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Aplicação de geotecnologias na análise
de viabilidade técnica e econômica do
projeto de implantação do IFMA - Campus
Centro Histórico/Itaqui-Bacanga
Maelckson Bruno Barros Gomes1;
André Luis Silva Santos2; 1 Bacharel em Engenharia Civil pelo Instituto Federal do Maranhão - Campus Monte Castelo. E-mail: barrosgomes.bruno@gmail.com; 2 Doutorado em Ciência e Engenharia de Petróleo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professor do Instituto Federal do
Maranhão. E-mail: andresantos@ifma.edu.br;
Recebido em 31/07/2020; Aceito em 04/11/2020; Publicado na web em 09/02/2021 DOI: http://dx.doi.org/10.35818/acta.v14i2.949
RESUMO
Este artigo tem por objetivo aplicar geotecnologias para obtenção de informações pla-nialtimétricas a fim de avaliar a viabilidade de implantação do campus Centro Histórico/ Itaqui-Bacanga do IFMA. Considerando que para realização de levantamento por métodos tradicionais é recomendado que seja realizado o destocamento e a limpeza do terreno previamente, avaliou-se a realização do levantamento planialtimétrico a partir de um par de receptores Global Navigation Satellite System (GNSS) pelo método Real Time Kinematic (RTK) pós processado e também a partir da realização de levantamento fotogramétrico, utilizando aeronave remotamente pilotada (ARP), popularmente conhecida como drone. Esta análise permitiu demonstrar que o aerolevantamento com a ARP pode ser aplicado na concepção inicial de um projeto de engenharia, conforme classificação do Tribunal de Contas da União (TCU) para níveis de precisão, pois obteve-se uma diferença orçamentá-ria de 19% entre os projetos elaborados a partir das duas geotecnologias.
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Geotechnologies aplication for analysis
of technical and economic feasibility of
IFMA Campus Centro
Histórico/Itaqui-Bacanga project implantation
ABSTRACT
This paper aims to apply geotechnologies to obtain planialtimetric information to evaluate the feasibility of IFMA Campus Centro Histórico/Itaqui-Bacanga implantation. Considering that for the survey by traditional methods it is recommended that land clearing and grubbing must be carried out previously, the planialtimetric survey realization was evaluated from a pair of Global Navigation Satellite System (GNSS) receivers by the Real Time Kinematic method (RTK) post-processed and from the photogrammetric survey using remotely piloted aircraft (RPA), popularly known as drone. This analysis shown that the aerial survey with the RPA can be applied in the initial conception of an engineering project, according to the classification of the Tribunal de Contas da União (TCU) for precision levels, since a budget difference of 19% was obtained between the projects elaborated using the two geotechnologies.
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1 INTRODUÇÃO
Para a análise da viabilidade de implantação de uma obra de engenharia é importante, dentre diversas informações, a obtenção prévia de dados planialtimétricos da área em que se pretende construir. A forma de investigar o comportamento da superfície de um terreno, ou seja, a obtenção de infor-mações tridimensionais, passou por consi-deráveis modificações ao longo do tempo, muito por conta da evolução dos equipa-mentos e da informática. O avanço tecno-lógico impactou praticamente todas as áreas da ciência, nesse contexto surgem termos como geotecnologias. Segundo Fitz (2008), as geotecnologias podem ser entendidas como novas tecnologias ligadas às geociên-cias e às ciêngeociên-cias correlatas, as quais trazem avanços significativos no desenvolvimento de pesquisas, em ações de planejamento, em monitoramento e em outras atividades refe-rentes à estrutura do espaço geográfico. As técnicas de sensoriamento remoto e a fotogrametria surgem para