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Arquitetura e Indústria: A indústria na revolução da arquitetura; a indústria nacional de materiais para construção e nossas necessidades (modulação da construção; padronização);

ENSINO E DA PROFISSÃO DO ARQUITETO

3. Arquitetura e Indústria: A indústria na revolução da arquitetura; a indústria nacional de materiais para construção e nossas necessidades (modulação da construção; padronização);

4. Temas Livres. (IAB, 1948)

Foram objetivos do II Congresso Brasileiro de Arquitetos: estudar e debater questões fundamentais ao desenvolvimento e prática da arquitetura; cooperar com os poderes públicos na solução de problemas de habitação; cooperar com o movimento nacional e internacional de planificação de cidades, suas periferias e núcleos rurais e industriais; realizar uma exposição de trabalhos de arquitetura e urbanismo; estimular a indústria de materiais de construção no país, recomendando o emprego de materiais nacionais e influindo no sentido de um melhor equipamento industrial como base indispensável da evolução da arquitetura (IAB, 1948).

Figura 42 - Da esquerda para a direita: Jorge Moreira, Riopardense de Macedo, Ubatuba de Faria e Edgar Graeff Fonte: Revista Espaço, II Congresso Brasileiro de Arquitetos (1948)

No II Congresso Brasileiro, as pautas se aproximaram dos debates dos planos diretores e códigos de obras, instrumentos determinantes ao desenho urbano da capital gaúcha. A necessidade de debater tais instrumentos transpassou a construção de várias capitais: São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre etc., de modo que o conceito de “tábula rasa”, usualmente difundido entre os arquitetos modernos, se mostrou insuficiente para que os arquitetos adentrassem os processos do planejamento do urbano. Urgia a necessidade de incorporar os instrumentos urbanísticos dentro da prática arquitetônica e debater sobre tais, de modo que tais tópicos foram assumidos dentro do II Congresso. Diante da constatação de que Porto Alegre não dispunha de plano diretor, e que esse partia de membros externos à cidade para sua execução, os congressistas redigiram uma moção publicada no jornal local:

"O Congresso, baseado em sua experiência e com o único intuito de colaborar com a administração [municipal], toma a liberdade de sugerir a criação de uma comissão Elaboradora do Plano Diretor de Porto Alegre, composta de urbanistas, arquitetos e engenheiros e assessorada, quando necessário, por técnicos, a qual seria incumbida de fazer novo estudo de planificação à base dos princípios contidos na Carta de Atenas." (“O Plano Diretor e o Congresso Brasileiro de Arquitetos”, Correio do Povo, 5 de dezembro de 1948)

Figura 43 - Fotos do II Congresso Brasileiro de Arquitetos Fonte: revista O globo (1948)

dos elementos construtivos. Se, em um primeiro momento, o baixo custo da mão de obra e o uso do concreto possibilitaram uma construção única e atípica à arquitetura modernista produzida em outros países, em um segundo momento, com a construção do MES e de conjuntos habitacionais com o pedregulho, verificou-se a dificuldade de manter a racionalidade no projeto sem uma modulação que estabelecesse uma unidade entre indústria, projeto e canteiro. Logo, se o International Style tinha sido pautado na industrialização e modulação de peças metálicas, no Brasil, o debate em torno da modulação ocorreu por meio da busca pela padronização dos elementos industrializados típicos à arquitetura moderna brasileira, como caixilhos, cobogós e brises.

O eixo temático “Ensino e Prática da Arquitetura” foi estudado a partir da tese do arquiteto Edgar Graeff sobre a regulamentação da profissão. Dentre os aspectos apresentados, estavam a equiparação de honorários com engenheiros, a criação do Tribunal de Ética Profissional e a colocação da placa do arquiteto em suas obras, entre outras. Novamente se afirmaram as conclusões do I Congresso de Arquitetos Brasileiros, referentes à regulamentação da profissão e ensino de arquitetura e urbanismo (Figura 44).

Os temas abordados nesse Congresso demarcaram a inserção dos arquitetos gaúchos nos debates traçados nacionalmente. Visto que foi por meio do IAB que tais pautas eram articuladas, estabeleceu-se como deliberação dos congressistas gaúchos a formação de um departamento estadual do IAB no Rio Grande do Sul (IAB/RS). Seguindo os moldes adotados pelo departamento do IAB/SP, que enviou Eduardo Kneese de Mello como representante, estabeleceu-se a inserção do IAB/RS na estrutura federativa que se moldava. Os Congressos de Arquitetos Brasileiros passaram a contar, a partir de 1948, com a constante presença do IAB/RS e suas colaborações nos debates e teses apresentadas48.

