bibliografia na qual se baseou o texto elaborado.

I.2. Os contextos naturais e sociais

I.2.1. A geografia da região e do concelho

“Para cá do Marão, mandam os que cá estão.” (Provérbio popular)

As minas de Ervedosa ficam situadas na freguesia de Ervedosa, concelho de Vinhais, distrito de Bragança, situam-se, portanto, na região do NE de Portugal, à qual corresponde a província de Trás-os-Montes, criada pela divisão administrativa de 1936.

A região transmontana caracteriza-se por ser uma região de pequenas povoações dispersas e de poucos castelos medievais, como que a dispensar-se de protecção artificial, por se ver defendida pela própria natureza, caracterizada por serranias separadas por vales profundos de difícil acesso. Por tal motivo, através dos tempos, esses povoados viveram isolados, mal contactando com o exterior, mantidos com os curtos recursos da terra bravia na forma e constituição, aspérrima no clima. O autor TABORBA (1937, p.19) caracterizava assim a região:

“Mergulhado no isolamento das suas montanhas e vales profundos, privado de estradas e caminhos acessíveis, à margem da circulação que animava o litoral do País, de natureza rude, clima excessivo, solo em regra pouco fértil, habitado por uma grei rural que, mantendo uma tradição comunalista vivaz, praticava uma agricultura primitiva e criava os seus gados, bastando-se a si própria, Trás-os-Montes oferece desde cedo uma fisionomia peculiar que o distingue das outras regiões de Portugal.”.

O mesmo autor diferenciava o Alto Douro de Trás-os-Montes, definindo este como sendo:

“terras mais altas, desdobrando-se em montanhas e planaltos montuosos, um clima rigoroso de invernos frios e Verões quentes, variado até ao infinito consoante as circunstâncias locais de relevo e exposição, húmido e pluvioso a oeste, mais seco à medida que se caminha para a fronteira oriental; um solo, granítico e arcaico, magro e descarnado nas partes altas, de maiores aptidões agrícolas nos vales para onde as torrentes arrastam os materiais arrancados às encostas e montanhas quase despidas de

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O clima desta província é de características continentais, invernos frios, verões quentes e secos, tal como se comprova pelo aforismo utilizado na região pelos populares: “Terra de nove meses de Inverno e três meses de inferno”.

Quanto às produções minerais, esta província possuiu um dos mais elevados números de minas em laboração e com maior variedade de produtos. Eram vários os minérios explorados, tais como, o ouro, o crómio, o chumbo, o arsénio, o zinco, o antimónio e outros minérios, embora o estanho, o volfrâmio e o ferro ocupassem o primeiro lugar na produção. Esta exploração mineira vinha de tempos muito antigos, tal como registou Taborda:

“Existem nos jazigos minerais de Trás-os-Montes vestígios de exploração muito antiga, provavelmente do tempo da ocupação romana. Através da Idade Média também decerto a extracção se fez, mas só a partir dos séculos XV e XVI os documentos começam a referir-se particularmente às minas trasmontanas. Por 1453 o duque de Bragança instala em Bragança uma ferraria para a qual consegue do rei grandes privilégios e isenções. No tempo de D. Manuel começou a exploração dos jazigos de estanho, que a lei das minas de 1557 reserva para a coroa.”(op. cit.,p.115).

No entanto, o difícil acesso à região punha em causa o desenvolvimento deste tipo de exploração como alertava o mesmo autor:

“Apesar da abundância e variedade das mineralizações – a região oriental passa por ser das mais ricas de todo o país em jazigo – a indústria extractiva tem diminuta importância. O isolamento, a dificuldade de comunicações tornando o transporte caro e obrigando a um preço de revenda que impossibilita a concorrência com minerais de outra proveniência, têm feito recuar as iniciativas […]. Os principais jazigos dos planaltos parecem ser os de cassiterite […]. A zona estanífera transmontana compreende diversos jazigos que se estendem a norte, entre o Douro e o Rabaçal – Brunhozinho (Mogadouro), S. Martinho de Angueira (Miranda), Parada, Paredes e Coelhoso (Bragança), Ervedosa (Vinhais).” (op. cit., p. 116).

Durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), a actividade mineira cresceu, estimulada pela procura e os altos preços dos minérios.Após este período de prosperidade, com as convulsões da década de 70, a indústria mineira foi desaparecendo do mapa transmontano, deixando na região um vazio insubstituível, quer a nível de produção, quer a nível de coesão social. Ainda hoje, para a maioria dos portugueses, apesar de todos os progressos feitos pelo desenvolvimento das comunicações e dos transportes, Trás-os-Montes continua remoto, distante geográfica e socialmente do resto do país, em comparação com a rapidez, a facilidade e a frequência com a região Centro e Sul se

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Terminamos com uma passagem de José Mattoso, acentuando o isolamento, não só como factor de distanciamento, mas também de unidade, conservando a terra transmontana cheia de tradições e de beleza natural

“Trás-os-Montes é, pois, simultaneamente, a terra da natureza intacta, das grandes violências, da energia acumulada e do «tempo longo». As vicissitudes mesquinhas da vida individual, a agitação do quotidiano, as alterações trazidas pelas modas e pelos ciclos efémeros só muito superficialmente afectam o que os séculos imprimiram bem fundo no comportamento colectivo, ou seja na atitude daqueles que ainda hoje conhecem o sentido de um saber depurado pela lenta acumulação de experiências transmitidas de geração em geração. São obviamente aqueles que continuam mais próximos da terra. Não é o facto de serem cada vez menos, dizimados que têm sido pela emigração e pela limitação da natalidade, que pode fazer esquecer o que eles representam ainda. De resto, a terra lá está, inabalável, com as suas altitudes e ravinas, com os seus xistos e granitos, os seus rios e ribeiros, os seus frios e calores, as suas chuvas e secas, a sua fauna e a sua flora. Mesmo na nossa era de grandes recursos tecnológicos não se podem ignorar as suas imposições.” ( Matosso et al.,1997, p.7)

A sede de concelho, Vinhais, tem uma área de 694,68 Km2 e 10646 habitantes (segundo o censo de 2001), distribuídos por 35 freguesias. Dista 32 Km de Bragança. O concelho de Vinhais é limitado a Norte pela Espanha; a Este pelo concelho de Bragança; a Sul pelo concelho de Macedo de Cavaleiros; a Sudoeste pelo concelho de Mirandela; a Oeste pelos concelhos de Valpaços e Chaves e pela Espanha. A história desta vila é notável, especialmente na época que imediatamente antecedeu à sua fundação, na segunda metade do século XIII. No entanto, a ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas.

Póvoa Rica, nome primitivo de Vinhais, foi nome de terra medieval, situada talvez a

sul da vila actual, no vale Úbere de Riassós, ou talvez, circundando a igreja românica de S. Facundo, templo românico do século IX. Foi essa a designação dada pelos primeiros povoadores que desceram dos castros circundantes, em busca de clima mais ameno e terrenos mais férteis, durante a romanização.

Terá sido no princípio da Nacionalidade Portuguesa que se levantaram as muralhas para defesa de possíveis ataques leoneses, mas a fundação de Vinhais é atribuída ao Rei D. Sancho II, no que respeita à povoação intra-muros, recebendo foral de D. Afonso III e vendo as muralhas reconstruídas a mando de D. Dinis. Este atribuiu-lhe Foral, em 1253, onde se

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Vinhais a ser concelho, cabeça de todas as vilas e vilares circundantes, centro administrativo e sede para se fazer justiça a todos os vizinhos, à mistura com pagamentos de foros, rendas e dízimos, como se estipula nesse mesmo Foral.

A sua situação privilegiada, próxima do rio Tuela e de uma via romana bastante significativa, contribuiu para que Vinhais tivesse adquirido uma certa notoriedade, a par da riqueza dos solos e da boa qualidade dos seus produtos, nomeadamente o vinho dos seus extensos vinhedos que acabaram por lhe dar a sua denominação actual. Hoje, terra onde predomina não a vinha, mas os castanheiros.

A Cidadela de Vinhais é o que resta de um povoado fortificado do período proto-histórico, rodeado, na sua parte superior, por uma muralha de contorno elíptico. Esta muralha é reforçada por uma outra, que define um patamar inclinado, com uma estrutura em socalcos, permitindo a formação de uma plataforma artificial inter-muralhas, o que alargou a área do povoado. A noroeste, numa zona de acesso mais fácil, a estrutura defensiva é complementada por um fosso escavado no afloramento.

