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Juliana Diniz Gutierres Borges * lattes.cnpq.br/

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Academic year: 2021

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O ATENDIMENTO À INFÂNCIA RIO-GRANDINA COMO MEDIDA DE SEGURANÇA À POPULAÇÃO

DA CIDADE (1900 A 1980)1

Juliana Diniz Gutierres Borges

*

lattes.cnpq.br/4620372286527455

Resumo: Este trabalho é fruto de uma pesquisa que procurou analisar as

práti-cas de atendimento às crianças de zero a três anos que constituíram possibilida-des para a emergência da creche em Rio Grande/RS. O presente artigo foi possibilida- desen-volvido a partir de aproximações com os estudos foucaultianos e visou analisar como o atendimento extradomiciliar destinado à pequena infância foi sendo con-figurado como uma medida de intervenção para minimizar riscos sociais. O es-tudo realiza análise documental de quatro instituições rio-grandinas, delineadas no século XX. No decorrer da análise, destaca os fios de proveniência que se con-figuraram como condições de possibilidade para a emergência das creches em Rio Grande, enquanto espaços pedagógicos, educadores, formadores de condutas e subjetividades infantis.

Palavras-chave: Atendimento; Infância; Medida de segurança. THE RIO-GRANDINA HEALTH CARE AS A SAFETY MEASURE TO THE CITY POPULATION (1900 TO 1980)

Abstract: This work is the result of a research that sought to analyze the

practi-ces of care to children from zero to three years that were possibilities for the emer-gence of day care in Rio Grande/RS. The present article was developed based on approximations with the Foucaultian studies and aimed to analyze how the ex-tradomiciliar care destined to the small childhood was being configured as an in-tervention measure to minimize social risks. The study carries out documentary analysis of four rio-grandine institutions, outlined in the twentieth century. In the course of the analysis, it highlights the threads of provenance that were configu-red as conditions of possibility for the emergence of day care centers in Rio Grande, as pedagogical spaces, educators, trainers of conducts and children's subjectivities.

1 Este artigo é resultante de uma pesquisa financiada pela CAPES.

* Doutoranda em Educação na Universidade Federal de Pelotas (Brasil). Contato:

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Keywords: Care; Childhood; Safety measure.

* * *

Este artigo resulta de uma pesquisa que procurou analisar as práticas de atendimento às crianças de zero a três anos que se desen-volveram ao longo do tempo e foram, pouco a pouco, constituindo possibilidades para a emergência da creche no Município do Rio Grande/RS. O presente estudo foi desenvolvido a partir de aproxima-ções com a perspectiva foucaultiana e tem por objetivo analisar o atendimento extradomiciliar destinado à pequena infância, a partir de um recorte histórico compreendido entre as décadas de 1900 e 1980.

Ao olhar para o passado, este estudo procura historicizar deter-minadas práticas que se materializam em documentos e registros lo-cais. Para tanto, consiste em uma análise bibliográfica e documental, que teve como fonte primária a análise de jornais e documentos insti-tucionais localizados em acervos do Município. Para sustentar a aná-lise, o estudo procura aproximar-se mais da genealogia de Foucault, operando com conceitos centrais do domínio ser-poder.

Para melhor situar o lócus do estudo, tecemos uma breve con-textualização do Município do Rio Grande. Este situa-se no extremo sul do Rio Grande do Sul, situado entre a Lagoa Mirim, a Laguna dos Patos e o Oceano Atlântico. Possui área geográfica de 2.709,522 km² e estima-se uma população de 207.036 habitantes.

Em seu processo histórico, Rio Grande foi colonizado pelos por-tugueses açorianos, no século XVIII, sendo inicialmente chamado de Vila do Rio Grande de São Pedro. Somente no século seguinte que re-cebeu a denominação de Cidade do Rio Grande, momento em que passou a ser também o foco de outras imigrações, que viram na loca-lidade um potencial para desenvolverem suas atividades econômicas.

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Torres (2013) pontua que a história da cidade do Rio Grande é marcada por experiências de grande dimensão, porém com durações limitadas. Deste fato, segundo o autor, deriva certa instabilidade so-cial, visto que há momentos em que contingentes populacionais são atraídos em busca de empregos, mas há outros em que esta contin-gência alimenta “uma periferia precária de uma urbanidade básica”. Esses acontecimentos podem ser considerados uma das condições de possibilidade para as primeiras iniciativas de atendimento aos bebês e às crianças bem pequenas no município do Rio Grande.

Até meados do século XIX, o atendimento à infância na cidade do Rio Grande caracterizou-se por uma fase caritativa. Esta permeou as práticas de assistência realizadas na época também em âmbito na-cional. A partir do final da década de 1890, o assistencialismo, tanto no Brasil como em Rio Grande, foi caracterizado por uma outra fase, denominada de filantrópica. Não se tratava mais de uma ação carita-tiva, mas de uma filantropia científica, fundamentada em princípios higiênicos, considerados como progressistas.

É evidente que essa transição não se deu de forma imediata, mas gradualmente. Considerando isso, o propósito das próximas seções é evidenciar a inserção gradativa do higienismo nas práticas de atendi-mento às crianças de zero a três anos, a ponto de configurar-se como medida de segurança à população rio-grandina.

Casa das Órfãs e desvalidas São Benedito (1900)

Na virada do século XIX para o XX, a cidade do Rio Grande tor-nou-se um local privilegiado de análise por ser um dos principais nú-cleos urbanos do Estado que recebia um número elevado de imigran-tes e encontrava-se vulnerável a uma série de doenças, pesimigran-tes e epide-mias. Estas doenças, em especial a febre amarela e a varíola, desenca-dearam uma grave crise nas esferas econômica, política e social desta cidade.

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Jornais locais publicados naquela época oferecem um pano-rama das condições de vida da população, ao noticiarem o caos en-frentado pela cidade:

[...] A epidemia existente na cidade do Rio Grande apre-senta-se com o caráter de uma moléstia infecciosa [...] foi se propagando vagarosa, mas invasora, de porta em porta, de casa em casa, de tal sorte que só a rua Francisco Marques oferecia nos meses de abril e maio, uma letalidade de perto de 14 pessoas, dando-se em algumas casas mais de um. [...] O quadro mórbido que vos acabo de expor, só tem um equi-valente em nosologia médica, o da febre amarela. Qualquer que seja, porém, o diagnóstico que se lhe queira dar, não resta a menor dúvida de que se trata de uma enfermidade infecciosa, epidêmica, de prognóstico sério, pois que se cal-cula de 25 a 50% o número de casos fatais e contra a qual acho prudente que nos acautelemos se não a quisermos ter amanhã dentro dos muros desta cidade. 9 de junho de 1900 (Diário do Rio Grande, 22/06/1900).

