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Segundo Alan Colquhoum (2004), a principal questão tratada pelo modernismo consistiu na representação de mudança entre o passado e o presente em um rompimento em relação ao existente. Para o autor, o modernismo na arquitetura teria sido influenciado principalmente pela teoria artística, sendo a tecnologia um dentre os elementos que o fomentaram. Ao observar o quadro de eventos culturais no Brasil no decorrer da década de 1930, é possível encontrar manifestações de cunho modernizador em diversas capitais brasileiras, criando cenários diversos de fomento a mudanças na cultura e na sociedade. Paralelo a isso, o crescimento das cidades brasileiras transformou a paisagem e abriu caminho para um almejado desenvolvimento que regenerasse o país de crises econômicas como a de 1929. Acompanhando as transformações culturais, políticas e econômicas, os arquitetos atuantes no período também abriram frentes para mudanças. Promoveram ações voltadas à reformulação dos princípios que norteavam a produção arquitetônica e, também, as regulamentações para o exercício da profissão. Uma vez que Rio de Janeiro e São Paulo eram as capitais brasileiras que concentravam maior poder econômico e contavam com um contingente de intelectuais residentes e movimentos de cunho cultural, foram nelas que as vanguardas arquitetônicas emergiram. Experiências como a de Flávio de Carvalho e Gregori Warchvichik, em São Paulo, e de Lucio Costa e equipe, no Rio de Janeiro, foram reconhecidas internacionalmente e intensamente estudadas devido ao seu papel na disseminação da arquitetura modernista brasileira.

Outras vanguardas modernistas, voltadas ao fomento cultural, também se estabeleceram em Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre no mesmo período. Ainda que em menor escala, tais movimentações foram importantes acontecimentos para a dispersão das iniciativas modernizantes pelo país, incitando a necessidade de rompimento com um passado colonial para prospecção de um país grande e desenvolvido. Em meio a essas vanguardas, havia a presença de arquitetos como Diógenes Rebouças, Tasso Correa, Luís Nunes e Aníbal Mattos,

articuladores entre os arquitetos modernos cariocas e paulistas e as demais localidades do país.

Ao questionar o processo de disseminação da arquitetura modernista no Brasil segundo a arquitetura modernista produzida no Rio de Janeiro e São Paulo, foi considerada a abordagem historiográfica frente à transcrição do papel das vanguardas e seus protagonistas. Observou-se a necessidade de pesquisas que valorizassem personagens ainda pouco explorados e o papel das instituições de representação da categoria em relação à desmistificação de uma geração heroica. Para tanto, realizaram-se, a princípio, leituras em busca de compreender a arquitetura modernista brasileira diante da sua diversidade, valorizando os processos que permitiram a promoção da arquitetura modernista nos demais estados brasileiros. Sem perder de vista a importância das vanguardas em meio a esse processo, procurou-se identificar articulações que permitissem um olhar para além de protagonismos.

Diante dessa perspectiva, o presente capítulo segue dividido em três partes. A primeira parte aborda a bibliografia a respeito da disseminação da arquitetura modernista pelo Brasil. Foram organizadas as fontes em busca de compreender suas contribuições para a formação da historiografia da arquitetura brasileira. Dentre as bibliografias selecionadas, duas foram adotadas com maior ênfase para esta dissertação, sendo essas os trabalhos de Hugo Segawa (2002), “Arquiteturas no Brasil 1900-1990”; e de Maria Alice Bastos e Ruth Verde Zein (2015), “Brasil: Arquiteturas após 1950”.

A segunda parte desse capítulo abordou a formação de uma rede de arquitetos modernos. Diante dos períodos delimitados por Edgar Graeff (1995) que compuseram a consolidação da arquitetura modernista no país, traçaram-se ações de arquitetos modernos entre as capitais brasileiras estudadas, evidenciando agentes da disseminação da arquitetura modernista. O contínuo trânsito entre pessoas e informações demonstrou a formação de uma dinâmica rede, que se expandiu à medida que a arquitetura modernista se consolidou como modelo oficial adotado pelo poder público, além de pontuar eventos nacionais e internacionais que influenciaram nesse processo.

A terceira parte evidenciou as questões levantadas que subsidiaram a escrita dos capítulos seguintes. O desenho da rede apontou para a existência de centralidades ao debate arquitetônico, alterando sua proeminência entre os períodos delineados por Graeff (1995).

