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Informações básicas sobre temas fundiários para os Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul

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Informações básicas sobre temas

fundiários para os Kaiowá e Guarani

no Mato Grosso do Sul

Mba’éichapa ikatu ojapo va’erã

Kaiowá ha Guaranikuéra

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Índice

Informações básicas sobre temas fundiários para os Kaiowá e Guarani

7 9 13 21 23 27 30 32 40 42 44 Apresentação... 1. Como os guarani chegaram à situação de vida atual

Uma pequena história... 2. O direito do índio e o direito do branco... 3. A Constituição Federal, a lei maior do Brasil... 3.1 A primeira parte, a mais importante, fala assim... 3.2 O que é Terra Indígena... 3.3 Como a Terra Indígena deve ser usada de

acordo com a Constituição... 4. Identificação e delimitação de Terra Indígena... 5. Alguns temas da justiça que são importantes para vocês

5.1 Identificação e delimitação dos tekoha... 5.2 Os prazos: tempo para o governo tomar

providências... 5.3 O direito do índio entrar na justiça...

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Ñe’è renondegua ... 1. Mba’éichapa ñande jahasa mbairy oguahèrõguare

ko’ãngapeve ... 2. Ava reko ha karai reko ... 3. Constituição Federal, ko lei tuichavéa Brasilpe ... 3.1 Tenonderã ko lei he’i upéicha ... 3.2 Mba’éichagua karai lei omboete ñande yvy ... 3.3 Mba’éichapa jaiporúta ñande rekoha

Constituição, ko lei tuicháva rupi ... 4. Mba’éichapa oì ñande rekoha oñemedi hanguã ... 5. Umi ñeporandu iporã jaikuaa hanguã pe parte justiça... 5.1 Identificação ha delimitação ñande derecho voi ... 5.2 Gobierno omoì día oñatende hanguã ñande rupi ... 5.3 Ñande derecho voi jaike hanguã justiçape ... 5.4 Mba’éichagua oì ñande kuatia yvyrehegua

mburuvicha guasu rendápe... Mba’éichapa ikatu ojapo va’erã Kaiowá ha Guaranikuéra pe parte yvyrehegua 51 53 62 72 74 80 83 86 97 98 100 103 106

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Primeiras palavras ... 1. Como nós passamos desde a chegada dos

estrangeiros até agora ... 2. O modo de ser dos índios guarani e

o modo de ser do branco ... 3. A Constituição Federal, a lei maior do Brasil ... 3.1 No começo essa lei fala assim ... 3.2 Como a lei do branco respeita a nossa terra ... 3.3 Como vamos usar a nossa terra de acordo

com a Constituição, essa lei grande ... 4. Como a nossa terra é medida ... 5. As informações que são boas para sabermos

em relação à justiça... 5.1 A identificação e a delimitação são, portanto,

nossos direitos ... 5.2 O governo estabelece uma data para nos atender... 5.3 Portanto, temos o direito de entrar na justiça... 5.4 Como os nossos documentos sobre a terra

estão sendo tratados pelas autoridades grandes...

Nota Metodológica ...

O que os Kaiowá e Guarani podem fazer em relação à sua terra 111 113 122 131 132 138 142 145 155 156 158 161 164 169

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Neste livro estão anotadas algumas das informações mais importantes para os Kaiowá e os Guarani do Mato Grosso do Sul sobre seus direitos territoriais. Conta-se como chegaram à situação de vida atual e se explica as leis que lhes permitem recuperar, pelo menos em parte, o seu antigo

território, os tekohakuéra. Explica-se também o que é a

identificação e delimitação, como se dão os processos na justiça e se fala sobre as instituições do homem branco, do

karai.

O texto foi traduzido para o guarani, para que as velhas e os velhos também possam entender seus direitos. Sua colaboração no momento da identificação é muito importante, por isso é bom que eles conheçam seus direitos como estão garantidos e escritos na Constituição Federal. Agradecemos muito à todos os Kaiowá e Guarani que têm hospedado generosamente Celso Aoki desde 1978, e também Paz Grünberg durante os últimos anos, em suas

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Ambrósio Gomes Martins de Pueblitokue e João Rodrigues

de Mbarakay colaboraram na tradução cultural do texto em

português ao guarani. Colaboraram com as correções dos

textos: Maria de Lourdes C. Nelson — Kuña Jeguaka, Elizeu

Ribeiro, Marta Maria Azevedo e Sandra Regina da Silva que também participou dos trabalhos de tradução.

A todos estes o nosso muito obrigado.

Atima porãite enteropeguarã.

Ponta Porã, junho de 2004

Celso Aoki

Friedl Paz Grünberg PKG

Programa Kaiowá

celso.aoki@trabalhoindigenista.org.br Centro de Trabalho Indigenista

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O problema da terra começa pela história da chegada dos

brancos. No início eles eram poucos. Com o passar dos anos

foram aumentando e cada dia iam ocupando todo o território

de vocês, todos os ava rekoha, todo o ava retã. Naquela

época, não havia muita gente branca e a terra parecia que era muito grande e que dava para todo mundo viver nela, tanto os índios, como os brancos. Muitos dos velhos disseram que estavam derrubando o mato para o

fazen-deiro no seu próprio espaço de vida, no próprio tekoha.

Estavam changueando para os brancos e não sabiam que depois eles iam tomar as terras e expulsá-los do lugar.

Os índios, os ava, trabalharam com esses colonos porque

eles traziam mercadorias. Traziam ferramentas, panelas, roupas, armas e munições de que tanto se precisava naquela época para caçar. Traziam comida diferente, principal-mente sal ou comida salgada do tipo charque. Parecia que

Como os guarani chegaram à situação de vida atual. Uma pequena história.

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Quase sempre os primeiros colonos chegaram onde havia

muitos índios, muitos ava, porque lá encontravam o

traba-lho barato para abrir as fazendas. Então, com a ajuda dos próprios moradores da terra, foram abrindo a mata, plan-tando as roças, as chacras deles. Depois plantaram capim, e assim formaram as suas propriedades. Os fazendeiros

foram junto ao governo e conseguiram o título, um kuatia

mbarete tuicháva, que, na lei do branco, dá direito à posse

da terra. Depois da fazenda aberta eles já não precisavam mais dos índios e os expulsaram.

Mas o território de vocês, o ava retã, ainda permaneceu

grande até um certo tempo porque havia ainda muito mato.

As famílias expulsas dos tekoha podiam ir para o tekoha de

parentes ou ficavam trabalhando perto do lugar onde mora-vam. Mais fazendeiros foram chegando e muitas famílias foram saindo em busca de trabalho e das coisas do homem

branco. Pressionados, abandonaram seus tekoha e foram,

de fazenda em fazenda, trabalhando para viverem, até que

um dia essas famílias de ava foram sendo chamadas de

índios de fazenda.

Aí o ava retã, o território de vocês, começou a ficar

pe-queno e não cabia mais os índios. Já não tinha mais mato para derrubar e os fazendeiros não queriam que vocês ficassem mais na terra que eles tinham tomado. Ajudados pelo governo, missionários, polícia, e outros, os índios de

fazenda foram levados para as reservas ou, como diziam, a terra da Missão. Rapidamente essas reservas foram ficando

cheias. Não tinha mais terra para plantar, apenas para fazer suas casas e changuear nas usinas de cana, o único lugar

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de changa que ficou. O trabalho de changa nas fazendas quase acabou. Não têm mais fazendas para abrir, acabou

o mato e os tekoha estão agora nas mãos de fazendeiros.

O ava retã, o território de vocês, agora só tem lavoura ou é

habitado pelo gado dos fazendeiros.

Aquelas muitas famílias que não quiseram ser aldeadas nos

Postos, lutaram para permanecer nos tekoha e os

confli-tos com os fazendeiros aumentaram. As notícias foram para longe e chegaram até as autoridades dos brancos.

Depois, alguns tekoha foram demarcados: Rancho Jakare,

Guaimbe, Takuaraty, Jaguapire, Pirakua, Sete Cerros, Guasuty, Jarara e outros. Mas muitos ainda não foram

resolvidos.

