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CÁTIA SOFIA DUARTE SOARES TRADUÇÃO DE FOLHETOS INFORMATIVOS: RELATÓRIO DE ESTÁGIO NA AP PORTUGAL

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Universidade de Aveiro 2018

Departamento de Línguas e Culturas

CÁTIA SOFIA

DUARTE SOARES

TRADUÇÃO DE FOLHETOS INFORMATIVOS:

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NA AP|PORTUGAL

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ii Universidade de Aveiro 2018

Departamento de Línguas e Culturas

CÁTIA SOFIA

DUARTE SOARES

TRADUÇÃO DE FOLHETOS INFORMATIVOS:

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NA AP|PORTUGAL

Relatório de Estágio apresentado à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Tradução Especializada, realizada sob a orientação científica da Doutora Maria Teresa Murcho Alegre, Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro

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o júri

presidente Professor Doutor Reinaldo Francisco da Silva Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Professora Doutora Anabela Valente Simões

Professora Adjunta da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda da Universidade de Aveiro (arguente)

Professora Doutora Maria Teresa Murcho Alegre Professora Auxiliar da Universidade de Aveiro (orientadora)

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agradecimentos Agradeço à minha família, em especial aos meus pais, pelo apoio que me deram ao longo do meu percurso académico.

Agradeço à empresa AP|PORTUGAL pela oportunidade da realização de um estágio curricular e pelo apoio dado ao longo do mesmo.

E, por fim, agradeço à minha orientadora Maria Teresa Murcho Alegre pela ajuda na realização deste relatório de estágio.

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palavras-chave Tradução Especializada, Saúde e Ciências da Vida, Inglês-Português, Tradução de Folhetos Informativos, Problemas de Tradução, Géneros Textuais

resumo O presente relatório expõe o trabalho realizado durante o estágio curricular na empresa de tradução AP|PORTUGAL, focando-se nos trabalhos de tradução feitos na área da saúde, que inclui maioritariamente a tradução de folhetos informativos. Deste modo, é apresentada uma análise teórica dos géneros e tipologias textuais, que depois é relacionada com os problemas de tradução que surgiram durante a tradução destes textos.

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keywords Specialised Translation, Health and Life Sciences, English-Portuguese, Translation of Patient Information Leaflets, Translation Problems, Textual Genres

abstract This report presents the work carried out during the internship at the translation company AP|PORTUGAL. It focuses on the translation work done in the health area, which mainly includes the translation of information leaflets. Therefore, a theoretical analysis of genres and text typologies will be presented, which is then connected to the translation problems that emerged during the translation of these texts.

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Índice

1. Introdução ... 5 2. O estágio... 6 2.1. Apresentação da empresa ... 7 2.2. Fluxo de trabalho ... 9 2.3. Tarefas realizadas ... 11

2.3.1. Tarefa de Desktop Publishing ... 11

2.3.2. Tarefas de tradução, revisão e releitura ... 13

2.4. Ferramentas de apoio à tradução utilizadas ... 16

2.4.1. Wordbee Translator ... 17

2.4.1. Memsource Cloud ... 22

3. Tradução na área da saúde ... 25

3.1. Processo de tradução na área da saúde ... 26

3.2. Tradução documental e tradução instrumental ... 29

3.3. Classificações textuais ... 30

3.3.1. Folhetos informativos ... 35

3.3.2. Consentimento informado ... 37

3.3.3. Website e descrição de produto ... 39

4. Problemas e dificuldades de tradução ... 40

4.1. Folhetos informativos ... 41

4.1.1. Diferenças entre o género textual da cultura de partida e da cultura de chegada ... 41

4.1.2. Falta de informação sobre o público-alvo e finalidade do texto ... 44

4.1.3. Terminologia ... 45

4.1.4. Inconsistências ... 50

4.1.5. Erros ... 50

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2

4.3. Website e descrição de produto ... 56

4.3.1. Falta de informação sobre a finalidade do texto ... 56

4.3.2. Tradução do nome dos produtos ... 56

4.3.3. Palavras e expressões sem equivalente na língua de chegada ... 57

4.3.4. Trocadilhos ... 57 5. Conclusão ... 58 Referências Bibliográficas ... 60 ANEXOS ... 62 ANEXO I ... 63 ANEXO II ... 69 ANEXO III ... 75 ANEXO IV ... 79 ANEXO V ... 85 ANEXO VI ... 97 ANEXO VII ... 101 Anexo VIII ... 107 ANEXO IX ... 111 ANEXO X ... 117 ANEXO XI ... 125 ANEXO XII ... 129

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3

Índice de Figuras

Figura 1 - Reconhecimento ótico de caracteres através do ABBYY FineReader 11 ... 12

Figura 2 - Página inicial do Wordbee Translator ... 17

Figura 3 - Secção «Status and Organisation» ... 18

Figura 4 - Secções «Details» e «Documents»... 19

Figura 5 - Editor do Wordbee ... 20

Figura 6 - Página de um projeto de tradução no Memsource Cloud ... 22

Figura 7 - Status do Memsource ... 22

Figura 8 - Memsource Web Editor ... 23

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Número de ficheiros submetidos a DTP ... 11

Tabela 2 - Número de projetos realizados e palavras trabalhadas por mês ... 14

Tabela 3 - Número de palavras traduzidas por área ... 14

Tabela 4 - Pares de línguas ... 15

Tabela 5 - Ferramentas de apoio à tradução utilizadas ... 16

Tabela 6 - Nível de codificação de cada função comunicativa ... 30

Tabela 7 - Examples of genres according to the main rhetorical purpose of the writer ... 32

Tabela 8 - Genres according to overall social function ... 33

Tabela 9 - Textos da área da saúde a serem analisados ... 40

Tabela 10 - Títulos das secções de alguns folhetos informativos ... 43

Lista de Siglas

CC: Cultura de Chegada DTP: Desktop Publishing FI: Folheto Informativo LC: Língua de Chegada LP: Língua de Partida

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TC: Texto de Chegada TP: Texto de Partida

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1. Introdução

O presente relatório de estágio apresenta uma descrição do estágio curricular realizado na empresa AP|PORTUGAL para conclusão do mestrado em Tradução Especializada na área da Saúde e Ciências da Vida. Para tal é, em primeiro lugar, apresentada uma descrição da empresa e do fluxo de trabalho utilizado na empresa. Posteriormente é feita uma descrição das tarefas por mim realizadas durante o estágio. Essas tarefas incluem a tradução, revisão, releitura, pós-edição e

Desktop Publishing (DTP).

Após a conclusão da descrição do estágio, será feito um enquadramento teórico, onde serão estabelecidas algumas bases para a análise dos géneros textuais e dos problemas de tradução dos textos traduzidos durante o estágio. Assim, em primeiro lugar, é exposta uma definição de tradução como um processo comunicativo. Seguidamente, essa definição é inserida dentro da comunicação na área da saúde, de modo a obter-se uma definição da tradução na área da saúde e ciências da vida. Posteriormente, são apresentadas as classificações de tipologias textuais e a sua importância para a tradução e será feita uma análise dos géneros textuais traduzidos durante o estágio. Os géneros textuais analisados no presente relatório são o folheto informativo (FI), o consentimento informado (CI) e o website/descrição de produto.

Por fim, como já referido, será feita uma descrição dos problemas e dificuldades que foram surgindo durante a tradução dos textos traduzidos durante o estágio. A análise foca-se essencialmente nas dificuldades levantadas pelas diferenças de género textual existentes entre o texto de partida (TP) e o texto de chegada (TC) pela utilização de terminologia da área farmacêutica e médica e nos erros e inconsistências existentes no TP.

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2. O estágio

A principal razão pela qual decidi escolher um estágio curricular para finalizar o meu mestrado em Tradução Especializada foi o facto de poder ganhar alguma experiência na área da tradução. Desta maneira, teria a oportunidade de conhecer o método de trabalho necessário para a realização de um projeto de tradução, desde a sua solicitação por parte do cliente, até à sua entrega, bem como ter uma melhor perceção do trabalho feito numa empresa.

