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Parecer n.º 46/2010 Data: Processo n.º Queixa de: Entidade requerida: I - Factos e pedido

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Parecer n.º 46/2010 Data: 2010.02.24 Processo n.º 29/2010

Queixa de: (…), Companhia de Seguros de Vida, S.A. Entidade requerida: Instituto Português de (…)

I - Factos e pedido

1. A (…), Companhia de Seguros de Vida, SA, através do respectivo médico conselheiro, solicitou ao Instituto Português de (…) o preenchimento de atestado médico, que anexou, “com menção da data de diagnóstico da dislipidémia e tratamentos efectuados”.

Referiu que o atestado respeita a uma sua segurada e que “é essencial a uma companhia de seguros, sobretudo do Ramo Vida, o conhecimento de todos os factos do dossier clínico de um cliente, quando existe a possibilidade de pagamento de um capital consequente do mesmo”.

Acrescentou que ao pedido anexou “cópia da proposta de subscrição, onde a Cliente declara que autoriza qualquer médico e/ou Hospitais/Clínicas a facultar à companhia de seguros (…) toda e qualquer informação que possa necessitar, tendo a garantia de confidencialidade”.

2. O Instituto Português de (…), indeferiu o pedido, uma vez que como a “titular dos dados já faleceu, não é possível obter, agora, o respectivo consentimento escrito”, nos termos em que se encontra previsto no artigo 6.º, n.º 5 da Lei n.º 46/2007, de 24 de Agosto.

Acrescentou que de acordo com as Deliberações n.ºs 51/2001 e 72/2006, da Comissão Nacional de Protecção de Dados “não existe fundamento legal para o fornecimento da documentação clínica aos beneficiários de um seguro de vida para a entregarem à seguradora”, que “a partir da morte dos segurados, os beneficiários dos contratos de seguro de vida têm um direito subjectivo às compensações e as companhias de seguro têm o dever de pagar as referidas compensações” e que “aos familiares é permitido, em geral, aceder ao relatório da autópsia ou à causa da morte e a certos dados pessoais da esfera dos titulares falecidos, só nos casos em que haja direitos e interesses relacionados com a responsabilidade civil, disciplinar ou penal dos prestadores de cuidados de saúde”.

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Informou ainda que o Instituto de Seguros de Portugal “em comunicação formal, já demonstrou concordância com a forma de actuação” do Instituto Português de (…)“ neste tipo de situação”.

3. Face ao teor da resposta, a requerente, através de advogado, apresentou queixa à CADA.

4. À queixa juntou cópia de “Declaração de Saúde (Informação Confidencial)”, subscrita pela segurada, na qual declara que não se encontra “de baixa por doença ou acidente, nem sob tratamento médico”.

Na mesma declaração é referido que “[s]e as afirmações (…) forem correctas, o Contrato encontra-se aceite e o prémio pode ser automaticamente debitado na conta do cliente. No caso contrário, a proposta deverá ser enviada ao (…), Companhia de Seguros de Vida, S. A., para a respectiva análise. Caso seja aceite, o prémio será cobrado posteriormente”.

E acrescenta que “[e]sta declaração de saúde é válida por 3 meses após a data do seu preenchimento. Findo este prazo de 3 meses, e no caso de as Condições Particulares não serem emitidas, a (…), Companhia de Seguros de Vida, S.A. reserva-se o direito de solicitar preenchimento de nova declaração de saúde pela Pessoa Segura”.

Mais declarou “[a]utorizar expressamente qualquer médico e hospitais/clínicas a, mesmo após a ocorrência de um sinistro coberto pelo Contrato de Seguros, facultar à Seguradora, através do seu médico conselheiro, toda e qualquer informação que possa necessitar, com garantia de confidencialidade”.

Juntou ainda cópia das condições gerais e especiais do “seguro de vida crédito ao consumo”, subscritas pela segurada.