48 Nos Congressos de Arquitetos Brasileiros que seguem após 1948, o IAB/RS se tornou um importante debatedor dentre os departamentos. No IV Congresso Brasileiro de Arquitetos, ocorrido em 1954 e principal evento articulando arquitetos nacional e internacionalmente, o IAB/RS contribuiu com um número de teses (seis das vintes teses) e de presença nos debates comparável somente aos departamentos do IAB/SP e IAB/RJ. Também foram notáveis as colaborações do IAB/RS nos debates acerca do ensino de arquitetura para a formação do Currículo Mínimo de 1962, que dispunham de cadeira para representantes do IAB.

Figura 44 - Diagrama de agentes e temáticas do II Congresso Brasileiro de Arquitetos Fonte: autor (2017)

Como fruto dos debates travados no Congresso, os estudantes do curso de arquitetura do IBA editaram a revista “Espaço”. Nela, foram organizadas as pautas debatidas no II Congresso, somados à narrativa dos problemas enfrentados em Porto Alegre (Figura 45). Os estudantes gaúchos vieram a sediar o Congresso de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo, articulados com representantes dos cursos de arquitetura de São Paulo, Rio de Janeira, Recife, Salvador e Belo Horizonte, clamando por melhores estruturas de ensino para os cursos de arquitetura do país.

Figura 45 - Capas da revista "Espaço", direção Carlos M. Fayet, Enilda Ribeiro, Jorge Sirito, Luis F. Corona, Nelson Souza, G. Bianchetti. Espaço

dos membros do IBA em sua estrutura administrativa. Uma vez que o IBA/RS respondia ao poder público, ele possuía restrições quanto aos posicionamentos que apresentava publicamente. O IAB/RS, por sua vez, sendo uma entidade autônoma, possuiu maior liberdade para se manifestar em debates, como os dos Planos Urbanos e das necessidades por mudanças no ensino.

Sendo o IAB/RS formado por parte do corpo docente do IBA/RS, houve o questionamento da legitimidade de representação do IAB/RS na questão da junção entre os cursos de arquitetura do IBA e da Escola Politécnica. Segundo Graeff, no texto intitulado “Criação de uma faculdade de arquitetura”, publicado em 1949 pela revista Espaço:

"Há alguns dias, o Instituto de Arquitetos do Brasil, por seu Departamento Estadual, enviou ao digníssimo sr. reitor da Universidade um ofício em que tecia considerações e fazia sugestões relativas à criação de uma Faculdade de Arquitetura e, mais generalizadamente, relativas ao ambiente necessário à formação de arquitetos (...) O assunto como se vê não é novo, e o fato de alguns dirigentes do Departamento local do IAB serem professores do Instituto de Belas Artes não altera e nem pode alterar a posição anteriormente assumida pelo organismo." (GRAEFF, 2002, p.15)

Em meio às disputas entre arquitetos e engenheiros que permearam a formação de uma Faculdade de Arquitetura, coube ao IAB/RS manifestar seu posicionamento quanto à necessidade de estabelecer uma faculdade autônoma de arquitetura (Figura 46), alinhado ao posicionamento deliberado pelos estudantes e professores do IBA/RS. Buscando associar a formação do arquiteto e urbanista de modo a encerrar seu caráter de especialização, entendeu- se por parte do IAB/RS a necessidade de formar uma faculdade autônoma. Dispondo de uma estrutura curricular própria à formação de profissionais, ela possibilitaria formar o arquiteto moderno, reivindicado para atuar nos problemas da cidade desde o início da década de 1940.

Figura 46 - Matéria no Jornal do Dia quanto ao posicionamento do IAB/RS sobre a fusão dos cursos de arquitetura existentes em Porto Alegre.

Com o crescente reconhecimento do IAB/RS como representação da categoria, e também com a crescente divulgação da profissão na capital, no fim da década de 1950 o departamento chegou a publicar uma página própria no jornal local. Organizada pelos arquitetos A. Pereira Filho e A. Chaves Barcellos, debateu-se na seção, de forma periódica, questões que tangiam desde os problemas locais, manifestando o posicionamento do IAB/RS perante tais questões, até artigos sobre uma cultura arquitetônica, valorizando a profissão do arquiteto e os debates de interesse da categoria (Figura 47).

