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ECLI:PT:TRL:2017: TVLSB.L

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ECLI:PT:TRL:2017:350.12.3TVLSB.L1.2.32

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRL:2017:350.12.3TVLSB.L1.2.32

Relator Nº do Documento

Ondina Alves rl

Apenso Data do Acordão

11/05/2017

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação parcialmente procedente

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

1.O chamado dano biológico reconduz-se a um dano corporal que consiste na diminuição ou lesão da integridade psico-física da pessoa em si e por si considerada, enquadrando-se na categoria de dano patrimonial futuro.

2.A incapacidade permanente e parcial pode reflectir-se de duas formas alternativas no património do lesado:

a) Provoca uma diminuição efectiva de remuneração porque o lesado produz menos e, por via disso, recebe menos. Há, neste caso, uma diminuição visível e palpável de proventos;

b) Não há qualquer diminuição sensível de remuneração do lesado, mas este tem efectuar um esforço sobrecarregado para manter os mesmos níveis de produtividade que tinha antes da lesão. 3.É indiscutível que a perda genérica de potencialidades laborais e funcionais do lesado constitui um dano ressarcível, pelo que ainda que não haja afectação da capacidade de ganho do lesado impõe-se sempre o ressarcimento do dano biológico.

4.No domínio da responsabilidade extracontratual emergente de acidente de viação, a privação do uso de um veículo automóvel constitui um dano autónomo indemnizável, na medida em que o seu dono fica impedido do exercício dos direitos de usar, fruir e dispor inerentes à propriedade, que o artigo 1305.º do Código Civil lhe confere de modo pleno e exclusivo, e por maioria de razão, estando causa um veículo de táxi, encontrando-se suficientemente enunciado o prejuízo sofrido pela lesada, proprietária do táxi.

5.A aplicação do disposto nos nºs 1 e 2 do artigo 42º do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de Agosto, depende da assumpção, por parte da seguradora, da responsabilidade exclusiva pelo ressarcimento dos danos resultantes do acidente.

Decisão Integral:

ACORDAM OS JUÍZES DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA I. RELATÓRIO

RAFAEL ..., residente ……. intentou, em 14.02.2012, contra COMPANHIA DE SEGUROS, S.A., com sede ….., acção declarativa, sob a forma de processo comum ordinário, através da qual pede a condenação desta a pagar-lhe as seguintes quantias, na proporção de ¾, conforme repartição de responsabilidade fixada pela ré e aceite pelo autor:

- € 9.054,00, correspondente ao prejuízo patrimonial sofrido pelo autor por ter ficado impossibilitado para o exercício da sua profissão e a consequente perda de remunerações;

- € 147.882,00 pelos danos futuros decorrentes da incapacidade absoluta para o exercício da sua profissão, deduzida da importância atrás referida e acrescida de 4% ao ano sobre o valor do salário de € 503,00 recebido à data do acidente;

- € 75.000,00, a título de danos patrimoniais da IPP de 6,85%, limitativa para o exercício de outras atividades; e

- € 50.000,00, a título de danos não patrimoniais;

quantias essas acrescidas de juros vincendos à taxa legal.

Fundamentou o autor, no essencial, esta sua pretensão na circunstância de ter ocorrido um acidente de viação, consistente num embate entre o veículo (táxi), matrícula “AU”, por si

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conduzido e o veículo com a matrícula “PG”, pertencente à sociedade “Auto Lda.”, a qual havia transferido para a ré seguradora a responsabilidade civil por danos causados a terceiros com aquele veículo.

Imputou o autor a ocorrência do embate à violação das regras de trânsito pelo condutor do veículo “PG”, e alegou as diversas lesões sofridas em consequência do embate, aceitando a divisão da responsabilidade na proporção de 75%-25% desfavorável ao condutor do veículo PG. Citada, a ré, COMPANHIA DE SEGUROS, S.A., apresentou contestação, em 15.03.2012,

impugnando os factos alegados pelo autor e deduziu incidente de intervenção principal provocada, invocando que o acidente de viação em causa foi, também, um acidente de trabalho, já que, como o próprio Autor alegou, no momento do acidente encontrava-se no exercício da sua profissional. Mais invocou que no momento do acidente a entidade patronal do autor tinha a responsabilidade de acidentes de trabalho transferida para a seguradora, Z. INSURANCE PLC, ao abrigo de contrato de seguro de acidente de trabalho, pelo que requereu a intervenção principal provocada da mesma. Por despacho de 24.05.2012 não foi admitido o chamamento, invocando que, para evitar a

duplicação de indemnizações, bastaria a ré requerer a notificação da seguradora Z. para prestar informações e juntar documentos, ao abrigo do disposto no artigo 535º do C.P.C.

A ré, COMPANHIA DE SEGUROS, S.A., veio requerer, em 24.09.2012, ao abrigo do disposto no artigo 275.º do CPC, a apensação aos autos do processo n.º 3552/12.9TJLSB que pendia no 5.º Juízo Cível de Lisboa, com as legais consequências.

O autor opôs-se à apensação, afirmando que, na acção, as partes estão de acordo quanto à divisão de responsabilidades e a sua animosidade com a proprietária do veículo é grande e que a divisão de responsabilidades não é uma questão de facto, mas sim de direito, e, quanto a factos, a ré contestou a matéria alegada pelo autor relativa à versão do acidente.

Por despacho proferido a 26.11.2012, foi ordenada a apensação aos presentes autos da ação proposta por SOCIEDADE DE TÁXIS, LDA, com sede ….., na qual esta pediu a condenação da ré COMPANHIA DE SEGUROS, S.A., a pagar-lhe a quantia de € 20.612,38, acrescida de juros legais desde a citação.

Em 05.02.2013, foi proferido despacho, dispensando a audiência preliminar. Foi fixado em €

281.936,00 o valor da causa no que toca à presente acção e proferido despacho saneador. Mais se afirmou no aludido despacho que: Apesar da fase em que se encontra a acção apensa (nesta, já foram as partes notificadas nos termos do art. 512º nº 1 do C.P.C. e já foram admitidos os róis de testemunhas apresentados), a Matéria Assente e a Base Instrutória incluirá a matéria de facto alegada na acção apensa, pois não faria sentido que, passando a acção apensa a ser tramitada na presente acção a partir da apensação, a matéria de facto alegada na presente acção fosse objecto de selecção e a matéria de facto alegada na acção apensa não (cf. despacho de fls. 57 do apenso A).

Foi elaborada a condensação com a fixação dos Factos Assentes e a organização da Base Instrutória.

Levada a efeito a audiência de discussão e julgamento, em 06.05.2016, 09.05.2016 e 07.06.2016, o Tribunal a quo proferiu decisão, em 07.09.2016, constando do Dispositivo da Sentença o seguinte:

Por todo o exposto, julgo as ações parcialmente procedentes e, consequentemente, condeno a R. a pagar ao A. Rafael …. a quantia de € 12.629,60, acrescida de juros à taxa legal desde o dia 17 de fevereiro de 2012; e condeno a R. a pagar à A. sociedade a quantia de € 12.937,79, acrescida de

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juros à taxa legal desde o dia 4 de setembro de 2012. Custas pelas partes na proporção do respetivo decaimento. Notifique e registe.

A autora SOCIEDADE DE TÁXIS, LDA, inconformada com o decidido, no que concerne aos danos da Autora a título de preparação da nova viatura e de aquisição de novo livro de facturas, interpôs recurso de apelação, em 11.11.2016.

São as seguintes as CONCLUSÕES da recorrente:

i.Resulta do art. 562 do CC que a obrigação de indemnização abrange a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga á reparação, neste caso o sinistro dos autos, tendo ficado assente a total responsabilidade do condutor da viatura segura na Apelada bem como que a Apelante, em consequência do sinistro e da perca total da sua viatura sinistrada teve de adquirir uma nova viatura para afectar á actividade de taxi;

ii.A obrigação de indemnizar deve incluír na categoria de danos ou prejuízos todos quantos o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão, conforme se determina no art. 563 do CC;

iii.Constitui facto assente que a viatura da Apelante era uma viatura táxi pelo que não pode deixar de se concluir, face á perda total da viatura da Apelante, em consequência do acidente, e dada a necessidade de a Apelante substituir tal viatura por outra, que as despesas incorridas pela Apelante com a sua preparação para a função de taxi, designadamente com a pintura de cor padrão, com a montagem dos equipamentos necessários à função de taxi e aferição de taxímetro e na instalação de novo dispositivo GPS, constituem danos indemnizáveis e a incluir na indemnização a arbitrar á Apelante;

iv.Constitui ainda factos assentes que a viatura taxi da Apelante de matricula AU foi, em

consequência do sinistro declarada perca total, e eliminada da actividade de taxi e que a Apelante teve de adquirir uma nova viatura, com outra matricula, de onde resulta a impossibilidade legal de a Apelante continuar a utilizar na prestação de serviços de transporte em taxi facturas das quais conste matricula diferente da matricula da viatura que efectivamente realiza o transporte, pelo que despesa com a aquisição de novos livros de facturas com a nova matricula é também um dano que a Apelante apenas sofreu em decorrência do sinistro dos autos e como tal deve ser incluído na indemnização a arbitrar á Apelante;

v.Sendo procedentes as conclusões anteriores deverá ser revogada a sentença recorrida na parte em que decidiu excluir da indemnização a pagar pela Apelada á Apelante os danos da Apelante a título de preparação da nova viatura, no valor de € 7.236,55, e de aquisição de novo livro de facturas, no valor de € 617,10, por violação o disposto nos artigos 562 e 563, ambos do CC. Igualmente inconformada com o decidido, a ré, COMPANHIA DE SEGUROS, S.A., também interpôs recurso de apelação, relativamente à sentença prolatada.

