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TV Mariano Procópio e experimentações: os desafios da implementação da TV no interior do Brasil 1

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TV Mariano Procópio e experimentações: os desafios da

implementação da TV no interior do Brasil

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LINS, Flávio (mestre)2 UERJ/RJ

FERNANDES, Livia (mestre)3 UFMG/MG

Resumo: Análise da implementação da TV Mariano Procópio em Juiz de Fora/MG, a partir das narrativas

veiculadas pelos jornais dos Diários Associados no município e de profissionais que atuaram no empreendimento do Grupo de Chateaubriand na cidade. O estudo teve como pressuposto teórico a relevância das representações midiáticas e da memória na sociedade, e as relações de poder envolvidas na implantação de uma emissora televisiva. Observou-se que o início da televisão no interior do Brasil foi marcado por disputas políticas, dificuldades financeiras e técnicas, e uma luta para a conquista do público pelas produções locais.

Palavras-chave: Televisão; TV Mariano Procópio, Pioneirismo; Telefoto Jornal; Diários Associados

Introdução

Analisar as características particulares da história da televisão em Juiz de Fora é relevante para o estudo da narrativa de pioneirismo da cidade (MUSSE, 2006) e para a história dos meios de comunicação no país, uma vez que a cidade é considerada um dos primeiros municípios do interior da América Latina a receber uma emissora geradora de sinal televisivo.

A TV Mariano Procópio funcionou em Juiz de Fora nos primeiros anos da década de 1960 e integrava o grupo dos Diários Associados (DA) de Assis Chateaubriand, que possuía na cidade dois jornais impressos (o “Diário Mercantil” e o “Diário da Tarde”), e uma estação de rádio (“Rádio Sociedade”). Além da geração local de sinal de TV (fase experimental), a emissora ainda produziu material jornalístico a ser transmitido via Tupi Rio

1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Audiovisual e Visual, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013.

2 Doutorando em Comunicação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em

Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Professor do curso de especialização da UFJF em TV, Cinema e Mídias Digitais. Email: flavio.lins@oi.com.br

3 Doutoranda em Comunicação pela UFMG. Jornalista e mestre em Comunicação pela UFJF. Integrante do grupo de pesquisa “O estilo televisivo e sua pertinência para a TV como prática cultural”, cadastrado no CNPq. Email: liviafoli@yahoo.com.br

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e TV Itacolomi – MG (LINS, 2012).

De acordo com Marialva Barbosa (2007a), a visualização do passado é possível por diversos caminhos, um deles é por procurar os indícios e os sinais que chegam ao presente. Isso porque, para a autora, não é possível recuperar o passado tal como ele se deu, mas a partir dos vestígios desse no presente pode-se interpretar este passado. Estes vestígios podem ser documentos, produções culturais ou entrevistas com personagens da época a ser estudada.

O fato da TV Mariano ter funcionado de maneira experimental, dificultou que a pesquisa fosse desenvolvida a partir da análise de produções da própria emissora, ou de seu material de arquivo. Assim, o estudo foi desenvolvido a partir dos vestígios deste passado ainda disponíveis no presente. De forma que, o presente trabalho se deu a partir de uma pesquisa documental dos jornais da cidade, com o objetivo de criar o corpus do estudo e encontrar informações que ajudassem a contextualizar o início da televisão no município, seguido de entrevistas com profissionais que atuaram na produção da TV4.

A partir destes vestígios, foi possível perceber como foi desafiante a implementação da TV no interior do Brasil, que envolveu aspectos políticos, dificuldades técnicas e financeiras, em busca de conquistar um público para as produções locais da telinha.

As primeiras negociações para o canal juiz-forano

Os Diários Associados, grupo de Comunicação pertencente a Assis Chateaubriand, possuíam, no final da década de 1950, dois jornais (Diário Mercantil e Diário da Tarde) e uma rádio (PRB-3) em Juiz de Fora, dominando assim os meios de comunicação da época. Assim, não é de surpreender o interesse do grupo em instalar na cidade o que seria a primeira emissora de televisão do município, a TV Mariano Procópio. A estruturação desse conglomerado de comunicação era uma marca dos Associados de Chateaubriand que chegou a possuir em quase todos os estados do país diversos periódicos, emissoras de rádio e televisão.

Nesta época, de acordo com o jornal Diário Mercantil, a cidade de Juiz de Fora com cerca de 120 mil habitantes, possuía em torno de três mil televisores (DM, 26/02/1960, p.4). A TV era um objeto de luxo, que a maioria da população não tinha condições de adquirir.

A TV Mariano Procópio foi uma iniciativa do diretor dos Diários Associados em Juiz de Fora, Renato Dias Filho. Segundo o jornalista Wilson Cid (2007), que trabalhou na TV Mariano Procópio e no Diário Mercantil, Dias Filho queria conseguir a concessão de

4 O pesquisador Flávio Lins teve acesso a materiais fílmicos da emissora, cuja descrição pode ser

conferida no livro LINS, Flávio. ; FARIA, Maria C. B. . Cariocas do brejo entrando no ar: o rádio e a televisão na construção da identidade juizforana (1940-1960). 1. ed. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2012. v. 1. 260p

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um canal de televisão definitivo para a cidade. O objetivo era criar uma estrutura de comunicação mais ampla, atingindo todas as mídias da época, que seria completada com a televisão. A emissora pretendia para isso aproveitar-se do prestígio que a rede de Chateaubriand tinha em todo o país.

