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A possibilidade do adimplemento de execuções com criptomoedas

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Carolina Lanzini Scatolin

POSSIBILIDADE DO ADIMPLEMENTO DE EXECUÇÕES COM

CRIPTOMOEDAS

Florianópolis 2019

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Carolina Lanzini Scatolin

POSSIBILIDADE DO ADIMPLEMENTO DE EXECUÇÕES COM CRIPTOMOEDAS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Orlando Celso da Silva Neto Coorientador: Guilherme Rosa Santos

Florianópolis 2019

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AGRADECIMENTOS

Para todo começo de caminhada, é preciso dar o primeiro passo. Sendo assim, é preciso agradecer a meus pais, que sempre me incentivaram a dar o primeiro passo. A eles, que não mediram esforços para me oferecer as melhores condições a fim de que eu chegasse até aqui. Eles, que aceitaram a minha persistência durante longos anos de cursinho pré-vestibular, para chegar a este momento e só ter o que agradecer.

Ao meu irmão Guilherme, pela parceria, pela enorme paciência comigo desde que eu era criança, por ser meu exemplo e por algumas vezes me chamar atenção para que eu não “caísse em ciladas”. Agradeço também à Ana, esposa do meu irmão, por todas as risadas, comilanças e pela paciência.

À Universidade Federal de Santa Catarina, sempre um sonho, e hoje um lugar em que amadureci e adquiri grandes amigos, os quais sei que levarei para todos os lugares. Dentro da Universidade, agradeço aos diversos mestres com quem tive a honra de aprender sempre mais.

Por fim, não poderia deixar de agradecer ao professor Orlando Celso da Silva Neto, por aceitar o desafio de orientar um trabalho um tanto inovador e com tão pouco material a respeito.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo entender a criação, expansão e regulamentação das chamadas criptomoedas, bem como demonstrar a possibilidade de seu uso para satisfazer execuções, examinando os princípios, pressupostos e procedimentos da execução. Para a realização do presente estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas principais obras a respeito do processo de execução. Sobre o conceito de criptomoeda, a pesquisa foi enfocada em algumas obras e artigos reconhecidos no meio como imprescindíveis para o seu entendimento. Posteriormente, foi realizada a análise da possibilidade do pagamento das prestações devidas utilizando-se criptomoedas.

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ABSTRACT

This work aims to understand the creation, expansion and regulation of cryptocurrency, as well as demonstrate the possibility of using cryptocurrency to satisfy judicial execution, by examining the principles, assumptions and procedures of legal execution. In order to achieve this purpose, a bibliographical research was made on important studies regarding the judicial execution process. About the concept of cryptocurrency, the research was focused on some works and articles considered as essential for its understanding. Subsequently, an analysis about the possibility of paying due benefits by using cryptocurrency was carried out.

Keywords: Bitcoin. Legal execution process. Cryptocurrency. Compliance. Obligation

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BTC - Bitcoin

CF – Constituição Federal CPC – Código de Processo Civil

CVM – Comissão de Valores Mobiliários TJSP – Tribunal de Justiça de São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 AS CRIPTOMOEDAS ... 17

2.1 Histórico da Moeda ... 17

2.2 Diferença entre moeda digital e moeda virtual... 19

2.3 Surgimento das criptomoedas ... 20

2.4 Características ... 22

2.5 Expansão das criptomoedas ... 28

3 A EXECUÇÃO ... 30

3.1 Histórico do processo de execução ... 30

3.2 Conceito, pressupostos e princípios do processo de execução ... 33

3.2.1 Conceito ... 33

3.2.2 Pressupostos ... 34

3.2.3 Princípios ... 35

3.3 Meios executórios ... 38

3.4 Requisitos do processo de execução ... 39

3.4.1 Títulos executivos judiciais ... 41

3.4.2 Títulos executivos extrajudiciais ... 43

3.5 Procedimentos dos processos de execução ... 45

3.5.1 Obrigações de entregar coisa certa ou incerta ... 46

3.5.2 Obrigações de fazer ou de não fazer ... 47

3.5.3 Obrigações de pagar quantia certa ... 48

3.5.4 Execução de alimentos ... 51

4 A POSSIBILIDADE DO ADIMPLEMENTO DE EXECUÇÃO COM CRIPTOMOEDAS ... 53

4.1 Regulamentação das criptomoedas no mundo e no Brasil ... 53

4.1.1 Regulamentação no Estado de Nova Iorque ... 53

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4.1.3 Regulamentação no Brasil ... 56

4.2 Como adimplir execuções com criptomoedas ... 57

5 CONCLUSÃO ... 63

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente a discussão acerca das criptomoedas está se tornando cada vez mais comum. Em diversos países já houve algum tipo de manifestação do Estado envolvendo o assunto.

A importância deste tema reside não só em sua atualidade, como também em seu avanço mundo afora. É necessário o debate e a adequação dessa nova modalidade de dinheiro, sempre com a intenção de melhorar as oportunidades da sociedade, assim como as de seu país, demonstrando abertura para novos investimentos.

Com o presente trabalho de pesquisa, pretende-se trazer para debate novos elementos, capazes de chegar mais próximos de uma definição quanto ao regime a ser adotado no processo de execução judicial, tornando a possibilidade de pagamento com criptomoedas uma realidade no Brasil.

Para a elaboração deste trabalho, foi utilizado o método dedutivo, o qual parte de argumentos gerais para chegar a específicos. Inicialmente foi apresentado o “considerado como verdadeiro”, para depois se chegar a conclusões formais, já que estas ficam restritas à lógica das premissas estabelecidas. Como método auxiliar, foi empregado o método histórico, levando-se em consideração o contexto atual e pretérito acerca dos entendimentos tanto da criptomoeda como do processo de execução.

A primeira seção do presente trabalho analisou as criptomoedas em si, desde o histórico do dinheiro até o surgimento das criptomoedas e a sua expansão por todo o mundo.

Além disso, foram estudadas com profundidade as principais características da moeda virtual mais conhecida hoje, o Bitcoin. Entre elas estão: a tecnologia de blockchain, a qual é equivalente a um livro de registros públicos, onde constam todas as transações já efetuadas mundialmente; a descentralização, uma vez que o Bitcoin não possui um controle centralizado; o anonimato dentro do protocolo; e a baixa incidência de taxas para a efetivação da transação. Durante o segundo capítulo, explicou-se o processo de execução do ordenamento jurídico brasileiro, estudando-se o seu contexto histórico e a sua evolução, além de seus princípios, pressupostos e principais procedimentos, com a finalidade de identificar em que ponto do processo poder-se-iam encaixar as moedas virtuais.

Já na terceira e última seção, realizou-se uma exposição da regulamentação sobre as criptomoedas já existentes no mundo e a sua ausência no Brasil. Finalmente, analisou-se a

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possibilidade do adimplemento de execuções com criptomoedas, discorrendo-se sobre as alternativas de procedimentos a serem adotados para tal satisfação de créditos.

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2 AS CRIPTOMOEDAS

A partir de 2013, as criptomoedas tiveram um crescimento exponencial no mundo. Essas moedas, por possuírem características particulares que serão pontuadas no decorrer do texto, são utilizadas para diversas finalidades, dentre elas investimentos, transações comerciais e operações criminosas. Além disso, no final do ano de 2017, iniciaram-se debates acerca da possibilidade de criptomoedas serem utilizadas no processo judicial. Entretanto, para compreender esse referido uso, é necessário voltar no tempo e entender o histórico da moeda, a criação das criptomoedas e suas características principais. Somente depois disso, poder-se-á compreender seu papel no processo judicial.