São as seguintes as CONCLUSÕES da recorrente:

i.Vem a Apelante, por meio das presentes Alegações de Recurso, sindicar a decisão contida na sentença em crise, quer no que concerne ao pedido deduzido pelo Apelado Rafael, quer no que concerne ao pedido deduzido pela Apelada Sociedade de Táxis..

ii.Deste modo, sempre com todo o respeito e consideração, entende a Apelante que padece a sentença dos autos de manifesto erro de julgamento, cingindo a conclusão anterior, no que concerne ao pedido do Apelado Rafael à quantia arbitrada a título de lucros cessantes e quantificação do dano biológico e, no que concerne à Apelada Sociedade de Táxis, à quantia

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arbitrada a título de privação de uso e parqueamento;

iii.No que concerne ao pedido do Apelado Rafael, e dentro deste, ao pedido de lucros cessantes, veio a sentença dos autos condenar a Apelante na quantia de 2.529,60€ (dois mil quinhentos e vinte e nove euros e sessenta cêntimos) considerando ser esta a quantia que o mesmo Apelado deixou de receber desde a data do sinistro até ao dia 14 de Fevereiro de 2011;

iv.Mais veio o Tribunal a quo, neste mesmo sentido, a dar como provado no artigo 35.º do elenco dos factos provados, o pagamento pela Congénere Zurich de indemnização ao Apelado Rafael, em consequência do sinistro dos autos e tendo como fundamento o facto do primeiro se encontrar no exercício da profissão, concluindo, todavia, a final: “Contudo, a responsabilidade última recai sobre o responsável pelo acidente, pelo que a duplicação evita-se não com a desoneração do responsável do acidente do pagamento na medida da duplicação, mas com a restituição à

seguradora que pagou a indemnização laboral na medida da duplicação.”

v.Previamente à análise substantiva da questão anterior, sempre se diga que padece a sentença autos de manifesta nulidade, nos termos e ao abrigo do artigo 615.º n.º 1 c) do CPC, que

expressamente prescreve “ É nula a sentença quando (…) os fundamentos estejam em oposição com a decisão ou ocorra alguma ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível”, porquanto, percorrendo a matéria de facto dada como provada nos autos, nenhuma referência é feita às quantias que o Apelado Rafael ficou, alegadamente, privado em consequência do sinistro dos autos, não se conseguindo almejar a fundamentação do Tribunal a quo para de decisão ora em análise;

vi.Mais se diga que, conforme matéria de facto dada como provada no artigo 35.º do elenco dos factos provados e respectiva fundamentação constante da sentença dos autos, a Congénere Zurich veio efetivamente a reembolsar o Apelado Rafael das quantias laborais de que terá ficado privado, em coerência com a documentação de suporte junta aos autos, por meio de Despacho de

notificação de documentos, com data de elaboração do CITIUS a 17.10.2013 e Ref.ª 18881947. vii.Face ao exposto, dúvidas não restam de que a Congénere Zurich procedeu ao pagamento de indemnização ao Apelado Rafael, a título de lucros cessantes por perdas laborais, indemnização essa que veio, novamente, o Tribunal a quo arbitrar ao mesmo Apelado, por meio da condenação da aqui Apelante, justificando a duplicação de indemnização, por meio da “restituição à seguradora que pagou a indemnização laboral na medida da duplicação.”, conforme fundamentação vertida na sentença, anteriormente vertida.

viii.Ora, com todo o respeito e consideração padece a sentença dos autos de manifesto erro de aplicação do direito, por violação do requisito de dano, princípio basilar da responsabilidade civil e da obrigação de indemnizar, à revelia dos artigos 483.º e 562.º, todos do Código Civil.

ix.De facto, provado que se encontra o pagamento de indemnização ao Apelado Rafael, a título de lucros cessantes, pela Congénere Zurich, e independentemente do reembolso a esta última, sempre inexiste qualquer dano na esfera jurídica do Apelado Rafael, requisito basilar da responsabilidade civil e da obrigação de indemnizar.

x.Mais, ainda que assim não se entendesse, sempre teria de improceder o fundamento oferecido pelo Tribunal a quo para evitar a “dupla indemnização”, por meio da “restituição à seguradora que pagou a indemnização laboral na medida da duplicação.” porquanto conforme Doc.1 que se junta e se dá por integralmente reproduzido para os devidos e legais efeitos, a Apelante foi condenada, no âmbito do processo que correu termos do Tribunal da Comarca de Lisboa – Lisboa, Instância Local, Seção Cível, J19, sob o número 2750/14.5T8LSB, com causa de pedir idêntica à dos presentes autos (o sinistro ocorrido no dia 13.9.2010), no pagamento à Congénere Zurich da quantia de

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€6.014,54 (seis mil e catorze euros e cinquenta e quatro cêntimos), a título de reembolso àquela das quantias arbitradas, no âmbito do processo laboral, ao Apelado Rafael.

xi.Incorrendo, mais uma vez e por esta via, a sentença dos autos na violação dos artigos 483.º, 562.º do Código Civil e 413.º do Código de Processo Civil.

xii.Deste modo, mal andou a sentença do Tribunal a quo ao condenar a Apelante no pagamento de indemnização, ao Apelado Rafael a título de lucros cessantes, pela quantia de 2.529,60€ (dois mil quinhentos e vinte e nove euros e sessenta cêntimos), em violação das disposições legais anteriores, devendo ser revogada a sentença nesta concreta parte, o que expressamente se requer.

xiii.E bem assim, ainda na análise do pedido do Apelado Rafael, entende a Apelante que mal andou a sentença em crise ao julgar, nos termos em que o fez, a quantificação do dano biológico, em apelo ao seguinte raciocínio:

“Tendo em conta o rendimento mensal de € 505,92, o défice funcional permanente da integridade físico-psíquica de 6 pontos, o provável número de anos de vida activa (no fim do período da

repercussão do acidente na actividade profissional do A. Rafael faltavam 15 anos para perfazer a idade da reforma) e a taxa de juro de 3%, apura-se o montante de €5.073,30, quantia de arredondo para €5.100,00.”, raciocínio esse demonstrativo da quantificação do dano biológico como dano patrimonial futuro, stricto sensu, em apelo a fórmulas matemáticas e na ausência de valoração da equidade, na sua quantificação.

xiv.Concretizando, no artigo 22.º do elenco dos factos provados, consta a seguinte factualidade: “A repercussão na actividade profissional do A. Rafael situa-se entre a data do acidente e 14 de Fevereiro de 2011”, nenhuma referência sendo feita, no elenco dos factos provados, à repercussão dessa incapacidade na actividade profissional do lesado e respectiva capacidade de ganho, reitere-se, na atualidade, em coerência com o Relatório do INML, datado de 28 de Dezembro de 2015, notificado à aqui Apelante por meio de Despacho datado de 11.1.2016, com a Ref. Citius

343099249, que prescreve: “As sequelas descritas são, em termos de Repercussão Permanente na Actividade Profissional, são compatíveis com o exercício da actividade profissional mas implicam esforços suplementares”

xv.O que por si só redunda na nulidade da sentença dos autos, por contradição entre os fundamentos e a decisão, nos termos e ao abrigo do artigo 615.º n.º 1 c) do CPC.

xvi.Face ao exposto, na ausência de impossibilidade de exercício da actividade profissional do Apelado Rafael, conforme atestado pelo INML, por meio do aludido Relatório a fls… dos autos, o cálculo do dano biológico terá de ser efetuado em apelo ao critério de equidade.

xvii.Pelo que, a quantificação do dano biológico pelo Tribunal a quo, em apreço aos cálculos anteriormente vertidos (aplicáveis ao dano patrimonial futuro strictu sensu) encontra-se incorretamente calculada, violando a sentença dos autos, ao quantificar o dano biológico nos termos em que veio a fazer, o disposto nos artigos 413.º do CPC e 562.º do Código Civil.

xviii.Mais se diga que, em apelo à jurisprudência de relevo, a ausência de repercussão do dano biológico na actividade económica do Apelado Rafael redunda na valoração desse mesmo dano, apenas no âmbito do dano moral, pois que não mais traduz um sofrimento psico-somático, avaliado à luz artigo 496.º do Código Civil, raciocínio que foi omitido pelo Tribunal a quo, à revelia da

disposição legal anterior e artigo 413.º do Código de Processo Civil.

xix.Ora, ao valorar o dano biológico, como dano patrimonial e como dano moral, respetivamente pelas quantias de 5.100,00€ (cinco mil e cem euros) e 5.000,00€ (cinco mil euros) mais não procedeu o Tribunal a quo do que a uma dupla valoração desse dano.