Na área deste concelho estavam registadas sete minas, sendo três de estanho, denominadas Alto do Sarilho e Trigueiriça, na freguesia de Rebordelo; e Portela das Lamas, na freguesia de Vale das Fontes; uma de ouro e prata, denominada Lomba Grande, na freguesia de Tuizelo; uma de arsénio e estanho, denominada Couto Mineiro de Ervedosa, na freguesia de Ervedosa; uma de crómio, denominada de Aberredo, na freguesia de Vila Boa de Ousilhão; e uma de manganésio, denominada Sobralhal, na freguesia de Vilar de Peregrinos. No entanto, a principal actividade económica do concelho de Vinhais é, e foi sempre, a agricultura tradicional de minifúndio e a criação de gado. Os principais produtos agrícolas produzidos na região são: a batata, a castanha e os enchidos.

O concelho de Vinhais acolhe um dos maiores parques naturais do país com uma superfície de 75000 hectares, denominado por Parque Natural de Montesinho. Este engloba a área das serras de Montesinho e Coroa, portanto a parte norte dos concelhos de Vinhais e Bragança. A região é caracterizada por uma sucessão de formas arredondadas, separadas pelos vales de rios profundamente encaixados. Os rios mais importantes são, na parte ocidental, o Mente e o Rabaçal; na central, o Tuela e o Baceiro; e na oriental, o Sabor e o Maçãs. A serra do Montesinho dá o nome ao parque que encerra uma paisagem grandiosa, serena e belíssima.

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I.3. O enquadramento histórico I.3.1. A I República

No início do século XX, enquanto as capitais europeias contaminadas pelo espírito da

belle époque festejavam com euforia a entrada no século, Portugal conservava-se escondido e

ignorado ao canto da Península Ibérica. Era um país modesto, pequeno e pobre, onde sobrevivia um regime de Monarquia Constitucional. O país mantinha uma distância crónica e periférica da civilização. Três homens em cada quatro e seis mulheres em cada sete não sabiam ler nem escrever. A escolaridade primária era gratuita e obrigatória três anos, mas o analfabetismo ia resistindo por muito mais tempo. Numa população total de cinco milhões, sete em cada dez pessoas viviam em freguesias rurais e dessas quase 90 por cento dependiam apenas da actividade agrícola. Só na segunda metade de oitocentos, os industriais, muitos deles estrangeiros, montariam as primeiras grandes fábricas no país.

A 5 de Outubro de 1910 foi proclamada a República em Portugal. Deste modo, Portugal inaugurou, na segunda década do século XX, com uma revolução e uma nova Constituição. O Partido Republicano, conquistado o poder, nomeou um governo provisório simbolicamente presidido pelo professor Teófilo Braga. O Governo Provisório conseguiu cumprir alguns dos pontos principais do programa republicano, bem como consolidar o novo regime, assegurar a ordem pública interna e alcançar o reconhecimento por parte das potências estrangeiras. No entanto, a República Portuguesa apresentava-se plena de dificuldades e de perigos.

Com a eclosão da 1ª Guerra Mundial, (1914-1918), a maioria dos responsáveis pela política portuguesa uniu-se aos países Aliados, contra a Alemanha, visto estes terem manifestado interesses pelo Ultramar português, bem visível na imprensa da época. Por outro lado, associar-se às grandes potências significaria, para o novo regime, um reconhecimento que a República sentia não haver ainda conquistado, em 1914. Portanto, interesse nacional, interesse colonial e interesse republicano apontavam para a intervenção na guerra ao lado dos Aliados.

Todavia, em Portugal, o esforço de guerra e a conjuntura internacional acarretaram consequências internas desastrosas, nomeadamente escassez de géneros de primeira e segunda necessidade, até ao extremo da fome, entre as classes inferiores urbanas. Muitos artigos passaram a ser racionados. O crescente número de tropas, que partiam para os campos de batalha da França e de Moçambique, suscitava descontentamento cada vez maior num povo

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feridos, publicada regularmente, assustava um país pequeno e consciente das suas fracas potencialidades demográficas e, sobretudo poupado, a mortandades por guerra. Terminada a guerra, a Europa caracterizava-se por situações instáveis e conturbadas. Corrupção, atentados políticos, crises da autoridade, inflações tornaram-se a moeda corrente.

