FACULDADE DE ENGENHARIA MEC ˆ
ANICA
E INSTITUTO DE GEOCIˆ
ENCIAS
JO ˜AO C ˆANDIDO MAGALH ˜AES
Invers˜
ao de Marchenko em Uma Dimens˜
ao
CAMPINAS 2019
Invers˜
ao de Marchenko em Uma Dimens˜
ao
Disserta¸c˜ao de Mestrado apresentada `a Faculdade de Engenharia Mecˆanica e Instituto de Geociˆencias da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em Ciˆencias e Engenharia de Petr´oleo, na ´area de Reservat´orios e Gest˜ao.
Orientador: Profa. Dra. Maria Am´elia Novais Schleicher
Coorientador: Prof. Dr. Joerg Dietrich Wilhelm Schleicher
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE `A VERS ˜AO FINAL DA DISSERTAC¸ ˜AO DEFENDIDA PELO ALUNO Jo˜ao Cˆandido Magalh˜aes E ORIENTADA PELA Profa. Dra. Maria Am´elia Novais Schleicher.
CAMPINAS 2019
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura Luciana Pietrosanto Milla - CRB 8/8129
Magalhães, João Cândido,
M27i MagInversão de Marchenko em uma dimensão / João Cândido Magalhães. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.
MagOrientador: Maria Amélia Novais Schleicher. MagCoorientador: Joerg Dietrich Wilhelm Schleicher.
MagDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica.
Mag1. Geofísica. 2. Ondas sísmicas. 3. Inversão (Geofísica). 4. Ondas
sísmicas - Modelos Matemáticos. I. Schleicher, Maria Amélia Novais, 1967-. II. Schleicher, Joerg Dietrich Wilhelm, 1964-. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Mecânica. IV. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Marchenko inversion in one dimension Palavras-chave em inglês:
Geophysics Seismic waves
Inversion (Geophysics)
Seismic waves - Mathematical models
Área de concentração: Reservatórios e Gestão
Titulação: Mestra em Ciências e Engenharia de Petróleo Banca examinadora:
Maria Amélia Novais Schleicher [Orientador] Lúcio Tunes dos Santos
Jessé Carvalho Costa Data de defesa: 25-07-2019
Programa de Pós-Graduação: Ciências e Engenharia de Petróleo
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)
- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7885-3423 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4205097021241285
FACULDADE DE ENGENHARIA MEC ˆANICA E INSTITUTO DE GEOCIˆENCIAS
DISSERTAC¸ ˜AO DE MESTRADO ACADˆEMICO
Invers˜
ao de Marchenko em Uma Dimens˜
ao
Autor: Jo˜ao Cˆandido Magalh˜aes
Orientador: Profa. Dra. Maria Am´elia Novais Schleicher Coorientador: Prof. Dr. Joerg Dietrich Wilhelm Schleicher
A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Disserta¸c˜ao:
Profa. Dra. Maria Am´elia Novais Schleicher, Presidente
DMA/IMECC/UNICAMP
Prof. Dr. L´ucio Tunes dos Santos DMA/IMECC/UNICAMP
Prof. Dr. Jess´e Carvalho Costa IGEOG/UFPA
A Ata da defesa com as respectivas assinatura dos membros encontra-se no processo de vida acadˆemica do aluno.
A Maria Izabel, minha m˜ae, que me deu a educa¸c˜ao e os valores que me permitiram chegar at´e aqui, agrade¸co por acreditar em mim e por me apoiar sempre.
A Paula, minha noiva, agrade¸co pela motiva¸c˜ao e companheirismo, por valorizar meu trabalho mesmo sem entendˆe-lo e por ter se dedicado `a revis˜ao do texto.
A Am´elia Novais, minha orientadora, agrade¸co por me aceitar nesse programa e propor este trabalho, por dividir seu conhecimento com generosidade e pelo empenho exigente com
que me orientou nesse per´ıodo.
A J¨org Schleicher, coorientador, agrade¸co pelos ensinamentos, por gentilmente ceder algumas rotinas, pela disposi¸c˜ao em tirar d´uvidas e por sempre oferecer bons conselhos e
solu¸c˜oes ´uteis.
Ao professor L´ucio Santos, agrade¸co pelo rigor exigido nos semin´arios e classes e pelos
c´odigos de processamento de sinais escritos em MATLAB que foram utilizados no Cap´ıtulo 4. Ao professor Ricardo Biloti, agrade¸co por todos os ensinamentos e pelas valiosas
suges-t˜oes de programa¸c˜ao, que foram essenciais para a elabora¸c˜ao de todos os algoritmos utilizados nesta disserta¸c˜ao.
A Peter Machado, Alexandre Camargo, Carlos Assis, Bruno Camerando e Joan Guastala, alunos do grupo de Geof´ısica Computacional, pelas discuss˜oes produtivas que auxiliaram na
produ¸c˜ao deste trabalho. `
A PETROBRAS, atrav´es do PRH-230, pelo apoio financeiro.
Ao CNPq, via INCT-GP, `a FEM, ao IMECC e `a Unicamp pela estrutura fornecida durante todo o curso.
And saw it through without exemption Paul Anka
A fun¸c˜ao de Green focada em um ponto arbitr´ario pode ser obtida por meio da solu¸c˜ao da equa¸c˜ao integral de Marchenko ou das equa¸c˜oes acopladas de Marchenko, utlizando-se m´etodos iterativos. A equa¸c˜ao integral de Marchenko ´e uma equa¸c˜ao integral unidimen-sional que relaciona a amplitude de espalhamento e o coeficiente de reflex˜ao que deu origem ao campo espalhado, sendo assim, um problema de espalhamento inverso. As equa¸c˜oes acopladas de Marchenko s˜ao oriundas da rela¸c˜ao entre o dado s´ısmico (fun¸c˜ao de Green) e uma solu¸c˜ao fundamental de um problema de propaga¸c˜ao (equa¸c˜ao de Helmholtz homogˆenea com perturba¸c˜ao na velocidade). Este trabalho de disserta¸c˜ao visa reunir as dedu¸c˜oes te´oricas da equa¸c˜ao integral de Marchenko e das equa¸c˜oes acopladas de Marchenko, bem como apre-sentar o resultado da implementa¸c˜ao dos dois esquemas iterativos e a compara¸c˜ao entre eles. Al´em disso, prop˜oe uma aplica¸c˜ao para detec¸c˜ao de camadas utilizando as fun¸c˜oes de Green unidirecionais redatumadas.
The Green’s function focused at an arbitrary point can be obtained from the solution of the Marchenko integral equation or the coupled Marchenko equations, by means of iterative schemes. The Marchenko integral equation is an unidimensional integral equation that re-lates the scattering amplitude and the reflection coefficient that created the scattered field. Therefore this equation represents an inverse scattering problem. The coupled Marchenko equations are a result from the relationship between the seismic data (Green’s function) and the fundamental solution of a propagation problem (homogeneous Helmholtz equation with velocity perturbation). In this master thesis, we unite and compare the theoretical deriva-tions of the Marchenko integral equaderiva-tions and the coupled Marchenko equaderiva-tions and present the implementational results of two iterative schemes for solving them and their compari-son. Moreover, we present an application of the scheme for the coupled equations for layer detection using the one-way redatumed Green’s function.
1 INTRODUC¸ ˜AO . . . 11
2 FUNDAMENTAC¸ ˜AO TE ´ORICA . . . 14
2.1 Equa¸c˜ao da onda 1D homogˆenea . . . 14
2.2 Solu¸c˜ao da equa¸c˜ao da onda em um meio homogˆeneo . . . 15
2.2.1 Equa¸c˜ao de Helmholtz com perturba¸c˜ao na velocidade . . . 15
2.2.2 Varia¸c˜ao de parˆametros para um potencial localizado . . . 17
2.2.3 Propriedades das solu¸c˜oes fundamentais de um meio com potencial localizado 20 2.3 Representa¸c˜ao das solu¸c˜oes fundamentais . . . 22
2.4 Equa¸c˜ao integral de Marchenko . . . 24
2.5 Equa¸c˜ao da onda 1D n˜ao-homogˆenea . . . 29
2.5.1 Representa¸c˜ao em campos unidirecionais . . . 29
2.6 Teoremas da reciprocidade . . . 30
2.6.1 Teorema da reciprocidade do tipo correla¸c˜ao . . . 32
2.7 As equa¸c˜oes acopladas de Marchenko . . . 32
2.7.1 Aproxima¸c˜ao por teoria dos raios . . . 35
2.7.2 Condi¸c˜oes de contorno para as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko . . . 36
3 METODOLOGIA . . . 39
3.1 O esquema iterativo de Rose . . . 39
3.1.1 Fun¸c˜ao de Green redatumada pelo m´etodo de Broggini e Snieder . . . 45
3.2 O m´etodo de van der Neut . . . 46
3.3 Esquemas iterativos sem modelamento . . . 52
4 APLICAC¸ ˜OES E RESULTADOS . . . 59
4.1 Discrepˆancia nas amplitudes . . . 59
4.2 Efeito de um tra¸co s´ısmico com ru´ıdo nos esquemas iterativos . . . 63
4.3 Esquemas iterativos em um modelo complexo de velocidade . . . 69
4.5.1 O m´etodo . . . 78
4.5.2 Detec¸c˜ao de camadas em 10 pontos controlados do modelo . . . 81
5 CONCLUS ˜OES . . . 85
REFERˆENCIAS . . . 88
APˆENDICES . . . 90
A Transformada de Fourier . . . 90
1 INTRODUC
¸ ˜
AO
Os objetivos do m´etodo s´ısmico, especificamente da s´ısmica de reflex˜ao, s˜ao construir uma imagem do subsolo (imageamento) e recuperar determinadas propriedades f´ısicas do
meio (invers˜ao), tais como velocidade de propaga¸c˜ao e densidade, a partir de um campo de onda registrado em receptores na superf´ıcie.
O campo de onda ´e gerado por uma fonte que injeta energia no meio. A energia se propaga no meio, em forma de uma onda, e, ao encontrar contraste de propriedades f´ısicas, o
meio a espalha de volta para a superf´ıcie, onde o campo de onda ´e registrado pelos receptores (Figura 1).