2.1 Histórico da Moeda

A moeda de hoje provém de um longo percurso de desenvolvimento e evolução das relações humanas. Nos primórdios da humanidade, aquele que conseguisse obter excedentes de alguma mercadoria, poderia trocá-la por algo de que precisasse. Produtos como peixes, grãos e manufaturas poderiam ser objetos de troca. Tal prática recebeu o nome de escambo, com o qual se buscava obter bens de valor por meio da troca de itens com valor equivalente.

Com o desenvolvimento das relações humanas e o aumento das atividades comerciais, artigos que tinham maior procura no mercado tornaram-se padrões de valores para a execução de trocas. Entretanto, por conta de sua grande variação de valor, da dificuldade de deslocamentos e do perecimento dos produtos, o escambo tornou-se inconveniente, sendo substituído, então, pelo metal.

Os metais tornaram-se padrões de valores por suas propriedades de divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e acúmulo de riquezas. Contudo, para sua comercialização, era exigida a aferição do peso e do grau de pureza a cada troca. Somente mais tarde o homem deu forma e peso determinados aos metais utilizados, surgindo então as moedas.

As primeiras moedas com características semelhantes às das atuais surgiram no século VII a.C. Durante muitos anos, as moedas de maior valor eram cunhadas em ouro, sendo a prata e o cobre reservados para as de menor valor. A partir do século XIX, quando as ligas metálicas começaram a ser descobertas, a moeda passou a circular pelo valor gravado em sua face.

A moeda de papel teve sua origem na Idade Média, quando era costume guardar valores com ourives. Estes entregavam um documento como garantia do valor recebido, conhecido como “recibo”, o qual começou a ser utilizado para efetuar pagamentos, circulando no mercado.

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Assim, o recibo dos ourives evoluiu até dar origem ao papel-moeda. Com o tempo, os governos passaram a conduzir as emissões do papel-moeda, monitorando sua qualidade e sempre refinando técnicas para dificultar falsificações. Segundo Murray N. Rothbard:

O dinheiro difere das demais mercadorias por ser demandado majoritariamente como um meio de troca. Mas, excetuando-se isso, o dinheiro é uma mercadoria – e, como todas as mercadorias, ele possui um estoque real e é demandado por pessoas que querem comprá-lo, que querem portá-lo etc. Como todas as mercadorias, seu “preço” – em termos de outros bens – é determinado pela interação entre sua oferta total, ou estoque, e sua demanda total por pessoas que querem compra-lo e guardá-lo.1

Sendo assim, o conjunto de cédulas e moedas utilizadas por um país forma seu sistema monetário. Esse sistema, regulado por legislação própria, possui autoridades encarregadas de seu controle. Quase todos os países possuem seus Bancos Centrais e Casas da Moeda para controle de política monetária e emissão de dinheiro. Esses bancos conquistaram a confiança do público e eram vistos como grandes bancos nacionais, que realizavam serviço público e estariam protegidos da falência por serem parte do governo.

O papel-moeda, anteriormente, possuía um lastro, ou seja, o seu valor e a sua emissão eram baseados na quantidade de ouro que o governo possuía em seus cofres. Quando os governos se arrogaram do monopólio de emissão da moeda, tal lastro começou a ficar obsoleto, uma vez que o governo, conforme a necessidade da valorização ou desvalorização da moeda, imprimia mais dinheiro.

Todavia, com o passar do tempo, moedas e cédulas foram sendo substituídas por cartões de crédito emitidos por instituições financeiras e por algumas lojas. Curiosamente, a origem desses cartões não se encontra nos bancos, mas sim em uma rede de restaurantes. Conforme o Centro Cultural do Banco do Brasil:

Em 1950, o Diners Club criou o primeiro cartão de crédito moderno. Era aceito inicialmente em 27 bons restaurantes daquele país e usado por importantes homens de negócios, como uma maneira prática de pagar suas despesas de viagens a trabalho e de lazer. Confeccionado em papel cartão, trazia o nome do associado de um lado e dos estabelecimentos filiados em outro. Somente em 1955 o Diners passou a usar o plástico em sua fabricação.

Em 1958, foi a vez do American Express lançar seu cartão. Na época, os bancos perceberam que estavam perdendo o controle do mercado para essas instituições, e no mesmo ano o Bank of America introduziu o seu BankAmericard. Em 1977, o BankAmericard passa a denominar-se Visa. Na

1 ROTHBARD, Murray N. O que o governo fez com o nosso dinheiro? São Paulo: Instituto Ludwig

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década de 90, o Visa torna-se o maior cartão com circulação mundial, sendo aceito em 12 milhões de estabelecimentos.2

Embora o cartão não seja dinheiro e represente somente uma intenção de pagamento por parte do titular, o risco de inadimplência fica, mediante o pagamento de uma taxa sobre cada transação, sob responsabilidade da emissora do cartão.

Com a expansão da internet comercial e doméstica, a quantidade de transações online, seja entre consumidores e empresários ou entre empresários e empresários, teve um aumento significativo. Sendo assim, a revolução digital viabilizou o surgimento e a expansão das chamadas criptomoedas.

2.2 Diferença entre moeda digital e moeda virtual

As moedas digitais, também conhecidas como moedas eletrônicas, são todas aquelas intangíveis, isto é, que não possuem forma física, mas que existem somente em formato digital, podendo ser convertidas em dinheiro físico. Como exemplo, podem-se citar dois casos: quando é efetuado um pagamento com cartão de crédito ou débito, ou quando é executada a transferência de jogadores de futebol de uma grande equipe para outra. Em ambas as situações, o pagamento realizado é efetivado por meio de moedas digitais.

Essas moedas são emitidas por bancos centrais ou federais, o que as torna moedas fiduciárias, ou seja, elas possuem fundos legais e são apoiadas por governos e instituições financeiras. Assim, há sobre elas uma estrutura que regulamenta o seu uso.

De acordo com o Banco Central do Brasil, as “moedas eletrônicas se caracterizam como recursos em reais mantidos em meio eletrônico que permitem ao usuário realizar pagamentos”.3

Já as moedas virtuais, segundo o Banco Central Europeu, são “um tipo de moeda digital não regulamentada, que é emitida e geralmente controlada por seus desenvolvedores e usada e aceita entre os membros de uma comunidade virtual específica”.4

2 BRASIL, BANCO CENTRAL DO BRASIL. Op. cit. Disponível em:

<https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2Fhtms%2Forigevol.a sp>. Acesso em 20 fev 2019.

3 BRASIL, BANCO CENTRAL DO BRASIL. Moedas virtuais, Banco Central do Brasil. Disponível

em:

<https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.bcb.gov.br%2Fpre%2Fbc_atende% 2Fport%2Fmoedasvirtuais.asp%3Fidpai%3DFAQCIDADAO> Acesso em 6 abr 2019.

4 Virtual Currency Schemes, European Central Bank. Tradução livre. Disponível em:

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Sua criação difere das moedas digitais por não dependerem de uma instituição para sua emissão. Elas são criadas com base na tecnologia blockchain, sendo as transações controladas por toda a comunidade usuária.