O estágio na AP|PORTUGAL teve a duração de 6 meses, tendo começado no dia 2 de janeiro e terminado no dia 2 de julho.

O meu orientador na empresa foi o CEO da mesma, Mário Júnior, pelo qual fui acompanhada. Também fui acompanhada por outros colaboradores da empresa, em questões relacionadas com a realização de tarefas. Ademais, fui inserida no programa de estágios curriculares da AP|PORTUGAL, o APP Academy, que visa apoiar os estagiários, através do fornecimento de ferramentas para a realização do estágio e de formação.

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2.1.

Apresentação da empresa

A empresa AP|PORTUGAL1 pertence ao grupo AP|LANGUAGE SERVICES, especializada em

serviços linguísticos, mais especificamente, tradução, transcrição e interpretação. Foi fundada em 1998, juntamente com ApoioXXI, que é um centro especializado no apoio psicológico e educacional a crianças. Quer a AP|PORTUGAL, quer o ApoioXXI, estão localizadas em Vila Nova de Gaia. A AP|PORTUGAL tem igualmente um escritório em Lisboa, mas este serve apenas para a receção de documentos para tradução e entrega dos mesmos aos clientes.

O grupo AP|LANGUAGE SERVICES divide-se em três ramos: a AP|PORTUGAL - Language Services, que é a vertente principal do grupo, a AP|ANGOLA - Language Services e a AP|BRAZIL - Language Services, que fazem traduções para o português de Angola e o português do Brasil, respetivamente. Dentro do ramo da AP|PORTUGAL existem ainda as divisões CONFERENCE SERVICES, referente aos serviços de interpretação, e TECH LANGUAGE SOLUTIONS, referente aos serviços de tradução e serviços adjacentes.

Na divisão TECH LANGUAGE SOLUTIONS, a AP|PORTUGAL fornece os serviços de tradução técnica como, por exemplo, tradução jurídica, política, económica, empresarial e científica, e localizações de sites e software. Como regra geral, todas as traduções são sujeitas a uma revisão por parte de um tradutor/revisor que não realizou a tradução. A AP|PORTUGAL também oferece o serviço de certificação de traduções, sendo estas certificadas por colaboradores da empresa com formação jurídica. Estas certificações podem incluir uma Apostila da Convenção de Haia de 1961, que certifica os documentos e faz com que estes sejam reconhecidos noutro país que faça parte da Convenção de Haia de 1961.

Para além disso, a AP|PORTUGAL faz transcrições. Estas podem ser presenciais ou transcrições de áudio, que são as mais solicitadas. As transcrições também podem ser ou não objeto de tradução.

A empresa presta também serviços de legendagem em parceria com estúdios de legendagem, nos quais se incluem também a legendagem para surdos.

Por fim e tal como referido, a AP|PORTUGAL também fornece o serviço de interpretação. Os serviços de interpretação fornecidos são a interpretação simultânea, normalmente utilizada em conferências ou congressos, a interpretação consecutiva, preferida em certos tipos de reuniões, a interpretação sussurrada, a interpretação de liaison, ou community interpreting, geralmente

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utilizada em serviços públicos e, por fim, a interpretação jurídica, que pode ser consecutiva no caso de interrogatórios e simultânea no caso de julgamentos.

Tendo em conta que a AP|PORTUGAL fornece todos estes serviços, a empresa está dividida em vários departamentos, com a finalidade de apoiar estes serviços e os seus colaboradores. Os departamentos da AP|PORTUGAL incluem: o CATTI - Centro de Apoio ao Traduções, Transcritores e Intérpretes; o DIRI - Departamento Informativo e de Relações Internacionais; o PACQ - Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade e o Departamento Jurídico.

O CATTI - Centro de Apoio aos Tradutores, Transcritores e Intérpretes, tal como o nome indica, é especializado no apoio aos tradutores, transcritores e intérpretes, através da gestão de projetos e dos recursos humanos.

O DIRI - Departamento Informativo e de Relações Internacionais é responsável pela criação de parcerias com empresas de tradução noutros países, a nível mundial. Para além disso, o DIRI trabalha em parceria com o Departamento Jurídico, nos serviços de emissão de certificações e apostilas reconhecidas internacionalmente, mas também no acompanhamento de interpretações que necessitem de um acompanhamento legal e jurídico.

O PACQ - Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade trata de tarefas adjacentes aos projetos de tradução, como o DTP e o controlo de qualidade. Este departamento tem como responsabilidade garantir que os documentos traduzidos fiquem fiéis aos documentos originais, em termos de formatação e paginação e, também, garante que as falhas não corrigidas pelos tradutores e revisores não prejudiquem a qualidade do TC.

Todos estes departamentos ajudam a garantir a melhor qualidade dos serviços prestados pela AP|PORTUGAL, visto que a AP|PORTUGAL está certificada pela Norma de Qualidade Internacional ISO 17100:2015, uma norma que estabelece os processos e atividades, os recursos e os meios pelos quais os prestadores de serviços de tradução devem fornecer as suas traduções.

Por fim, a AP|PORTUGAL pertence a várias associações de empresas de tradução e serviços linguísticos nacionais e internacionais, tais como a GALA - Globalization and Localization Association, ELIA - European Language Industry Association, ALC - Association of Language Companies, ATC - Association of Translation Companies, ATA - American Translators Association, LEXIS - Comunidade Internacional de Profissionais em Serviços Linguísticos, APET - Associação Portuguesa de Empresas de Tradução, EUATC - Associação Europeia de Associações de Empresas de Tradução e a APTRAD - Associação Portuguesa de Tradutores e Intérpretes.

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2.2.

Fluxo de trabalho

Relativamente à tradução e serviços adjacentes, a AP|PORTUGAL tem um fluxo de trabalho semelhante para a maioria dos projetos de tradução. Este fluxo de trabalho encontra-se em conformidade com a Norma 17100:2015 e com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, seguidos pela empresa.

Geralmente, o cliente faz um pedido de orçamento que é da responsabilidade dos gestores de projeto, apresentando os documentos físicos ou ficheiros para o cálculo do orçamento. Para tal, e dependendo do tipo de documento ou ficheiro, os ficheiros passam pelo processo de DTP. O DTP pode ser feito apenas para o cálculo do orçamento ou também para a preparação do ficheiro para tradução.

Após o DTP, é criado um projeto no sistema de gestão de tradução escolhido pela AP|PORTUGAL, o Wordbee Translator (Figura 2), com os documentos a traduzir. O projeto é dividido em tarefas: tradução, revisão e controlo de qualidade e, se requerido pelo cliente, releitura. De seguida, os documentos são submetidos para tradução, podendo ser traduzidos por tradutores internos ou externos. No caso de grandes projetos com um prazo reduzido, o projeto pode ser dividido em várias partes e atribuído a vários tradutores.

Após a realização da tradução, é feita a revisão, que, segundo a Norma 17100:2015, consiste numa verificação bilingue do conteúdo traduzido em comparação ao conteúdo da língua de partida (LP), de modo a corrigir os erros que possam ter surgido durante a tradução (Internal Standard of Organization, 2015). E, caso seja requerido pelo cliente, pode ser feita uma releitura, por outro tradutor ou revisor que não tenha feito a tradução e revisão, de maneira a verificar o conteúdo revisto e aplicar as correções necessárias, antes da entrega final (Internal Standard of Organization, 2015).

Para a tarefa de controlo de qualidade é também criada uma tarefa no Wordbee Translator e o responsável pelo controlo de qualidade deve aceitá-la, transferir os documentos traduzidos e revistos e realizar um controlo de qualidade na ferramenta Verifica QA, ou noutra ferramenta solicitada pelo cliente. O Verifika QA é uma ferramenta de controlo de qualidade que verifica as inconsistências, os erros ortográficos, o uso de maiúsculas e minúsculas, os números, espaços mal colocados, repetição de palavras, entre muitos outros erros. A ferramenta cria um relatório em formato de folha de cálculo, e, com base nesse relatório, o responsável deve fazer as correções necessárias no Wordbee Editor ou na ferramenta de apoio à tradução utilizada. Só depois do controlo de qualidade realizado é que o projeto pode ser entregue ao cliente. Caso o cliente tenha

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solicitado uma releitura, então a mesma deve ser efetuada após a realização do controlo de qualidade.

O Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade também trata das não conformidades dos projetos realizados no Wordbee Translator, pois a ferramenta atribui uma pontuação ao tradutor e ao revisor, conforme o número de segmentos alterados durante a revisão ou durante o controlo de qualidade. As traduções com uma pontuação maior que 7,5 pontos em 10 pontos, são traduções em conformidade. Às traduções com menos de 7,5 pontos, são acrescentados mais 2 pontos, para compensar a margem de erro do Wordbee. Mas se, mesmo assim, as traduções obtiverem menos de 7,5 pontos, as mesmas são consideradas traduções que não estão em conformidade e, como tal, devem ser registadas num relatório de não conformidades elaborado pelo Departamento de Paginação e Controlo de Qualidade.

Finalmente, é necessária, por vezes, uma certificação da tradução, que é da responsabilidade do Departamento Jurídico, e este processo normalmente acresce em custo e em dias necessários para a conclusão do projeto.

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2.3.

Tarefas realizadas

As principais tarefas que realizei foram traduções, revisões, releituras e DTP. Também realizei, mais esporadicamente, pós-edições e transcrições áudio. O primeiro mês serviu para conhecer a empresa e para fazer traduções e revisões internas e tarefas de DTP. Apenas a partir de fevereiro é que comecei a fazer traduções, revisões e releituras para clientes externos.

Durante o estágio era necessária a criação de relatórios em formato de folha de cálculo, onde eram registadas as tarefas realizadas, tais como os ficheiros submetidos a DTP, o código dos projetos realizados e o número de palavras e as ferramentas de apoio à tradução utilizadas.

2.3.1. Tarefa de Desktop Publishing

Como referido anteriormente, no primeiro mês do estágio a tarefa mais realizada foi a de

Desktop Publishing. Esta tarefa consiste no levantamento do número de palavras de um texto, de

maneira a calcular-se o custo aproximado do projeto, ou então na criação e edição de um documento Microsoft Word com o texto requerido para tradução, com uma formatação semelhante ao documento original. Os meses em que realizei tarefas de DTP foram os meses de janeiro, fevereiro e março, tal como mostra a Tabela 1, pois nos meses seguintes estava envolvida em mais projetos de tradução.

Mês Número de ficheiros submetidos a DTP Janeiro 80 Fevereiro 27 Março 35 Abril - Maio - Junho - Total 142

Tabela 1 - Número de ficheiros submetidos a DTP

O processo de DTP difere conforme o tipo de ficheiro do documento e a finalidade pretendida. Nos casos de ficheiros editáveis como ficheiros do Microsoft Word, Excel e Powerpoint, os gestores de projeto apenas precisam de inserir esses ficheiros no Wordbee Translator e aplicar as memórias de tradução adequadas, para a ferramenta fazer o cálculo do custo do projeto

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automaticamente. No caso de ficheiros PDF editáveis, é necessário copiar o texto para um documento Microsoft Word e verificar o número de palavras.

Em relação aos documentos não editáveis, como imagens e ficheiros PDF não editáveis, é necessário utilizar uma ferramenta de reconhecimento ótico de caracteres. Na AP|PORTUGAL é utilizado o ABBYY FineReader 11, que permite a identificação de diferentes idiomas e que, para além de reconhecer texto corrido, também reconhece tabelas, facilitando a formatação do documento. De seguida, o texto reconhecido é copiado para um documento Microsoft Word. Caso o DTP seja apenas para o cálculo do orçamento, não se fazem modificações no(s) documento(s) e este(s) são enviados para os gestores de projeto, de modo a que possam calcular o custo do projeto. Juntamente com o(s) documento(s) do Microsoft Word, é enviado um relatório com informações sobre os mesmos como, por exemplo, se estes são editáveis, não editáveis, ou parcialmente editáveis; o número de palavras, de páginas e de ficheiros; os softwares utilizados para a extração do texto; o cálculo aproximado do tempo necessário para a realização do DTP para tradução e outras observações.

No entanto, se o DTP for para tradução o documento é formatado e editado de maneira a ficar semelhante ao documento original. Contudo, a AP|PORTUGAL tem instruções de trabalho que estabelecem qual o tipo de letra, cor e tamanho a ser utilizado em todos os DTP. O tipo de letra utilizado é Calibri, a cor utilizada é o preto e o tamanho de letra é 11, mas tamanhos maiores ou menores de tipo de letra podem ser utilizados, conforme a necessidade de destacar um título ou diminuir o espaço que o texto ocupa. Outros aspetos como o espaçamento e os limites não estão

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definidos pelas regras de formatação dos DTP e também variam conforme o espaço que o texto ocupa, visto que se pretende que o número de páginas do documento sujeito a DTP seja igual ao número de páginas do documento original. Elementos como tabelas, cabeçalhos e rodapés são formatados como tal, mas elementos como gráficos ou imagens que contenham texto não são inseridos no documento, sendo apenas inserido o texto neles contido. Outros elementos como carimbos, selos, logótipos e assinaturas são indicados no documento entre parêntesis retos e, caso estes contenham texto, o texto é colocado à frente ou por baixo dessa mesma indicação, exceto no caso das assinaturas.

Após a conclusão do DTP para tradução os ficheiros são enviados para os gestores de projeto e os mesmos criam um projeto de tradução no Wordbee Translator, ao qual atribuem um código que o identifica. No Wordbee Translator são inseridos os documentos a traduzir e os seus originais, para que o tradutor/revisor possa consultá-los e verificar a formatação dos mesmos, de maneira a que haja uma tradução mais precisa. Caso o projeto seja feito no Wordbee Translator, são adicionadas, a esse projeto, as memórias de tradução necessárias, havendo memórias de tradução para clientes específicos ou áreas específicas.

Para os projetos que não são feitos no Wordbee Translator e que são feitos noutras ferramentas desktop como o SDL Trados Studio, o MemoQ Kilgray e o Memsource Desktop, apenas são carregados os ficheiros no Wordbee, para que estes sejam abertos na ferramenta requerida. Também podem ser concedidos os dados necessários para entrar na conta de uma ferramenta de tradução em cloud, como por exemplo o Memsource Cloud ou o MemoQ Cloud Server. Por fim, o projeto é atribuído a um ou mais tradutores e revisores, que podem ser tradutores internos ou externos.

2.3.2. Tarefas de tradução, revisão e releitura

No primeiro mês do estágio realizei apenas traduções e revisões internas, que consistiam em comunicados para os colaboradores da AP|PORTUGAL. Apenas a partir de fevereiro é que comecei a traduzir para clientes externos. Grande parte das tarefas que realizei foram tarefas de tradução, pois as tarefas de revisão ou releitura são normalmente atribuídas a tradutores com mais experiência. Porém, foram-me atribuídas tarefas de revisão e releitura, quando estes não estavam disponíveis. Também participei num projeto de pós-edição da área de e-commerce, que foi uma tarefa que nunca tinha realizado durante o mestrado e que consiste na revisão e correção de traduções realizadas por uma ferramenta de tradução automática. A tradução automática foi

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executada pelo Wordbee Translator, que utiliza o Google Tradutor como ferramenta para a tradução automática.

Na Tabela 2 é possível ver o número de projetos, o número de palavras sujeitas a tradução, revisão, releitura e pós-edição, por mês e o seu total.