Com o elevado índice de mortalidade existente naquela época, muitas crianças ficaram órfãs. O jornal Echo do Sul anuncia essa ca-lamidade, ao noticiar óbitos de pais e mães e conclamar à comunidade rio-grandina que se compadecesse das crianças que ficavam à mercê da orfandade:

Victimada pela varíola sucumbiu esta madrugada, sendo pela manhã dada á sepultura, D. Rosária Gadanha, de naci-onalidade italiana, moradora á rua Benjammin Constant n. 58. Aquela senhora era casada e deixa 8 filhos menores, en-tregues á miséria, pois seu marido vive da venda de bilhetes, luctando contra mil dificuldades [...] (Echo do Sul, 29/08/1904).

[...] Theodoro Alves, a víctima infeliz da varíola que a morte arrebatou, deixando seis desgraçadas creanças no mais hor-rível abandono e attacada do mesmo terrorífico mal [...]. Ja-mais se reuniram tão estreictamente, em convívio horripi-lante, como agora, as três origens do infortúnio: miséria, doença e orfandade! (Echo do Sul, 13/09/1904)

Frente a essa situação, como medida provisória, foi instalada na cidade do Rio Grande a Casa das Órfãs e desvalidas São Benedito para acolher as crianças que estavam ficando desamparadas.

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Consideran-do que há três anos a Roda de Expostos da cidade havia siConsideran-do extinta, pensou-se então em outra alternativa para atender essas crianças. As-sim, “Inaugura-se o Asylo de Órphãs denominado São Benedito. O es-tabelecimento pio funciona à rua Yatahy 64 e conta já com doze cre-anças recolhidas é directora Maria Faustina Viana” (Echo do Sul, 26/01/1900).

É importante atentar para o fato de que, a partir do momento em que as crianças passam a ser concebidas como parcela de uma po-pulação – “a infantil” -, outras relações de governamento vão sendo configuradas. Como menciona Corazza (2000, p.71), inaugura-se uma nova forma política que incorpora a antiga tecnologia de poder pasto-ral, originada nas instituições cristãs, mas que a amplia por todo o corpo social, “encontrando apoio não mais em uma instituição religi-osa, mas numa multiplicidade institucional, do qual fará derivar sua tática individualizante, a um só tempo pastoral e política”.

Um relatório de 8 de outubro de 1901, contido no acervo do Ar-quivo Municipal traz detalhes sobre essa instituição e pode oferecer elementos importantes para a compreensão dessa nova racionalidade política que se inicia:

A denominação effetivamente adaptada foi a de “Casa das Orphãs e Desvalidas de S. Benedito”, porque, realmente, pretendia-se e pretende-se estabelecer com modos propor-cionados e separados, onde tenhamos abrigo as orphãs que não têm amparo paterno e as desvalidas que estão privadas de decorros mais immediatos. A actual casa é, porém de proporções muito exígua e necessário se torna obter recur-sos para amplial-a. A denominação pela qual o pequeno es-tabelecimento é geralmente conhecido de “Asylo de S. Be-nedito” não altera, no entretanto, os fins em projecto e em andamento de “Casa das Orphãs e Desvalidas”, porquanto a realização dos maiores benefícios for-se-ha tão logo como as circunstancias mais prosperas a permittam.

Naquela ocasião, já constavam na instituição quinze meninas com idades entre zero e quinze anos, conforme o relato abaixo:

Assim é que consta actualmente n’este “Asylo” 15 orphãs de menor idade de 15 annos; tendo já encaminhado 3 para

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serem educadas em outros estabelecimentos de maiores re-cursos, mas ainda por conta d’este Asylo, e mais 2, maiores, empregados em casas de família. – Entre as actuais consiste uma de 12 annos, que entrou tão doente e rachitica, que mal podia caminhar e falar: hoje. Mercê de Deos, o seu estado physico é muito outro e já trabalha e estuda , porque, n’esta humilde casa apprende-se tudo quanto é possível appren-der-se, em primeiras letras e em serviços domésticos. Uma outra de 6 annos de idade, aleijadinha e paralytica das per-nas, já ‘vai’ melhorando e já apprende alguma coisa, sendo, como é intelligente.

No decorrer do relatório, a ênfase recai sobre o atendimento às crianças menores de três anos.

Uma de 3 annos há poucos dias entrada, foi trazida pela própria mãe, quase cadáver, dizendo que pedia a sua admis-são para não ver morrer a filha. O seu estado é tão crítico de desfallecimento completo, que ainda não fala nem caminha. A´ esta infeliz criaturinha só a Divina Providência, com a sua Misericórdia poderá dar vida!... Uma outra inocente de um anno, muito doentinha, foi aceita, apezar de não ser or-phã porque os seus pobres pais não a podem manter regu-larmente. E, finalmente, a uma outra de 6 mezes, também doentinha, não era possível negar a caridade, nas tristes cir-cunstancias em que foi apresentada.

Na sequência do documento, é feito menção a uma ajuda de custo oferecida pela Intendência Municipal e que foi aplicada aos gas-tos com medicamengas-tos.

A subvenção que o Asylo tem de receber d’essa digníssima Intendencia, da importância de 500.000 réis, vai ter uma applicação justificada: servirá para ser amortisada a pezada divida que o estabelecimento já tem, de remédios para tan-tas infelizes, e divida que já monta a´maior valor, em mais de uma pharmacia.

É importante reiterar que no contexto social da época, inaugu-rava-se um cruzamento do discurso religioso com o discurso cientí-fico, que naquele momento avançava significativamente, com “o pro-gresso da física e da química, e da própria bacteriologia, iniciada por Pasteur e Koch, modificando até mesmo as concepções das doenças

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-, quando se procura combater os miasmas e os microorganismos-, me-dicar e sanar” (CRUZ, 2001, p.92).

Nesse entrecruzar de discursos e concepções, as práticas carita-tivas e de benemerência às crianças asiladas ainda assumiam desta-que, como registra o relatório da Casa das Órfãs e Desvalidas de São Benedito:

O “Asylo”, tem sobre o seu pobre tecto, uma boa comapa-nheira de trabalhos, preta, de 40 e tantos anos de idade, que entrou desvalida, doente, sem recursos, e que hoje não se pode considerar tal, porque já tem prestado e está pres-tando bons desinteressados serviços ao estabelecimento: o que me e´grato communicar. [...] Occórre, ainda, que o Asylo, segundo se vê pela circular inclusa, não se limita a´manutenção propriamente das asyladas, que ao mesmo tempo recebem uma modesta instrucção intelectual e do-mestica como também soccorro, quanto possível, segundo as fracas forças de que dispõe, as pobres externas, inclusive a chamada pobresa envergonhada, em seus tristes anceios de miséria. E esta, infelizmente, e´bem conhecida por todos quantos, nas vagas dos seus trabalhos sociais, têm o coração piedoso instigando-os a´visita dos albergues das desvali-das, para lá conhecerem quanto dóe, moral e physicamente, a necessidade, a fome, o frio e a doença, dór, enfim, do corpo e da alma! A infrascripta leva mais longe de que de-veria estas considerações, porque sabe que falla á um cora-ção já provado na caridade com que tem se dignado prote-ger o nobel Asylo.

