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ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES EM ADOBE DO SÉCULO XVIII E XIX EM LAPINHA DA SERRA, MINAS GERAIS.

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Academic year: 2021

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ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES EM ADOBE DO SÉCULO XVIII E

XIX EM LAPINHA DA SERRA, MINAS GERAIS.

AMÂNCIO, SAMARA LUÍZA SANTOS

1. Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável.

Rua Paraíba, 697, Savassi, 30130-140 – Belo Horizonte, MG - Brasil arquitetura.samara@gmail.com

RESUMO

As construções em adobe em Lapinha da Serra, Santana do Riacho- MG, constitui patrimônio cultural no âmbito material e imaterial, gerando uma identidade ao vilarejo. Formando um conjunto urbano carregado de simbolismo juntamente com a paisagem repleta de belezas naturais.

O foco da pesquisa é analisar as primeiras construções de Lapinha da Serra, que foram construídas com a tecnologia vernácula do adobe, edificadas com pouco recurso, através de mestres artífices que herdaram os saberes de seus antepassados.

A análise das construções será abordada através da Igreja católica estabelecida no vilarejo no século XVIII, construção em tijolos de adobe, que já passou por diversas reformas, alterando sua estrutura e revestimentos. E também serão analisadas as construções residenciais - também em adobe – a partir do século XVIII, que estão entre as primeiras construções do vilarejo. Porém hoje, são casas abandonadas, ruínas esquecidas que fazem parte da construção da paisagem cultural do vilarejo.

Entretanto, nesse artigo será apresentado as construções do século XVIII e XIX de Lapinha da Serra. Construções edificadas pela técnica rudimentar do adobe, apreciada por diversos turistas que movimentam a economia do vilarejo. Atualmente existe uma necessidade de conscientização da comunidade no intuito de preservar a continuidade da técnica do adobe e a preservação do conjunto urbano. Assim, preservando o patrimônio cultural e a identidade local. Possibilitando a valorização da restauração de antigas construções, de forma a preservar a técnica e a história.

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INTRODUÇÃO

Nesse artigo, será abordada as edificações antigas de Lapinha da Serra, que faz parte da memória do vilarejo - o vilarejo tem em média de 400 habitantes e clima subtropical úmido. Localizado no município de Santana do Riacho no Estado de Minas Gerais. Ao pé do Pico da Lapinha, o segundo ponto mais alto da Serra do Cipó com 1.687 metros. A região foi desbravada pelos bandeirantes no século XVIII e a partir do século XIX, os tropeiros começaram a interligar as áreas povoadas por meio do comércio, transportando especiarias como, cachaça, rapadura, azeite e farinha em lombos de burro.

Em Lapinha da Serra, a agricultura e a pecuária leiteira mantêm-se em baixa escala e o trabalho informal prevalece em grande escala. O turismo tem aquecido a economia local, se tornando uma das principais fontes de renda. Apesar de ainda não existir infraestrutura adequada para atender um grande número de turistas, a prática do ecoturismo tem crescido na região pelas belezas naturais do vilarejo, que incluem cachoeiras, lagos, grutas, rios, picos, sítios arqueológicos, fauna, flora, que possui um visual encantador, além da própria cultura local.

De acordo com a principal história contada pelos moradores, Lapinha foi fundada por apenas três famílias, que trabalhavam em fazendas da região. As construções eram feitas com adobe, um bloco preparado com uma mistura de terra, areia, e geralmente acrescentando palha. O adobe é produzido

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artesanalmente com técnicas rudimentares, percebendo-se em Lapinha da Serra a continuidade de geração em geração da técnica de construir em adobe. Desde as primeiras construções no vilarejo até as edificações atuais, a técnica do adobe permanece na cultura local de Lapinha da Serra, permanecendo na memória e tradição dos moradores. Enraizado no cotidiano da comunidade e às suas condições materiais de existência, o adobe em Lapinha da Serra é apropriado pelos moradores como importante elemento de sua identidade. Vamos analisar dois elementos do vilarejo, o primeiro, caracterizando a memória de Lapinha da Serra. Em outubro 1759, foi construída uma capela, a primeira edificação do vilarejo - segundo historiadores - desde então surgiram os primeiros colonizadores que foram construindo suas casas ao seu redor. O segundo elemento a ser estudado são as ruínas, constituídas por casas abandonas. Formando uma paisagem urbana carregada de significado.

ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

As pesquisas que envolvem a área de Arquitetura Vernácula têm em sua metodologia uma interface interdisciplinar, como as áreas da Geográfica, Antropologia, História além da Arquitetura. O eixo abordado dessa pesquisa é o da História.

Em relação à história, busca-se compreender os seus aspectos relacionados a memória, dos moradores. Além do papel do abobe na construção da Paisagem Cultural em Lapinha da Serra, uma abordagem histórica até os dias atuais.

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Nesta pesquisa, está se privilegiando as primeiras construções de Lapinha da Serra.

Tendo em foco a discussão abordada, é proposto analisar o estudo de caso a partir de uma revisão teórica sobre memória e ruínas, e suas definições, relacionando-o com o patrimônio de Lapinha da Serra, Santana do Riacho. A metodologia utilizada neste trabalho consiste em analisar as características identificadas na teoria, com situações percebidas in loco através de observações e verbalizações qualitativas (questionários e entrevistas) com moradores da região. A utilização do estudo de caso como metodologia foi escolhida por entendermos ser de grande valia analisar a importância de preservar a memória da comunidade, através da preservação das ruínas e da capela. Com o adobe como elemento construtivo principal, atuando na formação da identidade e da paisagem do vilarejo.

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HISTÓRICO DE LAPINHA DA SERRA

Há 143 quilômetros de Belo Horizonte, Minas Gerais. Lapinha da Serra - chamada de Lapinha de Belém por antigos moradores -distrito de Santana do Riacho munício que pertence a Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte e Microrregião de Sete Lagoas. O vilarejo faz parte da Área de Preservação Ambiental, Morro da Pedreira, cinturão de proteção do Parque Nacional da Serra do Cipó e integra o circuito da Estrada Real.

Apesar de muitas histórias terem se perdido com o tempo, existem diversos relatos sobre o surgimento de Lapinha da serra segundo antigos moradores. De acordo com a principal delas, Lapinha foi fundada por apenas três famílias que trabalhavam em fazendas da região, explica a relação de parentesco entre os moradores. A região de Santana do Riacho teve sua ocupação ligada à exploração diamantífera, desbravada por bandeirantes, ainda no século XVII. No século seguinte, Lapinha da serra era ponto de apoio aos tropeiros que passavam pela região, interligando as áreas povoadas através do comércio, transportando especiarias em lombos de burro.

Em 1759, foi construída a primeira edificação do vilarejo, segundo historiadores uma capela, existente até os dias de hoje, na praça principal do vilarejo. Desde então, as primeiras casas foram construídas ao seu redor pelos primeiros moradores. Em meados de 1836, com o nome de Riacho Fundo, o vilarejo foi

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incorporado como distrito nas cidades: Morro do Pilar, Conceição do Mato Dentro, Santa Luzia e Jaboticatubas.

Os primeiros turistas eram mochileiros que passavam pelo município para seguir até a Cachoeira do Tabuleiro em Conceição do Mato Dentro. O ecoturismo passou a ser mais explorado a partir da década de 50. Em dezembro de 1962, houve a emancipação, Riacho fundo passou a ser chamar Santana do Riacho, tornando-se um município. No início dos anos 90, a região já era bastante visitada pelos turistas. Em 1999 a estrada que liga Santana do Riacho à Lapinha da Serra foi aberta, facilitando o acesso e beneficiando o turismo.

O ecoturismo, atraindo os turistas aquece a economia do vilarejo, que hoje é a principal atividade econômica. Gerando diversas pousadas e casas para aluguel além da feirinha de arte e artesanato aos sábados, que é uma iniciativa de artistas, artesãos e moradores locais que expõem e vendem suas obras aos visitantes do vilarejo. Além de artesanatos, na exposição é possível encontrar roupas e alimentos, preparados com produtos colhidos no próprio vilarejo.