As Associadas, em 22 de dezembro de 1956 (em virtude do sucesso alcançado pela Tupi e já com pretensão de formar uma rede no país), já haviam protocolado, junto ao Governo Federal, um pedido de concessão para uma emissora de tevê geradora de sinal em Juiz de Fora, e que seria a primeira do interior do país. O que foi feito graças à projeção como cidade industrial, que Juiz de Fora ainda possuía (DM; DT, 16/04/64). Nesta época, os Diários Associados tinham instalado no Brasil somente três emissoras: a Tupi de São Paulo (1950), a Tupi do Rio (1951) e a TV Itacolomi de Belo Horizonte (1955).

Mas foi em uma visita a Juiz de Fora para inauguração de um novo transmissor para a PRB-3, que no final da década de 1950, Assis Chateaubriand anunciou a intenção de instalar na cidade a TV Mariano Procópio. (DM, 01/05/1960). Em 1959, os jornais Diário Mercantil e Diário da Tarde já publicavam que estava sendo preparada a instalação de uma emissora local para a cidade. “Estão também em preparativos as providências para a organização da S.A. Mariano Procópio, instalação da TV local.” (DM, 12/02/1959, p. 1).

Em maio de 1959, os jornais começaram a noticiar a chegada da TV Mariano Procópio: “Aguardem a TV Mariano Procópio – canal 05” (DM, 03/05/1959, p. 04). Por mais de um mês os veículos publicaram este anúncio, provavelmente com o objetivo de criar uma expectativa do público em relação ao novo empreendimento do grupo dos Diários Associados em Juiz de Fora. Em junho deste mesmo ano, os Diários Associados adquiriram um novo prédio na Av. Rio Branco, centro da cidade, para abrigar “a maior expansão de nossa terra”: os dois jornais, DM e DT, a rádio PRB-3 e a administração do mais nova iniciativa da cidade, a TV Mariano Procópio. (DM, 16/06/1959, p. 1).

Mas o projeto de Chateaubriand só se torna concreto graças à Operação 21 de Abril, que instalou o transmissor no alto do Morro do Arado, tornando Juiz de Fora, a partir de fevereiro de 1960, capaz de receber com qualidade, o sinal da Tupi vindo do Rio ou Belo Horizonte, e irradiar sinais de TV, valendo-se da torre retransmissora. Começava a se criar a estrutura para a TV Mariano Procópio, que recebeu este nome “numa deferência especial à memória do grande brasileiro Mariano Procópio, construtor da primeira rodovia do Brasil” (Estado de Minas, 12 de abril de 1960, p.2).

Conforme noticiado pelo DM e DT, os Associados estavam construindo uma rede física para integrar os sinais do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais até Brasília, para que fosse transmitida a inauguração da nova capital do país, em abril de 1960. O projeto

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inicial ligaria Paraíba do Sul a Santos Dumont, passando à margem de Juiz de Fora. Contudo, devido o esforço da rede associada local, foi possível integrar Juiz de Fora à futura rede de micro-ondas. Foram instalados na cidade dois transmissores, uma para a retransmissão da TV Tupi e outro para a emissão de uma futura programação local (DT, 10/05/1960, p. 3).

Nesta época, os Diários Associados passaram por importantes acontecimentos que marcaram sua história. Primeiro, a expansão de suas emissoras de televisão por todo o país. Tanto que em apenas 11 anos o grupo já contava com mais de 20 emissoras. (CARNEIRO, 1999, p. 313). Segundo, foi a criação do Condomínio Associado por Assis Chateaubriand. Conforme Morais (1994, p. 12-14), rompido com os três filhos, o fundador dos Associados, em 21 de setembro de 1959, anunciou que decidira doar a 22 de seus empregados 49% da propriedade de seu conglomerado de comunicação, constituído por 40 jornais e revistas, mais de vinte estações de rádio e de televisão. Entre os condôminos estavam João Calmon, Leão Gondim, seus filhos Fernando e Gilberto, seu irmão Oswaldo Chateaubriand.

A criação do condomínio foi importante para a efetivação da TV Mariano Procópio. Isso porque o diretor dos Associados local, Renato Dias Filho, foi convidado por Chateaubriand para se tornar um donatário, em julho de 1962, ocasião em que Fernando Chateaubriand, filho do dono dos Associados, renunciou ao condomínio (MORAIS, 1994, p. 614). Com Dias Filho entre os acionários seria mais fácil garantir os investimentos para a instalação da TV em Juiz de Fora.

O terceiro aspecto foi o adoecimento de Assis Chateaubriand neste período. Em fevereiro de 1960, ele teve uma trombose cerebral que o deixou paralítico e com muitas limitações até a sua morte em 1968. Quarto motivo, os Diários Associados davam os primeiros sinais de que sua saúde financeira não ia bem. Três meses antes da criação do condomínio, João Calmon escrevera a seu patrão que a dívida dos Associados sob as suas responsabilidades já somavam 140 milhões de cruzeiros, fora a dívida com a Previdência Social.

Assim, foi neste contexto de expansão em meio à crise financeira, problemas de saúde de Chateaubriand e criação do Condomínio Associado, que foi constituída a TV Mariano Procópio (TVMP) como Sociedade Anônima, em 07 de abril de 1960 (DM, 10/04/160, p. 8).

