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Os desafios da geografia no 6° ano do ensino fundamental

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

MARISTELA MARASCA

OS DESAFIOS DA GEOGRAFIA NO 6º ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Ijuí /RS Jan / 2013

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MARISTELA MARASCA

OS DESAFIOS DA GEOGRAFIA NO 6º ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, como requisito para obtenção do titulo de licenciado em Geografia.

Orientadora: Profª Drª Helena Copetti Callai

Ijuí /RS Jan / 2013

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MARISTELA MARASCA

OS DESAFIOS DA GEOGRAFIA NO 6º ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no curso de Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, como parte de requisitos para obtenção do titulo de licenciado em geografia.

______________________________ Profª Drª Helena Copetti Callai

Professora Orientadora

______________________________ Profª MSc Célia Clarice Atkinson

Banca Examinadora

___________________________

Data

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AGRADECIMENTOS

Muitas foram as pessoas que, em vários momentos deram ajuda para a realização deste trabalho, as quais agradeço.

Aos amigos que ouviram com paciência.

Aos professores e tutoras do curso que no decorrer ajudaram na construção profissional e pessoal.

Aos colegas professores que colaboraram com as entrevistas.

A professora orientadora, Profª Helena, pelas observações e incentivo. De modo especial, gostaria de agradecer a minha família.

(5)

Aos professores que, no anonimato, constroem a educação deste país.

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[...]

a geografia é uma interrogação permanente do mundo.

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RESUMO

As características inerentes da geografia escolar praticada no 6º Ano do Ensino Fundamental, sempre me despertaram preocupação, provocando indagações, por apresentar-se de maneira isolada do cotidiano e de modo superficial, dificultando a aprendizagem . Em “Os Desafios da Geografia no 6º Ano do Ensino Fundamental”, planejei conhecer a trajetória de professores atuantes em geografia e seu contexto educacional, dificuldades e problemas encontrados nesta série/ano para a instrumentalização do conhecimento geográfico, o currículo nas escolas, para uma análise das práticas educativas, recursos utilizados para o diálogo da ciência geográfica com a leitura do mundo. A metodologia eleita para a realização do trabalho foi uma pesquisa de campo empírica qualitativa com uma abordagem humanista. O trabalho iniciou com pesquisas, elaboração de questionários/ entrevistas que nortearam a análise das representações relacionadas ao ensino da geografia neste período, que resultou em ações e sugestões e recursos metodológicos para o ensino de geografia. Diversos fatores interferem diretamente na desvalorização da geografia escolar e nas práticas dos professores que atuam diretamente com estes alunos, portanto é essencial o ensino de geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental, contribuindo com o alfabetizar geograficamente, desenvolvendo a capacidade de observar, ler e compreender o meio. A transição para o 6º Ano envolve o encantamento, a intimidade e a capacidade de abstração da disciplina, tendo o aluno como sujeito e o professor como mediador para a construção do ensino aprendizagem que permite compreender a dinâmica do espaço social em qualquer escala.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 08

1- AS DIFICULDADES E PROBLEMAS APRESENTADOS NA

GEOGRAFIA DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL... 09

1.1- O CURRÍCULO DE GEOGRAFIA NA ESCOLA / PROJETO

PEDAGÓGICO... ... 11

1.2- ANÁLISE SOBRE AS TURMAS DE 6º ANO E AS PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS... 15

2- A RELAÇÃO MATERIAIS E PRÁTICAS EDUCATI... 23

2.1 – DIÁLOGO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA COM A LEITURA DE

MUNDO... 25

2.2 - AÇÕES E SUGESTÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA DO 6º

ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL... 29

2.2.1 Recursos Pedagógicos para as Aulas de Geografia... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 42

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda a geografia como disciplina escolar e os desafios encontrados na construção dos conhecimentos geográficos por alunos de 6º Ano e a dificuldade na compreensão da relação sociedade/espaço/tempo com a transição de turma unidocente para áreas de estudo. Este tema é inquietação de docentes que atuam nesta turma e a problemática surgiu decorrente da experiência de anos de trabalho com 5ª série, hoje 6º Ano e a preocupação com a abordagem quanto a aplicação da prática em virtude da abstração do conhecimento geográfico e a observação da necessidade de estudo de questões relacionadas com as dificuldades de aprendizagem, as causas e efeitos da falta de conectividade da disciplina com o conhecimento mais integrado da espacialidade e instrumentalização que torne possível disponibilizar respostas que permitam aos professores conceber de forma eficaz sua atividade docente junto aos alunos de 6º Ano.

Este trabalho descreve a experiência de uma pesquisa de campo qualitativa em Geografia, com uma abordagem humanista. Pesquisa empírica, onde o objeto de investigação consiste na pesquisa entre uma amostragem de professores que atuam com turmas de 6º ano na rede estadual do município de Santo Ângelo com a disciplina de geografia, considerando os desafios na organização dos conhecimentos, as dificuldades de aprendizagem dos alunos, das práticas educativas tradicionais, os projetos pedagógicos, o currículo de geografia das escolas e procedimentos necessários à educação geral.

A pesquisa foi realizada através de entrevistas/questionários. Para esta pesquisa foi utilizado o método quantitativo e qualitativo exploratório com a participação da pesquisadora (professora), a compreensão da realidade pesquisada e a interpretação dos resultados obtidos através da coleta de dados para estudo de casos. O trabalho foi realizado em três momentos: a pesquisa bibliográfica sobre o tema a fim de organizar um conhecimento científico sobre o assunto; a elaboração de entrevista aplicada aos professores e a avaliação, a sistematização e formulação de propostas.

A relação com o curso na universidade é apresentada nas tensões e convergências na formação do professor de geografia, nos interesses do aprendiz (graduando) e atuação dos docentes dos cursos de formação. O aluno como sujeito da construção e o professor como mediador; o conhecimento geográfico, teorias e práticas e o contexto escolar, a análise e a pesquisa e a instrumentalização pedagógica são enfocados neste trabalho com o objetivo de uma abordagem prática com apoio ao trabalho em sala de aula e contribuindo para a busca de perspectivas diante do tema.

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1- AS DIFICULDADES E PROBLEMAS APRESENTADOS NA GEOGRAFIA DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Busca-se no espaço geográfico a contextualização da espacialidade e da sociedade, a localização e percepção espaço temporal é um dos núcleos centrais dos estudos de geografia. A preocupação com os objetos de análise produzidos por este trabalho considera o aluno como sujeito dessa construção acompanhado das características que dificultam a aprendizagem necessária para o nível de escolaridade que está sendo analisado e o professor como mediador e pesquisador sobre as práticas educacionais que propiciam a qualidade do ensino, as competências e habilidades.

A geografia passa por intensos debates em vista de suas teorias, metodologias e objeto de estudo, dadas as transformações que ocorrem com as complexas interações entre as esferas local e global e por intermédio de novas tecnologias, com os novos recortes de espaço e tempo. Em consequência deste processo é necessário o desenvolvimento de aulas dinâmicas e inovadoras. A partir do estudo de campo foi analisado o perfil das aulas no 6º Ano, as dificuldades, ações e instrumentalizações aplicadas.