Quanto às condições gerais, sobre o pagamento das importâncias seguras, refere o ponto 9.2 que a seguradora “reserva-se o direito de solicitar elementos adicionais de informação ou proceder às averiguações que entenda convenientes para melhor esclarecimento da natureza e extensão das suas responsabilidades, sem prejuízo do ónus da prova impender sobre os beneficiários das garantias”. No ponto 4 das condições especiais são referidas as situações em que a seguradora não garante o pagamento das importâncias seguras, nomeadamente caso o falecimento da Pessoa Segura seja devido a “acidentes ou doenças anteriores à data da entrada em vigor deste seguro” (alínea l) do ponto 4) e no ponto 6.2, alínea c), é referido que o pedido de liquidação deve ser acompanhado, entre outros documentos de

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“[a]testado médico onde se declarem as causas, início e duração da doença ou lesão que causou a morte”.

A queixosa refere que o “acesso ao processo clínico dos Segurados tem (…) um duplo objectivo: por um lado, garantir à Seguradora a possibilidade de atestar a causa e circunstâncias em que ocorreu a morte do Segurado; por outro atestar que as suas declarações de saúde aquando da celebração do contrato eram verdadeiras”.

E, tendo a segurada consentido “de forma livre e informada, expressa e específica o acesso ao seu processo clínico, por parte da Seguradora, através do seu médico conselheiro”, estão reunidos os requisitos previstos no artigo 6.º, n.º 5 da Lei n.º 46/2007, de 24 de Agosto.

5. Chamado a pronunciar-se sobre a queixa apresentada, o Instituto Português de (…) reafirmou a argumentação que fundamentou o indeferimento do pedido.

Referiu que “o facto de na queixa apresentada estar referido que a titular dos dados pessoais, em vida, assinou uma declaração de saúde, esse eventual consentimento perdeu a validade com a morte, já que nesse momento cessaram os efeitos da declaração, mas mantêm-se os direitos inerentes ao sigilo, à reserva da vida privada e da intimidade”.

Segundo o Instituto Português de (…) “[d]ado que aquela declaração de saúde não é inequívoca não poderá ser tida em consideração como pertinente para o fornecimento da informação na medida em que quando foi prestada não foi para o fim que agora se pretende e como tal não se trata de uma declaração que configure um verdadeiro consentimento expresso, preciso e determinado para que possa ser tida como uma vontade esclarecida da titular em auto-restringir a sigiliosidade dos seus dados de saúde, após a sua morte. Quando muito aquela declaração produz efeitos durante os três meses convencionados (cfr. Declaração de Saúde enviada pela Seguradora)”.

E acrescentou que “a seguradora não está munida de uma autorização escrita válida da titular dos dados de saúde e também não demonstrou um interesse directo, pessoal e legítimo suficientemente relevante segundo o princípio da proporcionalidade, pois quando pretende invocar esta segunda situação, remete para as condições gerais do contrato de seguro que ela própria estabeleceu com a titular, no âmbito de um empréstimo bancário que não é seguramente face à lei mais ponderoso do que o dever de sigilo do processo clínico. Caso se entendesse fornecer os dados, estar-se-ia a violar o princípio da proporcionalidade, pois no

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confronto entre aquele suposto interesse à informação e o direito fundamental à reserva da vida privada, este tem de prevalecer sobre aquele”.

II - Apreciação jurídica

1. A entidade requerida encontra-se sujeita à Lei n.º 46/2007, de 24 de Agosto, Lei do Acesso aos Documentos Administrativos (LADA), nos termos da alínea d) do n.º 1 do artigo 4.º.

Serão deste diploma os preceitos normativos mencionados posteriormente sem outra referência.

2. Considera-se nominativo o documento administrativo que contenha, acerca de pessoa singular, identificada ou identificável, apreciação ou juízo de valor, ou informação abrangida pela reserva da intimidade da vida privada (alínea b), n.º 1, artigo 3.º).

3. São de carácter nominativo, e portanto de acesso reservado, os documentos que contenham informação do género daquela cujo acesso vem pedido, uma vez que se reportam a matéria abrangida pela reserva da intimidade da vida privada.

