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4. Problemas e dificuldades de tradução

4.1.3. Terminologia

A dificuldade mais vezes encontrada na tradução destes FI foi, sem dúvida, a tradução de terminologia. Isto inclui a tradução de termos especializados simples e complexos, de siglas e acrónimos e inconsistências. Como os FI não sofreram uma adequação ao público-alvo (que, em princípio, não terá muito conhecimento sobre farmácia e medicina), a terminologia existente pertence a um nível bastante especializado. Isto aumenta a dificuldade da tradução, pois existe a necessidade de encontrar a terminologia correspondente na LC. O que pode aumentar o tempo necessário para traduzir, fazendo com que o prazo não seja cumprido, ou fazendo com que outros aspetos da tradução sejam desconsiderados de certa forma.

Para encontrar a tradução de termos é sempre necessário fazer alguma pesquisa e, por vezes, ler textos da área para entender certos termos ou frases, para que sejam traduzidos da melhor forma. A maneira mais simples de o fazer é consultar FI, RCM e o Vademecum (que contêm a denominação comum internacional dos fármacos) elaborados pelo Infarmed, de maneira a utilizar a mesma terminologia utilizada nestes. No entanto, nem sempre era possível encontrar a tradução dos termos nestes documentos, por isso foi necessário recorrer a outras fontes como websites e dicionários sobre farmácia e medicina como, por exemplo, o glossário do website Médicos de

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Portugal, o IATE, a Infopédia ou dissertações da área da saúde e ciências da vida de alunos e investigadores das universidades portuguesas.

4.1.3.1. Termos simples

Em primeiro lugar, irei comentar as dificuldades levantadas pela tradução de termos simples, ou seja, termos constituídos apenas por uma palavra. Nos parágrafos seguintes apresentarei os termos simples que mais desafios colocaram na sua tradução. Principalmente porque a sua tradução não é tão óbvia e estes levaram a uma maior pesquisa e comparação com textos paralelos. Obviamente mais problemas de tradução surgiram durante a tradução de termos simples, mas grande parte dessas traduções foram resolvidas de maneira mais simples e rápida, através da consulta de dicionários e glossários.

O primeiro exemplo a apresentar é a tradução do termo «severe», presente em vários FI, que se refere à gravidade de uma doença.

Exemplo 2 (FI4):

EN: «For patients with severe hepatic impairment the maximum dose is 20mg.» PT: «A dose máxima para doentes com insuficiência hepática grave é de 20 mg.»

A tradução mais óbvia seria «severo», no entanto, nem sempre a mais correta ou a mais utilizada. Após alguma pesquisa e comparação com FI aprovados pelo Infarmed, cheguei à conclusão de que a tradução mais correta e utilizada seria «grave».

O segundo exemplo, refere-se à palavra «injection», que surge no FI8. Esta palavra poderia ser traduzida como «injeção», mas, tal como o primeiro exemplo, a tradução não é assim tão evidente. O termo correto e utilizado em FI sobre o mesmo fármaco é «solução injetável». Da mesma forma, a palavra «vial», presente no mesmo FI, que poderia ser traduzida apenas como «frasco» ou «ampola», surge como «frasco para injetáveis».

Por fim, uma dificuldade levantada pela seguinte frase foi a tradução dos termos «stinging» e «burning».

Exemplo 3 (FI3):

EN: «The following adverse reactions have been reported […] erythema, stinging, blistering, peeling, edema, pruritus, urticaria, burning, and general irritation of the skin.»

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PT: «Foram comunicados os seguintes efeitos secundários […] eritema, sensação de picadas

ou ardor, vesículas, descamação, edema, prurido, urticária e irritações gerais da pele.»

O problema não residiu tanto na tradução dos termos, mas sim na sua colocação na frase. A palavra «stinging», traduz-se como «sensação de picadas» e «burning» traduz-se mais corretamente como «sensação de ardor», contudo pretendia não repetir a palavra «sensação» na mesma frase. Por isso, decidi juntar os termos em português e traduzir como «sensação de picadas ou ardor».

4.1.3.2. Termos complexos

Os termos que ofereceram mais dificuldade durante a tradução foram os termos complexos, que são termos que são constituídos por mais de uma palavra. A tradução destes termos é mais difícil, pois é necessário perceber quais são as palavras que constituem esse termo, o que nem sempre é fácil, e é necessário encontrar uma tradução em português que corresponda totalmente a esse termo.

A primeira dificuldade que emerge no FI1 é a tradução do termo «peak blood levels», pois não conseguia encontrar uma tradução correta e consistente em dicionários online, havendo traduções como «pico de concentrações plasmáticas» e «pico sérico». Assim, a solução foi pesquisar parte da frase «Amlodipine is well absorbed with peak blood levels between 6-12 hours post dose.» em português no motor de pesquisa Google, de maneira a encontrar resultados que mostrem qual pico é atingido após 6 a 12 horas da toma do fármaco. Feito isso, surgiram vários resultados de FI que afirmavam que a amlodipina tinha picos séricos 6 a 12 horas após a sua toma. Assim, decidi utilizar a tradução «picos séricos».