A prática docente, como professora de geografia, levou-me a uma investigação da geografia escolar, as dificuldades de ligação da aprendizagem da geografia das séries iniciais com os conhecimentos adquiridos nos estudos por área, situando-os no Aprender Geografia. Esta reflexão, baseada na geografia do ensino básico, onde a prática de ensino tem proposto debates cada vez mais importantes na literatura educacional, com discussões sobre a possibilidade de se aprender geografia no ensino fundamental a partir da leitura do mundo e espaço vivenciado, posicionando-se e valorizando os conhecimentos adquiridos, integrando-se criticamente a sociedade do âmbito local, ao nacional e planetário.

Em geografia, uma das questões mais significativas ao tratar do que estudar diz respeito à escala de análise que será considerada. Ao estudar o espaço geográfico, a delimitação do mesmo é um passo necessário, pois o espaço é imenso, planetário, mundial.(...) É o nível do local que traz em si o global, assim como o regional e o nacional. ( CALLAI, 2009, p.83)

Este trabalho, faz uma análise da interação entre fatos e formas geográficas com a realidade do aluno, a prática pedagógica, perspectivas e utilização das tecnologias de comunicação e informação nas aulas de geografia. A necessidade de repensar as ideias e práticas geográficas, o cotidiano, a localização, mudanças nas paisagens, a realidade nas múltiplas escalas geográficas, diante de posturas críticas frente aos diversos desafios da sociedade, leva também à busca no interagir, integrar, dialogar, desenvolver práticas interdisciplinares. As relações entre espaço geográfico, cidadania e gestão com processos relativos a territorialidades, conduzem à compreensão para a pertinência e interação nestes estudos.

Tanto a escola como os alunos mudaram, a oferta de informação faz com que se busque novos caminhos. A coletividade e sistematização oferecem oportunidade à pesquisas que orientem o trabalho para a aquisição de conhecimentos. Em razão disso, este estudo vem pela necessidade de aprofundar questões como o desenvolvimento do raciocínio geográfico, em que consiste e como se processa nos diferentes níveis e anos de estudo, o papel da escola e dos conteúdos de geografia neste desenvolvimento.

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A base fundamental deste trabalho estrutura-se na tentativa de relacionar o ensino de Geografia com a necessidade de instrumentalizar a prática pedagógica nas turmas de 6º Ano da Educação Básica. Parti de pesquisas bibliográficas, entrevistas junto a professores sobre a temática relacionada com as dificuldades de aprendizagem, as causas e efeitos da falta de conectividade da disciplina com o conhecimento mais integrado da espacialidade para a construção de um embasamento referencial que expresse possibilidades analíticas da Geografia, entre elas a relativa ao ensino de Geografia no nível básico.

Para efetivação da pesquisa, utilizando-se o método quantitativo e qualitativo exploratório, realizou-se uma abordagem sobre os questionamentos abaixo:

Questões orientadoras para a pesquisa

PROBLEMA FORMA DE ENCAMINHAMENTO

Falta de diversidade nos perfis das aulas de geografia nos dias atuais

Pesquisa junto a professores e artigos publicados sobre o assunto

Articulação da construção de conhecimentos dos alunos de 6º Ano, frente a dificuldades de associação da teoria, instrumentalização do conhecimento integrado à espacialidade, com práticas de intervenção pedagógica que extrapolem linguagens tradicionais, leituras simultâneas de escola, sociedade e tecnologias, que levem ao diálogo da geografia como ciência geográfica na permanente interrogação do mundo.

Sistematização dos relatos associados a bibliografias

O trabalho será realizado em três momentos. O primeiro será a pesquisa bibliográfica sobre o tema a fim de organizar um conhecimento científico sobre o assunto. O segundo momento será a elaboração dos questionários que serão aplicados junto aos professores e o terceiro momento será a elaboração do trabalho escrito, que será feito através da avaliação, sistematização e formulação de propostas.

Pesquisas e proposições metodológicas para a promoção das aulas de geografia em conectividade com a complexidade do mundo atual

Serão utilizadas como ferramentas para este método pesquisa bibliográfica baseada em livros, revistas, consultas em sites relacionados com o tema

Ações orientadoras para a problemática da relação de conceitos produzidos pela ciência geográfica e sua estruturação em conhecimentos escolares articulados ao cotidiano e seu papel na formação do raciocínio geográfico

Apresentação de proposições de práticas pedagógicas que buscam e aplicam metodologias, diversidades e inovações tecnológicas

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A expectativa deste trabalho é de poder contribuir para a melhoria do ensino de geografia nas turmas de 6º ano, a partir de uma pesquisa realizada com professores da área, no período de outubro e novembro de 2012, tendo como campo de pesquisa escolas estaduais do município de Santo Ângelo, nas quais foram contatados professores de geografia que atuam com turmas de 6º Ano ou 5ª série. Os dados foram coletados por meio de entrevista com 80% de 15 professores procurados. Após a coleta de dados fez-se a análise, interpretação e tabulação dos mesmo

1.1- O CURRÍCULO DE GEOGRAFIA NA ESCOLA/ PROJETO

PEDAGÓGICO

A geografia, em seus primeiros relatos de origem vem da Grécia Antiga, associando o meio ambiente às atividades humanas. Com as grandes navegações, ampliou-se o interesse pelas descrições geográficas, contudo foi com a expansão do capitalismo comercial que a geografia assume o caráter científico. Inicialmente bastante influenciada pelos franceses, no Brasil, na década de 70 a geografia clássica absorve movimentos de renovação intensificados por geógrafos como Milton Santos, Morais, Castro, Andrade e outros.

Conforme Pontuschka, Paganelli e Cacet, (2007 p.78), os anos 60, com Paulo Freire representaram verdadeira revolução no ensino, em contexto que estavam também os professores de Geografia. Dizia o mestre: “Antes de ler a palavra temos que ler o mundo”.

Nas décadas de 80 e 90 surgiram novas perspectivas de transformações, nos meios acadêmicos e nos currículos escolares. As propostas da Nova LDB e os Parâmetros Curriculares Nacionais e a partir de 2009 um Novo Referencial Curricular para as escolas estaduais, no estado do Rio Grande do Sul, nos apresentam a geografia de natureza interdisciplinar, que requer do educando a compreensão de fenômenos de várias áreas do conhecimento na relação sociedade natureza.

Quanto ao ensino de Geografia, os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem os seguintes objetivos:

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MEC/SEF, 1998. P. 61-62

As considerações sobre a geografia escolar, de acordo com a proposta curricular implementada no estado do Rio Grande do Sul, abordadas em conformidade com os PCNs, apresentam na área de ciências humanas e suas tecnologias três eixos de competências:

 Conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, a fim de compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar;

 Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas consequências em diferentes espaços e tempos, para construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões socioambientais locais;

 Compreender que as melhorias das condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são conquistas decorrentes dos conflitos e acordos, as quais ainda não são usufruídas por todos os seres humanos. E, dentro das possibilidades, empenhar-se em democratizá-las;

 Conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus processos de construção, identificando suas relações, problemas e contradições;

 Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informações, a fim de interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens;

 Saber utilizar a linguagem cartográfica para obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográficos;

 Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sociodiversidade, reconhecendo-a como direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia.