A principal diferença entre a moeda digital e a virtual encontra-se no fato de que a primeira é regulada por organizações e instituições designadas para isso, como o Banco Central, sendo, portanto, monitorada a cada segundo. Já a segunda provém de um sistema descentralizado em que não há uma regulamentação, não havendo uma instituição que determine seu valor.

2.3 Surgimento das criptomoedas

O surgimento da criptomoeda veio com a ideia inicial de cartão de crédito. Porém, as compras realizadas com cartões de crédito online dependem de um intermediário, ou seja, é necessário o envio de informações pessoais para uma instituição financeira a fim de que esta possa confirmar o crédito para a venda.

A primeira ideia de aplicar criptografia ao dinheiro foi de David Chaum, em 1983, com uma técnica chamada blind signature (assinatura cega, em português). Sua inovação em relação às notas promissórias – que não preveniam o gasto duplo – foi a inserção de um código de números escolhido por quem recebesse tal nota e posteriormente ocultado. A pessoa que passasse a nota assinaria embaixo do código sem vê-lo e não teria a preocupação de o recebedor ter escrito um código que já foi escolhido, já que assim ele teria uma nota que não poderia gastar.

Alguns anos depois, em 1988, Chaum, juntamente a Amos Fiat e Moni Naor, propuseram um dinheiro eletrônico offline. Por meio desse conceito, hoje é possível realizar compras durante um voo em que não haja conexão à internet. O processamento nesse tipo de transação ocorre posteriormente e, caso o crédito seja negado, o proprietário do cartão estará devendo para a companhia aérea ou para o banco.

Em 1989, Chaum comercializou suas ideias e formou a companhia “DigiCash”, cujo principal projeto era um sistema de caixa digital, o ecash (dinheiro eletrônico, em português), baseado no anonimato dos clientes e na privação de acesso dos bancos a como estava sendo gasto o dinheiro.

No entanto, como explica Arvind Narayanan, esse modelo de criptografia não teve grande sucesso:

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O problema principal foi a dificuldade em persuadir os bancos e mercadores a utilizarem o DigiCash. Como não havia muitos mercadores que aceitavam ecash, usuários também não o utilizavam. E o pior, ele não aceitava tão bem transações entre usuários. Era muito centrado em transações de usuário com mercador. 5 (Tradução livre)

Foi em 2008 que uma pessoa sob o uso do pseudônimo Satoshi Nakamoto divulgou um artigo em inglês detalhando o modo de funcionamento da moeda criptografada mais conhecida atualmente: o Bitcoin.

A proposta consistia em operações financeiras ponto a ponto (peer-to-peer 6) sem

intermediação, isto é, sem interferência de uma instituição financeira para controlar seu valor ou sua oferta. Nakamoto, em seu artigo sobre o Bitcoin, colocou que:

O que é necessário é um sistema de pagamento eletrônico baseado na criptografia ao invés de na confiança, permitindo a qualquer pessoa que deseja, com a anuência de outra pessoa, transacionar diretamente sem a necessidade de confiar em uma terceira parte. Transações realizadas computacionalmente seriam irreversíveis e protegeriam os vendedores de fraudes, e os mecanismos de garantia de rotina podem ser facilmente implementados para proteger os compradores.7 (Tradução livre)

Tal ideia não era nova, uma vez que já havia sido explicada por Wei Dai em 1998. Segundo Fernando Ulrich, “em seu texto, Wei Dai expunha as principais características do protocolo de uma criptomoeda e como ela poderia funcionar na prática” 8. Foi com base nesse

protocolo que Nakamoto classificou o Bitcoin como uma extensão ou uma implementação desse sistema.

Nakamoto deu a entender que a ideia central era a de que a moeda fosse utilizada pela internet, e não, por exemplo, para ir ao mercado e efetuar o pagamento com ela.

Além disso, após a divulgação do artigo inicial, Nakamoto manteve contato com os outros desenvolvedores de sistemas para, aos poucos, consertarem os problemas que eles

5 The main problem was that it was hard to persuade banks and merchants to adopt it. Since there weren’t

many merchants that accepted ecash, users didn’t want it either. Worse, it didn’t support user-to-user transactions, or at least not very well. It was really centered onde the user-to-merchant transactions. NARAYANAN, Arvind. Bitcoin adn criptocurrency technologies: a comprehensive introduction. Princeton: Princeton University Press, 2016, p. 17.

6 Refere aos sistemas que trabalham como uma organização coletiva, permitindo que cada indivíduo

interaja diretamente com outros. Disponível em < https://bitcoin.org/pt_BR/vocabulario#assinatura> Acesso em 5 out 2018.

7 What is needed is an electronic payment system based on cryptographic proof instead of trust, allowing

any two willing parties to transact directly with each other without the need for a trusted third party. Transactions that are computationally impractical to reverse would protect sellers from fraud, and routine escrow mechanisms could easily be implemented to protect buyers. Bitcoin: A peer-to-peer eletronic cash system. Satoshi Nakamoto, out 2008. Disponível em: <https://bitcoin.org/bitcoin.pdf> Acesso em 6 abr 2019.

8 ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. Instituto Ludwig von Misses Brasil, São Paulo,

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identificassem. Só em 2010 que ele diminuiu a manutenção do programa Bitcoin e parou de contatá-los.

Essa rede peer-to-peer é considerada descentralizada, de modo que possibilita a operação em um mercado eletrônico de largo alcance. Ela também desempenha a função fundamental de garantir a distribuição do blockchain (registro público de transações, um tipo de livro-razão) “a todos os usuários, assegurando que todos os nós da rede detenham uma cópia atual e fidedigna do histórico de transações do Bitcoin a todo instante” 9.

Sendo assim, em três de janeiro de 2009 nascia o Bitcoin, com a primeira transação de sua história, transmitida à rede por Nakamoto, registrada no bloco gênese e acompanhada da seguinte mensagem: “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on Brink of Second Bailout for Banks” (Jornal The Times, 03 janeiro de 2009: Chanceler à beira do segundo resgate aos bancos)10. Fernando Ulrich fez a seguinte análise quanto à mensagem:

A alusão à manchete do jornal britânico The Times daquele dia não é acidental. É, na verdade, um claro indicativo da visão crítica de Satoshi sobre o sistema bancário e a desordem financeira reinante. Nesse contexto, o projeto Bitcoin vinha a ser uma tentativa de resposta à instabilidade financeira causada por décadas de monopólio estatal da moeda e por um sistema bancário de reservas fracionárias.11

Ainda em 2009, o primeiro lote de Bitcoins foi minerado e em maio de 2010, na Flórida, houve a primeira transação realizada para a compra de uma pizza por 10.000 Bitcoins, na época o equivalente a 25 dólares. Já em julho de 2017, tal quantia equivalia a 21,8 milhões de dólares.

2.4 Características

A criptomoeda mais conhecida, o Bitcoin, possui como principais características a descentralização, a transparência das transações por meio do blockchain, o anonimato e a baixa incidência de taxas nas transações.

Quanto à descentralização, sabe-se que nenhum sistema é puramente centralizado ou descentralizado. No caso do Bitcoin, seu protocolo é descentralizado, mas seus serviços - como transações, a possível conversão em outras moedas e sua administração - podem ser centralizados e descentralizados em vários níveis. Conforme explica Narayanan:

9 ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. Instituto Ludwig von Misses Brasil, São Paulo,

2014, p. 45.