Sociedade Anônima e a busca por investimentos

A fundação da TVMP enquanto sociedade anônima permitia que o público juiz-forano financiasse parte dos gastos da TV, por meio de compras de ações públicas. Esta experiência já tinha sido feita na TV Ceará, no ano anterior, em que foram vendidas ações

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no valor de mil cruzeiros cada, divididos em 10 vezes, o que rendia juros de 8% ao ano. O Diário Mercantil do dia 20 de janeiro de 1960, antes mesmo do sinal da Tupi chegar oficialmente, já noticiava sobre a instalação em Juiz de Fora da TV Mariano Procópio, através de uma sociedade anônima:

Juiz de Fora, cidade pioneira em diversos setores de atividade, caminha agora a passos largos para ocupar a vanguarda em outro grande empreendimento: a concretização da instalação e funcionamento da TV Mariano Procópio, Juiz de Fora será a primeira cidade interiorana (excetuando-se as capitais) a possuir uma estação de televisão. E todos sabem o que isso significará para o nosso progresso. Para a exploração da estação de televisão, que dentro de pouco tempo estará transmitindo os acontecimentos locais e nacionais de maior relevo e importância, está sendo constituída uma poderosa sociedade anônima, cujo capital atingirá à quantia de quinze milhões de cruzeiros, sendo de se notar que até a instalação definitiva a TV Mariano Procópio contará com uma camioneta com equipamento especial no valor de mais de oito milhões. Do capital da sociedade anônima a organização "associada" do Brasil contribuirá com parcela superior a sete milhões de cruzeiros, que já foram subscritos. O restante do capital será conseguido com a venda de ações no valor nominal de Cr$ 1.000,00 e que brevemente estarão no mercado (Diário Mercantil, 20 de janeiro de 1960, p.8, grifo nosso).

O jornalista das Associadas, Rubens Furtado, em depoimento a nós concedido, lembra-se como foi convidado por Renato Dias Filho, então diretor dos Diários Associados em Juiz de Fora, a participar do projeto de televisão na cidade:

Rubens, o Chateaubriand quer que eu faça uma televisão em Juiz de Fora, eu não tenho dinheiro para isso; o Diário Mercantil faturava muito pouco e a Rádio Sociedade também, o Chateaubriand é maluco, ele quer de qualquer maneira uma televisão aqui. E custa segundo o cálculo do Chateaubriand... Eu não me lembro, mais ou menos eu precisava de uns 500 ou 600 mil dólares para montar uma televisão. Então, eu vou fazer o seguinte, vou criar uma empresa e vou vender ações em Juiz de Fora. [...] e aí, bom, ele lançou a TV Mariano Procópio no jornal (FURTADO, 2009).

Assim, seguindo o mesmo modelo de outras cidades, a população de Juiz de Fora foi convocada por meio do DT e DM a comprar ações da TV Mariano Procópio.

V. está convidado a participar e beneficiar-se deste grandioso empreendimento. Lançado sobre a garantia e responsabilidade dos Diários, Televisões e Emissoras Associadas: compre ações desse empreendimento, e v. estará cooperando, para trazer mais rapidamente à sua cidade o melhor veículo de informações e divertimento...

[...]

Prestigie, colaborando na compra de ações da TV Mariano Procópio para que Juiz de Fora seja a PRIMEIRA cidade do interior do Brasil e ter a sua própria televisão. (DM, 31/04/1960, p. 7)

Segundo o jornalista Wilson Cid (2009) a estratégia não deu certo e pouquíssimos assinaram, Cid, na época, trabalhava na Rádio Industrial, que era concorrente das Associadas, vindo se juntar às empresas do conglomerado de Chateaubriand somente em 1963. Mas, de acordo com anúncio publicado no Diário Mercantil de oito de maio de 1960

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sobre o lançamento da TV Mariano Procópio, consta que, até o dia 29 de abril, “5 dias da data do seu lançamento, foram subscritos Cr$ 1.164.000,00 de ações preferenciais” (p.8).

Assim, no dia 02 de maio de 1960 (p. 6), foi publicado no Diário da Tarde o nome dos acionistas do primeiro milhão de cruzeiros subscritos no início das vendas das ações; e o nome dos acionistas do segundo milhão, no dia 21 de maio de 1960 (p.6). A iniciativa privada também contribuiu para que Juiz de Fora tivesse seu canal de televisão. A associação do Centro Industrial da cidade colaborou com cinco milhões de cruzeiros para o capital da TV Mariano Procópio (DM, 12/02/1960, p. 8).

Desta forma, a TV Mariano Procópio, após o apoio financeiro dos juiz-foranos começou a funcionar como retransmissora da TV Tupi. A emissora inicialmente retransmitia a Tupi do Rio, mas quando tinha problemas técnicos, ou em ocasiões especiais os juiz-foranos assistiam a programação da TV Itacolomi de Belo Horizonte (DM, 11/12/1960, p. 1).

Mas, passada a empolgação inicial, e como as transmissões locais não começavam, de acordo com notícias publicadas pelos jornais da época, os subscritores foram deixando de pagar as prestações relativas às ações.

A partir da edição do Diário Mercantil do dia 22 de novembro até 31 de dezembro de 1961, localizamos convocações para os fundadores da emissora, indicando que a situação começava a melhorar.

TV Mariano Procópio. Entrega de Cautelas. Convidam-se os senhores subscritores de ações da TV Mariano Procópio, para trocarem seus recibos provisórios pela Cautela de ações preferenciais da Rádio Sociedade de Juiz de Fora S.A., de acordo com a resolução da assembleia geral extraordinária dos subscritores da TV Mariano Procópio, realizada em 21 de agosto de 1961. Os portadores destas Cautelas são considerados fundadores da TV Mariano Procópio. As referidas cautelas já dão direito aos juros de 12% ao ano, correspondentes ao segundo semestre de 1961, se integralizadas neste ano. Deverão trazer os recibos de pagamentos e uma certidão de casamento ou nascimento para comprovar a nacionalidade junto ao MVOP, como exige a regulamentação das sociedades anônimas de rádio e televisão. A entrega far-se-á das 9 as 12 e das 14 às 16 horas na sede própria dos DIÁRIOS, RÁDIO E TELEVISÃO ASSOCIADOS de Juiz de Fora, à Av. Rio Branco, 1906 (defronte ao Cinema Excelsior). Informes pelo telefone 1160. Juiz de Fora, 23 de novembro de 1961. TV MARIANO PROCÓPIO. RENATO DIAS FILHO diretor (Diário Mercantil, 23 de novembro de 1961, p.1).