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SEC 2009.v.5,p. 44-45-56

Também foram apresentados os princípios gerais da Geografia, publicados no edital do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD 2010) para os anos iniciais do ensino fundamental. De acordo com este edital,

A geografia é uma ciência que estuda processos dinâmicos e fenômenos da sociedade e da natureza, para compreender as relações sociedade/espaço/tempo que se concretizam diacrônica e sincronicamente, produzindo, reproduzindo e transformando o espaço geográfico nas escalas local, regional, nacional, mundial. (EDITAL PNLD 2010, p.63).

 Representação e comunicação

1. Entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e informação para planejamento, gestão, organização e fortalecimento do trabalho de equipe.

 Investigação e compreensão

1. Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que constituem a identidade própria e a dos outros.

2. Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores que nela intervêm como produtos da ação humana; a si mesmo como agente social; e os processos sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos.

3. Entender os princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indivíduo da sociedade e da cultura, entre as quais as de planejamento, organização, gestão, trabalho de equipe, e associá-las aos problemas que se propõe resolver.

 Contextualização sociocultural

1. Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de espaços físicos e das relações da vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos políticos, econômicos e sociais. (Redação sugerida)

2. Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos princípios que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos. 3. Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas sociais e culturais em condutas de indagação, análise, problematização e protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural.

4. Entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Humanas sobre sua vida pessoal, os processos de produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida social.

5. Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida.

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Quanto ao raciocínio geográfico:

O raciocínio geográfico forma-se a partir de um referencial teórico- metodológico assentado sobre os conceitos de natureza, paisagem, espaço, território, região e lugar, congregando dimensões de análises que abordam tempo, cultura, sociedade, poder e relações econômicas e sociais, Essas referências teórico-metodológicas, se traduzidas numa linguagem científica adequada e coerente, permitirão ao aluno compreender os processos formadores da realidade. ( EDITAL PNLD 2010, p.63)

Diante desta nova conjuntura educacional o ensino de geografia vai se revitalizando, mas de forma lenta nas séries iniciais, pois no ensino básico julga-se um lugar de aprendizagem enquanto um direito inquestionável, mas, por vez é preocupante a qualidade do ensino desenvolvido em grande parte das escolas públicas.

Na contemporaneidade, apresentam-se muitas reflexões sobre conteúdos e currículos escolares e sobre a influência histórica, política, social, cultural, econômica e educacional em sua elaboração e adoção.

Ao sintetizar uma concepção de currículo, Sacristán afirma:

É a expressão do equilíbrio de interesses e forças que gravitam sobre o sistema educativo num dado momento, enquanto que através dele se realizam os fins da educação no ensino escolarizado. Em seu conteúdo e nas formas através dos quais se nos apresenta e se apresenta aos professores e aos alunos é uma opção historicamente configurada que sedimentou dentro de uma trama cultural, política, social e escolar, está carregado, portanto, de valores e pressupostos que é preciso decifrar. Reflete o conflito de interesses dentro da sociedade e os valores dominantes que regem os processos educativos. Isto explica o interesse da sociologia moderna e dos estudos da educação por um tema que é campo de operações de diferentes forças sociais, grupos profissionais, filosofias, perspectivas pretensamente científicas etc. Daí também que este tema não admita o reducionismo de nenhuma das disciplinas que tradicionalmente agrupam conhecimentos sobre fatos educativos. É nesta escola, em geral, que se concretiza no currículo que transmite, num determinado nível educativo ou tipo de instituição, um modelo de educação, uma posição e uma orientação seletiva frente à cultura (1998,p.17).

Isto significa que as atribuições curriculares são relacionadas por diversos setores institucionais ligados a educação, como o Estado, as comunidades, a escola e o corpo docente, que interferem nos conteúdos, metodologias, avaliação, à organização e inovações. O professor é responsável pelo planejamento, definição, ordenamento de suas aulas, pela avaliação dos alunos, autoaperfeiçoamento e formação associada ao projeto pedagógico da escola.

Na comunidade é importante o diálogo entre o conjunto da escola ( direção, conselhos, professores, alunos e pais). Um projeto comum buscando nas políticas públicas desafios para a convergência de interesse comunitário, pois é a obrigação do Estado de criar condições, colocando a disposição da escola a infraestrutura e recursos para a reorganização escolar que se constrói um ambiente articulado para uma aprendizagem mais efetiva. É na articulação entre escola, a comunidade e as famílias dos alunos que surge um trabalho coletivo que pode ser contratado em um projeto político pedagógico. Este é importante para ser definido pelo coletivo, mediante discussão, exercício de negociação e acordos no estabelecimento de suas regulações, no desempenho pleno de espaço e cidadania.

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Sobre isso, Kimura (2008 p.40-41) destaca a realidade de comunidade com ideário cultivado e cuja prática é problemática, enquanto um coletivo de pessoas ligadas por traços comuns, portadoras de elos de solidariedade e interesses que possam convergir no cotidiano de vida das pessoas. A comunidade deve colocar-se acima da preponderância do interesse individual e da competição, e em vez de colocar os professores em um sentido contrário à comunidade e à participação, esta pode ser constituída não como uma relação harmônica, mas como uma relação entre pares.

Assim, os professores e alunos são protagonistas sociais, que ajudam na construção de um ambiente articulado onde é possível a escola engajar-se à comunidade, em uma leitura de espaço, política e aprendizado da democracia, levando em conta o conjunto de relações e o contexto espaço temporal que caracteriza a geografia.

1.2 – UMA ANÁLISE SOBRE AS TURMAS DE 6º ANO E AS PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS

A pesquisa de campo, de acordo com Morin (1982), se trata de um sistema mundo do qual faço parte como observador/transformador de mim e de mim nele. Busca-se então na pesquisa a mudança ou a defesa do “sistema”, através de cada um de nós sujeitos, com nossas práticas ou indagações sobre o mundo.

Neste trabalho descrevo a experiência de uma pesquisa de campo qualitativa. Como método de pesquisa optei por uma explanação oral e entrevistas com 15 professores, dos quais 12 retornaram as respostas das questões solicitadas.

Em contato com a escola foi explicado o que era o trabalho e qual seria a contribuição dos professores. As visitas agendadas com a supervisão da escola e realizadas em horários disponíveis dos professores ( entrada, recreios, hora atividade), mas os mesmos poderiam responder as questões fora do espaço tempo da escola, devido a carga horária fechada em seus turnos de trabalho.

Observei também que a maioria dos professores de geografia completam horas de trabalho em outras escolas, ocorrendo o deslocamento entre mais de uma instituição, fato que dificultou a abordagem com maior número de professores e o preenchimento e devolução das questões da entrevista.

Quanto ao tempo em que trabalham com a disciplina no 6º Ano ou 5ª série, entre os 12 professores que contribuíram com a pesquisa, um está na turma há dois anos, outro três anos, dois professores há quatro anos, um com cinco anos, dois com dez anos, um com 13 anos e quatro professores com mais de vinte anos de experiência.

Conforme a pesquisa, o problema mais evidente é a imaturidade em relação a complexidade e abstração que se apresenta a geografia, os alunos não conseguem situar-se no contexto geográfico, tem dificuldade de adaptar-se a mudança, a transição entre o 5º e 6º Ano, levando-os ao desinteresse e desmotivação, pois a escola não atende as expectativas atuais do educando.

