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Abrindo Portas... Realizando Sonhos...

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Academic year: 2021

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ABRINDO PORTAS...REALIZANDO SONHOS!!! 1

Profa.Dra. Vilma Lení Nista-Piccolo

Em pouco mais de 50 anos consegui fazer muitas coisas, conhecer muitas pessoas, envolver-me em diversos projetos, construir muitas amizades, mas, principalmente, realizar a maioria dos meus sonhos. Memorizar todas as nossas obras, bem sucedidas ou não, não é tarefa fácil, e, para mim, ainda mais difícil porque foram várias. Talvez não consiga ser tão fiel a ponto de me lembrar de toda a trajetória vivida, mas estou certa de que tudo o que aqui for desvelado é porque teve alto significado para mim, para minha vida, porque ficou registrado. Aprendi com a vida que só registramos o que tem significado para nós.

Não gostaria de escrever um texto com relatos do que vivi, ou mesmo sobre emoções que senti...queria que esse memorial pudesse alçar voos mais altos, conseguindo que o leitor aproveitasse das minhas histórias para seu crescimento. Queria que as palavras pudessem encontrar significados em sua aprendizagem, que os leitores percebessem qual o sentido das experiências por mim vividas. Por isso, pensei em não contar a história cronológica de acontecimentos da minha vida, mas sim, narrar algumas fases, momentos selecionados por alguma razão pela minha mente. E, a essas etapas, fui atribuindo um título, sem que necessariamente elas tivessem acontecido na ordem de sua apresentação.

Se minhas frases ficarem sem sentido algum, espero que, ao menos, elas possam tocar o coração do leitor com meus depoimentos sobre os momentos vividos intensamente. Momentos de pura paixão. A paixão de ensinar, a paixão de ser mãe, a paixão de ser Mulher!

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SER MULHER!!! PARA ser mulher atualmente é preciso dar conta das

exigências que já existiam antigamente somadas àquelas que foram incorporadas pela sociedade.

Não sou do tempo em que as mulheres precisavam trabalhar como voluntárias em Universidades se quisessem participar de pesquisas, tendo que se esconder atrás de móveis para assistirem conferências científicas. Isto se dava porque a ciência era considerada uma atividade árdua, caracterizada pelo rigor e pela lógica do pensamento, completamente opostos do que se esperava das mulheres. Elas enfrentavam enormes obstáculos porque além de serem legalmente barradas nas Universidades eram também rejeitadas, já que as escolas secundárias as preparavam para a vida em sociedade. Aquelas que chegaram às Universidades dificilmente encontraram ali apoio para desenvolver pesquisas e nem mesmo para dar início a uma carreira acadêmica. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas Universidades permitiam a entrada das mulheres como alunas, mas nunca as contratavam como pesquisadoras. Segundo McGrayne2 (1995; 14) “até as cientistas mais bem sucedidas foram expostas ao ridículo e à hostilidade”. E, diante de tantos obstáculos, certamente o que estimulava muitas mulheres a lutar pelo triunfo sem desistir, era a paixão que sentiam pela ciência. Elas vibravam com suas descobertas científicas de alto valor para toda a sociedade, pois sempre em seus discursos revelavam termos como “o prazer, a alegria e a satisfação”, demonstrando em suas vidas real determinação pelo que faziam. Acho que esse é o segredo de se obter sucesso nas coisas que fazemos: estar apaixonada pelo que se faz a ponto de se sentir realizada com a produção

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McGrayne, S.B. Mulheres que ganharam o Prêmio Nobel em Ciências- suas vidas, lutas e notáveis descobertas. Ed. Marco Zero, São Paulo, 1994.

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gerada. Por outro lado, ser assim também traz consequências negativas, principalmente quando, paralelamente, a mulher faz opção pelo casamento e pela maternidade. Há sempre perdas e ganhos. Constantemente, ela se depara com uma situação em que precisa dividir seu tempo entre a dedicação às pesquisas e à família. Há necessidade de buscar um equilíbrio em suas atividades de docente, de pesquisadora, de esposa e de mãe, para que nenhum lado saia perdendo.