Mês Tradução Revisão Releitura Pós-edição

Projetos Palavras Projetos Palavras Projetos Palavras Projetos Palavras

Janeiro 4 9855 1 472 - - - - Fevereiro 9 24935 - - 1 4703 - - Março 9 9799 3 8647 - - 1 31001 Abril 15 49252 1 755 - - - - Maio 6 19416 - - 1 7492 - - Junho 13 29814 4 1950 1 1405 - - Total 56 143071 9 11824 3 13600 1 31001

Tabela 2 - Número de projetos realizados e palavras trabalhadas por mês

No mês de fevereiro traduzi textos de natureza jurídica como certificados, registos criminais e apostilas, mas também textos da área da medicina e farmácia, como folhetos informativos e consentimentos informados. Nos meses seguintes, participei em bastantes projetos de tradução de websites da área de e-commerce e das áreas da tecnologia e engenharia, tendo participado na tradução e revisão de um grande projeto de tradução de um website, que foi feito em conjunto com outros tradutores. Na Tabela 3 é possível verificar as áreas nas quais trabalhei e o seu número de palavras.

Área Tradução Revisão Releitura Pós-edição

E-commerce 56601 8320 7492 31001

Comunicação empresarial 29129 754 - -

Engenharia 17988 - 4703 -

Saúde e ciências da vida 16721 1478 - -

Tecnologia 3370 327 - -

Jurídica 1801 190 - -

Outras 17461 755 1405 -

Total 143071 11824 13600 31001

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Os textos da área de ciências da vida nos quais trabalhei incluem textos da área da medicina, como formulários de consentimento informado, textos da área da farmácia, como folhetos informativos e textos sobre equipamentos médicos e laboratoriais. Os textos da área da engenharia incluem textos como manuais de operações, descrições de metodologias de um levantamento de dados sísmicos e análises de modos de falhas e efeitos. Nos textos da área jurídica estão incluídos certificados, apostilas, certidões, registos criminais e diretivas. Nos textos da área de e-commerce incluí a tradução de websites que estejam relacionados com compras online. Os textos da área da comunicação empresarial abrangem contratos, instruções para realização de trabalhos e cartas. Os textos da área da tecnologia incluem manuais de instruções e descrições de produtos eletrónicos, como eletrodomésticos. Por fim, na categoria «Outros» incluí textos de áreas que não se inseriam nas áreas acima mencionadas e que não justificavam a criação de uma única categoria/área na tabela, pois apenas tinha trabalhado um texto dessa área.

Através desta tabela é possível ver que uma área bastante procurada para tradução é a área de e-commerce, possivelmente devido ao grande aumento de compras online. Em segundo lugar, encontra-se a área da comunicação empresarial, pois contratos entre empresas de diferentes países necessitam de ser traduzidos e, em terceiro lugar, encontra-se a área da engenharia, que tem vindo a crescer como atividade nos últimos anos, por isso é normal que haja uma grande procura de traduções dessa área. A área das ciências da vida encontra-se apenas em quarto lugar e uma grande parte dos textos traduzidos foram folhetos informativos.

Par de Línguas Tradução Revisão Releitura Pós-edição

Inglês-Português 95940 8971 4703 31001

Alemão-Português 41466 2381 7492 -

Português-Inglês 5665 472 1405 -

Total 143071 11824 13600 31001

Tabela 4 - Pares de línguas

As LP com as quais trabalhei foram o inglês e o alemão, havendo, sem dúvida, uma maior procura pela tradução do inglês para o português, como é possível verificar na Tabela 4. Também fiz projetos com o inglês como língua de chegada (LC) e o português como LP, no entanto, grande parte destes foram projetos internos, e não para clientes externos, pois a AP|PORTUGAL prefere que o tradutor traduza para a sua língua materna. Contudo, por vezes, quando não há tradutores disponíveis para traduzirem para a sua língua materna, a tarefa pode ser atribuída a outros tradutores, que não são falantes nativos da língua em questão.

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2.4.

Ferramentas de apoio à tradução utilizadas

Tal como foi mencionado anteriormente, a ferramenta de apoio à tradução de eleição da AP|PORTUGAL é o Wordbee Translator. No entanto, também são utilizadas outras ferramentas, tais como o SDL Trados, MemoQ Kilgray, MemoQ Cloud Server, Memsource Desktop, Memsource Cloud, SDL Passolo, Wordfast, Translation Workspace, ApSIC Xbench, XTM International e o Wordfast.

As ferramentas que utilizei durante o estágio para as traduções, revisões, releituras e pós-edição foram o Wordbee Translator, Memsource Cloud, MemoQ Cloud Server, MemoQ Desktop, SDL Trados Studio e Translation Workspace. Todavia, as ferramentas que utilizei com mais frequência foram o Wordbee Translator e o Memsource Cloud, enquanto as outras ferramentas foram utilizadas muito esporadicamente, tal como mostra a Tabela 5.

Ferramenta de apoio à tradução Tradução Revisão Releitura Pós-edição

Wordbee 83743 662 6108 31001

Memsource Cloud 53349 1154 7492 -

MemoQ Server Online 5665 - - -

MemoQ Desktop 314 1037 - -

SDL Trados Studio - 8644 - -

Translation Workspace - 327 - -

Total 143071 11824 13600 31001

Tabela 5 - Ferramentas de apoio à tradução utilizadas

Seguidamente, passo à descrição mais pormenorizada das duas ferramentas de apoio à tradução mais utilizadas durante o estágio. Estas são ferramentas em cloud, por isso, apresentam características diferentes das ferramentas desktop, que são geralmente mais utilizadas por tradutores e ensinadas nos cursos da área da tradução como, por exemplo, o SDL Trados e o MemoQ.

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2.4.1. Wordbee Translator

O Wordbee Translator é uma ferramenta de gestão de projetos de tradução, que permite gerir projetos e atribuir as diferentes tarefas aos tradutores e revisores.

Na AP|PORTUGAL são utilizadas dois tipos de versões do Wordbee. Estas são a versão Wordbee Translator Freelancer Standard que é a versão utilizada pelos tradutores na AP|PORTUGAL (Figura 2) e que permite apenas a visualização das tarefas atribuídas e o uso do editor de tradução. A versão Translator Freelancer também dispõe de uma outra edição a Entrepreneur Edition (não utilizada na AP|PORTUGAL), que inclui as funcionalidades da edição «Standard», mas que também apresenta funcionalidades para a gestão de projetos. Por outro lado, existe a versão Wordbee Translator Enterprise, utilizada pelos gestores de projeto, que inclui todas as funcionalidades da versão Freelancer Standard e inclui outras funcionalidades como a gestão de projetos; gestão de clientes; a atribuição de tarefas («Jobs») aos diferentes intervenientes no fluxo de trabalho/processo de tradução («Suppliers»); a gestão de memórias de tradução e de bases de dados terminológicas; alinhamentos de traduções; e a criação de licenças simultâneas da versão Wordbee Translator Freelancer Standard para os «Suppliers» que vão realizar as tarefas.

A versão que utilizei foi a Wordbee Translator Freelancer, com uma licença do APP Academy, que é a licença criada especialmente para os estagiários curriculares da empresa.

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Tal como mostrado na Figura 2, na página inicial do Wordbee Translator é possível consultar as tarefas e o seu respetivo estado, o prazo, o tipo de tarefa e o par de línguas. Também na parte inferior direita pode-se ver quantas tarefas estão em progresso, quais é que têm prazo para o dia em questão e quais é que estão em atraso. Para abrir uma tarefa deve-se clicar em «Select».

Depois de abrir uma tarefa surge uma página com os vários detalhes desta, assim como mostra a figura anterior. Como explicado anteriormente, é necessário aceitar, ou rejeitar a tarefa. As tarefas que ainda não foram aceites ou rejeitadas têm o estado de «Proposal». Quando estas são aceites (selecionando «Accept proposal») ficam com o estado de «In progresso» e quando são rejeitadas, ficam com o estado de «Proposal declined» (clicando em «Reject proposal»). Todas estas informações sobre as tarefas estão presentes na secção «Status and Organisation» (Figura 3).