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Indagados sobre as principais dificuldades/ problemas encontrados; as causas das dificuldades na instrumentalização do conhecimento integrado a espacialidade do aluno e sociedade em relação a esta turma, os docentes descrevem:

Professor(a)

1. “Falta de organização, respeito, concentração e um elevado número de alunos na

sala de aula; atualmente o aluno está deixando de lado certos valores e conceitos importantes no seu cotidiano, talvez a família deva ter um envolvimento maior no comprometimento de seus filhos”

2. “Falta de motivação e interesse na disciplina de geografia; Falta de leitura, conhecimento mais amplo do espaço geográfico, a interação homem e meio ambiente”

3. “Barulho, imaturidade para alguns conceitos dessa área de geografia; É

complexa a localização em mapas, escalas. Deveria sempre começar do pátio ,ações concretas”

4. “Falta de disciplina na turma; Dificuldade de conhecimento e de ser inserido na sociedade”

5. “Falta de interesse, de valorizar o estudo por parte da comunidade; O meio em que vivem é de pouca escolarização”

6. “Dificuldade de adaptar-se a transição entre o 5º e o 6º ano, mais professores,

mais disciplinas; A grande mudança nos conteúdos das séries, a falta de recursos para visualização dos conteúdos”

7. “Transição da classe unidocente para turma com vários professores, organização,

pouca aprendizagem; Imaturidade dos alunos e falta de colaboração da família”

8. “Falta de interesse pela aprendizagem, interação com o conteúdo, poucos

recursos disponíveis nas escolas; A transição do 5º Ano para o 6º ano traz dificuldade para os alunos. Sair de uma professora é difícil para os alunos assim como várias matérias separadas”

9. “Cativar o interesse pelas aulas; Buscar novas formas”

10. “Desorganização entre as várias disciplinas, professores e períodos de aulas,

imaturidade para a complexidade do conteúdo, falta de intimidade com a disciplina; É difícil para o aluno a compreensão do papel do espaço nas práticas sociais”

11. “Imaturidade, problema de adaptação a um currículo por disciplinas; A falta de leitura é uma preocupação, pois o aluno não consegue ter uma visão crítica do meio onde vive”

12. “O aluno situar-se no tempo/espaço; Dificuldades para integrar o conhecimento

no dia-a-dia”

Como se pode observar grande parte dos professores coloca o interesse do aluno como destaque para a aprendizagem. A proposta do sistema educacional é proporcionar oportunidades para o aluno aprender, entretanto uma das questões que tem preocupado os educadores é a falta de interesse de alguns alunos em participar das atividades propostas em sala de aula incluindo também a resistência em frequentar a escola. Na prática escolar nos deparamos com várias realidades e experiências em turmas de 6º Ano ( 5ª série) que geram consequências na aprendizagem como infrequência, reprovação, repetência e até mesmo evasão escolar.

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Esta resistência demonstrada por eles reflete-se no localizar-se dentro do contexto curricular e conteudística, na dificuldade de leituras, interpretações e do raciocínio lógico, não conseguem elaborar raciocínios coerentes, fazendo com que apercebam-se incapazes de aprender. Como hipótese para esta falta de interesse ou desmotivação, parte-se do pressuposto que o motivo desse problema pode estar, de acordo com Castrogiovanni ( 2009,p.13), na pouca aproximação da escola com a vida, com o cotidiano do aluno. A escola não se manifesta atraente frente ao mundo contemporâneo, pois não dá conta de explicar e contextualizar as novas leituras de vida.

Os valores dos profissionais da educação, nem sempre são os mesmos dos educandos, é necessário uma releitura dos novos códigos sociais/culturais e o contexto das próprias aulas de Geografia, onde em muitos casos, o professor somente transmite conhecimento, não levando em consideração as experiências dos alunos, o que é fundamental para interligar o conteúdo com a realidade.

Neste contexto Rezende afirma que:

Muitas vezes nos autocriticamos porque os alunos desvalorizam a Geografia que recebem, como se o problema fosse de competência ou incompetência individual de cada professor . Quase sempre nos martirizamos por não encontrar uma incentivação capaz de superar o desinteresse do aluno, como se o problema do aluno fosse antes de tudo psicológico. ( 1986, p. 91)

E como fica o papel do educador hoje dentro do processo ensino aprendizagem? Questionamentos são feitos, pois, com a introdução das modernas tecnologias e de novas propostas de apropriação da informação ocorrem mudanças importantes, porém:

Os professores, claro, nós não estamos de modo algum satisfeitos com esta geografia. Sentimos que ela não traduz a verdade do espaço e podemos comprovar a cada dia em sala de aula que esta ausência de verdade acaba sendo igualmente sentida pelos alunos. A desvalorização da Geografia não é apenas institucional (patrocinada pela escola), mas também de status científico, estimulada pela indulgência cognitiva da Geografia dominante.(REZENDE, 1986, p. 39).

Callai (2001) em artigo sobre a formação do professor de Geografia, publicado na Revista Geográfica de América Central, Número Especial EGAL, aborda as tensões e convergências na realidade da educação e formação docente tanto em quantidade como em qualidade. Dentro do processo de formação dos professores as tensões entre o que se aprende na universidade e o que o professor pretende saber para realizar sua prática apresentam convergências entre os dois grupos quanto aos aspectos teóricos, didáticos, pedagógicos e conteudistas. A dificuldade dos cursos de formação docente de tratar das questões de sala de aula, o desafio de fazer a negociação e encontrar alternativas eficazes quanto a fragmentação, a questão técnica sobreposta a dimensão pedagógica, a dificuldade de estabelecer o objeto da geografia escolar, a falta de interligação da teoria e prática. Os docentes do ensino superior e a dificuldade de uma abordagem didático-pedagógico dos conteúdos e o graduando que muitas vezes não demonstra interesse e ou capacidade de acompanhar o ensino que se quer dar, tem efeito e influência sobre a geografia contemporânea e o cotidiano escolar.

Também foi citado pelos professores entrevistados o “ valorizar o estudo por parte da comunidade”. A criança é fruto de um histórico social e familiar com características singulares e vários fatores influenciam a aprendizagem destes alunos, no entanto, nem sempre as famílias constituem uma rede de apoio pratico incentivando a busca de soluções e

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atividades compartilhadas. Nesta relação, os professores devem conhecer para entender a comunidade onde estão atuando, a organização e o papel que as famílias estão dispostas a cumprir pela educação de seus filhos, por outro lado a família deve conhecer os professores, compreender as propostas da escola e como podem contribuir com ela.

Na atual conjuntura, a relação escola e família, faz parte de um cenário em que as relações sociais estão cada vez mais difíceis. Coloca-se, pelos professores, que os pais hoje deixam para a escola a maior parte da responsabilidade sobre seus filhos, a escola é quem deve “educar”, hoje, os pais saem cedo de casa para trabalhar, passam pouco tempo com a família, e o acompanhamento escolar fica comprometido.

A família e a escola são lugares de desenvolvimento e aprendizagem. Neste contexto, os pais e escola devem estruturar-se de modo que a sociedade transforme o cotidiano e compreenda a importância dos objetivos propostos pela escola e a responsabilidade da família. Içami Tiba (1996 , p.140) diz que o ambiente escolar deve complementar o ambiente familiar do educando, os quais devem ser agradáveis e geradores de afetos. Os pais e a escola devem ter princípios muito próximos para o benefício do filho/aluno.

