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ENSINO E DA PROFISSÃO DO ARQUITETO

5. O INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL NA CRIAÇÃO DE DEPARTAMENTOS ESTADUAIS

5.1. RIO DE JANEIRO

“A primeira escola, o que pode-se chamar legitimamente de 'escola' de arquitetura moderna no Brasil, foi a do Rio de Janeiro, com Lucio Costa à frente, e ainda está inigualada até hoje”

(Mário de Andrade, 1943)

O IAB teve sua primeira formação no Rio de Janeiro em 1921, unificando-se com a Sociedade Central dos Arquitetos em 1924. Em 1930, os arquitetos brasileiros, com o apoio do IAB, sediaram o IV Congresso Pan-americano de Arquitetos, evento em que ocorreu o embate entre duas correntes da arquitetura: o neocolonial e o moderno. No Rio de Janeiro, a questão se explicitou a partir da figura de Jose Mariano Filho, defensor do neocolonial, e Lucio Costa, representante da ideologia moderna (ATIQUE, 2009). Os desdobramentos desse congresso repercutiram em Minas Gerais, com a criação da Escola de Arquitetura, à parte da Escola de Belas Artes, mas principalmente na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), que, com a predominância da pauta moderna no Congresso Pan-americano, passou a contar com o apoio do governo para a implementação de um currículo de ensino voltado à arquitetura modernista (Escola de Arquitetura, 1954).

No campo profissional, a atividade da construção civil era designada ao engenheiro civil, enquanto a formulação de propostas urbanísticas se constituía como atribuição exercida por profissões como a dos médicos sanitaristas, engenheiros e militares. O desejo, por parte dos arquitetos, de um novo papel na sociedade trouxe consigo a separação entre projeto e construção, que, associada com a ideologia moderna, buscou inserir o arquiteto como personagem capaz de ordenar o espaço em função de uma ordem funcional e estética dada aos edifícios e ao desenho das cidades. Propôs-se, por parte dos arquitetos modernos, a arquitetura como “síntese das artes”, elemento-base que pontuou as mudanças no ensino de arquitetura na ENBA.

do currículo do curso de arquitetura. A proposta confrontou professores da escola ao introduzir uma revisão das necessidades à formação do arquiteto, abordando uma vertente contrária aos academismos reproduzidos tradicionalmente no curso. A atitude de Lucio Costa enfrentou forte oposição de seus colegas dentro da ENBA, de modo que a reforma não perdurou por mais de um ano. Entretanto, as questões implícitas permaneceram vigentes, principalmente por parte dos estudantes, que vislumbraram nas propostas de Costa possibilidades renovadoras para a profissão. Segundo Graeff (1995), os rebatimentos da reforma de 1931 foram fundamentais a essa geração:

“Apesar da frustrada tentativa de reforma da ENBA, as sementes da renovação estavam lançadas. E apesar das convulsões sociais e políticas que marcavam a década de 30, a arquitetura brasileira conseguiu arrancar-se de um ecletismo provinciano e bisonho para se colocar, em dois decênios, ao lado e ao nível do que se fazia de melhor no mundo em matéria de produção arquitetônica.” (GRAEFF, 1995, p.18)

Conhecidos posteriormente como geração carioca, esse grupo de arquitetos passou a adotar os conceitos da arquitetura modernista segundo as deliberações dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM), somados a referências de arquitetos modernos como Mies Van der Rohe, Gropius e, com maior ênfase, Le Corbusier. Dentre os arquitetos que formaram a primeira geração de arquitetos modernos, atuantes junto a Lucio Costa, se destacaram Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira, Affonso Eduardo Reidy e Ernani de Vasconselos, Somaram-se ao grupo os arquitetos Abelardo de Sousa, Alcides da Rocha Miranda, Álvaro Vital Brasil, Aldary Toledo, Carlos Frederico Ferreira, Francisco Bolonha, Hélio Duarte, Henrique Mindlin, Jorge Ferreira e M. M. Roberto. Para Souza (1978), tratou-se de um frutífero ambiente de trabalho, onde se fortaleceram as relações entre um grupo que passou, com auxílio do IAB, a realizar a divulgação da arquitetura modernista por todo país:

