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II. 1.1.3 Processos das minas da Borralheira (nº 492); do Pereiro (nº493); do Alto do

II.2. Outros

II.2.1. Auto de Investigação

A notícia publicada no jornal nacional, A Voz, anteriormente referida e a preocupação das autoridades competentes em averiguarem a veracidade da situação, deu lugar a um Auto de Investigação. Este Auto de Investigação (anexo XXI), documento manuscrito, encontrámo- lo no Arquivo Distrital de Bragança (com a cota: ADBGC/GCBGC/CX:89MÇ266). As investigações iniciaram-se a 12 de Abril de 1933 e terminaram a 1 de Junho de 1933.

Após a sua leitura, observámos que foram convocados a depor, o sócio gerente da sociedade Tuella Tin Mines Ltd., Carlos Lindley, o jornalista que redigiu a notícia, bem como algumas testemunhas. No final, nada foi provado, no entanto, o relatório, lavrado pelo Vice- presidente da Câmara Municipal de Vinhais, Fernando Rodrigues Almendra, concluiu que as acusações, embora exageradas, tinham um fundo de verdade. A conclusão deste processo efectuou-se com o parecer do Secretário-Geral do Governo Civil, Raúl Teixeira, que concluía “nas minas não há trabalho obrigatório. Há trabalho quem quer e quem voluntariamente aceita as condições do contrato de prestação de trabalho. No caso de litígio Empresa e os assalariados, não é ainda, à Autoridade Administrativa que pertence dar-lhe solução. Em minha opinião, não se prova dos autos que haja qualquer contravenção de disposições legais.” Assim, se encerrou o Auto de Investigação. Aferimos que, independentemente da veracidade das versões, também se viviam alguns problemas sociais e económicos, nas minas de Ervedosa.

II.2.2. Actas da freguesia de Ervedosa

Inicialmente, a documentação mais acessível, para iniciar a investigação sobre as Minas de Ervedosa, foram as actas que se encontram na Junta de Freguesia de Ervedosa. Estes documentos, manuscritos, são constituídos por três livros. Um refere-se a um livro de actas, outro a um livro de correspondência e o terceiro a um livro de arrendamentos.

O livro de actas abrangia as reuniões da Junta de Freguesia, desde 1932 até 1977, com bastantes interrupções. Referente ao assunto em estudo, lemos que eram passados alguns atestados de residência para efeitos de casamento, a alguns empregados da empresa Tuella Tin

Mines,Ltd. Através destes dados, verificámos que muitos dos trabalhadores da empresa

Na reunião de 27 de Dezembro de 1936, registou que a freguesia de Ervedosa ofereceu novecentas a mil jeiras braçais, ao Director, para o rompimento da estrada que liga Santa Ana (Ervedosa) a Rebordelo (passando pelas minas). Em troca, na reunião de 3 de Janeiro de 1937, o Director da empresa Tuella Tin Mines Ltd., oferecia um empregado e ferramentas para a execução dos trabalhos. A 7 de Fevereiro de 1937, foi registado, em acta, que o povo foi informado de que era obrigatório o serviço braçal do troço da estrada que liga Ervedosa à empresa Tuella Tin Mines Ltd.

Na acta de 25 de Julho de 1937, (anexo XXII), foi aprovada a autorização para que Carlos Lindley fizesse plantações de pinheiros e outras árvores no sítio denominado Borralheira, baldio, limite desta freguesia. Mais se acrescentava que a Junta de Freguesia de Ervedosa vendia à empresa Tuella Tin Mines Limitada e passamos a citar:

“A junta de Freguesia de Ervedosa, concelho de Vinhais, distrito de Bragança, vende nesta data à empresa mineira Tuella Tin Mines Limitada os terrenos baldios que à mesma junta pertenceu no local denominado, Cabeço da Borralheira, que confronta pelo Sul com terrenos da referida Empresa, com o Norte com o caminho público da Soutilha aos lameiros da Gemielas, pelo nascente com terrenos da concessão “Borralheira”, e pelo poente com o atalho da Cantina Nova a Ervedosa, incluindo-se n’esta venda de terrenos todos os pinheiros e sobreiros existentes no mesmo e bem assim uma pedreira, tudo pelo preço quinhentos escudos 500$00, cem escudos 100$00 que dão nesta data entrada nos cofres da Junta de freguesia e de cuja importância damos quitação, tudo de conformidade com o lançamento feita n’esta data no respectivo livro das actas d’esta freguesia às folhas nº27 páginas (44) quarenta e quatro) e 45…”.

Ao longo das restantes actas, não se mencionou mais informação relacionada com este assunto, nem com as minas de Ervedosa.

No livro de correspondência que data de 1937 a 1938, apenas existia duas cartas dirigidas ao Exmo. Sr. Carlos Lindley. A primeira data de 24 de Maio de 1938, na qual o presidente da Junta de Freguesia informava que devolveu a ferramenta que Carlos Lindley tinha emprestado, mas que faltavam algumas peças que ainda não se encontravam na sua posse. A outra missiva data de 9 de Outubro de 1938 dirigida também ao Director da Tuella

Tin Mines Ltd. de Ervedosa e comunicava que lhe foi enviado um edital para afixarem num

lugar público.