A mudança e desagregação de valores na sociedade moderna interferem na parceria família/escola quando o individualismo sobressai-se ao coletivo, interferindo no bem estar e desenvolvimento do educando. A família, em suas relações, dá referências positivas, é responsável de mostrar os limites necessários ao desenvolvimento de uma personalidade com equilíbrio emocional e afetivo. A escola é responsável pela educação escolar, pelo trabalho pedagógico formal, pelo entendimento de regras, pela formação de valores éticos, morais e afetivos, ao exercício da cidadania.

As frustrações e desmotivações familiares, tanto quanto a escola despreparada para cumprir seu papel social na formação do educando tendem a provocar desinteresse escolar/pedagógico e indivíduos desestimulados na busca do seu lugar na sociedade, originando alunos desmotivados, indisciplinados e com baixa autoestima. Descrevem Montandon e Perrenoud (1987, p. 7), "de uma maneira ou de outra, onipresente ou discreta, agradável ou ameaçadora, a escola faz parte da vida cotidiana de cada família".

Em relação ao meio em que o aluno vive e a dificuldade de ser inserido na sociedade, o objetivo de construção de uma geografia que seja um caminho para se entender a realidade em que se vive, se faz necessário a vinculação do local ao global. Dessa forma, o estudo do lugar onde o estudante mora significa a construção de valores de identidade e pertencimento a esse lugar, contrapondo-se com a lógica da globalização, tanto da economia quanto das tecnologias e informações que vêm sendo modificadas constantemente e refletem diretamente na cultura da sociedade. Neste sentido, vejamos as contribuições de Straforini:

E, acima de tudo, considero que estudar o lugar para compreender o mundo significa para o aluno a possibilidade de trilhar no caminho de construir a sua identidade e reconhecer o seu pertencimento. Faltam-nos muito esses valores de identidade e pertencimento num mundo que se pretende homogêneo, mas que é contraditório e diverso, tanto nas relações entre os homens, e destes com a natureza, assim como no espaço que estamos construindo no cotidiano de nossas vidas. (STRAFORINI, 2004, p.18).

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A problemática da falta de leituras para uma visão crítica do meio onde vive é preocupante. A geografia como ciência do espaço e sociedade pode ser usada como instrumento para despertar o desejo de conhecer, explorar e compreender os fatos e fenômenos e o tempo, realizando uma leitura coerente do mundo. Todas as formas de relação humana são constituídas pela linguagem, e como coloca Antenor Gonçalves, ("O Poder da Palavra", Unesp - 2000), "a linguagem é o grande projeto de formação da cidadania, por meio do qual o homem toma conhecimento dos direitos que lhe garantem e protegem a vida, nos sentidos social e individual".

Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes ( Pisa) publicados no jornal Estadão (2010) afirmam que a leitura não é prioridade entre os adolescentes. Se as gerações anteriores só liam as obras cobradas pela escola, hoje a prática é diferente: são sites, redes sociais, SMSs. Nos países da organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 46% dos estudantes afirmam que leem apenas para obter as informações que precisam; 41% só leem se forem obrigados; e 24% acham que ler é um desperdício de tempo. Apenas um terço disse que a leitura é um dos hobbies favoritos.

Conforme a publicação “o que perdeu espaço na vida dos jovens não é o hábito de ler, mas a leitura formal que os livros, por exemplo, oferecem. O texto existe, só que de outras formas, e agora oferece acesso amplo e irrestrito. A leitura digital é mais lúdica e interessante porque não é linear e permite uma liberdade multimidiática", explica Claudemir Viana, pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

Com isso, o não interesse pela leitura formal/cultural faz com que se perca a habilidade de concentração e análise crítica do meio, espaço em que vive. "O jovem sabe de tudo o que acontece, mas não aprofunda o conhecimento dos fatos", destaca a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Programa de Dependência da Internet do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti), da USP.

Cabe ao professor aproveitar o trunfo das novas tecnologias e utilizar as várias mídias disponíveis para mediar leituras interessantes e atrativas ao educando. É a geografia principalmente que garante um espaço para o tratamento das questões sociais e naturais, permitindo que os problemas do mundo sejam discutidos em sala de aula. O professor, na compreensão do que se deve trabalhar para as transformações das relações homem-natureza, pode levar o aluno a situar-se no tempo/espaço, integrando o conhecimento no dia-a-dia. “Um cidadão que saiba reconhecer no cotidiano do lugar em que cada um vive, expressões locais e regionais de uma realidade que é global”. (CALLAI, 2003,p.17)

Alguns dos professores pesquisados demonstram preocupação com a imaturidade dos alunos de 6º ano, que têm dificuldade frente a várias disciplinas e diferentes professores, ocorrendo desconcentração, barulho, ocasionando desorganização em seu material, períodos de aula e a dificuldade de adaptar-se a esta transição.

Os alunos de 6º ano, respectivo a 5ª série do ensino fundamental, encontram-se em uma faixa etária entre 11 e 12 anos, com algumas exceções de alunos repetentes ou incluídos na turma. Conforme Cavalcanti (2010, p.38)

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Os alunos mostram-se alegres, descontraídos, barulhentos. Estão ainda numa faixa etária em que as brincadeiras escolhidas no recreio ou no final da aula são aquelas em que desprendem a maior energia possível, como jogar bola, correr bastante, jogar “coisas” uns nos outros, conversar alto e todos ao mesmo tempo, gritar mesmo. Brincavam assim, nos poucos segundos em que saiam de suas salas no intervalo entre uma e outra aula, ao ponto de muitas vezes ser necessária a intervenção da coordenação da escola para “botar os meninos dentro da sala”. É desse modo que se comportam, também nos primeiros instantes das aulas, momento em que os professores entravam, dirigiam-se até suas mesas ( quando as tinham) e organizavam o material a ser utilizado na aula. Frequentemente, esses instantes prolongavam-se até o início da chamada, quando os professores, grande parte das vezes, a interrompiam para lembrar aos alunos o comportamento esperado “dali” em diante.

Este relato nos remete diretamente as nossas salas de aula, aos nossos alunos que depois de vários anos com uma referência específica de professor, rompe com a figura do(a) professor(a) cuidador(a), em uma rotina de entrada, recreio e saída e tem agora de quatro a cinco períodos diferentes, com intervalos de troca de professores, onde muitas vezes a principal responsabilidade destes é com o ensino de conteúdos, uma mudança que parece ser brusca demais para esta faixa etária, com mecanismos de controle repetitivos e estressantes.

São alunos pré-adolescentes com características peculiares, inquietos por natureza, extrovertidos, questionadores, que por vezes já rejeitam as orientações dos pais e da escola, necessitando direcionamentos certos e equilibrados. O fazer pedagógico, nessa fase, requer a continuidade de um ensino contextualizado, dinâmico e significativo, com orientações claras e objetivas e acompanhamento contínuo. Já “sabem o que querem”, mesmo estando eles em fase de construção de sua identidade, de autonomia pessoal e organização. O apoio dos pais e educadores, com decisões firmes e amorosas são imprescindíveis, por serem altamente influenciáveis.

Não raro, são indisciplinados, severos nas críticas, valendo ressaltar que as estruturas lógicas do desenvolvimento dos adolescentes, nesta etapa evolutiva, vão se configurando, exigindo daqueles que os acompanham, pais e educadores, redobrada energia. Sem os devidos cuidados, seus responsáveis e a escola, podem perder a autoridade, trazendo sérias consequências para o educando.