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xx.Devendo, como tal, ser unificada a indemnização por dano biológico, globalmente considerado, por meio da redução da indemnização global de 10.100€ (dez mil e cem euros) para indemnização não superior a 7.000,00€ (sete mil euros).

xxi.Por último, no que concerne ao pedido deduzido pela Apelada Sociedade de Táxis, e dentro deste ao pedido de privação de uso, sempre se diga que padece a sentença dos autos, sempre com todo o respeito e consideração, quer de nulidade, quer de erro de julgamento.

xxii.No que concerne à nulidade, bem está de ver que, veio o Tribunal a quo condenar a Apelante na quantia de €4.559,59 (quatro mil quinhentos e cinquenta e nove euros e cinquenta e nove cêntimos), em quantia manifestamente superior ao pedido deduzido pela Apelada, constante do artigo 29.º e 30.º da Petição Inicial, no valor de €4.387,53 (quatro mil trezentos e oitenta e sete euros e cinquenta e três cêntimos).

xxiii.Termos em que, ao abrigo do artigo 615.º n.º 1 e) do Código de Processo Civil, e sem prejuízo da alegação infra, dever-se-á proceder à redução da indemnização arbitrada, tendo como limite máximo o pedido deduzido, pela Apelada Sociedade de Táxis, nos presentes autos, pela quantia anteriormente referida.

xxiv.Padecendo a sentença dos autos nesta concreta parte de manifesta nulidade, nos termos e ao abrigo do artigo 615.º n.º 1 e) do Código de Processo Civil, o que se invoca para os devidos e legais efeitos.

xxv.E bem assim, no que concerne ao erro de julgamento, temos que, atento o teor dos

documentos juntos pela Apelada Sociedade de Táxis, como Doc.2 e 3 da Petição Inicial, por meio dos quais a aqui Apelante comunica a esta última, quer a perda total da viatura sua propriedade, quer a comunicação de responsabilidade e respetivos valores de indemnização, deverá integrar o elenco dos factos provados, a seguinte matéria: “Por meio de comunicação, datada de 27 de Setembro de 2010, da autoria da Companhia de Seguros foi comunicada à Sociedade de Táxis a perda total da viatura”; “Por meio de comunicação, datada de 20 de Outubro de 2010, veio a Companhia de Seguros … assumir a responsabilidade na proporção de 75% (setenta e cinco porcento), bem como propor valor de indemnização.”

xxvi.Mal andando o Tribunal a quo ao decidir como decidiu, à revelia do artigo 413.º do CPC. xxvii.Aqui chegados, e integrada corretamente a matéria de facto provada nos autos, temos que, tendo a Apelada Sociedade de Táxis, obtido conhecimento da perda total da viatura, em 27.9.2010, bem como da comunicação da responsabilidade da aqui Apelante em 20.10.2010, apenas será devida, sob pena de abuso de direito, qualquer privação de uso, até ao período temporal anterior, em concreto 20.10.2010.

xxviii.Não se compreendendo a razão pela qual, veio o Tribunal a quo decidir que, apenas em 5 de Novembro de 2010, a Apelada Sociedade de Táxis cessou a privação de uso;

xxix.Concluindo-se pela ausência de diligência manifesta da Apelada Sociedade de Táxis em cessar a privação de uso, a partir de 20.10.2010, onerando, com tal conduta, o património da aqui Apelante.

xxx.Incorrendo a sentença em violação do artigo do artigo 41.º n.º 1 e 2 do DL 291/2007, bem como do artigo 334.º do Código Civil.

xxxi.Devendo, em consequência, a pugnar-se pelo dano da privação de uso, este apenas ser considerado até à data de 20.10.2010, coincidente com a data de comunicação da

responsabilidade, pela aqui Apelante.

xxxii.E bem assim, por idêntico fundamento, deverá ser julgado improcedente, por não provado, a partir do dia 27.9.2010, o pedido de parqueamento do veículo, deduzido pela Apelada Sociedade

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de Táxis e quantificado pelo Tribunal a quo, na quantia de €759,20 (setecentos e cinquenta e nove euros e vinte cêntimos).

xxxiii.De facto, a partir da data da comunicação da perda total da viatura, pela Apelante à Apelada, em 27.9.2010, carece de fundamento a guarda da viatura, à razão diária de 20,00€ (vinte euros), conforme Doc.12 junto com a Petição Inicial, no qual expressamente consta a menção: “sem reparação perda total”.

xxxiv.Concluindo-se pela perda total e nada havendo a reparar, inexiste nexo de causalidade entre o facto danoso – o sinistro em discussão datado de 13 de Setembro de 2010 (artigo 1.º dos factos provados) e o dano alegadamente decorrente do parqueamento.

xxxv.Termos em que, a concluir-se pela existência de despesas de parqueamento, as mesmas apenas são devidas até ao dia 27.9.2010, data coincidente com a comunicação da perda total. xxxvi.Mal andando a sentença dos autos ao decidir como decidiu, à revelia do artigo 483.º e 562.º, todos do Código Civil.

Não foram apresentadas contra-alegações.

Em 13.12.2016, a Exma. Juíza do Tribunal a quo pronunciou-se sobre as arguidas nulidades, nos seguintes termos:

Indefiro a arguição da nulidade da sentença, sendo certo que não se vislumbra haja falta de

especificação de fundamentos ou oposição entre fundamentos e decisão e que não há condenação em quantidade superior ao pedido deduzido pela R. sociedade, esse que não pode ser confundido com as parcelas da indemnização discriminadas pela A. sociedade ao longo da sua exposição da matéria de facto.

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir. II.ÂMBITO DO RECURSO DE APELAÇÃO

Importa ter em consideração que, de acordo com o disposto no artigo 635º, nº 4 do Código de Processo Civil, é pelas conclusões da alegação das recorrentes que se define o objecto e se delimita o âmbito do recurso, sem prejuízo das questões de que o tribunal ad quem possa ou deva conhecer oficiosamente, apenas estando este tribunal adstrito à apreciação das questões

suscitadas que sejam relevantes para conhecimento do objecto do recurso.

Pela interligação do seu objecto, apreciar-se-ão, conjuntamente as apelações da autora, Sociedade de Táxis, Lda. e da ré, Companhia de Seguros ... S.A.

Assim, e face ao teor das conclusões formuladas a solução a alcançar pressupõe a análise das seguintes questões:

i)DA NULIDADE DA SENTENÇA, AO ABRIGO DO DISPOSTO NO ARTIGO 615º, Nº1, ALÍNEAS C) E e E) [ APELAÇÃO DA RÉ ]

ii)DA IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO [ APELAÇÃO DA RÉ ]

iii)DA VERIFICAÇÃO DE ERRO DE JULGAMENTO NA SUBSUNÇÃO JURÍDICA ADUZIDA, TENDO EM CONSIDERAÇÃO OS FACTOS APURADOS

O que implica a análise DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR FACTO ILÍCITO por forma a ponderar acerca:

a)DO CRITÉRIO DE CÁLCULO DOS DANOS SOFRIDOS PELO AUTOR RAFAEL ... [ APELAÇÃO DA RÉ ]

ÞDos danos não patrimoniais;

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b)DO CRITÉRIO DE CÁLCULO DOS DANOS SOFRIDOS PELA AUTORA SOCIEDADE DE TÁXIS, LDA. [ APELAÇÕES DA RÉ E DA AUTORA ]

ÞDos danos patrimoniais e o direito de privação do uso do veículo. III . FUNDAMENTAÇÃO

A – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

Foi dado como provado na sentença recorrida, o seguinte:

1.No dia 13 de Setembro de 2010, pelas 2H30, na Avenida Brasília, Lisboa, ocorreu um acidente no qual interveio o veículo de matrícula “AU”, pertencente à A. Sociedade e conduzido pelo A. Rafael, e o veículo de matrícula “PG”.

2.O veículo AU circulava no sentido Docas - Belém.

3.O veículo AU circulava a velocidade superior a 50 Km/h.

4.No local do acidente, existia sinalização vertical que determinava que o limite de velocidade era de 50 Km/h.

5.À data do acidente, o A. Rafael era motorista de táxi, sendo portador do certificado de aptidão profissional.

6.À data do acidente, o veículo AU era um veículo de transporte de passageiros em regime de táxi.

7.A A. sociedade dedica-se ao exercício da atividade de transporte ligeiro de passageiros. 8.À data do acidente, a A. sociedade era a entidade patronal do A. Rafael.

