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O Instituto de Arquitetos do Brasil na disseminação da profissão do arquiteto moderno entre 1945-1969

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

FERNANDO SHIGUEO NAKANDAKARE

O INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL NA

DISSEMINAÇÃO DA PROFISSÃO DO ARQUITETO

MODERNO ENTRE 1945-1969

CAMPINAS 2018

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O INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL NA

DISSEMINAÇÃO DA PROFISSÃO DO ARQUITETO

MODERNO ENTRE 1945-1969

Dissertação de Mestrado apresentada a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, para obtenção do título de Mestre em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, na área de Arquitetura, Tecnologia e Cidade

Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Reis de Goes Monteiro

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO FERNANDO SHIGUEO NAKANDAKARE E ORIENTADO PELA PROFA. DRA. ANA MARIA REIS DE GOES MONTEIRO.

ASSINATURA DO ORIENTADORA

______________________________________

CAMPINAS 2018

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O INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL NA

DISSEMINAÇÃO DA PROFISSÃO DO ARQUITETO

MODERNO ENTRE 1945-1959

FERNANDO SHIGUEO NAKANDAKARE

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Profa. Dra. Ana Maria Reis de Goes Monteiro

Presidente e Orientadora

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas

Prof. Dr. Rafael Augusto Urano de Carvalho Frajndlich

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas

Profa. Dra. Josianne Frância Cerasoli

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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Dentre os caminhos escolhidos, poucos percorri sozinho. Fez parte desse mestrado aprender a olhar para os lados e reconhecer a grandeza daqueles que me acompanharam nesse percurso e a pequenez do que sei diante do universo a ser descoberto. Entrego essa dissertação olhando aqueles que me deram a mão e me apoiaram rumo a qualquer que fosse o sentido escolhido. Explicito aqui o pouco que sei diante do tanto que se oculta e enfatizo meu sentimento pela corrente de mãos a mim estendidas. Espero retribuir, senão aos mesmos, a qualquer um que precise de ajuda assim como eu precisei.

Agradeço especialmente à minha orientadora, Ana Goes, que desde a graduação sempre manteve suas portas abertas para mim.

Aos colegas do grupo de estudo que, semanalmente, me alimentaram com discussões, ajudaram em momentos críticos e tornaram esse percurso além de um trabalho a ser entregue. À Lilian, Beatriz, Lígia, Sheila e Fábio, meus mais sinceros agradecimentos. Agradeço em especial à Taiana, por sua imensa generosidade e por compartilhar muito do que fez essa dissertação possível.

Aos colegas e professores do laboratório Fluxus. Lá encontrei um cantinho em meio às idas e vindas da universidade para um café, uma soneca e uma conversa. À profa. Emília, prof. Evandro e profa. Silvia meus agradecimentos. A Gabriela, Jefferson e Thalita, minhas saudades das tardes de trabalho e torcida para que nossos caminhos voltem a se cruzar. O mesmo para Pedro, Isadora e Letícia, os futuros arquitetos e arquitetas que conosco trabalharam.

Às contribuições do prof. Rafael Urano que me instigaram e me deram a certeza de que a cerveja após a aula é o melhor digestor.

Aos funcionários na secretária que se mantiveram sempre dispostos e eficazes, agradeço.

À Carolina, que pacientemente aguentou minhas crises e entendeu minhas noites de escrita. Para minha companheira, mais do que minha gratidão, meu carinho e amor.

Por fim, à minha amada mãe. Escrevo com lágrimas por não saber falar de outra forma o quanto seu apoio me é fundamental. Se somos o fruto das nossas histórias, sou imensamente grato por ter a sua entrelaçada na minha.

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defensora da autonomia profissional, passou a expandir sua atuação junto às principais capitais do país por meio da fundação de departamentos estaduais acompanhados da promoção dos Congressos Brasileiros de Arquitetos. Como hipótese, adotou-se que o IAB, aliado a professores e estudantes participantes dos congressos, delineou em seus debates o profissional arquiteto, na busca de estruturar uma legislação regulamentadora da profissão. Para isso, utilizou-se da revisão do ensino como instrumento de consolidação do campo profissional almejado. Dessa forma, a dissertação objetivou verificar o processo de disseminação da profissão do arquiteto moderno segundo o IAB e suas pautas de debate nas capitais que sediaram os Congressos Brasileiros de Arquitetos entre 1945 e 1969. Por meio da análise dos registros dos congressos, observou-se a proximidade entre o IAB e as Faculdades de Arquitetura em um trânsito de arquitetos e engenheiros nas principais capitais do país. Enquanto a pauta "ensino de arquitetura" passou a ser defendida como síntese das modificações ao exercício profissional, o IAB se fortaleceu como porta-voz da categoria e defensor da revisão da profissão enquadrada junto às necessidades das cidades em desenvolvimento. Com a aliança entre profissionais e acadêmicos, a reforma curricular dos cursos de arquitetura se tornou um movimento nacional após o IV Congresso Brasileiro de Arquitetos, consolidando-se com o Currículo Mínimo de 1962. A revisão da regulamentação da profissão, por sua vez, veio a ser exposta na proposta legislativa divulgada no Boletim do IAB em 1958. Entretanto, ambas acabaram por sofrer amplos boicotes a partir de 1964. O Currículo Mínimo de 1962 sofreu uma nova revisão em 1969, sendo caracterizado pela ausência de diálogo com os arquitetos e em consonância unilateral com os acordos MEC-USAID, enquanto a revisão da regulamentação da profissão não seguiu adiante, permanecendo esta atrelada à engenharia pela legislação promulgada em 1966. Por fim, apontou-se para o conjunto de ações e debates propostos pelo IAB por meio de seus congressos e departamentos estaduais, unificando a categoria em prol de mudanças no ensino e profissão no sentido de consolidar seu campo de atuação.

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Starting in 1945, it was originated the debate about the need to review the curriculum in the architecture and urbanism programs as well as the need to regulate the architecture as a profession before the professional field it was taking. During that period, the Brazilian Institute of Architects (IAB), the representative entity of the field and an advocate for professional autonomy, expanded its acting area grounds through the foundation of state departments and the dissemination of Brazilian Conferences of Architecture across the main capitals of Brazil. The hypothesis of this work adopted that the IAB in jointed efforts with professors and students participants of the conferences described in their debates the architect as a professional, in order to develop a legislation that regulates the profession using, for that matter, the teaching review as a tool to consolidate the professional field longed for. Therefore, the purpose of this dissertation was to verify the process of dissemination of the modern architect profession according to the IAB and its debates’ agenda in the cities that hosted the Brazilian Conferences of Architecture between 1945 and 1969. Through the analysis of conferences’ records, it was possible to notice the proximity between IAB and architecture faculties due to the transit of architects and engineers throughout the main capitals of the country. While the teaching of architecture began to be defended as a synthesis of modifications to the professional practice, IAB strengthened itself as the spokes entity for the category and as an advocate for the review of the framed profession as long as the needs of the developing cities. With the alliance between professionals and academics, the curriculum review of the architecture programs became a national movement after the IV Brazilian Conference of Architects, culminating in the Minimum Program of 1962. The profession regulatory review, in turn, came to be exhibited in the legislative proposal for regulation published in the IAB Bulletin in 1958. However, both ended up suffering broad boycotts from 1964. The 1962’s Minimum Curriculum had to undergo a new review in 1969, that was characterized by the absence of dialogue among architects and in a unilateral consonance with the MEC-USAID agreements, while the review of the regulation of the profession did not go ahead, remaining linked to the engineering by the legislation enacted in 1966. Finally, it was pointed out to the set of actions and debates proposed by the IAB through its conferences and state departments, unifying the category in favor of changes in teaching and profession in order to consolidate its scope of action.