Um estudo realizado em 2006, que se refere a quinta série, hoje atual 6º Ano, coloca as mudanças desta transição;

Ao entrar na quinta série, o espaço escolar assume vários significados. A troca de períodos, os pais não sendo os responsáveis pelo aproveitamento dos filhos, e, consequentemente, uma maior apropriação do processo de aprendizagem pelos alunos são algumas alterações que compõem esse momento escolar. Essas mudanças se refletem nas práticas compondo novas exigências e novos desafios. A quinta série não é necessariamente uma série mais difícil, mas uma série na qual alunos e pais são desafiados a corresponderem com expectativas diferentes. O convívio entre alunos e professores com formação específica gera um campo de estranhamento e criação que logo é compreendido e vivenciado pelos personagens da passagem como um campo de desafio e crescimento. (ESCHILETTI PRATI & EIZIRIK, 2006. P. 296)

O diálogo entre pais e educadores é fundamental, na responsabilidade que eles têm com os estudos das crianças e jovens, e, nesta transição é necessário atenção quanto a organização, comportamento e autonomia dos alunos, uma vez que:

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A possibilidade dos alunos assumirem as responsabilidades por seus atos pode desencadear um processo no qual os alunos decidem sozinhos que atitudes terão na escola. Assim, os pais não ficam sabendo o que está acontecendo e os professores ficam sem apoio frente às atitudes que estão adotando. Isso desencadeia uma busca por apoio simultaneamente em paradoxo com a mensagem de autonomia dada fortemente pela escola.(ESCHILETTI PRATI & EIZIRIK, 2006. p 297)

Em se tratando do estudo da geografia, os professores entrevistados colocam a falta de interesse e intimidade com a disciplina, considerando as relações entre o conhecimento científico da ciência geográfica e os saberes do cotidiano.

Kimura ( 2010,p.46) expressando-se sobre a citação de Caio Prado Jr, em Dialética do conhecimento “ (...)em todos os casos há sempre uma ação, por rudimentar que seja, e um pensamento, por mais elementar que se possa considera-lo”, destaca que o pensamento humano se alimenta e se constrói no contato com o mundo no qual ele exercita a prática, a atividade, o fazer imerso na realidade desse mundo. Assim o aluno só poderá articular o conhecimento geográfico com as práticas desenvolvidas no processo de aprendizagem.

Um ensino de geografia contextualizado deve partir da realidade socioespacial do aluno e deve ser realizado desde os anos iniciais do ensino fundamental. Não se trata de transformar o professor das séries iniciais em um pesquisador especialista na área da geografia, mas que acompanhe os avanços teóricos produzidos na ciência geográfica, juntamente com os avanços na área da educação, para que assim consiga relacionar teoria e prática em sala de aula.

Segundo Castrogiovanni (2009, p.11),

a maioria dos professores que atuam nas séries iniciais não foram alfabetizados em geografia. As crianças chegam a quinta série ( sexto ano) do ensino fundamental sem a construção das noções e das elaborações conceituais que compreenderia tal “alfabetização”.

A escola básica exige que os professores enfrentem os desafios da educação escolar em práticas pedagógicas onde o objetivo é que os alunos adquiram conhecimentos geográficos, sendo assim, o esforço deve ser no sentido de criar condições para a aprendizagem. Callai afirma que a geografia, nos anos iniciais da escolarização, pode, e muito, contribuir com o aprendizado da alfabetização, uma vez que encaminha para aprender a ler o mundo.

Por meio da geografia, nas aulas dos anos iniciais do ensino fundamental, podemos encontrar uma maneira interessante de conhecer o mundo, de nos reconhecermos como cidadãos e de sermos agentes atuantes na construção do espaço em que vivemos. E os nossos alunos precisam aprender a fazer as análises geográficas. E conhecer o seu mundo, o lugar em que vivem, para poder compreender o que são os processos de exclusão social e a seletividade dos espaços.(CALLAI, 2005, p.245)

A Geografia se torna apaixonante quando passamos a ensinar e ao mesmo tempo aprender. É gratificante saber que ao entrar numa turma de 6º Ano, teremos de dedicar boa parte do período para responder a questionamentos que eles guardam por muito tempo, ou a fenômenos atuais, a buscar junto com eles, a pesquisar, a relacionar os fatos físicos e humanos.

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O professor não deve esquecer que a percepção espacial de cada sujeito ou sociedade é resultado, também, das relações afetivas e de referências socioculturais. Despertar e manter a curiosidade dos alunos deve ser sempre a primeira tarefa da escola é um desafio constante para os professores cujo trabalho é prazeroso, mas os resultados nem sempre são imediatos. A maior vitória do professor é a vitória interna, aquela de alcançar a satisfação em ser professor no dia-a-dia. (CASTROGIOVANNI, 2007,p.46)

Para isso, é necessário aproximar o aluno da sua própria realidade, relacionar o cotidiano para que eles possam interpretar diferentes conceitos. A partir da abordagem local, fica mais fácil, compreender fenômenos que ocorrem em uma escala mais ampla. É preciso ir além dos conteúdos a serem transmitidos, com leituras de “mundo” a serem criadas e reformuladas no ambiente escolar. Por isso é tão importante que o conteúdo se torne significativo para os alunos. Cabe a nós professores vencer o pensamento de Geografia estática e instigar a curiosidade do aluno para que ele possa trazer suas contribuições para a sala de aula, abrindo um espaço onde haja trocas de conhecimento, diálogo e contato com realidades diferentes, tornando-se críticos e autônomos diante dos desafios do cotidiano.

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2-A RELAÇÃO MATERIAIS E PRÁTICAS EDUCATIVAS

Dentro do processo de socialização que a escola cumpre em sociedades contemporâneas, que acontecem através da transmissão de ideias, conhecimentos, seleção e organização de conteúdos de aprendizagem, o estudo amplia-se às práticas sociais que se estabelecem. Os alunos aprendem através das interações sociais que ocorrem na escola e na aula.

Para Pontuschka (2001, p. 112), mesmo diante dos obstáculos existentes,

há que se pensar em um ensino que forme o aluno do ponto de vista reflexivo, flexível, crítico e criativo. Não é uma formação para o mercado de trabalho apenas, mas um jovem preparado para enfrentar as transformações cada vez mais céleres que certamente virão.

A necessidade da participação ativa do aluno nos incumbe na busca de diversidade pedagógica, diferentes linguagens e diálogo entre os campos de conhecimento curriculares e tecnológicos, trazendo a geografia para o cotidiano do aluno em leituras simultâneas de escola/ sociedade e tecnologias, como traduz Callai ( 2003, p.60): a “ educação geográfica, não é para a escola , ou para os professores, mas é com certeza para que cada um se entenda como sujeito da sua história ao viver a sua vida e produzir o espaço”.

O aluno deve ser considerado como sujeito ativo de seu processo constante de formação e de seu desenvolvimento, cabendo ao professor atuar como mediador no processo interativo que é a educação. Sendo assim, o professor propiciará a conexão entre o aluno e o conteúdo escolar (sujeito e objeto, respectivamente) e, dessa forma, mediará o conhecimento oriundo desse sujeito para o processo ensino-aprendizagem.