Segundo nos revelou o jornalista Rubens Furtado (2009), como a venda de ações não aumentava e alguns compradores estavam em débito, o diretor das Associadas na Cidade, Renato Dias Filho, pede novamente ajuda a Furtado. E a partir de soluções criativas encontradas pelos jornalistas, entra no ar em caráter experimental a programação TV Mariano Procópio, ancorada no sucesso da Tupi e recorrendo ao apoio técnico da emissora Associada carioca e da TV Itacolomi, de Belo Horizonte, como veremos a seguir.

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Projetos experimentais de produção televisiva

Em 1961, a TV Mariano Procópio começou a funcionar em caráter experimental com programação local, antes mesmo de sair o resultado do pedido de concessão. No entanto, depois de algumas transmissões esporádicas, a TV foi inaugurada oficialmente com uma emissão realizada em outubro de 1961. A inauguração só foi possível devido a uma parceria dos Diários Associados de Juiz de Fora com a TV Itacolomi. O canal de Belo Horizonte levou para Juiz de Fora o carro de reportagem e todo o equipamento necessário para a transmissão local.

O programa de inauguração marcado para o dia 03 de outubro teve de ser adiado por uma semana. A mudança deveu-se a uma pane técnica que houve na TV Brasília, na qual a equipe da TV Itacolomi precisou se deslocar para a capital do país. Assim, no dia 10 de outubro de 1961 foi inaugurada oficialmente a TV Mariano Procópio, com o programa “Boa Vizinhança”, nome que referencia a gentileza da equipe da TV de Belo Horizonte cujo apoio técnico tornou possível a transmissão direto de Juiz de Fora.

De acordo com o DM, a cidade se tornou a capital da televisão no dia da inauguração, pois além da equipe da TV Itacolomi, uma equipe da TV Tupi do Rio de Janeiro, veio para Juiz de Fora, permitindo que a programação fosse retransmitida para os telespectadores do Rio e de São Paulo. (DM, 10/10/1961, p1).

O “Boa Vizinhança” entrou no ar às 9h50 do dia 10 de outubro de 1961, com o programa de Ismair Zaguetto, jornalista do DM e do DT, sobre Sindicato dos Empregados e seus problemas. Ao longo do dia, diversas autoridades transmitiram suas mensagens pela televisão, como o prefeito Olavo Costa, o general da 4ª Região Militar e o Bispo da Diocese. A programação terminou, às 21h com a cobertura do grande baile e show no Clube de Juiz de Fora, preparado para celebrar a inauguração da TV.

Além do programa de estreia, os espectadores de Juiz de Fora puderam assistir também a programas jornalísticos. A primeira experiência de jornalismo na TV juiz-forana aconteceu antes mesmo da emissora ser inaugurada oficialmente. O Diário Mercantil de 05 de outubro de 1961, cinco dias antes da programação de abertura oficial da TV Mariano Procópio, anunciava o “Telefoto Jornal5” na grade de programação (DM, 1961. p. 8).

O Telefoto Jornal foi possível através da antena da TV Mariano Procópio no alto do

5 A palavra Telefoto Jornal soou muito estranha no nosso primeiro contato, e acreditamos que Jorge Couri

(2006) estivesse falando de um telejornal. Mas, nas outras entrevistas, quando Couri (2009) começou a explicar que utilizavam Radiofoto e Telefoto no Diário Mercantil, os fragmentos começaram a fazer sentido. A radiofoto se tratava da foto transmitida pelo rádio, que já era usada pelo jornal O Globo em 1936, e a telefoto consistia na transmissão de imagens ou fotos à distância, associada à telegrafia. “Um pincel luminoso explora todos os pontos da imagem que uma célula fotoelétrica traduz em correntes variáveis para serem transmitidas à estação receptora, onde, em sincronismo, por processo inverso, se reconstitui o original” (COURI, 2006).

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bairro São Benedito e do projetor de slides instalado no mesmo local, era exibido, durante cerca de cinco minutos, às oito e quinze da noite, o Telefoto Jornal, cujo slogan era “Uma síntese fotográfica dos acontecimentos da cidade” (Diário da Tarde, 1961, p.5).

Segundo Jorge Couri (2009), tanto o material jornalístico como a publicidade eram fotografados por ele, seguindo a orientação de Furtado. Os textos eram do jornalista Rubens Furtado e a narração também, que nessa função se revezava com o radialista Cláudio Temponi, além do também radialista Geraldo Basdon, que fazia a locução dos comerciais. Como trabalhamos com história oral, estamos sujeitos a flutuações da memória, assim, Jorge Couri (2009) não tem certeza de como era feita a interrupção da programação da Tupi para a entrada do Telefoto Jornal. Ele se lembra apenas de que o sinal da Tupi era interrompido quando aparecia a imagem do “indiozinho” (símbolo da emissora) na tela. Sobre a rotina da produção, Furtado destacou:

Fazia um texto, gravava e depois eu pegava as fotos e fazia sequência das fotos. Então o operador ia no transmissor ligava ele e ia colocando as fotos na medida que dava a notícia. Por exemplo: O prefeito Olavo Costa Foi hoje inaugurar um novo sistema de água no Jardim Glória e aí aparecia ele inaugurando na foto (FURTADO, 2009).