Tais centralidades se mostraram em diálogo com as demais localidades, de modo que a rede constituída foi um dentre os fatores que possibilitaram a disseminação da arquitetura modernista e a possibilidade de regulamentá-la em escala nacional. Contudo, revelou-se a necessidade de verificar os contextos locais que formaram os diversos pontos dessa rede e as distintas contribuições nesse mosaico de agentes e acontecimentos.

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Nas obras de Zevi (1973), Giedion (1963) e Pevsner (1961), foram observadas as abordagens que constituem os primeiros ensaios de classificação da arquitetura modernista brasileira, enquanto que, em Hitchcock (1958) e Benevolo (1960), tem-se a emergência de uma versão canônica que formulou a base para seu reconhecimento segundo protagonistas como Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Obras como “Arquitetura brasileira”, de Lúcio Costa (1952); “Quadro da arquitetura brasileira”, de Nestor Goulart Reis Filho (1970); “Quatro séculos de arquitetura”, de Paulo Ferreira Santos (1977); e “Arquitetura Brasileira”, de Carlos Lemos (1979), foram adotadas como abordagens historiográficas que registraram as ações do movimento moderno em um quadro ampliado, moldado conjuntamente com a questão de uma tradição construtiva no Brasil. Para os autores citados acima, a modernidade brasileira tem seus holofotes voltados, sobretudo, à produção da primeira geração carioca, formada pela Escola Nacional de Belas Artes na década de 1930, em proximidade com Lúcio Costa e com a influência marcante de Le Corbusier.

“Arquitetura contemporânea no Brasil” (1981), de Yves Bruand; “Arquitetura moderna brasileira” (1982), de Marlene Milan Acayaba e Sylvia Ficher; e “A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista 1930-1973”, de Ruth Verde Zein (2005), reafirmaram a hegemonia da Escola Carioca e abordaram o desabrochar da “arquitetura paulista”, demarcando o surgimento de uma “nova escola”7. Tais bibliografias consistem em notáveis contribuições que observaram a arquitetura brasileira em seus momentos iniciais, identificando no âmbito paulistano um rebatimento capaz de criar uma corrente que, apesar de

7 As obras citadas abordam com maior profundidade os aspectos apresentados nas obras de Hugo Segawa (2002), como a “linha paulista”, que tem, segundo o autor, Vilanova Artigas como principal expoente. Maria Alice Bastos e Ruth Zein (2015), por sua vez, apontam que tais aspectos são provenientes das críticas internacionais do ambiente paulistano, onde a Escola Paulista emerge como um rebatimento da abordagem Brutalista.

arquitetônica desenvolvida.

Os trabalhos “Arquitetura no Brasil 1900 – 1990”, de Hugo Segawa (2002), e “Brasil: Arquiteturas após 1950”, de Maria Alice Junqueira Bastos e Ruth Verde Zein (2015), foram utilizados por esta dissertação com maior ênfase. Ambos apresentaram um olhar sobre a arquitetura modernista capaz de vislumbrar a inegável contribuição da Escola Carioca e Paulista, sem perder de vista contribuições distintas no contexto nacional fora do eixo Rio- São Paulo. No caso da obra de Hugo Segawa (2002), sua abordagem revelou períodos e fases não sequenciais, com paralelismo de acontecimentos que constroem um complexo quadro da produção da arquitetura modernista. Segundo Segawa (2002), o movimento modernista teve sua vanguarda no Rio, porém, se disseminou para as demais capitais por meio do ensino concedido pela Escola Nacional de Belas Artes, que, em 1945, tornou-se a Faculdade Nacional de Arquitetura:

“a vanguarda ficava no Rio, mas boa parte dos arquitetos-imigrantes veio para São Paulo (...) A influência da linha carioca se fez visível em várias partes do Brasil, em obras de destaque nas principais cidades do país. A disseminação dessa linguagem deu-se, em boa parte, pela participarão de arquitetos do Rio de Janeiro ou que se formaram na Faculdade Nacional de Arquitetura.” (SEGAWA, 2002, p.139-141) O autor relata ainda acontecimentos distantes do eixo Rio-São Paulo, gerados por articulações com outros cenários, sem deixar de notar sua centralidade. A exemplo, a hipótese levantada por Segawa quanto à divulgação dos ideais modernistas e sua relação com o ensino de arquitetura e a formação de novos cursos. Segundo a hipótese, foi por meio do deslocamento de docentes e estudantes a congressos, bienais e outros eventos, mas principalmente por meio da criação de Faculdades de Arquitetura, que se formaram novos centros formadores e disseminadores dos ideais modernos para as demais capitais do país. Segundo Segawa (2002): “É possível aventar a hipótese de que houve dois fatores (entre tantos outros) mais significativos na disseminação dos valores da arquitetura moderna através do país. A criação de escolas de arquitetura em várias regiões do Brasil teria sido um deles; o deslocamento de profissionais de uma região para outra também (...) uma escola de arquitetura pode ser um importante centro formador e disseminador de ideias. Mas não basta apenas a sua existência. Sua consistência intelectual deriva das pessoas que nela militam - estudantes e professores, principalmente -,