O registro normalmente ´e feito na superf´ıcie devido a limita¸c˜oes pr´aticas, mas tamb´em pode ser feito colocando-se receptores nas paredes de po¸cos. O registro em cada receptor ´e
denominado tra¸co s´ısmico e, para registr´a-lo, ´e necess´ario que se tenha uma fonte, localizada em xs, e um receptor, localizado em xg. Em s´ısmica, ´e frequente a associa¸c˜ao de um par
coordenadas diferentes para descrever a posi¸c˜ao do tra¸co. Essas coordenadas s˜ao o afasta-mento entre a fonte e o receptor (η) e ponto m´edio entre a fonte e o receptor (ξ). O conjunto
de tra¸cos s´ısmicos comp˜oem uma se¸c˜ao s´ısmica e ´e utilizado na obten¸c˜ao de imagens ou das propriedades do meio, a depender do m´etodo utilizado.
A equa¸c˜ao integral de Marchenko, originalmente proposta por Vladimir A. Marchenko em 1955 (Aktosun, 1987) para descrever o problema de espalhamento inverso da equa¸c˜ao de
Schr¨odinger, ´e produto de um problema de propaga¸c˜ao que relaciona a amplitude de espa-lhamento de um meio a seu coeficiente de reflex˜ao. Rose (2002) propˆos um esquema iterativo
para focar um pulso a partir de um tra¸co s´ısmico de um meio unidimensional (1D), obtido em configura¸c˜ao de afastamento nulo (zero offset ). Broggini e Snieder (2012) mostraram mais
tarde que essa solu¸c˜ao pode ser utilizada para simular o experimento s´ısmico com receptores enterrados. Esse tipo de opera¸c˜ao ´e conhecido como redatuma¸c˜ao. H´a v´arios m´etodos de
redatuma¸c˜ao descritos na literatura, cada qual com suas particularidades — A redatuma¸c˜ao Kirchhoff (Wiggins, 1984) precisa do modelo de velocidade, a redatuma¸c˜ao interferom´etrica
(Schuster e Zhou, 2006) necessita de fontes ou receptores ao longo de uma superf´ıcie fechada em torno do ponto para o qual se quer redatumar.
z
x
c0
c1
Figura 1: Desenho esquem´atico representando o experimento s´ısmico. A fonte (asterisco vermelho) d´a origem `as ondas (semic´ırculos em verde), que se propagam at´e serem espalhadas pelo refletor (plano inclinado), dando origem ao campo espalhado (semic´ırculos em vermelho), que ´e registrado nos receptores (triˆangulos invertidos em azul).
Vale ressaltar, entretanto, que o objetivo da s´ısmica ´e justamente se conhecer os parˆ a-metros do meio a partir do registro do campo espalhado. O m´etodo desenvolvido por Broggini
e Snieder (2012) necessita apenas do tra¸co s´ısmico registrado na superf´ıcie, e ainda que n˜ao se tenha conhecimento do modelo de velocidade, o tra¸co redatumado ser´a correto. Sua
localiza¸c˜ao no tempo ser´a conhecida; contudo, sua localiza¸c˜ao espacial n˜ao poder´a ser de-terminada sem um modelo de velocidade. Wapenaar et al. (2013) propuseram as equa¸c˜oes
acopladas de Marchenko, que s˜ao equa¸c˜oes integrais com forma similar `as de Marchenko e que foram inicialmente derivadas para problemas em duas e trˆes dimens˜oes, e van der Neut et al.
(2015) propuseram um esquema iterativo semelhante ao de Rose para resolver as equa¸c˜oes acopladas. Assim, o m´etodo ganhou maior visibilidade na comunidade cient´ıfica e novas
aplica¸c˜oes come¸caram a surgir, a saber: imageamento (Slob e Wapenaar, 2017; Singh et al., 2015; Meles et al., 2016, 2018; Wapenaar et al., 2014), an´alise de velocidade (Mildner et al.,
2017) e invers˜ao (Semih, 2018).
Esta disserta¸c˜ao visa reunir os conceitos e ferramentas necess´arios para entender a equa¸c˜ao integral de Marchenko e sua vers˜ao acoplada, bem como os m´etodos iterativos que
resolvem essas equa¸c˜oes, aplicados apenas para o caso unidimensional. O segundo cap´ıtulo trata da descri¸c˜ao te´orica do problema de espalhamento inverso que d´a origem `a equa¸c˜ao
integral de Marchenko. Cabe ainda a esse cap´ıtulo a conex˜ao dos conceitos do problema de espalhamento inverso e do problema s´ısmico, al´em das dedu¸c˜oes das equa¸c˜oes acopladas de
Marchenko, utilizando aproxima¸c˜ao por raios. O terceiro cap´ıtulo dedica-se a apresentar a aplica¸c˜ao do m´etodo de Broggini e Snieder e tamb´em do m´etodo de van der Neut em um
mo-delo simples, para fins de compara¸c˜ao. Tamb´em considera como a aplica¸c˜ao destes m´etodos devem ser feitas em dados s´ısmicos reais. O quarto cap´ıtulo re´une exemplos num´ericos com
a finalidade de mostrar o efeito da escala incorreta da fonte, avaliar a sensibilidade dos es-quemas ao se utilizar tra¸cos s´ısmicos com ru´ıdo e comparar as solu¸c˜oes iterativas com a
solu¸c˜ao de referˆencia por diferen¸cas finitas. Esse cap´ıtulo tamb´em apresenta uma estrat´egia para detec¸c˜ao de camadas utilizando uma solu¸c˜ao do esquema iterativo de van der Neut. O
´
ultimo cap´ıtulo re´une as considera¸c˜oes finais sobre os dois m´etodos, bem como uma an´alise dos resultados num´ericos obtidos neste trabalho.
2 FUNDAMENTAC
¸ ˜
AO TE ´
ORICA
As trˆes partes que comp˜oem este cap´ıtulo tˆem como objetivo reunir as dedu¸c˜oes matem´aticas necess´arias para se chegar `a equa¸c˜ao integral de Marchenko e `as equa¸c˜oes acopladas de
Marchenko.
A primeira parte descreve a equa¸c˜ao da onda em uma dimens˜ao. At´e a Se¸c˜ao 2.2.1, a
proposta ´e inicialmente resolver a equa¸c˜ao da onda de maneira simplificada (sem fonte e com velocidade constante) e, a seguir, resolver o problema com maior complexidade (em meio
com perturba¸c˜ao de velocidade localizada).
A segunda parte trata das propriedades das solu¸c˜oes fundamentais num caso particular
do problema mais complexo e estabelece uma rela¸c˜ao entre o campo de onda e as propriedades do meio — que se traduz na equa¸c˜ao integral de Marchenko.
A ´ultima parte apresenta os recursos necess´arios para se deduzirem as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko, as quais foram inicialmente propostas por Wapenaar et al. (2013).
Sinteti-camente, utilizou-se uma ferramenta para relacionar o problema matem´atico que descreve o experimento s´ısmico 1D e as propriedades das solu¸c˜oes fundamentais dos problemas descritos
nas partes anteriores.
2.1 Equa¸c˜ao da onda 1D homogˆenea
A equa¸c˜ao que governa a propaga¸c˜ao de ondas que se propagam em um meio unidi-mensional (1D) ´e uma equa¸c˜ao diferencial parcial de segunda ordem homogˆenea, dada por
∂2 ∂x2u(x, t) − 1 c(x)2 ∂2 ∂t2u(x, t) = 0 , (1)
onde u(x, t) ´e o campo de onda a ser descrito e x e t s˜ao as vari´aveis espacial e temporal, respectivamente. Al´em disso, c(x) descreve a distribui¸c˜ao da velocidade de propaga¸c˜ao ao
2.2 Solu¸c˜ao da equa¸c˜ao da onda em um meio homogˆeneo
Aplicando a transformada de Fourier (Apˆendice A) em ambos os lados na vari´avel temporal da equa¸c˜ao (1), obt´em-se a equa¸c˜ao de Helmholtz homogˆenea
d2
dx2u(x, ω) +b ω2
c(x)2bu(x, ω) = 0 . (2)
Aqui, sup˜oe-se que a fun¸c˜ao u(x, t) possui transformadas direta e inversa de Fourier.
Abordamos inicialmente o problema da solu¸c˜ao da equa¸c˜ao da onda utilizando um mo-delo de velocidade constante, i.e., c(x) = c0. Nesse caso, a equa¸c˜ao (2) se torna uma equa¸c˜ao
diferencial parcial de segunda ordem homogˆenea com coeficientes constantes. Utilizando a equa¸c˜ao caracter´ıstica (veja, e.g., Boyce e DiPrima, 2017), obt´em-se
b u(x, ω) = C1(cω 0)e icω 0x+ C2(ω c0)e −iω c0x, (3)
onde C1 e C2 s˜ao fun¸c˜oes de cω0 e s˜ao determinadas pelas condi¸c˜oes iniciais do problema.
2.2.1 Equa¸c˜ao de Helmholtz com perturba¸c˜ao na velocidade
Quando se pretende estudar meios que n˜ao possuem velocidade constante, seguindo a dedu¸c˜ao contida em Lamb (1980), ´e poss´ıvel entender o meio heterogˆeneo como uma
per-turba¸c˜ao do meio homogˆeneo c0, descrita por uma fun¸c˜ao α(x). A equa¸c˜ao (2), ent˜ao, assume
a forma
d2
dx2bu(x, ω) +
ω2
c02 (1 + α(x))u(x, ω) = 0 .b (4) A equa¸c˜ao acima ´e conhecida por equa¸c˜ao de Helmholtz perturbada ou equa¸c˜ao de
Schr¨odinger independente do tempo. A fun¸c˜ao α(x) ´e denominada potencial de espalhamento, e cont´em as varia¸c˜oes espaciais da velocidade.
Como se trata de uma equa¸c˜ao diferencial em x, cabe a solu¸c˜ao pelo m´etodo da varia¸c˜ao de parˆametros (veja, e.g., Boyce e DiPrima, 2017). Esse m´etodo consiste em utilizar uma
solu¸c˜ao fundamental da equa¸c˜ao homogˆenea (equa¸c˜ao (3)), i.e., b u(x, ω) = bA(x, ω c0)e icω 0x+ bB(x, ω c0)e −iω c0x, (5) onde bA(x,cω 0) e bB(x, ω
c0) s˜ao fun¸c˜oes a serem determinadas.