É assim que analiso minha trajetória de vida. Foi assim que construí minha vida profissional. Absolutamente determinada e especialmente apaixonada pelo que faço. Caminhei buscando a excelência em tudo que fazia, tentando galgar a melhor produção de que sou capaz.

Como educadora nata e mãe por puro desejo, busquei educar meus três filhos dentro dos princípios educacionais que acredito, seguindo as teorias do desenvolvimento humano que eu estudava. Sempre participando intensamente da vida deles, procurava não descuidar do seu crescimento motor, afetivo e cognitivo, pautando-me em teorias que aos poucos eu descobria, em meus estudos de pós-graduação.

MINHAS EXPERIÊNCIAS...COMO MULHER...,COMO PROFESSORA...

Mas será que foi por acaso que nasci mulher? Ou estava pré-destinado? A única certeza é que aos poucos, em minha vida, foram sendo revelados aspectos positivos e negativos desse destino: ser mulher!!!

Ainda criança admirava os meninos jogando bola no meio da rua...queria participar daquelas brincadeiras, mas tinha que me contentar com poucas situações de jogos de queimada. O maior problema é que não era permitido, ao menos a mim, entregar-se na atividade, pois era preciso ter cuidado para

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não se machucar porque, segundo nossos pais, menina não podia ter joelhos marcados por ferimentos.

Lembro-me de que, certa vez, ainda bem pequena, fui assistir uma apresentação de atividades circenses e enquanto as crianças adoravam os palhaços, eu ficava enfeitiçada com o trapézio. Aquilo se mostrava para mim como uma dança de corpos no ar. Assistir aos malabarismos corporais desafiando a gravidade era simplesmente encantador, motivo de estímulo aos meus sonhos. Queria saber fazer as piruetas mais difíceis, aquelas que deixavam todos boquiabertos. Estava definida a ser acrobata, era isso que eu queria fazer na minha vida.

Já na adolescência descobria o prazer de ser mulher, pois conseguia encantar os meninos com um simples charme no andar. A sensualidade expressada em nossos gestos, em nossos movimentos corporais, permitia que fôssemos admiradas pelo sexo masculino. Embora a possibilidade de se mostrar forte, ágil, com destreza nas habilidades esportivas era o que mais se aproximava dos meus anseios, devo confessar que sentia muita satisfação ao perceber que movimentos delicados, ou ainda, uma roupa mais ousada podiam deixar os meninos enlouquecidos. Era um poder inigualável.

Com o passar do tempo minhas experiências vividas mostravam-me mais vantagens do que desvantagens em ser mulher, embora a vontade de jogar bola com os meninos fosse constante. Na verdade, a vontade era de fazer gols, de converter bolas na cesta, de saltar e arremessar tão forte como os meninos.

Minha trajetória como mulher se desenhava num caminhar profissional ligado às questões do corpo. Havia em mim uma forte tendência em querer compreender melhor como se realizavam as acrobacias e como era possível

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ensiná-las. Isso começou porque, equivocadamente, fui parar numa aula de “ginástica de solo” no colégio em que acabava de entrar, e ali, casualmente, descobri que conseguia fazer, até com certa facilidade, aqueles movimentos ginásticos e acrobáticos a ponto de ser convidada a participar da equipe de treinamento da escola. Foram os meus primeiros contatos com o fator competição. Tudo que se mostrava desafiante me motivava ainda mais a fazer melhor. E foi ali, também, que descobri uma facilidade em ensinar para as ginastas mais novas tudo o que já tinha aprendido. O ato de querer ensinar impregnava-se em mim. E foi assim minha iniciação com a pedagogia, a técnica e a arte de aprender e de ensinar, que permite ao ser humano transformar e transformar-se! De tanto ser aprendiz desses movimentos mágicos tornava-me aos poucos “ensinadora”, profissão que atualtornava-mente se chama professor. A experiência de poder ensinar se ampliava com a possibilidade de atuar em diferentes contextos, com diversas idades. Eu sentia enorme prazer quando conseguia fazer uma criança realizar uma acrobacia. Buscava transmitir uma aprendizagem pautada na satisfação que a prática daquela atividade propiciava. O caráter motivador da ginástica interpretado nos desafios que suas acrobacias permitem, revelava-se, para mim, como instrumentos de ação pedagógica. E a cada dia surgiam mais encontros com a superação de limites, com o fato de derrubar barreiras do medo das crianças, de descobertas de grandes potenciais cinestésicos.