Frequentemente, o jornal local emitia notas que elucidavam crí-ticas à Intendência Municipal, quanto às condições de vida da popu-lação desta cidade:

Quando se esperava o declínio espontâneo das epidemias que balanceiam a alma rio-grandense, eis que os elementos de destruição recrudescem assustadoramente, à sombra da revoltante indiferença de todos quantos tem a obrigação imperiosa de zelar pela saúde pública! É tétrico, horrível e inenarrável o que se passa! Enquanto traçamos estas linhas, por entre as comoções que a piedade nos desperta, quantas lágrimas, quantos suspiros doloríssimos, quantas dores, quanto luto vai por esse Rio Grande desolado! (Echo do Sul, 12/06/1905).

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Esse jornal é incisivo ao relatar que as condições precárias de higiene, os cortiços aglomerados e insalubres, e a ausência de inter-venções saneadoras foram condições facilitadoras para a proliferação da varíola nesta cidade, tal como ilustra a publicação a seguir:

As carroças que fazem o serviço de remoção escolheram atualmente para despejo do lixo um lodaçal existente no fim da rua Zalony, além da antiga praça das carretas. Os resul-tados dessa imprudência far-se-ão sentir inevitavelmente no futuro. Condenada pela ciência a prática de aterrar ruas com lixo, ela não devia ser mantida, máximo numa situação sanitária deplorável como a que atravessamos (Echo do Sul, 07/05/1905).

Ao mesmo tempo em que apontava para as ações sanitárias como solução para a cidade, esse mesmo jornal também incentivava os rio-grandinos a buscarem a intervenção divina:

Haverá na próxima sexta-feira uma procissão de preces para que a Misericórdia Divina se compadeça desta popula-ção flagelada pela varíola, que tem ceifado tantas vidas pre-ciosas e enlutado inúmeras famílias. O préstito religioso se deslocará da igreja Matriz, às 5 horas da tarde, figurando neles os andores do Coração de Jesus e de N.S. do Rosário, este carregado pelos respectivos irmãos e aqueles pelas ze-ladoras do Apostolado da Oração (Echo do Sul, 31/01/1905).

Podemos perceber aqui, um desejo de evitar a morte na cidade, porém as causas das doenças recém estavam começando a ser desco-bertas, assim como as práticas de prevenção necessárias e as medidas para combatê-las. Por esse motivo, as instituições sanitárias apare-cem nesse contexto muito mais como fonte de fiscalização do que de cura.

O contexto da época nos ajuda a compreender que as práticas de atendimento às crianças na Casa das Órfãs e Desvalidas de São Be-nedito, em Rio Grande, combinavam caridade e filantropia. Com isso percebemos que não se trata, portanto, de um processo de substitui-ção de uma pela outra. Afinal, práticas caritativas continuam exis-tindo ainda hoje em instituições de atendimento à pequena infância.

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Esse fato evidencia que há continuidades históricas e, ao mesmo tempo, ênfases diferentes sobre essas práticas, de acordo com as ver-dades de cada época. Por isso, no período de virada do século XIX para o XX, vemos que verdades religiosas continuaram norteando as práticas de atendimento às crianças nessa cidade, mas também outras verdades começaram a circular – como as instituídas pela ciência mé-dica e sanitarista –, conduzindo os costumes e as atitudes da popula-ção em geral, trazendo implicações específicas sobre a populapopula-ção in-fantil.

De acordo com os registros encontrados, a Casa das Órfãs e Des-validas de São Benedito foi inaugurada do ano de 1900, sendo possi-velmente a primeira instituição de atendimento à infância criada em Rio Grande após a Proclamação da República. Essa nova forma de re-gência do país entendia que era preciso definir uma política de saúde pública, já que as cidades estavam se expandindo desordenadamente e as doenças se proliferando por toda a parte.

Nesse contexto de ideias de saneamento atrelado ao progresso, a Intendência Municipal buscou o apoio do engenheiro sanitarista Sa-turnino de Brito para a construção de um plano de saneamento para essa cidade. O projeto partia do seguinte lema “sanear para atingir o progresso” e apresentava soluções para a resolução do problema de abastecimento de água e rede de esgotos na cidade.

Contudo, apesar deste momento ter sido de intensos movimen-tos de higienização em prol da vida, sustentado pela produção de sa-beres científicos, em 1918, o nível de mortalidade no Município supe-rou o de natalidade. De acordo com Torres (2009, p. 85), naquele mo-mento se registrava “altíssima mortalidade infantil: 670 foi o número de crianças mortas abaixo de 2 anos, ou seja, 48,24% dos nascimen-tos”.

Ao olhar para esses dados, percebemos a relação de imanência entre os acontecimentos. Partindo do pensamento foucaultiano, po-demos dizer que não se trata aqui de uma relação de causa e conse-quência, nem de uma sucessão ligando práticas separadas. Pelo con-trário, percebemos aqui a simultaneidade, a coincidência, a presença

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mútua de acontecimentos que compõem essa história. A história não é, portanto, algo calmo que se dê de forma linear onde um aconteci-mento aparece após o outro, estabelecendo uma grande continuidade. Longe disso, a história se dá através de embates, de tensões, nos con-flitos, nos desvios e na dispersão dos acontecimentos.

Compreendendo isso, passaremos a abordar sobre o momento histórico em que a ênfase sobre as práticas de atendimento à pequena infância, em Rio Grande, baseadas na filantropia higiênica adquiriu uma visibilidade ainda maior. Nesse contexto veremos que o saber es-tatístico, por exemplo, foi colocado em funcionamento como uma po-tente tecnologia para o gerenciamento dos riscos sociais. Um exemplo disso, foi o mapeamento realizado na cidade do Rio Grande na década de 1930, que conduziu à criação de um dispensário infantil no bairro Cidade Nova para intervir nessa zona considerada, na época, como de risco à população desta cidade.

Dispensário infantil Augusto Duprat (1932)

Como vimos, desde o final do século XIX, a ação sanitária do Estado mobilizou-se a combater as epidemias na cidade do Rio Grande. Médicos sanitaristas, influenciados pelos conhecimentos da bacteriologia e da teoria miasmática, desenvolveram campanhas de higienização da cidade. Dentre as ações empreendidas estavam: o iso-lamento hospitalar dos doentes e as desinfecções; e ações de melhoria da salubridade do município (CRUZ, 2001).

Nesse outro momento histórico, o corpo da criança passa a ser percebido como “necessário para as novas relações comerciais, para a riqueza econômica, para o novo sistema de crédito, para as possibili-dades culturais e artísticas, para a urbanidade, a civilidade, as boas maneiras” (CORAZZA, 2000, p. 70).