A situação geral portuguesa tendia a melhorar, a partir dos anos 1922-23, à medida que os efeitos da guerra se iam atenuando. Mas a desvalorização do escudo continuava a fazer-se sentir em grau elevado, provocando descontentamento generalizado contra a política e os seus responsáveis. No entanto, o orçamento equilibrava-se com as receitas que advinham do novo regime dos tabacos. A reforma agrária, o desenvolvimento da assistência social, a melhoria do nível de vida das classes populares contavam-se entre os assuntos em discussão inseridos na agenda dos partidos.

A revolução industrial dos séculos XVIII e XIX só tocou o país moderadamente, aliás mal provido de ferro, carvão e outras matérias-primas de base, que tinham sempre de ser importadas. O número de fábricas, a produção de artigos manufacturados, o pessoal operário empregado atingiam números muito baixos, nos começos do século XX, sobretudo em comparação com outros países da Europa.

Capitais estrangeiros (ingleses sobretudo, mas também franceses, alemães e belgas) eximiam ao controlo nacional parte da pouca indústria existente, ao lado de importantes companhias comerciais, bancárias e de transportes. Esta situação, herdada pela Monarquia, fazia de Portugal republicano pouco mais do que uma colónia em larguíssimos aspectos.

Estes investimentos também se fizeram sentir no Couto Mineiro de Ervedosa. Verificámos, pela análise dos documentos, que esteve sempre sob o domínio de capitais estrangeiros, já que inicialmente pertenceu a uma sociedade francesa e depois, até ao seu encerramento, dependente de capital inglês.

De 1910 a 1926, desenvolveu-se sobretudo a indústria de conservas de peixe, entre outras de alimentação, a têxtil, a moagem, as indústrias de madeira e mobiliário, a metalúrgica e a corticeira. A maioria destas indústrias visava abastecer o mercado interno e o Ultramar.

Aquando a implantação da República, o nosso país era considerado, pelos especialistas, como um dos mais ricos do mundo em jazigos metalíferos. As explorações do cobre, do chumbo, do estanho, do carvão, do ferro, do antimónio e de outros metais estavam em grande desenvolvimento nos fins da Monarquia, ainda que houvesse falta de capitais portugueses para esse tipo de exploração. No entanto, era evidente o interesse das sociedades estrangeiras pela exploração do subsolo português. Assim, em 1911, o Conselho Superior das

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anos seguintes, aumentou o número de concessões em várias zonas do país, nomeadamente em Trás-os-Montes. A exploração do volfrâmio aumentou consideravelmente com a guerra de 1914-1918. O minério era utilizado no fabrico de material de guerra, de lâmpadas e máquinas, sendo Portugal considerado o país que fornecia dois terços da produção mundial.

Joel Serrão e Oliveira Marques na Nova História de Portugal registam que nos começos do século XX havia em Portugal Continental cerca de meio milhar de concessões mineiras, das quais mais de metade pertencentes a cidadãos ou firmas estrangeiras. No entanto, o peso da produção mineira, nas finanças do Estado, era mínimo, pois a irregularidade da produção caracterizava a indústria mineira, como podemos verificar pela seguinte passagem “Em 1900, por exemplo, extraíram-se mais de 450 000t de minério e em 1913 mais de 630 000. Mas já em 1915 estes números baixaram a 262 000t, reduzidas ainda, em 1920, a menos de 200 000, mais do que duplicaram no ano imediato e logo tornando a diminuir depois. A partir de 1921, todavia, a irregularidade na produção foi-se gradualmente atenuando, passando em contrapartida a registar-se um aumento, também gradual, nas quantidades de minério extraído.” (Serrão et al., 1991, p. 117).

Foi desta forma que a 1ª Guerra Mundial deu um grande impulso na produção mineira, tal como já foi referido anteriormente.