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(1995)... ...22

Figura 2 – Linha do tempo dos Congressos Brasileiros de Arquitetos e dos eventos ligados aos debates quanto ao ensino e à profissão do arquiteto...24

Figura 3 – Árvore evolucionista das tradições em arquitetura, 1920-1970...25

Figura 4 – Linha do tempo de eventos nas capitais estudadas...26

Figura 5 – Teoria da transição sóciotecnica...28

Figura 6 – Mapa de fluxos de atividades dos arquitetos formados pela ENBA entre 1930-1945...44

Figura 7 – Mapa de fluxos de atividades dos arquitetos formados pela ENBA/FNA entre 1945-1955...49

Figura 8 – Mapa de fluxos de atividades dos arquitetos formados pela FNA entre 1955-1962...52

Figura 9 – Localização e data de fundação dos departamentos do IAB e dos Congressos Brasileiros de Arquitetos entre 1943 e 1969... ...54

Figura 10 – Fundação dos cursos de arquitetura e sua federalização...56

Figura 11 – Debates em torno da profissão do arquiteto nos quadros do funcionalismo público...65

Figura 12 – Permanência do debate quanto aos cargos na década de 1950...66

Figura 13 – Em destaque Congressos de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo entre 1945 e 1955. Em transparência centros acadêmicos presentes nos debates sobre o ensino de arquitetura. ...78

Figura 14 – Encontro de Escolas de Arquitetura e os Encontros de diretores, professores e estudantes de Arquitetura e Urbanismo. ...83

Figura 15 – À esquerda, manifesto do departamento do IAB/RS quanto à formação do Plano Diretor e Código de Obras de Porto Alegre; à direita, manifesto do departamento do IAB/PE quanto ao Código de Obras de Recife.94 Figura 16 – Nota de fundação da Associação Brasileira de Arquitetos...100

Figura 17 – Arquitetos associados ao IAB/RJ em visita ao Ministério da Educação e Saúde durante a finalização da obra. ... ...102

Figura 18 – Delegação de arquitetos vindos do Rio de Janeiro para a instalação do Departamento Paulista do IAB, 1943... ...104

Figura 19 – Arquitetos participantes do I Congresso Brasileiro de Arquitetos (1945) ...106

Figura 20 – Edição especial da revista Acropole divulgando o IV Congresso Brasileiro de Arquitetos (1954)..110

Figura 21 – Organograma do IAB com o CONSU como instancia máxima ...111

Figura 22 – Plano Agache para a cidade do Rio de Janeiro (1930) ...119

Figura 23 – Planta do Campus para a Universidade do Brasil por Le Corbusier (1936) ...121

Figura 24 – Perspectiva do Campus para a Universidade do Brasil por Le Corbusier (1936) ...121

Figura 25 – Perspectiva da Faculdade Nacional de Arquitetura na Ilha do Fundão (1947) ...122

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Figura 29 – Edifício-sede do IAB Departamento de São Paulo (1951) ...134

Figura 30 – Nota de inauguração do IAB Departamento de São Paulo (1949) ...135

Figura 31 – à direita Edifício da FAUUSP da Cidade Universitária (1968); à esquerda Interior do edifício da FAUUSP da Cidade Universitária com a articulação dos ambientes de ensino em torno de um grande salão central...137

Figura 32 – à direita, atelier de arquitetura da FAUUSP - Foto de João Luiz Musa em ‘O espaço da USP: presente; e futuro’; á esquerda, manifestação no pátio da FAUUSP em 1969...138

Figura 33 – Eduardo Kneese de Mello no V Congresso Panamericano de Arquitetos, Montevidéu (1940)...141

Figura 34 – Diagrama de agentes e temáticas do I Congresso brasileiro de Arquitetos...144

Figura 35 – Manchete na Folha da Manhã (1944) ...145

Figura 36 – Divulgação realizada pela revista Acrópole (1945) ...146

Figura 37 – Diagrama de agentes e temáticas do IV Congresso brasileiro de Arquitetos...149

Figura 38 – Walter Gropius no IV Congresso Brasileiro de Arquitetos (1954) ...153

Figura 39 – Figura do Plano criado por Arnaldo Gladosh...155

Figura 40 – À esquerda, projeto para o Instituto de Belas Artes de Ernani Dias Correa; à direita, o projeto de Fernando Corona...157

Figura 41 – Perspectiva Edifício Instituto de Arquitetos do Brasil - RS, Porto Alegre, Carlos M. Fayet (1960)...161

Figura 42 – Da esquerda para a direita: Jorge Moreira, Riopardense de Macedo, Ubatuba de Faria e Edgar Graeff... ...164

Figura 43 – Fotos do II Congresso Brasileiro de Arquitetos...165

Figura 44 – Diagrama de agentes e temáticas do II Congresso brasileiro de Arquitetos...167

Figura 45 – Capas da revista Espaço, direção Carlos M. Fayet, Enilda Ribeiro, Jorge Sirito, Luis F. Corona, Nelson Souza, G. Bianchetti ...167

Figura 46 – Matéria no Jornal do Dia quanto o posicionamento do IAB/RS quanto a fusão dos cursos de arquitetura existentes em Porto Alegre. ...168

Figura 47 – Seção do IAB/RS no jornal local da cidade de Porto Alegre...169

Figura 48 – Croqui da Pampulha por Oscar Niemeyer...173

Figura 49 – acima Museu de arte moderna da Pampulha, abaino Perspectiva interna do Museu de Arte Moderna da Pampulha ...175

Figura 50 – Planta do Museu de arte moderna da Pampulha...176

Figura 51 – Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais (1954) ...178

Figura 52 – Plantas da Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais (1954) Fonte: Biblioteca da Escola de Arquitetura da UFMG...179

Figura 53 - Alunos durante aula teórica da Escola de Arquitetura de Minas Gerais (1950)...180

Figura 54 – documento que regulariza o funcionamento do IAB/MG na EA/UMG (1950)...183

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Projeto de Hélio Duarte, Zenon Lotufo, Abelardo de Souza (1960) ...202

Figura 61 – Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (1960-1970) ...203

Figura 62 – Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (1960-1970) ...204

Figura 63 – Sede do departamento IAB/BA...206

Figura 64 – capa da revista Acrópole do VI Congresso Brasileiro de Arquitetos (1966) ...211

Figura 65 – Registro do VI Congresso Brasileiro de Arquitetos...212

Figura 66 – Diagrama de agentes e temáticas do IV Congresso brasileiro de Arquitetos...213

Figura 67 – Quadro de obras citadas na pesquisa sobreposta à linha do tempo de cada região...218

Figura 68 – Teoria da transição adaptada para a disseminação da arquitetura modernista...220

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ABEA – Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna CPAM – Congresso Panamericano de Arquitetura Moderna DAC – Departamento de Arquitetura e Construção

DAU – Departamento de Arquitetura e Urbanismo ENBA – Escola Nacional de Belas Artes

EBA/BA – Escola de Belas Artes da Bahia

EBA/RS – Escolas de Belas Artes do Rio Grande do Sul EBA/PE – Escola de Belas Artes de Pernambuco EA/MG – Escola de Arquitetura de Minas Gerais

EPUCS – Escritório do Plano Urbano da Cidade de Salvador

FAU/UFRGS – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

FAU/USP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FEBASP – Faculdade de Belas-Artes de São Paulo

FNA – Faculdade Nacional de Arquitetura

FUMEC – Fundação Mineira de Educação e Cultura FURB – Universidade Regional de Blumenau

GFAU – Gremio Acadêmico da FAU/USP IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil

IAB/BA – Instituto de Arquitetos do Brasil / Bahia

IAB/DN – Instituto de Arquitetos do Brasil / Direção Nacional IAB/MG – Instituto de Arquitetos do Brasil / Minas Gerais

IAB/RJ – Instituto de Arquitetos do Brasil / Rio de Janeiro IAB/RS – Instituto de Arquitetos do Brasil / Rio Grande do Sul IAB/SP – Instituto de Arquitetos do Brasil / São Paulo