Os documentos nominativos são comunicados, apenas: a) À pessoa a quem os dados digam respeito;

b) A terceiros munidos de autorização escrita ou que demonstrem possuir interesse directo, pessoal e legítimo no acesso (n.º 5 do artigo 6.º).

4. Nos termos do artigo 2.º, n.º 3, “[o] acesso a documentos nominativos, nomeadamente quando incluam dados de saúde, efectuado pelo titular da informação, por terceiro autorizado pelo titular ou por quem demonstre um interesse directo, pessoal e legitimo, rege-se pela presente lei”.

Sobre a aplicação da LADA ao acesso a informação de saúde respeitante a terceiros já falecidos a CADA pronunciou-se nos Pareceres n.ºs 274/2007, 36/2008 e 87/2008.

No caso particular da informação a facultar às seguradoras (ou aos beneficiários do seguro, para posterior entrega às mesmas), a CADA, no Parecer n.º 348/2007 referiu o seguinte:

“2. Quanto ao acesso a informação de saúde de segurados já falecidos, por parte dos respectivos beneficiários, esta Comissão tem emitido pareceres favoráveis nas seguintes circunstâncias:

- Quando o segurado, ao subscrever o contrato de seguro, autorize a seguradora a conhecer, após o seu falecimento, essa informação.

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A autorização deve constar do contrato de seguro ou documentos anexos ao mesmo, como as condições particulares e gerais da apólice (documentos esses que devem ser solicitados aos requerentes, para efeito de instrução do processo). O acesso ocorre nos termos aí previstos, e tendo em conta que os dados pessoais não podem ser utilizados para fins diversos dos que determinam o acesso (cfr. artigo 8º, nº 2 da LADA).

- Quando, na ausência de tal autorização, o requerente, demonstre interesse directo, pessoal e legítimo no acesso, relevante segundo o princípio da proporcionalidade. Esse interesse directo, pessoal e legítimo (cfr. artigo 6º, nº 5 da LADA) é aferido, caso a caso, pela entidade requerida. Essa aferição levará ao deferimento, ao indeferimento ou à satisfação parcial do pedido (cfr. artigo 14º, nº 1, alíneas a) a c) da LADA).

Em caso de dúvida, a entidade administrativa requerida solicita o parecer da CADA, enviando a esta cópia do requerimento e de todas as informações e documentos que contribuam para convenientemente o instruir (cfr. artigos 14º, nº 1, alínea e) e nº 2, 15º, nº 4 e 27º, nº 1, alínea c), todos da LADA).”

De notar que na primeira das situações referidas, o acesso pelas seguradoras (ou pelos beneficiários do seguro) ocorre em razão da existência de uma autorização escrita do titular da informação de saúde e não da demonstração da existência de um qualquer interesse.

5. Relativamente ao acesso à informação de saúde por familiares de segurados falecidos, para instrução de processos junto de seguradoras, o Instituto Português de (…) tem dirigido à CADA pedidos de parecer no sentido de esclarecer dúvidas sobre a possibilidade dessa transmissão (cfr., entre outros, os Pareceres n.ºs 132, 185 e 292/2009).

A CADA, uma vez obtidos os documentos que regulam as condições contratuais dos seguros em causa e apurando que o segurado subscreveu na apólice condições prevendo a obrigação de serem apresentados à seguradora certos documentos nominativos a ele respeitantes, dos quais consta informação de saúde, tem entendido que tal subscrição equivale a autorização escrita para a seguradora, directamente ou através dos beneficiários do seguro, ter acesso a tais documentos. Aliás, nesses pedidos de parecer o Instituto Português de (…) tem referido sempre que lhe parece “de admitir a legitimidade do acesso aos dados em causa, tendo em conta os objectivos e interesses invocados e desde que a utilização da informação facultada se limite à respectiva satisfação”.

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6. No caso em apreço a segurada, num primeiro momento, subscreveu uma declaração de saúde referindo que não se encontrava “de baixa por doença ou acidente, nem sob qualquer tratamento médico”.