Hoje tem várias comunidades que estão lutando pelos

tekoha. Estão se reunindo e se organizando nas reservas

para poderem retornar ao lugar de origem. A partir disso está criado o “problema da terra”.

Agora é preciso dar um manejo ao problema:

• tem que levantar a história do tekoha,

• tem que saber quantos índios ocupavam a terra, • tem que saber quem vivia lá,

• tem que lembrar como e onde viviam, e • tem que contar porque saíram.

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que tomaram as suas terras. Os índios já sabem como pressionar o governo. Agora têm mais oportunidades

por-que já conhecem melhor o jeito do branco, o karai reko:

• as leis,

• os papéis, os kuatia,

• os documentos, os kuatia mbarete tuicháva

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Quando vocês reivindicam um tekoha, dois tipos de

direi-tos estão em jogo:

1— o direito indígena — o ava reko e

2— o direito do homem branco — o karai reko.

O direito sobre a terra está definido nas leis dos brancos. Os

brancos criaram muitas leis, para tentar resolver todos os

conflitos entre os brasileiros — índios e não índios — e assim conseguirem viver em paz. Mas os problemas continuam porque muitos não obedeceram as leis. Ou porque são mais poderosos ou porque não são honestos. Por isso as leis têm funcionado mais a favor dos brancos que para os índios, principalmente aqui no Mato Grosso do Sul.

Mas, os conflitos podem ser resolvidos na base da lei, se essa for obedecida. Principalmente aquelas que estão

O direito do índio e o direito do branco.

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A Constituição de 1988 garantiu mais direitos aos índios. Então, é preciso conhecer melhor para exigir que esses direitos sejam respeitados de fato. Para que não fique

apenas no papel, no kuatia. Quando as leis não funcionam,

são leis vazias, leis rei. Quando os papéis também não

fun-cionam, são papéis vazios, kuatia rei.

Então, para conseguir a terra é preciso que a mobilização dos índios esteja forte. Tem que pressionar as autorida-des responsáveis. Tem que fazer com que elas também façam a sua parte, como mandam as leis, e assim garantir

aqueles direitos que estão no kuatia. Vocês já sabem que

estes papéis são leis e documentos que funcionam para os brancos. Então é preciso que eles funcionem a favor de vocês, também.

Diante disso, vamos discutir quem é que decide, afinal, os direitos sobre a terra.

Antes da chegada do branco eram vocês que decidiam tudo, porque eram os únicos donos. Quando um grupo de famílias,

parentes, já não queriam mais ficar no tekoha porque tinha

algum conflito, algum sarambi, ou alguém morreu, este

grupo saía do lugar e ia procurar outra terra melhor. Saía andando até encontrar uma terra boa para plantar, com água boa, mato bom e não muito longe dos parentes que ficaram no tekoha antigo. Assim, podiam ir visitá-los, ir nas festas e

casar.

Mas agora tem os brancos vivendo na mesma terra. Derru-baram o mato, plantaram capim, ou fazem lavouras de soja, milho e jogam muito veneno nas plantações, envenenando

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a terra e a água também. Não tem mais caça, peixe, mel e remédios para colher. Os fazendeiros nem deixam vocês passarem mais pelas terras que foram suas. Eles dizem que os índios espantam o gado. Em alguns lugares eles dizem que os índios comem os seus bois. Os brancos são muito mais numerosos e mais fortes porque têm muitos recursos, muito maquinário, polícia e armas. Eles trazem muitas doenças também.

A situação hoje é que vocês têm que lidar com o mundo do

branco também. Têm que conhecer como eles funcionam,

suas LEIS, GOVERNO e JUSTIÇA. Têm que saber como cada um funciona no seu trabalho, na sua responsabilidade, no seu dever. E têm que conhecer seus interesses também. No GOVERNO FEDERAL os mais importantes para tomarem as primeiras providências sobre a terra são:

• a Funai (Fundação Nacional do Índio) e • o Ministério da Justiça.

São esses órgãos que fazem as identificações e delimita-ções de Terras Indígenas. São as suas autoridades, seus

mburuvicha, que assinam os documentos, os kuatia mbarete tuicháva, que reconhecem os direitos sobre as Terras

Indí-genas. A Funai foi criada para isso: tomar providências sobre a terra, demarcar e proteger de invasões.

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• quem faz as leis é o legislativo: deputados, senadores — reunidos no Congresso; ou seja: os políticos.

• a JUSTIÇA são: os juízes e procuradores que cuidam para ver se as leis estão sendo aplicadas e respeitadas. Então vamos ver o que cada um faz, que tanto pode ajudar, como pode prejudicar os interesses de vocês.

O GOVERNO FEDERAL é que tem a responsabilidade de

tomar as providências para que o tekoha seja

reconheci-do como Terra Indígena, e de fazer a demarcação, porque assim manda a Constituição. Para isto tem a Funai, que é um órgão que cuida deste assunto e tem o poder de garantir que a terra seja destinada aos índios.

O primeiro passo é fazer a identificação do tekoha. Isto

significa fazer um estudo e um levantamento para que a terra que os índios estão querendo demarcar seja garanti-da conforme a lei. Essa lei é o Estatuto do Índio e o decreto 1775. Essa lei fala que é preciso comprovar que os índios

já habitavam os tekoha há muito tempo, inclusive antes

do fazendeiro chegar. Este estudo, este levantamento de informações, é para provar que a comunidade já habita-va o lugar, desde muito antes do fazendeiro e conforme os próprios costumes e tradições.

A maior prova está na memória viva dos mais velhos, por-que eles é por-que sabem como viviam antes e como foi por-que os

brancos tomaram posse dos tekoha. Muitas vezes os velhos

já morreram, mas eles deixaram as lembranças para os mais novos, que podem testemunhar. A memória dos velhos e as

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É deste jeito que os índios podem provar a sua ocupação e também podem demonstrar através de outros meios, como: cemitérios, antigas moradas, nomes dos lugares. Além do mais, tem também uma prova muito grande que é a própria comunidade de carne e osso, viva. As pessoas, sabendo quem é parente de quem, os grupos de famílias organizadas.

Então se faz a identificação da área que é o estudo da comunidade:

• os costumes (teko),

• as tradições (teko ymaguare),

• as rezas e cantos (teko marangatu),

• a sua organização política,

• como ocupam ou ocuparam o tekoha.

Esta identificação da Terra Indígena, do tekoha, deve estar

de acordo com as necessidades do grupo. Deve ser suficien-te para que possa se mansuficien-ter e também mansuficien-terem os filhos e netos que vêm depois.

A justiça, como as leis e o governo, pode defender tanto o fazendeiro, como os índios. Por isso, é preciso que vocês lutem também neste campo. Como vocês podem fazer? Primeiro, vocês devem apresentar as provas de que já se falou. Provas ou testemunhas de que a terra é um direito

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Mas os juízes não vão ver se vocês estão vivos ou não. Eles ficam em seus gabinetes e olham apenas os documentos.

Por isso a memória dos velhos é tão importante!

A história que eles contam vai se trans-formar em documentos de verdade, em

kuatia mbarete tuicháva.

A memória dos velhos feitos documentos de verdade provarão a ocupação da terra pela comunidade.

A lei do branco tem que respeitar esses documentos.

Se as provas da ocupação indígena forem mais fortes que os documentos dos fazendeiros, os juízes vão decidir a favor dos índios. Como já foi dito antes, os juízes podem decidir ou favor ou contra.

Vimos que não é uma pessoa só, ou várias pessoas, que decidem sobre o direito da terra. São muitas e de diferen-tes órgãos federais. Participam antropólogos, engenheiros, agrônomos, cartógrafos e muitas autoridades dos brancos. Então, para responder à pergunta sobre quem decide sobre a terra, pode-se dizer que são duas partes:

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• As comunidades, que mais se esforçam para a luta e que estão melhor preparadas.

• A outra parte depende da vontade de resolver dos

karai.