De acordo com Couri (2009), o Telefoto Jornal foi feito inicialmente com slides sem acompanhamento de som, depois com locução ao vivo e, mais tarde, valendo-se de um gravador6 adaptado, quando os textos puderam seguir prontos para serem exibidos no Morro do Arado. Em seguida, cortava-se novamente para a programação da Tupi do Rio, que era o sinal retransmitido na cidade.

O Telefoto Jornal vigorou, segundo Couri (2009), por quase três anos (1961-1963), embora os anúncios encontrados nos jornais da época dessem conta da existência do jornal apenas entre 24 de novembro de 1961 e 2 de dezembro do mesmo ano. As notícias veiculadas na TV Mariano Procópio eram variadas:

Esportes, por exemplo, seguidos de um anúncio da Casa do Atleta. E podia ser mais de uma notícia sobre o assunto, dependendo do que estivesse acontecendo no dia [...] O Telefoto tinha outras coisas, tinha festas, eventos, acho que na parte social entrava o Décio, a “Notícia Social do Dia”. Notícias de polícia não me lembro, mas devia dar sim (MORAIS, 2009).

O sucesso do telejornal da emissora juiz-forana pode ser medido pelas inúmeras visitas que o engenheiro da TV Itacolomi de Belo Horizonte, Víctor Purri Netto, teve de fazer a Juiz de Fora para melhorar o sinal do canal dez:

Ele vinha aqui... ia lá pra cima... vinha cá pra baixo. O Renato falava com

6 Segundo o jornalista Rubens Furtado (2009), era um gravador que hoje já não existe mais, registrando o

som numa espécie de fio. De acordo com nosso levantamento, acreditamos que tenha sido um gravador de fio modelo 268-1, fabricado em 1948 pela Webster, Chicago, EUA.

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ele: No bairro Bom Pastor está todo mundo reclamando que não está ouvindo... e o que não estava ouvindo exatamente era esse jornal, porque não tinha o que ver, se não este jornal. [...] Eu me lembro, uma bela noite apareceu o Renato, eu morava no Alto dos Passos na rua Machado Sobrinho, mais pra parte alta, então eu tinha uma antena mais ou menos boa pra época, né! Eu tinha uma imagem ótima da Tupi, muito boa mesmo. Ele foi lá em casa e ainda falou: Podia melhorar essa imagem... Ele é perfeccionista o Víctor... podia melhorar essa imagem, o problema é da televisão! Mas eu disse pra ele, a televisão é nova, eu acabei de comprar. Era um modelo Philco Predicta, com tela giratória (MORAIS, 2010).

A transmissão inicial do Telefoto Jornal, fez parte da estratégia utilizada por Renato Dias Filho e Rubens Furtado para convencer a classe média a investir na TV Mariano Procópio S.A. Mas, Couri (2009), Cid (2009) e Morais (2009) relataram também em seus depoimentos a importância de outras transmissões, feitas esporadicamente, em datas comemorativas.

Depois de ter colocado, eventualmente, no ar alguns programas, os Diários Associados deram um passo importante para conseguir a concessão da TV Mariano Procópio, quando houve um despacho favorável do então presidente do Conselho de Ministros Tancredo Neves7, em junho de 1962. Seis grupos disputavam o canal de Juiz de Fora: A rádio Sociedade S.A (representava o grupo dos DAJF), a S. A. Rádio Tupi, a Rádio Industrial de Juiz de Fora, a Rádio Difusora de Minas Gerais e a Televisão Minas Gerais S.A (DM, 15/04/1964, p. 8).

O despacho favorável fez com que os Diários Associados continuassem a produzir alguns programas locais. Assim, por meio da TV Mariano Procópio, em meio às transmissões da Tupi do Rio de Janeiro e da TV Itacolomi, o público de Juiz de Fora podia assistir também a propagandas, programa esportivo e cobertura de eventos da cidade. De acordo com Jorge Couri, estas programações com produção da cidade continuaram a ser esporádicas, sem ter uma grade fixa. (COURI, 2007).

Segundo Ismair Zaghetto, a TV Mariano se aproveitava da estrutura da rádio Sociedade e do DM. Para o programa esportivo “TV Columbia nos Esportes”, veiculado em agosto de 1963, a emissora se utilizava das matérias do jornal e veiculadas na rádio para ler no programa. O que o canal anunciava como script de Mário Heleno, Arides Braga, J. A. de Hollanda e Ismair Zaghetto, de acordo com este último, eram na verdade matérias produzidas para os outros meios, e reutilizadas pela TV.

7 O jornal Diário Mercantil que divulga o despacho do Conselho de Ministros favorável a implantação da

TV Mariano Procópio não informa o nome do político que ocupava este cargo. Mas de acordo com o CPDOC da Fundação Getulio Vargas, o cargo foi ocupado por Tancredo Neves de 14 de setembro de 1961 a junho de 1962.

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/Os_gabinetes_parlamenta ristas, acessado em 01 de março de 2010)

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A luta pela legalização da emissora e produção de um telejornalismo juiz-forano Apesar de ter o despacho favorável para concessão da TV, o grupo de Chateaubriand em Juiz de Fora nunca conseguiu a concessão para explorar o canal 10. Em 1964, com o Golpe Militar e as disputas políticas nacionais e locais, os Diários Associados tiveram de disputar de forma mais direta o Canal da TV Mariano Procópio com os proprietários da rádio Industrial. Assim, o noticiário do DM e do DT foi usado pelos Diários Associados para reivindicar a concessão da TV Mariano Procópio.