IAB/PE – Instituto de Arquitetos do Brasil / Pernambuco IBA – Instituto de Belar Artes do Rio Grande do SUl

MEC/USAID – Ministério da Educação / United States Agency for International Development UBA – Universidade da Bahia

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UIA/UNESCO – União Internacional dos Arquitetos / Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNB –Universidade de Brasília

UNE – União Nacional dos Estudantes

UPM – Universidade Presbiteriana Mackenzie USP – Universidade de São Paulo

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1. INTRODUÇÃO 14

2. MATERIAIS E MÉTODOS 19

3. A DISSEMINAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNISTA NO BRASIL 31

4. DISPUTAS E CONSENSOS NA REFORMULAÇÃO DO ENSINO E DA

PROFISSÃO DO ARQUITETO 60

5. O INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL NA CRIAÇÃO DE

DEPARTAMENTOS ESTADUAIS 99

5.1. RIO DE JANEIRO 115

5.2. SÃO PAULO 129

5.3. RIO GRANDE DO SUL 154

5.4. MINAS GERAIS 170

5.5. PERNAMBUCO 187

5.6. BAHIA 197

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 216

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1.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa teve início na Iniciação Científica1 (IC) “I e IV Congressos Brasileiros de Arquitetos”, realizada em 2015, que objetivou a organização dos dados correspondentes aos Congressos ocorridos entre 1945 e 1954 na cidade de São Paulo. No mesmo ano, realizou-se o Trabalho Final de Graduação com o tema “Escolas de Arquitetura”, voltado ao estudo da estrutura curricular e dos edifícios de escolas de arquitetura modernista. A partir dessas pesquisas, surgiram os primeiros questionamentos quanto à diversidade de arquiteturas modernistas produzidas na primeira metade do século XX e as mudanças junto ao ensino de arquitetura em cada região brasileira.

Com o início do mestrado, em 2016, retomou-se a pesquisa sobre os Congressos Brasileiros de Arquitetos, buscando abranger os Congressos não abordados na IC. Como ponto de partida, a pesquisa se direcionou a verificar as condicionantes e os objetivos que viabilizaram a realização dos Congressos nas diferentes capitais brasileiras. Por meio dos primeiros levantamentos bibliográficos, os Congressos foram apontados como parte de uma agenda de iniciativas de cunho cultural – exposições, bienais, congressos etc. - espalhadas pelo país no início do século XX e potencializadas após 1922, ano em que ocorreu a emblemática Semana de Arte Moderna2.

Sob esse olhar, questionou-se por quais motivos teriam os Congressos Brasileiros de Arquitetos ocorrido em cidades tão distintas se, entre 1930 e 1960, os principais debates quanto à arquitetura modernista se apresentaram centralizados nas capitais dos estados do Rio

1 Iniciação realizada em 2015 na Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp,

financiada pelo PIBIC e orientada pela Profa. Dra. Ana Maria Reis de Goes Monteiro.

2 Segundo Zanini (1983), o Modernismo no Brasil foi resultado de uma “transformação pretendida” embasada “na absorção de referências mais avançadas da cultura e da arte do Velho Mundo, havendo consciência da necessidade de se introduzir nessa atualização um conhecimento profundo da realidade nacional”. O Modernismo foi, para o autor, “antes de mais nada uma busca em bruto de libertação”. A agenda de eventos estudados teve por base o fomento a transformações culturais de cunho modernista pelo país contando com a presença de arquitetos.

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de Janeiro e São Paulo. Notou-se assim uma expansão em curso, com início em 1945, a partir da criação de Faculdades de Arquitetura autônomas3 e acompanhada da fundação de departamentos estaduais do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). A aliança entre essas duas instituições veio a ocorrer por meio dos Congressos Brasileiros de Arquitetos, sendo esse evento uma possível chave para identificar questões quanto ao ensino e à profissão do arquiteto existentes no período.

Os primeiros levantamentos apontaram, ainda, que as capitais que sediaram os Congressos foram as mesmas a demandar a constituição de Planos Urbanos e Códigos de Obras. Nesse sentido, tais capitais careceram, entre a década de 1930 e 1950, de profissionais aptos a intervir junto ao planejamento das cidades, sobretudo arquitetos e urbanistas conhecedores das problemáticas e potencialidades locais. Reforçou-se, assim, a necessidade de formar um número maior de arquitetos e regulamentar a profissão nas diferentes regiões do país, consolidando-a como apta a atender às necessidades das cidades em desenvolvimento.

Ainda que o estudo da historiografia da arquitetura brasileira, de um modo geral, enfatize as contribuições da Escola Carioca e/ou Paulista, os dados levantados sugeriram que a instalação de entidades como o IAB e as Faculdades de Arquitetura foram instrumentos à disseminação da arquitetura modernista às demais regiões do país. Vislumbraram-se iniciativas que ora trataram da divulgação dos ideais traçados pelas vanguardas, ora estabeleceram uma troca de experiências em um processo de formação de consensos. Tais experiências se deram por meio de interlocutores próprios, presentes desde a década de 1930, ativos junto às ações dos departamentos estaduais do IAB e na formação de Faculdade de Arquitetura autônomas. Emergiu, dessa maneira, a importância de estudar os Congressos Brasileiros de Arquitetos segundo as pautas desenvolvidas no âmbito nacional. Sendo o IAB e seus departamentos estaduais colaboradores da disseminação dos interesses dos arquitetos modernos4, supôs-se

3 A partir de 1945, com a expansão do ensino superior promovida pelo governo federal, os cursos de arquitetura existentes passaram a ser incorporados junto às universidades emergentes no período. Devido às reivindicações por parte de docentes e estudantes por autonomia dos cursos de arquitetura, que até então se encontravam atrelados às Escolas de Belas Artes e Politécnicas, à medida que os cursos se instalavam junto à estrutura universitária, passavam a se apresentar como Faculdades de Arquitetura autônomas.

4 Segundo Kopp (1995), o arquiteto moderno corresponde àquele que, além de utilizar os elementos que compunham a arquitetura modernista, tratou de estabelecer relações com o poder público em prol do reconhecimento da profissão e seu valor como função social. Para Lucio Costa (1931), ser moderno consistia em uma postura ideológica frente à implementação de ideais sociais e culturais. Somente a partir dessa postura se obteria o título de arquiteto moderno, sendo este distinto aos que utilizavam dos elementos que compunham a arquitetura modernista em torno de “modismos estilísticos”. Para essa dissertação, ao descrever “arquitetos modernos”, tratamos dos arquitetos articulados coletivamente em torno da consolidação da profissão do arquiteto em diálogo com as necessidades do poder público. Foram eles também que propuseram modificações no regime

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categoria, como: a afirmação da profissão do arquiteto e urbanista; a reformulação do ensino por meio de uma reforma curricular; e a divulgação da arquitetura modernista junto à população e seu principal financiador, o Estado. Diante disso, a pesquisa abordou os Congressos como instrumentos voltados ao fomento de tais debates, sendo esses encontros formais, promotores de debates e voltados à fixação de diretrizes de interesse comum. Quanto ao IAB, seu intuito era de promover e estimular um olhar em torno da divulgação da profissão do arquiteto moderno, perpetuando-a em busca de uma gradativa consolidação nas diferentes regiões do país.

A partir de tais premissas, o objetivo da dissertação foi verificar o papel do IAB na disseminação da profissão do arquiteto moderno nas capitais estaduais brasileiras entre 1945-1969, sendo estas: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador. Uma vez circunscritos os estados que sediaram os Congressos e suas concomitâncias – de cidades em desenvolvimento, surgimento de departamentos do IAB e criação de Faculdades de Arquitetura autônomas –, foi possível indicar quais temas abordados nos Congressos corresponderam ao papel do IAB perante a disseminação da profissão do arquiteto moderno.