Uma vez que h´a somente uma equa¸c˜ao a satisfazer, ´e poss´ıvel impor uma rela¸c˜ao entre
b A(x,cω
0) e bB(x,
ω
c0). Por comodidade, costuma-se escolher
b A0(x,cω 0)e icω 0x+ bB0(x, ω c0)e −iω c0x = 0 . (6)
Substituindo a equa¸c˜ao (5) na equa¸c˜ao (4) e relacionando-a com a equa¸c˜ao (6), chega-mos ao sistema b A0(x,cω 0)e icω 0x− bB0(x, ω c0)e −iω c0x = iω c0 α(x)bu(x, ω) , b A0(x,cω 0)e icω 0x+ bB0(x, ω c0)e −iω c0x = 0 . (7)
Resolvendo o sistema para bA0(x,cω
0) e bB 0(x, ω c0) e integrando em x, encontramos b A(x,cω 0) = iω 2c0 Z x a
α(x0)u(xb 0, ω)e−i
ω c0x 0 dx0+ bA(a,cω 0) (8) e b B(x,cω 0) = − iω 2c0 Z x a α(x0)bu(x0, ω)ei ω c0x 0 dx0+ bB(a,cω 0) . (9)
O limite inferior de integra¸c˜ao ´e um ponto inicial arbitr´ario, onde bA(a,cω
0) e bB(a,
ω c0)
s˜ao constantes a serem determinadas por uma condi¸c˜ao inicial ou de fronteira do problema. Ao substituir as equa¸c˜oes (8) e (9) na candidata (5), econtramos a seguinte representa¸c˜ao
integral para o campo de onda bu(x, ω)
b
u(x, ω) = iω 2c0
Z x
a
α(x0)bu(x0, ω)e−i
ω c0x 0 dx0+ bA(a,cω 0) ei ω c0x − iω 2c0 Z x a α(x0)bu(x0, ω)ei ω c0x 0 dx0+ bB(a,cω 0) e−i ω c0x. (10)
Vale dizer que a equa¸c˜ao (10) n˜ao ´e a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (4), mas sim uma equa¸c˜ao
duas constantes a serem determinadas.
Com base na teoria de equa¸c˜oes diferenciais, sabe-se que um problema de equa¸c˜ao or-din´aria de segunda ordem possui duas solu¸c˜oes fundamentais, que aqui chamamos de u1(x, t)
e u2(x, t) no tempo ou ub1(x, ω) e ub2(x, ω) na frequˆencia — as quais s˜ao solu¸c˜oes da forma acima, com condi¸c˜oes iniciais distintas, ou seja, com pares de valores distintos das
constan-tes bA(a,cω
0) e bB(a,
ω
c0). Toda e qualquer solu¸c˜ao do problema pode ser escrita como uma
combina¸c˜ao linear de duas solu¸c˜oes fundamentais.
2.2.2 Varia¸c˜ao de parˆametros para um potencial localizado
Procuramos duas solu¸c˜oes fundamentais da equa¸c˜ao (4), para o caso em que o potencial
de espalhamento α(x) ´e localizado, i.e., possui suporte compacto. O objetivo ´e que as solu¸c˜oes sejam assintoticamente iguais a um impulso unit´ario quando x tende a ±∞ (Lamb, 1980).
A equivalˆencia assint´otica nas equa¸c˜oes a seguir ser´a representada por ∼. Em suma, queremos que ub1(x, ω) ∼ e
iω c0x quando x → ∞, e que b u2(x, ω) ∼ e −iω c0x
quando x → −∞. Essa condi¸c˜ao pode ser representada matematicamente pelo fato de que a raz˜ao entre a fun¸c˜ao e sua representa¸c˜ao assint´otica deva tender a 1, ou seja,
lim x→∞ b u1(x, ω) ei ω c0x = 1 , (11) lim x→−∞ b u2(x, ω) e−i ω c0x = 1 . (12)
Como as express˜oes nas equa¸c˜oes (11) e (12) s˜ao assintoticamente constantes, uma condi¸c˜ao necess´aria ´e que as suas derivadas devem se aproximar de zero nos limites das equa¸c˜oes (11)
e (12), isto ´e, lim x→∞ d dx b u1(x, ω)e −iω c0x = 0 , (13) lim x→−∞ d dx b u2(x, ω)e icω 0x = 0 . (14)
Com essas condi¸c˜oes de comportamento assint´otico (que substituem as condi¸c˜oes de fronteira), ´e poss´ıvel obter solu¸c˜oes particulares para as constantes desconhecidas bA(a,cω
b B(a,cω
0).
Consideramos primeiramente a solu¸c˜ao bu2(x, ω), que se reduz a um impulso unit´ario
para x → −∞. Ao multiplicar a equa¸c˜ao (10) por ei
ω c0x, tem-se b u2(x, ω)e icω 0x = iω 2c0 Z x a α(x0)ub2(x0, ω)e −icω 0x 0 dx0 e2i ω c0x+ bA(a, ω c0)e 2icω 0x − iω 2c0 Z x a α(x0)bu2(x0, ω)e icω 0x 0 dx0+ bB(a,cω 0) , (15)
cuja derivada espacial ´e
d dx h b u2(x, ω)e icω 0x i = −ω2 c02 Z x a α(x0)ub2(x0, ω)e −iω c0x 0 dx0 e2i ω c0x+ 2iω c0A(a,b ω c0)e 2icω 0x. (16)
Ao aplicar o limite da equa¸c˜ao (14), obtemos ent˜ao
lim x→−∞ d dx h b u2(x, ω)e icω 0x i = lim x→−∞ −ω2 c02 Z x a α(x0)bu2(x0, ω)e −iω c0x 0 dx0+ 2icω 0A(a,b ω c0) e2i ω c0x . (17) Sabe-se que o tempo exponencial e2i
ω
c0x possui m´odulo unit´ario, i.e., ´e uma fun¸c˜ao
limitada. Assim, para que o limite da equa¸c˜ao (17) possa ser zero, ´e necess´ario que o termo dentro dos colchetes tenda a zero. Consequentemente, tem-se
lim x→−∞− ω2 c02 Z x a α(x0)ub2(x0, ω)e −icω 0x 0 dx0 = 2icω 0A(a,b ω c0) , (18) ou seja, b A(a,cω 0) = iω 2c0 Z a −∞ α(x0)bu2(x0, ω)e −iω c0x 0 dx0. (19)
Substituindo esse valor de bA(a,cω
0) na equa¸c˜ao (15) e fazendo uma an´alise de x quando
tende a −∞, observamos que esse limite somente ser´a 1 se
b B(a,cω 0) = 1 − iω 2c0 Z a −∞ α(x0)bu2(x0, ω)e icω 0x 0 dx0. (20)
Substituindo as express˜oes (19) e (20) para as constantes bA(a,cω
0) e bB(a,
ω
c0) na equa¸c˜ao (10),
com-x 0 xa xb u2(x, t) α(x) 6= 0 c0δ(x + c0t) u1(x, t) c0δ(x − c0t) Velocidade c0
Figura 2: Ilustra¸c˜ao do comportamento das duas solu¸c˜oes particulares bu1 e ub2 para um potencial espalhador localizado (α(x) = 0, x /∈ [xa, xb]). As setas s´olidas e tracejadas indicam
a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao de ub1 e bu2, respectivamente. Veja a explica¸c˜ao no texto.
portamento assint´otico:
b u2(x, ω) = e −iω c0x+ iω 2c0 Z x −∞ α(x0)ub2(x0, ω) ei ω c0(x−x 0) − e−icω0(x−x 0) dx0, (21) ou ainda b u2(x, ω) = e −iω c0x− ω c0 Z x −∞ α(x0)ub2(x0, ω) sen(cω0(x − x0))dx0. (22)
Fazendo uma an´alise assint´otica semelhante `a descrita acima para ub1 e sua derivada, a
an´alise dos limites (11) e (13) permite chegar `a equa¸c˜ao integral particular correspondente para bu1 b u1(x, ω) = e icω 0x− iω 2c0 Z ∞ x α(x0)bu1(x0, ω) ei ω c0(x−x 0) − e−i ω c0(x−x 0) dx0, (23) ou de maneira equivalente b u1(x, ω) = e icω 0x+ ω c0 Z ∞ x α(x0)ub1(x0, ω) sen(cω 0(x − x 0 ))dx0. (24)
Apesar de n˜ao dispormos de equa¸c˜oes expl´ıcitas para as solu¸c˜oesbu2 ebu1, ´e poss´ıvel determi-nar, a partir de equa¸c˜oes integrais (21) e (23), o seu comportamento.
A Figura 2 ilustra o comportamento das solu¸c˜oes particulares descritas nas equa¸c˜oes
α(x) = 0 para x /∈ [xa, xb]. Para pontos `a direita de xb, a solu¸c˜ao particular ub1 ´e apenas um impulso unit´ario se propagando para a direita (seta preta), pois os limites de integra¸c˜ao da equa¸c˜ao (23) est˜ao fora do suporte do potencial espalhador. `A esquerda de xa, temos
uma combina¸c˜ao entre um impulso unit´ario (seta vermelha) e outras formas de onda que se propagam para a direita (seta vermelha) e para a esquerda (seta azul). A segunda solu¸c˜ao
particular bu2 pode ser interpretada de maneira an´aloga, por´em em lados e com dire¸c˜oes
opostas (setas tracejadas).
Se uma fun¸c˜ao u1(x, t) ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao da onda ´e certo que sua vers˜ao reversa no
tempo u1(x, −t) tamb´em ser´a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao da onda. Para verificar essa propriedade,
basta substituir u1(x, −t) na equa¸c˜ao (1) e verificar que a equa¸c˜ao permanece com a mesma
forma de u1(x, t). O resultado dessa revers˜ao no tempo ´e chamado de retropropaga¸c˜ao
(desfazer a propaga¸c˜ao). Na Figura 2, as solu¸c˜oes reversas no tempo seriam representadas com a mesma distribui¸c˜ao de campos de onda, por´em teriam as setas da dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao
com sentidos opostos.
Utilizando a revers˜ao no tempo, ´e poss´ıvel obter uma rela¸c˜ao que permite conhecer
b
u2 a partir de ub1 ou vice-versa. Se combinarmos a solu¸c˜ao particular e sua vers˜ao reversa no tempo, podemos arranjar os coeficientes de tal forma que seja poss´ıvel descrever a outra
solu¸c˜ao particular. Antes disso, entretanto, ´e preciso garantir que as solu¸c˜oes particulares e suas vers˜oes reversas no tempo constituem pares de solu¸c˜oes fundamentais, i.e., linearmente
independente.