[...] Como temos assinalado, continuamos confiantes no espírito de Justiça do Governo, aguardando os resultados dos recursos que impetramos em meio do ano passado. Esperamos com paciência, pois perseverante tem sido nossa ação. Prova disso é que fizemos o nosso pedido para exploração do serviço de televisão em Juiz de Fora, em 22 de dezembro de 1956. Lá se vão oito anos desde o início de nossa luta para dotar a “Manchester” de uma emissora de televisão. [...] (DM, 16/04/1964, p. 6)

Apesar do apelo via Diário Mercantil, a concessão do canal televisivo em Juiz de Fora foi dada ao proprietário da rádio Industrial, Sérgio Mendes. Assim, nos televisores da cidade, a TV Mariano Procópio deu lugar à programação da TV Industrial − Canal 10. Paulo Emerich relembra que, em 1964, ao sair da TV Brasília foi convidado por Dias Filho para assumir a TV Mariano Procópio, pois o diretor dos Associados na cidade dava como certa a concessão. Mas no mesmo mês em que chegou para assumir a administração da TV, a emissora teria de interromper as atividades. Emerich afirma que Santiago Dantas, ministro da época, era amigo de Sérgio Mendes, e tinha influência no Ministério, de modo que conseguiu a autorização para o funcionamento da TV Industrial.

De acordo com Cid, os Diários Associados perderam a concessão por fazer forte oposição ao governo da época, cujo presidente era João Goulart. A tese se reforça por desde 1963, Chateaubriand ter usado toda a sua cadeia Associada para fazer críticas ao governo de Jango e para ajudar na organização do “movimento democrático” que resultaria no golpe militar em 1964 (MORAIS, 1994, p. 637). Este episódio local comprova o fato de que desde seu início o sistema de radiodifusão brasileiro estava atrelado a favoritismo político, no qual a concessão ou não para exploração de canais muitas vezes foi moeda de troca de benesses ou retaliações políticas.

A questão política sobre o canal de Juiz de Fora, ficou clara pelos argumentos do Diário Mercantil para reconquistar o direito de emissão televisiva. Como o regime militar já estava em poder, os Associados locais, acusavam o grupo de Sérgio Mendes de terem apoiado os comunistas.

Falou o proprietário da Rádio Industrial em "imprensa mercenária e anti-democrática". Respondemos: os comunistas nunca encontraram guarida nas nossas folhas e nos nossos microfones. Nunca, a cidade é testemunha disso,

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nunca o Sr. Riani e seus seguidores tiveram portas abertas em nossos órgãos, como sempre ocorreu com a Rádio Industrial, pelo contrário.

Enfrentamos sacrifícios, formos perseguidos pelo governo, mas graças a Deus nossa cabeça sempre esteve altiva, pois nunca compactuamos com os que queriam comunizar o País. Não precisamos ir longe: quem irradiou o comício do Sr. Miguel Arraes? (DM, 14/04/1964, p. 1)

Apesar das críticas impressas nos dois periódicos, a estreia da TV Industrial aconteceu em 24 de julho de 1964. Os Diários Associados, inconformados com a perda da concessão para o grupo de Sérgio Mendes em 1963, lutaram judicialmente por alguns anos, mas não conseguiram reverter o ato presidencial.

Com essa decisão, o destino da TV Mariano Procópio foi decidido: ela nunca deixaria de ser experimental, pois na época não havia outros canais disponíveis para a região. As transmissões deveriam ser suspensas. A TV Industrial entrou no ar oficialmente em 1964. Não havia mais possibilidades de recursos jurídicos. A decisão era irreversível.

A partir daí, o jornalista Renato Dias Filho, inconformado, mais uma vez inovou. E deu continuidade à produção da Mariano Procópio para manter Juiz de Fora no ar. Só que desta vez, enviando o material produzido pela equipe para ser veiculado através da poderosa TV Tupi Carioca (CID, 2006).

Em agosto de 1966, Renato Dias Filho comunica a Couri que seria produzido um novo telejornal sobre Juiz de Fora, veiculado a partir da Tupi do Rio de Janeiro, deixando para trás o formato do Telefoto Jornal. Sobre o comunicado, Couri nos revelou em depoimento:

Eu pensei... Pode ser de eslaide... Mas eles disseram que não, ia ser filmado. Aí eu pensei, como é que eu vou fazer isso, não sei filmar, não tenho máquina, não tenho condições de revelar e filmar isso aqui e montar, eu não tenho nada. Mas eles disseram que iam dar um jeito (COURI, 2009).

Couri recebe de Renato Dias Filho uma velha filmadora 16 mm8, capaz apenas de produzir imagens em preto e branco, sem som. Ocasião em que vai até a TV Tupi do Rio e é orientado sobre o funcionamento da câmera. Voltando a Juiz de Fora, constrói improvisadamente a estrutura para revelação dos filmes.

Eu comecei a fazer umas tiras de madeira, devia ter uns noventa centímetros de altura por 20 de largura, toda ela coberta com asfalto, para não vazar. [...] Era um tanque assim, 90 cm de altura e 120 cm de largura, no qual eu tive que mandar fazer na carpintaria uma espécie de tear na marcenaria, que você colocava o filme que já tinha sido gravado, enrolado nesta parte assim, pra emergir no revelador (COURI, 2009).

Couri (2009) destaca a dificuldade que teve inicialmente, “já que fotografar é uma

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Na época um formato já considerado amador, mas que seria a única solução para quem desejasse filmar e não pudesse arcar com os altos custos do formato profissional 35mm.