Por meio de uma pesquisa documental, levantaram-se materiais que registraram os Congressos Brasileiros de Arquitetos, somado a artigos e depoimentos quanto à atuação dos departamentos estaduais do IAB. Diante da elaboração da profissão do arquiteto como campo disciplinar independente da engenharia, as pautas “profissão do arquiteto” e “ensino de arquitetura”, expressas nos anais dos Congressos e boletins do IAB, tornaram-se materiais primordiais como objeto de estudo.

Três pontos nortearam a organização do material consultado: primeiramente, o papel do IAB como instituição promotora dos congressos e seus objetivos como representação da categoria; os quadros locais das diferentes capitais que permitiram a disseminação da arquitetura modernista; e a construção de consensos que objetivaram consolidar a profissão do arquiteto e tornar a arquitetura modernista uma prática corrente nas cidades em desenvolvimento.

vigente, buscando mudanças estruturais voltadas à implementação da arquitetura modernista em larga escala. Contudo, compreende-se que as obras arquitetônicas produzidas no período permanecem atreladas a elementos que compõem uma linguagem arquitetônica específica, sendo essas chamadas, no decorrer da dissertação, de “arquitetura modernista”.

(17)

Em vista da relação entre os departamentos estaduais do IAB e as Faculdades de Arquitetura, adotou-se a hipótese de que o IAB, aliado a professores e estudantes participantes dos Congressos, delineou, por meio de debates, o profissional arquiteto moderno almejado em busca de consolidar seu campo de atuação em território nacional. Tendo em vista a realização, no período entre 1945 e 1969, de seis Congressos Brasileiros de Arquitetos, somados a três Congressos de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo dispersos entre capitais com cursos de arquitetura e departamentos do IAB recém-instalados, mostrou-se possível um diálogo entre tais instâncias. Sendo os membros presentes nos Congressos aqueles que se apresentaram como atuantes na instância profissional e também no ensino, a associação das pautas de ensino e profissão indicaram a necessidade de consultar também os encontros promovidos pelo Movimento Nacional pela Reforma do Ensino de Arquitetura ocorridos entre 1955 e 1962.

Além deste capítulo de introdução e dos materiais e métodos utilizados, o corpo da pesquisa estruturou-se em três partes. A primeira partiu do estudo dos trabalhos que relatam a história da arquitetura modernista no Brasil, seguido do olhar atento especialmente aos agentes e instituições que promoveram a sua disseminação. O capítulo intitulado “A disseminação da arquitetura modernista no Brasil” apresentou a revisão bibliográfica referente à temática e levantou questões quanto à historiografia da arquitetura modernista brasileira e a construção de uma rede de arquitetos modernos atuante no país. Com a presença dessa rede, entende-se o surgimento do IAB como instituição de representação da categoria e sua expansão em torno das capitais brasileiras em desenvolvimento.

O segundo bloco verificou o papel do Instituto de Arquitetos do Brasil e das Faculdades de Arquitetura nas ações voltadas à consolidação dos debates sobre regulamentações legislativas. Dados os desafios enfrentados pela prática da arquitetura modernista em cada região, o capítulo “Disputas e consensos na reformulação do ensino e da profissão do arquiteto” foi desenvolvido em torno da proposta legislativa do IAB para regulamentação da profissão do arquiteto e do “Movimento Nacional pela Reforma do Ensino de Arquitetura”. Nesse capítulo, foram apresentados os debates realizados entre os departamentos do IAB quanto à necessidade de mudanças na legislação regulamentadora da profissão, à luta nacional pela mudança no currículo de ensino de arquitetura e à disputa pelo desenho das cidades. Em meio a esses debates, destacou-se o processo de construção do consenso perante o que seria a profissão do arquiteto, suas atribuições e os elementos necessárias à sua formação.

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diálogo entre as experiências regionais e o discurso unificador proposto pelas ações do IAB. O capítulo “O Instituto de Arquitetos do Brasil na criação de departamentos estaduais” verificou o processo de formação dos departamentos do IAB frente a um momento que exigiu a reestruturação das capitais brasileiras. Ao assumir o papel de entidade difusora da arquitetura modernista e de articulador entre arquitetos modernos, a expansão do IAB se deu por meio da criação de departamentos estaduais e da promoção dos Congressos Brasileiros de Arquitetos. Diante dos debates sobre ensino e profissão traçados nas diversas capitais, observou-se nesse capítulo o estímulo à propagação da arquitetura modernista, as diferentes contribuições e o exercício da função de porta-voz exercido pelo IAB em meio às deliberações acordadas.

O fomento por tais debates nos departamentos estaduais do IAB reforçaram as transformações na profissão, sendo essas impulsionadas pelo uso da arquitetura modernista como elemento de renovação de uma prática dita como ultrapassada. Paralelo a este movimento, o conjunto de ações promovidas pelo Conselho Superior do IAB buscava viabilizar a regulamentação da profissão e a reforma curricular como uma unidade mínima para consolidação da profissão em todo país. A somatória entre o discurso de promoção da arquitetura modernista e a regulamentação da profissão unificou os arquitetos modernos em torno da conquista do seu campo profissional, permitindo o surgimento de novas correntes, em vista dos avanços obtidos pelas regulamentações aprovadas durante a década de 1960.

Como contribuição, a pesquisa verificou que o processo de disseminação da profissão do arquiteto moderno se deu acompanhado da construção de obras modernistas dentro do aval do IAB e das então recém-criadas Faculdades de Arquitetura. Tais obras, realizadas por meio de concursos ou de convites a notáveis representantes nas faculdades e departamentos, demonstram que a arquitetura modernista produzida no período se mostrou diversa em um intrínseco jogo de influências e influenciadores. Concomitante à construção dessas obras, discutiu-se o papel do IAB e de seus departamentos estaduais no conjunto de ações propostas pelos arquitetos modernos no Brasil, sobretudo no sentido de estabelecer um discurso uníssono entre profissionais e acadêmicos. Apontamentos específicos observados no decorrer da pesquisa foram apresentados, por fim, e também questões capazes de gerar desdobramentos para pesquisas futuras.

(19)

2.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

A pesquisa teve como ponto de partida o levantamento dos Congressos Brasileiros de Arquitetos realizados entre 1945 e 1969 nas capitais São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador. Caracterizada por uma pesquisa documental baseada nos registros primários desses Congressos, buscaram-se documentos, tais como ATAs, ANAIS, Boletins e/ou Folhetins, que registrassem as pautas debatidas, os lugares de realização, as datas dos eventos, seus organizadores e participantes.

A consulta pelos registros foi realizada nos acervos das bibliotecas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), nos arquivos do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento São Paulo (IAB/SP), e no acervo do Centro Cultural São Paulo. Em seguida, foram consultados a biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais e o acervo documental do departamento do IAB/MG. Junto à biblioteca da FAUUSP, utilizou-se o “Índice de arquitetura brasileira 1950-1970”, que possibilitou mapear os principais artigos do período que registraram os Congressos Brasileiros de Arquitetos. O acervo raro também foi consultado em função do período, dos professores envolvidos junto ao IAB/SP5 e também do Grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (GFAU). Em seguida, consultaram-se os arquivos disponíveis no departamento do IAB/SP, onde foram encontradas as ATAs de assembleia, os boletins do IAB e anais dos Congressos.

A biblioteca da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também veio a ser consultada, uma vez que ela disponibiliza uma revista editada no período pelos professores presentes na fundação da escola. A revista relata temas debatidos nacionalmente e questões pertinentes ao contexto local, o que contribuiu para a formação de um quadro para além dos documentos obtidos nos acervos paulistas. O acervo do IAB/MG, também uma referência para a pesquisa, foi consultado dispondo de registro de jornais

5 Para verificar os professores envolvidos, utilizou-se a dissertação de Taiane Car Vidotto (2014) que sistematizou os membros do IAB presentes na FAUUSP atuando como agentes da reforma curricular de 1962.