“Foi nesse ambiente de intenso trabalho e de absoluta fé nos destinos da nova arquitetura brasileira que se formaram os primeiros arquitetos brasileiros, como Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Luis Nunes, Jorge Moreira, Alcides da Rocha Miranda e tantos outro que, abrindo caminho, iriam dar um grande impulso à arquitetura que nascia. Esses foram os verdadeiros pioneiros da arquitetura brasileira, uma vez que a que faziam Warchavchik, Rino Levi e Flávio de Carvalho era ainda uma arquitetura importada.” (SOUZA, 1978, p.11)

O I Salão de Arquitetura Tropical, realizado em 1933, foi uma entre as iniciativas voltadas à promoção da arquitetura modernista no Brasil. O evento contou com a participação de Frank

Lloyd Wright como presidente de honra, e teve no seu catálogo os textos de Walter Gropius, contendo as diretrizes estabelecidas pelo 1º CIAM, e o discurso do International Style. A partir desse salão, ampliou-se a divulgação de projetos modernistas desenvolvidos internacionalmente, tornando conhecidas, também, obras de arquitetos como Mies Van der Rohe e Le Corbusier.

Além dos arquitetos estabelecidos em torno de Lucio Costa, estudantes de diferentes regiões tiveram sua formação na ENBA e, em contato com essa geração carioca, passaram a agitar o panorama arquitetônico. Ainda que a influência da Escola Carioca30 a esses estudantes ocorresse principalmente durante sua formação, ao retornarem às suas respectivas regiões, permaneceram difundindo os ideais modernos. Para Segawa (2002), foi devido à construção do repertório formal, pautado em regras claras e bem aceito como imagem da modernização, que a Escola Carioca foi capaz de difundir a arquitetura modernista para as demais regiões do Brasil:

“(...) o repertório formal e projetual mais ou menos codificado da linguagem carioca permitiu que profissionais não necessariamente relacionados com o movimento do Rio de janeiro aplicassem com maior ou menor fidelidade e acerto – e entre esses profissionais, influíam-se engenheiros civis, técnicos de edificação e construtores – isto é, uma apropriação mais ou menos erudita.” (SEGAWA, 2002, p.141)

Apesar de permanecer a rejeição por parte dos professores ligados à linha Neocolonial, os estudantes se mantiveram ativos quanto à propagação dos ideais modernos. As ações destes, voltadas para a promoção da arquitetura modernista, vieram a obter o apoio do IAB, que passou a ter seus cargos de direção ocupados pelos profissionais formados na ENBA a partir de 1930. Em 1942 e 1943, os estudantes organizaram a Exposição dos Dissidentes, enfatizando sua posição contrária ao modelo vigente e reforçando o apoio aos arquitetos modernos organizados em torno do IAB.

Com a oportunidade de projetar e construir o Ministério da Educação e Saúde (MES) cedida pelo ministro Gustavo Capanema à Lucio Costa e equipe, deu-se início ao processo que culminou no conjunto de obras consagradas pela exposição Brazil Builds (1943). Contando

30 Segundo Segawa (2002), Escola Carioca é o nome pelo qual parte da produção moderna da arquitetura brasileira é comumente identificada pela historiografia. Trata-se originalmente da obra produzida por um grupo radicado no Rio de Janeiro, que, com a liderança intelectual de Lucio Costa (1902-1998) e formal de Oscar Niemeyer (1907-2012), criou um estilo nacional de arquitetura moderna: uma espécie de brazilian style, que se disseminou pelo país entre os anos 1940 e 1950, contrapondo ao international style, hegemônico até os anos 1930.

arquitetura modernista, polarizando o debate arquitetônico em torno das contribuições desenvolvidas pelos arquitetos pertencentes à Escola Carioca31.

Durante a década de 1930 e 1940, o Rio de Janeiro se estabeleceu como palco desses debates, seja em torno da arquitetura ou do urbanismo32. No âmbito da cidade, se modificavam a indústria e as legislações: as possibilidades oferecidas pelo concreto armado já ganhavam maior amplitude na capital com a instalação de indústrias voltadas à produção de cimento. Os primeiros estudos por parte dos engenheiros sobre a implementação dessa técnica e a mudança legislativa permitiram a construção de edificações com mais de seis andares no centro da cidade.