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coisa, filmar é outra”. Assim, o fotógrafo das Associadas vai buscar nos filmes de Flash Gordon, exibidos em capítulos nos cinemas da cidade e nos cinejornais da Carriço filmes, a inspiração para fazer as imagens da TV Mariano Procópio, recorrendo inclusive ao próprio cineasta João Carriço e à sua equipe de cinegrafistas para obter dicas da maneira adequada de trabalhar (COURI, 2009).

Resolvidos os problemas técnicos, no dia 26 de setembro de 1966, entra no ar na TV Tupi do Rio de Janeiro o Filmando Juiz de Fora, transmitido para todo o Estado do Rio de Janeiro e parte de Minas Gerais:

Diário Mercantil, 23 de setembro de 1966, p.4

Sob a supervisão do publicitário Waltencyr Mattos e com o patrocínio da fábrica juiz-forana RS Móveis, começou a ser exibido o noticiário, “diariamente filmando e fotografando todos os acontecimentos da cidade para levar ao Brasil, pela estupenda imagem do Canal 6 - TV Tupi - a vida trepidante da Manchester Mineira” (Diário Mercantil, 23 de setembro de 1966, p. 4, grifo nosso). Embora o jornalista Wilson Cid (2009) se refira à existência de um outro programa, chamado Juiz de Fora em Foco, exibido diariamente pela TV Tupi do Rio com notícias de Juiz de Fora, acreditamos que seja o mesmo Filmando Juiz de Fora, já que os períodos de existência dos programas, segundo os depoimentos, coincidem, e só localizamos, até agora, vestígios do Filmando Juiz de Fora.

O programa era exibido dentro do Jornal da Tarde9, com a narração dos locutores da

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Além de constar na programação de TV publicada em O Jornal, a única referência ao Jornal da Tarde – que estreou no dia primeiro de setembro de 1966 às 16h45min – encontramos em O Jornal, de fevereiro de 1968, destacando que o noticiário estava sob o comando de Correia de Araújo (O Jornal,

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Tupi (Carlos Frias, Waldo Moreira, Dalvan Lima e outros grandes nomes da emissora) e redação dos juiz-foranos Wilson Cid, Laiz Velloso, Mário Helênio, Ricardo Martins, Ismair Zaghetto. As filmagens eram feitas por Jorge Couri, Jaime Santos e Edy Vasques.

Segundo Waltencyr Mattos, o Filmando Juiz de Fora tinha cerca de 15 minutos, com três ou quatro quadros, dos quais ele se lembra principalmente do Dois Minutos de Mulher, que mostrava diariamente reportagens e dicas sobre moda e beleza (MATTOS, 2010). Os anúncios do programa dão conta de que ele apresentava também entrevistas e reportagens sobre polícia, política, esporte, sociedade e artes, tudo de Juiz de Fora, o que, segundo Cid, tempos depois seria a causa do fim da exibição do programa no Rio de Janeiro.

No fim dos anos 1960, já não era muito comum nos grandes centros a coordenação de um programa estar nas mãos de um publicitário10. Desde que a TV Excelsior entrou no ar, em 1960, apoiada em bases empresariais inovadoras, a relação entre a emissora e o anunciante havia mudado. Os programas passaram a receber apoio comercial, agora subordinado aos departamentos especializados das emissoras. Mas, no interior do país, onde ainda se fazia uma televisão amadora, permanecia a relação estabelecida entre emissora e anunciantes, nos moldes dos anos 1950 – o caso de Juiz de Fora:

Isso significava que os anunciantes e as agências de publicidade não eram meros vendedores de produtos, mas também produtores de cultura. Evidentemente uma cultura popular de massa, mas que produzida no contexto do pioneirismo brasileiro, conferia aos produtos anunciados uma aura que certamente eles desconheciam nas sociedades avançadas (ORTIZ, 1988, p.61).

A partir do levantamento que realizamos no Diário Mercantil, o Filmando Juiz de Fora passou por duas fases: da sua estreia, em 26 de setembro de 1966, até 13 de julho de 196711, quando foi exibido pela TV Tupi do Rio de Janeiro; e de 14 de julho de 1967 a 13 de março de 1968, quando foi veiculado pela TV Alterosa de Belo Horizonte.

Segundo nossas pesquisas, os sinais das duas emissoras não eram recebidos concomitantemente em Juiz de Fora; quando um estava sendo recebido o outro não era, já que se valiam da mesma antena de retransmissão. O sinal da TV Tupi do Rio chegava no canal 6 e os de Belo Horizonte (Itacolomi e Alterosa) utilizavam o canal 8. Embora não existam registros sobre como se dava a mudança do sinal de uma para outra emissora, o

1º de fevereiro de 1968, p.1). Acreditamos que a pouca visibilidade do noticiário ocorria em virtude do desprestígio dos programas no horário da tarde, como destaca Mattos (2009).

10 Waltencyr Mattos, além de publicitário, foi ator da TV Itacolomi, tendo feito centenas de papéis em

novelas, teleteatros e especiais da emissora mineira. No ano de 1960, recebeu o troféu Ari Barroso como o melhor ator de televisão do ano (MATTOS, 2009).

11 Os jornais da época não determinam a data exata em que o programa Filmando Juiz de Fora deixou de

ser exibido pela Tupi, mas a primeira notícia sobre a presença do jornal na TV Alterosa de Belo Horizonte aconteceu no dia 14 de julho de 1967 (Diário Mercantil, 14 de julho de 1967, p.1).

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técnico de televisão Marciano Palmeira12 (2010) explica que era possível fazer a troca, inclusive durante a programação, ou seja, a TV Mariano Procópio seguia exibindo em Juiz de Fora o sinal da Tupi do Rio e, no horário do jornal, passava a exibir o sinal da Alterosa ou Itacolomi, podendo retornar depois ao sinal do Rio.