Não basta que a comunidade esteja unida em torno de uma liderança. Também é necessário que os índios tenham aliados para enfrentarem todos os níveis de luta. Essa luta

vai mais longe que só o retorno ao tekoha, como vocês

chamam: a retomada, com sua própria força e vontade, não é o fim do caminho.

É necessário também que muitos brancos estejam a favor da Terra Indígena, principalmente aqueles que estão no governo

e na justiça. Quando a comunidade decidir entrar no tekoha,

a lei terá que estar a seu favor para que a posse seja garan-tida. Quando a lei está a favor de vocês até a polícia vai

pro-teger vocês e não vai expulsá-los do seu tekoha.

• Dizemos que o governo é chamado de executivo porque tem que fazer o que manda a lei; executar as leis e tomar providências.

• O legislativo é a casa dos políticos e são eles que fazem as leis.

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Vocês têm ouvido falar muito da PROCURADORIA DA REPÚBLICA. A Procuradoria faz parte da justiça. Mas ela tem um trabalho especial: fiscalizar as decisões dos juízes e do governo, isto é, do judiciário e do executivo.

Os procuradores estão olhando se os juízes e o governo estão fazendo bem, ou mal, ou não estão fazendo o que a lei manda. Então, quando um juiz tomar uma decisão contra os índios e se esta decção for injusta, os procuradores podem anular a decisão. Quando um governo não está protegendo os interesses dos índios, como manda a lei, os procuradores podem fazer com que a lei seja aplicada. Os procuradores

são autoridades muito importantes (mburuvicha) que os

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Agora vamos falar sobre a Constituição, a lei mbarete tuichavéva, importante porque trata dos direitos de todas

as pessoas que moram no Brasil. Esta lei tem uma parte que fala dos povos indígenas. Todos os índios têm os mesmos direitos: os Guarani, os Kaiowá, Terena, Xavante, Kaiapó, enfim, todos os povos indígenas, de norte a sul. Os seus direitos estão no artigo 231 da constituição.

Capítulo VIII: DOS ÍNDIOS

231: São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os

A Constituição Federal, a lei maior do Brasil

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1O. São terras tradicionalmente ocupadas

pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais ne-cessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

2O. As terras tradicionalmente ocupados

pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

4O. As terras de que trata este artigo são

inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

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231: São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originá-rios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

1— organização social, costumes, línguas, crenças e tradi-ções:

Tudo isso é o jeito que cada comunidade indígena vive:

— como cada um vive com o outro; como se casam; o que cada um tem de direito e dever com a comunidade;

— como é a sua liderança, quem são os seus mburuvicha,

como o capitão tem que agir e como ele tem que ajudar a resolver os problemas da aldeia;

— como estão trabalhando: cada um sozinho, em grupo ou

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— como contam o surgimento do mundo, o que eles sabem

sobre o funcionamento desse mundo, dos Tupã, dos

espíritos, das plantas, dos bichos, das aves;

— como os antigos foram passando os conhecimentos de mãe e pai para os filhos;

— o jeito deles de curar doenças, as rezas e bençãos;

— como estão construindo as suas casas, como preparam a comida, o jeito deles de morarem — no campo ou no mato;

— como estão se vestindo e se adornando;

Tudo isso se chama organização social; são os costumes, crenças e tradições.

O mais importante é que esse jeito diferente de viver de cada

povo, faz os índios diferentes do homem branco, dos karai:

na religião (teko marangatu), nos costumes, na língua; na

maneira pela qual vêem o mundo, como vive uma pessoa

com a outra. E tudo sem anotar em papéis, tudo sem kuatia,

sem gravador, sem escola. Todos os brancos falam portu-guês, mas os índios têm línguas próprias. Então, este jeito diferente de ser, de trabalhar, de rezar, de falar é a cultura

indígena. A constitiuição, a lei mbarete tuichavéva, tem que

proteger e ajudar a manter para as gerações futuras.

Quer dizer que todas estas coisas vocês têm direito de manter, não precisam trocar nada. Mas se vocês quiserem trocar também podem fazê-lo.

A Constituição, a lei mbarete tuichavéva, manda o governo

tomar providências para que esses direitos sejam respeita-dos. Para isso a maior e principal providência é a terra.

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2— direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam:

Isto significa que os índios têm direito à terra que habitam ou habitavam há muito tempo; onde já estavam antes do

bran-co chegar. Vocês foram desse lugar sempre, desde a origem

dos antepassados. É isto que significa serem originários da terra. O branco não é originário deste lugar porque chegou de fora: do Rio Grande do Sul, do Paraná, de São Paulo, do Paraguai — e se apossou do lugar. Então ele não é originário, não é do lugar.

A ocupação tradicional é muito importante porque é o que vai provar que a terra é tradicionalmente indígena. É a ocu-pação o que mais importa, o que tem mais valor, porque

é a própria história de como vocês viveram no tekoha. É

o documento que tem mais força que os documentos dos fazendeiros, até mais força que o título de propriedade do fazendeiro. Por isso é que a comunidade precisa trabalhar a memória dos mais velhos, precisam lembrar de como viviam antes de chegar os brancos e como os brancos os expulsaram da terra. Esta ocupação é a história que prova o direito e será escrita na Identificação. Por isso, esta parte é muito importante para a demarcação e é quando a comunidade mais tem participação.

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res-Para isso tem a Funai. Mas, então, porque ainda não se demarcou e porque demora tanto para tomar providências? Depende muito do jeito do branco e de vocês de trabalharem o problema. Do jeito que vocês se organizam, do jeito de enfrentar os brancos, do jeito que vocês usam as leis dos

brancos e das armas dos brancos:

• a imprensa, • as autoridades, • os aliados.

Se vocês acham que podem conseguir que as terras sejam demarcadas, então têm que conseguir que os brancos façam com que a lei seja cumprida. E para isso, é preciso entender o jeito do branco trabalhar e como funcionam as leis.

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Capítulo VIII: DOS ÍNDIOS

231: 1O. São terras tradicionalmente

ocu-padas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescin-díveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

1— São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente:

São as terras que os índios sempre moraram e nunca saíram

do lugar. Então, como ficam os tekoha de onde vocês

saíram há muito tempo? Alguns já fazem 30, 40 ou 50 anos.

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perto, changueando para o próprio fazendeiro. Mas ele não deixava plantar para que vocês não tivessem a condição de ocupantes. Por isso é que os fazendeiros dizem ainda hoje que os índios que estavam em sua propriedade eram em-pregados, peões. Outros dizem que não eram índios, mas paraguaios. Assim, esses índios ficaram sendo conhecidos como “desaldeados”.

2— as utilizadas para suas atividades produtivas:

São as terras que a comunidade usa ou usava para plantar, também para se manter com a caça; coletando mel, frutas, palmito ou remédios e coletando os materiais necessários para construir as casas e outros objetos.

3— as imprescindíveis à preservação dos recursos ambien-tais necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua re-produção física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

São as terras que têm riquezas naturais, como:

• matas, rios, cerrados, banhados, campos e tudo que tem dentro: bichos, aves, frutas, palmitos, mel, remédios,

• material para casa ou para artesanato: madeira, takuára,

cipó, sapé, palmeira;

• minas de água, lugar para lavar roupas e tomar banho. Tudo isso deveria ter na terra de vocês porque isso são as condições para se ter bem-estar: viver bem.

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Além disso, esta terra com recursos ambientais deve ser o bastante grande para que os filhos e netos, por muitas gerações futuras possam ter estes mesmos recursos por muito tempo.

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2O. As terras tradicionalmente ocupados

pelos índios destinam-se a sua posse per-manente, cabendo-lhes o usufruto exclu-sivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

4O. As terras de que trata este artigo são

inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

Essa parte da constituição explica como a terra deve ser usada por vocês. Já falamos que a constituição manda a Funai demarcar e proteger as Terras Indígenas. Demarcar significa separar as terras que são dos índios e as que são dos fazendeiros, porque cada um usa de modo diferente. A Terra Indígena só pode ser ocupada pelos próprios índios

que moram no tekoha. Isto é o que a lei diz: “o usufruto

exclusivo das terras”. Então, só vocês podem usar e ocupar o tekoha. E só vocês podem retirar as riquezas que têm em

cima da terra.