Os médicos-higienistas passaram a desenvolver estudos acerca da epidemiologia e indicavam o que deveria ser feito, em termos de

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higiene, para combater o proliferamento das doenças na infância. Além disso, a puericultura era considerada como uma forma privile-giada de divulgação de normas racionais de cuidados à infância (KU-HLMANN JR., 2011). Essa concepção influenciou as instituições de atendimento à criança pequena até as últimas décadas do século XX, principalmente, no que tange às criações das creches.

Uma das instituições de atendimento à infância criada no mu-nicípio do Rio Grande com traços dessa nova concepção foi o Dispen-sário Infantil Dr. Augusto Duprat2, fundado em 1932.

Figura 1 - Dispensário Infantil Dr. Augusto Duprat (Vista exterior). Fonte: Acervo pessoal da diretora da instituição Oscarina Mendes Freitas.

2 Atual “EMEI Casa da Criança Doutor Augusto Duprat”, situada na rua Bento Gonçalves, 179 – bairro Cidade Nova.

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Estando à cargo da Santa Casa do Rio Grande, o Dispensário Infantil Dr. Augusto Duprat constituiu-se em “uma Instituição de as-sistência sanitária, de proteção á saúde da criança e de amparo á ma-ternidade” (Certidão nº3/1946).

Rodrigues (1985, p. 74) aponta que o fundador desse Dispensá-rio, o Doutor Augusto Duprat, foi:

[...] cientista que por mais de 40 anos se dedicou à Santa Casa como verdadeiro apóstolo [A ele] deve-se em grande parte a evolução do hospital. ‘A nossa Santa Casa, escrevia ele, há muito deixou de ser um mísero albergue onde se dava um lençol, um bocado de pão ao faminto e uma oração à alma do que pedia, à caridade um enxerga onde morrer para se tornar no mais elevado expoente dos nossos foros de povo civilizado

Nessa citação, o médico aparece com um papel fundamental para o progresso. Pode-se dizer que o surgimento do Dispensário In-fantil se constitui em uma iniciativa que carrega em si a ideia de uma “intervenção científica”.

Em relatório apresentado pela diretoria da Sociedade Mantene-dora do Dispensário, relativo à gestão de 1945, fica claro que a criação desta instituição foi baseada em uma iniciativa do Governo Federal, tal como está expresso a seguir:

[...] O caráter nacional desta instituição que sob feliz inspi-ração do governo federal foi creada para alívio das necessi-dades mais vitaes das nossas populações pobres, veio trazer á iniciativa particular até então quasi isolada no seu mister, o concurso poderoso do governo á tarefa da assistencia so-cial (Relatório da Gestão, 1945).

Trata-se de uma estratégia nacional de gerenciamento dos ris-cos de vida e de governamento da população infantil brasileira. Nesse contexto, a criança, seu corpo e sua vida se configuraram como um alvo de variados campos do saber. Dentre eles, o da Estatística.

O quadro abaixo, por exemplo, consiste em uma compilação dos dados estatísticos contidos no relatório da gestão. Evidencia o

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número de crianças, por idades, ingresso na instituição em 1945, bem como o número de crianças atendidas no ano.

Quadro 1: Estatística de 1945. Fonte: Acervo Municipal.

Sociedade Mantenedora do Dispensário Infantil Dr. Augusto Duprat

Consulentes ingressados por idades Consulentes atendidos durante o ano

Idades

Sexos

Total Idades

Sexos

Total

Masculino Feminino Feminino Masculino

0 a 1 ano 156 139 295 0 a 1 ano 97 298 395 1 a 2 anos 52 48 100 1 a 2 anos 36 41 77 2 a 3 anos 34 29 63 2 a 3 anos 133 116 249 3 a 4 anos 22 23 45 3 a 4 anos 111 108 219 4 a 5 anos 23 25 48 4 a 5 anos 90 98 188 5 a 6 anos 19 16 35 5 a 6 anos 62 73 135 6 a 7 anos 13 16 29 6 a 7 anos 55 82 137 7 a 8 anos 21 18 39 7 a 8 anos 47 75 122 8 a 9 anos 13 16 29 8 a 9 anos 58 63 121 9 a 10 anos 12 18 30 9 a 10 anos 79 93 172 Acima de 10 61 74 135 Acima de 10 181 275 456 TOTAL 433 415 848 TOTAL 1.049 1.222 2.271

Vale ressaltar aqui que o saber da Estatística se constituiu, a partir da Modernidade, como um campo produtivo para o governa-mento das populações. Por meio dela, foi possível numerar, quantifi-car, analisar, categorizar, agrupar, para melhor intervir e controlar. Ela se configurou, de fato, como um saber operante da racionalidade da época, como se pode depreender neste relato, presente no boletim de informações do Ministério da Educação e Saúde Pública, de 1946, localizado no Arquivo Municipal desta cidade:

O pensamento moderno é notavelmente quantitativo, tanto em procedimento como em resultados. Já não podemos contar com as fórmas de pensamento que serviram á

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humanidade desde Aristóteles até Huxley – baseada nas ca-tegorias dialéticas e silogismos. Possuímos uma lógica dife-rente da dos nossos antepassados – uma lógica baseada nos números (Boletim de Informações, 1946, p. 1).

O Quadro 1 é um exemplo de uma descrição estatística da época que, por meio de cálculos quantitativos, expressa a situação do aten-dimento à infância naquela instituição. Esses cálculos servem para apresentar um panorama do atendimento naquele ano como, por exemplo, que a maior parte (54%) das crianças que ingressou naquela instituição tinha entre zero e três anos.

Podemos perceber também que a partir desses cálculos, que permitiram observar o perfil etário das crianças ingressas, foram pla-nejadas estratégias para atender à população dessa faixa etária de zero a três anos. O Relatório da Gestão de 1945 registra os esforços empreendidos para acrescentar ao Dispensário um posto de puericul-tura, lactário e berçário. Contando com o apoio da Legião Brasileira de Assistência (LBA), este projeto foi incluído no plano geral estabe-lecido pelo Departamento Nacional da Creança.

Para manter-se em funcionamento, a instituição contava com doações voluntárias e do apoio de indústrias instaladas no município, tal como mencionado a seguir:

Por ato da Benemerita diretoria do Banco do Brasil, recebe-mos um donativo de cr$ 10.000.00. Registrarecebe-mos com sa-tisfação também o recebimento do valioso donativo de cr$ 30.000.00 de parte da família do saudoso conterrâneo Dr. Ernesto Otero, grande amigo de Rio Grande e contemporâ-neo do nosso patrono Dr. Duprat. Este gesto expontacontemporâ-neo de filantropia da família daquele distinto engenheiro, enche-nos de conforto e gratidão. [...]. Para a instalaçao do gabi-nete de Oto-rino-laringologia, recebemos dos nossos ben-feitores Industriais de Rennidas Leal Santos S/A, um dona-tivo de cr$ 7.000.00 (Relatório da Gestão, 1945).