2.2.3 Propriedades das solu¸c˜oes fundamentais de um meio com potencial localizado
´
E necess´ario saber se bu1 e sua vers˜ao reversa no tempo constituem um par de solu¸c˜oes
fundamentais. Segue do Teorema de Abel (veja, e.g., Boyce e DiPrima, 2017) que duas
solu¸c˜oes de uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria de segunda ordem constituem de fato um par de solu¸c˜oes fundamentais se forem linearmente independentes, i.e., se seu Wronskiano
W [bu1;ub ∗ 1] = det b u1 bu ∗ 1 b u01 bu0∗1 (25)
for n˜ao-nulo. Aquibu∗1 denota o complexo conjugado debu1, i.e., a transformada de Fourier de
u1(x, −t).
Como conhecemos o comportamento assint´otico das solu¸c˜oes, avaliamos
assintotica-mente o W da solu¸c˜ao ub1(x, ω) e sua vers˜ao reversa no tempo u1(x, −t), ou na frequˆencia
b
u∗1(x, ω), do seguinte modo. Come¸camos avaliando o comportamento assint´otico de bu1 e bu
∗ 1, i.e., b u1(x, ω) = e icω 0x− iω 2c0 R∞ x α(x 0) b u1(x0, ω) ei ω c0(x−x 0) − e−i ω c0(x−x 0) dx0 ∼ ei ω c0x, b u01(x, ω) = icω 0e iω c0x − ω 2 2c02 R∞ x α(x 0) b u1(x0, ω) ei ω c0(x−x 0) + e−i ω c0(x−x 0) dx0 ∼ iω c0e iω c0x, b u∗1(x, ω) = e−i ω c0x− iω 2c0 R∞ x α(x 0) b u∗1(x0, ω) e−i ω c0(x−x 0) − ei ω c0(x−x 0) dx0 ∼ e−i ω c0x, b u∗10(x, ω) = −icω 0e iω c0x+ ω 2 2c02 R∞ x α(x 0) b u1(x0, ω) ei ω c0(x−x 0) + e−i ω c0(x−x 0) dx0 ∼ −iω c0e −icω 0x. (26)
Substituindo as equivalˆencias acima na f´ormula do Wronskiano, vemos que ele apresenta o comportamento assint´otico
W [bu1(x, ω);bu
∗
1(x, ω)] ∼ −2icω0 . (27)
Repetindo o mesmo procedimento para forma assint´otica de bu2(x, ω) e bu
∗
2(x, ω), obtemos
W [bu2(x, ω);bu
∗
2(x, ω)] ∼ 2icω0 . (28)
Como ambos os Wronskianos das solu¸c˜oes fundamentais e suas vers˜oes reversas no tempo n˜ao s˜ao identicamente nulos, conclui-se que ambos os pares ub1, ub
∗
1 e bu2, bu
∗
2 s˜ao assintoticamente
x 0 γ22(cω0)e icω 0x γ21(cω 0)e −iω c0x ei ω c0x α(x) 6= 0 xa xb Velocidade c0
Figura 3: Interpreta¸c˜ao f´ısica da equa¸c˜ao (30). Um impulso com amplitude γ21 incidente
da esquerda para direita (seta vermelha) que se propaga em um meio com velocidade c0,
encontra um potencial espalhador de suporte compacto α(x) e retorna amplitudes γ22 (seta
azul). Depois do potencial espalhador, tem-se apenas um impulso unit´ario que se propaga para x → ∞ (seta preta).
2.3 Representa¸c˜ao das solu¸c˜oes fundamentais
Utilizando-se o princ´ıpio da superposi¸c˜ao, ´e poss´ıvel escrever qualquer solu¸c˜ao da equa¸c˜ao
da onda como uma combina¸c˜ao linear de duas solu¸c˜oes fundamentais. Especificamente, cada uma das solu¸c˜oesbu1 eub2 pode ser escrita como uma combina¸c˜ao linear entre a outra solu¸c˜ao
e sua reversa no tempo, i.e.,
b u2(x, ω) = γ11(cω0)ub1(x, ω) + γ12( ω c0)bu ∗ 1(x, ω) , (29) b u1(x, ω) = γ21(cω0)ub ∗ 2(x, ω) + γ22(cω0)bu2(x, ω) . (30)
A Figura 3 ilustra o que est´a contido na equa¸c˜ao (30), no mesmo estilo da Figura 2: `a
esquerda da perturba¸c˜ao, fora do suporte compacto, ub2 ´e igual a e −iω c0x e b u∗2 ´e igual a ei ω c0x.
Assim, podemos interpretar a equa¸c˜ao (30) como um impulso vindo de −∞ com amplitude
γ21 associada, que incide em um potencial espalhador e retorna amplitudes γ22 com dire¸c˜ao
oposta de propaga¸c˜ao. Dentro do potencial espalhador, as amplitudes γ21 se combinam de
forma destrutiva, de tal forma que, `a direita do potencial, o saldo ´e apenas um impulso unit´ario que se propaga para x → ∞. A f´ısica da equa¸c˜ao (29) pode ser descrita de maneira
extrair algumas propriedades sobre γ12 e γ21 e o comportamento das constantes γij quando |ω c0| cresce muito. Substituindo-se a express˜ao (29) em W [bu1(x, ω);bu2(x, ω)] e (30) em W [ub2(x, ω);ub1(x, ω)], obt´em-se W [bu1(x, ω);ub2(x, ω)] = γ11( ω c0)W [ub1(x, ω);ub1(x, ω)] + γ12( ω c0)W [ub1(x, ω);ub ∗ 1(x, ω)] , (31) W [bu2(x, ω);ub1(x, ω)] = γ21( ω c0)W [ub2(x, ω);ub ∗ 2(x, ω)] + γ22(cω0)W [ub2(x, ω);ub2(x, ω)] . (32)
Uma vez que W [ub1;ub1] = W [bu2;bu2] = 0, podemos observar que o Wronskiano das
solu¸c˜oes fundamentaisub1 eub2 ´e um m´ultiplo dos Wronskianos das solu¸c˜oes fundamentaisbu1 eub∗1 ouub2 eub
∗
2. Ao analisar o comportamento assint´otico da equa¸c˜ao (31) (quando x → ∞)
e da equa¸c˜ao (32) (quando x → −∞), obtemos que os coeficientes γ12 e γ21 se comportam
assintoticamente como
γ21(cω0) = γ12(cω0) ∼ −
c0
2iωW [bu1(x, ω);ub2(x, ω)] , (33)
onde a divis˜ao por ω representa
1 ω = 0 , se ω = 0 , 1 ω, se ω 6= 0 . (34)
O Apˆendice B traz mais detalhes sobre esse passo.
Comparando as formas assint´oticas de (29) e (21), ´e poss´ıvel calcular as constantes γij(cω0) quando x → ∞. Sabemos que, na equa¸c˜ao (29), as fun¸c˜oes que est˜ao no lado direito
da igualdade, bu1 eub
∗
1, se reduzem a exponenciais do tipo e ±iω c0x. Portanto, b u2(x, ω) ∼ γ11(cω0) ei ω c0x + γ12(cω0) e−i ω c0x . (35)
Comparando esse comportamento assint´otico com a equa¸c˜ao integral (21), para que a equa¸c˜ao (29) seja assintoticamente consistente com a equa¸c˜ao (21), ´e necess´ario que as
constantes γ11 e γ12 sejam iguais a γ11(cω 0) = iω 2c0 Z ∞ −∞ α(x0)bu2(x0, ω)e −iω c0x 0 dx0, (36) γ12(cω0) = 1 − iω 2c0 Z ∞ −∞ α(x0)ub2(x0, ω)e icω 0x 0 dx0. (37)
Se dividirmos as equa¸c˜oes (29) e (30) por γ21, as constantes assumem a representa¸c˜ao
usual dos coeficientes de transmiss˜ao bT (cω
0) e de reflex˜ao de um impulso incidente pela direita
b
rR(cω0) e pela esquerda brL(
ω
c0) (Lamb, 1980), respectivamente, i.e.,
b T (ω c0)bu2(x, ω) =rbR( ω c0)bu1(x, ω) +bu ∗ 1(x, ω) , (38) b T (ω c0)bu1(x, ω) =rbL( ω c0)bu2(x, ω) +bu ∗ 2(x, ω) . (39)
2.4 Equa¸c˜ao integral de Marchenko
Para se derivar a equa¸c˜ao integral de Marchenko, utilizamos duas candidatas para as
solu¸c˜oes particulares u1(x, t) e u2(x, t) (Lamb, 1980),
u1(x, t) = c0δ(x − c0t) + c0H(c0t − x)CR(x, c0t) (40)
e
u2(x, t) = c0δ(x + c0t) + c0H(c0t + x)CL(x, −c0t) , (41)
onde H ´e a fun¸c˜ao Heaviside (degrau) e CR e CL s˜ao fun¸c˜oes que descrevem o espalhamento
(coda). Essas candidatas se justificam pelo fato de que, tomando suas transformadas de Fourier na vari´avel temporal,
b u1(x, ω) = e icω 0x+ Z ∞ x CR(x, `)e icω 0`d` , (42) b u2(x, ω) = e −iω c0x+ Z x −∞ CL(x, `)e −iω c0`d` , (43)
observamos que elas possuem as mesmas formas das equa¸c˜oes integrais (21) e (23), i.e.,
reduzem-se a impulsos unit´arios, ei
ω
c0x e e−i
ω
c0x, quando x → ∞ e x → −∞, respectivamente.
Essas candidatas s˜ao interpretadas fisicamente como um impulso unit´ario seguido de uma
sequˆencia de amplitudes que se reduzem a um impulso unit´ario ap´os atravessar o potencial localizado, interpreta¸c˜ao idˆentica `a da Figura 3.