Para que a Terra Indígena seja ocupada somente pela co-munidade, a constituição manda o governo protegê-la dos

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outros que não são índios, protegê-la dos invasores brancos. Os brancos se aproveitam das Terras Indígenas, daquelas já identificadas, de várias maneiras:

• Pegam um pedaço da terra e depois ocupam com lavou-ra ou gado, colocando a cerca mais por dentro da área, algumas vezes até moram neste lugar. Podem também apenas plantar na terra ou retirar riquezas como madeira, bichos ou remédios.

• Usam a terra, seja plantando ou criando animais, gado, mesmo com o consentimento, o acordo, dos próprios índios — como é o caso dos arrendamentos das Terras Indígenas.

Além do governo ter que proteger a Terra Indígena das inva-sões e da exploração dos recursos naturais, deve também proteger de quaisquer tipos de negociações de venda, troca ou outra forma que mude o jeito de ocupação que fora des-tinado aos índios.

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Sempre se fala que o governo ou a Funai deve tomar pro-vidências para o problema da terra. O que são essas provi-dências? Já sabemos que a Constituição manda a Funai: • Identificar e delimitar,

• demarcar e

• proteger as Terras Indígenas.

Este é o trabalho da Funai e só ela é responsável em fazê-lo.

O primeiro passo para resolver o problema da terra é a

identificação e delimitação do tekoha. Vocês sabem que é

uma luta para se conseguir isso: é preciso muitas reuniões, discussões na comunidade e muita pressão lá em Brasília,

onde ficam os mburuvicha dos brancos. É um longo

cami-nho a percorrer, com muitos passos.

Esse passo é quando o presidente da Funai nomeia e envia um Grupo de Trabalho (GT) de Brasília que chega aqui para fazer o estudo da comunidade e fazer a delimitação da área que vocês estão reivindicando. Essa equipe tem um

cabe-çante que é o antropólogo. É ele que vai fazer os kuatia

Identificação e Delimitação de Terra Indígena.

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e nesses kuatia vocês vão contar toda a história de como

ocuparam o tekoha e como os fazendeiros foram

chegan-do e, enfim, tomanchegan-do a terra.

É nessa hora que vocês vão apresentar as provas do seu direito à terra. O direito legítimo, como se diz.

Como prova principal, vocês vão apresentar a comunidade, as pessoas vivas, a comunidade organizada. Os velhos e velhas, como já dissemos, são pessoas mais importantes porque são eles que saberão contar como o grupo vivia no

tekoha desde muito tempo atrás. São eles também que

sabem dos costumes, das tradições e de muitos fatos que vem ocorrendo desde o tempo de seus avós e bisavós. São eles as provas vivas de ocupação que é chamada “tradicional”. Eles e o conhecimento que têm, a memória e seus descendentes são as provas dessa tradição.

Vejam que tradição não é uma coisa antiga e que já foi, já passou. Não, tradição é uma coisa que vem desde o tempo muito antigo e continua até os dias de hoje. As pessoas nascem, ficam velhas, morrem e nascem outras e os costumes continuam.

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os pais contaram para eles. Por isso vocês não puderam ter

a continuidade da ocupação do tekoha.

A identificação da área de uma Terra Indígena é baseada

na história, no modo como vocês ocuparam o tekoha. É

como se fossem as provas que a comunidade apresenta para fazer a identificação. Os lugares que usaram para os roçados, casas, os rios e as matas são os marcos para fazer a delimitação da área, que pode ser chamada também de mapa. O mapa é elaborado a partir das linhas de divisa entre a área indígena e as terras dos fazendeiros vizinhos.

Ao mesmo tempo, a equipe vai verificar o que os fazendei-ros construíram dentro da terra para que o governo pague para eles. São as benfeitorias: as “coisas” do fazendeiro. Este levantamento chama-se fundiário.

Então a identificação tem dois tipos de levantamentos: • antropológico e

• fundiário.

O levantamento antropológico é o mais importante porque

é o documento, o kuatia, que vai provar que a comunidade

existe e que o tekoha é o seu lugar de habitação desde antes

do primeiro fazendeiro chegar. Este kuatia vai ter a história

da ocupação da terra pela comunidade, contada pelos mais velhos, principalmente, e depois este antropólogo transfor-ma a memória dos velhos em documento verdadeiro. Não

é um documento inútil, não é kuatia rei. Neste kuatia vai

ter escrito quem são vocês; como vivem; como o fazendeiro chegou e tudo o que aconteceu depois.

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Os mais velhos vão contar sobre os lugares onde cada família construiu a sua casa, onde fez roça, os caminhos que fizeram para um ir na casa do outro; os lugares onde colheu coisas da natureza para comer ou para fazer casas ou

obje-tos de uso como o banco, o apyka; o cocho de chicha e

outras coisas; onde pegou água e onde tomou banho; onde

colocou as trampas monde e ñuha; onde enterrava os seus

mortos; e tudo o mais que era importante para a vida da comunidade.

Esses lugares são os marcos de ocupação que, junto com o engenheiro, o antropólogo vai usar para fazer o mapa da área. A área será aquela que a comunidade usou e ocupou, mais um pedaço que é necessário para as famílias de hoje e para as famílias que virão mais tarde, quando a população

aumentar. Além disso, o tekoha deverá ter uma reserva

ambiental para poder ter sempre as coisas da natureza.

É importante que o tekoha tenha boas

condições ambientais, não só agora, como para o futuro. Por exemplo, as cabeceiras dos rios e riachos devem

estar dentro do tekoha para que vocês

tenham condições e mando sobre elas porque senão o branco vai sujar a água

(36)

Este mapa, com as divisas do tekoha e as divisas das

fazendas dos brancos é a delimitação da área. Delimitar significa colocar limites; separar a terra dos índios da dos

brancos. Antigamente não tinha divisas porque não tinha brancos, não tinha gado.

O levantamento fundiário se faz a partir do que tem em cima da terra feito pelo fazendeiro durante o tempo que ele ocupou o tekoha: pastos, casas, aramados, mangueira, açude. Tudo

o que o fazendeiro fez é o que se chama de benfeitorias; é

o fazendeiro mba’e. Na maioria das fazendas foram vocês

mesmos que trabalharam para construir as benfeitorias. Então, vemos que o antropológico é o levantamento de como a comunidade ocupou a terra. O levantamento fundiário é aquele sobre como o fazendeiro ocupou a terra e o que ele mandou construir. Este estudo é para achar um jeito para que o

tekoha fique conforme as necessidades

da comunidade, hoje e no futuro.

Para a delimitação da área é preciso verificar quatro tipos de espaço:

• O espaço de ocupação: são os lugares que as famílias usaram para fazer as suas casas, os caminhos e onde buscaram água, enfim, aonde vocês viviam.

(37)

• O espaço de uso produtivo: são os lugares onde fizeram as suas roças, onde caçaram, pescaram e buscaram mel,

palmito, madeira, folhas para cobrir as casas, takuára,

remédios e demais plantas.

• Reserva para futuras gerações: para deixar para os filhos e netos; para quando a população aumentar.

• Reserva ambiental: também são reservas que é para garantir que a comunidade tenha uma qualidade de vida boa, porque muitas coisas vêm da natureza. Então, reserva ambiental é a terra que vai garantir os produtos do mato, para que não acabem os bichos; material como por exemplo: madeira para construção, lenha, material para artesanato, mel, remédios e toda a riqueza que a natureza dá e que deve ser suficiente para a comunidade de hoje e para as futuras gerações. Pensando nesta qualidade de vida, o mais importante dos recursos é a água. A preservação desse recurso deve estar dentro do espaço do tekoha para que a comunidade possa preservar para

o seu consumo. Em muitas áreas os fazendeiros vizinhos estão jogando veneno, lixo da cidade e de frigoríficos dentro dos rios que a comunidade usa.