Após a conclusão da tarefa de tradução, o tradutor deve clicar em «Job completed», fechando assim a tarefa, para que a tarefa de revisão possa começar. Para a revisão e releitura, o revisor e a pessoa encarregue pela releitura devem seguir os mesmos passos para aceitar a tarefa, realizá-la e concluí-la.

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Figura 4 - Secções «Details» e «Documents»

Na secção «Details» (Figura 4) encontram-se os detalhes da tarefa, tais como as LP e LC, o prazo e tipo de tarefa («Translation», «Revision», «Proofreading» e «Quality Control») e, por vezes, a área à qual o TP pertence («Domain(s)»). Nessa secção também existe uma ligação para os materiais de referência («Reference material»), onde são carregados os documentos e instruções de trabalho da AP|PORTUGAL e que servem de referência aos tradutores na execução das suas tarefas. Também são, por vezes, carregados os documentos originais não editáveis, para consulta por parte do tradutor, e documentos de referência enviados pelo cliente. Quando os projetos são traduzidos ou revistos numa outra ferramenta em cloud, como o Memsource Cloud ou o MemoQ Cloud Server, colocam-se as ligações para esse projeto e as credenciais de acesso a este na secção «Instructions». Nesta secção, também se podem encontrar instruções dadas pelo cliente.

Na secção «Documents», pode-se mudar o estado de cada ficheiro clicando em «Work status», que pode ser útil quando existem muitos ficheiros para tradução e é necessário começar a revisão antes da conclusão da tarefa de tradução, pois desta maneira o revisor sabe quais são os ficheiros que já estão terminados e que podem ser revistos.

É também nesta secção que se carregam os ficheiros para tradução ou revisão em ferramentas desktop. Para tal, clica-se em «Att». Após a realização da tradução ou revisão, carregam-se os ficheiros e, se for o caso, as memórias de tradução atualizadas nessa mesma secção. Só é possível concluir a tarefa após o carregamento dos ficheiros.

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Para começar a tradução ou revisão no Wordbee Editor deve-se selecionar «Conduct work».

Resumidamente, o Wordbee Editor (Figura 5) tem quatro secções: uma secção com os segmentos a traduzir, uma secção com ferramentas de verificação do texto e dois separadores no lado direito («Segment Information» e «Translation Finder». O separador «Segment Information» contém informações sobre as alterações feitas a um segmento; informações sobre o documento; a pré-visualização do documento e uma ligação para a transferência do documento. O separador «Translation Finder» apresenta várias secções para a pesquisa de termos e segmentos presentes na memória de tradução («Memories»); para a pesquisa de termos na base de dados IATE («Dictionaries») e uma secção para tradução automática através do Google Tradutor («Machine Translation»). Nesse mesmo separador também há uma secção chamada «Comments & Discussion» onde o tradutor pode deixar comentários úteis para o revisor ou para quem está responsável pela tarefa de controlo de qualidade.

Na parte superior encontra-se a secção relativa à filtragem de segmentos e edição e correção do texto, onde é possível verificar os erros existentes na tradução. Para tal, deve-se escolher a opção «Check». Nesta secção também existe uma opção para transferir um documento bilingue (com o TC e o TP no mesmo ficheiro) em formato .DOCX ou .XLIFF. Para transferir o documento, deve-se selecionar «Xliff/Word/Excel».

O Wordbee Translator é uma ferramenta útil para empresas, caso estas optem por uma versão Enterprise, pois é, ao mesmo tempo, uma ferramenta de gestão de projetos e de clientes e uma ferramenta de tradução, que inclui bases de dados e memórias de tradução. Como a versão Enterprise permite a utilização de licenças simultâneas, é possível atribuir tarefas a tradutores

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independentes e os mesmos podem realizar as tarefas no Wordbee Translator, sem que seja necessário utilizar outra ferramenta ou instalar software no computador. Para traduzir/rever é apenas preciso um navegador e uma boa ligação à internet, por isso, a ferramenta pode ser utilizada em computadores nos quais as ferramentas desktop não funcionem corretamente.

O Wordbee Translator também tem a vantagem de ser fácil de utilizar, podendo assim ser utilizado por tradutores que não se sintam muito confortáveis a utilizar ferramentas de tradução, uma vez que a versão utilizada só contém as funcionalidades necessárias para a realização de traduções ou revisões. Funcionalidades como a gestão de bases de dados, de memórias de tradução e gestão de clientes não estão incluídas no Wordbee Translator Freelance Standard, o que faz com que o trabalho realizado seja reduzido apenas às tarefas de tradução ou revisão. As tarefas relacionadas com estas funcionalidades são atribuídas aos gestores de projetos.

Por fim, uma das maiores vantagens do Wordbee e de outras ferramentas em cloud é o facto de as traduções serem automaticamente guardadas. Assim, na eventualidade da ocorrência de algum problema com o computador ou com o software, a tradução realizada não é perdida e pode ser acedida através de outro computador.

Tal como referido estas características são úteis para empresas que queiram trabalhar com muitos tradutores independentes. No entanto, no caso de um tradutor independente que necessite de uma ferramenta de apoio à tradução, onde possa trabalhar diariamente, a versão Wordbee Translator Freelancer Standard não será uma boa opção, pois não oferece várias funcionalidades úteis para o tradutor como, por exemplo, a gestão de projetos. Neste caso, a melhor solução seria adquirir uma versão Wordbee Translator Freelance Entrepreneur, ou adquirir outra ferramenta. Para além disso, o Wordbee Translator tem a grande desvantagem de utilizar o corretor ortográfico do navegador, pelo qual está a ser acedido. Esta característica é uma desvantagem, uma vez que grande parte dos navegadores não dispõem de um corretor com o novo acordo ortográfico e nem corrigem erros gramaticais, que outras ferramentas de apoio à tradução corrigem. De maneira a colmatar este inconveniente, na AP|PORTUGAL era aconselhada a realização de uma verificação ortográfica no Microsoft Word, o que atrasa ligeiramente a entrega das traduções /revisões.

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2.4.1. Memsource Cloud

Uma outra ferramenta de apoio à tradução com a qual trabalhei durante o estágio foi o Memsource Cloud. Tal como o Wordbee Translator, o Memsource é uma ferramenta em cloud. Esta ferramenta foi utilizada essencialmente para a tradução de um website e, para tal, foi fornecida uma conta à AP|PORTUGAL pelo cliente, por isso não tive acesso a todas as funcionalidades desta ferramenta, tendo tido apenas acesso ao Web Editor.

Tal como é possível observar na imagem da página de um projeto de tradução (Figura 6) é possível ver o nome do projeto, quem o criou e a data. Também é possível ver quais são as LP e LC e se a tradução automática foi aplicada no projeto. Na secção «Jobs» estão presentes os ficheiros a serem traduzidos e informações sobre estes, tais como a percentagem do trabalho que já foi traduzida, o prazo e o estado do ficheiro. Também estão presentes opções para transferir o ficheiro a traduzir, pré-traduzir o ficheiro, aplicando memórias de tradução e alterar o estado do ficheiro.

Figura 6 - Página de um projeto de tradução no Memsource Cloud

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Tal como no Wordbee, é necessário aceitar as tarefas para que as mesmas possam ser abertas e editadas, no entanto, no Memsource é necessário fazer esse processo para cada ficheiro. Para tal, é necessário alterar o estado do ficheiro a traduzir, clicando em «Change Status» e selecionar «Acepted by Linguist» (Figura 7). Para concluir a tradução, faz-se o mesmo processo, mas seleciona-se a opção «Completed by Linguist». Também é possível rejeitar a tarefa clicando em «Declined by Linguist».