suas interações com o meio profissional e suas relações com a sociedade que se insere.” (SEGAWA, 1998, p.133)

Além de Segawa, Bastos e Zein (2015) também apresentaram o esforço em contemplar a diversidade e a simultaneidade dos fatos arquitetônicos. Fugindo de armadilhas ideológicas dispostas por personagens específicos, e sem uniformizar o discurso em torno da construção de uma identidade nacional, incluíram nomes como Lina Bo Bardi e Afonso Reidy, ou mesmo releituras dos projetos de Oscar Niemeyer, apontando para novos pontos de fuga em um horizonte panorâmico. Para as autoras, os arquitetos modernos buscaram chamar para si a responsabilidade de desenhar as cidades – seja nas capitais, ou no interior – utilizando os congressos como um dentre outros instrumentos para a conquista do campo disciplinar. Seja por meio da seleção de arquitetos e obras, ou quanto aos objetivos de conquista profissional dos arquitetos modernos, as autoras defendem a necessidade de se desenhar um olhar historiográfico que aceite novos desafios.

Com base no trabalho de Segawa (2002) e Bastos e Zein (2015), foi possível apreender o apontamento realizado por Joaquim Cardozo (1956) quanto à existência de duas correntes que representavam o potencial da arquitetura modernista como “resultado de um processo de formação histórico”8 (CARDOZO, 1956). Segundo Cardozo, a primeira corrente foi a promovida por Luis Nunes, que, em 1935, trouxe para Recife a arquitetura modernista que se promovia no Rio de Janeiro. Tal corrente pode ser viabilizada devido ao apoio dos poderes públicos municipais por meio da criação do Departamento de Arquitetura e Construção (DAC), posteriormente reformulado como Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), responsável por gerenciar obras públicas.

A segunda corrente diz respeito à construção da Pampulha, exaltada principalmente com a imagem de Oscar Niemeyer propondo a disseminação da arquitetura modernista para o interior do país. Para Cardozo, o conjunto da Pampulha despontou como uma intervenção de escala excepcional, dispondo de terreno e recursos capazes de alavancar a arquitetura modernista, não somente em relação à forma arquitetônica, mas também em termos de ocupação do território. Por meio dele, foram possíveis experimentações que exaltaram o

8 A citação dessas duas correntes foi realizada por Joaquim Cardozo no artigo “Oscar Niemeyer: work in progress” como resenha dos livros de Stamo Papadaki. O texto pode ser encontrado na compilação de textos do engenheiro organizada por Danilo Matoso Macedo e Fabiano José Arcadio Sobretira no livro “Forma estática-forma estética: ensaios de Joaquim Cardozo sobre arquitetura e engenharia” publicado em 2009.

uma linguagem arquitetônica que permanecia experimental.

Como ponto comum, ambas as correntes mantiveram a profissão a serviço do poder público, ainda que suas abordagens ocorressem de modo distinto: enquanto em Recife foi proposta a criação de um órgão gestor das atividades de construção e sua relação com o poder público, em Belo Horizonte a abordagem ocorreu por meio da indicação a convite de uma equipe que se destacou com a construção do Ministério da Saúde e Educação, e manteve o arquiteto como profissional liberal contratado por uma instância governamental – no caso, o prefeito Juscelino Kubitschek.