Analisamos, a seguir, os lados esquerdo ( bE) e direito ( bD) da equa¸c˜ao (39), reescrita como b Ψ(cω 0)bu1(x, ω) +bu1(x, ω) | {z } b E(ω) =rbL(cω 0)bu2(x, ω) +ub ∗ 2(x, ω) | {z } b D(ω) , (44) onde se define bΨ(cω 0) = bT ( ω
c0) − 1. Notamos que nessa forma da equa¸c˜ao ´e poss´ıvel tratar a
express˜ao do lado esquerdo de modo an´alogo `a do lado direito. ´
E preciso definir de antem˜ao as transformadas inversas das fun¸c˜oes bΨ(cω
0), brR( ω c0) e b rL(cω0), respectivamente, por Ψ(x) = 1 2π Z ∞ −∞ b Ψ(κ)e−iκxdκ , (45) rR(x) = 1 2π Z ∞ −∞b rR(κ)e−iκxdκ , (46) rL(x) = 1 2π Z ∞ −∞b rL(κ)e−iκxdκ . (47)
Come¸camos reescrevendo os termos da direita ( bD) da equa¸c˜ao (44),
b D(ω) = brL(cω0) . bu2(x, ω) + ub ∗ 2(x, ω) , (48) b D(ω) = Z ∞ −∞ rL(z)e iω c0zdz . Z ∞ −∞ u2(x, t0)eiωt 0 dt0 + Z ∞ −∞ u2(x, t0)e−iωt 0 dt0, (49)
e conclu´ımos que a sua transformada inversa, ´e dada por
D(t) = 1 2π Z ∞ −∞ Z ∞ −∞ rL(z)e icω 0zdz . Z ∞ −∞ u2(x, t0)eiωt 0 dt0 + Z ∞ −∞ u2(x, t0)e−iωt 0 dt0 e−iωtdω . (50)
Supondo que ´e posss´ıvel rearranjar a ordem de integra¸c˜ao, pois nem rL nem u2
depen-dem da vari´avel ω, obt´em-se
D(t) = 1 2π Z ∞ −∞ Z ∞ −∞ Z ∞ −∞ rL(z)u2(x, t0)e −iω(t−t0−z c0)dω dz dt0 + u2(x, −t). (51)
A execu¸c˜ao da integral em ω fornece uma fun¸c˜ao δ, de modo a resultar em
D(t) = Z ∞ −∞ Z ∞ −∞ rL(z)u2(x, t0)δ(t − t0− z c0 )dz dt0+ u2(x, −t) . (52)
Nessa express˜ao, podemos executar a integra¸c˜ao em z, obtendo
D(t) = c0
Z ∞
−∞
rL(c0(t − t0))u2(x, t0)dt0+ u2(x, −t) . (53)
Ao substituir a candidata para u2(x, t) (equa¸c˜ao (41)), chegamos a
D(t) = c0rL(c0t + x) + c20
Z ∞
−∞
H(c0t + x)rL(c0(t − t0))CL(x, −c0t0)dt0
+ c0δ(x − c0t) + c0H(x − c0t)CL(x, c0t) , (54)
onde usamos que
c0 Z ∞ −∞ c0rL(c0(t − t0))δ(x + c0t0)dt0 = c0 Z ∞ −∞ rL(c0t + x − η)δ(η)dη = c0rL(c0t + x) . (55)
Repetindo o processo acima descrito para o lado esquerdo bE, tem-se de forma an´aloga
E(t) = c0
Z ∞
−∞
Ψ(c0(t − t0))u2(x, t0)dt0+ u2(x, −t) , (56)
e, substituindo a equa¸c˜ao (40) na equa¸c˜ao (56), obtemos
E(t) = c0Ψ(c0t − x) + c20
Z ∞
−∞
H(c0t − x)Ψ(c0(t − t0))CR(x, c0t0)dt0
Igualando os lados D e E, temos uma equa¸c˜ao e quatro vari´aveis (Ψ, rL, CL, e CR).
Ao analisar as candidatas das solu¸c˜oes u1(x, t), u2(x, t) e u2(x, −t) (veja tamb´em os seus
diagramas (x, t) representados nas Figuras 4a a 4c), observamos que a solu¸c˜ao u1(x, t) ´e uma
fun¸c˜ao causal, i.e., u1(x, t) ´e igual a zero para c0t − x < 0 na Figura 4c. Al´em disso, as
solu¸c˜oes u2(x, t) e u2(x, −t) s˜ao diferentes de zero para c0t − x < 0 (diagramas das Figuras 4a
e 4b).
Avaliando os lados D(t) e E(t) calculados anteriormente para o caso c0t − x < 0, temos
que a solu¸c˜ao u1(t), neste caso, ser´a nula, i.e., E(t) = 0. Ou seja,
c0Ψ(c0t − x) + c20
Z ∞
−∞
H(c0t − x)Ψ(c0(t − t0))CR(x, c0t0)dt0
+ c0δ(x − c0t) + c0H(c0t − x)CR(x, c0t) = 0 , ∀ x > c0t . (58)
Como o lado direito D(t) ´e a combina¸c˜ao linear de u2(x, t) e u2(x, −t), combinadas as partes
das Figuras 4a e 4b para c0t < x, que s˜ao diferentes de 0 (Figura 4d), obt´em-se a seguinte
condi¸c˜ao sobre rL e CL: 0 = c0rL(x + c0t) + c0CL(x, c0t) + c20 Z ∞ x c0 rL(c0(t − t0))CL(x, −c0t0)dt0. (59)
Essa equa¸c˜ao ´e conhecida como a equa¸c˜ao integral de Marchenko.
Assim, ao considerar o intervalo acima discutido (Burridge, 1980), foi poss´ıvel chegar a uma equa¸c˜ao integral com apenas duas vari´aveis, CL e rL.
Tomando c0t = y e −c0t0 = x0, chegamos `a representa¸c˜ao mais usual da equa¸c˜ao integral
0 = rL(x + y) + CL(x, y) +
Z x
−∞
rL(y + x0)CL(x, x0)dx0. (60)
Essa equa¸c˜ao integral permite calcular o coeficiente de reflex˜ao, desde que conhecida
a fun¸c˜ao da amplitude de espalhamento, ou ent˜ao permite tamb´em modelar a amplitude de espalhamento, caso os coeficientes de reflex˜ao sejam conhecidos.
x t
t = −cx
0
(a) Dom´ınio da solu¸c˜ao u2(x, t). A ´area
sombreada vermelha representa o suporte de CL(x, −c0t), a seta preta representa o suporte
da fun¸c˜ao δ(x + c0t).
x
t t = cx0
(b) Dom´ınio da solu¸c˜ao u2(x, −t). A ´area
som-breada verde representa o suporte de CL(x, c0t),
a seta preta representa o suporte da fun¸c˜ao δ(x − c0t).
x
t t = cx0
(c) Dom´ınio da solu¸c˜ao u1(x, t). A ´area
som-breada azul representa o suporte de CR(x, c0t),
a seta preta representa o suporte da fun¸c˜ao δ(x − c0t).
x
t t = cx0
(d) u2(x, t)+u2(x, −t), considerando o caso c0t−
x < 0 .
Figura 4: Diagramas esquem´aticos ilustrando o suporte das candidatas das equa¸c˜oes (40) e (41), a vers˜ao reversa no tempo da equa¸c˜ao (41) e o caso particular da solu¸c˜ao u1.
2.5 Equa¸c˜ao da onda 1D n˜ao-homogˆenea
At´e este ponto, tratamos da equa¸c˜ao da onda homogˆenea, que descreve a propaga¸c˜ao de um campo de onda pr´e-existente (introduzido por condi¸c˜oes iniciais ou de contorno).
Entretanto, os problemas utilizados para representar o experimento s´ısmico s˜ao problemas da equa¸c˜ao da onda com uma fonte pontual e instantˆanea localizada em xs, i.e.,
d2 dx2G (x, t; xs) − 1 c(x)2 d2 dt2G (x, t; xs) = −δ(x − xs)δ(t) . (61)
Transformando a vari´avel temporal do problema para o dom´ınio da frequˆencia (ω),
obtemos a equa¸c˜ao de Helmholtz n˜ao-homogˆenea
d2
dx2G (x, ω; xb s) +
ω2
c(x)2G (x, ω; xb s) = −δ(x − xs). (62)
A fun¸c˜ao G (x, t; xs) chamada de fun¸c˜ao de Green, representa a solu¸c˜ao desse problema de
propaga¸c˜ao.
2.5.1 Representa¸c˜ao em campos unidirecionais
Em certas ocasi˜oes, ´e conveniente representar o campo de onda G (x, t; xs) em suas
componentes de propaga¸c˜ao nas dire¸c˜oes positivasG+(x, t; x
s) e negativas G−(x, t; xs) de x.
Nos problemas 2D e 3D, ´e comum utilizar a decomposi¸c˜ao na dire¸c˜ao de z.
O campo de onda completo pode ser representado como a soma destes dois campos
G (x, t; xs) = G+(x, t; xs) +G−(x, t; xs) . (63)
onde o superscrito ± na fun¸c˜ao bG refere-se `a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao — a fun¸c˜ao progressiva, que tem sentido de propaga¸c˜ao para a direita (sentido positivo do eixo x), tem sinal positivo como superscrito; a fun¸c˜ao regressiva, cuja dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao ´e para a esquerda, tem
2.6 Teoremas da reciprocidade
Frequentemente, os dados s´ısmicos adquiridos em campo cont´em informa¸c˜ao da fun¸c˜ao de Green limitada a uma pequena regi˜ao, decorrente de limita¸c˜oes f´ısicas na realiza¸c˜ao do
experimento. Para experimentos em duas dimens˜oes, o acesso aos dados ´e limitado aos dados adquiridos em algumas linhas de levantamento discretizadas em espa¸cos regulares de
receptores. Para o caso em discuss˜ao (1D), seguimos as dedu¸c˜oes contidas em Bleistein et al. (2001).