O editor do Memsource (Figura 8) é básico e fácil de usar. Possui, no lado direito, um separador para as entradas na memória de tradução ou da base de dados terminológica («CAT»). Neste separador é também possível pesquisar termos ou segmentos («Search») e realizar o controlo de qualidade, no separador «QA». O controlo de qualidade verifica erros na tradução, tais como a ortografia, inconsistências, números, espaçamento, segmentos não confirmados ou vazios, entre outros. No final de cada tradução/revisão, deve ser feito um «QA» e todos os erros devem ser corrigidos ou ignorados, caso sejam falsos positivos, pois, caso contrário, não é possível concluir o projeto.

Na parte superior, encontram-se ferramentas para a edição do texto, para filtrar o texto e para exportação de um ficheiro bilingue, com a LP e a LC, em formato .DOCX ou .MXLIFF. Junto aos segmentos, estão presentes ícones que informam sobre o estado do segmento. Quando este apresenta um visto verde, quer dizer que o segmento está confirmado e quando apresenta uma cruz vermelha, quer dizer que não está confirmado. Quando apresenta uma seta azul, significa que a tradução vai-se propagar para outros segmentos repetidos, contudo é possível evitar isso clicando nesse ícone, ficando com um traço vermelho por cima do mesmo. Também é possível ver a

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percentagem das correspondências da memória de tradução, o que é útil para a edição de segmentos com uma grande percentagem de correspondência, pois a ferramenta apresenta quais os termos que devem ser alterados no separador do lado direito. Por fim, também é possível adicionar comentários clicando no ícone do balão de fala. Quando este tem a cor azul, significa que há um comentário.

Tal como o Wordbee Translator, o Memsource Cloud também permite a gestão de projetos e de clientes e a realização de traduções numa só ferramenta. Todavia, como só tive acesso ao Web Editor apenas posso dar uma opinião sobre este, em termos da sua usabilidade e funcionalidades. O Web Editor apresenta praticamente as mesmas funcionalidades do Wordbee como, por exemplo, memórias de tradução, bases de dados terminológicas, correção ortográfica, formatação do texto e controlo de qualidade. No entanto, o Memsource Web Editor utiliza o seu próprio corretor ortográfico, que é mais exato nas suas correções, pois utiliza o novo acordo ortográfico e também corrige alguns erros gramaticais. Ademais, o Memsource Web Editor apresenta uma opção de controlo de qualidade mais completa e precisa do que a opção de controlo de qualidade do Wordbee. Esta característica é importante para mim, pois diminui a quantidade de erros efetuados durante a tradução, reduzindo, assim, o tempo necessário para a correção ortográfica e gramatical.

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3. Tradução na área da saúde

Antes de apresentar uma definição da tradução na área da saúde, pretendo apresentar uma definição mais genérica de tradução que possa ser aplicada a todas as áreas, onde esta atividade pode ocorrer. De acordo com a Norma 17100:2015, que a AP|PORTUGAL cumpre, por tradução entende-se «set of processes […] to render source language content […] into target language content […] in written form» (Internal Standard of Organization, 2015, p. 1). No entanto, essa definição é demasiado genérica, suficiente para definir tradução num documento legal como uma norma, pois apenas se foca no processo de tradução e não se foca na dimensão comunicativa. Para melhor definir tradução, baseio-me na definição de Hurtado Albir, que considera a tradução como «un proceso interpretativo y comunicativo que se desarrolla en un contexto social y con una finalidad determinada» (2011, p. 41). É igualmente importante considerar as três características da tradução: a tradução como um ato de comunicação, como uma operação entre textos e como um processo mental.

Em primeiro lugar, o tradutor não deve só traduzir os aspetos linguísticos do texto, mas também as intenções comunicativas, tendo em conta que cada língua as expressa de maneira diferente e levando em consideração as características do público-alvo. Em segundo lugar, o tradutor deve ter em consideração os mecanismos de funcionamento textual, como os elementos de coerências e coesão, os géneros textuais e os tipos textuais, visto que estes diferem nas várias línguas e culturas. Por fim, deve-se ter em conta que a tradução é um processo mental, por parte do tradutor, que depende da compreensão do sentido do TP, para que este possa ser reformulado na LC (Hurtado Albir, 2011, pp. 40–41).

É possível verificar que Hurtado Albir dá grande importância às diferenças linguísticas e culturais e à finalidade comunicativa do TP, o que pode não parecer, à primeira vista, muito relevante para a tradução na área da saúde, uma vez que há a crença de que a comunicação médica é objetiva, neutra, impessoal, sem referências ideológicas ou propósitos retóricos e desprovida de referências culturais. Para Montalt e Davies, tal não é verdade, pois os textos da área da saúde possuem características de outros tipos de textos, diferentes níveis de formalidade e podem ter traços de subjetividade. Ademais, a comunicação na área da medicina não está limitada a textos altamente especializados para serem lidos apenas por especialistas e profissionais, mas inclui, igualmente, participantes com vários níveis de conhecimento e especialização (2007, p. 45). Isto faz com que as caraterísticas do público-alvo sejam também relevantes nas traduções desta área.

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A tradução na área da saúde envolve a tradução de comunicação criada em diferentes especialidades médicas e de outras áreas como farmácia, bioquímica, biologia e química. Contudo, também envolve outras áreas que não parecem estar relacionadas com medicina como a psicologia, sociologia, economia e direito (Montalt & Davies, 2007, pp. 19–20). Assim, o tradutor ao traduzir, deve ter conhecimento acerca destas áreas e deve compreender conceitos destas áreas presentes no texto a ser traduzido, bem como a terminologia a ser utilizada (Montalt & Davies, 2007, pp. 23–26).

Ao contrário de outras áreas especializadas, o conhecimento médico e científico não é gerado apenas por profissionais, mas também por doentes, pois estes fornecem as informações necessárias aos profissionais para o progresso da investigação nestas áreas. Isto através de formulários e questionários. Assim, o conhecimento médico tem diferentes níveis de especialização, pois existe a necessidade de alcançar público que não possui muito conhecimento na área da saúde. Os textos desta área podem ser altamente especializados ou de divulgação científica, bem como uma combinação entre os dois (Montalt & Davies, 2007, pp. 46–47).

Como existem diferentes níveis de especialização e de público-alvo dentro a comunicação médica, existe um vasto leque de géneros, que segundo Montalt e Davies, incluem géneros altamente especializados e géneros mais gerais. Os autores afirmam que as convenções do género são altamente importantes para a tradução do texto de partida em questão. O tradutor deve igualmente conhecer fontes de informação atualizadas da área da saúde, tais como: explicações de conceitos; glossários; nomenclaturas; classificações de doenças; listas com a denominação comum internacional, nomes comerciais e nomes nacionais de fármacos; textos de diferentes géneros da área da saúde; bases de dados; fóruns profissionais online e todos os recursos que o tradutor achar necessário para a realização da tradução. Estas fontes de informação têm uma maior importância caso o tradutor tenha pouco conhecimento médico e terminológico e caso não tenha familiaridade com o género a ser traduzido (Montalt & Davies, 2007, pp. 23–26).

3.1.

Processo de tradução na área da saúde

Montalt e Davies (2007) discutem os vários passos que um tradutor profissional deve utilizar nas suas traduções da área da saúde. Os passos podem diferir, dependendo do tipo de tarefa ou do texto.

O primeiro passo consiste na análise das necessidades do cliente, no qual são discutidas as especificidades do projeto. Os autores referem a teoria de tradução de Christiane Nord, o

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funcionalismo, em que o tradutor deve ser leal às características da tarefa apresentadas pelo cliente (Montalt & Davies, 2007, pp. 23–26). Deste modo, a realização de um «translation brief» é essencial. O «translation brief» deve responder a questões como o público-alvo do TC; quando e onde o TC será lido; o meio pelo qual o texto será transmitido e o motivo para a produção ou receção do texto. Estas questões permitem a determinação da função comunicativa do TC, o que é essencial para a escolha da metodologia de tradução (Nord, 1997a, pp. 47–48).

O segundo passo consiste na leitura e compreensão do TP. Para tal é necessário que o tradutor entenda o texto completo e tenha um bom conhecimento dos conceitos e termos médicos utilizados.