Durante os 11 meses em que o programa foi exibido para Juiz de Fora e todo o Rio de Janeiro, segundo Cid (2009), onde houvesse um televisor ligado, as pessoas paravam para ver Juiz de Fora na TV. O detalhamento do conteúdo do Filmando Juiz de Fora não foi publicado nos impressos da época, durante o período de exibição no Rio de Janeiro. O que só passou a acontecer quando o informativo começou a ser exibido pela TV Alterosa13 de Belo Horizonte.

A partir de levantamento nos periódicos da época, na capital mineira, verificamos que o Filmando Juiz de Fora perdeu14 o viés cultural, substituindo as matérias sobre moda e beleza, por exemplo, por notícias de política e economia. Em Belo Horizonte, passou a ser exibido às 18h40min. A mudança de horário teria sido favorável, pois, até então, a exibição à tarde só permitia que crianças e donas de casa tivessem acesso ao programa, e com a alteração de horário, os trabalhadores do sexo masculino podiam assistir ao programa.

Embora estejamos sujeitos a imprecisões, de acordo com nossas pesquisas, o Filmando Juiz de Fora foi exibido até março de 1968, sendo possível que ainda tenham existido outras apresentações, já que o roteiro do programa deixou de ser publicado no Diário Mercantil, o que já havia acontecido antes, em pequenos intervalos de tempo como três ou quatro dias, mas não houve nenhum comunicado sobre o fim do programa.

O publicitário Waltencyr Mattos (2009), supervisor do programa, não tem certeza sobre qual o motivo do fim das transmissões, mas afirma que possivelmente deve ter acontecido devido a uma mudança na grade de programação das emissoras, já que a publicidade para televisão continuava a ser vendida, embora começasse a ser dividida com outros canais, como a Rede Globo, por exemplo, que começa a ser transmitida em Juiz de Fora no fim dos anos 1960.

Conclusões

Os vestígios encontrados no Diário Mercantil e Diário da Tarde revelam que o

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Informação obtida em conversa informal com o técnico da TV Panorama, afiliada da Rede Globo em Juiz de Fora, Marciano Palmeira (2010).

13 A opção pela TV Alterosa, seguramente se deu devido à fragilidade e à precariedade da programação da

emissora mineira (MATTOS, 2009), que abriu o espaço para Juiz de Fora, já que o programa não podia mais ser exibido a partir da Tupi do Rio.

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Em 77 programas exibidos pelo canal de Belo Horizonte, que tiveram os assuntos divulgados pelo Diário Mercantil, observamos que o Filmando Juiz de Fora tornou-se conservador, e assuntos como moda e beleza – mais voltados ao público feminino e com grande destaque nas edições do Rio de Janeiro – desaparecem. A partir do nosso levantamento, verificamos que a temática mais presente passou a ser economia, em 54 das 77 edições, seguida de política (48) e polícia (26).

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início da televisão no interior não se distanciou da gênese dos grandes centros. A instalação da TV Mariano Procópio aconteceu no período que Mattos (2000) denomina de fase elitista, em que o aparelho de TV era privilégio dos mais abastados e que a produção televisiva era marcada pela falta de recursos, de pessoal e pelas improvisações. Todas essas características estiveram presentes na experiência juiz-forana.

A TV Mariano pertencia ao maior conglomerado de comunicação do país da época, os Diários Associados. Esta política de comunicação funciona até hoje no Brasil. Por exemplo, a maior emissora de TV do país, a Rede Globo, além do canal de TV, é proprietária de dois jornais impressos (O Globo e Extra), emissoras de rádio e de um portal na internet. O mesmo acontece com a emissora afiliada da Rede Globo em Juiz de Fora, a TV Panorama, que além da TV, possui um jornal (JF Hoje), e integra à Rede Integração, com sede em Uberlândia, que além de rádios e jornais possui quatro retransmissoras da Globo em Minas Gerais.

No que diz respeito ao telejornalismo, a história da TV Mariano também se aproxima das primeiras exibições telejornalísticas do Brasil. Assim como o primeiro telejornal do país, Imagens do Dia, o Telefoto Jornal da emissora de Juiz de Fora fazia uso de fotografias para ilustrar os principais acontecimentos do dia.

Outra semelhança é o aproveitamento de profissionais do rádio e de outros veículos para trabalharem na TV. Toda a equipe que fez parte da TV Mariano Procópio foi improvisada a partir de profissionais do rádio e do impresso que elaboravam scripts, filmavam e faziam locução na telinha. Assim, como o “Repórter Esso” foi baseado em um programa que já era sucesso no rádio (MATTOS, 2000), os scripts da TV Mariano Procópio, de acordo com Ismair Zaguetto, eram extraídos de material produzido para Rádio Sociedade e para o Diário Mercantil.

A programação televisiva em Juiz de Fora iniciou-se com alguns minutos de noticiário local veiculado em meio a grade de programação da TV Tupi do Rio retransmitida via Mariano Procópio. Esta tendência está presente até hoje na maioria das emissoras espalhadas pelo país. A programação local ocupa somente alguns minutos em meio à grade gerada e distribuída pelas cabeças de rede.

Assim, por meio da análise dos vestígios da implantação da televisão em Juiz de Fora e das narrativas sobre a TV Mariano Procópio, foi possível reconhecer elementos que auxiliam a compreensão do desenvolvimento da mídia na cidade e das relações entre mídia e sociedade presentes ainda na contemporaneidade.

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Referências

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