10 Tradução livre.

11 ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. Instituto Ludwig von Misses Brasil, São Paulo,

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Diferentes aspectos do Bitcoin recaem em diferentes pontos de centralização e descentralização. Primeiro, a rede peer-to-peer está perto de ser puramente descentralizada, já que qualquer um pode possuir um nó de Bitcoin, e o impedimento disso é muito baixo. Segundo, a mineração de Bitcoin é, também, tecnicamente aberta para qualquer um, porém isso requer um alto capital de custo. Com isso, a mineração possui um elevado grau de centralização ou concentração de poder. Terceiro, os nós dos Bitcoins realizam atualizações no software, o que influencia em como e quando as regras do sistema mudam.12 (Tradução livre)

Falar em descentralização no Bitcoin é falar que ele não opera de um único servidor ou computador central, ao contrário, ele é feito das versões que os usuários utilizam em seus computadores pessoais.

Para o funcionamento dessa criptomoeda, não há uma organização oficial que o opera; há, no entanto, um grupo não oficial de desenvolvedores que mantêm o código, consertando falhas e introduzindo novas características. Contudo, esse grupo não possui nenhuma responsabilidade com o Bitcoin, ou seja, não tem um padrão para realizar seu trabalho ou continuá-lo. Para Angela Walch, essa configuração cria um risco operacional para a moeda, sendo sua operação ameaçada pelo fato de que “não há nenhuma entidade ou pessoa que assuma a responsabilidade pelo desempenho do Bitcoin; ninguém está no comando; é impossível dizer quem é a voz do grupo e não há um grupo definido que inclua o Bitcoin ou seu gerenciamento”.13

Com essa descentralização da moeda virtual, dispensa-se a dependência de intermediário fiduciários (bancos), acabando-se com a necessidade de confiar em uma instituição. Por conta dessa característica, não é preciso confiar dados pessoais às instituições financeiras.

A segunda característica do Bitcoin é a tecnologia do blockchain, em que todas as transferências executadas por esse protocolo são públicas, ou seja, todos os usuários possuem acesso a todas as movimentações. Essa tecnologia é um caderno do evento cronologicamente

12 Different aspectis of Bitcoin fall on different points on the centralization/decentralization spectrum.

First, the peer-to-peer network is close to purely decentralized, since anybody can run a Bitcoin node, and the entry barrier is fairly low. Second, Bitcoin mining is thecnically also open to anyone, but ir requires a high capital cost. As a result, the Bitcoin mining ecosystem has a high degree of centralization or concentration of power. Third, Bitcoin nodes run updates to the software, wich has a bearing on how and when the rules of de system chance. NARAYANAN, Arvind. Bitcoin adn criptocurrency technologies: a comprehensive introduction. Princeton: Princeton University Press, 2016, p. 28.

13 There is no entity or person that assumes responsability for the performance of Bitcoin; no one is in

charge; it is impossible to tell who the voice of the group is; and there is no defined group thar comrises Bitcoin or its management. WALCH, ANGELA. The Bitcoin blockchain as a financial market infrastructure: a consideration of operational risck. 18 N.Y.U.J. Legis. & Pub. 2015, p. 870.

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distribuído e selado criptograficamente através da rede peer-to-peer ou, simplesmente, uma base de dados descentralizada.

Essa base de dados é mantida por uma rede de computadores que resolve complexos problemas matemáticos como parte da verificação de quaisquer mudanças realizadas no bloco. Cada nova modificação é gravada, fazendo referência à anterior. Conforme Antonopoulos,

o blockchain é frequentemente visualizado como uma pilha virtual, com blocos empilhados um no outro, e o primeiro bloco servindo como a fundação da pilha. A visualização dos blocos empilhados resulta no uso de termos como “altura” para se referir ao primeiro bloco da pilha e “top” ou “tip” para o mais recente bloco adicionado.14 (Tradução livre)

Como a criptomoeda é distribuída sem ter uma autoridade central que a controle, os usuários possuem e operam uma cópia idêntica com a rede ponto a ponto, cada computador agindo como um nó naquela rede. Com essa distribuição descentralizada, não há espaço para nenhum ponto de falha. O registro de um determinado bloco da blockchain só pode ser atualizado pelo consenso da maioria dos participantes do sistema, evitando, assim, a adulteração.

Outras particularidades que essa tecnologia possui são: a utilização de hash, timestamp e proof-of-work. A primeira delas, o hash, é um código de tamanho fixo que representa um resumo de um dado qualquer. Em termos técnicos, Pedro Franco explica que hash é

um algoritmo que obtém dados de comprimento arbitrário como uma entrada e gera uma cadeia de bits de comprimento fixo, denominada valor de hash. O valor de hash é sempre o mesmo para os mesmos dados de entrada. Uma função hash é um mapa do conjunto de dados de entrada para o conjunto de valores hash, com a particularidade de que pequenas diferenças na entrada produzem grande diferença no resultado.15 (Tradução livre)

Simplificando, ao enviar uma mensagem que passe por uma função, denominada função hash, ela será, então, transformada em um código, e este será o que se chama de hash. Caso seja realizada alguma modificação na mensagem inicial, por menor que possa ser, irá alterar todo o código gerado anteriormente.

14 The blockchain is often visualized as a vertical stack, whit blocks layered on top of each other and

the firts block serving as the foundation of the stack, The visualization of blocks stacked on top of each other results in the use of terms such as “height” to refer to the distance from the first block, and “top” ou “tip” to refer to the most recently added block. ANTONOPOULOS, Andreas M. Mastering Bitcoin. O’Relly Media, California, 2017, p. 195.

15 A hash function is na algorithm that takes data of arbitrary length as an input and outputs a bit-string

of fixed length, named the hash value. The hash value is always the same for the same input data. A hash function is a map form the set of input data to the set of hash values, with the particularity that small differences data produce large differences in the result. FRANCO, Pedro. Understanding Bitcoin: Cryptography Engineering and Economics. Wiley Finance Series, United Kingdom, 2015, p. 95-96.

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Já o timestamp é análogo a um carimbo físico constando a data e a hora da transação, como é observado em cartas no momento da postagem. Esse carimbo digital prova que certa informação existia em um determinado tempo. A função do timestamp é pegar um hash de um bloco para ser registrado e publicá-lo amplamente. A cada novo registro, mantém-se, também, o anterior, de modo a formar uma cadeia. Com cada registro adicionado reforçando o seu precedente, a possibilidade de alteração de um dado já inserido se torna muito difícil, deixando, dessa forma, o sistema mais seguro.

Tal aspecto possui vários usos, como, por exemplo, registrar que um contrato foi realizado entre duas partes, que uma transação em um site se materializou ou, o que acontece com a criptomoeda, que um grupo de transações no mundo digital ocorreu.

Agora, para que o timestamp possa ser implementado ao sistema peer-to-peer, é necessário que haja a última característica do blockchain: o proof-of-work. Este é um protocolo que tem como principal finalidade evitar ataques cibernéticos como spam. Surgiu como uma tentativa de reduzir os efeitos desses ataques utilizando as funções hash. Ou seja, para que um usuário possa realizar uma ação, ele deve ser capaz de provar que efetuou alguma tarefa. É uma garantia de que o usuário gastou tempo para gerar uma resposta que satisfaça os requisitos do avaliador.