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Arquitetura. Apesar de os arquivos em Belo Horizonte apresentarem poucas novidades, se comparados ao material levantado em São Paulo, pôde-se observar semelhanças junto à relação estabelecida entre os departamentos estaduais do IAB e sua presença nas faculdades de arquitetura em ambas as capitais.

A busca prosseguiu, em um segundo momento, no levantamento de publicações em periódicos e jornais locais, tendo como referência as datas de ocorrência dos Congressos, a criação de departamentos estaduais e os tópicos de interesse público debatidos. Partiu-se do levantamento dos seguintes jornais e revistas: Diário da Manhã, do Rio de Janeiro, contendo debates travados pelo IAB/RJ; Folha da Manhã, de São Paulo, apresentando notas do I e IV Congresso Brasileiro de Arquitetos; Correio do Povo e O Globo, de Porto Alegre, que revelou publicações referentes à atuação do IAB/RS; Correio da Manhã, de Salvador, com registros do VI Congresso Brasileiro de Arquitetos; e Tribuna Universitária e O Diário, de Belo Horizonte, com informações sobre os conflitos entre a Escola de Arquitetura e seus estudantes; e o Jornal do Dia, de Recife, que apresentou manifestações do IAB/PE. Também foram consultados os acervos virtuais do Centro Universitário de Belas Artes, voltado à documentação do arquiteto Eduardo Kneese de Mello, e da Fundação Vilanova Artigas, que dispõem de fotografias dos eventos.

As ações dos departamentos do IAB e das Faculdades de Arquitetura fizeram transparecer a proximidade entre ensino e profissão, revelando a necessidade de estudar tais documentos conjuntamente com os anais dos “Congressos de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo” e dos “Encontros de Diretores, Professores e Estudantes”. Tais anais foram encontrados junto às bibliotecas da FAUUSP e da EA/UFMG, sendo adotados como complementares nos debates travados entre as instituições apresentadas. Tais documentos possibilitaram a escrita quanto à repercussão dos tópicos debatidos nos Congressos e as instâncias executivas à consolidação das deliberações travadas.

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Recorte

Levantados os materiais descritos acima, iniciou-se a organização das informações coletadas. Como base para tal, primeiramente, discutiu-se como delinear o período da pesquisa. Inicialmente, a proposta se pautou nos Congressos ocorridos entre 1945 e 1957, por serem esses inscritos até a reforma curricular de 1962. Entretanto, ao longo da pesquisa, verificou-se a necessidade de uma melhor avaliação da questão.

Tendo por base as bibliografias que narraram a história da arquitetura modernista no Brasil, estudaram-se as propostas de periodização apresentadas por Yves Bruand (1973), Ruth Zein e Alice Bastos (2011), Hugo Segawa (1998), Edgar Graeff (1995) e Sonia Marques Barreto (1986). Observou-se que, se a divisão por décadas proposta por Yves Bruand (1973) concedeu certa unidade à produção arquitetônica modernista brasileira, a organização em meias décadas da obra de Bastos e Zein (2011) “permite escapar da ideia vaga e acriticamente repetida, de que a verdadeira arquitetura brasileira se teria encerrado na época de Brasília” (BASTOS; Zein, 2011, p.12). Por sua vez, a periodização proposta por Segawa (1998) em linhas paralelas de acontecimentos colaborou para a escolha do período, apresentando marcos voltados à construção de discursos segundo acontecimentos que permitem uma leitura direcionada de acordo com temáticas, sem perder de vista a formação de um discurso uníssono desempenhado pelos arquitetos modernos brasileiros.

Compreendidos tais aspectos, foram consultados os trabalhos de Edgar Graeff (1995) e Sônia Marques Barreto (1986), por serem esses que, em síntese, procuraram representar um denominador comum entre os acontecimentos que circunscreveram as mudanças em torno da profissão e do ensino do arquiteto no século XX e o momento político-econômico vivido pelo país. Na proposta de Graeff, o autor adotou o período entre 1930 -1944 (consolidação da

Escola Carioca e a reorganização do IAB); 1945-1953, (desenvolvimento da fase democrática

do IAB e a luta por autonomia dos cursos de Arquitetura); e 1954-1962, (a crítica internacional e o movimento nacional pela reforma do ensino). Já Barreto define os períodos de 1826-1930 (Da academia às Escolas Politécnicas até a reforma da ENBA); 1930-1950 (Luta pela autonomia dos cursos e pela afirmação profissional); 1950-1968 (Modernização e novos modelos até a reforma universitária); e 1968-1981 (proliferação das escolas). Se Graeff estabeleceu um recorte específico, capaz de discorrer sobre os acontecimentos entrelaçando

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ações abrangentes, geridas por instituições e diretrizes do Estado que demandaram períodos ampliados a sua consolidação (Figura 1).

Figura 1 – Linha do tempo com os períodos descritos pelos autores Sonia Marques (1982) e Edgar Graeff (1995) Fonte: autor (2017)

Ambas as referências nortearam o trabalho, demonstrando serem períodos plausíveis de entrelaçamento com os debates em torno do ensino e da profissão do arquiteto moderno. Logo, adotaram-se pontos marcantes de caráter nacional, como datas de início e fim do período; enquanto pelos Congressos se construíram os entrelaces dos acontecimentos locais e os debates nacionais. Delimitou-se como início o ano 1945, ano em que se formalizou a Faculdade Nacional de Arquitetura perante a legislação federal, somado ao início do período democrático e a realização do I Congresso Brasileiro de Arquitetos; e como limite, 1969, data em que se estabelece o Currículo Mínimo realizado dentro do período de Regime Militar e após a reforma universitária de 1968.

A escolha por maior enfoque ao Congresso Brasileiro de Arquitetos, além dos motivos explicitados anteriormente, foi devido a terem se reunido, entre 1945 e 1969, em um mesmo espaço, profissionais, docentes e estudantes voltados ao debate dos problemas da arquitetura no Brasil - questão que não se repetiu nos Congressos de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo ou nos Encontro entre diretores, professores e estudantes de Arquitetura6. Ainda que eventos como bienais e exposições revelem a presença de membros do IAB e de cursos de arquitetura, os Congressos desse período consistem em eventos notórios pela amplitude de pautas e participantes que o compõem.

6 No período entre 1930 e 1960 houve também a ocorrência de Congressos de Urbanismo nacionais e internacionais. Contudo, tais congressos possuíam um enfoque distinto, nos quais predominavam questões pertinentes ao urbanismo na formação e no desenvolvimento de cidades industriais. Neles, as questões relativas à formação e à autonomia da profissão do arquiteto, estudadas por este trabalho, não vieram a ser contempladas como temáticas.

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Metodologia

No decorrer da pesquisa, o mapeamento das capitais-sedes mostrou-se como ponto relevante ao entendimento dos Congressos Brasileiros de Arquitetos. Foram elas São Paulo (I e IV Congresso), Porto Alegre (II Congresso), Belo Horizonte (III Congresso), Recife (V Congresso) e, por fim, Salvador (VI Congresso). Os demais eventos, citados anteriormente, também vieram a ser mapeados, se mostrando notáveis ao entendimento das questões que permearam a disseminação da profissão do arquiteto moderno e seu fomento nas instâncias locais.

Para o mapeamento de tais acontecimentos, utilizou-se da cartografia como processo de pesquisa. Segundo Ribas (2017), o desenho de diagramas permite que o uso da imagem se torne parte ativa do processo de pesquisa, indo além da mera representação de determinado ponto de vista. Com isso, ao conceber mapas ilustrativos aos documentos selecionados, foi possível visualizar a formação das instituições estudadas e o trânsito entre os agentes disseminadores da arquitetura modernista. Os congressos e seus participantes foram observados como promotores do fluxo de informações entre as capitais, enquanto que as instituições (escolas, faculdades e departamentos) se apresentaram como instâncias fixas que se estabeleceram e influenciaram os direcionamentos que moldaram cada localidade.