Inclusive a distribuição de mamadeiras era proveniente de doa-ções, como as do Observador Naval Norte-americano, Comandante Jess Draper. Outro serviço de mesma relevância era a distribuição da “Sopa Infantil”, que naquele ano, conforme o relatório, “funcionou

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normalmente, distribuindo-se 42.000 sopas. Estes serviços foram mantidos graças ao apoio de diversas firmas”.

Figuras 2 e 3 – O preparo e a distribuição da sopa infantil.

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Aqui podemos ver claramente a filantropia como modelo assisten-cial, fundamentada na ciência. Tal como afirma Kuhlmann Jr. (2011) não se trata de uma prática dominada pela emoção, por sentimentos de sim-patia e piedade, mas de uma “organização racional da assistência”.

Esse momento histórico exigiu, então, um deslocamento nas práti-cas de atendimento à infância em Rio Grande. Haver instituições que aco-lhessem as crianças, batizassem e as conduzissem para a salvação eterna não era mais o suficiente. Para atender a esse novo contexto político que se instalava na cidade (e no país), necessitava-se de instituições que pu-dessem cuidar, curar, prevenir e promover a vida dessas crianças.

Podemos estabelecer aqui uma articulação com o que Foucault (1988) chamou de biopoder. O cenário que passamos a ter é marcado pela preocupação com a vida biológica (e não mais tanto com a espiritual). O corpo da criança, por exemplo, passa a ser visto como instrumento produ-tivo de governo, tanto no aspecto individual quanto nos riscos que ele pode trazer para a população. “Agora é sobre a vida e ao longo de todo o seu desenrolar que o poder estabelece seus pontos de fixação”. (FOUCAULT, 1988, p. 130).

Tratando-se do Dispensário Infantil Dr. Augusto Duprat, os serviços prestados nessa instituição centravam-se nos cuidados básicos canaliza-dos às crianças, filhas de mulheres trabalhadoras das fábricas ou de casas de famílias (domésticas e faxineiras). As práticas focalizavam a guarda das crianças, o cuidado com a higiene e alimentação. Priorizava-se também os cuidados com a saúde da criança, oferecendo atendimento médico, odon-tológico, entre outros.

Através dessas práticas, constantemente, o corpo das crianças era examinado, bem como seus hábitos de higiene e suas atitudes. Acontecia tal como o relato de Lockmann e Mota (2013, p. 104):

Seus dentes, olhos, ouvidos, garganta, unhas, a forma como se vestiam, a aparência e limpeza da roupa, dos cabelos, tudo era examinado com minúcia. Após esse exame médico-pedagógico, as crianças eram ensinadas e educadas a cuidar do seu corpo e da sua higiene a fim de que não representassem um mal nem para si, nem para os outros.

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Encontramos aqui uma espécie de valorização da vida e do corpo bi-ológico. O poder que antes operava pela morte (FOUCAULT, 1988), se exerce agora sobre a vida. Desse modo, há nesta instituição um certo in-vestimento sobre a vida das crianças, através dos seus corpos, como uma possibilidade de operar as mudanças desejadas na população rio-gran-dina.

Nesse contexto, aparece o papel preponderante da disciplina associ-ada à biopolítica nessa instituição, com a intenção de “fazer viver” os cor-pos infantis. Vale salientar que, segundo Foucault (1999, p. 288), essa tec-nologia do biopoder “não exclui a técnica disciplinar, mas a embute, a in-tegra, a modifica parcialmente e, sobretudo, vai utilizá-la implantando-se de certo modo nela, e incrustando-se efetivamente graças a essa técnica disciplinar prévia”. Partindo disso, o Dispensário Infantil encarregava-se (e encarrega-se ainda) da saúde, alimentação e educação dos bebês e das crianças bem pequenas, intervindo para fazê-los viver. Pode-se pensar, portanto, que foi com o entrecruzamento de saberes científicos e pedagó-gicos, que se buscou racionalizar os problemas vividos pela população rio-grandina no que tange à saúde, higiene, natalidade, entre outros aspectos. Essa influência dos saberes científicos sobre a criança foi tão interiorizada que continua se perpetuando nas práticas contemporâneas de forma que não conseguimos ver as práticas educacionais dissociadas dessas bases.

Na próxima seção, tematizaremos sobre as práticas de atendimento à pequena infância em Rio Grande considerando como recorte histórico o período de 1930 a 1964. Nesse contexto social e político, o atendimento à infância ainda não era tido como um direito das famílias nem das crianças, mas como uma boa ação dos proprietários das fábricas, que estariam li-vrando os filhos dos operários de se tornarem delinquentes.

Creche da Rheingantz (1940)

Podemos dizer que o ano de 1930 foi um divisor de águas na história do Brasil, principalmente pela aceleração das mudanças sociais e políticas. Esse cenário configurou-se em um terreno fértil para a emergência das

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creches no país, pois novas definições legais sobre a assistência e a educa-ção de crianças pequenas começaram a ser introduzidas no cenário nacio-nal. Como exemplo disso, podemos citar a consolidação das Leis do Tra-balho que, no artigo 389, determinava que nos estabelecimentos onde tra-balhassem pelo menos trinta mulheres, com mais de 16 anos de idade, de-veriam dispor de local apropriado para os seus filhos no período de ama-mentação.

O atendimento às crianças na cidade do Rio Grande também se en-controu no quadro dessas modificações nacionais. Conforme mencionado anteriormente, o processo industrial no Estado do Rio Grande do Sul ini-ciou pelo Município do Rio Grande quando, em 1873, foi instalada a pri-meira indústria na região: a Fábrica Rheingantz. Por tratar-se de uma in-dústria de tecelagem e a creditar-se que a mão-de-obra feminina seria mais adequada, a classe operária dessa fábrica contou com a presença sig-nificativa de mulheres.

Seguindo a racionalidade política da época, o complexo industrial urbano criado na Rheingantz objetivava a produção e o disciplinamento da mão-de-obra dos trabalhadores de forma que garantisse o trabalho em grande escala. Concernente a isso, Torres (2013) aponta que:

A disposição espacial das casas dos trabalhadores (casas-em-fita), dos engenheiros e técnicos (edificadas conforme o estilo ar-quitetônico de seus países de origem), mostra um plano urbano racionalizado que aproxima o operário de um ambiente perma-nente de convívio com a fábrica e a produção. As casas foram construídas a partir de 1885, sendo alugadas por baixos valores pela empresa aos operários no sentido de buscar uma disciplina permanente dos trabalhadores. [...] A empresa também se voltou à assistência social através da criação de caixas de socorros, as-sistência médica, creches para os filhos de operários e surgi-mento de sociedades beneficentes. Esta série de medidas, busvam também afastar o operário dos movimentos sindicais de ca-ráter socialista e anarquista, que proliferaram a partir da década de 1890 até a década de 1920.