A tarefa de encontrar tal resposta deve ser difícil e trabalhosa, porém não impossível. Um provedor de serviços pode apresentar um problema a qualquer um que solicite seus serviços e conceder acesso somente aos usuários que passarem pelo desafio. O sistema de prova de trabalho ou proof of work pode ser implementado por meio de dois protocolos explicados por Pedro Franco:

Desafio-resposta: esse protocolo assume uma comunicação contínua entre o cliente e o servidor. Primeiro o cliente solicita o serviço, depois o servidor escolhe uma prova de trabalho e desafia o cliente. Por fim, o servidor verifica que a prova de trabalho foi corretamente feita e garante ao cliente o acesso ao sistema. Esse é um modelo usado em captchas. A vantagem desse protocolo é que o servidor pode adaptar a dificuldade da prova de trabalho com as condições, como a carga do servidor. Solução-verificação: esse protocolo é assíncrono; solução e verificação podem ser feitas em diferentes momentos. A comunicação contínua entre o servidor e o cliente não é necessária. Primeiro o cliente cria o problema da prova de trabalho e o resolve; esse problema deve ser diferente a cada vez e escolhido por um algoritmo. Por exemplo, o cliente pode usar o resultado de uma função hash para gerá-lo. Então, o cliente envia

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a solução para o servidor, o qual verifica e procede de acordo.16 (Tradução

livre)

No caso específico do Bitcoin, é utilizado o protocolo de solução-verificação, com um modelo de inversão parcial do hash como prova de trabalho. Essa inversão parcial requer que o hash de um bloco de transações se encaixe em certo padrão (nesse caso, que os dados comecem com, pelo menos, certo número de zeros).

Com base nessas três particularidades da blockchain, chega-se à conclusão de que este não passa de um livro-razão público e compartilhado, que cria consenso e confiança na comunicação direta entre duas partes, sem a intervenção de terceiros, onde todas as transações ficam registradas e não podem ser modificadas.

A terceira característica do Bitcoin é o anonimato, cujo conceito ainda é controverso. Há uma discussão acerca de o Bitcoin ser ou não realmente anônimo. Para explicar essa discussão, é preciso, antes de tudo, entender a necessidade de uma assinatura digital, a qual é única e todos a reconhecem como válida. Tais assinaturas são conhecidas como chave pública e chave privada. Fernando Ulrich simplifica com o seguinte exemplo:

As transações são verificadas, e o gasto duplo é prevenido, por meio de um uso inteligente da criptografia de chave pública. Tal mecanismo exige que a cada usuário sejam atribuídas duas “chaves”, uma privada, que é mantida em segredo, como uma senha, e outra pública, que pode ser compartilhada com todos. Quando Maria decide transferir bitcoins ao João, ela cria uma mensagem, chamada de “transação”, que contém a chave pública do João, assinando com sua chave privada. Olhando a chave pública da Maria, qualquer um pode verificar que a transação foi de fato assinada com a sua chave privada, sendo, assim, uma troca autêntica, e que João é o novo proprietário dos fundos.17

Além disso, o significado de anônimo – “sem um nome” – resulta em duas interpretações possíveis: interagir sem utilizar o nome real ou interagir sem usar nome nenhum.

16 Challenge-Response: This protocol assumes na ongoing communication between the cliente and the

server. First the client requests the servisse, then the server chooses a proof-of-work and challenges the client. The client then has to solve the proof-of-work and send the response to the server. Finally the server verifies that the proof-of-work has been correctly done and then grants the cliente access to the servisse. This is the model used for example in CAPTCHAs. The advantage of this protocol is that the server can adapt the difficulty of the proof-of-work to the conditions, such as server load. Solution-Verification: This protocol is asynchronous: solution and verificantion can be done at different times. Ongong communication between the server and the client is not required. First, the client creates a proof-of-work problem and solves it: this problem should be different every time and chosen by na algorithm: for instance, the client could use de resulto f a hash function to generate ir. Then the client sends the solution to the server, who verifies it and proceeds accordingly. FRANCO, Pedro. Understanding Bitcoin: Cryptography Engineering and Economics. Wiley Finance Series, United Kingdom, 2015, p. 102-103.

17 ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. Instituto Ludwig von Misses Brasil, São Paulo,

(25)

Pela primeira interpretação, não é necessário o uso do nome real, mas sim de uma chave pública como identidade, tornando o Bitcoin anônimo. Por outro lado, pela segunda interpretação, o anonimato não existe, pois o endereço utilizado é um pseudônimo. Para Narayanan:

Bitcoin é pseudônimo, mas pseudônimo não é suficiente se seu objetivo é alcançar a privacidade. Lembre-se de que a cadeia de blocos é pública e qualquer pessoa pode pesquisar todas as transações de bitcoin que envolvem determinado endereço. Se alguém conseguir vincular seu endereço de bitcoin à sua identidade do mundo real, todas as suas transações – passado, presente e futuro – serão vinculadas à sua identidade.18 (Tradução livre)

Com isso, o anonimato é, na verdade, apenas um pseudônimo no Bitcoin, possível de ser vinculado a uma identidade no mundo real.

A quarta e última característica do Bitcoin, a qual atrai muitos usuários, é a incidência de baixas taxas de transação, pelo fato de não haver um terceiro intermediário, como os bancos. Essas taxas têm a função, segundo Antonopoulos, de “incentivar a inclusão ou mineração de uma transação no próximo bloco e também como um desincentivo contra o abuso do sistema, impondo um pequeno custo em cada transação”.19

Sendo assim, a cobrança de taxas de transação afeta a agilidade com que ela será inserida no blockchain, ou seja, quando há pagamento desse encargo, os responsáveis pela inserção da informação no bloco priorizam tal transação sobre as que não possuem o pagamento de taxas. Andreas Antonopoulos coloca ainda que:

Ao longo do tempo, a forma como as taxas de transação são calculadas e o efeito que elas têm na priorização das transações evoluiu. Inicialmente, as taxas eram fixas e constantes em toda a rede. Gradualmente, a estrutura de taxas abranda e pode ser influenciada pelas forças do mercado, com base na capacidade da rede e no volume de transações. Desde, pelo menos, o início de 2016, os limites de capacidade em bitcoins criaram concorrência entre as transações, resultando em taxas mais altas e efetivamente tornando as transações sem taxas uma coisa do passado. Transações com taxa zero ou com taxas muito baixas raramente são extraídas e, algumas vezes, nem mesmo serão programadas pela rede.20 (Tradução livre)

18 Bitcoin is pseudonymous, but pseudonymity is not enough if your goal is to achieve privacy. Recall

that the block chain is publi, and anyone can look up all bitcoin transactions that involved a given adress. If anyone were ever able to link your bitcoin adress to your real-world identity, then all your transaction – past, presente and future – will have been linked back to your identity. NARAYANAN, Arvind. Bitcoin adn criptocurrency technologies: a comprehensive introduction. Princeton: Princeton University Press, 2016, p. 139.

19 ANTONOPOULOS, Andreas M. Mastering Bitcoin. O’Relly Media, California, 2017, p. 127. 20 Over time, the way transactions fees are calculated and the efect they have on transaction prioritization

has evolved. At first, transactions fees were fixed and constant across the network. Graduall, the fee structure relaxed and may be influenced by Market forces, based on network capacity and transaction volume. Since at least the beginning of 2016, capacity limits in bitcoin have created competition between transactions, resulting in higher fees and effectively making free transactions a thing of the past. Zero fee or very low fee transactions rarely get

(26)

Portanto, a partir das quatro características apresentadas, é possível verificar o motivo de o bitcoin ter expandido: a busca por anonimato, facilidade, confiança e baixo custo de manutenção atrai desde os pequenos até os maiores investidores.