Com base nas questões abordadas acima, devido a um mesmo indivíduo transitar por diferentes instituições, observou-se a necessidade de utilizar a linha do tempo como instrumento de análise associado aos mapas dos fluxos travados. Desenhou-se, assim, uma linha do tempo, apontando a data dos Congressos Brasileiros de Arquitetos em relação à luta por autonomia dos cursos de arquitetura e os eventos que debateram ensino e profissão de modo circunscritos pelo recorte (Figura 2). Tal análise contribuiu com o entendimento do conjunto de eventos em função da periodização selecionada e subsidiou a primeira parte da dissertação.

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Figura 2 – Linha do tempo dos Congressos Brasileiros de Arquitetos e dos eventos ligados aos debates quanto ao ensino e a profissão do arquiteto

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Apesar de o trabalho ter sido organizado dentro de um recorte temporal específico, a história é compreendida segundo linhas de acontecimentos que se entrelaçam, de modo que recortes podem acabar por demarcar acontecimentos específicos e engessar períodos em cronologias demasiadamente demarcadas. Segundo Charles Jencks (1985), é possível traçar a existência de “Movimentos Modernos”, formados por linhas de acontecimentos que se interpolam de modo mais orgânico (Figura 3). A proposta de Jenks parte de seis correntes que ora se aproximam, ora se distanciam, traçando um quadro de sucessivos acontecimentos. A importância de interlocutores foi nesse momento identificada, sendo eles representantes de determinadas correntes e propagadores dos movimentos desenhados por Jencks.

Figura 3 - Árvore evolucionista das tradições em arquitetura, 1920-1970. Fonte: Charles Kencks (1985)

Para que o desenho das condições da disseminação da arquitetura modernista não se limitasse a uma corrente única, notou-se a necessidade de desenhar quadros de eventos locais, observando acontecimentos e iniciativas que estabelecessem diálogo com os debates perpetuados principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Dessa forma, organizou-se um quadro para explicitar os eventos locais levantados durante a revisão bibliográfica que pautaram o fomento da arquitetura modernista nas cidades mapeadas pelo recorte (Figura 4).

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Figura 4 – linha do tempo de eventos nas capitais estudadas Fonte: autor (2017)

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O resultado desse levantamento foi sistematizado e correlacionado com os Congressos Brasileiros de Arquitetos. Nos pontos que demarcam os Congressos, a presença da linha em vermelho costura os departamentos estaduais do IAB presentes em cada ocasião. A formulação desse quadro permitiu a escrita da terceira parte da dissertação. Nela, foram apresentados tais eventos como fomentadores do modernismo enquanto movimento cultural, e associados à implementação dos departamentos do IAB nas respectivas capitais junto aos debates travados quanto ao ensino e à profissão.

Os desenhos da linha do tempo e dos mapas foram a base para uma possível compreensão de como ocorreu a disseminação da arquitetura modernista no Brasil. Entretanto, a síntese da informação coletada demandou uma metodologia capaz de associar os elementos traçados na linha do tempo com o processo de transição das diferentes manifestações modernistas nas capitais estudadas.

Em vista do objetivo estabelecido pela pesquisa, a metodologia se encaminhou para o uso da Teoria da Transição Sociotécnica. Segundo Geels (2002; 2011), a teoria consiste em um conjunto de processos e derivadas que, atuando em um sentido comum, confluem com o objetivo de consolidar uma transição social e tecnológica. O conjunto de processos e variáveis necessários a uma transição foi representado por Geels (2011) como uma curva progressiva separada em três etapas (Figura 5).

Para Geels (2011, p.37), “as transições podem ser utilizadas para a análise de como práticas se desenvolvem, como se estabilizam e como práticas estabelecidas desaparecem”. A abordagem de transformação a partir, unicamente, do surgimento de uma tecnologia é chamada por Geels de transições tecnológicas (TT), e criticada perante a necessidade de incorporar aspectos contextuais que criem uma perspectiva mais ampla e estrutural do processo. A inclusão de um sistema complexo e estrutural para a análise de transições é chamada por Geels de Transição Sociotécnica. Para Geels, tal teoria considera, dentre outros aspectos, a necessidade de abordar as transições a partir de uma perspectiva técnica e social que influi de maneira ativa para sua consolidação.

A construção de um modelo estrutural observa que tudo o que é modificado envolve um conjunto de elementos que possibilita a perpetuação de determinada prática de forma contínua (GEELS, 2011). Assim, Transições Sociotécnicas diferem da Transição Tecnológica por

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institucional (regulatória e cultural), para além da dimensão unicamente tecnológica.

Para Geels, existe uma complementaridade entre as transições que, a depender da profundidade que seja assumida, diferencia no seu impacto sobre a sociedade. Dessa forma, a análise das mudanças não deve focar apenas na ideia da tecnologia como fator único ou principal, mas considerar ainda as práticas dos usuários, a legislação, as redes industriais, a infraestrutura e os significados simbólicos. Isso porque, a partir de dinâmicas complexas, vários atores relacionam-se com objetivos comuns e influenciam-se, direcionados para uma mudança coletiva (GEELS, 2002).

Figura 5 – Teoria da transição sociotécnica Fonte: Geels (2011)

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A teoria tem sido aplicada em diferentes estudos históricos e se mostra pautada em três etapas: a de experiências esporádicas pouco ou não conectadas, mas que possuem aspectos semelhantes (nichos – onde surgem as inovações); a de construção de uma linha comum, constituída por diferentes experiências alinhadas segundo um elemento ou ideologia comum (regime e estabelecimento de regras); e, por fim, a perpetuação da proposta em larga escala (na qual ocorre um envolvimento amplo, chamado de paisagem sociotécnica) (GELLS, 2011). Segundo a teoria, as diferentes etapas são influenciadas por um prisma de acontecimentos políticos, tecnológicos, culturais, industriais, preferências de mercado e científicos. Tais elementos, ao perpassarem pela corrente que se consolida, reinterpretam-se em vertentes que podem vir a criar novos regimes que se aproveitam de “janelas de oportunidade” abertas pelos avanços propostos através da iniciativa anterior.

Entretanto, Geels (2002) apresenta que, por vezes, ocorre o declínio de inovações que surgem, pois, por não serem aplicadas em comunicação com contextos locais, não chegam a romper um contexto estável e construir novos regimes. Sendo assim, cria-se a necessidade de uma comunicação contínua entre os elementos que são regulamentados nos regimes e as possibilidades de aplicação local, para que, de fato, sejam estruturadas a um desenvolvimento contínuo em distintos contextos.

O processo de Transição Sociotécnica pode ser observado na mudança entre a arquitetura Neocolonial, tradicionalmente perpetuada pelos “academicistas” presentes nas Escolas de Belas Artes e a Politécnica; e a arquitetura modernista, iniciada por arquitetos modernos vanguardistas que se encontraram dispersos pelo país durante a década de 1930. À medida que a categoria organizada pelo IAB se unificou em prol de uma legislação regulamentadora da profissão e de mudanças junto ao ensino de arquitetura, supõe-se que, consequentemente, ocorreu a transição entre a arquitetura tradicionalmente reproduzida pelas Escolas para a arquitetura modernista como prática corrente.

Devido a tais pontos, utilizou-se da Teoria da Transição Sociotécnica para verificar a disseminação da profissão do arquiteto nas diferentes capitais, pontuando a criação de Faculdades de Arquitetura e departamentos do IAB como instrumentos de consolidação da prática da arquitetura modernista. Quanto à curva crescente que representa a transição, essa foi decomposta a partir das capitais estudadas, enquanto os Congressos Brasileiros de Arquitetos representam a gradativa unificação dessas iniciativas em uma linha única.