Existem outras ocorrências de termos com a palavra «peak», como «peak serum concentration» (FI2), «peak plasma levels» (FI4), «peak plasma concentration» (FI1, FI7) e «mean peak plasma concentration» (FI8), porém, a sua tradução foi muito mais simples, pois era possível fazer uma tradução literal do termo e fazer uma pesquisa para verificar se esta era correta.

A segunda maior dificuldade surgiu no termo «β-adrenoceptor blocking agente», pois surgiu a dúvida na tradução de «blocking agente» como bloqueador, dado que existe o termo «bloqueadores beta-adrenérgicos», que tem o mesmo significado. Porém de maneria a que a tradução ficasse mais próxima ao original, optei pela tradução «antagonistas dos adrenoceptores- β».

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Outra dificuldade que surgiu foi a tradução de «dry poder» do FI8. Inicialmente parecia ser uma redundância, pois usualmente um pó é seco, mas após alguma pesquisa percebi que era um termo utilizado na área da farmácia. Poderia ter traduzido este termo como «pó seco», pois existem ocorrências desse termo em português noutros FI. No entanto, após a consulta de FI do mesmo fármaco, decidi traduzir «dry powder» como «pó para solução».

4.1.3.3. Siglas e acrónimos

Uma outra dificuldade relacionada com a terminologia consiste na existência de acrónimos e siglas. Por vezes as siglas e acrónimos são explicados no texto, mas muitas vezes isso não acontece. Como é o caso da sigla «USP» presente no FI1, FI2, FI3, FI4, FI6, FI7 e FI8. Essa sigla surge após o nome de uma substância ativa nos FI referidos. O mesmo acontece com a sigla «BP» presente no FI9. Estas siglas estão presentes nestes FI, pois a Drug Regulatory Authority of Pakistan estabelece que o nome de um fármaco estabelecido por uma farmacopeia pode ser utilizado num FI Como as siglas «USP» e «BP», não são esclarecidas no texto seguinte, foi necessário pesquisar o seu significado em glossários de siglas, de maneira a saber se era necessário traduzir estas siglas. A sigla «USP» refere-se a «United States Pharmacopeia» que é um nome que não tem uma tradução oficial em português, mas que por vezes é traduzido. No entanto, a sigla nunca é traduzida, por isso, decidi não traduzi-la.

No caso da sigla «BP», que se refere à «British Pharmacopeia», existem vários resultados com a tradução «Farmacopeia Britânica» e, até mesmo, com a tradução da sigla como «FB», todavia, os resultados eram poucos e não muito fiáveis. Assim, optei igualmente por não traduzir esta sigla.

Outra sigla que surge sem qualquer elucidação é a sigla «AUC» presente nos FI1 e FI6. Esta sigla significa «area under the curve», cuja tradução em português é «área sob a curva». E por causa disso, tive a intenção de utilizar uma tradução que não utilizasse a sigla, no entanto, decidi utilizar a sigla em inglês, visto que é a forma mais usual de utilização desta sigla em textos portugueses.

Uma outra sigla presente no FI1 é a sigla «ACE», que significa «angiotensin-converting enzyme». Porém, neste caso a sigla foi traduzida para «ECA», visto que existe uma tradução equivalente em português que é sempre utilizada.

A sigla «NQ», presente no FI6, foi mais difícil de resolver, pois não consegui encontrar nenhum significado para esta sigla que fosse satisfatório e que se encaixasse neste contexto, até

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que, através de pesquisas no website do laboratório fabricante, cheguei à conclusão de que «NQ» era uma sigla que se referia ao nome do laboratório fabricante A e também encontrei textos da área farmacêutica que referiam as «especificações do laboratório fabricante». Desta forma, a sigla não poderia ser traduzida.

A sigla «GERD» (FI4) foi mais fácil de traduzir, pois antes da sua primeira ocorrência, já existia uma explicação do seu significado, o que facilita a pesquisa da tradução em português. Para além disso, a sigla pode ser traduzida para português como «DRGE», que foi a opção pela qual optei. A mesma situação acontece com a sigla «NSAID» (FI7), que significa «Non-Steroidal Anti- Inflammatory Drugs» e que é traduzida como «AINE». Contudo tem uma particularidade interessante, pois a palavra «fármaco» («drug» em inglês) não é incluída na sigla e, como tal, decidi adicionar a palavra «fármaco» antes do termo «anti-inflamatórios não esteroides».

Por fim, o caso da sigla «CSF» (FI8) foi desafiante, visto que também não existe uma explicação da sigla no texto:

Exemplo 4 (FI8):

EN: «It crosses both inflamed and non-inflamed meninges, generally achieving therapeutic

concentrations in the CSF.»

PT: «Atravessa as meninges inflamadas e não inflamadas, geralmente atingindo

concentrações terapêuticas no LCR.»

Assim, tive de pesquisar o significado da sigla e segundo os resultados obtidos, esta poderia significar «Cerebrospinal fluid» («líquido cefalorraquidiano» em português). Mas como não tinha a certeza tive de ler alguns artigos sobre o líquido cefalorraquidiano para perceber exatamente o que este era e se fazia sentido no contexto da frase do Exemplo 8. Assim que tive a certeza de que o termo «Cerebrospinal fluid» se encaixava na frase, decidi utilizar a tradução da sigla em português, «LCR».

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