Idealmente, temos acesso `a fun¸c˜ao de Green em um ponto xg de aquisi¸c˜ao, i.e.,
conhe-cemos bG (xg, ω; xs). No entanto, por conveniˆencia, usamos uma ferramenta que permita
relacionar a fun¸c˜ao de Green, i.e., um campo te´orico proveniente de uma fonte pontual conhe-cida e de solu¸c˜ao controlada (modelado), a um campo pouco conhecido, que denominaremos
b
U (x, ω), gerado por fontes Q(x, t). Os dois campos de onda s˜ao solu¸c˜oes das equa¸c˜oes
d2 dx2G (x, ω; xb s) + ω2 c(x)2G (x, ω; xb s) = −δ(x − xs) (64) e d2 dx2U (x, ω) +b ω2 c(x)2U (x, ω) = − bb Q(x, ω) , (65)
onde bQ(x, ω) ´e uma fun¸c˜ao que descreve a fonte no espa¸co e na frequˆencia. Multiplicando (64) por bU e (65) por bG e subtraindo os resultados, temos
b U (x, ω) d 2 dx2G (x, ω; xb s) − bG (x, ω; xs) d2 dx2U (x, ω) =b b G (x, ω; xs) bQ(x, ω) − δ(x − xs) bU (x, ω) . (66)
Podemos escrever o lado esquerdo de uma outra forma (Bleistein et al., 2001), a saber,
d dx b U (x, ω) d dxG (x, ω; xb s) − bG (x, ω; xs) d dxU (x, ω)b = b G (x, ω; xs) bQ(x, ω) − δ(x − xs) bU (x, ω) . (67)
Integrando essa equa¸c˜ao em um intervalo (a, −a) em torno do suporte das fun¸c˜oes
δ(x − xs) e bQ(x, ω), e utilizando a vers˜ao 1D do Teorema de Green, i.e.,
Z a −a d dx b U (x, ω) d dxG (x, ω; xb s) − bG (x, ω; xs) d dxU (x, ω)b dx = b G (x, ω; xs) d dxU (x, ω) − bb U (x, ω) d dxG (x, ω; xb s) a −a , (68) chegamos `a rela¸c˜ao b U (xs, ω) = Z a −a b G (x, ω; xs) bQ(x, ω)dx + b G (x, ω; xs) d dxU (x, ω) − bb U (x, ω) d dxG (x, ω; xb s) a −a . (69)
Essa equa¸c˜ao ´e conhecida como Teorema da Reciprocidade do tipo convolu¸c˜ao.
Para entender essa nomenclatura, analisemos o caso em que a fun¸c˜ao bQ(x, ω) ´e uma
fonte pontual e instantˆanea localizada em xg, i.e., δ(x − xg). Neste caso, a solu¸c˜ao da
equa¸c˜ao (65) ´e a fun¸c˜ao de Green bG(xs, ω; xg). Tomando o limite quando a → ∞ e aplicando
a condi¸c˜ao de radia¸c˜ao de Sommerfeld (Bleistein et al., 2001), i.e., os campos de onda decaem para zero no infinito, obtemos
b
G (xs, ω; xg) = bG (xg, ω; xs) . (70)
Essa propriedade ´e conhecida como reciprocidade — afirma que, em um meio sem bordas, a
fun¸c˜ao de Green registrada em xs para uma fonte pontual em xg ´e igual `a fun¸c˜ao de Green
registrada em xg para uma fonte pontual em xs.
Avan¸cando em complexidade, ´e poss´ıvel calcular, de maneira semelhante, o campo quando bQ ´e uma fonte pontual e vari´avel no tempo, i.e., δ(x − xg) bF (ω). Nesse caso, tem-se
b
Utilizando a equa¸c˜ao (70), pode-se trocar a posi¸c˜ao da fonte pelo receptor em bU
b
U (xg, ω; xs) = bG (xg, ω; xs) bF (ω) , (72)
ou no tempo,
U (xg, t; xs) =G (xg, t; xs) ∗tF (t) , (73)
onde ∗t representa o operador de convolu¸c˜ao temporal.
A equa¸c˜ao (73) ´e um importante resultado, pois permite conhecer o campo de onda de qualquer fonte pontual que seja vari´avel no tempo, desde que a fun¸c˜ao de Green do meio
seja conhecida. Ainda mais, ao multiplicar a equa¸c˜ao (70) por bF (ω), reconhecemos que a propriedade da reciprocidade se estende a qualquer campo de onda de uma fonte pontual.
2.6.1 Teorema da reciprocidade do tipo correla¸c˜ao
Repetindo o processo acima descrito para um campo te´orico bU∗(x, ω), i.e., utilizando
a vers˜ao complexo conjugado da equa¸c˜ao (65), ´e poss´ıvel obter o Teorema da Reciprocidade do tipo correla¸c˜ao, a saber
b U∗(xs, ω) = Z a −a b G (x, ω; xs) bQ∗(x, ω)dx + b G (x, ω; xs) d dxUb ∗ (x, ω) − bU∗(x, ω) d dxG (x, ω; xb s) a −a . (74)
2.7 As equa¸c˜oes acopladas de Marchenko
As equa¸c˜oes acopladas de Marchenko constituem uma forma diferente, mas relacionada,
de representar a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (4).
Wapenaar et al. (2013) deduziram as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko por meio do
Teorema de Green, combinando a ideia de separa¸c˜ao de campos da Se¸c˜ao 2.5.1 e os Teore-mas da Reciprocidade descritos na Se¸c˜ao 2.6. Em seus trabalhos, a dedu¸c˜ao ´e mais geral,
u1 G x c (x ) xa xi xs xb xe xf
Figura 5: Modelo de velocidade para as duas fun¸c˜oes sob considera¸c˜ao, com destaque para o trecho em que a velocidade da fun¸c˜ao de Green (verde) ´e igual `a da solu¸c˜ao fundamental (vermelho).
voltada para campos tridimensionais e, para isso, os autores fazem uso de operadores
pseudo-diferenciais. Nesta se¸c˜ao, ser´a apresentada uma dedu¸c˜ao para 1D que n˜ao necessita do uso de operadores pseudo-diferenciais.
Come¸camos a dedu¸c˜ao escolhendo um ponto arbitr´ario xs, `a esquerda do potencial
es-palhador, para a fonte da fun¸c˜ao de Green, e um ponto localizado `a direita do potencial
espalhador, que ser´a chamado de ponto de foco, com xf > xs. Consideramos ainda um
meio fict´ıcio com distribui¸c˜ao de velocidade arbitr´aria fora do intervalo [xs, xf], mas
impo-mos a restri¸c˜ao de que as propriedades f´ısicas do meio fict´ıcio s˜ao idˆenticas `as do meio da fun¸c˜ao da equa¸c˜ao (4) no intervalo [xs, xf], para um meio ac´ustico, i.e., ω
2
c(x)2 =
ω2
c02 (1 + α(x))
(veja a Figura 5). Consideramos a fun¸c˜ao de Green bG (x, ω; xs) satisfazendo a equa¸c˜ao (62)
no meio fict´ıcio, para fins de relacion´a-la com a solu¸c˜ao procuradaub1 da equa¸c˜ao (4)
Podemos relacionar as duas equa¸c˜oes pelo Teorema de Green — com a ressalva de impor restri¸c˜ao conveniente para a solu¸c˜ao fundamental do campo de onda, qual seja: o campo de
onda deve chegar ao ponto de foco xf em t = 0 (o que implica que deve passar em xs quando
t = −tf, onde tf ´e o tempo de trˆansito da onda direta entre xs e xf) e propagar dali adiante
como um ´unico pulso. Assim, a equa¸c˜ao (66) se apresenta
b u1 d2 dx2G − bb G d2 dx2ub1 = −δ(x − xs)bu1, (75)
b
u1 foram suprimidos.
Reescrevendo a parte esquerda da equa¸c˜ao e integrando em um intervalo [xi, xe]
ar-bitr´ario, temos
b u1 d dxG − bb G d dxub1 xe xi dx = − Z xe xi δ(x − xs)bu1dx . (76)
A integral do lado direito ´e nula se xs ∈ [x/ i, xe]. Portanto, se tomarmos os pontos xi
e xe imediatamente `a direita de xs e xf, respectivamente, i.e., xi = xs+ e xe = xf + , e
considerarmos cada vez menor, a equa¸c˜ao (76) se reduz a
lim →0+ b u1 d dxG − bb G d dxbu1 xf+ xs+ = 0 , (77) i.e., b u1 d dxG − bb G d dxub1 x+f x+s = 0 , (78)
onde x+f e x+s indica que esses pontos foram aproximados pela direita.
Na express˜ao (78), podemos separar a fun¸c˜ao de Green e a solu¸c˜ao fundamental em
suas componentes propagando para a direita, bG+ e bu+1, e para esquerda, bG− eub−1, de acordo com b G = bG+ + bG−, (79) b u1 =ub1 + +ub1−. (80)
Substituindo essa decomposi¸c˜ao em componentes unidirecionais na equa¸c˜ao (78), obte-mos (bu+1 +bu−1) d dx( bG ++ bG− ) − ( bG++ bG−) d dx(bu + 1 +bu − 1) x+f x+s = 0 . (81)
2.7.1 Aproxima¸c˜ao por teoria dos raios
Localmente, podemos usar uma candidata de aproxima¸c˜ao de alta frequˆencia (WKBJ)
para descrever os campos bG e ub1, e suas componentes direcionais, escrevendo todos esses
campos de onda na forma
b
p(x, ω) = A(x)eiωτ (x), (82)
ondep(x, ω), A(x) e τ (x) s˜b ao um campo de onda, e as suas associadas fun¸c˜oes de amplitude
e de tempo de trˆansito, respectivamente.
Substituindo essa candidata na equa¸c˜ao da onda e separando os termos adequadamente,
chegamos `a equa¸c˜ao iconal
d
dxτ (x) = ± 1
c(x), (83)
onde o sinal define a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao (tempo de trˆansito crescendo para a direita ou
para a esquerda), e `a equa¸c˜ao do transporte
d2 dx2τ (x)A(x) + 2 d dxτ (x) d dxA(x) = 0 . (84)
A derivada espacial da equa¸c˜ao (82) ´e
d
dxbp(x, ω) = A
0
(x)eiωτ (x)+ iωτ0(x)A(x)eiωτ (x). (85)
Se a frequˆencia ω for alta, podemos supor que o termo que cont´em a primeira derivada
da amplitude possui pouca varia¸c˜ao em rela¸c˜ao a ω, i.e., |A0/A| |ωτ0|. Logo, podemos desconsiderar o primeiro termo do lado direito na equa¸c˜ao acima, obtendo
d
dxp(x, ω) ≈ iωτb
0
(x)A(x)eiωτ (x)= ±i ω
c(x)p(x, ω) ,b (86)
onde foi usada a equa¸c˜ao (83).
A partir dessas aproxima¸c˜oes para as componentes direcionais de ub1 e bG , observamos
propaga¸c˜ao. Portanto, conclui-se que b G− d dxub − ≈ b u− d dxGb − e b G+ d dxub + ≈ b u+ d dxGb +, (87) b G− d dxub + ≈ − b u+ d dxGb − e Gb+ d dxub − ≈ − b u− d dxGb +. (88)
Substituindo essas identidades na equa¸c˜ao (81), podemos reescrevˆe-la na forma
b G+ d dxub − 1 + bG − d dxbu + 1 x=x+f = b G+ d dxub − 1 + bG − d dxub + 1 x=x+s , (89)
onde a quantidade em colchetes ´e preservada sob propaga¸c˜ao de xs a xf, ou ainda
b G+ d dxbu − 1 + bG − d dxub + 1 x=x+f = − b u−1 d dxGb ++ b u+1 d dxGb − x=x+s . (90)
Essa ´ultima forma ´e mais ´util na dedu¸c˜ao das equa¸c˜oes acopladas de Marchenko.