I.3.2. O Estado Novo

Até 1930, Portugal ia sofrendo constantemente golpes de estado, vivia-se numa constante instabilidade. O ano de 1930 é um ano decisivo. Terminava o confronto vivido internamente na Ditadura Militar (de um lado estavam os apoiantes da Republica implantada em 1910 e do outro os que queriam fundar uma nova ordem política, económica e social assente num Estado autoritário) e iniciava-se a construção dos alicerces fundamentais do Estado Novo, presidido pelo General Domingos de Oliveira e com Oliveira Salazar, como Ministro das Finanças. Em 1932, Domingos de Oliveira cedeu o lugar a Oliveira Salazar e este formou um ministério predominantemente civil. Tratava-se essencialmente de um Estado autoritário e corporativo.

O Estado Novo foi-se afirmando. Em 1934, a Assembleia da República criou um grupo de 90 deputados, propostos por uma única organização, a União Nacional. Durante o ano de 1936, duas organizações tipicamente fascistas, a Legião Portuguesa, ou corpo de voluntários para a defesa do regime, e a Mocidade Portuguesa, organismo paramilitar

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obrigatório entre os adolescentes, foram criadas, no meio de grande entusiasmo. Deste modo, o Estado Novo estava firmemente estabelecido.

Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial, (1939-1945), Portugal declarou-se neutral desde o início e pôde manter esta atitude devido à conjunção de uma série de factores. Apesar da posição neutral assumida por Portugal no conflito, sofreu os efeitos da guerra económica, em particular a partir de meados de 1941. Numa economia fortemente dependente do exterior relativamente a matérias-primas essenciais, bens intermédios (nomeadamente adubos, máquinas, aparelhos industriais e meios de transportes) e bens alimentares, a redução da oferta, por parte dos países envolvidos no conflito e ocupados, a queda e a irregularidade dos fornecimentos provocadas pela falta de capacidade das marinhas mercantes provocaram escassez, inflação e agitação social.

No entanto, o bloqueio, a existência de algumas matérias-primas estratégicas em Portugal (caso do volfrâmio) e a forte procura externa de alguns produtos industriais, como os têxteis e vestuário, num ambiente de neutralidade, criaram um incentivo adicional a certas actividades, além de meios financeiros, provenientes de uma balança de pagamentos e mesmo comercial positiva, entre 1941-1943.

Esta guerra económica referida acima, também se fez sentir no Couto Mineiro de Ervedosa. Verificámos que no relatório dos trabalhos executados no ano de 1941, iniciava-se com a informação do conflito internacional que irrompeu nos fins de 1939, e continuava intenso, envolvendo novos países, o que dificultava extraordinariamente a aquisição de materiais, ferramentas e máquinas necessária na exploração mineira. A empresa alertava também para uma grande procura de minério de volfrâmio e de estanho o que levava a uma grande exploração de jazigos, originando uma procura anormal de mão-de-obra, que se notava escassa neste couto mineiro. Com a falta de mão-de-obra, a empresa viu-se forçada a suspender alguns trabalhos. O relatório de 1942 continuava a registar as dificuldades sentidas, no Couto Mineiro de Ervedosa, devido à conflagração mundial. As dificuldades fizeram-se sentir a todos os níveis, nomeadamente, na aquisição de materiais, de máquinas e ferramentas indispensáveis para a exploração; nos problemas de transportes e a empresa possuía uma média de 500 operários (que com as suas famílias representavam uma população de cerca de 3.500 pessoas), que se encontravam completamente isoladas, por não haver próximo telégrafo ou telefone. A aquisição de bens alimentares também era difícil, originando muitas preocupações. No entanto, a empresa registava que as boas relações existentes, entre os sócios da empresa e as entidades inglesas, permitiram a aquisição de alguma maquinaria. Este

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A partir do ano de 1943, a Indústria Mineira de estanho deparou-se com um novo problema; em consequência da conflagração mundial, foi criada uma portaria que ordenava a suspensão das compras, pela Comissão Reguladora do Comércio de Metais, e não permitia as transacções entre particulares, quer sobre o metal, quer sobre os minérios, facto este que vinha afectar as empresas, que, desde muitos anos, imobilizaram capitais elevados nos estudos, traçagens, oficinas de força motriz, tratamento e aparelhagem das suas minas.