Figura 47 – Seção do IAB/RS no jornal local da cidade de Porto Alegre Fonte: Jornal do Dia (1960)

Com o adentrar da década de 1960, o IAB/RS continuou a angariar forças e expressividade nos debates nacionais e internacionais. Em 1963, organizou uma comitiva que, contando com a presença de Carlos Fayet, representou o departamento no Congresso da União Internacional de Arquitetos em Cuba. Entretanto, em decorrência dos seus posicionamentos políticos e da visita ao evento em Cuba, com o adentrar do regime militar em 1964, teve parte de seus membros procurados, dentre eles, professores e estudantes, sendo Demétrio Ribeiro afastado do cargo de docência na Faculdade de Arquitetura, e estudantes pertencentes ao centro acadêmico, detidos.

“Belo Horizonte deve conservar a data da fundação desta Escola com o coração em festa, porque daqui vão sair os transformadores das cidades mineiras, os defensores do progresso, porque em nossos dias a arquitetura é o padrão de adiantamento das grandes urbs”

(Anibal de Mattos, 1931)

Durante o início do século XX, a ocupação da cidade de Belo Horizonte anunciou um constante crescimento que, posteriormente, definiu sua forma de aglomerado metropolitano. Com apenas 34 anos, Belo Horizonte ocupou mais de trinta milhões de metros quadrados além do previsto em seu plano original. Sua industrialização se relacionou diretamente com as diretrizes e expectativas econômicas de âmbito federal, dispondo de conotações modernizantes: destinação de área para a implantação da zona industrial, urbanização das áreas lindeiras da represa da Pampulha, e a criação da Cidade Industrial nas proximidades da capital. Diante desse quadro, o poder público viu-se induzido a estabelecer as primeiras medidas de planejamento posteriores ao plano original (BAHIA, 2004).

A partir dos anos de 1940, e principalmente nos anos de 1950, Belo Horizonte firmou-se como um centro urbano-industrial, onde o binômio energia-transporte passou a ser imprescindível à continuidade do desenvolvimento da indústria. O crescimento do parque industrial e o consequente processo de metropolização da cidade deram-se fundamentalmente pela ação deliberada do Estado. A condição mescla entre capital em desenvolvimento e centralidade dentre cidades históricas concedeu a Belo Horizonte um caráter ambíguo. Se, por um lado, a cidade se alimentava do desenvolvimento econômico e industrial que a inseriu dentre as capitais fundamentais ao “desenvolvimento do país”; por outro, conservou aspectos patrimoniais, voltados à arte e cultura, alimentados por um apelo preservacionista em relação à sua tradição e identidade. Segundo Fonseca (2006):

“Considera, assim, que São Paulo já possuía um desenvolvimento nas artes plásticas, originado de um ambiente cosmopolita nos meios intelectuais, que mantinha contato com o que havia de mais atual nesse campo na Europa, especialmente no grande centro cultural que era Paris. Todavia, em Belo Horizonte, esse ambiente modernista ainda pouco desenvolvido é visto com reservas, sendo apontado, em alguns

estudos, como um espaço de conflito entre a tradição e a modernidade.” (FONSECA, 2006)

Segundo Bahia (2005), dentre as instituições que buscaram fomentar o quadro cultural da capital mineira, a Escola de Arquitetura49 de Minas Gerais foi uma notável iniciativa voltada às mudanças na profissão do arquiteto. Ainda que a escola tenha se destinado inicialmente a formar engenheiros-arquitetos, ela se apresentou como independente à Escola de Belas Artes e à Politécnica, diferentemente do que ocorria nos demais estados brasileiros. Foi, assim, a primeira a se tornar uma instituição autônoma, contribuindo como primeira experiência na formalização da distinção entre a profissão do arquiteto e do engenheiro.

Dentro do ciclo de intelectuais que permearam a capital mineira, Anibal de Mattos50 se destacou pela sua amplitude de atuação. Formado honorável pela ENBA na década de 1910, Anibal se tornou um entre os articuladores da fundação pioneira de uma Escola de Arquitetura. Interessado nas questões que envolviam arquitetura e arte modernista, tornou-se articulador de dois eventos importantes que ocorreram em Belo Horizonte: o Salão do Bar Brasil e a I Exposição de Arte Moderna em Minas.