Em terceiro lugar, o tradutor deve criar um glossário ou atualizar um glossário existente, de modo a que os termos utilizados sejam consistentes. Esse glossário pode ser utilizado futuramente noutras traduções da mesma área, por isso a utilização de uma ferramenta de gestão terminológica é bastante útil.

Seguidamente, o tradutor deve proceder à realização da tradução conforme as especificações dadas pelo cliente. Neste passo, o tradutor deve-se focar não só no conteúdo do texto, mas também na macroestrutura.

Após a realização da tradução, é realizada a revisão do TC, onde se corrigem os erros de ortografia, gramática, sintaxe, estilo, coesão, consistência, pontuação e outros erros que possam ocorrer. Depois da revisão, deve-se realizar uma releitura, de maneira a verificar se a leitura do TC é fluida e se este parece ser um texto produzido na LC e não uma tradução.

Por vezes, pode ser feita uma revisão por parte do cliente, antes da entrega da tradução, para verificar se o TC está conforme as especificações designadas por este.

Por fim, antes da entrega final ao cliente no formato requerido por este, é feita uma revisão da formatação do texto, que incluí a revisão do tipo e tamanho de letra, da hifenização, da paginação, entre outros.

Se compararmos o processo de tradução apresentado por Montalt e Davies, com o fluxo de trabalho da AP|PORTUGAL, é possível ver que os dois são diferentes. A primeira diferença encontra-se no primeiro passo, isto é, o «translation brief». Na AP|PORTUGAL, o «translation brief» é realizado pelos gestores de projetos e não pelos tradutores. Ademais, as informações geralmente fornecidas pelo cliente são: a(s) língua(s) de chegada; o prazo de entrega da tradução; a necessidade da realização de uma certificação da tradução; se é necessário realizar uma releitura; e, por vezes, o cliente também envia instruções para a realização da tradução, bem como, as fontes que devem ser utilizadas. Contudo, raramente é pedido a adaptação de um texto completo para

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cultura de chegada (CC) ou uma adequação ao público-alvo, ou seja, a metodologia de tradução utilizada é a tradução documental, mais precisamente, a tradução literal (explicadas na secção seguinte). Visto que as adaptações e adequações eram apenas feitas a frases ou expressões que são desconhecidas na LC e CC, como, por exemplo frases idiomáticas, estas frases podiam ser substituídas por frases idiomática da LC e CC com significado semelhante. Essas adaptações e adequações eram sujeitas a aprovação por parte do cliente.

O segundo passo do processo acima apresentado, também apresenta diferenças, uma vez que não era feita uma leitura do texto antes do início da tradução, para poupar tempo e conseguir cumprir o prazo.

Também a criação de glossários era omitida durante o estágio, pois era utilizada uma ferramenta com memórias de tradução, que permitem a pesquisa de termos e frases utilizadas anteriormente numa tradução, mantendo-se, assim, a consistência terminológica. Por esta razão as bases de dados terminológicas também não eram utilizadas, salvo sob solicitação do cliente.

Por fim, os seguintes passos do processo acima descrito são realizados na empresa. No entanto, a revisão é atribuída a um tradutor/revisor que não efetuou a tradução e a releitura está encarregue a um tradutor/revisor que não efetuou a tradução ou revisão. Ademais, a releitura é realizada apenas quando solicitada pelo cliente e é feita após a formatação do texto. No que diz respeito ao passo da formatação do texto, este é feito durante o controlo de qualidade, que, por sua vez, é o último passo do projeto de tradução, salvo se o cliente solicitar uma releitura ou certificação da tradução.

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3.2.

Tradução documental e tradução instrumental

Nord elaborou uma tipologia de tradução baseada na distinção entre a função do processo de tradução e a função do TC, como resultado deste processo. Distingue, assim, entre tradução documental e tradução instrumental (1997b, p. 47).

No caso da tradução documental, a função principal do texto é metatextual, em que o TC está intrinsecamente ligado ao TP. Dentro deste tipo de tradução existem diferentes formas de tradução: a tradução interlinear, a tradução literal, a tradução filológica e a tradução exotizante.

A tradução interlinear foca-se principalmente nas características morfológicas, lexicais ou sintáticas. Na tradução literal há a intenção de reproduzir as palavras do original ao adaptar as estruturas sintáticas e expressões idiomáticas à LC. O propósito foca-se na reprodução da forma da LC e o processo de tradução foca-se nas unidades lexicais do TP. Esta metodologia foi a que mais utilizei durante o estágio, pois muitas vezes não existiam indicações do cliente para adaptar o texto à CC ou ao público-alvo. Em segundo lugar, Nord apresenta a tradução filológica que reproduz o TP, mas adiciona explicações acerca da LC ou CC. E, por fim, quando a tradução deixa o contexto do TP inalterado, criando estranheza ou distância cultural, alterando, assim, a função comunicativa do texto, esta chama-se tradução exotizante. Esta metodologia é mais utilizada em textos literários (Nord, 1997b, pp. 47–50).

Por outro lado, existe a tradução instrumental que pretende que o TC tenha as mesmas funções do TP. Assim, os leitores do TC não devem aperceber-se que estão a ler uma tradução, o que significa que o texto é adaptado às normas e convenções do tipo textual, género textual, registo e tenor da cultura de chegada (Nord, 1997b, p. 52). Tal como acontece na tradução documental, a tradução instrumental tem diferentes formas: a tradução equifuncional, a tradução heterofunctional e a tradução homóloga.

Na tradução equifuncional existe a intenção de o TC desempenhar a mesma função do TP. Tal como foi dito, o propósito desta forma de tradução é alcançar as funções do TP para o público de chegada e o foco do seu processo de tradução são as unidades funcionais do TP. Na tradução heterofuncional, o TC não possui a mesma função do TP. Nesta forma de tradução existe o propósito de alcançar funções semelhantes do TP e o foco da tradução recai nas funções transferíveis do TP. Finalmente, a tradução homóloga tenta reproduzir a função que o TP tem no seu contexto literário no contexto literário do TC, isto é, o TC pretende representar o mesmo grau de originalidade do TP (Nord, 1997b, pp. 47–51).

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De maneira a que seja feita uma escolha entre estes métodos de tradução, o tradutor necessita saber quais os propósitos comunicativos do TC. Para tal é necessária a realização de um «translation brief», anteriormente explicado. Contudo, no contexto da empresa AP|PORTUGAL o «translation brief» é realizado pelos gestores de projeto e não pelos tradutores e, como já referido, os clientes normalmente não solicitam uma adaptação ou adequação do TC. Nord também reconhece esses casos e afirma que:

Functional translation does not mean that source-culture conventions must be replaced by target-culture conventions in each and every translation. Depending on the translation purpose and type, the translator may opt for reproduction or adaptation. There are also translation tasks where some kinds of conventions have to be reproduced whereas others should be adjusted to target-culture standards […]. (Nord, 1997b, p. 57)

Isto é, dependendo do tipo e propósito da tradução, nem sempre é requerido aos tradutores que as convenções culturais sejam adaptadas para a CC. Seguidamente é exposta uma definição de convenção, relacionada com os géneros textuais, desenvolvida por Katharina Reiß.

3.3.

Classificações textuais

Reiß, com base na classificação das funções de linguagem de Bühler, afirma que existem três funções comunicativas: a função informativa, a função expressiva e a função operativa. Estas funções comunicativas são determinadas pela intenção comunicativa do autor e permitem a classificação de textos em tipologias.