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se as propostas modernistas desenvolvidas ente 1930 e 1945. A partir de 1945, data de criação da Faculdade Nacional de Arquitetura e primeiro marco legislativo voltado à regulamentação da profissão, pontuou-se o surgimento das Faculdades de Arquitetura autônomas e departamentos do IAB. Os esforços em regulamentar a profissão foram estipulados segundo o início do “Movimento pela Reforma do Ensino de Arquitetura” e a “Proposta de Regulamentação da Profissão do Arquiteto do IAB”, vistos como sintetizadores dos debates quanto ao ensino e à profissão; enquanto que os Currículos Mínimos de 1962 e 1969 e a Legislação de Regulamentação da Profissão de 1966 foram adotados como limites que encerram o período estudado.

Ao utilizar da Teoria da Transição como baliza, revelou-se a condição dialética entre experiências locais e uma estruturação em escala nacional da prática da arquitetura modernista. No entanto, não se pode perder de vista as condicionantes contextuais e as influências externas à formação de um movimento consistente e uníssono, plausível de ser regulamentado. Interessou à pesquisa contribuir com a apresentação das relações promovidas pelos Congressos Brasileiros de Arquitetos que indicassem a presença dos departamentos do IAB e a dimensão de um amplo Movimento Moderno no Brasil, espalhado por todo o território nacional e presente (ainda que não unificado) desde a década de 1930. Por mais que se tenha utilizado a pesquisa documental como elemento norteador, a análise das informações coletadas foi um processo dinâmico que se estabeleceu segundo diferentes leituras, fomentando um olhar abrangente sobre o contexto do período e subsidiado pelos documentos.

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3.

A DISSEMINAÇÃO DA ARQUITETURA

MODERNISTA NO BRASIL

Segundo Alan Colquhoum (2004), a principal questão tratada pelo modernismo consistiu na representação de mudança entre o passado e o presente em um rompimento em relação ao existente. Para o autor, o modernismo na arquitetura teria sido influenciado principalmente pela teoria artística, sendo a tecnologia um dentre os elementos que o fomentaram. Ao observar o quadro de eventos culturais no Brasil no decorrer da década de 1930, é possível encontrar manifestações de cunho modernizador em diversas capitais brasileiras, criando cenários diversos de fomento a mudanças na cultura e na sociedade. Paralelo a isso, o crescimento das cidades brasileiras transformou a paisagem e abriu caminho para um almejado desenvolvimento que regenerasse o país de crises econômicas como a de 1929. Acompanhando as transformações culturais, políticas e econômicas, os arquitetos atuantes no período também abriram frentes para mudanças. Promoveram ações voltadas à reformulação dos princípios que norteavam a produção arquitetônica e, também, as regulamentações para o exercício da profissão. Uma vez que Rio de Janeiro e São Paulo eram as capitais brasileiras que concentravam maior poder econômico e contavam com um contingente de intelectuais residentes e movimentos de cunho cultural, foram nelas que as vanguardas arquitetônicas emergiram. Experiências como a de Flávio de Carvalho e Gregori Warchvichik, em São Paulo, e de Lucio Costa e equipe, no Rio de Janeiro, foram reconhecidas internacionalmente e intensamente estudadas devido ao seu papel na disseminação da arquitetura modernista brasileira.

Outras vanguardas modernistas, voltadas ao fomento cultural, também se estabeleceram em Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre no mesmo período. Ainda que em menor escala, tais movimentações foram importantes acontecimentos para a dispersão das iniciativas modernizantes pelo país, incitando a necessidade de rompimento com um passado colonial para prospecção de um país grande e desenvolvido. Em meio a essas vanguardas, havia a presença de arquitetos como Diógenes Rebouças, Tasso Correa, Luís Nunes e Aníbal Mattos,

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articuladores entre os arquitetos modernos cariocas e paulistas e as demais localidades do país.

Ao questionar o processo de disseminação da arquitetura modernista no Brasil segundo a arquitetura modernista produzida no Rio de Janeiro e São Paulo, foi considerada a abordagem historiográfica frente à transcrição do papel das vanguardas e seus protagonistas. Observou-se a necessidade de pesquisas que valorizassem personagens ainda pouco explorados e o papel das instituições de representação da categoria em relação à desmistificação de uma geração heroica. Para tanto, realizaram-se, a princípio, leituras em busca de compreender a arquitetura modernista brasileira diante da sua diversidade, valorizando os processos que permitiram a promoção da arquitetura modernista nos demais estados brasileiros. Sem perder de vista a importância das vanguardas em meio a esse processo, procurou-se identificar articulações que permitissem um olhar para além de protagonismos.

Diante dessa perspectiva, o presente capítulo segue dividido em três partes. A primeira parte aborda a bibliografia a respeito da disseminação da arquitetura modernista pelo Brasil. Foram organizadas as fontes em busca de compreender suas contribuições para a formação da historiografia da arquitetura brasileira. Dentre as bibliografias selecionadas, duas foram adotadas com maior ênfase para esta dissertação, sendo essas os trabalhos de Hugo Segawa (2002), “Arquiteturas no Brasil 1900-1990”; e de Maria Alice Bastos e Ruth Verde Zein (2015), “Brasil: Arquiteturas após 1950”.

A segunda parte desse capítulo abordou a formação de uma rede de arquitetos modernos. Diante dos períodos delimitados por Edgar Graeff (1995) que compuseram a consolidação da arquitetura modernista no país, traçaram-se ações de arquitetos modernos entre as capitais brasileiras estudadas, evidenciando agentes da disseminação da arquitetura modernista. O contínuo trânsito entre pessoas e informações demonstrou a formação de uma dinâmica rede, que se expandiu à medida que a arquitetura modernista se consolidou como modelo oficial adotado pelo poder público, além de pontuar eventos nacionais e internacionais que influenciaram nesse processo.

A terceira parte evidenciou as questões levantadas que subsidiaram a escrita dos capítulos seguintes. O desenho da rede apontou para a existência de centralidades ao debate arquitetônico, alterando sua proeminência entre os períodos delineados por Graeff (1995).

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Tais centralidades se mostraram em diálogo com as demais localidades, de modo que a rede constituída foi um dentre os fatores que possibilitaram a disseminação da arquitetura modernista e a possibilidade de regulamentá-la em escala nacional. Contudo, revelou-se a necessidade de verificar os contextos locais que formaram os diversos pontos dessa rede e as distintas contribuições nesse mosaico de agentes e acontecimentos.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Nas obras de Zevi (1973), Giedion (1963) e Pevsner (1961), foram observadas as abordagens que constituem os primeiros ensaios de classificação da arquitetura modernista brasileira, enquanto que, em Hitchcock (1958) e Benevolo (1960), tem-se a emergência de uma versão canônica que formulou a base para seu reconhecimento segundo protagonistas como Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Obras como “Arquitetura brasileira”, de Lúcio Costa (1952); “Quadro da arquitetura brasileira”, de Nestor Goulart Reis Filho (1970); “Quatro séculos de arquitetura”, de Paulo Ferreira Santos (1977); e “Arquitetura Brasileira”, de Carlos Lemos (1979), foram adotadas como abordagens historiográficas que registraram as ações do movimento moderno em um quadro ampliado, moldado conjuntamente com a questão de uma tradição construtiva no Brasil. Para os autores citados acima, a modernidade brasileira tem seus holofotes voltados, sobretudo, à produção da primeira geração carioca, formada pela Escola Nacional de Belas Artes na década de 1930, em proximidade com Lúcio Costa e com a influência marcante de Le Corbusier.

“Arquitetura contemporânea no Brasil” (1981), de Yves Bruand; “Arquitetura moderna brasileira” (1982), de Marlene Milan Acayaba e Sylvia Ficher; e “A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista 1930-1973”, de Ruth Verde Zein (2005), reafirmaram a hegemonia da Escola Carioca e abordaram o desabrochar da “arquitetura paulista”, demarcando o surgimento de uma “nova escola”7. Tais bibliografias consistem em notáveis contribuições que observaram a arquitetura brasileira em seus momentos iniciais, identificando no âmbito paulistano um rebatimento capaz de criar uma corrente que, apesar de

7 As obras citadas abordam com maior profundidade os aspectos apresentados nas obras de Hugo Segawa (2002), como a “linha paulista”, que tem, segundo o autor, Vilanova Artigas como principal expoente. Maria Alice Bastos e Ruth Zein (2015), por sua vez, apontam que tais aspectos são provenientes das críticas internacionais do ambiente paulistano, onde a Escola Paulista emerge como um rebatimento da abordagem Brutalista.