Realizado em 1936, o Salão do Bar Brasil foi a primeira coletiva de arte moderna belo- horizontina dentre os espaços de fomento à cultura e de convívio desses intelectuais. Nele, se primou por uma deliberada subversão dos cânones acadêmicos: organizada em um bar, ambiente até então estranho a manifestações culturais. Essa exposição se tornou o ponto de partida aos emergentes modernistas de Belo Horizonte, sendo coordenada pelo artista plástico Delphino Júnior, e apoiado por artistas reconhecidos na cidade, como Genesco Murta, Jeanne Milde, Julius Kaukal, Érico de Paula e Monsã, e artistas novos, como Fernando Pierucetti, Alceu Pena, Elza Coelho e outros.

O Salão também contou com a presença dos estudantes da então recém-criada Escola de Arquitetura da Universidade Minas Gerais, como J. Coury, Hardy Filho, Remo de Paoli, Shakespeare Gomes e Sylvio de Vasconcellos, sendo esses os futuros professores da Escola de Arquitetura, e membros da diretoria do departamento do IAB/MG. Assim, o Salão do Bar

49Foram seus idealizadores os professores Luiz Signorelli (primeiro diretor, 1930), Alberto Pires Amarante,

Anibal Matos, Martim Francisco Ribeiro de Andrade, Benedito Quintino dos Santos, Saul Macedo, João Kubitschek de Figueiredo, Otávio Penna, Otávio Alexandre de Moraes, Francisco Brant (diretor da Faculdade de Direito da UMG), Mariano Vitarelli, Vicente Buffalo, Luiz Pinto Coelho, Christiano V. Cadeco, Euclides Lisboa, Juvenal de Oliveira, Francisco Celestino de Moraes, Manoel Loureiro, Antônio Silva (diretor da Imprensa Oficial), Ademar Costa e José Bahia (BAHIA, 2005, p.190).

pautariam a Escola na década de 1940.

O segundo evento promotor da arte modernista ocorreu em 1944, na I Exposição de Arte Moderna em Minas, e patrocinado por Juscelino Kubitschek. O evento demarcou um momento de reavaliação de artistas modernistas no Brasil, em relação às ações realizadas após a emblemática Semana de 1922. A amostra foi composta por um ciclo de debates e conferências, dos quais participaram intelectuais, artistas e literatos de projeção nacional: Djanira, Waldemar Cavalcanti, Milton Dacosta, Jorge Amado, Sérgio Milliet, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfati, Alfredo Volpi, Mário Zanini, Cândido Portinari, Lasar Segal, Di Cavalcanti, Guignard.

Como grande promotor dos ideais modernizantes, Juscelino Kubitschek, prefeito da cidade, se tornou um importante incentivador. Juscelino colaborou com a consolidação do modernismo enquanto movimento cultural, apoiando manifestações diversas, em forma de iniciativas artísticas e arquitetônicas. Sob seu mandato, Belo Horizonte se consolidou como uma capital em processo veloz de transformação, passando de uma estrutura quase provinciana para uma cidade moderna, firmada na industrialização e infraestruturas urbanas.

Como os ideais arquitetônicos e urbanísticos dos arquitetos adeptos ao modernismo se alinharam com os promovidos por Juscelino, ocorreu a aproximação do prefeito com membros da Escola Carioca. Perante a necessidade de desenvolver uma proposta para a área da Pampulha, Oscar Niemeyer se tornou o arquiteto responsável pelo projeto. Joaquim Cardozo, engenheiro calculista que veio a atuar no desenvolvimento das edificações da Pampulha, narra, em 1956, a proximidade entre os arquitetos cariocas em um momento de incerteza frente à implementação da arquitetura modernista:

“Antes de o arquiteto Oscar Niemeyer receber o convite para projetar o conjunto de edifícios da Pampulha, o grupo de arquitetos que trabalharam no projeto do Ministério da Educação, com exceção de Ernani de Vasconcelos e Lucio Costa, mantinha-se unido num mesmo ateliê (...) mantinham-se unidos pela incerteza, convenhamos, na penetração desse vazio que é o campo da criação sem base em experiências anteriores, campo de criação pura e de especulação no espaço das novas formas.” (CARDOZO, 2009)

A prospecção para a construção na área da Pampulha passou pela consultoria de Alfred Agache, que propôs tornar a área uma expansão do parque industrial da cidade. A proposta de Agache, negada por Kubitschek, alinhava a Pampulha com o pensamento da cidade industrial,

seu crescimento populacional e o papel econômico que assumia. Nela seria construída uma grande represa, em cujas margens se estabeleceriam marcos à capital como centro cultural, demarcando a afirmação da capital mineira como proeminente lugar à construção da modernidade.