Aqui no Mato Grosso do Sul não tem autoridade fiscalizan-do em volta das áreas indígenas. Os vizinhos brancos estão prejudicando as comunidades e ninguém está denunciando isso.

(38)

Terra Indígena é terra de uso da comu-nidade. É de cada pessoa, de cada família que pertence ao grupo, dos parentes e dos descendentes das famílias que lá viveram.

Muitos problemas de identificação ocorreram no passado. Alguns exemplos são:

Jaguary tem apenas 480 ha. Na época em que foi

identi-ficada, 1986, o próprio governo fazia pressão para que o

tekoha fosse o menor possível, ou que não se identificasse

nada para não contrariar os que mandavam na Funai. Então a comunidade não teve quase nada de participação na identificação da área. O antropólogo não deu condições de se eleger uma área que fosse sequer mínima para as suas necessidades. Quando, depois de muita luta, o grupo pode

retornar ao tekoha, eles ficaram surpresos que o outro lado

do rio não estivesse dentro da área. Eles não compreende-ram como é feita uma identificação e delimitação. Durante o trabalho de identificação eles tampouco puderam falar e expressar o que queriam, o que era o seu direito.

Sukuriy tem também uma área muito pequena: 535 ha. É

uma terra que a identificação tomou como limites somente a área que o grupo ocupava no momento do conflito que estava acontecendo. Como a comunidade estava em uma área em litígio, o estudo não seguiu o jeito de ocupação

de um tekoha. Ou seja: a área teria que ser delimitada

pela ocupação tradicional e não a que o grupo ocupava no momento do conflito com o fazendeiro.

(39)

Cerrito: na identificação, a comunidade também não teve

oportunidade de participar da eleição da área. A ocupação tradicional ou imemorial (naquela época) dava-se também na fazenda vizinha. A própria equipe da Funai pressionou para que não se incluísse na identificação.

Outras áreas foram identificadas com participação das comunidades nas decisões, porém, logo depois se viu que eram insuficientes para as necessidades do grupo. Embora se estivesse comprovando que a área de ocupação tradicional era maior, decidiu-se, junto com a comunidade, por uma área mínima, porque, na época, havia uma forte pressão de não aprovar área maior que 2.000 hectares aqui

no Mato Grosso do Sul: Jaguapire, Takuaraty, Guasuty,

(40)

Já foi falado sobre esse passo, que é importante para a ga-rantia das terras. As identificações devem ser entendidas como um direito para que vocês possam decidir, conforme

o seu jeito, o ava reko de ocupar a terra. E essa

ocupa-ção deve ser discutida conforme a lei dos índios e a lei dos

brancos. É isto que significa identificar e delimitar Terras

Indígenas.

Antigamente não havia como os índios discutirem os seus direitos. A Funai dizia que vocês não eram capazes de saber, por sua própria conta. As informações sobre leis e providên-cias do governo eram poucas e por isso muitas

identifica-ções, ou não foram feitas, ou foram mal feitas: Jaguary,

Guasuty, Jarara, Sukuriy e muitos outros. Nem a equipe do

governo e nem os próprios índios sabiam muito bem como

Alguns temas da justiça que são importantes para vocês.

5

(41)

fazer a identificação. A pressão contra as comunidades era muito forte e todos diziam que era melhor garantir um pouco, do que nada. As lideranças mais velhas sabem como isto era discutido e encaminhado para o governo. E agora quase todas as áreas necessitam de nova identificação porque as pessoas já vivem apertadas.

(42)

Vocês sempre têm escutado os karai falarem para esperar

mais um pouco que eles vão tomar providências. Toda vez que vocês fazem uma reunião, quando as lideranças vão para

Brasília falar com os mburuvicha, sempre estão escutando

que as autoridades vão tomar providências, mas que nunca chegam. Para que essas providências não ficassem só na

promessa, os próprios karai fizeram outras leis. Colocaram

prazos para que os passos para a demarcação fossem cumpridos por todos.

Ocorre que esses prazos de meses acabam virando em anos, em muitos anos. Cada presidente da Funai diz que vai identificar e demarcar tantas terras por ano e nada disso está acontecendo. E mesmo que as identificações sejam feitas, as áreas demarcadas, os fazendeiros continuam na posse das terras. Tudo continua no mesmo.

E quando os índios entram em seus tekoha, que já estão

reconhecidas pelo governo federal, os mburuvicha dos

karai fazem acordos e novos prazos são feitos para

solu-cionar o problema da terra. São os acordos para ficarem em um pedacinho de terra até que a justiça tenha uma

decisão final. Assim é que estão as comunidades de Ñande

Ru Marangatu, Jatayvary, Arroyo Cora, Sukuriy, Guyra Roka, Takuára e outros. Esses acordos acabam sendo uma

(43)

maneira de os fazendeiros continuarem explorando a terra

e, ao mesmo tempo, os índios “ficarem” no tekoha, naquele

pedacinho que deixam para vocês.

É isso que está acontecendo no Mato Grosso do Sul: os

mburuvicha dos karai vão deixando os problemas para

depois, para não enfrentar as pressões. Primeiro vão deixan-do as identificações, depois as demarcações, depois o di-reito de ocupação.

(44)

Tem uma parte na CONSTITUIÇÃO FEDERAL, essa lei maior do Brasil que trata do direito dos índios de poderem entrar na justiça:

Art. 232: Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

Esta parte da Constituição também é muito importante porque os índios todos são reconhecidos como iguais a todos os demais brasileiros diante da lei. Significa que a Funai não é mais o único órgão responsável em representar os índios na justiça. Com esta nova Lei, qualquer índio, qualquer comunidade ou organização indígena pode recla-mar, exigir seus direitos na justiça, podendo também nomear um advogado por conta própria. Pode processar quem quiser que esteja prejudicando os seus interesses, inclusive o governo por não cumprir com o seu dever de garantir os direitos. Por exemplo, não estar cumprindo com as leis sobre as Terras Indígenas.

(45)

O Ministério Público tem que estar ao lado dos índios em todos os passos na justiça para defender os interesses das comunidades indígenas. No Ministério Público trabalham os Procuradores que muitos de vocês já conhecem e eles têm sido aliados muito importantes em defender as causas dos índios. São eles que podem falar com os Juízes.

Mas se a Lei diz tudo isso, então por que os direitos indíge-nas não são reconhecidos na prática, nem pelo governo federal e nem pela justiça?

Vocês mesmos sempre falam que os karai gostam de fazer

política. Todos vão fazer pressão no governo, porque o go-verno representa os interesses de cada tipo de pessoa. Ricos, pobres, militar, donos de bancos, de supermercados, empregados das fábricas, etc. E o governo faz as coisas para um ou para outro dependendo das pressões que recebe. Por isso é que os representantes indígenas também vão lá

em Brasília para fazer pressão nos mburuvicha: o

(46)

Depois que a Funai fez a identificação e delimitação da

área, o documento é encaminhado ao Ministro da Justiça.

Os fazendeiros podem também fazer o seu levantamento e estudo para provar que a terra não é indígena. Contrata um profissional e apresenta também ao Ministro da Justiça. Caso o Ministro esteja convencido das provas da Funai, ele declara a terra como indígena e manda a Funai demarcar. Os fazendeiros podem não aceitar e, neste caso, vão na justiça reclamar os seus direitos. O juiz que vai decidir sobre o caso, pega os documentos da Funai e do Ministério Público e dos fazendeiros para ver quem tem razão. Se ele ficar na dúvida ele nomeia um perito para estudar o caso

novamente. Mais levantamentos, mais kuatia e audiências.

Tudo isso leva muitos anos e a comunidade fica esperando pelas decisões que muitas vezes são contra as comunidades. Então os procuradores têm que recorrer contra a decisão do juiz e mais tempo vai ser necessário esperar. Enquanto isso, quem fica com a posse das terras são os fazendeiros e os índios ficam naquele pedacinho, no “chiqueirinho”, como vocês costumam dizer, até que o juiz decida de vez.