Um texto tem função informativa, caso o autor pretenda transmitir informação ou conhecimento; um texto tem função expressiva, caso o autor tenha a intenção de transmitir o conteúdo de um texto de forma estilística; e um texto tem uma função operativa, caso o autor queira persuadir o leitor (Reiß & Vermeer, 2014, p. 182). Cada função comunicativa está codificada a diferentes níveis. A Tabela 6 mostra quais os diferentes níveis de codificação das três funções comunicativas:

Funções comunicativas Nível de codificação

Função informativa Conteúdo

Função expressiva Conteúdo e organização estética

Função operativa Conteúdo, configuração persuasiva e, por vezes, organização estética

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É possível identificar qual função comunicativa está presente num determinado texto. Para tal, o tradutor deve identificar características semânticas ou pragmáticas como, por exemplo, rimas, metáforas, leitmotifs e aspetos sintáticos e lexicais recorrentes que indicam que um texto possui a função expressiva. Contudo, grande parte dos textos têm mais de uma função comunicativa, fazendo com que estes sejam considerados híbridos. Reiß argumenta que, durante a tradução o tradutor decide qual a função predominante reter, a não ser que a LC permita manter todas as funções comunicativas do LP (Reiß & Vermeer, 2014, p. 184). Esta é uma das razões pelas quais as tipologias textuais são importantes para a tradução, pois, segundo Reiß, o tipo do texto, e não só o público-alvo e o propósito do texto, também influencia a metodologia e as estratégias aplicadas na tradução de um texto (Reiss, 2000, p. 17).

Reiß também expandiu a definição dos géneros textuais, com base nas definições de Lux e Pörksen, considerando os géneros como «[…] supra-individual types of speech and writing acts associated with recurring communicative activities in which repeated occurrence has led to the development of characteristic patterns of language use and text composition.» (Reiß & Vermeer, 2014, p. 161)

A repetição de padrões faz com que estes se tornem regularidades em certas situações comunicativas, criando-se assim convenções. Uma convenção é, de acordo com Reiß, uma regra não escrita e sujeita a alterações, que facilitam e guiam a comunicação e que mostram as características de um texto, ou seja, são manifestações de um género textual (Reiß & Vermeer, 2014, pp. 164–166).

Reiß também refere que os géneros não ocorrem todos na mesma forma, existindo, assim, «géneros complexos», «géneros simples» e «géneros complementares». Os géneros complexos são géneros que estão incorporados noutros géneros. Por exemplo, o género novela pode conter outros géneros como um artigo de um jornal. Os géneros simples são géneros que não apresentam outros géneros incorporados. Um exemplo disso é o boletim meteorológico. Por fim, os géneros complementares são géneros que requerem a existência de um texto principal, no qual se baseiam como, por exemplo, um resumo ou uma crítica. Alguns dos géneros complementares referem-se constantemente ao texto principal, por isso, o tradutor deve conhecer o texto principal para entender melhor o texto complementar (Reiß & Vermeer, 2014, p. 162).

Se considerarmos as tipologias textuais propostas por Reiß, podemos verificar que os textos a serem analisados no presente relatório são essencialmente textos do tipo informativo. Contudo, um texto que não contém apenas uma função comunicativa é a descrição de produtos, inserida no género website, uma vez que a descrição de produto tem a intenção de informar e persuadir o

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leitor a comprar o produto e, para tal, recorre, muitas vezes, à organização estética do conteúdo do texto.

Montalt e Davies fazem uma distinção semelhante à distinção das tipologias textuais feita por Reiß, no entanto, relativa aos géneros textuais, em que dividem os textos da área da saúde e ciências da vida em três tipos básicos de géneros, segundo o propósito retórico do autor:

Overall rhetorical purpose of the writer Examples of genres

Instructional: give instructions to readers so that they can carry out certain actions

Clinical guidelines, patient information leaflet, manual.

Expository: provide information to readers Anatomical atlas, treatise, review article, case report, first part of an informed consent. Argumentative: convince readers Medical editorial, original article, poster in

health campaign.

Tabela 7 - Examples of genres according to the main rhetorical purpose of the writer (Montalt & Davies, 2007, p. 58)

Contudo, Montalt e Davies fazem distinção entre os propósitos retóricos instrucionais e propósitos retóricos expositivos, enquanto Reiß considera que estes pertencem à mesma função comunicativa: a função informativa. O primeiro propósito retórico relaciona-se com a intenção, por parte do autor, de dar instruções, de maneira a que os leitores executem alguma ação, e o segundo propósito retórico relaciona-se com a apresentação de informações, mas sem a intenção de fazer com que o leitor execute alguma ação. Ademais, os autores não consideram o propósito expressivo do autor de um texto na área da medicina. A classificação de Reiß é muito generalista e aplica-se a todas as áreas de conhecimento, enquanto que as classificações feitas por Montalt e Davies aplicam-se apenas à área da saúde.

Com base na classificação dos géneros textuais de Montalt e Davies relativamente aos seus propósitos comunicativos (Tabela 7), conclui-se que o folheto informativo é um género com um propósito retórico instrucional, o consentimento informado é um género com um propósito retórico expositório. No entanto, a descrição de produto não se insere perfeitamente nesta classificação, pois, de acordo com esta, a descrição de produto é apenas considerado um género com um propósito retórico expositório.

Montalt e Davies distinguem igualmente os géneros da área da saúde segundo a função social destes, tal como mostrado na Tabela 8:

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Overall social function Example of genres

Preventing disease, educating the general public, creating awareness of risks, etc…

Genres in institutional campaigns such as press releases, information for patients, etc…

Carrying out domestic actions such as following a

diet, or a treatment… Diet, patient information leaflet, etc…

Communication new discoveries to non-specialized readerships

Newspaper article, summary for patient, mainstream book, non specialist manual, etc… Teaching and learning how to become a health

professional

Text-book, manual, encyclopaedia, anatomical atlas, etc…

Carrying out clinical practice, implementing new

techniques in clinical practice Patient’s history, guide of practice, manual, etc… Selling products to professionals Patient’s history, guide of practice, manual, etc… Communication new research to specialized

audiences

Original article, review article, scientific editorial, etc…

Tabela 8 - Genres according to overall social function (Montalt & Davies, 2007, p. 58)

Como exposto anteriormente, os participantes na comunicação na área da medicina têm diferentes níveis de conhecimento e especialização e, como tal, existem géneros (mostrados na Tabela 8) que são utilizados para transmitir informações entre comunidades com o mesmo nível de conhecimento da área da saúde e preencher lacunas existentes entre diferentes comunidades com diferentes níveis conhecimentos (Montalt & Davies, 2007, p. 59). Exemplos disso são o folheto informativo ou o consentimento informado que serão géneros textuais analisados neste relatório.

Tendo em conta as classificação dos géneros segundo a sua função social (Tabela 8), os folhetos informativos inserem-se na categoria «Carrying out domestic actions such as following a diet, or a treatment…», ou seja, são textos redigidos tendo em mente um público-alvo que, em princípio, não terá muito conhecimento sobre medicina ou farmácia. Isto faz com que estes textos tenham características diferentes de géneros textuais mais especializados, tal como será descrito na secção seguinte. O mesmo acontece com o consentimento informado, que é redigido também tendo em mente uma audiência que não tem um conhecimento médico aprofundado. Este género textual não está incluído na Tabela 8, por isso incluiria este género na classificação «Preventing disease, educating the general public, creating awareness of risks, etc…», pois a função do consentimento informado é informar o participante num estudo, da execução deste, dos benefícios e também riscos. Por fim, inseriria as descrições de produto na classificação «Selling products to

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professionals», uma vez que as descrições são de dispositivos médicos que são utilizados em hospitais em consultórios médicos e não por doentes.

Tal como Reiß, Montalt e Davies reconhecem a importância dos géneros textuais para a tradução, visto que, as estratégias utilizadas, metodologia e procedimentos efetuados durante a tradução dependem de fatores como a compreensão do TP. Por sua vez, a compreensão do TP depende do conhecimento do tradutor e da familiaridade deste com o género do TP; o reconhecimento de elementos estruturais do género, que fazem com o leitor crie expectativas relativamente ao tipo de informação existente no texto; e depende das diferenças interlinguísticas existentes entre a LC e a LP dentro do mesmo género textual (Montalt & Davies, 2007, p. 60).

Na secção seguinte serão apresentadas as características dos géneros textuais aqui anteriormente referidos.

Referências

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