9.Na altura do acidente, o A. Rafael conduzia o veículo AU no exercício da sua atividade profissional, por conta da A. sociedade.

10.Do embate resultaram danos no veículo AU que determinaram a sua perda total por ser economicamente desaconselhável a sua reparação.

11.Pela apólice nº 2226028, foi transferida para a R. a responsabilidade civil emergente da circulação do veículo “PG”.

12.No local do acidente, a via comportava duas filas de trânsito em cada sentido, com uma linha longitudinal contínua a separar os dois sentidos.

13.O veículo AU seguia na fila de trânsito da esquerda da hemi-faixa direita, atento o seu sentido de marcha.

14.O veículo PG circulava no sentido Docas - Belém, na fila de trânsito da direita, atento o seu sentido de marcha.

15.Após o entroncamento da Avenida Brasília com o acesso ao Belém Bar Café, o veiculo PG atravessou a fila por onde circulava o veículo AU, sem sinalizar a manobra, ficando numa posição quase perpendicular à via, vindo o veículo AU a embater com a sua frente na lateral esquerda do veículo PG.

16.Devido ao embate, o A. Rafael bateu com a cabeça na parte interior do veículo AU, perdendo momentaneamente os sentidos.

17.O A. Rafael foi transportado para o hospital e aí ficou até às 8H35.

18.Em consequência do acidente, o A. Rafael sofreu traumatismo crânio-encefálico. 19.A ferida no couro cabeludo foi suturada.

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integridade físico-psíquica fixável em 6 pontos.

21.À data do acidente, o A. Rafael auferia a o salário mensal de € 505,92.

22.A repercussão temporária do acidente na atividade profissional do A. Rafael situa-se entre a data do acidente e 14 de fevereiro de 2011.

23.Aquando do acidente, o A. Rafael temeu pela própria vida.

24.Em consequência do acidente, o A. Rafael sentiu dores de grau 3 numa escala de 7 graus de gravidade crescente.

25.O A. Rafael submeteu-se a sessões de fisioterapia.

26.À data do acidente, o valor do veículo AU era de € 8.000,00. 27.O valor do salvado ascendia a € 379,00.

28.Por forma a dar continuidade à sua atividade, a A. sociedade adquiriu uma nova viatura. 29.Com a preparação da nova viatura para táxi, a A. despendeu a quantia de € 2.819,30 na pintura na cor padrão; a quantia de € 2.989,45 na montagem dos equipamentos necessários à função de táxi e aferição do taxímetro; e a quantia de € 1.427,80 na aquisição e instalação de novo dispositivo GPS.

30.A nova viatura ficou preparada e apta a ser utilizada como táxi a 5 de Novembro de 2010. 31.A A. sociedade pagou a quantia de € 750,20 a título de parqueamento do veículo AU na oficina onde esta foi peritada, no período de 13 de setembro a 13 de outubro de 2010.

32.A A. sociedade despendeu a quantia de € 617,10 na aquisição de livros de faturas com a matrícula da nova viatura.

33.No ano de 2010, viaturas táxi como o veículo AU produziam diariamente rendimentos líquidos de € 86,03.

34.À data do acidente, o veículo PG era conduzido por António ….

35.Por, no momento do acidente, o A. Rafael se encontrar no exercício da sua atividade

profissional, a companhia de seguros Zurich procedeu ao pagamento de indemnização àquele. 36.O A. Rafael nasceu a 14 de fevereiro de 1961.

B - FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO

a)DA NULIDADE DA SENTENÇA, AO ABRIGO DO DISPOSTO NO ARTIGO 615º, Nº1, ALÍNEAS C) e E) (APELAÇÃO DA RÉ)

A sentença, como acto jurisdicional, pode atentar contra as regras próprias da sua elaboração e estruturação ou contra o conteúdo e limites do poder à sombra da qual é decretada, e então torna-se passível de nulidade, nos termos do artigo 615º, nº 1 do Código de Processo Civil.

A este respeito, estipula-se no apontado normativo, sob a epígrafe de “Causas de nulidade da sentença”, aplicável aos despachos ex vi do artigo 613º nº 3 do mesmo diploma que: “1 - É nula a sentença: (…)

Os vícios determinantes da nulidade da sentença correspondem, portanto, a casos de irregularidades que afectam formalmente a sentença a provocam dúvidas sobre a sua

autenticidade, (falta de assinatura do juiz), ou ininteligibilidade do discurso decisório por ausência total de explicação da razão por que decide de determinada maneira (falta de fundamentação),

(11)

quer porque essa explicação conduz, logicamente, a resultado oposto do adoptado ou é

manifestamente ambígua ou obscura (contradição entre os fundamentos e a decisão, ou decisão ininteligível), ou o uso ilegítimo do poder jurisdicional em virtude de se pretender conhecer questões de que não podia conhecer (excesso de pronúncia) ou por não tratar de questões de que deveria conhecer (omissão de pronúncia).

A ré/apelante imputa à sentença a nulidades decorrente da alínea c) e e) do citado normativo, reconduzindo-se tais nulidades a vícios de conteúdo, na enumeração de J. CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, II vol., 793 a 811, ou seja, vícios que enfermam a própria decisão judicial em si, nos fundamentos, na decisão, ou nos raciocínios lógicos que os ligam.

No que concerne ao vício enumerado na alínea c) do aludido normativo, doutrina e jurisprudência têm entendido que essa nulidade ocorre quando os fundamentos invocados deveriam conduzir, num processo lógico, à solução oposta da que foi adoptada naquela.

Esta nulidade – oposição entre os fundamentos e a decisão – só se verifica quando os

fundamentos, quer de facto quer de direito, invocados pelo juiz devam, logicamente, conduzir ao resultado oposto ao que é expresso na sentença.

A contradição entre os fundamentos e a decisão a que se refere o citado normativo é uma contradição de ordem formal, que se refere aos fundamentos estabelecidos e utilizados na sentença, e não aos que resultam do processo.

E, tal nulidade traduzida na desconformidade entre a decisão e o direito aplicável - substantivo ou adjectivo – não se confunde com o erro de julgamento, ou seja, na subsunção dos factos à norma jurídica ou, muito menos, com o erro na interpretação desta.

É que, quando o juiz entende que dos factos apurados resulta determinada consequência

jurídica e este seu entendimento é expresso na fundamentação, ou dela decorre, poderemos, sim, estar perante um erro de julgamento. Nesse caso, o juiz fundamenta a decisão, mas decide mal. Resolve as questões colocadas num certo sentido porque interpretou e/ou aplicou mal o direito -LEBRE DE FREITAS, CPC Anotado, vol. 2.º, pág. 670.

Na sentença recorrida, o tribunal a quo, tendo em consideração os factos alegados e que resultaram provados, aplicou o direito que julgou adequado e pertinente ao caso em apreciação, não se vislumbrando qualquer contradição entre os fundamentos e a decisão.

Com efeito, o Tribunal recorrido deu como provado, no artigo 35º do elenco da matéria apurada que a Companhia de Seguros Zurich havia procedido ao pagamento de indemnização ao autor Rafael, justificando, contudo, na respectiva subsunção jurídica, as razões pelas quais entendia ser de condenar a ré a pagar o montante que aquele deixou de auferir em consequência do acidente, o mesmo tendo sucedido em relação à indemnização, a título de dano biológico, tendo como

referência o que consta do relatório do INML, no que concerne à compatibilidade das sequelas que o autor Rafael apresentava com o exercício da actividade profissional.

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Quanto ao vício enumerado na alínea e) do aludido normativo, terá esta nulidade de ser também aferida tendo em consideração o disposto no artigo 608.º, n.º 2 do CPC.

Não pode, na verdade, o Tribunal conhecer senão das questões suscitadas pelas partes,

excepto se a lei lhe permitir ou impuser o conhecimento de outras, pelo que a referida nulidade tem de resultar da violação do referido dever.

Há decisão “ultra petitum” sempre que o julgador não confina o julgamento da questão controvertida ao pedido formulado pelo autor, ou pelo demandado, se deduziu pedido reconvencional ou se defendeu por excepção, e conheceu - fora dos casos em que tal lhe é permitido “ex officio” - questão não submetida à sua apreciação.

Tal significa que terá de existir uma correspondência entre a pronúncia e a pretensão, não

podendo a sentença decidir para além do que está ínsito no pedido ou seja, nos termos formulados pelo demandante.

Este princípio é válido, quer para o conhecimento excessivo em termos quantitativos, quer por condenação em diverso objecto - excesso qualitativo.