Como vocês sabem, os juízes nunca vêm saber como vocês estão passando, como estão vivendo. Eles só olham para os

kuatia. Só falam com vocês e os fazendeiros em audiência.

(47)

Por isso, é importante que os documentos que vão parar na justiça sejam provas boas e válidas dos seus direitos, porque os fazendeiros fazem a mesma coisa: querem provar que a terra é deles. Apresentam documentos como títulos de propriedades, pagamentos de impostos, todo

tipo de kuatia. Os índios não têm esses kuatia. Mas têm

aquele documento que foi feito na identificação e outros depoimentos e memórias que foram registrados e transfor-mados em documentos.

O problema é que durante essa briga na justiça, que demora muitos anos, são os fazendeiros que estão na posse da terra. E ninguém sabe até quando: 2, 5, 20 anos? Uma comunida-de inteira não pocomunida-de ficar esperando anos e anos, para po-derem ocupar e usar a terra que é do seu direito. A justiça deve encontrar outro caminho que não sacrifique somente vocês. O espaço que as autoridades estão destinando para as comunidades, nos casos de litígio, é muito pouco. É apenas para dizer que vocês não foram expulsos pela justiça e que estão dentro da terra.

Como a Terra Indígena é patrimônio da União, então o governo tem o dever de defender e conseguir que vocês ocupem o tekoha.

(48)

Este kuatia é um pedaço das muitas conversas e reuniões

que nós, Celso e Paz, fizemos com vocês, principalmente

os velhos e velhas, durante muitos anos em muitos tekoha.

Escolhemos alguns assuntos que achamos mais importantes para que estas informações possam chegar para mais

pes-soas, ajudando a compreender o jeito do karai de fazer as

leis e lidar com elas e também seu jeito de não fazer ou desobedecer o que mandam essas leis.

Esperamos que este kuatia possa ajudar a recuperar o

ter-ritório de vocês, o ava retã, para que os tekoha sejam o

(49)
(50)
(51)

Ko kuatiápe ikatu jalee mba’épa iporã jaikuaa hanguã

ñande Kaiowá ha Guaranikuéra ñaconsegui jey hanguã

ñande yvy. He’i mba’épa iporã jaikuaa ha jajapo va’erã

ñande rekoha oñeme’è jey hanguã ñandéve, jaiporu jey

hanguã. Omombe’u ñandéve identificação ha demarcação,

mba’éichagua oúva umi karaikuéra ohecha hanguã

ñande ha mba’éichagua oikuaáta ñande yvyrehegua

justiça mburuvicha guasu. Omombe’u avei mávapa

oguereko poder, mávapa ipópe opyta oresolve hanguã

ñane temikotevè. Omombe’u avei mávapa umi karai

mburuvicha guasúva oresolveuka.

Kóa ko kuatia oì parte português ha peteì parte

guarani. Upéicha ikatu ñane ramõikuéra ha ñande

jaràikuéra oikuaa avei péa pe ñande derecho karai reko

rupi. Identificaçãohápe tekotevè ñamba’apo oñondive.

Iporã ñande jarài ha ñane ramõi omombe’u ñandéve

(52)

Celso ha Paz he’i: “Ratimaete maymáva avakuérape

oroguahè ha omohenda oréve hogakuérape!” Heta ára

ha’ekuéra oiko umi tekoha rupi Kaiowá ha Guaranikuéra

ndive. Heta mba’e ha’ekuéra ohendu ha heta ñande

jaikuaa oñondive.

Oì umi omombe’u hanguã la ñe’è português ore

ñe’èpe oréve: Ambrósio Gomes Martins Pueblitokueygua

ha João Rodrigues Mbarakaygua. Ha oì umi opytyvõ osè

porã hanguã ko kuatia: Maria de Lourdes C. Nelson - Kuña

Jeguaka, Elizeu Ribeiro, Marta Maria Azevedo ha Sandra

Regina da Silva.

Atima porãite enteropeguarã!

Ponta Porã, junho de 2004

Celso Aoki

Paz Grünberg

PKG

Programa Kaiowá Guarani

Centro de Trabalho Indigenista

www.trabalhoindigenista.org.br

(53)

Ndoikói va’ekue yma tiempo otro, solo avánte oiko!

Ha’ekuéra ojapo kokue, ho’u ka’aguàgui. Ombo’a va’ekue

ho’u va’erã so’o: tañykatì, mborevi, guasu, jaicha, akuti

sayju, tatutee, pira, piky, guaripi, inambu, teju ...

Oguahèramo karai: “Ou karai”, avaete he’i, “ou mbairy,

ape oguahè mbairy, mba’épa oipota ou?”

Yma ava okyhyje brancogui ha alguno odipara hague.

Iñepyrù, yma, ndahetái va’ekue mbairy. Ha uperire

hetave tave ohóvy ha ha’ekuéra oiporuvéma ñandehegui

ñande yvy. Ñambohetavémaramo oipe’ave ñandehegui

mbairykuéra ñande yvy, oipe’a ohóvy. Mbairy ou

mombyràgui oipe’a hanguã orehegui ore yvy. Ou São

Paulogui, ou umi Gaucho ha Paraguaigui ou avei. Ko’ãnga

oipe’apáma. Omosèmbáma oréve ñande rekohakuégui.

Ojohupa ñande rekoha yvy.

Mba’éichapa ñande jahasa

mbairy oguahèrõguare

ko’ãngapeve

(54)

noñotÿi pasto guyteri. Ha upéi ha’ekuéra ndojapovéima

kokue, oitypáma ka’aguy ha oñotÿma kapi’i vakapeguarã.

Ojohupáramo mbairykuéra, oitypa ñandehegui ñande

rekoha ka’aguy. Ñande jey ñachanga ichupekuéra oityuka

ñandéve ka’aguy. Ko’ãy opáma ñande ka’aguy.

Karaikuéra ogueru tembi’u omba’apo hanguã ojeupe.

Ogueru oréve rembi’urãme locro, feijão. Upéa ava ogana

omba’apo hanguã ichupekuéra. Ogueru charce, juky,

sapy’ánte vaka ñandy va’ekue. Ha’ekuéra ogueru avei

olla ha ao. Ome’è machete ha foice okopi hanguã ojeupe

ka’aguy; hacha oity hanguã yvyra ha asada oka’api hanguã.

Umía ogueru ñepyrù. Karai ogueru avei imboka va’ekue

ha sapy’ánte ogueru caña.

Ndajaikuaáigui okopiuka ka’aguy sapy’ánte ñande iporã

jahecha. Ndajaikuaái ñande perjudica hanguã mbairy.

Ndajaikuaái vointe mbairykuéra ojapo vaíta ñanderehe.

Ko’ãnga rupi jaikuaáma mba’épa ojapo hague mbairy.

Oitypa va’ekue ñandehegui ka’aguy. Opyta nandi,

ndajarekovéi kokue, opa ñande pohã ka’aguy.

Oike va’ekue fazendeiro, ha’e ohóma idocumenta,

oguenohèma documento. Gobierno ome’è ichupe

documento, ko yvyrehegua kuatia ha fazendeiro

ojoguáma ifazendarã. Oconseguíma yvyrehegua

kuatia, ko documento mbarete tuicháva. Entonces,

ojoguáma ha oguenohèmba hekógui. Entero parte oiko

(55)

upéicha. Gobierno ovende ohóvo, ava reheve ovende

yvy. Otro fazendeiro ojogua jey ha omosè ava. Ko’ãnga

odocumentapáma gobierno. Ndajaikuaái cuanto hektárea

gobierno ovende.

Ko tiempope karai onohèmba ifazenda, ogueraha ava

omboaty ichupekuéra. Upépe oipe’a jey ha ogueraha jey

ichupekuéra otro rendápe. Ha upéi otro fazendeiro ou,

onohè oguerova. Ha upéi otro ou oguerova jey. Sapy’ánte

gobierno ome’è avápe pedazo, “aldeia” he’i. Yma nunca

ndaipóri hague aldeia. Heta ava oho otro hendápe por no

omano, heta odipara karaígui.