Kimura ( 2010 p.17) apresenta o seguinte esquema para um ensino de geografia bem sucedido; ESCOLA: UMA TEIA DE RELAÇÕES Organização dos tempos e espaços escolares Sistemas de ensino e práticas públicas Materiais voltados para o ensinar-aprender Pensar-fazer como fonte do ensinar-aprender

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Os aspectos articulados entre si integram a escola e põem em movimento os diferentes sujeitos educacionais e escolares. Relacionando os materiais voltados para o ensinar-aprender, objeto de análise das entrevistas, constatou-se que:

Os professores 2, 4, 8, 9,11 e 12 afirmaram não ter dificuldades em articular aulas com metodologias diversificadas. Entre os recursos dos quais se utilizam para o ensinar- aprender estão o computador, o uso do Datashow, a internet que proporciona um grande suporte para que ocorra a interdisciplinaridade, filmes e o uso das inovações tecnológicas que são grandes atrativas aos alunos. Também são realizados trabalhos práticos, maquetes, confecção de cartazes.

Entretanto os professores 1, 3, 5, 6, 7 e 10 colocam que fazem uso de vários recursos, como livro didático, mapas, jornais, revistas, jogos educativos, filmes, documentários, pesquisas e produções em sala de aula, mas a dificuldade está na instrumentalização das metodologias com recursos e ambientes que seriam disponibilizados pela escola, que não atendem a mais de uma turma e muitas vezes não funcionam como deveriam.

Constatou-se que as escolas dispõem de recursos didáticos básicos para o trabalho pedagógico, o que se vê, no entanto, é o déficit estrutural das instituições de ensino, como falta de salas ambientes apropriadas a laboratórios de geografia, redes elétricas que não comportam grandes estruturas digitais, e inovações tecnológicas que não atendem toda a demanda escolar. Melhoria nos recursos e menor quantidade de alunos por turma propiciariam aulas mais criativas e dinâmicas, de acordo com a resposta dos professores ao serem questionados sobre a metodologia que utilizam nas aulas.

O acesso aos materiais básicos e a condições de infraestrutura são considerados pelos professores das escolas de importância fundamental para o desenvolvimento de seu trabalho e ao fazer-pensar do professor e aluno. O fazer-pensar faz parte, conforme Kimura (2010,p.45 ) de um processo em que o ser humano se faz a si e ao mundo, em que ele se relaciona consigo e com a realidade exterior a si. Para isso é necessário suprir a escola dos materiais básicos ao ensinar-aprender.

No processo de democratização escolar está implícita a necessidade dos professores se apropriarem de novos conhecimentos e metodologias em atendimento às propostas resultantes de políticas governamentais, decorrentes da realidade educacional brasileira com metas, ações e problemas a serem superados por professores, alunos e conteúdos auxiliados por diferentes recursos didáticos. Para isso, técnicas diversas e materiais de apoio pedagógico foram efetivados a fim de dar respaldo ao professor com habilidades instrumentais para o uso de recursos tecnológicos com a preocupação da nova demanda de informações técnico-cientifica.

As tecnologias de comunicação e informação apresentam-se ao cotidiano em vista da mídia, acarretando em mudanças de valores e influências. Essas questões contribuem para a uniformização de algumas características, as quais acabam se tornando padrões comportamentais. Essas influências vão direcionando a visão dos jovens sobre determinadas concepções de mundo, provocando um forte impacto também na vida dos professores (TORRES, 2008).A tecnologia presente na sociedade passa a fazer parte da sistematização educacional.

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Para fazer uma análise da interferência dos recursos tecnológicos na escola é necessário primeiramente entender a concepção de tecnologia educacional. A definição mais utilizada, segundo Oliveira (1977), é a de que a tecnologia educacional compreende todos os instrumentos audiovisuais ou ferramentas com finalidade educativa. Trazer as tecnologias para a sala de aula permite certa “liberdade” ao professor, porque acarreta uma descentralização do seu papel de educador, possibilita também uma aproximação maior com diferentes realidades sociais.

A metodologia do ensino de geografia prevê o estudo das concepções de geografia como ciência, a compreensão do espaço relacional produzido pela sociedade . Diante do contexto das turmas de 6º Ano, os professores necessitam compreender a estrutura desta temática, aliada a recursos coerentes com esta faixa etária, contextualizando as tecnologias da informação, desenvolvendo atividades docentes para que o estudante sinta-se um cidadão em nossa sociedade. É importante o trabalho com vários recursos integrados, além-digitais, de acordo com o que melhor se adapta a turma e a realidade escolar, para a construção do conhecimento de modo que a espacialidade seja compreendida.

Para tanto há necessidade de as políticas públicas garantirem a educação e qualificação para todos, desburocratizando o uso pedagógico para todo o ensino público, evitando-se assim a chamada info-exclusão. Kimura (2010,p.44) :

Parece, pois, que a escola tem diante de si um grande desafio. Consideremos o quadro colocado[...] como os materiais de consumo e permanente, os livros didáticos, a organização curricular, a organização dos tempos e espaços escolares, todos necessários ao desenvolvimento do ensino. A escola se vê diante do desafio de, coletivamente, buscar as respostas possíveis, inclusive através da intervenção política a ser feita em instâncias as mais diversas.

Nos dias atuais, as tecnologias e informações modificam-se constantemente, repercutindo na cultura da sociedade. Os avanços e inovações refletem diretamente na educação, onde a escola seria a mediadora entre as diferenças sociais. Entretanto observa-se carência de recursos materiais em nossas escolas, a necessidade de serem criadas condições para um uso mais variado de seu acervo de recursos e espaços apropriados, materiais voltados para o ensinar-aprender.

2.1- DIÁLOGO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA COM A LEITURA DO

MUNDO

Na contemporaneidade, ocorreram diversas mudanças no mundo, surgindo a cada dia assuntos e fenômenos de interesse da ciência geográfica. A leitura destes fenômenos que transformam o espaço geográfico nos leva a buscar, explicar o mundo e propor soluções para os diversos problemas sociais e ambientais. A geografia é uma ciência dinâmica que descreve as relações promovidas pelo homem sobre o meio e da natureza. A geografia “... tem procurado pensar seu papel nessa sociedade em mudança, indicando novos conteúdos, reafirmando outros, reatualizando alguns outros...” (CAVALCANTI, 2002, p.11).

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O movimento de renovação da Geografia, com mudanças no âmbito da pesquisa e ensino, conforme CAVALCANTI (2002, p.11), ocorreu “para se fazer uma análise crítica da fundamentação teórico-metodológico da ciência geográfica e para se propor alternativas ao modo de trabalhar essa ciência enquanto matéria escolar”.

Busca-se o diálogo da geografia escolar com a ciência geográfica na escola, no seu cotidiano, no lugar, nas linguagens e recursos utilizados, nas representações culturais de um povo. De acordo com Callai (2010,p.29)

Para que cada sujeito possa entender o que acontece na vida cotidiana, é fundamental que ele consiga abstrair daquilo que é o dia a dia de sua vida, das questões que acontecem no lugar em que vivem.[...] A abstração permite refletir sobre o cotidiano e, com a oportunidade de ver de longe, de forma distanciada, as coisas que acontecem assumem novas feições. Quer dizer, apresentam-se em sua complexidade. As pessoas vão construindo seus espaços enquanto constroem suas vidas, suas histórias e isso pode ser compreendido. Neste sentido, a geografia pode facilitar a compreensão do mundo em que o aluno vive.