A empresa Tuella Tin Mines, Ldt., no relatório de 1943, definia-se como uma empresa que vivia de um lucro industrial certo, normal e não do lucro proveniente de especulação e das oscilações do preço provocadas por circunstâncias anormais. A empresa caracterizava-se, ainda, como sendo uma empresa de unidades económicas reais, permanentes que se integravam na estrutura económica da Nação. Esta Portaria não tinha qualquer efeito nas explorações que surgiram com o único fim de explorarem as jazigas para tirar o máximo de lucro, neste período excepcional, e abandoná-las em seguida, como de facto aconteceu, sem atenderem à economia nacional e ao operariado.

Deste modo, a empresa pedia às Instâncias Superiores uma revisão à Portaria, podendo, em consequência, a empresa paralisar por completo os seus trabalhos. Em consequência desta Portaria, em 1944, a empresa viu-se obrigada a reduzir as jornas e o valor dos salários. A título de exemplo, em 1939 a empresa pagou 123.295 jornas e, em 1944, 39.551 jornas. Houve um decréscimo significativo. Em 1945 e 1946, as circunstâncias eram idênticas à dos anos anteriores. A exploração mineira de Ervedosa manteve-se com alguma dificuldade, durante este período.

No relatório de 1948, a empresa registava que a maioria dos regulamentos decretados, durante a segunda Guerra Mundial, tinham sido abolidos, mas que ainda existiam algumas dificuldades e demoras na concessão das licenças de exploração, o que dificultava a expansão da empresa, como acontecia antes da guerra. No entanto, verificou-se um desenvolvimento na exploração, na beneficiação das instalações, e no aumento substancial do pessoal operário, o que beneficiou a Economia Nacional, aumentando o número de empregados e ainda o salário médio. Esta situação foi melhorando para a empresa, ao longo dos anos.

Uma das características do Estado Novo era o autoritarismo e a censura. Não podemos deixar de registar um episódio que ocorreu entre a empresa Tuella Tin Mines Ldt. e do Estado Novo, verificado, pela análise de alguns ofícios que datam de 1951 e 1952, trocados entre a empresa Tuella Tin Mines Ldt.; a Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos; a Direcção do Trabalho e Corporações e o Ministério da Economia.

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Tudo começou com um Aviso Prévio, publicado pela empresa Tuella Tin Mines Ldt., em 1 de Agosto de 1951. A empresa alertava para a necessidade de dispensar alguns operários, pelo facto de a taxa para o fundo de abastecimento por quilo de cassiterite ter aumentado, taxa essa imposta pelo Ministério da Economia.

Segue-se uma troca de correspondência entre a empresa Tuella Tin Mines Ldt., a Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos, a Direcção do Trabalho e Corporações e o Ministério da Economia para averiguarem a veracidade dos factos, pois a empresa, com o despedimento de operários, era acusada, pelo Ministério da Economia, de colocar as classes operárias contra o Governo da Nação, acusando-a de actos de propaganda.

A 20 de Maio de 1952 o Sub-secretário de Estado do Comércio e Indústria transmite ao Director Geral do Trabalho e Corporações que ouviu o Director Técnico da empresa, Joaquim Torquato Álvares Ribeiro e que este se mostrou indignado e até ofendido pelas acusações, pois nunca foi essa a intenção da empresa. Também foram ouvidos os administradores da empresa António D. Lindley e H. Donald Bennetts, declarando-se consternados com a incorrecção de pôr em causa o Ministério da Economia em causa, explicitamente, por despedirem os operários. Apresentaram as suas desculpas em nome da empresa, bem como tomaram inteira responsabilidade dos actos. Este assunto termina com um memorial resumindo os factos e arquivando-se o assunto. Concluímos que o Estado Novo estava atento a todos os movimentos que pudessem pôr em causa a imagem do seu governo.

Conclusão

Neste capítulo introdutório pretendemos estabelecer um quadro teórico para o estudo sobre as minas de Ervedosa, sublinhando as várias formas como a informação foi interpretada. No nosso entender, o funcionamento da mina pode ser interpretado como um fenómeno social em si, do qual derivam outros, em diferentes escalas. Toda a informação disponível pode ser catalogada em diversas áreas: politica, administrativa, social ou económica, pelo que tentaremos conciliar estas várias vertentes numa só narrativa. Realisticamente, não nos interessa aprofundá-las isoladamente, importa-nos antes ter uma visão conjunta, heterogénea, que faça justiça à realidade histórica e humana das Minas. Por isso, consideramos importante salvaguardar informações desconhecidas do público em geral,

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preservadas nos relatórios da empresa, confrontando-as (nos capítulos seguintes) com as memórias e os testemunhos possíveis.