“Ojukáta oréve,” he’i hikuái.

Peteì tujáva omombe’u va’ekue ñandéve:

“Primero ouramõguare karai,” he’i, “ava noñemongetái

karai ndive va’ekue. Oñemongeta péicha ko sinalpe.

Entonces, karai ome’è araka’e solo trabajo. Pe tiempope

karaikuéra, ha’ekuéra oho pindónte araka’e. Ava

oguereko voínte kokue, entonces karai nome’èi

ichupekuéra ho’u va’erã, nome’èi ichupekuéra plata. Solo

ome’è trabajo ichupekuéra.

(56)

capataz oho oinupã. Ha oho omba’apo ha umi

ndoguantáiva ojuka. Ojapi ha oity upépe voi, ka’aguàpe

voi. Upéa oikova’ekue yma. Hasàva nopoihanõi, solo

ojukánte. Upérupi ava hetaeterei omano. Ndaha’éi

hasàgui ndoguantái omba’apo hanguã, sino ojukánte,

ojapi ha oity.

Ha upéi karai ovende yvyra. Ha ovendéma yvyra,

ovendepáramo ka’aguàre ouvéma karai ha ovende

fazenda otrope. Ndaha’éi ipariente, ouve mante karai. Ha

ovende katu onohèma ha’ekuéra:

‘Tereho! Terehóke ko’águi!” he’i, “che mba’éma!’

Omosèmba araka’e avakuérape. Entonces, upéa rupi, heta

la cementerio cualquier partepe. Nde reho cementerio

meme porque karai heta ojuka ava ka’aguàre.

Upéi ouve ouve karai, hetavéma hikuái. Ha ava ndohoséi

katu omba’apohápe oinupã ha’e. Hetáma omba’apo ava

ha hetami ogana. Opagarire ha osèramo tapére jagunço

osegui ha ojuka, familia completo ojuka. Upéicha ojapo

hague karai por noike opaga. Ko tiempope, ñandekuéra

ava va’e heta okyhyje karaígui. Heta año ñamba’apo ha

upéi omosè ñandéve.”

Ava heta opyta fazendape. Entonces, por no ikomoda

fazendeiro, gobierno ome’è avápe ijaldeiarã, ome’è ichupe

peteì kolokasõ, onohè omboaty upépe. Karai ogueraha

avápe ijaldeiarãpe, por no ikomoda va’erã fazendeiro.

(57)

Gobierno voi ome’èuka, gobierno ou medi hanguã,

jajekoloka hanguã ava. Odemarca, ou ingeniero omedi

hanguã mbovy hektárea ome’èta. Upépe omboatàta

avakuéra. Upéicha ojapo gobierno. Ome’è Puerto Lindo,

Pirajuy, Ramada, Amambái, Dourados, umía ome’è.

Omboaty karaikuéra avápe upépe. Ome’è haguépe oiko

ava ombyaty.

Upéa tiempo ndaipóri misão guyteri, uperirénte oiko.

Umi crenterã ymaguare ndaipóri araka’e. Nda’áréi oiko

misão. Misão rirénte ava oiko crente.

Ha upe aldeia oñeme’è hague gobierno pya’e omboatànte

ha henyhèmba. Ha upéi fazendeiro nome’èvéi itrabajo.

Único osè hanguã fazendape solo takuare’èndàpe mante.

Solo upéa oì ñamba’apo hanguã, ñachanga hanguã.

Fazendeiro nome’èvéi changa. Usinahápe solo oho

kuimba’énte, ifamilia opyta. Upéa oñepyrù hague 1983,

oñepyrù ava omba’apo takuare’èndàpe.

Ko’ãy ava retãme oì vaka retã mante ha sojaty, upéante

oì ava retãme. Tekoha, upéa ñande rekoha yvy, opyta

ko’ãy fazendeiro pópe. Ñane mba’ekue jaipota jey, solo

upéa. Henyhèmbáma aldeia, heta la mitã, henyhè michi

(58)

mimi, upéicha oiko. Heta guyteri oì upéichagua.

Entonces, fazendeiro cada vez ijargelvéa ha iñañáva.

Cada vez oñekambia fazendeiro ijargelvéa, iñañave ha

ipochy. Nañande jojáigui ipochy. Ha’ekuéra ou ha ogana

ifazenda ñande rekoha. Ñande yvy oganapa. Entonces,

ore ava ropyta reipáma, ore yvy’ÿre. Ha entonces

mba’épa jajapóta? Ko’ãnga jajerure jey ñande yvàre!

Ko’ãnga rupi, upéa causa, upe tekoháre oì familiakuéra,

oì gentekuéra ohose jeàva hekohápe. Ha entonces,

oì umi fazendeiro ojohu vai aváre ohose jeàva heko

haguépe; jarài ha ramõi heko haguépe. Upéagui umi

fazendeirokuéra ipochy aváre. Entonces, tekotevè umi

mburuvichakuéra ava va’e ha karai va’e ohecha upéa.

Itiempo ou umi karaikuéra mburuvicha, umi karai

mombyrygua ha ohecha mba’épa la fazendeiro ojapo

ñanderehekuéra, mba’éicha jaiko ko’árupi. Ndajaiko

porãvéima, por causa karaikuéra ha ndaiporivéima ore

lugar. Entonces tekotevè ore rekohakuére oñemedi jey

hanguã, ikatu hanguãicha javy’a ñande familiakuéra

reheve. Upéa mburuvichakuéra tekotevè ohecha ha

oikuaa va’erã.

Oìma ko’ãnga umi tekoha ore ogana hague: Rancho Jakare,

Guaimbe, Takuaraty (Paraguasu), Jaguapire, Pirakua,

Siete Cerro, Guasuty, Jarara, Sukuriy. Icierto, umíante

oñeme’è jey.

(59)

Ko’ãnga oì heta gente oguerreáva teko haguére,

oipota jevàva oho hanguã ifamiliare. Oganase jey heko

haguépe. Jaguerrea jevy jevy ñande reko haguépe,

ikatu hanguãicha ñañetranquilisa jey ymaguaréicha

enterovéva familia ndive, ñande gentekuéra ndive.

Omba’apo jey hanguã ha ipy’a guapy jey hanguã. Ñande

ko’ãnga rupi jaheka heta lado mba’éichapa jajapóta

oñeme’è jey hanguã ñandéve ñande reko hague, ñane

ramõi ha ñande jarài oiporu hague. Ñande jaiko jey

hanguã upépe.

Branco iletrado, branco oikuaapa ko asunto yvyrehegua

ha ava sapy’ánte ndoikuaa porãi guyteri. Tekotevè

ñaluta, ñaikotevè ñande pensa mba’éichapa jajapóta

ñande familia ha ñane remiarirõpeguarã.

Entonces ñande, pe ñande rekohápe, aje, jaikuaa moópa

ñande ru, ñane ramõi rogakuéra va’ekue. Jaikuaapa

moõpa oì ore ru ikokue va’ekue; moõpa ha’e oho pira

pói ha piky pói; moõpa ojapo monde ha moõpa ñande

jarài ojohéi ao. Jaikuaa mba’éichagua fazendeiro omosè

ñandéve, entonces umía jaikuaapa. Solo ndajaikuaái

mbovàpa oì la gente. Yma ndajecontái, solo ñande

reta jaikuaa. Ko’ãnga rupi ñane hi’ãnte, ñande jaheka

(60)

Pe ñande rekohágui ñasè hanguã va’ekue, ndaha’éi ñane

ñasèségui. Oì peteì ñane mosè upégui, ñande ru, ñane

ramõi onase haguépy. Ndaha’éi igústore ñande jaheja

ñande rekoha. Otiempo karai ou hague, ndajaikuaái

hague karaikuéra ojopàta ñandéve ha oipe’átaha ñande

rekoha. Ndajaikuaái hague karai ñe’è yma, ndajaikuaái

mba’ehápa ou. Entonces, upérupi ou karai ñande jopy,

ñande juka, ñande mbokyhyjepa ha ñane mosarambipa.