explicar a ciên-cia usada para obter medidas e informações da superfície terrestre sem contato dire-to com ela. Essas técnicas, de uma forma abrangente, ocorrem registrando na forma de imagens digitais a energia eletromagné-tica captada por sensores de imageamento (BIELENKI JÚNIOR; BARBASSA, 2012). Segundo Tuler e Saraiva (2014), o levanta-mento fotogramétrico consiste na medição das distâncias e dimensões reais de objetos pelo uso da fotografia. Esta técnica era até pouco tempo tida como um serviço dema-siadamente oneroso, pela logística envol-vida no aerolevantamento, que abrange captura de fotos em campo até o alto
va-lor dos softwares de processamento. Com o advento de aeronaves remotamente pilota-das (ARP) com sensores embarcados, disse-minou-se o uso de aerolevantamentos em várias áreas: agricultura de precisão, plane-jamento urbano, levantamentos planialti-métricos, monitoramento pecuário, inspe-ção de linhas de transmissão, entre outros. Considerando os métodos como são obti-das as informações planialtimétricas com os medidores eletrônicos de distância (MED) conforme NBR 13133 - Execução de levan-tamento topográfico, não é recomendado realizar um levantamento topográfico sem a prévia limpeza do terreno. Tendo em vista que, a depender da área a ser levantada e das condições desse terreno, podem ser ne-cessários investimentos vultuosos para tor-nar possível o levantamento com os MEDs. Sendo assim, este artigo busca avaliar tec-nologias alternativas para obter-se dados planialtimétricos de um terreno, sem a ne-cessidade de prévia limpeza da área, optou--se por duas geotecnologias: GPS geodésico e Aeronave Remotamente Pilotada (ARP), popularmente conhecida como drone.
2 METODOLOGIA
O presente trabalho fundamentou-se por meio de revisão bibliográfica e pesquisa de campo para investigar dois diferentes mé-todos de se obter dados geodésicos, compa-rando resultados e analisando viabilidade técnica e orçamentária.
A fase inicial consistiu em investigação bi-bliográfica, utilizando-se de livros, manu-ais, dissertações de mestrado e teses de dou-torado realizados nessa linha de pesquisa.
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Nesta etapa buscou-se o entendimento da ciência por trás das diferentes formas de levantamento geodésico e da aplicabilida-de das tecnologias e métodos utilizados. A consolidação dessa investigação bibliográ-fica está presente em Gomes (2019).
Posteriormente, procedeu-se a etapa de cam-po da pesquisa. A área escolhida para reali-zação dos levantamentos está localizada no bairro Vila Embratel, na cidade de São Luís, Maranhão (Figura 1). Tem aproximadamen-te 4,97 hectares e faz paraproximadamen-te do patrimônio imóvel do IFMA, onde se pretende implantar as instalações do campus Centro Histórico/ Itaqui-Bacanga. Nesta área foram executados os seguintes levantamentos: Levantamento geodésico com par de receptores GNSS pelo método Real Time Kinematic pós processado (RTK PP) e Aerolevantamento com ARP.
Figura 1: Área de estudo:
Fonte: Autores, 2019.
No levantamento RTK PP foram utilizados receptores GNSS (Figura 2) e Controlador de campo da fabricante Topcon, modelos Hyper V e FC-5000, respectivamente. Para processa-mento dos dados (ajustaprocessa-mento das coorde-nadas) foi utilizado o Software Magnet Tools.
Figura 2: Maleta com o par de receptores
GNSS utilizados na pesquisa:
Fonte: Autores, 2019.
O aerolevantamento foi realizado com a ae-ronave multi-rotor MAVIC PRO da fabricante DJI (Figura 3), com sensor de imageamento de 12 MP. Para planejamento do voo utili-zou-se o Software Drone Deploy e para análi-se prévia da área a ser levantada, o Software
Google Earth. Como pontos de apoio foram utilizadas placas de madeira compensada de 50x50 cm. Para processamento das imagens capturas no aerolevantamento fotogramétri-co utilizou-se o Software Agisoft Metashape.