Ensinar passou a ser minha grande meta! Queria formar novas ginastas, executando uma trajetória perfeita, sem falhas...como se isso fosse possível! Aos poucos fui percebendo que eu gostava de fazer isso: ensinar!!!

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CURSAR EDUCAÇÃO FÍSICA... não era bem o que eu havia definido como

profissão. Quando chegou o momento de decidir qual curso ingressar eu estava dividida, pois além de ensinar outras pessoas a fazerem ginástica, meu sonho era ser psicóloga. Queria investigar os aspectos emocionais que perpassam a vida das pessoas a fim de auxiliá-los a compreender o significado disso. Lembro-me que alguns professores de Educação Física (EF) do ensino médio foram em minha casa para dizer aos meus pais que eu deveria ser professora de Educação Física, porque, segundo eles, eu tinha o dom de ensinar. Talvez isso fosse verdade já que passei muitas vezes pela função de ensinar meus colegas, explicando aquilo que eles não tinham conseguido entender das aulas que compartilhávamos. Praticamente não tive escolha, pois meu pai compreendeu plenamente o que os professores lhe diziam e me incentivou a seguir esse caminho. Que bom que eu não tive escolha!!! Optei pela Educação Física.

Estudar as questões psicológicas ficou para depois....e se concretizou no doutoramento, quando pude associar minhas pesquisas à área da psicologia educacional.

Na faculdade, fui monitora da disciplina de ginástica logo de início. É estranho quando os professores acham que você tem muito a ensinar quando ainda quer e precisa aprender. Eu auxiliava a professora nas aulas dessa modalidade até mesmo para as turmas mais adiantadas. Além disso, fui escolhida pela direção da faculdade para ser a primeira monitora de aulas de EF para os estudantes de outros cursos. Era o início da obrigatoriedade da prática de EF no ensino superior. Dessa forma, passava o dia na faculdade ministrando aulas de ginástica para universitários.

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Minha graduação serviu mais para eu ser conhecida como ginasta e professora dessa modalidade do que propriamente um espaço de aprendizagem para mim. Buscava em cursos nacionais, e até em outros países, aprender mais sobre esse esporte que só me abria portas. Foram muitas as propostas de emprego que surgiam em função de ser especialista em ginástica. Em todas as oportunidades de emprego - escola privada, escola pública, clube, academia e SESI - eu ensinava ginástica.

UMA SEGUNDA GRADUAÇÃO...foi uma opção porque eu queria aprender

mais. Tinha fome e sede do conhecimento. Queria entender melhor o movimento humano, em todas as suas dimensões. O professor de cinesiologia me disse que eu deveria cursar Fisioterapia. Empolgada com a nova profissão que nascia naquela época, não tive dúvida...ingressei numa segunda graduação. Tudo que nesse curso aprendi foi extremamente significativo para meus conhecimentos, mas ao estagiar nessa área percebi que a linha limítrofe que separa a EF da Fisioterapia é tênue. Mas, a mim estava claro que enquanto uma atua com a saúde a outra se debruça em procedimentos sobre as doenças. Atualmente não podemos mais dizer isso, pois a EF tem mergulhado também na praia das doenças crônico-degenerativas, buscando interpretar como a atividade física pode auxiliar os portadores dessas síndromes. Naquela época a EF tratava exclusivamente de pessoas saudáveis. Quanto a mim...a decisão estava tomada, preferia continuar atuando com meus atletas do que repetir exercícios para tratamento de determinadas patologias.