Desde o primeiro ano de sua fundação, a Fábrica Nacional de tecidos de lan de Rheingantz & Vater, como também era chamada, já anunciava em jornais locais a necessidade de mão-de-obra feminina: “Na Fábrica

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Nacional de tecidos de lan de Rheingantz & Vater, precisa-se de mulheres desde a idade de 16 annos para o serviço de tecelagem” (Jornal Rio Grande, 16/03/1874).

De acordo com Alvarez (2014, p. 10), “o emprego da mão de obra feminina justifica a preocupação da direção da fábrica pela construção de creches e escola no seu entorno”. Dessa forma, “garantia uma mão-de-obra mais barata, e evitava eventuais faltas ao trabalho por não ter quem to-masse conta dos filhos durante suas jornadas de trabalho”.

A Creche situava-se na Vila Operária e estava a cargo das Irmãs de São José, que prestavam assistência alimentar, higiênica, médica e educa-cional às crianças pequenas, filhos das operárias da fábrica. Compreende-se, porém, que o atendimento nessa instituição não era considerado como um direito da mulher trabalhadora e de seus filhos, mas como uma dádiva dos proprietários da fábrica.

Percebemos a relação dessas práticas com as palavras de Foucault (1979, p. 151), ao dizer que “existe, de fato, um mosaico bastante variado de todos estes 'trabalhadores sociais’ a partir de uma matriz confusa como a filantropia... O interessante não é ver que projeto está na base de tudo isto, mas em termos de estratégia, como as peças foram dispostas”.

Foucault (1979) ressalta que a prática da filantropia legitimou a in-tervenção de pessoas que passaram a se ocupar da vida dos outros, de sua saúde, de sua moradia e alimentação. Mais à frente, essas funções se cons-tituíram em instituições e saberes, propagando-se algumas categorias de trabalhadores sociais.

Estabelecendo articulações com o pensamento foucaultiano, enten-demos a Creche da Rheingantz como mais uma estratégia de biopoder operando na população rio-grandina. A Creche foi estrategicamente cons-truída de forma adjacente à fábrica, nas proximidades da vila operária. Tal iniciativa pode ser entendida como mecanismo de intervenção, baseada numa nova forma de controlar os espaços, o tempo e os corpos dos operá-rios. Essa forma específica de conduzir as condutas dos funcionários da fábrica evidencia um tipo de racionalidade que gerencia, em nome do bem-estar coletivo, a vida dos trabalhadores.

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No entanto, durante o regime democrático, compreendido entre 1945 e 1964, muitas empresas faliram em Rio Grande, tais como as do grupo Luiz Loréa, do Frigorífico Swift e da Fábrica Rheingantz. Segundo Ferreira (2013), o fechamento da Creche Rheingantz em 1962 e a desati-vação da Sociedade de Mutualidade3 em 1967 foram os dois maiores golpes

na comunidade fabril.

Embora o crescimento industrial tenha atraído muitos trabalhado-res para Rio Grande, foi também motivador para uma série de problemas sociais quando as indústrias faliram. Em contrapartida, nesse contexto, surgiram investimentos na área da pesca, dando início à instalação de em-presas pesqueiras que, de 1960 a 1980, empregaram cerca de 20 mil tra-balhadores.

Nesse novo cenário social do Município, foi criada a creche do Cen-tro Educacional Fraternidade, para atender crianças filhas de mulheres que trabalhavam nas fábricas de pescados.

Centro Educacional Fraternidade (1962) e outras creches no Município (1980)

O Centro Educacional Fraternidade foi criado em 1962, para atender à demanda do bairro Getúlio Vargas, que naquele momento era conside-rado o mais carente do Município. Esse Centro constitui-se, assim, como uma entidade assistencial, em regime de semi-internato, para minimizar os riscos sociais causados pelo aumento da criminalidade.

O Centro Educacional Fraternidade surgiu a partir de uma iniciativa da Escola Normal Santa Joana d’Arc. De acordo com o levantamento esta-tístico daquela época, estimava-se que o bairro Getúlio Vargas fosse o mais 3 A Sociedade Mutualidade dos operários da Companhia União Fabril (CUF) foi fundada em 10 de março de 1881 e tinha, dentre suas atribuições, gerir fundos de auxílio aos trabalhadores. A partir dos anos 1950, passou a funcionar também como cooperativa, na qual os funcionários da empresa podiam adquirir produtos como botijões de gás, tecidos, calçados, etc. Todas as compras eram repassadas ao setor de departamento pessoal da empresa para que fosse feito o devido desconto na folha de pagamento do trabalhador (FERREIRA, 2013, p. 70).

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pobre de Rio Grande e, por esse motivo, foi escolhido como local para a realização do trabalho.

Cabe aqui tecer algumas reflexões sobre as formas como a pobreza foi entendida no decorrer do tempo até chegar à concepção presente no discurso dessa instituição. De acordo com Foucault (1979, p. 94), “foi so-mente no segundo terço do século XIX, que o pobre aparece como perigo”. Antes disso, a existência da pobreza não era questionada nem vista como um problema social. Pelo contrário, por meio da dor e do sofrimento, ela era concebida como um meio de salvação eterna (FOUCAULT, 2010). Pode-se dizer, então, que foi com a emergência dos discursos sanitaristas que o pobre e sua condição de vida foram tidos como prejudiciais à socie-dade. Nesse momento, pelo discurso médico higienista, diagnosticou-se a pobreza como foco de doenças e, pelo discurso jurista, também como pro-liferadora dos desajustes sociais e da criminalidade.

Seguindo essas ideias preponderantes na época, a partir de uma reu-nião realizada em 10 de agosto de 1962, fundou-se em Rio Grande o “Cen-tro Educacional Santa Joana d’Arc”. Qua“Cen-tro anos mais tarde, foi doado pela Prefeitura do Município um terreno no bairro Getúlio Vargas, situado ao lado da escola Alcides Barcelos. Nessa ocasião foi inaugurada a sede própria da instituição, passando a chamar-se de “Centro Educacional Fra-ternidade”.

Nos primeiros anos de funcionamento, o trabalho desenvolvido na instituição teve como público-alvo moças e mães residentes no bairro. O Relatório da Diretoria de 1970 relata como foi essa proposta inicial:

O Centro Educacional Fraternidade, de início atendida principal-mente moças e mães de família que aprendiam, através de cursos de corte e costura, arte culinária, remendos e cerzidos e também flores, enfim tudo que fosse útil para se promoverem na socie-dade [...]”. (Relatório da Diretoria, 1970)

Sendo uma proposta característica dos “tempos modernos”, essas primeiras práticas que nortearam a instituição sugeriam “um ensino cien-tífico e racional para a perfeita dona de casa. O domínio de um saber-fazer doméstico, fundamentado em processos científicos, tornaria essas mulhe-res preparadas para assumir, com competência, os papéis que lhes eram

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reservados na sociedade: esposa e mãe” (ARRUDA, 2011, p. 127). Mais tarde, quando o Centro Educacional passou a atender crianças e adoles-centes, esse princípio continuou permeando as práticas educativas direci-onadas às meninas, como veremos mais à diante.