No mesmo documento declarou também autorizar expressamente “qualquer médico e/ou hospitais/clínicas a facultar ao (…), Companhia de Seguros de Vida, S.A., toda e qualquer informação que possa necessitar”.

Quanto ao prazo de validade de 3 meses referido na declaração de saúde, essa validade das declarações apenas se esgota no caso de a seguradora não emitir as Condições Particulares dentro desse prazo. E se tal ocorrer, a seguradora ”reserva-se o direito de solicitar preenchimento de nova declaração de saúde pela Pessoa Segura”.

Este entendimento resulta também do ponto 3.1 das condições gerais da apólice, subscritas posteriormente pelo segurado, que refere que “[a]s declarações prestadas pelo Tomador do Seguro e/ou Pessoa Segura, tanto na proposta como nos demais documentos necessários à apreciação do risco, servem de base ao presente contrato”.

Nas condições gerais consta ainda o direito de a seguradora “solicitar elementos adicionais de informação ou proceder às averiguações que entenda convenientes para melhor esclarecimento da natureza e extensão das suas responsabilidades, sem prejuízo do ónus da prova impender sobre os beneficiários das garantias”. Essa possibilidade de solicitar elementos adicionais permitirá, nomeadamente, apurar se se verifica ou não a referida causa de exclusão prevista no ponto 4. alínea l) das condições especiais da apólice, nos termos da qual a seguradora não garante o pagamento das importâncias seguras caso o falecimento da pessoa segura seja devido a “acidentes ou doenças anteriores à data da entrada em vigor deste seguro”. Nas condições especiais é estabelecido ainda que o pedido de liquidação deve ser acompanhado, entre outros documentos de “[a]testado médico onde se declarem as causas, início e duração da doença ou lesão que causou a morte”.

Concordou a segurada com a condição contratual segundo a qual o pagamento das importâncias seguras implica a apresentação de atestado médico.

Ao contrário do referido pela entidade requerida, não se trata de obter o consentimento, uma vez que este já foi facultado. A partir desse consentimento, e na vigência do contrato, que inclui, necessariamente, o momento em que o mesmo pode ser accionado pelos respectivos beneficiários, a seguradora tem o direito de aceder à informação nos termos acordados.

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As condições do contrato livremente estabelecidas, são suficientemente claras para que se considere que existe consentimento expresso e esclarecido.

Torna-se por isso desnecessária a apreciação da existência ou não de um interesse directo, pessoal e legítimo no acesso.

Face ao exposto, a referida autorização permitirá ao Instituto Português de (…) facultar à queixosa a informação de saúde requerida para instrução de processo de pagamento do capital respeitante ao seguro de vida.

Deve, por isso, o Instituto Português de (…) facultar o acesso requerido.

7. A Administração não está, nos termos da LADA, obrigada à elaboração de documentos com o fim exclusivo de satisfazer o direito de acesso dos cidadãos, nem à prestação de quaisquer outras informações para além das previstas no artigo 5.º. Neste sentido estabelece o n.º 5 do artigo 11.º que “a entidade requerida não tem o dever de criar ou adaptar documentos para satisfazer o pedido”.

Deve, no entanto, facultar o acesso aos documentos dos quais constem as informações requeridas.

8. Conforme dispõe o artigo 8.º, n.º 2, “os documentos nominativos comunicados a terceiros não podem ser utilizados para fins diversos dos que determinam o acesso, sob pena de responsabilidade por perdas e danos, nos termos legais”.

Na situação em apreço o fim que determina o acesso é a instrução de processo respeitante ao pagamento das importâncias seguras.

III - Conclusão

Face ao exposto, deve ser facultada a informação de saúde requerida.

Comunique-se.

Lisboa, 24 de Fevereiro de 2010

Artur Trindade (Relator) - Osvaldo Castro - David Duarte - Diogo Lacerda Machado - João Miranda - Antero Rôlo - Renato Gonçalves - António José Pimpão (Presidente)

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