Entretanto, a proposta que veio a ser construída foi a elaborada por Oscar Niemeyer (Figura 48), tornando-se paradigmática à arquitetura modernista brasileira. É curioso notar que a proposta de Alfred Agache estaria de acordo com as pretensões de Kubitschek e sua visão de cidade industrializada. Porém, a opção por construir uma obra voltada à valorização da paisagem e ao lazer demonstrou as intenções políticas de Kubitschek, declaradas em entrevista de 1975:

“Discordei do ilustre urbanista, pois o que tinha em mente era capitalizar, em benefício de Belo Horizonte, a beleza daquele recanto com a formação de um lago artificial, rodeado de residências de luxo, com casas de diversões que se debruçassem sobre a área.” (KUBITSCHEK, 2000, p.36)

Figura 48 – Croqui da Pampulha por Oscar Niemeyer Fonte: Revista AU

A escolha de Kubistchek demonstrou a dualidade presente na Escola Carioca: se, por um lado, fazia-se referência a ideais sociais promovidos pelos CIAMs, voltados à construção de projetos públicos; por outro, a experimentação executada na Pampulha permanecia atrelada a

Frente à questão, Joaquim Cardozo, em artigo de 1956, e Mario Pedrosa, em artigo de 1953 , de manifestaram:

“Apesar de não obedecer a um plano estabelecido a priori, o conjunto da Pampulha é, no Brasil, o primeiro e, em certo sentido, talvez o único de um grupo de edifícios visando a uma finalidade coletiva e social.” (CARDOZO, 2009)

“Sem o gosto do conforto, da fruição, do poderio e da riqueza de um governador de estado de poderes ilimitados, Pampulha, o primeiro grande conjunto de Oscar Niemeyer, não teria sido encomendado nem realizado (...) Certos aspectos da gratuidade experimental das construções de Pampulha procedem programa de capricho e de luxo de um pequeno ditador local. As verdadeiras preocupações sociais só apareceriam bem mais tarde, depois da guerra, quando um pouco por toda parte a restauração da democracia se impusera. É evidente, portanto, que Pampulha não podia deixar de ser um fruto da ditadura, ao passo que Pedregulho é a obra de uma época já democrática.” (PEDROSA, 2015)

No que tange ao papel da Pampulha na disseminação da profissão do arquiteto, aponta-se para dois aspectos. O primeiro consiste no modo em que se deu a articulação para ser Niemeyer a projetá-la, enquanto que o segundo destacou a promoção de uma linguagem arquitetônica ainda recente, e até estranha à opinião popular.

Quanto ao primeiro aspecto, no início da década de 1940, realizar convites e consultorias para obras públicas consistiu em uma prática usual. Somente a partir de 1945, com o esgotamento do governo Vargas, houve o fomento a instrumentos democráticos de obtenção de obras públicas, e o questionamento, por parte do IAB, da contratação direta. Nesse sentido, a Pampulha se deu mais pelo fomento para a construção de ícones às intenções políticas particulares do que pela consolidação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da arquitetura modernista junto ao poder público.

51 Mário Xavier de Andrade foi um militante político e jornalista, destacando-se como articulista político e,

especialmente, como crítico de arte. Em suas atividades como crítico, destaca-se como diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo, colaborando com a criação do Museu de Arte do Rio de Janeiro, com papel destacado no surgimento do movimento concretista nesta cidade. Foi curador da segunda Bienal Internacional de Arte de São Paulo (1953) e secretário-geral da IV Bienal Internacional de Arte de São Paulo - (1957), organizou o Congresso Internacional dos Críticos de Arte sobre a cidade de Brasília. Foi também vice-presidente da Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA, 1957-1970) e presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, seção nacional da A.I.C.A. (1962). Seu envolvimento com a arquitetura se deu, sobretudo, junto aos textos críticos que publicou, mas também como personalidade convidada em eventos como o IV Congresso Brasileiro de Arquitetos (1954).

Contudo, o segundo sentido consiste na divulgação de uma linguagem arquitetônica ainda pouco explorada e divulgada no país, comunicando-se com anseios de uma elite intelectual a favor de mudanças no âmbito cultural. Nesse caso, o conjunto de projetos propostos para a Pampulha teve efeito marcante na arquitetura brasileira. Nela, a capacidade interpretativa de Oscar Niemeyer extrapolou a arquitetura até então produzida, representando um salto de inovação almejado pela geração carioca. Dentre os edifícios construídos no conjunto da Pampulha, seu Cassino, que depois se tornaria o Museu de Arte Moderna (Figura 49), apresentou um conjunto de elementos que foram incorporados por Shakespeare Gomes no