Figura 3: Aeronave utilizada no aerolevantamento:
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Após os levantamentos, executou-se o pro-cessamento de ambos com o intuito de ob-ter os produtos finais, que são a nuvem de pontos, o MDT e o ortomosaico. Por fim, ve-rificou-se a aplicabilidade de um projeto de terraplenagem concebido com o MDT, onde a altimetria dos pontos foram as obtidas com a ARP. Essa análise consistiu em verifi-car como as discrepâncias impactavam nos volumes gerados em termos orçamentários.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Levantamento pelo método RTK
Em campo, primeiramente foi implanta-do o piquete referente ao ponto base, bem como gerou-se a monografia desse ponto (Apêndice A), conforme NBR 13133 (ASSO-CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI-CAS, 1994, p. 9):
Os pontos planimétricos do apoio básico e as referências de nível im-plantados e materializados no ter-reno devem ter fichas individuais (monografias), contendo itinerários de acesso, croqui com orientação, amarrações, testemunhas ou outras informações que conduzam a uma perfeita localização e identificação.
No ponto base, materializado pelo piquete, ocupou um dos receptores GNSS, o critério de escolha foi o de um local seguro no qual não houvesse interferência de antenas, edi-ficações e árvores adjacentes, fluxo de pe-destres e veículos. O receptor GNSS (base) foi instalado e permaneceu recebendo da-dos de satélites referente ao posicionamen-to por aproximadamente 5,0 horas.
O IBGE publicou em 2017 o documento intitulado “Especificações e Normas para Levantamentos Geodésicos associados ao Sistema Geodésico Brasileiro” que, dentre outras, recomenda que, para obtenção de precisão milimétrica em um levantamen-to geodésico, deve-se prover um tempo mínimo de observação do ponto de 4 h. Como já mencionado, o tempo de observa-ção foi de aproximadamente 5 h. Durante esse tempo, coletou-se pontos abrangendo toda a área de estudo, priorizando locais com acentuados desníveis e com presença de árvores, de tal forma que fosse possível verificar o comportamento do terreno nes-tes locais, em escritório. Ao fim do levanta-mento obteve-se um total de 202 pontos, conforme figura a seguir.
Figura 4: Localização dos pontos coletados
pelo método RTK:
Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.
3.1.1 Processamento das informações
O primeiro processamento realizado foi o das coordenadas da base. Para tanto, ex-traiu-se os arquivos armazenados no cartão
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de memória de cada receptor e utilizou-se o serviço oferecido pelo IBGE denominado Posicionamento por Ponto Preciso (IBGE--PPP) que tem como objetivo o ajustamen-to das observações feitas em campo através de Estações de Referência. Em seguida, uti-lizou-se o Software Magnet Tools para obten-ção das coordenadas planialtimétricas finais corrigidas dos pontos coletados com o rover.
3.2 Aerolevantamento
A obtenção de informações tridimensionais com o aerolevantamento realizado está re-sumida no fluxograma da figura 5. Inicial-mente, procedeu-se uma análise expedita, ainda em escritório, da área levantada atra-vés do Software Google Earth, que consistiu em visualizar os limites do terreno e pla-nejar a distribuição dos pontos de apoio. A implantação dos alvos nas linhas de voo e nas bordas da área sobrevoada (COELHO; BRITO, 2009) foi impossibilitada devido a presença de obstáculos.
Assim sendo, os critérios para definição dos locais foram: a quantidade de placas disponíveis para esta pesquisa (10), a dis-tribuição homogênea das placas no terreno levantado e a ausência de qualquer outro obstáculo que impedisse a visualização das placas no momento de captura da cena. Na figura 6 temos a localização final dos pontos de apoio, onde os marcadores M1, M2, M3 e M4 são os limites do terreno per-tencente ao IFMA e os marcadores P1 a P10 são os locais onde determinou-se que de-vem ser implantadas as placas (alvos).
Figura 5: Fluxograma de etapas realizadas
no decorrer do aerolevantamento:
Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. Figura 6: Localização dos pontos de apoio:
Fonte: Elaborado pelos autores, 2019
Com o auxílio do GPS de navegação, dis-tribuiu-se as placas no terreno. Em seguida, iniciou-se o aerolevantamento com a ARP, às 08 horas e 18 minutos de 19 de outu-bro de 2019, com o objetivo de suavizar a incidência de sombras no terreno devido à inclinação do sol.