As duas correntes citadas por Joaquim Cardoso foram consagradas na pesquisa de Yves Bruand (1981) e assumidas como percussoras da arquitetura modernista no Brasil. Entretanto, foi no cenário paulistano da década de 1940 – mesmo período em que se concebeu o conjunto da Pampulha – que a arquitetura modernista fortaleceu sua difusão aos demais estados. Ainda que Minas Gerais despontasse na produção da arquitetura modernista, devido ao apoio de Juscelino Kubitschek, foi em São Paulo que os debates em torno da arquitetura modernista e da necessidade de uma reforma na profissão do arquiteto ocorreu de modo mais intenso. É possível identificar, ainda, uma terceira corrente desenhada no decorrer da década de 1940, no Rio Grande do Sul. A formação de um corpo docente que incorporou a arquitetura modernista no curso de arquitetura do Instituto de Belas Artes (IBA) de Porto Alegre, somada à abertura dada pela prefeitura, que revia seu Plano Diretor, fomentou a arquitetura modernista na capital sulina. Atuando como agentes da disseminação, Jorge Moreira desenvolveu a proposta do Hospital de Clínicas e se tornou professor emérito no curso de arquitetura, enquanto Oscar Niemeyer se tornou paraninfo da primeira turma de arquitetos formados em Porto Alegre (SEGAWA, 2002). Outros agente foram ainda explicitados diante de diferentes regionalismos (BASTOS; ZEIN, 2015), representados por arquitetos como Diógenes Rebouças, em Salvador, e Sylvio de Vasconcellos, em Belo Horizonte. Tais arquitetos buscaram associar as vertentes culturais locais à produção de uma arquitetura modernista, gerando leituras que fortaleceram diálogos entre a arquitetura modernista e a tradição construtiva das suas respectivas regiões.

Diante das correntes expostas por Cardozo, aponta-se que, ao enfatizar a produção das Escolas Carioca e Paulista9, a historiografia tratou de registrar a arquitetura modernista produzida nas décadas de 1930 e 1940 nas demais regiões como exceções, ao invés de conotá- las como experiências iniciais. As obras produzidas no Nordeste e no Sul foram predominantemente apresentadas como pontuais e reprodutoras da linguagem desenvolvida pela geração carioca, ainda que assumissem elementos próprios tão experimentais como também eram os decorrentes do Rio de Janeiro e São Paulo.

Pesquisas recentes apresentadas, por exemplo, nos seminários “DOCOMOMO” e “Urbanistas e urbanismos”, têm exposto a existência de uma vasta produção modernista distante do eixo Rio-São Paulo entre as décadas de 1930 e 1950. Além disso, descrevem os incentivos à produção modernista não apenas junto ao governo federal, mas também nas instâncias estaduais e municipais. Essa perspectiva de fomento à arquitetura modernista em outros estados e suas respectivas condições culturais revelou a necessidade de pesquisas que explicitassem suas condicionantes, mas também outras que conectem os regionalismos em uma relação dialética com as vanguardas.

O que se observou como resultado desses seminários é que, ao atrelar a produção de arquiteturas “regionalistas” como desdobramentos da Escola Carioca e, posteriormente, Paulista, pouco se concedeu às demais regiões e seus próprios protagonistas. Mesmo que as propostas geradas nessas escolas sejam fundamentais ao entendimento da arquitetura modernista brasileira, sua complexidade se volta à necessidade de construir um quadro maior de acontecimentos, que revele profissionais de qualidade atentos às circunstâncias e modificações da sociedade pelo Brasil afora.

A questão do vanguardismo foi abordada em debates como o de Geraldo Ferraz (1965), que defendeu que as primeiras iniciativas se deram por parte dos arquitetos locados em São Paulo, representados por Gregori Warchavchik, Flávio de Carvalho e Rino Levi. Entretanto, para Gorelik, (2005), o que se fez no Rio de Janeiro foi algo distinto10. Em São Paulo, as

9 No trabalho “Por uma história não moderna da arquitetura brasileira”, de Marcelo Puppi (1998), o autor avalia a escrita historiográfica desenvolvida a partir dos textos de membros da primeira e segunda geração de arquitetos modernistas carioca. Devido a isso, houve a necessidade de se vislumbrar a história da arquitetura brasileira para além dos depoimentos dos personagens que estabelecem a predominância do discurso modernista, visto sobretudo a partir de um amplo quadro de disputas.

10 Para Gorelik (2005), os rebatimentos da construção do Ministério da Educação e Saúde, somado ao impacto da tentativa de reforma curricular da Escola Nacional de Belas Artes, criou no Rio de Janeiro um cenário distinto ao Paulista. Se por um lado insere a questão vanguardista para dentro do poder público, fomentado pelas equipes técnicas da prefeitura, por outro sugere a uma geração transformações aclamadas pelos estudantes e transportado

Janeiro as transformações buscaram inserir as propostas modernistas junto aos órgãos estatais, garantindo sua perpetuação por meio do financiamento público e de mudanças na principal instituição formadora de engenheiros-arquitetos: a Escola Nacional de Belas Artes.