O ADOBE AS RUÍNAS E A MEMÓRIA

O vilarejo de Lapinha da Serra está inserido no contexto da Serra do Espinhaço, entretanto a paisagem é caracterizada por afloramentos rochosos, presença de lapas, grutas, cachoeiras e sítios arqueológicos. O clima da região é caracterizado, segundo o IBGE, como tropical mesotérmico brando semiúmido, com temperatura média anual de 21,9 °C com invernos frios e

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secos e verões quentes e chuvosos. O adobe é utilizado em diversas lugares do mundo, e especialmente nas regiões quentes e secas.

Figura 2 – Muro em adobe e a represa ao fundo, acervo pessoal.

Entretanto, em Lapinha da Serra o clima torna-se apropriado para construções em adobe. A disponibilidade abundante de matéria prima - a terra - e a falta de estradas que davam acesso ao município contribuíram para que o adobe fosse a principal técnica construtiva utilizada nas antigas edificações. Desde a primeira edificação, no século XVIII, com a construção da Igreja Matriz de Lapinha da Serra, permanecendo até os dias atuais.

A igreja Matriz

A Igreja Matriz de Lapinha da Serra foi construída em Adobe, é uma pequena capela situada na praça central de Lapinha da serra. Essa edificação está

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enraizada na memória dos moradores. Devido o motivo que todos os eventos festivos e culturais acontecem na praça da igreja.

Além de ser a primeira edificação, a partir dessa construção, casas foram construídas ao seu redor no século XVIII. Apesar da igreja fazer parte da memória da comunidade, de acordo com relatos de moradores, a capela sofreu 3 reformas, descaracterizando-a, sendo que atualmente substituíram a estrutura original em madeira por estrutura de concreto armado.

Figura 3 e 4 – Capela do século XVIII, acervo pessoal, 2016.

A capela ainda é utilizada, mas as missas atualmente acontecem em uma nova igreja, construída ao seu lado, em alvenaria estrutural. O que mais uma vez, descaracteriza a tradição da cidade com o uso do adobe nas construções.

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Figura 5 – Capela onde acontecem as missas atualmente, acervo pessoal, 2016.

A técnica do adobe trata-se de um processo vernacular de arquitetura, onde é usado materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída. Assim, apresentando caráter local ou regional. Uma forma de construção desenvolvida pela população nativa, para atender suas necessidades de moradia e abrigo. O adobe é designado como um dos antecedentes históricos do tijolo de barro e a essência do seu processo construtivo é similar a alvenaria. A técnica entre os moradores de Lapinha da Serra foi herdada dos seus antepassados. Antigamente, os próprios moradores construíram suas casas, com a produção dos tijolos no fundo dos terrenos. Atualmente, com o desenvolvimento da indústria da construção civil e a facilidade de acesso á Lapinha da Serra, percebemos a inserção de novos materiais construtivos. Segundo alguns entrevistados, apesar de entenderem que o adobe faz parte da identidade local, a população em geral valoriza mais construções com outras técnicas construtivas, o que eles designam moderno. Afirmando o adobe ser uma técnica trabalhosa, chegando a encarecer a obra.

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No entanto, algumas construções mais recentes estão descaracterizando a paisagem cultural, com outras técnicas construtivas. Apenas o muro frontal de algumas casas e alguns detalhes internos são feitos em adobe aparente, no intuito de preservar os traços da tradição construtiva do vilarejo.

As ruínas do século XVIII

Ao observarmos as construções em adobe pelas ruas sem calçamento, as histórias dos moradores e a experiência dos mestres artífices, percebemos que o adobe faz parte da história e identidade de Lapinha da Serra. Com grande significado e importância na cultura regional, o conjunto urbano em adobe constitui a paisagem cultural em Lapinha da Serra.

Necessitando ser preservado e incentivado entre os moradores, para que haja continuidade dos saberes. Podemos perceber na imagem abaixo, dois exemplos de casas em ruína, abandonadas, onde a criação humana se articula com o passado. A memória dessas ruínas ainda existem? Tanta riqueza, tantas histórias e tantos saberes, perdidos no tempo.