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A princípio estava previsto um único voo de aproximadamente 13 minutos para sobrevo-ar toda a área pretendida, porém, devido às perdas de estabilidade e vsobrevo-ariações na veloci-dade do vento que fizeram com que a ARP saísse da rota planejada, houve a necessiveloci-dade de abortar o voo por duas vezes e reiniciar a partir da última cena capturada ainda na rota planejada. Assim, foi necessário pouco mais de 1 hora para finalizar o aerolevantamento, encerrando-se às 9 horas e 20 minutos.
Finalizado o aerolevantamento, iniciou-se o levantamento geodésico para a obtenção de coordenadas do centro de cada placa distribuída no terreno (pontos de apoio). Este foi fei-to com o recepfei-tor GNSS (rover) através do méfei-todo estático rápido, permanecendo sobre cada alvo aproximadamente 5 minutos.
3.2.1 Processamento das informações
O primeiro processamento realizado foi o das coordenadas dos pontos de apoio. Para tan-to, utilizou-se o Software Magnet Tools para a obtenção das coordenadas planialtimétricas finais corrigidas. As coordenadas finais foram as da tabela a seguir:
Tabela 1: Coordenadas dos pontos de apoio:
Descrição UTM SUL UTM OESTE Elevação (m)
BASE 9716200.106 575749.677 29.800 P10 9716035.022 575505.343 29.474 P9 9716056.248 575583.256 29.410 P8 9716011.14 575631.254 28.565 P7 9716044.886 575732.845 28.955 P6 9716082.859 575673.325 29.206 P5 9716152.624 575698.241 29.172 P4 9716135.895 575619.178 28.547 P3 9716181.952 575527.476 27.107 P2 9716215.077 575566.441 26.594 P1 9716255.37 575536.604 28.529
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
De posse das coordenadas, iniciou-se o processamento das imagens capturadas no aerole-vantamento com o Software Agisoft Metashape versão 1.5.5. A aeronave vem com um GPS embarcado (sensor de posição), entretanto, de baixa precisão. No momento da captura de cada cena é armazenado em cada foto as coordenadas em que foram obtidas. Nos arquivos de cada foto constam informações como: data, hora, local de captura, dimensões, resolu-ção, características da câmera, etc; essas informações recebem o nome de metadados. Os metadados são interpretados pelo software e auxiliam no processamento na qual as etapas realizadas estão sintetizadas cronologicamente na figura a seguir:
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Figura 7: Procedimentos realizados no
Agi-soft Metashape:
Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.
Inseriu-se as imagens (fotos obtidas do ae-rolevantamento), os 10 pontos de apoio e selecionou-se o SIRGAS2000 como DATUM de referência. Com base nos pontos homó-logos de cada foto é realizado o alinhamen-to das imagens.
Após o alinhamento, deve-se indicar em cada foto que contenha os alvos (Figura 8a), os marcos correspondentes a cada alvo (Fi-gura 8b), cada marco contém as coordena-das geodésicas obticoordena-das com o par de recep-tor GNSS. Essa etapa é a mais importante do processamento haja vista que o ajustamen-to das coordenadas das placas (ponajustamen-tos de
apoio) será o responsável por georreferen-ciar o levantamento e prover precisão aos produtos finais. (ALVES JÚNIOR, 2015)
Figura 8a e 8b: Defasagem entre o
mar-cador e o ponto de apoio correspondente; marco sinalizado no ponto de apoio (alvo).
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Posteriormente à indicação dos marcos em cada ponto de apoio, ocorreu um realinha-mento, mais preciso que o primeiro, pois utiliza coordenadas corrigidas dos pontos de apoio. Em seguida, procedeu-se a densi-ficação da nuvem de pontos. Os parâmetros estabelecidos no processo de densificação são responsáveis pelo nível de detalhe dos produtos finais, portanto, objetivando uma boa qualidade destes, optou-se pelos parâ-metros máximos de densificação, evento que demandou um tempo de processamen-to elevado, cerca de 6 horas.