Ñande ava ndaikatúi ñorairõ fazendeiro ndive, ñande

ndajarekói mba’eve.

Ko’ãnga rupi ñande jaikuaáma mba’épa la ñande direito

.

Entonces, jaikuaa rupi mba’épa rupi ñande direito. Jaikuaa

rupi avei, mba’épa la mburuvichakuéra ha mba’éichagua

jajapo hanguãicha ichupe. Ikatu la karai mburuvicha

ohecha ñane mba’e jajeruréva ha ohecha hanguã ñandéve

avei, ikatu hanguãicha oikuaa mburuvicha guasu ome’è

jevy hanguã ñane mba’éva.

Ko’ãnga rupi oì la karai reko, heta mba’e oì:

• oì lei,

• oì política,

• oì documento, ko kuatia mbarete tuicháva,

• oì kuatia.

(61)

Yma umía ñande ndajaikuaái, porque ndaha’éi ñane

mba’e. Entonces, ndaha’éiva ñane mba’égui ndajaikuaái

upéa. Upéa ko uso ko’ãngaguáma, ko’ãnga ojeporúva.

Upégui, péa cosa yma oréve iñepytù. Pero oì upéicha

ñaheka peteì mburuvicháta mante ñamohesakã va’erã

ñandéve. Sapy’ánte oì capitão pyahúva oikuaáma.

Oì umi ava ombo’e kuatiáre, umía oguerekóma

conocimiento. Oikuaáma kuatia rupi, oguerekóma

derecho odiscuti, ojopy ñande derechope. Yma ni escuela

ndajehechái, ndoikói va’ekue escuela. Solo ñane mba’e

jeroky, guachire ha ñembo’e. Upéante ore roguereko,

upéa ava reko.

Ha pe karai ou rire oìma heta mba’e. Primera cosa

ojeporu oì documento, ojeporu política, ojeporu escuela.

Ava ra’ykuéra oikéma escuelape. Oguerova ava reko,

omisturáma ava reko ha karai reko. Alguno oñe’èma

portugespe. Karai ova ava reko, oipe’a mimi heko, upéicha

ko’ãnga jaha.

(62)

Ko’ãnga, ñande hína, upéape jaha. Ore roikuaáma ore

derecho ha karai oguereko iderecho avei, mokõi ladope

jaha. Mokõivénte oguereko derecho. Solo umi branco

ore jode, ha’ekuéra olee ha imbaretevéa ha ñande ava

hetami ndoleéi. Ko’ãnga roikemíma branco rekópe,

ja’entendéma.

Ko’ãnga rupi pe ñande yvy jaipota jey oì karai pópe.

Ha’ekuéra ojapo peteì lei ha oguereko imba’e kuatiáre

ha ore mba’e ikuatiáre avei. Entonces, ñande direito

ha’ekuéra oguereko ipópe.

Karaikuéra heta lei ojapo, ha’ekuéra ikatu hanguãicha

ojeresolve ichupekuéra. Heta pensamiento ojapo.

Ha’ekuéra ilei rupi ojeresolvéramo, ha’ekuéra mokõivéva

oì contento.

Pero siempre, ha’ekuéra heta lei ojapo. Ndopái lei,

brancope ndopái lei. Siempre alguno ndobedecéi la

Ava reko ha karai reko

2

(63)

lei, nomboetéi la lei. Alguno ndorespetáigui ha alguno

mbaretépe, o sea ojaposénte. Upéa causa sapy’ánte

ojejapo peteì lei ha ha’ekuéra ou ndorespetái,

ndoseguíri, ojaposénte. Upéa la oñaconteseetereíva

ko’ápe Mato Grossope. Heta karai ndogueroviái la lei.

Heta oiko mba’e vaíva, mbarete rupi oiko.

Oì hína ko’ãnga lei ha’ekuéra he’íva ojeresolve

hanguã. Peteì lei tuicháva ojapo hague. Orespetarõ,

ojeresolve hanguã oréve problema. Peteì lei oresolve

hanguã problema avápe ha karaípe. Pe lei oì entero

brasileiropeguarã.

1988, péicha año temime’è ko lei tuicháva hérava

Constituição Federal.

Ko lei omboete avei ava reko. Entonces, ore roha’arõ

pe lei rupi ojeresolve oréve. Iporã ñande jaikuaa

ko lei tuicháva. Ko’ãnga oì ñandekuéra oguerreáva

ocumpli hanguã pe lei, oì ko’ãnga rupi oguerreaséva.

Ñakonsegui hanguã ñande yvy kotevè ñapensa, ha’e

peteì ñañomongeta, ñande organisa, ñaime junto peteì

py’ápe, peteì ñe’ème. Upéicha jaguerekóta fuerza, ñane

mbarete.

(64)

ichupe oresolve hanguã. Ko’ãnga rupi ñande pe

ha’ekuéra ojapoháicha jaha. Jajopy, ñane mba’e

jaipotáva oñeme’è hanguãicha jey ñandéve. Ko’ãnga

rire ñande péape jaháta. Jaiporútama avei kuatia ha

documento, péa pe lei jaiporu hanguã. Porque la yvy

ñane mba’eha voi.

Umi karai oguahèrõguare ñande resolve hague

enterovete. Jaresolve hague enteroete ñande, porque la

yvy ñane mba’eha voi.

Yma sapy’ánte ore rova otro rekohápe, ore roho

otro rendápe, enterove ore lugar voi. Sapy’ánte

omano charài, chamõi; entonces ifamilia otopa sa’i.

Ndovy’avéigui osè hekohágui, oheka otro lugar opyta

jey hanguã upépe. Por causa opa ichugui igentekuéra,

upéagui alguno osè. Siempre oho otro rendápe, upéa

oheka otro lugar tekoha. Sapy’ánte oì mba’asy, entonces

alguno ohecha otro lugarpe avei. Mba’asàgui ha’ekuéra

ova avei. Otro lugarpe ha’ekuéra hesãi, ovy’a jey ha

ifamiliakuéra okakuaapa jey. Ñane ñasè ate jatopa jevy

yvy porã ñañemitÿ hanguã, y porã ha ka’aguy porã.

Ndajahái mombyry ñande gentekuéragui va’ekue, jaha

hague javisita farrahápe - jajopohu.

Ko’ãnga ndikatuvéi ore rosè. Ndikatuvéi otro rendápe

roho porque karai ndogustái, ijagarrapáma ore yvàre.

Ate ko’ãngapeve fazendeiro oiporu ñande yvy, oity

(65)

ka’aguy, oñotÿ kapi’i , oñotÿ soja ha omosarambi veneno.

Ndaiporivéi ñande marisca, ndaiporivéi ñande pesca, ni

eira, ni pohã ndajarekovéi. Opa pohã ka’aguy.

Heta veces umi fazendeiro ni ore mba’épe ndohejái ore

rohasa, ko’ãngapeve ojopyve. Heta veces ñane mba’épe

ñane japyrù kuri ha lo mismo nañande mbohasái. Ko’ãnga

ko fazendeiro imbareteve, oguerekove recurso ha hetave

avei. Heta oguereko máquina, policiakuéra, hetaeterei

oguereko arma ha ogueru mba’asy pyahu.

Ko’ãnga rupi ñande ndikatúi ñangareko ñane

mba’érente, sino ñacuida branco mba’ére avei -

ñangareko mokõive rehe. Ko’ãnga rupi ñande jaikuaa

mba’éicha rupi ojejapo va’erã karaikuéra LEI, karai

JUSTIÇA ha karai GOVERNO. Mba’épa ha’ekuéra

itrabajo, jaikuaáma upéa. Tekotevè cada uno ñande

jaikuaa ichupe mba’épa ha’e oguereko itrabajo. Oì la

responsable oresolve hanguã ha cada uno oguereko ko

jepotáva.

GOVERNO FEDERAL itrabajo ha’e oguerekove hína

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Referências

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