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arquitetônica desenvolvida.

Os trabalhos “Arquitetura no Brasil 1900 – 1990”, de Hugo Segawa (2002), e “Brasil: Arquiteturas após 1950”, de Maria Alice Junqueira Bastos e Ruth Verde Zein (2015), foram utilizados por esta dissertação com maior ênfase. Ambos apresentaram um olhar sobre a arquitetura modernista capaz de vislumbrar a inegável contribuição da Escola Carioca e Paulista, sem perder de vista contribuições distintas no contexto nacional fora do eixo Rio-São Paulo. No caso da obra de Hugo Segawa (2002), sua abordagem revelou períodos e fases não sequenciais, com paralelismo de acontecimentos que constroem um complexo quadro da produção da arquitetura modernista. Segundo Segawa (2002), o movimento modernista teve sua vanguarda no Rio, porém, se disseminou para as demais capitais por meio do ensino concedido pela Escola Nacional de Belas Artes, que, em 1945, tornou-se a Faculdade Nacional de Arquitetura:

“a vanguarda ficava no Rio, mas boa parte dos arquitetos-imigrantes veio para São Paulo (...) A influência da linha carioca se fez visível em várias partes do Brasil, em obras de destaque nas principais cidades do país. A disseminação dessa linguagem deu-se, em boa parte, pela participarão de arquitetos do Rio de Janeiro ou que se formaram na Faculdade Nacional de Arquitetura.” (SEGAWA, 2002, p.139-141) O autor relata ainda acontecimentos distantes do eixo Rio-São Paulo, gerados por articulações com outros cenários, sem deixar de notar sua centralidade. A exemplo, a hipótese levantada por Segawa quanto à divulgação dos ideais modernistas e sua relação com o ensino de arquitetura e a formação de novos cursos. Segundo a hipótese, foi por meio do deslocamento de docentes e estudantes a congressos, bienais e outros eventos, mas principalmente por meio da criação de Faculdades de Arquitetura, que se formaram novos centros formadores e disseminadores dos ideais modernos para as demais capitais do país. Segundo Segawa (2002): “É possível aventar a hipótese de que houve dois fatores (entre tantos outros) mais significativos na disseminação dos valores da arquitetura moderna através do país. A criação de escolas de arquitetura em várias regiões do Brasil teria sido um deles; o deslocamento de profissionais de uma região para outra também (...) uma escola de arquitetura pode ser um importante centro formador e disseminador de ideias. Mas não basta apenas a sua existência. Sua consistência intelectual deriva das pessoas que nela militam - estudantes e professores, principalmente -,

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suas interações com o meio profissional e suas relações com a sociedade que se insere.” (SEGAWA, 1998, p.133)

Além de Segawa, Bastos e Zein (2015) também apresentaram o esforço em contemplar a diversidade e a simultaneidade dos fatos arquitetônicos. Fugindo de armadilhas ideológicas dispostas por personagens específicos, e sem uniformizar o discurso em torno da construção de uma identidade nacional, incluíram nomes como Lina Bo Bardi e Afonso Reidy, ou mesmo releituras dos projetos de Oscar Niemeyer, apontando para novos pontos de fuga em um horizonte panorâmico. Para as autoras, os arquitetos modernos buscaram chamar para si a responsabilidade de desenhar as cidades – seja nas capitais, ou no interior – utilizando os congressos como um dentre outros instrumentos para a conquista do campo disciplinar. Seja por meio da seleção de arquitetos e obras, ou quanto aos objetivos de conquista profissional dos arquitetos modernos, as autoras defendem a necessidade de se desenhar um olhar historiográfico que aceite novos desafios.

Com base no trabalho de Segawa (2002) e Bastos e Zein (2015), foi possível apreender o apontamento realizado por Joaquim Cardozo (1956) quanto à existência de duas correntes que representavam o potencial da arquitetura modernista como “resultado de um processo de formação histórico”8 (CARDOZO, 1956). Segundo Cardozo, a primeira corrente foi a promovida por Luis Nunes, que, em 1935, trouxe para Recife a arquitetura modernista que se promovia no Rio de Janeiro. Tal corrente pode ser viabilizada devido ao apoio dos poderes públicos municipais por meio da criação do Departamento de Arquitetura e Construção (DAC), posteriormente reformulado como Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), responsável por gerenciar obras públicas.

A segunda corrente diz respeito à construção da Pampulha, exaltada principalmente com a imagem de Oscar Niemeyer propondo a disseminação da arquitetura modernista para o interior do país. Para Cardozo, o conjunto da Pampulha despontou como uma intervenção de escala excepcional, dispondo de terreno e recursos capazes de alavancar a arquitetura modernista, não somente em relação à forma arquitetônica, mas também em termos de ocupação do território. Por meio dele, foram possíveis experimentações que exaltaram o

8 A citação dessas duas correntes foi realizada por Joaquim Cardozo no artigo “Oscar Niemeyer: work in progress” como resenha dos livros de Stamo Papadaki. O texto pode ser encontrado na compilação de textos do engenheiro organizada por Danilo Matoso Macedo e Fabiano José Arcadio Sobretira no livro “Forma estática-forma estética: ensaios de Joaquim Cardozo sobre arquitetura e engenharia” publicado em 2009.

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uma linguagem arquitetônica que permanecia experimental.

Como ponto comum, ambas as correntes mantiveram a profissão a serviço do poder público, ainda que suas abordagens ocorressem de modo distinto: enquanto em Recife foi proposta a criação de um órgão gestor das atividades de construção e sua relação com o poder público, em Belo Horizonte a abordagem ocorreu por meio da indicação a convite de uma equipe que se destacou com a construção do Ministério da Saúde e Educação, e manteve o arquiteto como profissional liberal contratado por uma instância governamental – no caso, o prefeito Juscelino Kubitschek.

As duas correntes citadas por Joaquim Cardoso foram consagradas na pesquisa de Yves Bruand (1981) e assumidas como percussoras da arquitetura modernista no Brasil. Entretanto, foi no cenário paulistano da década de 1940 – mesmo período em que se concebeu o conjunto da Pampulha – que a arquitetura modernista fortaleceu sua difusão aos demais estados. Ainda que Minas Gerais despontasse na produção da arquitetura modernista, devido ao apoio de Juscelino Kubitschek, foi em São Paulo que os debates em torno da arquitetura modernista e da necessidade de uma reforma na profissão do arquiteto ocorreu de modo mais intenso. É possível identificar, ainda, uma terceira corrente desenhada no decorrer da década de 1940, no Rio Grande do Sul. A formação de um corpo docente que incorporou a arquitetura modernista no curso de arquitetura do Instituto de Belas Artes (IBA) de Porto Alegre, somada à abertura dada pela prefeitura, que revia seu Plano Diretor, fomentou a arquitetura modernista na capital sulina. Atuando como agentes da disseminação, Jorge Moreira desenvolveu a proposta do Hospital de Clínicas e se tornou professor emérito no curso de arquitetura, enquanto Oscar Niemeyer se tornou paraninfo da primeira turma de arquitetos formados em Porto Alegre (SEGAWA, 2002). Outros agente foram ainda explicitados diante de diferentes regionalismos (BASTOS; ZEIN, 2015), representados por arquitetos como Diógenes Rebouças, em Salvador, e Sylvio de Vasconcellos, em Belo Horizonte. Tais arquitetos buscaram associar as vertentes culturais locais à produção de uma arquitetura modernista, gerando leituras que fortaleceram diálogos entre a arquitetura modernista e a tradição construtiva das suas respectivas regiões.

Referências

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