A consequência jurídica de conhecer de questões que não possa conhecer – não se englobando neste conceito os argumentos ou razões invocados por cada uma das partes para sustentar a solução que defende quanto à questão a resolver - é, por conseguinte, a nulidade da sentença. No caso vertente, entende a ré/apelante que na sentença recorrida se condenou a ré em

quantidade superior ao pedido, visto a sociedade autora ter liquidado o pedido de privação de uso, no valor de € 4387,53, tendo-se condenado na sentença recorrida, a esse título, em € 4.559,59. Nenhuma razão assiste ao réu/recorrente, já que a sociedade autora formulou, na sua petição inicial, um pedido global, no montante de € 20.612,38 e a ré foi condenada a pagar à aludida sociedade, o montante de € 12.937,79, o que desde logo se terá de concluir que na sentença recorrida não se condenou em quantia superior ao pedido, sabendo-se, como se sabe, que tal não viola o disposto no artigo 609º, nº 1 do CPC, pois o juízo sobre a valorização dos danos concretos não contende com o limite do pedido formulado, como é entendimento pacífico e desde há muito, na jurisprudência – v. por todos e a título meramente exemplificativo, Ac. STJ 04.02.93, CJ/STJ 1993, I, 128.

Situação diversa é a de saber se houve erro de julgamento, pois como se refere no Ac. do STJ de 21.05.2009 (Pº 692-A/2001.S1), acessível no supra citado sítio da Internet Se a questão é abordada mas existe uma divergência entre o afirmado e a verdade jurídica ou fáctica, há erro de julgamento, não “errore in procedendo”, situação que se apreciará em momento subsequente. Os alegados vícios de conteúdo a que se refere o artigo 615º, n.º 1, alínea c) e e) do Código do Processo Civil, não se verificam, por conseguinte, na sentença recorrida, pelo que improcede o que a tal respeito consta das conclusões da ré/apelante.

ii)DA IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO (APELAÇÃO DA RÉ)

Os poderes do Tribunal da Relação, relativamente à modificabilidade da decisão de facto, estão consagrados no artigo 662º do CPC, no qual se estatui:

(13)

No que concerne ao ónus a cargo do recorrente que impugne a decisão relativa à matéria de facto, estabelece o artigo 640ºdo CPC que:

(…)

No caso em apreciação, a ré/recorrente está em desacordo com a decisão sobre a matéria de facto proferida pelo Tribunal a quo, relativamente ao facto de não se ter dado como provada a factualidade decorrente das comunicações, datadas de 27.09.2010 e 20.10.2010, da autoria da ré/apelante, comunicando à sociedade autora a perda total da viatura interveniente no acidente e a circunstância daquela ter assumido a responsabilidade na proporção de 75%, invocando, para tanto, a violação do disposto no artigo 413º do CPC.

É verdade que as partes, apesar de terem sido notificadas da selecção da matéria de facto, não reclamaram da necessidade de se introduzir, no elenco da matéria assente, o teor de qualquer uma dessas ditas cartas. Todavia, uma vez que a carta de fls. 19 do processo apenso, datada de

27.09.2010, se mostra referida na fundamentação da decisão de facto, admite-se que o teor da mesma deverá ser incluído na matéria de facto assente, bem como a carta de 20.10.2010, correspondência que ambas as partes aceitam ter sido trocada, apurando-se, em momento subsequente, da sua relevância em termos de subsunção jurídica.

Assim, aditam-se dois novos números ao elenco da matéria de facto dada como provada, cada um com a seguinte redacção:

37.Na carta datada de 27.09.2010, remetida pela ré Companhia de Seguros S.A. à autora, Sociedade de Táxis, Lda. e por esta recebida, consta designadamente o seguinte:

(…)

No seguimento da vistoria efectuada constatámos que a viatura de V. Exa. sofreu danos cuja reparação se torna excessivamente onerosa face ao seu valor de mercado antes do acidente. Na situação em concreto, considerando o valor estimado para a reparação de € 18.239,46, na oficina COPTA, CRL, a melhor proposta de aquisição da sua viatura com danos (€379,00), bem como o seu valor de mercado antes do acidente (€5.000,00), e embora ainda não nos seja possível assumir uma posição quanto a responsabilidades, colocamos condicionalmente à disposição de V. Exa. A quantia de € 4.621,00, solicitando que nos remeta fotocópias do bilhete de identidade e cartão de contribuinte do proprietário, bem como dos documentos da viatura.

Na eventualidade de pretender desde já comercializar o veículo sinistrado no estado em que ele se encontra, pelo valor de € 125,00, tomamos a liberdade de lhe indicar a seguinte entidade (cuja proposta de aquisição termina no dia 20.11.2010) – Fls. 19 do Processo Apenso.

38.Na carta datada de 30.10.2010, remetida pela ré Companhia de Seguros, S.A. à autora, Sociedade de Táxis, Lda. e por esta recebida, consta designadamente o seguinte: Acusamos a recepção da bossa correspondência de 13 do corrente que foi alvo da nossa melhor atenção. Em resposta informamos que após consulta nos sites da “auto.sapo” e do “standvirtual”

encontrámos viaturas similares avaliadas em € 6.200,00, pelo que aceitamos considerar o valor venal da viatura à data do acidente o montante já referido.

Todavia, relativamente à responsabilidade pela produção do acidente e de acordo com os elementos probatórios de que dispomos, concluímos que a mesma à imputável a ambos os

intervenientes na proporção de 75%-25% desfavorável ao condutor do veículo que garantimos, na medida em que o mesmo efectuou uma mudança de fila em local onde essa manobra lhe estava vedada, não tomando as devidas precauções, infringindo (…) e ao condutor do vosso veículo por

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este circular em claro excesso de velocidade para o local, face ao rasto de travagem (…) Face ao exposto, colocamos à vossa disposição a quantia de € 4.650,00, mantendo V. Exas. A posse do salvado do qual podem dispor livremente,

pelo que ficamos a aguardar o envio da documentação necessária para podermos emitir o respectivo recibo de indemnização – fls. 20 do processo Apenso.

Procede, pois, nesta parte, e nos termos sobreditos, a apelação da ré/recorrente.

iii) DA VERIFICAÇÃO DE ERRO DE JULGAMENTO NA SUBSUNÇÃO JURÍDICA ADUZIDA, TENDO EM CONSIDERAÇÃO OS FACTOS APURADOS

a)DO CRITÉRIO DE CÁLCULO DOS DANOS SOFRIDOS PELO AUTOR RAFAEL MARQUES RODRIGUES (APELAÇÃO DA RÉ )

Não se mostra que as partes hajam colocado em causa a culpa do condutor do veículo matrícula “PG”, na eclosão do acidente em causa nos autos, veículo este que tinha a responsabilidade civil emergente da respectiva circulação transferida para a ré “Companhia de Seguros ..”.

Apenas se insurge a ré/apelante, quanto ao montante indemnizatório arbitrado na sentença recorrida, quer ao autor Rafael, quer à autora, Sociedade de Táxis, Lda.

Vejamos se lhe assiste razão.

Como resulta do disposto do artigo 562º do Código Civil, quem estiver obrigado a reparar um dano deve restituir a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação. E, decorre do disposto no artigo 563º do CC “A obrigação de indemnizar só existe em relação aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”, ali se consagrando a teoria da causalidade adequada.

O dever de indemnizar compreende o prejuízo causado e os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão, e ainda os danos futuros, desde que previsíveis e determináveis -v. artigo 564º, nºs 1 e 2 do mesmo Código.

Na fixação da indemnização, devem ser atendidos os danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito - v. artigo 496º, nº 1 do Código Civil.

A indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a restituição natural não seja possível e tem como medida a diferença entre a situação patrimonial do lesado, na data mais recente que puder ser atendida pelo tribunal, e a que teria nessa data, se não existissem os danos - v. artigo 566º, nº 1 do C.C.

No caso vertente, está sob apreciação, no caso do autor Rafael, a indemnização a título de danos não patrimoniais e patrimoniais, incluindo nestes o dano futuro.

(15)

Danos não patrimoniais são, como é sabido, os que não são susceptíveis de avaliação

pecuniária, porque atingem bens, como a vida, a saúde, a perfeição física, a liberdade, a honra, o bom nome, a reputação, a beleza, que não se integram no património do lesado, apenas podendo ser compensados com a obrigação pecuniária imposta ao agente – v. Ac. STJ de 09.06.2010 (Pº 562/08.4GBMTS.P1.S1), acessível em www.dgsi.pt.

A ressarcibilidade dos danos não patrimoniais encontra-se expressamente consagrada no artigo 496.º do Código Civil, estatuindo o seu nº 1 que, na fixação da indemnização se deve atender aos danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito.

Como defende J. M. ANTUNES VARELA, Das Obrigações em Geral, vol. I, 3.ª ed., 500, A gravidade do dano há-de medir-se por um padrão objectivo (conquanto a apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias de cada caso) e não à luz de factores subjectivos (de uma

sensibilidade particularmente embotada ou especialmente requintada). Por outro lado, a gravidade há-de apreciar-se em função da tutela do direito: o dano deve ser de tal modo grave que justifique a atribuição de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado».

Não sendo os danos não patrimoniais susceptíveis de avaliação pecuniária, o seu ressarcimento assume, por isso, uma função essencialmente compensatória, embora também uma vertente sancionatória – v. a propósito da natureza acentuadamente mista da indemnização, no caso dos danos não patrimoniais, ANTUNES VARELA. ob. cit., 502.