Após a densificação da nuvem de pontos é necessário realizar a filtragem dos pontos, a fim de obter o MDT. Para isso, utilizou--se a opção de classificação automática dos pontos disponível no software, que envolve parâmetros de análise ponto a ponto, com-parando o ângulo da diferença de posição de um ponto em relação aos adjacentes e, também, o provável comprimento de ob-jetos que não representem o solo, como
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vegetação, edificações e carros. A classifica-ção automática é considerada satisfatória por aparentemente ter filtrado considerá-vel parte dos pontos que representavam as copas de árvores e as edificações existentes nas cenas capturadas, todavia, ainda assim, procedeu-se um refino da filtragem de for-ma for-manual, selecionando os pontos que visivelmente não representavam o solo e deveriam ser classificados como vegetação. Após a classificação automática e o refino da classificação manualmente, considerou--se a filtragem concluída, conforme repre-sentado na Figura 9.
Figura 9: Classificação da nuvem densa de
pontos:
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
De posse da classificação, gerou-se o Orto-mosaico, o Modelo Digital de Superfície (MDS) e o MDT (Figura 10). Por fim, ex-portou-se os produtos gerados em forma-tos compatíveis com os softwares Civil 3D e Bentley Topograph, para execução de projetos de terraplenagem e análise das altimetrias nos pontos comuns aos dois levantamentos.
3.3 Projeto de Terraplenagem
Os projetos de terraplenagem de um lotea-mento geralmente contêm a amarração do platô a ser implantado em relação a alguma referência, os detalhes das seções transver-sais e os cálculos de volumes. Saber os vo-lumes gerados após o terrapleno de uma plataforma é substancial para verificar a via-bilidade de implantação, bem como a patru-lha necessária para executar o pretendido. Pontes Filho (1998) diz que o método para calcular volumes consiste em considerar o volume como proveniente de uma série de prismóides (sólidos geométricos limitados nos extremos por faces paralelas e lateral-mente por superfícies planas). O volume do prismóide é calculado pela Equação 1:
V = L/6.(A1+4.Am+A2) (1) Onde A1 e A2 são as áreas das seções trans-versais extremas, Am é a área da seção trans-versal no ponto médio entre A1 e A2 e L é a distância entre as seções A1 e A2.
Diante disso, procedeu-se a execução dos dois projetos de terraplenagem, utilizando o Sof-tware Bentley Topograph que permite calcular volumes pelo método dos prismas. O primei-ro pprimei-rojeto foi realizado utilizando o modelo digital do terreno (MDT) concebido com o método do RTK (Figura 10). O segundo foi realizado utilizando como base planialtimé-trica o MDT obtido com as mesmas quanti-dades de pontos e nos mesmos locais do mé-todo RTK, porém, com as altitudes obtidas através do aerolevantamento (Figura 10). Em cada MDT implantou-se um platô com cota 29,00 m, com área em planta de
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15.400,00 m² e taludes de corte ou aterro, ambos com inclinação de 1:1(um metro hori-zontal para um metro vertical). O resumo dos volumes obtidos nos dois projetos está na Tabela 2. Observa-se que, no projeto implantado nos dois modelos, há um erro maior para o serviço de corte (38,9%), em relação ao serviço de aterro (19,6%).
Tabela 2: Resumo de volumes dos projetos:
RESUMO DOS VOLUMES
ARP Corte: 508,499 m³ Aterro: 17.043,973 m³ RTK Corte: 366,102 m³ Aterro: 14.252,348 m³ DIFERENÇAS Corte: 142,397 m³ Aterro: 2.791,625 m³ Corte: 38,9 % Aterro: 19,6 %
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
Figura 10: MDT e projeto obtido com o RTK (esquerda) e MDT e projeto obtido com o
ARP (direita).
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3.4 Orçamento
Executou-se o orçamento dos dois modelos, para tanto utilizou-se como base o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI) – publicado no mês de setembro do ano de 2019 para a cidade de São Luís - MA. O SINAPI é largamente utilizado como referência para estimar custos de obras civis, inclusive indicado por órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU).