Já, Santos, Costa e kinn ( 2010, p.45-46) acrescenta:

O ensino-aprendizagem de geografia na escola deve, então, contemplar seus conceitos-chave e as representações que os alunos trazem deles e constroem cotidianamente no mundo contemporâneo utilizando os mesmos meios que eles, de modo a proporcionar-lhes a possibilidade de refletir para, assim, poderem intervir na realidade que os cerca. Além disso, a utilização de outras linguagens e recursos didático-metodológicos pode aumentar o interesse reavivado, torna-se produtivo investir e reinvestir no ensino.

Nas reflexões Rego (2010, p. 61), disserta sobre as representações culturais, quando acrescenta:[...] as representações didáticas, assim como as outras, constituem-se um dos fatores componentes das sinergias sociais .Uma análise das cores de um povo na educação para a cidadania.

De acordo com o modelo histórico-cultural, os traços de cada ser humano estão intimamente relacionados ao aprendizado, à apropriação do legado do seu grupo cultural. O comportamento e a capacidade cognitiva de um determinado indivíduo dependerão de suas experiências, de sua história educativa, que, por sua vez, sempre terão relações com as características do grupo social e da época em que ele se insere. Assim, a singularidade de cada indivíduo não resulta de fatores isolados, mas da multiplicidade de influências que recaem sobre o sujeito no curso do seu desenvolvimento. (REGO, 2002, p. 50)

Com a transformação das práticas pedagógicas da geografia e ampliação de políticas de formação inicial volta-se ao estudo da valorização da geografia escolar comprometida com a pesquisa, o espaço na vida e contexto escolar e as mudanças com as novas propostas de apropriação da informação que possibilitam ao aluno a possibilidade de (des)construir e reconstruir o conhecimento.

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O fato de a geografia, estar no currículo escolar, leva-nos ao conhecimento da importância do que é ensinado e aprendido, nos induz a discussão sobre seu ensino nos anos iniciais do ensino fundamental. Callai ( 2010,.p.31)

“E pode-se dizer que dois motivos levam a considerar a importância de se aprender geografia já nas séries iniciais. Um deles é conhecer (e compreender) o mundo de forma sistematizada; o outro diz respeito à construção das bases para as aprendizagens futuras da geografia na educação básica. Isto significa aprender a fazer a observar e análise do espaço e interpretação dos fenômenos que estão espacializados”.

Mesmo assim, a passagem da antiga 4ª série para a 5ª série, hoje 5º e 6º Ano, continua a ser uma preocupação em debates, discussões entre os profissionais de todas as áreas e nas formações pedagógicas oferecidas pelas escola. Neste trabalho o objeto de estudo é a geografia nesta transição.

Os indicadores de rendimento nesta série realizados com a Prova Brasil, refletem a análise da situação atual do 6º Ano. De acordo com o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no estado do Rio grande do Sul, assim como no Brasil, em 2011 a média 5,1,é resultado da avaliação com a quarta série/ quinto ano. Cabe ressaltar que a referida prova não inclui a disciplina de geografia, os alunos respondem questões de língua portuguesa e de matemática e no questionário socioeconômico fornecem informações sobre fatores de contexto que podem estar relacionados ao desempenho.( dados retirados do portal.mec.gov.br). Em análise interdisciplinar destes resultados, conclui-se que os estudos geográficos no ensino globalizado representariam índices semelhantes ou menores em sua abordagem de leituras e problemas.

É importante destacar que as turmas de

6º Ano são

marcadas por várias transições, a passagem da infância para a pré-adolescência, professor unidocente para áreas de ensino e a troca, em muitos casos, da rede municipal para a rede estadual, que implica um universo novo e com políticas educacionais distintas. Neste contexto faz-se uma análise sobre condições de qualidade de ensino e aprendizagem, envolvendo tanto o perfil dos alunos quanto ao perfil dos professores que atuam diretamente com estes alunos. Já a escola sendo um espaço de relações mais amplas participa do processo de acolhimento e espacialidade subsidiando a reprodução e transformação dos sujeitos e espaços.

“Existe ainda pouca aproximação da escola com a vida, com o cotidiano dos alunos. A escola não se manifesta atraente frente ao mundo contemporâneo, pois não dá conta de explicar e textualizar as novas leituras de vida. A vida fora da escola é cheia de mistérios, emoções, desejos e fantasia, como tendem a ser as ciências. A escola parece ser homogênea, transparente e sem brilho no que se refere a tais características. È urgente teorizar a vida, para que o aluno possa compreendê-la representá-la melhor e, portanto viver em busca de seus interesses. As ciências, passam por mudanças ao longo do tempo, pois as sociedades estão em processo

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constante de transformação/(re)construção. O espaço e o tempo adquirem novas leituras e dimensões”(CASTROGIOVANNI, 2001: 11)

A sociedade em um período técnico-científico-informacional se reestrutura e conduz a uma educação instrumentalizada para um conhecimento que será construído coletivamente. O mundo necessitou reavaliar a sua linguagem onde termos como interdisciplinaridade, projetos e linguagem contextualizada reflexiva, passaram a dominar a prática interativa e apropriarem-se da técnica. Para isso há necessidade de domínio de novos conhecimentos e práticas metodológicas que empreguem ferramentas mais diversificadas e a formação continuada dos docentes se deve a velocidade com que as novas informações, tecnologias e linguagens tomaram lugar no cotidiano do espaço escolar.

Na realidade atual, onde a maioria dos alunos domina a técnica, muitos professores resistem a esta transposição didática dinâmica, ou ainda enfrentam o problema da disseminação e apropriação desigual desses instrumentos tecnológicos. Nem sempre o acesso às tecnologias garante o uso didático e que a inclusão digital aconteça em larga escala em nossas instituições escolares.

“A escola necessita encontrar sua linguagem narrativa, o que requer abrir espaço (na formação e nas diversas modalidades de gestão) para as experiências dos sujeitos que fazem a prática, para que ressignifiquem a história contada e atribuam ou encontrem sentidos” (KRAMER, 2008, p.24).

Os professores do ensino básico enfrentam várias distinções no ensinar-aprender. Sejam nas características identitárias, socioculturais, individualidades e diferenças etárias dentro do ensino básico fundamental. Isso nos leva a observar os diversos estágios de desenvolvimento dos alunos que através das teorias da psicogênese referem-se à existência de determinadas características em determinados espaços temporais na trajetória do ser humano. Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo.

Vygotsky destacava o papel da linguagem e do processo histórico social no desenvolvimento do indivíduo, a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas também interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações pessoais. É na troca com outros sujeitos que o conhecimento e as funções sociais são assimilados. A linguagem é um fator determinante para o desenvolvimento da aprendizagem que se concretiza através dos signos, recursos utilizados neste contexto.

A linguagem libera a criança das impressões imediatas sobre o objeto, oferece-lhe a possibilidade de representar para si mesma algum objeto que não tenha visto e pensar nele. Com a ajuda da linguagem, a criança obtém a possibilidade de se libertar do poder das impressões imediatas, extrapolando seus limites. (VYGOTSKY, 1998, p. 122)

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