Dentro da categoria de danos não patrimoniais, cuja ressarcibilidade se impõe, há que considerar as sequelas de lesões corporais, pelo que importa ponderar:

Þno prejuízo estético, que simboliza o prejuízo anátomo-funcional associado às deformidades e aleijões que resistiram ao processo de tratamento e recuperação da vítima;

Þno prejuízo de afirmação social, ou seja, dano indiferenciado que respeita à inserção social do lesado, nas suas variadas vertentes (familiar, profissional, afectiva, recreativa, cultural e cívica); Þno prejuízo da saúde geral e da longevidade, em que avultam o dano da dor e o défice de bem-estar, e que valoriza os danos irreversíveis na saúde e bem-estar da vítima e o corte na expectativa de vida;

Þno prejuízo de distracção ou passatempo, o pretium juventude, que realça a especificidade da frustração do viver em pleno a chamada “primavera da vida”; e

Þno pretium doloris, que sintetiza as dores físicas e morais sofridas no período de doença e de incapacidade temporária,

cfr. a propósito, DARIO MARTINS DE ALMEIDA, Manuel de Acidentes de Viação, 130 e ss. e a título meramente exemplificactivo, Acs. STJ de 18.06.2009 (Pº 1632/01.5SILSB.S1) e de

14.09.2010 (Pº 267/06.0TBVCD.P1.S1), acessíveis na Internet, no sítio www.dgsi.pt.

Está provado que o autor, Rafael, em consequência do acidente, bateu com a cabeça na parte interior do veículo AU, perdendo momentaneamente os sentidos, tendo sofrido traumatismo crânio-encefálico, tendo sido suturada a ferida no couro cabeludo – v. Nºs 16, 18 e 19 Fundamentação de Facto.

Tal significa que, em consequência da colisão de que foi responsável o condutor do veículo seguro na ré, o autor sofreu violação da sua integridade física.

(16)

Demonstrado ficou que o autor, em consequência do acidente, temeu pela própria vida – v. Nº 23 Fundamentação de Facto.

Acresce que também ficou provado que, devido às lesões e sequelas resultantes do acidente, o autor teve dores físicas, foi submetido a sessões de fisioterapia, tendo as referidas lesões e sequelas repercussões na sua actividade professional, o que sucedeu entre a data do acidente -13.09.2010 - e 14.02.2011 – v. Nºs 22, 24 e 25 Fundamentação de Facto.

Tendo em consideração a idade do autor que, à data, tinha 49 anos, e em face das sequelas resultantes do acidente, o prejuízo de afirmação social, e o prejuízo de distracção ou passatempo, não se mostram relevantes.

Há, igualmente, que atentar no prejuízo estético, no prejuízo da saúde geral e no quantum doloris.

É certo que o quantum doloris apurado, o qual, como se sabe, corresponde ao sofrimento físico e psíquico vivido pela vítima durante o período de incapacidade temporária, não é elevado, já que lhe foi atribuído apenas o grau 3 numa escala de sete graus – v. Nº 24 da Fundamentação de Facto e o dano estético resultante da cicatriz é ainda mais reduzido (grau 1 na escala de sete graus, segundo o relatório do INML, a fls. 392).

Todos os acima elencados danos não patrimoniais sofridos pelo autor são merecedores de reparação, por força do disposto nos artigos 70º e 496º, nº 1 do Código Civil.

O montante pecuniário da compensação deve fixar-se equitativamente, tendo em atenção, em qualquer caso, as circunstâncias a que se reporta o artigo 494º do Código Civil (artigo 496º, n.º 3, 1ª parte, do Código Civil).

A forma de medir a gravidade do dano não patrimonial fica sempre, por conseguinte,

dependente do prudente arbítrio do julgador, a quem se pede que avalie o quantum necessário para proporcionar ao lesado meios económicos que, de algum modo, o compensem da lesão sofrida.

No caso de a responsabilidade se fundar na mera culpa, como é o caso dos autos, a

indemnização pode ser fixada equitativamente, em montante inferior ao que corresponderia aos danos causados, desde que o grau de culpabilidade do agente, a situação económica deste e a do lesado e as demais circunstâncias do caso o justifiquem (artigo 494º do Código Civil).

Pediu o autor a condenação da ré, a esse título, no montante de € 50.000,00, valor que o Tribunal a quo reduziu para € 5.000,00, por o ter julgado mais adequado aos danos sofridos.

Ora, a jurisprudência tem vindo reiteradamente a preconizar que as indemnizações a arbitrar, designadamente por danos não patrimoniais, não podem ser meramente simbólicas, antes se devem mostrar adequadas ao fim a que se destinam - atenuar a dor sofrida pelo lesado ou pelos familiares do lesado em virtude da morte deste e reprovar, no plano civilístico, a conduta do agente - v. a título meramente exemplificativo, Ac. STJ de 30.10.2007 (Pº 07A3340), acessível no citado sítio da Internet.

Mas, se é certo que importa elevar o nível dos montantes indemnizatórios, também não se pode perder de vista as indemnizações por danos não patrimoniais ou por danos futuros que são atribuídas na jurisprudência dos Tribunais Superiores.

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indemnizatórios deverá recair uma certa uniformidade de critérios para evitar, não só disparidades flagrantes, como por uma questão de justiça relativa do direito aplicado.

Salienta-se também no Ac. STJ de 24.09.2009 (Pº 09B0037), igualmente acessível no sítio www.dgsi.pt, que o recurso à equidade não afasta a necessidade de observar as exigências do princípio da igualdade, o que implica a procura de uma uniformização de critérios, não incompatível com a devida atenção às circunstâncias do caso.

Defende, todavia a ré/apelante, que a indemnização por danos não patrimoniais deverá incluir o designado dano biológico, não devendo, no seu conjunto, exceder a quantia de € 7.000,00. Não comungamos do entendimento propugnado pela ré/apelante, como adiante melhor se explanará, no que concerne ao dano biológico, pelo que, neste contexto, em face ao supra elencado circunstancialismo do caso vertente, não havendo razões que impliquem a fixação em montante inferior, ao abrigo do artigo 494º do C.C., considera-se ser justo, equilibrado e adequado à reparação de identificados danos não patrimoniais, o montante indemnizatório de € 5.000,00, fixado na 1ª instância, o qual se corrobora.

Improcede, em consequência, o que a este propósito consta das conclusões da alegação da ré. Como é sabido, são também indemnizáveis os danos patrimoniais. Dentro destes cabe não só o dano emergente, como o lucro cessante. O primeiro compreende o prejuízo causado nos bens ou nos direitos já existentes na titularidade do lesado à data da lesão. O segundo abrange os

benefícios que o lesado deixou de obter por causa do facto ilícito, mas que ainda não tinha direito à data da lesão.

Um dos pressupostos de que depende o dever de reparação resultante da responsabilidade civil consiste, precisamente, na existência de um nexo de causalidade entre o facto praticado pelo agente e o dano sofrido pelo lesado, de modo a poder concluir-se que este resulta daquele. Dispõe o artigo 563º do Código Civil que “a obrigação de indemnização só existe em relação aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”.

Como afirma MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 8ª ed., 545, “não há que ressarcir todos e quaisquer danos que sobrevenham ao facto ilícito, mas tão-só os que ele tenha na realidade ocasionado, os que possam considerar-se pelo mesmo produzidos (art. 563º). O nexo de causalidade entre o facto e o dano desempenha, consequentemente, a dupla função de pressuposto da responsabilidade civil e de medida da obrigação de indemnizar”.

Consagrou-se, consequentemente, no citado artigo 563º do Código Civil a teoria da causalidade adequada, segundo a qual para que um facto seja causa de um dano, é necessário, antes de mais, que ele seja condição sem a qual o dano não se teria verificado (nexo naturalístico) e, depois que, em abstracto e em geral, seja causa apropriada para produzir o dano (nexo de adequação).

A teoria da causalidade adequada apresenta duas variantes: uma formulação positiva (mais restrita) e uma formulação negativa (mais ampla), adoptando a nossa lei a formulação negativa,

(18)

segundo a qual o facto que actuou como condição do dano deixa de ser considerado como causa adequada, quando para a sua produção tiverem contribuído, decisivamente, circunstâncias

anormais, excepcionais, extraordinárias ou anómalas, que intercederam no caso concreto. Como refere J.M.ANTUNES VARELA, ob. cit., 765, só quando para a verificação do prejuízo tenham concorrido decisivamente circunstâncias extraordinárias, fortuitas ou excepcionais (que tanto poderiam sobrevir ao facto ilícito como a um outro facto lícito) repugnará considerar o facto (ilícito) imputável ao devedor ou agente como causa adequada do dano”.