Na arquitetura, a capital sediou eventos culturais que impulsionaram as propostas da arquitetura modernista; enquanto que, no urbanismo, a presença de Alfred Agache deslumbrou possibilidades ao urbanismo modernista, alinhado com as vertentes europeias. Em 1936, o retorno de Le Corbusier, que já visitara o país em 1929, afirmou a busca por viabilizar os ideais modernos promovendo palestras sobre urbanismo e consultoria às propostas arquitetônicas propulsoras da formação de uma “cidade moderna”. Uma vez que a arquitetura modernista era uma experimentação junto à construção civil brasileira, sua visita outorgou aval à equipe de Lucio Costa para a construção do MES, ao mesmo tempo que enfatizou figuras atuantes do urbanismo, como Alfred Agache:

“Havia excluído o Rio de minha missão arquitetônica na América do Sul porque meu confrade Agache, de Paris, dedica-se, neste momento, aos panos de ordenação da cidade e não se deve perturbar o que quer que seja em seu trabalho (...) Se, neste momento particular, faço questão de dar uma ideia sobre o Rio é porque meu confrade Agache encontra-se nesta sala e que, em torno dele, agrupa-se uma numerosa

31 Mais adiante veremos iniciativas que também despontavam em São Paulo e em Recife. Entretanto, a questão que se coloca, sendo o Rio de Janeiro como protagonista, se dá em relação às condições para execução da arquitetura modernista. No início da década de 1930, o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, mantinha intensa atividade cultural, sobretudo aquela ligada aos artistas modernistas. Nesse contexto, ocorriam condições para a formação de arquitetos para além da ENBA: o apoio de figuras-chave, como Gustavo Capanema, a presença de Le Corbusier e, posteriormente, a criação da Faculdade Nacional de Arquitetura.

32 A tese de doutorado de Clévio Rabelo (2011) aborda o cenário carioca entre 1925 e 1935, concedendo enfoque às instituições e arquitetos que possibilitaram a a adoção do modernismo como modelo estético e também posicionamento ideológico adotado pela categoria. Ao adentrar nas instituições, esclarece meandros desse primeiro momento de articulações entre arquitetos modernos que foram fundamentais à disseminação da arquitetura modernista e a consolidação da profissão do arquiteto. Contudo, devido o recorte deste trabalho ter como enfoque o período entre 1945-1969 e os diversos territórios que abrange, adotou-se uma leitura abrangente quanto ao cenário carioca nesse primeiro período que manteve em vista as questões levantadas por Rabelo.

audiência. Pensando no Rio que comecei a amar e grato a essa cidade pelas horas magníficas que ela me proporcionou, tentarei fazer com que compreendam como, por meio de análises ilustradas de arquitetura e urbanismo, chego à conclusão de unidade de sistema.” (CORBUSIER, 2004, p. 231)

Elaborado por Alfred Agache, o Plano Agache foi a primeira proposta de intervenção urbanística na cidade do Rio de Janeiro com preocupações modernistas33 (Figura 22). Apresentado em 1930, o plano introduziu no cenário nacional algumas questões típicas da cidade industrial, tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de águas, a habitação operária e o crescimento das favelas. Além disso, com discussões emergentes que iam desde a necessidade de um zoneamento para a cidade até a delimitação de áreas verdes, ultrapassou os limites do academicismo das intervenções predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontin.

Figura 22 – Plano Agache para a cidade do Rio de Janeiro (1930) Fonte: AGACHE, A. Cidade do Rio de Janeiro

33 Em janeiro de 1927, Alfred Agache foi convidado para realizar uma série de conferências sobre urbanismo no Rio de Janeiro. Cinco conferências são realizadas nessa época, em meio a uma campanha contrária às favelas, em grande parte apoiada pelo Rotary Club.

Ao proferir sobre a unidade de sistema, Le Corbusier reforçou a necessidade de intervenções na escala da cidade, mesmo que essas demandassem transformações impactantes no desenho urbano existente. A proposta Corbusiana expôs aspectos principalmente ideológicos, mas que exemplificavam o urbanismo modernista a fim de reconstruir a cidade em torno de obras de grande porte apoiadas pelo Estado.

Tanto Agache como Cosbusier apresentaram propostas determinadas pelo caráter monumental e explicitava os impulsos iniciais por renovações das cidades em crescimento. Dada a carência de profissionais voltados ao urbanismo, fez-se simbólico o debate referente à cidade do Rio de Janeiro, sendo ela o Distrito Federal, ter se realizado por dois estrangeiros a partir de modelos tradicionalmente europeus e à parte das dinâmicas e problemas locais à sua exequibilidade.