Não foi (nem será) nossa intenção comentar as políticas postas em prática na época, nem aprofundar o contexto industrial do país, mas sim introduzir a realidade do espaço geográfico e económico das Minas de Ervedosa, sublinhando a sua natureza transmontana.

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Foto 2

Título: Rio Tuela e ponte pênsil.

Fotografia obtida por: arquivo pessoal de Carlos Lindley (década de 30).

II. CAPÍTULO

A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO

Introdução

A recolha de informação pode ser definida como o processo organizado, posto em prática, para obtenção de informações junto de inúmeras fontes, com o objectivo de ultrapassar determinado nível de conhecimento, no quadro de uma acção deliberada, cujos objectivos foram claramente definidos inicialmente e que apresentam uma validade reconhecida. Após determinarmos as informações que pretendemos recolher, é sempre necessário elaborar uma estratégia de recursos a métodos de recolha de informação. Os autores KETELE e ROEGIERS (1999, p.40) definem método como sendo “um conjunto mais ou menos estruturado e coerente de princípios que devem orientar o conjunto dos procedimentos de processo no qual se inscreve (nomeadamente as técnicas utilizadas). Uma técnica é um conjunto de procedimentos preestabelecidos que devem ser efectuados numa certa ordem e, eventualmente, num certo contexto mais ou menos condicionado consoante as

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observação; o recurso a questionários; e o estudo de documentos. De entre estas, a única que não utilizámos foi o questionário.

Para a elaboração deste trabalho recorremos às entrevistas e ao estudo de documentos, pois a maioria dos trabalhos científicos exige uma análise documental. Em alguns casos, servirá para complementar a informação obtida por outros métodos; noutros constituirá o método de pesquisa central. Quando iniciamos um estudo que inclui análise documental podemos escolher entre duas abordagens diferentes. Uma, designada por “abordagem orientada para as fontes”, a outra denominada “orientada para o problema”. A primeira é a própria natureza das fontes que determina o projecto e ajuda a formular as questões a que a investigação vai responder. A segunda, mais comum, implica formular perguntas através da leitura de fontes secundárias, ler o que já foi descoberto acerca do assunto em análise, para depois trabalhar com as fontes primárias (produzidas durante o período a ser investigado). As fontes podem ser documentos manuscritos, impressos ou audiovisuais, oficiais ou privados, pessoais ou provenientes de um organismo.

Cabe ao investigador procurar compreender, procurar descrever, explorar um novo domínio, pôr ou verificar uma hipótese, avaliar as prestações de uma pessoa, avaliar uma acção, um projecto, estes são os passos fundamentais para o êxito da investigação. Sendo o assunto principal do nosso trabalho relacionado com a actividade mineira e sendo uma actividade quase extinta no nosso país foi necessário inteirarmo-nos deste tema, bem como localizar a documentação relacionada com o respectivo assunto. Assim, houve necessidade de pesquisar a legislação e os regulamentos em vigor na época em estudo e aos quais facilmente tivemos acesso, na Biblioteca Nacional de Lisboa e na Biblioteca Municipal do Seixal (biblioteca escolhida para alguma consulta por ser a nossa área de residência). Quanto ao fundo documental relacionado com as minas de Ervedosa, a maioria foi obtida na Direcção Geral do Norte do Ministério da Economia, Direcção de Serviços de Indústria e dos Recursos Geológicos, no Porto (relatórios anuais que a empresa era obrigada a enviar à instituição competente). Também, consultámos, no Arquivo Histórico do Instituto Geológico e Mineiro, do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação - INETI, em Alfragide, concelho de Lisboa, o acervo documental do Ex-Instituto Geológico e Mineiro.

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TABELA COMPARATIVA  Produção das minas   Exportação e consumo
TABELA COMPARATIVA  Produção das minas   Exportação e consumo
TABELA COMPARATIVA  Produção das minas   Exportação e consumo
Gráfico 2 - Fonte: Boletim de Minas – 1912 -1939
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Referências

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