2.5 Expansão das criptomoedas

Ao se falar da expansão das criptomoedas, é preciso voltar para o ano de 2008 e analisar alguns pontos da crise econômica que se alastrava. Seu início deu-se com a quebra do banco Lehman Brothers, no final do ano de 2008, sendo considerada a maior falência da história dos Estados Unidos.

A partir do momento da quebra desse banco, os Bancos Centrais passaram a atuar com mais discricionariedade e arbitrariedade. Medidas extraordinárias foram tomadas por eles e os governos deram “carta branca” para regularem o sistema da forma que considerassem melhor. Tais medidas extraordinárias afetaram os cidadãos, tanto que a perda da privacidade financeira, principalmente nos Estados Unidos, foi justificada pela ameaça de financiamento ao terrorismo. A dificuldade de proteção e movimentação dos ativos da população se encontrou cada vez maior. A partir disso, teve-se perda da privacidade financeira por todos os setores da economia, observando-se “autoridades monetárias centralizadas e opressivas que abusam do dinheiro isentas de qualquer responsabilidade; e bancos cúmplices e coadjuvantes do desvario monetário”.21

Entretanto, se de um lado havia esse cenário, de outro era possível perceber o lançamento da pedra fundamental da criptomoeda. Conforme explicado anteriormente, foi em setembro de 2008 que Satoshi Nakamoto publicava seu paper “Bitcoin: A peer-to-peer eletronic cash system”. Fica explícito que os motivos que impulsionaram sua criação foram a crescente perda da privacidade financeira, uma grande intervenção estatal e um sistema financeiro instável.

No período de 2011 a 2012, o Bitcoin foi utilizado para financiar o site “Wikileaks”, que tem por objetivo principal divulgar documentos sigilosos de vários governos, principalmente dos EUA22. Todavia, foi a partir de 2013 que esse tipo de moeda virtual ganhou

mined and sometimes will not even be propagate across the network. ANTONOPOULOS, Andreas M. Mastering Bitcoin. O’Relly Media, California, 2017, p. 127

21 ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. Instituto Ludwig von Misses Brasil, São Paulo,

2014, p. 41.

22 ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção e SILVA, Priscilla Menezes da. Exequibilidade da

penhora de criptomoedas no processo de execução brasileiro. Revista de Processo, Jurisdição e Efetividade da Justiça, 2018. Disponível em: <https://www.indexlaw.org/index.php/revistaprocessojurisdicao/article/view/4234> Acesso em 21 jan 2019.

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notoriedade. Quando o governo do Chipre, por conta da crise econômica que se alastrava no país, deu sinais de que a realização de confisco de poupanças e investimentos era iminente, muitos cidadãos recorreram ao Bitcoin como forma de proteger suas finanças.

Desde então, as transações efetuadas com bitcoins começaram a aumentar, essencialmente por conta de suas características (explanadas na seção anterior), que trouxeram vantagens sobre o sistema financeiro tradicional. Tais características vêm acompanhadas de um aspecto delicado: por não haver controle governamental nem leis específicas sobre as criptomoedas, elas possuem grande volatilidade no seu valor, o qual é determinado com base na oferta e demanda.

Para Ulrich, o Bitcoin é uma forma de a humanidade reaver a liberdade sobre suas próprias finanças:

O Bitcoin dispensa a dependência de intermediários fiduciários que historicamente violaram os direitos de seus clientes. Ele impede a tirania monetária, tornando-a praticamente impossível. Para qualquer defensor da liberdade, é um feito louvável; para cidadãos de regimes autoritários, é uma necessidade imprescindível. Em definitivo, qualquer nação com histórico recorrente de agressões contra a moeda será muito beneficiada pelo uso do Bitcoin. [...] O Bitcoin nasce, assim, como uma alternativa necessária, porque quando as Constituições e a separação dos poderes são incapazes de assegurar uma moeda inviolável, a tecnologia se encarrega de fazê-lo. A separação do estado e da moeda será uma questão tecnológica, não política.23

Paralelamente, Klaus Schwab, em seu livro “A quarta revolução industrial”, ressalta que a inovação chamada blockchain, a qual hoje registra apenas transações financeiras, futuramente servirá para registrar diversas situações, como nascimentos e óbitos, títulos de propriedade, certidões de casamento, diplomas escolares, pedidos às seguradoras, procedimentos médicos e votos.24

Diante de tudo isso, ao se considerar que hoje já existem países que estão aceitando as moedas virtuais como meio de pagamento legal, como o Japão, Estados Unidos, Suíça e Luxemburgo, pode-se esperar que o futuro não só do Bitcoin, mas de todas as criptomoedas, seja promissor. Elas trarão diversos benefícios e poderão ser utilizadas para diversas funções, como, por exemplo, o adimplemento de execuções.

23 ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. Instituto Ludwig von Misses Brasil, São Paulo,

2014, p. 106.

(28)

3 A EXECUÇÃO

Para que se possa chegar à possibilidade do adimplemento de execução com criptomoedas, é preciso voltar no tempo e compreender toda a evolução do processo executório, seus princípios, seus requisitos e seu procedimento.

3.1 Histórico do processo de execução

Nos primórdios do direito romano, berço do direito brasileiro, nem sequer havia um processo de execução estatal. O vencedor fazia valer a decisão por seus próprios meios, utilizando-se, inclusive, da força. E o devedor ficava, então, à mercê do credor.

A partir do momento em que o Estado se consolidava, a execução forçada foi, aos poucos, se tornando uma execução patrimonial e recaindo somente no necessário à satisfação do débito. Para conseguir esse adimplemento, era preciso, primeiro, passar por um acertamento do direito do credor por meio da sentença, o que, entretanto, não garantia a satisfação desta. Conforme Humberto Theodoro Jr., era crucial o exercício de uma nova ação:

O exercício do direito de ação fazia-se, primeiramente, perante o praetor (agente detentor do imperium), e prosseguia em face do iudex (um jurista, a quem o praetor delegava o julgamento da controvérsia – iudicium). A sententia do iudex dava solução definitiva ao litígio (res iudicata), mas seu prolator não dispunha de poder suficiente para dar-lhe execução. 25

No período arcaico, quando a justiça privada ainda prevalecia, a principal ação executiva era per manus iniectio, a saber, o procedimento que seguia a ação de conhecimento, em que o credor poderia se apossar da pessoa do devedor e até mesmo praticar atos de violência física contra ele. Contudo, o uso dessa ação

só era possível em caso de dívida líquida, de natureza pecuniária, quando o devedor for sujeito de uma sentença condenatória ou confessado em juízo o débito e depois de decorrido o tempus judicati, que era um prazo de trinta dias concedido ao devedor para satisfazer o débito espontaneamente.26

Decorrido esse prazo, o devedor era conduzido até o magistrado para ser entregue ao credor. Nesse ponto encerrava-se a intervenção estatal, passando a execução para atos pessoais e exclusivos do credor. A defesa contra esses atos era possível somente de duas formas: na primeira delas, um terceiro poderia se apresentar como fiador, mas, se vencido fosse, assumiria

25 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. III. Forense, Rio de Janeiro,

2018, p. 7.

26 LIMA, Walber Cunha. Evolução Histórica de Execução Civil. Revista da FARN, Natal-RN, 2008,

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pessoalmente o dobro da soma executada. Ou então o devedor poderia ser preso pelo credor, podendo permanecer retido por 60 dias, sendo levado aos lugares com o credor na intenção de tornar pública a sua prisão e noticiar o valor da dívida.