Além do mais, a concessão do projeto do MES ao grupo de Lucio Costa se tornou emblemática não apenas no que tange ser um modelo exemplar do que seria uma “arquitetura moderna brasileira”, mas também pelas relações políticas nele representadas. Segundo Durand (1991), para os que competiam no campo da arquitetura, o MES, com o apoio do ministro Gustavo Capanema, era altamente estratégico por: controlar a ENBA e a orientação do ensino artístico no conjunto do país; por ser a instância passível de assumir a elaboração política de proteção ao patrimônio histórico, frente que contempla, em especial, os bens de arquitetura; por reunir intelectuais de especialidades diversas em um espaço relativamente livre de censura imposta pelo regime, tendo um estatuto especial como instância de difusão e de consagração; por ter necessidade de uma sede e de um programa para o campus de uma universidade modelo, sendo, assim, um importante referencial arquitetônico.

Outra obra emblemática referente à perpetuação da prática da arquitetura modernista foi a Cidade Universitária da Universidade do Brasil (Figura 23 e 24). Durante a estadia de Corbusier, desenvolveu-se o projeto apresentado como chave à consolidação da arquitetura modernista. Dentre as conferências realizadas no Rio de Janeiro por Corbusier, uma se intitulou “Uma Faculdade de Arquitetura no Rio”. O discurso proferido afirmou que as escolas criadas no século XIX mataram a arquitetura, pois haviam abandonado o ensino segundo as reais necessidades da sociedade moderna, limitando-se à replicação de proporções. Para Corbusier, era preciso retomar o ensino capaz de compreender o pleno potencial dos

materiais em todas as suas propriedades, retirando destes suas belezas estéticas inerentes. Para isso, o ensino deveria se reformular, aproximando-se dos “tempos modernos” e revitalizando a instrução (SANTOS, 1977).

Figura 23 – Planta do Campus para a Universidade do Brasil, por Le Corbusier (1936) Fonte: Revista da Diretoria de Engenharia, RJ, n. IV, junho de 1937

Figura 24 – Perspectiva do Campus para a Universidade do Brasil, por Le Corbusier (1936) Fonte: Revista da Diretoria de Engenharia, RJ, n. IV, junho de 1937

da primeira geração carioca influenciados pelos ideais de Le Corbusier, a disseminação da arquitetura modernista produzida pelos arquitetos cariocas se fortaleceu com a criação da Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA). Com o intuito de materializar os conceitos defendidos pelos arquitetos cariocas, o projeto para o edifício da FNA seguiu rigidamente a linguagem arquitetônica desenvolvida pela Escola Carioca, e simbolizou um processo reflexivo que expôs seus princípios norteadores (Figura 25).

O edifício foi premiado na IV Bienal Internacional de São Paulo (1956), contendo como proposta a articulação de três blocos interligados por meio de circulações que tangenciavam dois pátios internos. A lâmina maior, sobre pilotis, apresentou um térreo livre articulado com um mezanino, enquanto os cinco pavimentos superiores abrigaram as faculdades de arquitetura, Belas Artes e os escritórios da reitoria (Figura 26 e 27). Segundo Cavalcanti (2001):

“Jorge Moreira notabilizou-se pelo amor aos detalhes e à procura de uma adaptação ‘clássica’ do modernismo corbusiano inicial, explicitando a rejeição de diálogos com o passado ou a pesquisa de novas formas. A Faculdade de Arquitetura na Ilha do Fundão apresenta, portanto, todos os elementos básicos do modernismo: estrutura de concreto livre, fachada livre, pilotis e terraço jardim” (CALVANCANTI, 2001)

Figura 25 – Perspectiva da Faculdade Nacional de Arquitetura na Ilha do Fundão (1947) Fonte: Acervo Jorge Machado Moreira

Figura 26 – Planta da Faculdade Nacional de Arquitetura na Ilha do Fundão (1947) Fonte: Acervo Jorge Machado Moreira

Figura 27 - Faculdade Nacional de Arquitetura, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro (1953) Fonte: Núcleo de Pesquisa e documentação UFRJ

inicialmente, em diálogo com as obras marcadas pela influência Corbusiana e difundida por arquitetos pertencentes à primeira geração de arquitetos modernos formada no Rio de Janeiro. Por meio de edificações icônicas financiadas pelos Estado, essa geração exemplificou o potencial construtivo e plástico da arquitetura modernista. Com a construção do MES, a arquitetura modernista ganhou forças, graças à repercussão internacional obtida pelo edifício, mas também pelas articulações políticas que sua construção representou no panorama político nacional. Nesse primeiro momento, o papel da primeira geração de arquitetos cariocas se fez emblemático, sendo eles vistos como divulgadores da arquitetura modernista, que perpetuaram um ideal de renovação a ser alcançado.