No caso vertente, condenou o Tribunal a quo, a ré, a pagar à autora, a título de danos patrimoniais, o valor de € 2.529,60, decorrente de vencimentos que o autor deixou de auferir durante o período de 13.09.2010 a 14.02.2011 – v. Nºs 21 e 22 Fundamentação de Facto. Insurge-se a ré/apelante contra esta condenação, por entender que o autor já havia sido

ressarcido desse montante pela seguradora Zurich, na qualidade de seguradora do acidente de trabalho.

E, tem efectivamente razão, o apelante.

Está, na verdade, demonstrado que, no momento do acidente, o autor Rafael se encontrava no exercício da sua actividade profissional, e que, por isso, a companhia de seguros Zurich procedeu ao pagamento da indemnização àquele – v. Nº 35 da Fundamentação de Facto.

De resto, fundamentou a Exma. Juíza do Tribunal a quo tal factualidade apenas na documentação constante do processo, a fls. 199 a 212.

Ora, da aludida prova documental facilmente se constata que foram pagos valores

indemnizatórios referentes aos períodos de 14/09/2010 a 1/12/2010; 09/11/2010 a 30/11/2010; 01.12.2010 a 05.12.2010; 02.12.2010 a 05.12.2010; 06.12.2010 a 22.12.2010; 06.12.2010 a 03.01.2011; 23.12.2010 a 03.01.2011; 04.01.2011 a 20.01.2011; 04.01.2011 a 14.02.2011 e 21.01.2011 a 13.02.2011, consoante o grau de incapacidade (ITA ou ITP), sendo certo que o próprio autor, na qualidade de sinistrado, declarou, aquando da tentativa de conciliação, realizada no dia 16.09.2011, no Tribunal de Trabalho de Lisboa, já se encontrar pago de todas as

indemnizações legais até essa data – v. fls. 199 a 201.

Não se corrobora, portanto, o entendimento expresso na sentença recorrida quando, admitindo que o autor Rafael não pode receber duas indemnizações pelo acidente, se afirma que: a

duplicação evita-se não com a desoneração do responsável do acidente do pagamento, mas com a restituição à seguradora que pagou a indemnização laboral na medida da duplicação.

É que, se assim se viesse a entender, tudo indicaria que teria de ser o autor que, recebendo duas vezes o montante da retribuição, teria de o restituir à seguradora do trabalho.

Não se acompanha, pois, a sentença recorrida, já que terá de ser a ré seguradora que terá de ressarcir – voluntária ou coercivamente, em acção para tal interposta, como parece ter sido o caso – a Zurich, seguradora do trabalho, os montantes por esta pagos ao sinistrado, o autor Rafael. Assim sendo, procede, a este propósito, a apelação, revogando-se, nessa parte, a sentença recorrida.

(19)

Acresce que, como se estatui o nº 2 do citado artigo 564º do C.C., na fixação da indemnização devem também ser atendidos os danos futuros – danos emergentes ou lucros cessantes – desde que previsíveis.

Entre os danos futuros previsíveis há que distinguir aqueles que se podem prognosticar, dos meramente eventuais, cujo grau de ocorrência é menor, sendo que os danos futuros imprevisíveis não são susceptíveis de indemnização.

De entre os danos futuros previsíveis, destaca-se a perda ou diminuição da capacidade

produtiva de quem trabalha, logo, de auferir o correspondente rendimento, por virtude de lesão corporal.

São, pois, indemnizáveis os danos correspondentes à redução da capacidade de ganho do lesado, como danos futuros determináveis, respeitando a ideia de reconstituição da situação anterior ao evento danoso – v. artigos 562º, 563º, 564º e 566º todos do Código Civil.

No caso vertente, ficou provado que o autor, em consequência das lesões

resultantes do acidente de viação, ficou com um défice funcional permanente da integridade físico-química fixável em seis pontos – v. Nº 20 da Fundamentação de Facto.

Sucede que, a incapacidade permanente e parcial pode reflectir-se de duas formas alternativas no património do lesado:

a)Provoca uma diminuição efectiva de remuneração porque o lesado produz menos e, por via disso, recebe menos. Há, neste caso, uma diminuição visível e palpável de proventos;

b)Não há qualquer diminuição sensível de remuneração do lesado, mas este tem de efectuar um esforço sobrecarregado para manter os mesmos níveis de produtividade que tinha antes da lesão (o denominado dano biológico).

No caso em análise, conforme resulta do relatório elaborado pelo INML e constante dos autos, a fls. 391-392, as sequelas resultantes das lesões sofridas pelo autor, em consequência do acidente, são compatíveis com o exercício da actividade habitual, mas implicam esforços suplementares. Sempre que está em causa uma incapacidade funcional ou fisiológica – o dano biológico - a repercussão negativa centra-se na diminuição da condição física, resistência e capacidade de esforços, o que se traduz numa deficiente ou imperfeita capacidade de utilização do seu corpo, no desenvolvimento das actividades pessoais, em geral, e numa consequente e, igualmente previsível, maior penosidade, dispêndio e desgaste físico na execução de tarefas antes desempenhadas. Como se refere no Ac. T. R. Porto de 12.01.2006, (Pº 0536203) no sítio da Internet, www.dgsi.pt, a atribuição da indemnização não tem de fazer apelo às repercussões do acidente no dia-a-dia profissional do lesado, mas na actividade do lesado enquanto pessoa e não apenas enquanto trabalhador.

De resto, o dano fisiológico, funcional ou biológico, que tem, em princípio uma abrangência maior do que a perda da capacidade de ganho, é igualmente indemnizável dentro da categoria do dano

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com sequelas incapacitantes, enquanto danos futuros previsíveis – v. neste sentido e entre muitos, Acs. STJ de 22.01.2008 (Pº 07A4338) e de 07.02.2008 (07A4598), no sítio da Internet www.dgsi.pt.

Estamos, pois, perante um dano de cariz patrimonial, e como tal é entendido maioritariamente pela jurisprudência, e não perante um dano não patrimonial, como defende a ré/apelante, na sua alegação de recurso – cfr. designadamente, Acs. STJ de 06.05.1999 (Pº 99B222), de 04.10.2007 (Pº 07B2957), de 10.05.2008 (Pº 08B1343), de 10.07.2008 (Pº 08B2101), de 10.10.2012 (Pº 632/2001.G1.S1), de 14.12.2016 (Pº 37/13.0TBMTR.G1.S1) e de 15.02.2017 (Pº

118/13.0TBSTR.E1.S1), bem como Ac. R.L. de 13.12.2012 (Pº 5505/05.4TVLSB.L1-2), citado pela ré, e de que foi relatora e 1º adjunto, precisamente a aqui relatora e 1º adjunto.

No cálculo do dano patrimonial futuro seja no que concerne à perda da capacidade aquisitiva -têm sido frequentemente utilizadas, pela jurisprudência, fórmulas e tabelas financeiras várias, na tentativa de se conseguir um critério, tanto quanto possível, uniforme.

Como se salienta no Ac. STJ de 10.10.2012 (Pº 632/2001.G1.S1) para evitar um total subjectivismo que, em última análise, poderia afectar a segurança do direito e o princípio da igualdade, o montante indemnizatório a arbitrar deve começar por ser procurado com recurso a processos objectivos, através de fórmulas, cálculos financeiros, aplicação de tabelas.

Mas, as referidas fórmulas muitas vezes não se conformam com a realidade das coisas, visto que a mencionada limitação não pode implicar a atribuição de uma quantia correspondente à

mensalmente perdida multiplicada pelo número de anos de vida (activa) do lesado, já que a quantia assim encontrada, recebida integralmente, iria assegurar um rendimento superior ao efectivamente perdido, por se traduzir numa antecipação de rendimentos que só seriam acumulados ao fim de anos, sendo que o juro que tal capital seria susceptível de produzir, excederia manifestamente o efectivo dano sofrido pelo lesado.

Assim, ao valor obtido, e por forma a evitar um enriquecimento injustificado, devido à entrega imediata do capital, por receber, o lesado, de uma só vez, toda a indemnização por este dano, haverá que proceder a uma redução – pelo menos 1/3 do valor que vier a ser apurado

-correspondente ao benefício proveniente do recebimento antecipado.

O apelo a critérios financeiros, fórmulas matemáticas, fiscais, ou outras, constitui apenas um mero ponto de partida para a obtenção de uma situação de equilíbrio patrimonial do lesado, através do juízo de equidade a que a lei se reporta.

Prevalece na jurisprudência o entendimento – com o qual se concorda - de que a indemnização a pagar quanto a danos futuros, deve representar um capital produtor de um rendimento que se extinga no fim do previsível período de vida activa do lesado e que garanta as prestações periódicas correspondentes à respectiva perda, sendo, no entanto, este critério temperado pelo papel corrector da equidade – v. a propósito Cons. SOUSA DINIS, Dano Corporal em Acidentes de Viação, C.J/STJ, Ano IX, Tomo 1, 2001, 8-9.

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incapacidade funcional geral, embora sem repercussões na actividade profissional do lesado, na medida em que não o impede de a exercer, mas vai-lhe exigir maior esforço do que aquele que lhe seria exigido, se não fosse essa incapacidade.