Depois de contextualizar o propósito inicial do Centro, o mesmo Re-latório da Diretoria evidencia a nova diretriz que passou a nortear o traba-lho, priorizando agora o atendimento específico ao menor4: “O objetivo do

Centro Educacional Fraternidade é promover e atender os necessitados do bairro, recuperando-os social, cultural e economicamente, por meio do trabalho de autoajuda”. (Relatório da Diretoria, 1970)

É possível perceber que a proposta desta instituição emerge de uma racionalidade política que busca gerenciar os riscos da população, nesse caso, a criminalidade. Tomando a pobreza como fonte de risco à popula-ção, a filantropia aparece nesse contexto pelo viés da assistência científica, conforme Kuhlmann Jr (2011). Seguindo essa análise, o autor aponta três eixos dessa organização racional da assistência, os quais serão transcritos a seguir:

[...] a desobrigação do Estado paralelamente ao fortalecimento das entidades privadas, defendendo um atendimento fracionado em múltiplas instituições, atribuindo ao Estado um papel de su-pervisão e subsídio às entidades; a proposição de um ‘método’ para arbitrar quais seriam os contemplados com os atendimentos [...]; e a caracterização preconceituosa da população pobre, atri-buindo um papel educativo à assistência, a fim de evitar as lutas de classes (KUHLMANN JR., 2011, p.24).

Estabelecendo algumas aproximações com esses eixos elencados pelo autor, percebemos que, embora a intenção inicial do Centro Educaci-onal Fraternidade tenha sido manter-se do trabalho voluntário de estu-dantes da escola Joana d’Arc, em seguida passou a depender das verbas públicas para o seu sustento. Naquele contexto, o Centro Educacional 4 Escolhemos utilizar o termo “menor” para fazer referência à concepção presente na época. Entretanto, é importante ressaltar que, após a Constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), esse termo foi substituído pelas palavras “criança e adolescente”, reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos de di-reitos.

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Fraternidade recebeu o certificado para fins filantrópicos e para Título de Utilidade Pública Federal. Tal fato reitera o que Kuhlmann Jr. (2011) des-tacou como um dos eixos da assistência científica.

O segundo eixo da assistência científica, “a proposição de um ‘mé-todo’ para arbitrar quais seriam os contemplados com os atendimentos (KUHLMANN JR., 2011, p.24), pode ser localizado no decorrer do Esta-tuto de 1979. O documento pontua que o atendimento passou a ser ofere-cido àqueles encaminhados pelo Juizado. Concernente a isso, é pertinente destacar que, naquela ocasião havia sido promulgado o segundo Código de Menores (BRASIL, 1979). Com essa legislação “o problema da infância e da adolescência era simplificado em menor pobre, abandonado, delin-quente, situação irregular, assistencialismo e controle estatal, represen-tado, este, pela figura do todo-poderoso Juiz de Menores”. (KAMINSKI, 2001, p. 6)

Nessa conjuntura, a proposta de trabalho do Centro Educacional Fraternidade passou a encarregar-se da educação de crianças e adolescen-tes, ensinando-lhes a reconhecer as regras, os limiadolescen-tes, sobretudo à obedi-ência, visando a formação de um sujeito moral. Essa proposta é parte in-tegrante da racionalidade da época, que visava à civilidade e o progresso. Por esse motivo, eram desenvolvidas atividades profissionalizantes, tais como: trabalhos em corda e tricô à máquina, para as meninas, e para os meninos cursos de restauração de bicicletas, conserto em aparelhos ele-trodomésticos e confecção de tamancos. Para ambos, havia cursos de con-fecção de bolsas e sacolas em fio de nylon; concon-fecção de redes de nylon para pesca; confecção de capacho de corda e tapetes; fabricação de vassou-ras de palha e piaçava. Essa proposta de ensinar uma profissão, de certo modo, reafirma o que Kuhlmann Jr (2011, p. 24) destacou como terceiro eixo da assistência científica: “a caracterização preconceituosa da popula-ção pobre, atribuindo um papel educativo à assistência, a fim de evitar as lutas de classes”.

Com base nessa nova proposta de trabalho, o Estatuto de 1979 pas-sou a definir o Centro Educacional Fraternidade da seguinte forma: “é de caráter educativo, beneficente, profissional e de assistência social. Tendo

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por finalidade a formação integral do menor carenciado, ministrando cur-sos de iniciação profissional, a fim de impedir a sua marginalização”.

Como proposta anunciada no Estatuto, houve nova ampliação do atendimento com a instalação de uma creche, em 1980. Naquela ocasião, a creche iniciou atendendo a faixa etária de dois a seis anos. E, em 1981, passou a incluir o berçário, atendendo também a faixa etária de zero a dois anos. Um excerto do Relatório da Diretoria de 1980 evidencia com clareza esse propósito da instituição:

Dando maior ênfase neste trabalho de promoção humana, foi re-solvido pela Diretoria, estender o atendimento às crianças de me-nor idade, com a implantação de uma creche, dada a necessidade devidamente constatada, de que muitas mães que trabalham nas fábricas (principalmente de pescado, porque é o maior mercado de trabalho do Município) ou em casas de família não tenham onde deixar os filhos, pois um número bem expressivo de meno-res ficam em casa fechados, sendo cuidados pelos mais velhos, na maioria das vezes, com cinco ou seis anos (Relatório da

Direto-ria, 1980).

Observando essa ampliação do atendimento, entendo que a constru-ção da creche pode ser considerada como uma estratégia de intervenconstru-ção para agir sobre possíveis causas do problema da marginalização no bairro Getúlio Vargas. Percebeu-se que o investimento apenas com a recuperação de crianças e adolescentes não era o suficiente. Era necessário agir antes que fossem totalmente abandonados, antes que tivessem total carência material, afetiva, intelectual, antes que chegassem à marginalização. Daí a necessidade de atendimento começando com os bebês e as crianças bem pequenas nas creches, pois nesse contexto “a infância considerada em pe-rigo e pepe-rigosa ganha visibilidade política e econômica, como o futuro da Nação” (LEMOS, 2012, p. 55).

A partir dessa iniciativa de criação da creche, e em parceria com a Fundação de Bem-Estar do Menor (FEBEM), o Centro Educacional Fra-ternidade de Rio Grande estendeu-se em mais seis núcleos de CEBEM (Centro de Bem-Estar do Menor), atendendo à demanda de outras zonas periféricas e carentes da cidade. Com isso, foi instalada também uma cre-che no Centro Social Urbano da Hidráulica e outra no núcleo da CEBEM

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no Cassino, ambas criadas para atender crianças desde recém-nascidas até os seis anos de idade.