O terceiro livro, referente a arrendamentos, tinha registos de arrendamentos de 1936 a 1964. Relacionados com receitas provenientes das minas apareceram registos em 1942, 1945, 1946, 1947, 1949 até 1963.

Através da análise dos assuntos tratados nos respectivos documentos, denotámos, mais uma vez, a importância das minas na freguesia de Ervedosa e o bom relacionamento que existia entre o director da Tuella Tin Mines Ltd., Carlos Lindley e os membros da Junta de Freguesia de Ervedosa. Pelo livro de arrendamentos verificámos que a Junta de Freguesia de Ervedosa beneficiava de um imposto pago pela empresa mineira, anualmente.

II.2.3. Relatórios

A fonte de informação que se revelou mais produtiva para a nossa investigação foi, sem dúvida, o conjunto dos relatórios dos trabalhos executados anualmente, pela concessão mineira Tuella Tin Mines Ltd.. Não foi fácil localizar esta documentação, no entanto, depois de alguns contactos, encontrámo-la na Direcção Regional do Norte do Ministério da Economia (DRN – ME) na Direcção de Serviços de Indústria e dos Recursos Geológicos, do Porto. Esta documentação apenas estava catalogada nos ficheiros manuais e pertenciam à antiga Circunscrição Mineira do Norte. As informações daí retiradas revelaram-se essenciais para a nossa visão dos factos.

Segundo a lei vigente na época em que as minas laboraram (Lei de 1892 e seguintes rectificadas), analisadas anteriormente, as concessionárias mineiras eram obrigadas a enviar, para as respectivas entidades competentes, os relatórios dos trabalhos executados durante o ano. Assim, encontrámos alguns relatórios que se tornaram importantíssimos para a construção do nosso trabalho. Os relatórios datam de 1914, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1945, 1946, 1948, 1949, 1951, 1958, 1960, 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965. Estes relatórios encontravam-se em pastas individuais e à medida que os anos iam avançando a informação era mais completa.

Junto ao primeiro relatório existia, também, um Auto, (anexo XXIII), numerado com o número dois e datado de 19 de Fevereiro de 1913. Este Auto informava que tinha havido uma visita às instalações da mina de estanho da Borralheira, que se encontravam em perfeitas condições para laborar, mas que, apesar de obedecerem a um plano coerente, este não tinha sido apresentado ao Governo, para aprovação. Deste modo, a empresa era intimada a apresentar um plano de lavra, dentro do mais curto prazo.

Depois deste Auto, a empresa francesa, Société des Mines d’Étain d’Ervedosa, apresentou o seu primeiro relatório, a 13 de Abril de 1914 (anexo XXIV). É o único relatório que encontrámos referente a esta empresa, todos os outros eram alusivos à sociedade Tuella

bastante completo pois situava o jazigo da Borralheira, a geologia, a sua formação, a sua mineralização, os trabalhos realizados em cada nível, a ventilação utilizada entre as galerias, os métodos de exploração utilizada na extracção do minério, a mão-de-obra utilizada e os projectos para esse mesmo ano.

Os restantes conferem-nos variada informação, tal como os trabalhos executados nas várias galerias subterrâneas; trabalhos e alterações realizados nas lavarias, ao longo dos anos, aperfeiçoando as técnicas, para uma melhor rentabilização do minério, nomeadamente, no relatório de 1937 verificou-se um grande investimento nas lavarias. A partir do relatório de 1941 e até 1946, os relatórios apresentavam algumas preocupações advindas dos problemas que a Europa vivia com a 2ª Guerra Mundial. Esse conflito internacional também se fazia sentir nas minas da freguesia de Ervedosa, particularmente na aquisição de materiais, aquisição de géneros alimentícios e no escoamento do minério, com a aplicação de nova leis. A partir do relatório de 1942, a informação era mais abundante, referia os melhoramentos feitos no acampamento do pessoal e na sua assistência, quer com os bem alimentares, quer com assistência médica. Estes relatórios serão analisados mais detalhadamente no capítulo seguinte, para completar a informação recolhida dos testemunhos orais.

Existe um relatório de 1969 que nos foi cedido pela filha de um dos sócios da empresa

Tuella Tin Mines ltd. Informou-nos que este relatório foi enviado ao seu pai, Donald Bennets,

e tinha como finalidade registar detalhes da geologia da mina e da área circundante incluindo uma avaliação da extensão da mineralização. Apresentava, também, um resumo da história, registo de produção, os métodos de exploração mineira, as concessões de arrendamento e registos e referia ainda a geologia geral e da mina, bem como, o material existente no encerramento da respectiva mina. Este relatório está redigido em inglês, (anexo XXV), pelo que apresentámos o relatório na língua original e uma tradução.

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