2.7.2 Condi¸c˜oes de contorno para as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko
Se a velocidade for constante na vizinhan¸ca de xs, a fun¸c˜ao de Green deve se parecer
com a sua solu¸c˜ao em um meio ilimitado de velocidade constante (Bleistein et al., 2001), i.e.,
G (x, t; xs) =
c0
2H(c0t − |x − xs|) . (91)
Como queremos que a solu¸c˜ao fundamental u1 se reduza, por constru¸c˜ao, a um pulso
tipo δ em xf, ´e mais conveniente trabalharmos com uma vers˜ao da fun¸c˜ao de Green que
possua a mesma forma de pulso. Portanto, definimos a fun¸c˜ao G como a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao
de Helmholtz n˜ao homogˆenea com a seguinte normaliza¸c˜ao para o termo fonte
d2 dx2G(x, ω; xb s) + ω2 c2 0 b G(x, ω; xs) = −2icω0δ(x − xs) , (92)
ou no tempo ∂2 ∂x2G(x, t; xb s) + 1 c0 ∂2 ∂t2G(x, t; xb s) = 2 c0 ∂ ∂tδ(t) δ(x − xs) . (93)
Com essa normaliza¸c˜ao, a solu¸c˜ao da nova fun¸c˜ao de Green normalizada (G) adquire a forma
G(x, t; xs) = c0δ(c0t − |x − xs|) = δ(t − |x−xs|
c0 ). (94)
Aplicando essa solu¸c˜ao `as condi¸c˜oes de contorno para a fun¸c˜ao de Green progressiva medida no ponto xs, temos
b
G+(x, ω; xs) = e icω
0(x−xs), (95)
e sua derivada espacial
d dxGb + (x, ω; xs) = i ω c0 ei ω c0(x−xs). (96)
O tra¸co s´ısmico gravado em xs ´e a parte da fun¸c˜ao de Green bG−(x, ω; xs) que propaga
para a esquerda (regressiva). Aproximamos a resposta de reflex˜ao do meio por uma s´erie de
termos na forma da equa¸c˜ao (82), atrasados em tempo por tempos τk, i.e.,
b G−(x, ω; xs) ≈ ∞ X k=0 Ak(x)e−iωτk(x) ≡ bR(x, ω; xs) . (97)
Dessa forma, ´e poss´ıvel aproximar a derivada espacial com a mesma argumenta¸c˜ao usada para a aproxima¸c˜ao (86), i.e.,
d dxGb − (x, ω; xs) ≈ −i ω c(x) ∞ X k=0
Ak(x)e−iωτk(x) ≡ −i
ω
c(x)R(x, ω; xb s) . (98)
Estas condi¸c˜oes de contorno podem ser utilizadas de maneira semelhante para a
com-ponente regressiva da solu¸c˜ao fundamental em xf. A componente regressiva da solu¸c˜ao
fundamental em xf ´e igual a zero, por constru¸c˜ao
b u+1(x, ω) = ei ω c0(x−xf), (99) b u−1(xf, ω) = 0 , (100)
j´a que foi imposto a bu1 representar somente um impulso que propaga para a direita, para
x > xf.
Substituindo essas condi¸c˜oes de contorno em (90), lembrando o limite, obtemos
iω c0b u−1(xs; ω) − i ω c0 b R(xs, ω; xs)ub + 1(xs; ω) = −i ω c0 b G−(xf, ω; xs) , (101) ou ent˜ao b G−(xf, ω; xs) = bR(xs, ω; xs)bu + 1(xs; ω) −ub − 1(xs, ω) . (102) ´
E poss´ıvel repetir esse processo para o complexo conjugado da solu¸c˜ao fundamental, de
maneira a obter b G+(xf, ω; xs) = − bR(xs, ω; xs)bu −∗ 1 (xs; ω) +bu +∗ 1 (xs, ω) . (103)
No dom´ınio do tempo, as equa¸c˜oes (102) e (103) s˜ao dadas por
G−(xf, t; xs) = R(xs, t; xs) ∗tu+1(xs; t) − u−1(xs, t) , (104)
G+(xf, t; xs) = −R(xs, t; xs) ∗tu−1(xs; −t) + u+1(xs, −t) . (105)
As equa¸c˜oes (102) a (105) s˜ao as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko 1D na frequˆencia e no tempo (van der Neut et al., 2015), respectivamente.
3 METODOLOGIA
A equa¸c˜ao de Marchenko e suas vers˜oes acopladas (60), (104) e (105) podem ser re-solvidas por esquemas iterativos.
Rose (2002) foi o primeiro a reconhecer esse potencial e desenvolveu um esquema ite-rativo com o intuito de construir um pulso cuja forma seja um ´unico pulso conhecido, no
tempo tf = 0, a partir de um tra¸co s´ısmico amostrado em configura¸c˜ao zero offset (ZO). A
partir desse esquema, demonstrou-se que o pulso produzido na ´ultima itera¸c˜ao (Qk(t)) ´e uma
solu¸c˜ao aproximada da equa¸c˜ao de Marchenko.
Baseado no trabalho de Rose, Broggini e Snieder (2012) demonstraram uma forma de
obter a fun¸c˜ao de Green redatumada em xf, i.e., G(xf, t; xs), a partir da soma do tra¸co u(t)
gerado pelo pulso Qk(t) com sua vers˜ao revertida no tempo u(−t).
Mais tarde, van der Neut et al. (2015) desenvolveram um esquema iterativo para re-solver as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko que guarda certa similaridade com o esquema
desenvolvido por Rose. A vantagem de se resolver as equa¸c˜oes acopladas ´e que, ao final do es-quema iterativo, ´e obtida informa¸c˜ao dos campos em componentes regressivas e progressivas,
separadamente.
Nesta disserta¸c˜ao, implementamos e comparamos os esquemas iterativos de Rose (2002)
e de van der Neut et al. (2015). A ideia de ambos os esquemas ´e adicionar a um impulso inicial uma coda, de tal forma que cancele todas as reflex˜oes geradas pela propaga¸c˜ao no
meio entre xs e xf.
3.1 O esquema iterativo de Rose
Para realizar o esquema iterativo de Rose, inicialmente propagamos o campo gerado por uma fonte Q0(t)δ(x − x
s), de modo que passe por xs em t = −tf, a fim de que o
pulso transmitido alcance xf em t = 0. Em seguida, gravamos sua resposta em xs, o tra¸co
s´ısmico, em uma configura¸c˜ao ZO, i.e., S0(x
s, t; xs). Respeitando as condi¸c˜oes da Se¸c˜ao 2.7.2,
injetamos uma fonte com a normaliza¸c˜ao Q0(t) = c2
0
d
dtQ(t), onde Q(t) ´e a forma de wavelet
A Figura 6 exibe o modelo de velocidade escolhido, que possui uma zona de maior
velocidade, de 2.5 km/s, na regi˜ao entre x = 0.75 km e x = 3.25 km. No restante, a velocidade ´e c0 = 1.5 km/s. O ponto de foco escolhido se encontra ap´os a zona de alta
velocidade em xf = 4 km. Desse modo, o tempo de focamento tf ´e 2 s e todas as reflex˜oes,
prim´arias e m´ultiplas, s˜ao observadas em tempos m´ultiplos de 1 s.
O tra¸co S0, exibido na Figura 7a, foi gerado por um esquema de diferen¸cas finitas centrado de 2aordem no tempo e 6aordem no espa¸co, usando uma wavelet do tipo Gaussiana.
Para iniciar o processo iterativo, primeiro precisamos obter a resposta de reflex˜ao. Uma vez que S0(x
s, t; xs) cont´em o campo gerado pela fonte, a resposta de reflex˜ao R0(xs, t; xs)
pode ser obtida por meio da opera¸c˜ao
R0(xs, t; xs) = S0(xs, t; xs) − Q(t) . (106)
Assim, com a resposta de reflex˜ao, podemos calcular a primeira coda (Figura 7b), i.e.,
a parte do campo de onda que segue o impulso transmitido. Para isso, define-se um operador Θt
Θt{u(x, t)} = H(tf − t)u(x, t) , (107)
que zera o campo para tempos maiores que tf.
Ent˜ao, aplicamos esse operador `a reposta de reflex˜ao
Θt{R} = R0(xs, t; xs)H(tf − t), (108)
e, revertendo o resultado no tempo, obt´em-se a coda
coda0(t) = Θ−t{R} = R0(xs, −t; xs)H(t + tf) . (109)
Note que na realiza¸c˜ao num´erica dessa opera¸c˜ao, ´e necess´ario zerar um pouco a mais
da resposta de reflex˜ao, pois a aproxima¸c˜ao num´erica de um impulso possui dura¸c˜ao finita. ´
E importante zerar o impulso transmitido por inteiro para se obter a coda pura.
Ao aplicar a janela de mascaramento ao tra¸co s´ısmico, percebemos que a coda0(t) cont´em todas as reflex˜oes prim´arias do meio entre xse xf, mas n˜ao cont´em nenhuma reflex˜ao
0 1 2 3 4 5 6 7
Distance (km)
-2 0 2 4 6 8Velocity (km/s)
Velocity ModelFigura 6: Modelo de velocidade com uma zona de alta velocidade (2.5 km/s). Os marcadores ×, asterisco, e triˆangulo representam, respectivamente, as posi¸c˜oes espaciais do ponto de foco escolhido, fonte e receptor.
em pontos al´em de xf.
O pr´oximo pulso a ser injetado, Q1(t) (Figura 7c), ´e a subtra¸c˜ao entre a wavelet inicial Q0(t) e a coda0(t)
Q1(t) = Q(t) − coda0(t) , (110)
de modo que a coda injetada cancele, completamente ou de maneira aproximada, a coda ge-rada pela transmiss˜ao do primeiro impulso na zona de perturba¸c˜ao de velocidade. Lembramos
que no algoritmo de diferen¸cas finitas injetamos de fato, como fonte, c2
0
d
dtQ 1(t).