Caso o endividado não conseguisse efetuar o pagamento, poderia ser levado para além do rio Tibre para ser vendido como escravo, ou até mesmo ter seu corpo separado em tantas partes quantos fossem os credores - isso tudo conforme a Lei das XII Tábuas.

Todas essas maneiras de reter o devedor e a iminência de sua morte tinham por finalidade a pressão psicológica em sua família para que a dívida fosse paga de forma voluntária, em resguardo de um bem maior – a vida –, uma vez que o credor só poderia se apossar do patrimônio do devedor em caso de morte.

Já a segunda forma de defesa do devedor era pagar a dívida com trabalhos forçados e com a promessa de ter bens para responder por seu débito. Foi no momento em que essa hipótese foi aceita que se iniciou a predominância da execução patrimonial.

Com a queda do Império Romano, o Direito Germânico promoveu uma considerável regressão no processo de execução. Para ele, o inadimplemento de uma obrigação era uma ofensa ao credor; sendo assim, eram dados autorização e poder para aplicar a força na busca do seu direito. Theodoro Jr. explica que esse domínio pelos povos germânicos causou um grande choque cultural:

[...] Os novos dominantes praticavam hábitos bárbaros nas praxes judiciárias: a execução era privada, realizada pelas próprias forças do credor sobre o patrimônio do devedor, sem depender do prévio beneplácito judicial. Ao devedor é que, discordando dos atos executivos provados do credor, caberia recorrer ao Poder Público para formular sua impugnação. Dava-se, portanto, uma total inversão em face das tradições civilizadas dos romanos: primeiro se executava, para depois discutir-se em juízo o direito das partes.27

Já na era medieval, o processo de execução tinha como característica ser um mero prosseguimento da atividade do juiz do processo de conhecimento, não sendo necessária a proposição de uma nova ação. Além disso, havia diferenciação entre o processo de conhecimento e o de execução forçada.

Essa forma de processo único vigorou até os primórdios da Idade Moderna. Com a expansão comercial, os títulos de crédito foram criados e, dessa forma, era preciso uma tutela judicial mais eficiente que a do processo comum de conhecimento. Foi então restaurada a actio

27 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. III. Forense, Rio de Janeiro,

(30)

iudicati, pela qual era permitida a atividade judicial que dispensava a sentença do processo de cognição. Para isso, foi dada ao título de crédito a mesma força de uma sentença.

Diante disso, tinha-se duas formas executivas: por meio de título de crédito e por meio de sentença. Foi somente no início do século XIX, com o Código de Napoleão, que surgiu a ideia da unificação em uma só ação executiva. Contudo, houve novo retrocesso, pois a parte voltou a ser submetida à obrigação de propor duas ações para conseguir alcançar o único objetivo de fazer o devedor cumprir a obrigação do título de crédito.

No direito brasileiro, o Código de Processo Civil de 1939 adotou a unificação do processo de execução, eliminando a audiência e a sentença. Já no segundo Código de Processo Civil, do ano de 1973, o processo de execução era separado do processo de conhecimento. Porém, no final do século XX e início do século XXI, a codificação recebeu modificações de grande importância com a finalidade de abolir a ação autônoma de execução de sentença.

Uma das modificações realizadas deu-se no artigo 273 do Código de Processo Civil28

pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994, a qual tornou possível a obtenção imediata de medidas executivas ainda dentro do processo de conhecimento e antes da sentença definitiva.29 Essa

mudança desestabilizou a autonomia do procedimento do processo de conhecimento e do processo de execução. Segundo Humerto Theodoro Jr.:

Em vez de uma ação puramente declaratória (que era, na verdade, a velha ação condenatória), passou-se a contar com uma ação interdital, nos moldes daqueles expedientes de que o pretor romano lançava mão, nos casos graves e urgentes, para decretar, de imediato, uma composição provisória da situação litigiosa, sem aguardar o pronunciamento (sententia) do iudex.30

Outra grande alteração foi realizada no artigo 461 do Código de 1973 pela Lei nº 8.952/94, em que a sentença de um cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer deveria

28 Art. 273, CPC/73 – O procedimento especial e o procedimento sumaríssimo regem-se pelas

disposições que lhes são próprias, aplicando-se lhes, subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento ordinário.

29 Art. 273, CPC/73 (modificado pela Lei nº 8.952/1994) – O juiz poderá, a requerimento da parte,

antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:

I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. § 1º - Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento. § 2º - Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.

§ 3º - A execução da tutela antecipada observará, no que couber o disposto nos incisos II e III do art. 588. § 4º - A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 5º - Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julgamento.

30 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. III. Forense, Rio de Janeiro,

(31)

conceder à parte tutela específica e, sendo procedente o pedido, o juiz determinaria providências que garantissem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Por fim, com a Lei nº 11.232/2005, o Código de Processo Civil passou a prever duas vias de execução forçada singular: o cumprimento forçado das sentenças condenatórias e de outras às quais a lei atribui igual força (arts. 475-I e 475-N, CPC/1973), e o processo de execução dos títulos extrajudiciais do art. 585, que estava no Livro II do CPC/73.

Para Humberto Theodoro Jr., no direito processual brasileiro atual o cumprimento de sentença e o processo de execução são realidades distintas e inconfundíveis:

Embora o juiz utilize atos e procedimentos do processo de execução para fazer cumprir a sentença condenatória, isto se passa sem a instauração de uma nova relação processual, ou seja, sem a relação própria do processo de execução. Em lugar de receber uma citação para responder por um novo processo, o devedor recebe um mandado para realizar a prestação constante da condenação, sujeitando-se imediatamente à inovação em sua esfera patrimonial, caso não efetive o cumprimento do mandamento sentencial.31

Atualmente, no Código de Processo Civil de 2015, o processo de execução forçada se no Livro III da Parte Especial. Já o processo de cumprimento de sentença encontra-se no Livro I da Parte Especial, embora sua principal distinção encontra-seja a necessidade de um título executivo extrajudicial para aquele e um título executivo judicial para este.

3.2 Conceito, pressupostos e princípios do processo de execução 3.2.1 Conceito

Conforme visto, tem-se no Código de Processo Civil de 2015 duas formas de execução: o cumprimento de sentença e a execução propriamente dita, sendo que a principal diferença entre eles é que para o primeiro ocorrer não é necessária a propositura de uma nova ação, enquanto na segunda é preciso.

A expressão “cumprimento de sentença” é considerada genérica, pois o artigo 515 do CPC/2015, onde são enumerados os títulos judiciais suscetíveis a tal providência, não arrola somente as sentenças em sentido estrito. São previstas também as decisões interlocutórias que reconheçam a exigibilidade da obrigação, as quais podem exercer a mesma função de uma sentença.

31 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. III. Forense, Rio de Janeiro,

(32)

Já a execução propriamente dita é um processo novo, com base em títulos extrajudiciais, em que a obrigação constante deverá ser sempre líquida, certa e exigível. Aqui, para chegar à satisfação do direito do credor titular da ação, é necessário um prévio acertamento em sentença.