“Sem dúvida, aquela tranqüilidade é facilmente associada a um outro motivo: o caráter de passado da ruína. Ela é o sítio da vida, do qual a vida se separou - isto não é algo simplesmente negativo e nem um pensamento acrescentado, como nas incontáveis coisas que outrora flutuaram na vida, que foram casualmente lançadas à sua margem, mas que, com respeito à sua essência, poderiam ser novamente levadas por sua correnteza, mas sim a vida que com sua riqueza e suas mudanças uma vez habitou aí.”- Georg Simmel

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Figura 6 e 7 – Casa abandonada do século XVIII, acervo pessoal, 2016.

Figura 8 e 9 –Casa do santo : abandonada do século XVIII, acervo pessoal, 2016.

CONCLUSÃO

Devido à disponibilidade da terra argilosa no sítio onde se situa o município de Lapinha da Serra, este elemento está presente na paisagem urbana, marcado nas edificações. É uma matéria prima de grande valor na história das construções do vilarejo, tanto pela tradição do uso deste material, quanto pelas lembranças presentes nos dias atuais através das edificações que se encontram preservadas. As construções são executadas de forma rudimentar, feita sem arquitetos, utilizando

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materiais locais e desenvolvida pela população para atender as demandas da própria comunidade nativa da região, uma técnica vernacular.

As edificações em adobe caracterizam-se pela resistência e durabilidade, que encontram-se preservada no vilarejo de Lapinha da Serra. Entretanto, para que estas edificações sejam preservadas para usufruo das futuras gerações, é necessário que sejam tomadas as devidas ações de manutenção e conservação necessárias. Apesar da facilidade do uso de materiais contemporâneos, percebe-se, entretanto, que este conhecimento de construir em adobe e o “saber fazer”, passado empiricamente e por meio da oralidade, permanece no vilarejo de Lapinha da Serra.

Percebemos que o fator de continuidade na técnica construtiva com adobe, deriva-se ao fato de ser um vilarejo pequeno com uma média de 400 moradores, facilitando uma experiência familiar de transição de saberes. Antigas construções, com poucas exceções, são restauradas utilizando o tijolo de adobe nas vedações, e novas edificações são erguidas, utilizando o adobe como sistema construtivo, como antigamente. Apesar de haver algumas interferências com outras técnicas, a terra ainda destaca-se como um dos principais materiais de construção utilizados.

É necessário haver uma gestão eficaz, o turismo ambiental e cultural que tem se intensificado anualmente, pode se tornar um aliado à preservação da paisagem cultural ou um fator degradante. Com o crescimento dos turistas, é necessário melhorar a infraestrutura e preservar as riquezas e atrativos locais para que a visitação aconteça e se mantenha. Porém, até que ponto o desenvolvimento em Lapinha da Serra preservaria sua identidade?

A preservação da memória e das ruínas deve ter além do caráter estético, embelezador, uma preocupação social com a população de Lapinha da Serra, que deve ser incluída nesse processo, visando à preservação da história, que caracteriza as raízes dos moradores. Deve-se valorizar a cultura e se promover o fortalecimento

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da identidade local através do incentivo à preservação da técnica tradicional de construção em adobe e, especialmente, na formação de novos mestres construtores.

REFERÊNCIAS

SOUZA, Jessé e ÖELZE, Berthold. Simmel e a modernidade. Brasília: UnB. 1998. CASTRIOTA, L.B. 2009. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009.

SANT’ANNA, Marcia. Arquitetura Popular: Espaços e Saberes. Politicas Culturais em Revista, 2(6), p. 40-63, 2013 – www.politicasculturaisemrevista.ufba.br.

FERREIRA, Thiago Lopes. Um olhar sobre os processos de produção das

culturas construtivas tradicionais. Revista de pesquisa em Arquitetura e Urbanismo.

Programa de pós graduação do instituto de arquitetura e urbanismo IAU – USP. P. 78 -87.2012.

Ricoeur, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução:Alain François [et.al.]. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.

Castriota, Leonardo Barci (coordenador). Mestres Artífices de Minas

Gerais. Cadernos de Memória. Brasília: IPHAN, 2012.

Fontes

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portal.iphan.gov.br www.lapinhadaserra.com.br portal.iphan.gov.br www.portaldalapinha.com.br/ www.guiadalapinha.com.br www.ibge.gov.br

Referências

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