Esse projeto de atendimento mais amplo, abrangendo o Município como um todo, vinculava a proposta da instituição mais uma vez à noção de progresso e produtividade da cidade. Embora, inicialmente, as ações tenham sido delimitadas ao bairro Getúlio Vargas, percebe-se um investi-mento em atividades que pudessem atingir a comunidade rio-grandina e seus problemas como um todo, atendendo carências de ordem cultural, econômica e social. Para contemplar as carências culturais, foi proposto um curso de alfabetização de adultos, creche e jardim-de-infância para as crianças. Para as carências econômicas, foram propostos cursos que con-tribuíssem com a economia do lar, tais como: corte e costura, tricô e bor-dado; e para os problemas de saúde, existia uma secretaria de enferma-gem.

As ações citadas acima expressam uma tentativa de intervenção so-bre a população para promover a vida. Revelam também que, para alcan-çar esse propósito, agir sobre a infância rio-grandina tornava-se funda-mental.

Assim, entendemos que as estratégias de atuação do Centro Educa-cional Fraternidade foram se modificando no decorrer do tempo, com base nas concepções de infância que foram sendo dispostas. Como pontuamos a instituição partiu de uma concepção ampla de atender “os necessitados do bairro”, para uma perspectiva delimitada, “o menor delinquente”, para posteriormente, “o menor como futuro da nação”. Tais concepções de-monstram como as práticas de atendimento à infância nessa instituição foram engendradas pela visibilidade política e econômica dadas às crian-ças.

Para finalizar...

Nosso intuito no decorrer deste artigo foi discorrer sobre aspectos históricos de instituições de atendimento voltadas aos bebês e crianças

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bem pequenas no Município do Rio Grande, operadas como estratégia de controle dos riscos sociais.

Essa concepção, tal como procuramos demonstrar no decorrer do texto, começou a se firmar após a Proclamação da República, momento em que o país vivia a instauração de um novo período histórico: a Primeira República (1889 a 1930).

Partindo desse recorte histórico, apontamos um deslocamento nas formas de atendimento à infância na cidade do Rio Grande, caracterizado por uma transição da fase caritativa para uma fase de assistencialismo fi-lantrópico. Contudo, apesar deste momento ter sido de intensos movimen-tos de higienização em prol da vida no país, em geral, e no Munícipio do Rio Grande, em particular, os acontecimentos demonstram que a história não acontece de forma linear e contínua, nem mesmo em uma relação de causa e consequência. Procurando evidenciar o disparate da história, em seus conflitos e confusões, foi que destacamos que, mesmo se tratando de um período sustentado pelos avanços da ciência em termos de saúde e con-dições de vida, a taxa de mortalidade superou a de natalidade no Municí-pio. Este é um dos eventos que ilustram a dispersão dos acontecimentos e a não linearidade da história.

Por outro lado, estando influenciadas pelos novos saberes apregoa-dos naquela época, as instituições de atendimento à infância rio-grandina também foram pouco a pouco incorporando concepções higiênicas em suas práticas. Para evidenciar esse processo de transição, enfatizamos o atendimento prestado na Casa das Órfãs e desvalidas São Benedito, pro-curando destacar que as práticas de atendimento às crianças nessa insti-tuição combinavam caridade e filantropia, engendradas pelas verdades re-ligiosas, que permaneciam, e as verdades científicas, que começavam a cir-cular.

O segundo recorte histórico destacado no estudo, que compreende o período da Segunda República (1930 a 1964), evidencia o momento em que o atendimento à infância rio-grandina como medida de segurança à população ganhou força. No início desse período, a ação sanitária do Es-tado, que se mobilizava a combater as epidemias na cidade do Rio Grande, intensificou suas práticas no que tange ao atendimento às crianças

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pequenas. Como procuramos evidenciar no decorrer da análise, uma das instituições de atendimento à infância criada no Município do Rio Grande com traços dessa nova concepção foi o Dispensário Infantil Dr. Augusto Duprat. Nesse contexto, essa instituição de atendimento à infância apa-rece como lugar de cuidado, higiene e cura, enfatizando uma preocupação com a criança enquanto ser biológico. Assim, podemos encontrar aqui uma outra forma de proveniência das práticas de atendimento à pequena infância na cidade do Rio Grande, agora caracterizada como uma medida de intervenção para minimizar os riscos da população por meio de uma filantropia racional e científica.

Nesse entrecruzar de acontecimentos e práticas, acompanhando a racionalidade política do país, podemos evidenciar que a década de 1940 se consolidou como uma porta aberta para a emergência das creches em Rio Grande. Sendo pioneiro no processo industrial do estado e também da inserção das mulheres no trabalho fabril, o cenário instaurado na cidade configurou condições de possibilidade para a entrada em cena das creches no Município. Nessa conjuntura, as práticas de atendimento na Creche da Rheingantz foram citadas neste trabalho como mais uma estratégia de go-vernamento operando na população rio-grandina, criada agora como uma nova medida de controlar os espaços, o tempo e os corpos dos operários.

Durante o Período Militar, porém, Rio Grande sofreu intensas mo-dificações nesse cenário industrial. Com o fechamento de muitas fábricas, a população rio-grandina viu nas atividades de pesca uma fonte potente para a economia do Município. Assim, nesse novo cenário social que se instalava nesta cidade e, visando atender, prioritariamente, os filhos de mulheres que trabalhavam nas fábricas de pescados, foi criada a creche do Centro Educacional Fraternidade, potencializando a abertura de outras creches em diferentes localidades desta cidade. Naquele contexto o aten-dimento à infância ainda não era considerado como um dever do Estado e, dessa forma, este ocupava-se em conceder subsídios a entidades priva-das, desobrigando-se dessa incumbência.

Muito mais do que olhar para a história simplesmente pelo passado, a pesquisa da qual este artigo resulta se movimentou como um exercício de pensar o presente. Sobre isso, queremos aqui lançar alguns

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questionamentos como forma de problematizações para o presente: Por que, numa época como a nossa, podemos visualizar práticas de atendi-mento à infância associadas ainda ao assistencialismo? De que forma, as novas práticas de cuidado/educação como ações indissociáveis estão evi-denciadas nos documentos nacionais que visam regulamentar o atendi-mento às crianças de zero a três anos? Que efeitos a proliferação desses documentos produzem sobre a vida das populações infantis? Como esses investimentos, materializados nos documentos nacionais, tem trazido im-plicações no cotidiano das Escolas de Educação Infantil na cidade do Rio Grande?

Com essas indagações não estamos estabelecendo juízos de valores entre certo e errado. O que queremos é demonstrar que as práticas que são desenvolvidas no interior das instituições de atendimento às crianças de zero a três anos são produzidas socialmente e que, por isso podem ser pro-blematizadas e repensadas.

* * *

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Recebido em 02 de julho de 2019. Aprovado em 02 de outubro de 2019.

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