Outro aspecto notável consiste no papel assumido por Alfred Agache nesse período. No início do século XX, o urbanismo no Brasil permaneceu como um campo profissional sem atribuição legal, sendo, assim, exercido por diferentes profissionais. A partir de 1933, com a legislação de regulamentava conjuntamente a profissão do Engenheiro Civil, Agrônomo, Arquiteto, Urbanista e Paisagista, a atribuição passou a ser considerada, assim como a arquitetura, como uma especialização da profissão do Engenheiro Civil. A ausência de um campo disciplinar próprio à profissão do urbanista, a carência de profissionais que exercessem tal função e a necessidade de regulamentar e ordenar o crescimento urbano levou ao convite de profissionais estrangeiros a executarem planos urbanos no Brasil.

Se no decorrer das décadas de 1920 e 1930 houve a aceitação de profissionais internacionais e teorias importadas na formulação de planos urbanos para as cidades brasileiras, a partir da década de 1940 os arquitetos passaram a reivindicar o urbanismo como atribuição profissional própria ao seu campo profissional. Alfred Agache e seus discípulos, por sua vez, ainda que tenham visitado e elaborado planos urbanos de diversas cidades brasileiras, passaram a ter suas propostas rejeitadas em capitais como Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador. Os arquitetos modernos presentes em tais capitais, por intermédio dos seus departamentos do IAB, defenderam a necessidade de profissionais locais conhecedores dos problemas da região, sendo o ensino de urbanismo uma urgência dos cursos de arquitetura. Dessa forma, a primeira geração passou a incorporar o IAB em meio às suas atividades. Deu-se, assim, um gradativo processo de organização desses arquitetos modernos, pautando problemas da prática e meios de viabilizá-la para além de experiências pontuais.

O IAB/RJ na construção de um quadro de debates nacional

A presença do grupo articulado por Lucio Costa na década de 1930 e sua defesa em torno da “nova arquitetura”34 se tornou emblemática da produção da arquitetura modernista no Brasil. As obras da Escola Carioca, apresentadas na década de 1930 e 1940 como exemplos de “boa arquitetura”, passaram a ser difundidas nos demais estados brasileiros através dos profissionais ligados à Escola, mas também a partir daqueles que identificavam nessa linha uma renovação da arquitetura perante um modelo ultrapassado de concepção. Além da promoção da arquitetura modernista pela perpetuação dos ideais de modernização, essa também ocorreu segundo a afirmação da arquitetura como campo disciplinar, distinto ao do engenheiro civil.

No sentido de defender um campo de atuação que possibilitasse a execução das propostas modernistas, foi notável a presença do IAB como porta-voz da categoria, mas, fundamentalmente, como articulador das pautas entre os arquitetos em vista de ações relacionadas à reformulação da profissão. No caso do departamento do IAB/RJ, verificou-se que a mesma geração que atuou junto a Lucio Costa foi a que compôs a comissão participante do I Congresso Brasileiro de Arquitetos.

Apesar do pioneirismo na década de 1930, a captação de projetos voltados à arquitetura modernista dependeu do apoio de personalidades nos poderes federais, estaduais e municipais. Para se perpetuarem nas regiões menos desenvolvidas, os arquitetos modernos passaram a demandar diretrizes regulamentadoras que propiciassem sua execução, fomentando a exequibilidade das propostas para além de apoiadores específicos.

Se, em um primeiro momento, tais arquitetos concretizaram suas propostas com o apoio de personalidades como Gustavo Capanema, com o ímpeto de democratização da sociedade na década de 1940, o IAB reforçou a posição de defensor da concorrência de projetos por meio de concursos públicos. Dessa forma, os arquitetos modernos se diferenciavam dos engenheiros, reforçando a importância da distinção entre projeto e obra, além de garantirem, por meio do desenho de edifícios públicos, a importância de uma formação técnica e artística que distinguisse as profissões.

modernistas, São Paulo e Belo Horizonte se tornaram alvo da construção de edifícios institucionais nos quais a linguagem arquitetônica da Escola Carioca poderia se perpetuar. O IAB/RJ, com o objetivo de estabelecer relações que possibilitassem a prospecção de obras nessas capitais, passou a se articular com arquitetos modernos localizados nessas capitais. Dentre os articuladores que possibilitaram essa aproximação, acentuou-se a relação de