R0(xs, t; xs) = S0(xs, t; xs) − Q(t) . (111)
Uma vez que a coda assim gerada tamb´em sofre de perdas de transmiss˜ao na zona de
perturba¸c˜ao da velocidade, o cancelamento na primeira itera¸c˜ao normalmente ´e incompleto. Por isso, repetimos esse processo k vezes, at´e que um crit´erio de convergˆencia seja atingido.
-2 0 2 4 6
Tempo (s)
-2 0 2 4 6 8Amplitude
Sismograma Deslocado Q(t)(a) Wavelet Gaussiana Q0(t) = Q(t) simulando um pulso tipo δ na primeira itera¸c˜ao (tracejado verde) e seu tra¸co s´ısmico correspondente S0(xs, t; xs) (preto). A barra vertical vermelha indica o tempo de foco
tf escolhido. -2 0 2 4 6 Tempo (s) -2 0 2 4 6 8 Amplitude -t{R} (b) coda0(t): equa¸c˜ao (109). -2 0 2 4 6 Tempo (s) -2 0 2 4 6 8 Amplitude Q1(t) (c) Q1(t): equa¸c˜ao (110).
Figura 7: Sum´ario do processo envolvido na primeira itera¸c˜ao e resultados do c´alculo da primeira coda e do pulso ap´os a primeira itera¸c˜ao.
Aqui, o crit´erio de convergˆencia utilizado foi a norma euclidiana da diferen¸ca entre a coda
atual e a coda da itera¸c˜ao anterior
k(codak− codak−1)k
kcodakk < β , (112)
onde β ´e um valor de tolerˆancia arbitr´ario. Em nossos experimentos usamos o valor de
β = 0.05.
Ap´os o crit´erio de convergˆencia ser atingido, injetamos o pulso resultante Qk com a
normaliza¸c˜ao da fonte definida na equa¸c˜ao (92) e gravamos o tra¸co s´ısmico. Neste exemplo, 3 itera¸c˜oes foram suficientes para garantir a convergˆencia. A Figura 8 exibe seis snapshots no
tempo da propaga¸c˜ao no meio, mostrando o efeito do pulso obtido pelo processo iterativo. ´E poss´ıvel notar, nas Figuras 8a e 8b, que o pulso ´e seguido de uma coda que entra em contato
com o meio e, apenas em t = 0 s (Figura 8c), a coda se cancela, restando apenas a wavelet Q(t), i.e., o pulso Gaussiano escolhido e um pequeno artefato do processo num´erico. Em
seguida, em t > 0, a coda reaparece e continua a se propagar pelo meio (Figuras 8d a 8f). Enfatizamos ent˜ao que no esquema de Rose, a gera¸c˜ao de um ´unico pulso se d´a somente no
tempo t = 0, quando as codas progressivas e regressivas se cancelam. Como em tempos t > 0 a coda progressiva continua existindo, o campo de onda gerado pelo esquema de Rose n˜ao
realiza a inje¸c˜ao de um ´unico impulso para o meio `a direita de xf. Em consequˆencia disso,
0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (a) Snapshot de Q3(t) em t = −0.4 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (b) Snapshot de Q3(t) em t = −0.2 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (c) Snapshot de Q3(t) em t = 0 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (d) Snapshot de Q3(t) em t = 0.2 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (e) Snapshot de Q3(t) em t = 0.4 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (f) Snapshot de Q3(t) em t = 0.6 s.
Figura 8: Seis snapshots da propaga¸c˜ao da solu¸c˜ao pelo m´eotodo iterativo de Rose.
-2 0 2 4 6
Tempo (s)
-2 0 2 4 6 8Amplitude
Figura 9: Sismograma gravado em xg = 0 km, devido `a inje¸c˜ao de c20
d
dtQ
3(t) em x
3.1.1 Fun¸c˜ao de Green redatumada pelo m´etodo de Broggini e Snieder
Como o sismograma de reflex˜ao registrado em xg = 0 ainda cont´em a intera¸c˜ao da coda
com as outras partes do modelos, n˜ao representa a fun¸c˜ao de Green do meio para uma fonte em x = xf. Broggini e Snieder (2012) mostraram em seu trabalho que ´e poss´ıvel obter essa
fun¸c˜ao de Green redatumada combinando o sismograma obtido pela propaga¸c˜ao da solu¸c˜ao de Rose u(t) e sua vers˜ao reversa no tempo u(−t), i.e.,
G(xf, t; xs) = u(t) + u(−t) . (113)
A Figura 10 exibe a compara¸c˜ao entre a combina¸c˜ao da solu¸c˜ao u(t) (Figura 9) e a
sua solu¸c˜ao reversa no tempo com a solu¸c˜ao de referˆencia da fun¸c˜ao de Green por diferen¸cas finitas. H´a, entretanto, uma discrepˆancia vis´ıvel entre as amplitudes da fun¸c˜ao de Green
redatumada e da solu¸c˜ao por diferen¸cas finitas. Essa discrepˆancia ´e mais percept´ıvel no pulso direto, indicado pela seta verde na Figura. O m´etodo produz uma fun¸c˜ao de Green
redatumada com amplitudes maiores que as da solu¸c˜ao por diferen¸cas finitas.
O m´etodo tamb´em produz eventos anticausais (seta azul). Contudo, como esses eventos
s˜ao uma vers˜ao reversa no tempo da fun¸c˜ao de Green redatumada, aplicando um filtro que zera o campo para t < tf, esses eventos s˜ao facilmente removidos, sem alterar o resultado
-2 0 2 4 6
Tempo (s)
-2 0 2 4 6 8Amplitude
u(xs,t)+u(x s,-t) FD GreenFigura 10: Fun¸c˜ao de Green redatumada pelo m´etodo de Broggini e Snieder (vermelho cont´ınuo) e solu¸c˜ao por diferen¸cas finitas (preto tracejado). A seta verde indica o pulso direto, a seta azul, os eventos anticausais intr´ınsecos do m´etodo.
3.2 O m´etodo de van der Neut
Para as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko, van der Neut et al. (2015) desenvolveram
um esquema iterativo semelhante ao esquema de Rose. Eles separaram u1 em suas partes
progressivas (u+1) e regressivas (u−1) e escreveram a solu¸c˜ao fundamental u+1(t) como
u+1(t) = u1d(t) + ucoda(t) , (114)
i.e., u+1(t) ´e composto por um pulso direto unit´ario inicial (u1d), seguido de uma coda (ucoda).
Essa separa¸c˜ao tem a mesma forma do ansatz utilizado para resolver a equa¸c˜ao integral de Marchenko (equa¸c˜ao (21)).
operador ˜Θ, definido por
˜
Θ{u(x, t)} = H(tf − |t|) u(x, t) , (115)
`
as equa¸c˜oes (104) e (105). Note que enquanto o filtro Θt de Rose s´o zera o campo de onda
para t > tf, esse novo filtro ˜Θ zera o campo para t > tf e t < −tf. A observa¸c˜ao de que a
realiza¸c˜ao num´erica do impulso precisa ser eliminada por completo, fazendo com que o filtro real seja um pouco maior do que o filtro te´orico, tamb´em se aplica neste caso.
´
E importante reconhecer que n˜ao h´a campo registrado antes de tf em xs, pois a fun¸c˜ao
de Green ´e causal. Logo, a fun¸c˜ao de Green quando multiplicada por ˜Θ ser´a igual a zero
(equa¸c˜ao (116)). Por outro lado, a solu¸c˜ao fundamental u−1 registrada em xg s´o existe no
intervalo [−tf, tf]. Assim, n˜ao ser´a afetada pelo mascaramento.
Para a u+1, ˜Θ remove a onda direta (u1d), registrada em xs em t = −tf, e preserva
todas as prim´arias e m´ultiplas que possam chegar no tempo de trˆansito duplo no intervalo
[−tf, tf] (ucoda). Essas prim´arias e m´ultiplas precisam ser canceladas no interior do potencial
espalhador at´e o ponto xf para t > tf, para que tenhamos de fato a solu¸c˜ao fundamental.
Consequentemente, ao aplicar a janela de mascaramento ˜Θ `as fun¸c˜oes G±e u±, obtemos as seguintes rela¸c˜oes
˜ Θ{G} = 0 , (116) ˜ Θ{u+1} = ucoda, (117) ˜ Θ{u−1} = u−1 . (118)
Assim, aplicando o operador `as equa¸c˜oes acopladas de Marchenko, obtemos
˜
Θ{R(xs, t; xs) ∗tu+1(xs, t)} = u−1(xs, t) , (119)
˜
Θ{R(xs, t; xs) ∗tu1−(xs, −t)} = ucoda(xs, −t) . (120)
O algoritmo ´e iniciado tomando-se u0coda= 0 e u01d= δ((t + tf) − |x−xs|
c0 ) na equa¸c˜ao (114)
para achar u+01 . A inje¸c˜ao no meio deste campo produz, de acordo com a equa¸c˜ao (119), o
campo u−01 . Este campo ent˜ao ´e revertido no tempo e injetado novamente no meio para, de acordo com a equa¸c˜ao (120), produzir a primeira aproxima¸c˜ao da coda, u1
0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (a) Snapshot de u−31 (−t) t = −0.4 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (b) Snapshot de u−31 (−t) t = −0.2 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (c) Snapshot de u−31 (−t) t = 0 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (d) Snapshot de u−31 (−t) t = 0.2 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (e) Snapshot de u−31 (−t) t = 0.4 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (f) Snapshot de u−31 (−t) t = 0.6 s. Figura 11: Seis snapshots da propaga¸c˜ao da solu¸c˜ao u−31 (−t).
-2 0 2 4 6
Tempo (s)
-2 0 2 4 6 8Amplitude
Figura 12: Sismograma de u−31 (−t).0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (a) Snapshot de u+31 (t) t = −0.4 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (b) Snapshot de u+31 (t) t = −0.2 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (c) Snapshot de u+31 (t) t = 0 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (d) Snapshot de u+31 (t) t = 0.2 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (e) Snapshot de u+31 (t) t = 0.4 s. 0 1 2 3 4 5 6 7 Distancia (km) -2 0 2 4 6 8 Amplitude (f) Snapshot de u+31 (t) t = 0.6 s. Figura 13: Seis snapshots da propaga¸c˜ao da solu¸c˜ao u+31 (t).
-2 0 2 4 6