Segundo Lucio Costa (1979), em uma avaliação sobre como se deu a perpetuação da arquitetura modernista, a compreensão quanto à dualidade existente entre uma geração que se alimentou da ruptura com o modelo anterior, perpetuado por meio de obras excepcionais, e a necessidade da divulgação das propostas modernas em um sentido comum, propiciou a reprodução da arquitetura modernista em larga escala:

“Ora, a verdadeira arquitetura, o verdadeiro estilo de uma época, sempre esteve na repetição. O apuro das coisas repetidas caracterizou sempre o estilo do passado; é uma invenção unânime no meio social, uma determinada direção (...) é disso que foi feito o estilo da época, de um país, de uma região: é essa uniformidade.” (COSTA, 1979)

As problemáticas geradas por uma “ruptura”11 têm se revelado diversas, principalmente quando observado o ritmo acelerado em que se deu a produção da arquitetura modernista brasileira. A “reprodução” passou a ser usualmente atrelada à ação pouco reflexiva e descontextualizada do que se fez com a arquitetura neocolonial, e tornou-se um mote a ser superado pelo novo – o moderno12 – como a postura que cumpriria a ambição desenvolvimentista da época. Entretanto, segundo Lucio Costa, para que a arquitetura modernista se consolidasse, foi preciso novamente valorizar a repetição.

A questão da repetição foi defendida na década de 1950 por Walter Groupius. Para o arquiteto, era preciso estabelecer um método que permitisse a perpetuação da arquitetura modernista sem perder de vista as questões humanas e sociais às quais o arquiteto moderno deveria responder. Segundo Gropius (1954) em seu discurso no IV Congresso Brasileiro de Arquitetos:

para lugares como Pernambuco, representado pela figura de Luis Nunes, que frequenta esses intensos acontecimentos.

11 A ideia de “ruptura” foi abordada por Alan Colqdhoun (2004) como a busca por encerrar a reprodução de estilos do passado segundo uma “tradição” arquitetônica.

12 Lauro Cavalcanti e André Correa Lago (2009) exploraram a questão do moderno em sua ambiguidade. Organizou-se a exposição “Ainda Moderno?” em uma abordagem que se descolou da questão estilística e propôs uma “arquitetura em movimento”. A exposição apresenta o modernismo como elemento a ser reinterpretado como herança disciplinar, tornando a arquitetura brasileira capaz de manter caráter moderno – no sentido de atual –, sem perder de vista a rica história e as experiências da disciplina arquitetônica do século XX.

“O funcional na arquitetura tem sido erroneamente tomado por mecanização e como só obedecendo a considerações práticas e racionais. Esta noção é falsa. (...) O método funcional na arquitetura e no desenho tem, portanto, de satisfazer tanto às exigências psicológicas do homem como às práticas, para poder alcançar o orgânico. Já vejo delinear-se um novo padrão humanizado que, se por um lado se adapta ao todo da comunidade, por outro pode também, por suas próprias modificações, satisfazer as diferentes aspirações dos indivíduos.” (GROPIUS, 1954)

A questão da repetição inscrita nos discursos de Lucio Costa e Walter Gropius ilustra um dos pontos fundamentais à disseminação da arquitetura modernista: a necessidade de pensar a arquitetura sem o ímpeto da negação de uma corrente anterior, mas a favor de uma atitude renovadora, pautada em um suporte técnico, teórico e regulamentador para além do apelo à inovação. Tal necessidade concedeu ao ensino uma árdua tarefa a ser gerenciada. No caso, a reprodução não seria nem a da revolução industrial, como produção seriada, nem mesmo da cultura de massas, como no debate pós-moderno. Partindo da fala de Gropius, era preciso fortalecer o ensino e, consequentemente, a formação do arquiteto, de forma voltada à sensibilidade capaz de reproduzir e aperfeiçoar uma metodologia de produção arquitetônica e intervenção nas cidades.

Desse modo, a pesquisa aqui desenvolvida em torno da disseminação da arquitetura modernista não tratou da arquitetura produzida como excepcional – ou de exceção –, mas da capacidade desta se inserir dentro dos aparelhos que permitiram sua repetição. Logo, seriam os aparelhos: 1. as Faculdades de Arquitetura, como formadoras do contingente responsável pela perpetuação da disciplina e difusão da profissão do arquiteto diante do campo profissional que se buscava consolidar; 2. as instituições de representação da categoria, responsáveis por possibilitar a inserção da mesma nos processos políticos que garantissem