Admite-se, portanto, que o cálculo da indemnização devida, por virtude do referido dano que afecta o autor, terá que ser essencialmente determinado à luz dos supra mencionados factos apurados, mas com base no critério de equidade a que se reporta o artigo 566º, nº 3, do Código Civil, já que as fórmulas matemáticas não se ajustam à presente situação.

Pediu o autor, Rafael, a condenação da ré no pagamento, a título de dano futuro, do montante de € 75.000,00. Condenou o Tribunal a quo a ré, no pagamento ao autor, a esse título, da quantia de € 5.000.00, valor este que a ré discorda, por considerar que o montante indemnizatório se deveria cifrar em € 7.000,00, a título de danos não patrimoniais, englobando o dano biológico, entendimento este que, como já se salientou, se discorda, por se considerar que o dano biológico se traduz num dano patrimonial.

Para obtenção do valor indemnizatório para compensação do dano sofrido teria assim de se atender à idade do sinistrado, à remuneração mensal auferida, ao grau de incapacidade, à cessação da vida activa.

Assim, no caso em apreciação, há que ter em consideração os seguintes factores: Øa idade do autor à data do acidente – 49 anos;

Øa remuneração mensal de € 505,92, que o mesmo então auferia, em resultado da actividade profissional desenvolvida;

Ødéfice funcional permanente da integridade físico-química fixável em seis pontos.

Øa cessação da vida activa (65/70 anos), muito embora frequentemente a jurisprudência dos Tribunais Superiores faça apelo à esperança média de vida que, com base nos dados fornecidos pelo INE, já ronda os 80 anos, por se entender que as necessidades do lesado se mantêm até ao fim da vida física – v. a título meramente exemplificativo, Ac. STJ de 25.06.2009 (Pº 08B3234), acessível em www.dgsi.pt.

Face a todos os supra mencionados factores, designadamente ao esforço suplementar que é exigido ao autor, em resultado das sequelas resultantes do acidente, fazendo apelo ao critério da equidade à luz do aludido artigo 566º, nº 3 do C.C., entende-se ser equilibrado e criterioso o

montante indemnizatório fixado na sentença recorrida, pelo dano patrimonial futuro sendo, por isso, de manter tal montante arbitrado na 1ª instância que, a pecar, é por defeito.

Recorde-se que no Ac.R.L. de 13.12.2012, que a ré/apelante cita, de forma abundante, subscrito, como acima ficou dito, pela aqui relatora e 1º adjunto, foi atribuído à ali autora a indemnização de € 11.000,00, a título de dano patrimonial futuro, estando em causa uma

incapacidade permanente e parcial de 2%, igualmente compatível com o exercício da respectiva actividade profissional.

Improcede, pois, nesta parte, o que consta da alegação da ré/recorrente, inexistindo qualquer duplicação de indemnizações.

(22)

b)DOS DANOS SOFRIDOS PELA AUTORA, SOCIEDADE DE TÁXIS, LDA. (APELAÇÃO DA RÉ )

Insurgiu-se igualmente a ré/apelante contra a indemnização arbitrada à sociedade autora, a título de privação de uso.

Invoca a ré que, face à correspondência trocada com a autora, Sociedade de Táxis, Lda., esta tinha conhecimento da perda total da viatura sua propriedade e que a ré assumia a

responsabilidade na proporção de 75%, pelo que defende que apenas será devido à autora indemnização a esse título até 20.10.2010, data da última carta remetida pela ré à autora, invocando ainda não compreender a razão pela qual o Tribunal a quo decidiu que, apenas em 05.11.2010, cessou a privação de uso pela sociedade apelada.

Vejamos,

A problemática da reparabilidade do dano da privação do uso, não tem sido unívoca, quer na doutrina, quer na jurisprudência, e tem maior incidência precisamente a propósito da

responsabilidade civil automóvel.

Mas, a clivagem jurisprudencial, não se limita à qualificação da natureza do dano de privação do uso, como dano não patrimonial ou patrimonial, já que mesmo quando se aceita a sua natureza patrimonial, existe dissensão.

É que, para uma corrente de opinião, basta, para que seja reparável, a demonstração do não uso do bem atingido, já que a indemnização é quase co-natural a essa mesma privação,

defendendo-se que a simples privação do uso é causa adequada de uma modificação negativa na relação entre o lesado e o seu património que pode servir de base à determinação da

indemnização, constituindo ainda a opção pelo não uso uma manifestação dos poderes do proprietário, também afectado pela privação do uso – v. a propósito ANTÓNIO S. ABRANTES GERALDES, Temas da Responsabilidade Civil – Indemnização do dano da privação do uso, 2.ª Edição, Almedina.

Também para LUÍS M. T. DE MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações, Volume I, 4.ª Edição, 317 “o simples uso constitui uma vantagem susceptível de avaliação pecuniária, pelo que a sua privação constitui naturalmente um dano”.

Considerou-se, designadamente, no acórdão do STJ de 12.01.2010 (Pº 314/06.6TBCSC.S1), acessível em www.dgsi.pt, que: “O proprietário privado por terceiro do uso de uma coisa tem, por esse simples facto e independentemente da prova cabal da perda de rendimentos que com ela obteria, direito a ser indemnizado por essa privação, indemnização essa a suportar por quem leva a cabo a privação em causa. A privação do uso do veículo constitui um dano indemnizável, por se tratar de uma ofensa ao direito de propriedade e caber ao proprietário optar livremente entre utilizá-lo ou não, porquanto a livre disponibilidade do bem é inerente àquele direito constitucionalmente consagrado (art. 62.º da CRP) – Cfr. em idêntico sentido Acs. STJ de 28.09.2011 (Pº

2511/07.8TACSC.L2.S1) e de 06.05.2008 (Pº 08A1279), todos acessível em www.dgsi.pt. Para outra corrente, é insuficiente essa demonstração, sendo ainda necessária a prova de um autónomo ou específico dano patrimonial.

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Defende-se no Acórdão do STJ de 18.11.2008 (Pº 08B2732), no mesmo sítio da internet que: “A mera privação do uso de um imóvel, decorrente de ocupação ilícita, por ofensiva do direito de propriedade do reivindicante (artº 1305º nº1 do CC), não confere a este, sem mais, direito a indemnização em «quantum» correspondente ao do apurado valor locativo daquele, ou outro, mesmo apelando às regras da equidade, ao autor, antes, sopesados os pressupostos da

responsabilidade civil extracontratual que pretende efectivar e o exarado nos artºs 342º nº1, 483º nº1, 487º, 562º a 564º e 566º, todos do CC, cumprindo alegar e provar facticidade donde ressaltem danos consectários da mora na restituição da coisa sua pertença.

A privação do uso de um bem é susceptível de constituir, por si, dano patrimonial, visto que se traduz na lesão do direito real de propriedade correspondente, assente na exclusão de uma das faculdades que, de acordo com o preceituado no artigo 1305º do Código Civil, é lícito ao

proprietário gozar, i. e., o uso e fruição da coisa.

A supressão dessa faculdade, impedindo o proprietário de extrair do bem todas as suas

utilidades constitui, juridicamente, um dano que tem uma expressão pecuniária e que, como tal, deverá ser passível de reparação – v. Acs. R.L. de 12.10.2006 (Pº 6600/2006-6) e de 15.12.2011 (Pº 1470/09.4TCNT-L1-8) e Ac. R.P. de 13.10.2009 (Pº 3570/05.3TBVNG.P1), todos em

www.dgsi.pt.

No caso em apreciação, a situação é bem mais clara, já que o veículo sinistrado é um táxi e, consequentemente, de utilização para o exercício de uma actividade comercial, pelo que a sua paralisação, em consequência de um acidente de viação, implica necessariamente um dano de natureza patrimonial.

Para aferir da indemnização adequada a reparar a perda de rendimentos que a autora sofreu em consequência da privação do exercício dessa sua actividade, com o táxi interveniente no

acidente de viação causado pelo veículo segurado na ré, haverá que ter em consideração a matéria de facto dada como provada e que não foi alvo de impugnação.

Com efeito, à data do acidente, o veículo matrícula “AU”, pertencente à sociedade autora, era utilizado como veículo de transporte de passageiros em regime de táxi, dedicando-se a sociedade autora ao exercício da atividade de transporte ligeiro de passageiros. Do embate resultaram danos no aludido veículo AU que determinaram a sua perda total, por ser economicamente

desaconselhável a sua reparação.

E, por forma a dar continuidade à sua atividade, a sociedade autora adquiriu uma nova viatura, a qual apenas ficou preparada e apta a ser utilizada, como táxi, a 5 de Novembro de 2010 – v. Nºs 1, 6, 7, 10, 28 e 30 da Fundamentação de Facto.

Mais se apurou que no ano de 2010 – ano da ocorrência do sinistro – as viaturas táxi produziam diariamente rendimentos líquidos de 86,03 – v. Nº 33 Fundamentação de Facto.

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