3.2.2 Pressupostos

O processo de execução realiza pretensões de direito material elaborado pelo credor em desfavor do devedor. A prática da execução forçada é exclusiva do Estado; ao credor cabe somente a possibilidade de requerer ou não a atuação estatal. Com isso, a execução é uma ação e o seu uso é subordinado aos pressupostos e às condições da ação, tal qual no processo de conhecimento. Para Humberto Theodoro Jr., pressupostos processuais são:

aquelas exigências legais sem cujo atendimento o processo, como relação jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve validamente. E, em consequência, não atinge a sentença que deveria apreciar o mérito da causa. São, em suma, requisitos jurídicos para a validade da relação processual. São, pois, requisitos de validade do processo.32

Dessa forma, a relação processual deve ser válida desde o seu estabelecimento até o provimento executivo final. Tais pressupostos podem ser classificados como de existência (ou validade) e de desenvolvimento, que são aqueles que possam ser atendidos durante o processo. Outros pressupostos são: a competência do juiz para a causa, a capacidade civil das partes e a sua representação por advogado.

Quanto às condições da ação, estas servem para que o processo tenha seu curso legal mantido até solução final da lide. São consideradas condições da ação a legitimidade das partes e o interesse de agir.

Para o processo de execução forçada, tais condições são mantidas. Contudo, a conferência delas se torna mais fácil, porque a lei só admite o processo de execução quando o credor possuir um título executivo e a obrigação nele contida seja exigível.

Dessa forma, são pressupostos ou condições específicos da execução forçada: o formal, que é a existência de um título executivo, do qual se extrai a liquidez e a certeza da dívida; e o prático, que consiste no inadimplemento da obrigação, comprovando-se a exigibilidade da dívida.

32 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. I. Forense, Rio de Janeiro,

(33)

3.2.3 Princípios

Os princípios não têm a mesma importância em todos os processos, nem são aplicados de modo rígido e linear. Os princípios de maior relevância para o processo de execução e o cumprimento de sentença são: da autonomia, do título, da responsabilidade patrimonial, do resultado, da disponibilidade, da especificidade e do ônus da execução.

Ainda que admitida a execução no mesmo processo, como são os casos do artigo 515 do Código de Processo Civil de 201533, em que desaparece a necessidade da instauração de um

novo processo e simultaneamente a necessidade de autonomia, subsiste a autonomia funcional, mesmo que os atos coercitivos do direito reconhecido no provimento sejam distintos dos atos que foram utilizados no processo de conhecimento. Já perante os casos do artigo 784 do Código de Processo Civil de 201534, tem-se a necessidade da instauração de um processo novo e, por

isso, a autonomia está presente.

33Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos

neste Título:

I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;

II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;

IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;

V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial;

VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença arbitral;

VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;

X - (VETADO).

§ 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.

34 Art. 784 - São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;

IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;

V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução;

VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

(34)

A pretensão de executar sempre terá base em um título executivo, seja ele judicial (art. 515, CPC/15) ou extrajudicial (art. 784, CPC/15). O artigo 783 do CPC/2015 coloca que “a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.” 35 Ademais, se não houver título, há nulidade da ação (artigo 803, I do CPC/2015).36.

Por conta disso, o credor, ao dar ingresso ao processo de execução, é obrigado a invocar e exibir título executivo, sob pena de inépcia da inicial.

De mais a mais, quando é afirmado que toda execução é real, tem-se por objetivo afirmar que, no direito processual civil, a atividade jurisdicional executiva incide, direta e exclusivamente, sobre o patrimônio, e não sobre o devedor. Este deve responder com todos os seus bens presentes ou futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei, conforme o artigo 789 do Código de Processo Civil de 2015 37, sendo que, em tal artigo, é assentado o princípio da

responsabilidade patrimonial do executado.

Entretanto, quando o meio executório implica o emprego da coerção pessoal, como será visto a seguir, o caráter patrimonial da execução, apesar de passar a impressão de desaparecimento, apenas abranda-se, de modo que a coerção pessoal se torna uma pressão psicológica que recai sobre o patrimônio.

O princípio do resultado ou da satisfatividade abrange a ideia, segundo Humberto Theodoro Jr., de que toda execução pretende apenas a satisfação do direito do credor correspondente à limitação que é imposta à atividade jurisdicional executiva. A incidência sobre o patrimônio do devedor há de se fazer, em princípio, parcialmente, não atingindo todos os seus bens, mas apenas aqueles necessários para a satisfação da obrigação.

Além disso, uma execução é bem sucedida quando é entregue ao exequente o bem da vida, o objeto da prestação inadimplida, ou é obtido o direito reconhecido no título executivo.

X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;

XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;

XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

§ 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.

§ 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação para serem executados.

§ 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação.

35 Código de Processo Civil de 2015. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso em 08 mai 2019.

36 Art. 803 do CPC/2015 – É nula a execução se: I – o título executivo extrajudicial não corresponder a

obrigação certa, líquida e exigível.

37 Art. 789 do CPC/2015 – O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o

(35)

O Código de Processo Civil de 2015, em seu artigo 899 38, prevê a interrupção da alienação no

momento em que o montante da venda dos bens penhorados satisfizer o crédito, ou seja, o princípio do resultado ou satisfatividade implica a alienação, apenas, dos bens necessários para o adimplemento da obrigação.

Ao se fundar o processo de execução no princípio do resultado, da satisfação plena do credor, admite-se a este a livre disponibilidade do processo de execução. Isto é, ele não se acha obrigado a executar seu título, nem se encontra jungido ao dever de prosseguir na execução forçada a que deu início, até as últimas consequências.39 A atividade jurisdicional aqui é

exercida totalmente em favor do atendimento de um direito que já foi reconhecido no título executivo.

Dessa forma, no processo de execução, o Código de Processo Civil de 2015 instituiu em seu artigo 775 40 o direito de o exequente desistir de toda a execução ou de alguma medida

executiva. Tal desistência é semelhante à desistência da ação, no procedimento comum, mas exibe algumas características como, por exemplo, o fato de a anuência ou a resistência do executado ser irrelevante para que ocorra a desistência.

Já o princípio da especificidade afirma que a execução deve ser específica, ou seja, ao credor, na medida do possível, deve ser entregue o que se obteria caso a obrigação fosse cumprida pessoalmente pelo devedor. No entanto, é permitida a substituição da prestação por perdas e danos quando a entrega da coisa devida é impossibilitada ou de recusa da prestação de fato. A especificidade deve ser tamanha que, para Theodoro Jr.:

Nas sentenças que condenam ao cumprimento de obrigações de entrega de coisa e de fazer ou não fazer, a lei determina ao juiz que seja concedida, sempre que possível, a tutela específica. Na hipótese de obrigações de fazer ou não fazer, a sentença, portanto, há de determinar providências concretas para assegurar o resultado prático equivalente ao do adimplemento (art. 497, caput); e no caso de obrigações de dar, a recomendação será de expedição, em favor do credor, de mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se trate de entrega de coisa móvel ou imóvel (art. 806, §2º). A conversão em perdas e danos somente se dará quando requerida pelo próprio credor, ou quando se tornar impossível a tutela específica (art. 499).41

38 Art. 899 do CPC/2015 – Será suspensa a arrematação logo que o produto da alienação dos bens for

suficiente para o pagamento do credor e satisfação das despesas da execução.

39 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. I. Forense, Rio de Janeiro,

2017, p. 241.

40 Art. 775 do CPC/2015 – O exequente tem o direito de desistir de toda execução ou de apenas alguma

medida executiva.

41 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. I. Forense, Rio de Janeiro,

Referências

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