No caderno técnico de composições referente aos serviços de: • Aterros, bases, sub-bases e imprimações;
• Transporte com caminhão basculante.
É possível obter de cada serviço aferido, os itens que compõem o serviço e suas caracterís-ticas, ou seja:
a) Mão de obra;
b) Material e equipamentos;
c) Os critérios para quantificação, aferição e medição dos serviços;
d) E como deve ser feita a execução para que se encaixe no valor que representa a composição. Após análise dos cadernos técnicos executou-se orçamento com as quantidades obtidas em cada projeto, conforme Tabela 2. A composição de código 96385 orienta que deve ser utilizado o volume de aterro proveniente do projeto geométrico para orçar o serviço. A composição 74154/1 recomenda usar o volume de corte obtido no projeto geométrico. Por sua vez, a composição 93591 orienta multiplicar o volume a ser retirado do emprés-timo, por uma distância média de transporte (DMT), para este orçamento considerou-se uma DMT de 10 km.
Quadro 1: Orçamento do projeto de terraplenagem (ARP):
Orçamento dos serviços de terraplenagem (ARP) – Base SINAPI: 09/2019 – São Luís/MA Código
do
serviço Descrição Unid. Quant.
Preço
unit. Preço por serviço
96385 Execução e compactação de aterro com solo predominantemente argiloso - exclusive
escavação, carga e transporte e solo. m³ 17.043,97 R$ 4,78 R$ 81.470,19 74154/1 Escavação, carga e transporte de material de 1a categoria com trator sobre esteiras
347 hp e caçamba 6 m³, DMT 50 a 200 m. m³ 508.50 R$ 3,65 R$ 1.856,02 93591 Transporte com caminhão basculante de 14 m³, em via urbana em leito natural. m3.km 170.439,73 R$ 1,18 R$ 201.118,88
Preço total (terraplenagem - ARP) R$ 284.445,09
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Quadro 2: Orçamento do projeto de terraplenagem (RTK):
Orçamento dos serviços de terraplenagem (RTK) - Base SINAPI: 09/2019 – São Luís/MA. Código
do
serviço Descrição Unid. Quant.
Preço
unit. Preço por serviço
96385
Execução e compactação de aterro com solo predominantemente argiloso - exclusive escavação, carga e transporte e solo.
m³ 14.252,35 R$ 4,78 R$ 68.126,22 74154/1
Escavação, carga e transporte de material de 1a categoria com trator sobre esteiras 347 hp e caçamba 6 m³, DMT 50 a 200 m.
m³ 366,10 R$ 3,65 R$ 1.336,27 93591 Transporte com caminhão basculante de
14 m³, em via urbana em leito natural. m3.km 142.523,48 R$ 1,18 R$ 168.177,71
Preço total (terraplenagem - RTK) R$ 237.640,20
Fonte: Dados da pesquisa, 2019. Quadro 3: Resumo dos orçamentos:
Resumo dos orçamentos Base - SINAPI: 09/2019 – São Luís/MA. Descrição Preço total
Orçamento dos serviços de terraplenagem (ARP) R$ 284.445,09 Orçamento dos serviços de terraplenagem (RTK) R$ 237.640,20 Diferença entre os orçamentos R$ 46.804,89 19,67%
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
No Quadro 3 percebe-se que o orçamento do projeto de terraplenagem com base no MDT de valores altimétricos obtidos pelo ARP gerou um valor final 19,67% maior que o orça-mento do projeto de terraplanagem na qual os pontos usados na geração do MDT tiveram elevação obtida através de receptores GNSS, pelo método RTK pós-processado. Entretan-to, a diferença quantitativa entre os levantamentos não induz a um erro de concepção da viabilidade técnica de execução, tendo em vista que uma patrulha que executa 14.000 m³ de aterro também é capaz de executar 17.000 m³.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a lei de licitações e contratos administrativos 8.666/93, o principal ele-mento que orienta a execução de uma obra é o Projeto Básico. Ele deve abranger toda a obra e alguns requisitos pré-estabelecidos, por exemplo:
• Possuir os elementos necessários e suficientes para definir e caracterizar o objeto a ser contratado;
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• Ser elaborado com base nos estudos técnicos preliminares que assegurem a viabili-dade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento; • Possibilitar a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos executivos e do
prazo de execução. (TCU, 2013)
Ainda em relação ao projeto básico, o Tribunal de Contas da União (TCU) diz que se pode tomar como base a margem de erro da Tabela 3:
Tabela 3: Nível de precisão de projetos:
Tipo Precisão Margem de Erro Projeto Elementos Necessários
Avaliação Baixa 30% Anteprojeto
Área construída Padrão de acabamento Custo unitário básico Orçamento Sintético Média 10 a 15% Projeto básico
Plantas principais Especificações básicas Preços de referência Orçamento analítico Alta 5% Projeto executivo
Plantas detalhadas Especificações completas Preços negociados
Fonte: TCU, 2013.
No estudo comparativo realizado neste tra-balho, obteve-se um erro orçamentário de aproximadamente 19%, o que nos mostra que o aerolevantamento realizado sem a lim-peza prévia do terreno pode ser usado como anteprojeto, ou seja, permite avaliar a me-todologia executiva, a área a ser construída e o custo unitário básico com uma margem de erro de até 30%. Contudo, é importante observar que a área em que foi realizada a pesquisa possui elevada densidade arbórea, ocorrência que impactou na obtenção das informações durante o aerolevantamento, mesmo com a proposta do software de pro-mover uma filtragem dos pontos.
Além da acentuada presença de vegetação na área levantada, as condições
meteoro-lógicas e o horário em que foi realizado o voo são outros fatores que podem ter im-pactado nas diferenças quantitativas e con-sequentemente orçamentarias.
A avaliação do impacto desses fatores nos quantitativos necessita de estudos adicio-nais, por exemplo, Gomes et al. (2020) fize-ram uma análise estatística dos mesmos da-dos altimétricos utilizada-dos nesse artigo. Eles encontraram uma forte correlação linear en-tra as altimetrias, apresentando coeficiente de determinação, R², acima de 80%.
Como observado, a adoção de métodos de levantamentos alternativos se mostram promissores, principalmente para os órgãos públicos, uma vez que permitem avaliar a viabilidade técnica e econômica de
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tação de um projeto em determinada área sem a necessidade de realizar destocamento de árvores e remoção de obstáculos que por ventura poderiam inviabilizar os levantamentos topográficos tradicionais, como por exemplo o realizado através da estação total.
A realização do levantamento utilizando o par de receptores GNSS foi bem dinâmico e não houve dificuldades em se obter informações. Em alguns poucos pontos, devido à presença de árvores, a comunicação entre o receptor rover e o receptor base não era es-tabelecida, porém esta dificuldade era facilmente contornada aumentando-se a altura da antena do receptor.
O aerolevantamento tem como vantagem a opção de ser completamente automatizado, entretanto, devido as condições meteorológicas, foram necessárias intervenções manuais do piloto. O drone utilizado possui um receptor GNSS de baixa precisão geodésica, o que faz com que seja necessário a utilização de pontos de apoio para prover precisão aos pro-dutos provenientes do levantamento fotogramétrico
Recomenda-se que seja avaliada a utilização de aeronaves com sensores de posicionamen-to mais precisos, a fim de verificar a possibilidade de não utilizar ponposicionamen-tos de apoio, pois isso tornaria o aerolevantamento mais dinâmico ainda.
AGRADECIMENTOS
Ao campus Santa Inês do IFMA pelo empréstimo do par de receptores GNSS. Ao Josué Viegas por ter disponibilizado o Drone e realizado o voo que possibilitaram essa análise comparativa. A empresa Fronteiras Consultorias e Geotecnologias pelo auxílio no levan-tamento RTK e ajuslevan-tamento das coordenadas.
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