SER UMA TÉCNICA ESPORTIVA...aconteceu antes mesmo de me graduar

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num clube. Comecei com 2 crianças, sendo que uma delas era minha prima, mas logo chegaram suas coleguinhas, e outras...e mais outras...e muitas outras!! Em dois anos já era técnica de ginástica artística (conhecida naquela época como ginástica olímpica) sem nenhum contrato firmado com o clube porque meu pai era o presidente, e, portanto, não achava certo me contratar. Mesmo não sendo contratada (isso quer dizer que não recebia nenhum pró-labore pelo trabalho), dedicava-me com muito afinco para que as minhas ginastas se tornassem as melhores. E, em dois anos, quando terminou a gestão de meu pai na presidência, fiz uma apresentação das minhas ginastas para a nova diretoria, a fim de mostrar-lhes meu trabalho para que analisassem a possibilidade de continuarmos com a proposta de ensinar ginástica no clube. Após aprovação, levei minha equipe para uma primeira participação em campeonato, e foi ali que ganhamos o primeiro título estadual para o clube. Primeira competição, primeiro título. Voltei desse campeonato com a certeza que estava no caminho correto. Meu trabalho estava dando certo. Em mais um ano de trabalho no clube já tínhamos cerca de 300 ginastas compondo um departamento que nasceu pela alta demanda que acontecia naquela época. Éramos o único clube em Campinas com um departamento de ginástica artística, e também o primeiro clube de todo o interior do estado de São Paulo a desenvolver essa atividade. A responsabilidade de divulgar essa modalidade que ninguém conhecia tornava-se cada vez maior. Levava minhas ginastas para tornava-se apretornava-sentarem em diferentes lugares, em vários eventos, sempre com a intenção de motivá-las, pois gostavam de mostrar o que já sabiam fazer, e eu queria que mais e mais pessoas conhecessem uma prática esportiva que ninguém podia ver na TV.

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Após 5 anos de trabalho no clube, o departamento era formado por cerca de 500 ginastas de todas as idades; já possuíamos vários títulos conquistados e nos tornamos muito conhecidos na região, por conta das viagens de apresentações que fazíamos sempre. Foi aí que decidi criar, em homenagem ao aniversário do clube, em parceria com uma grande amiga Elizabeth Paoliello3, um festival de ginástica e dança que a cada ano conquistava mais espectadores. Chegamos a realizar 4 noites de espetáculos nos quais misturávamos a ginástica artística masculina e feminina, a ginástica rítmica e a dança, com a participação de todos os ginastas, para um público de 5000 pessoas por noite. O festival fazia tanto sucesso na cidade que recebíamos a atenção de todo tipo de mídia. Todo ano mudávamos o tema principal para o qual todas as ginastas se preparavam. Essa foi uma das maneiras que encontrei de divulgar a ginástica e a dança. E, assim, eu também me tornava cada vez mais conhecida pelo trabalho que desenvolvia.

AS EXPERIÊNCIAS COMO PROFESSORA DE EF ESCOLAR...vividas nas

escolas em que lecionei foram de grande significado profissional. Era professora de EF do maternal ao ensino médio, com uma difícil missão de reverter uma concepção que predominava naquela época que era a busca pela dispensa das aulas de EF. Na escola privada, também em parceria com a eterna amiga Beth, criamos a 1ª Olimpíada Escolar da cidade, pioneiras nessa atividade dentro da escola, além dos nossos famosos festivais de ginástica e dança. O mais interessante é que conseguimos mostrar a importância da competição esportiva como tema principal dos conteúdos desenvolvidos nas

outras disciplinas escolares. Alguns anos depois surgia a

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“interdisciplinaridade”, que nós já havíamos feito nessa escola. Só que quando fizemos, a EF não era um meio, mas a finalidade principal. O Português, a Matemática, a História, o Desenho, e outras disciplinas é que trabalhavam para um só fim: a olimpíada esportiva escolar!

Nessa grande escola iniciei uma equipe de treinamento em ginástica e durante todos os anos que participamos de campeonatos colegiais, vencemos em todas as categorias em nível regional e estadual. Como era prazeroso ensinar as meninas... prepará-las, levar a equipe para competir representando a escola, e vencer a cada ano mais e mais adversários...fazíamos isso com paixão!! As próprias ginastas reconheciam a importância da dedicação e sabiam separar as horas de trabalho das horas de lazer e de descontração. Acho que o que mais aprendi nessa vivência foi a organização com os conteúdos a serem ensinados, a disciplina nas ações, a seriedade no trabalho, a dedicação intensa aos projetos educacionais. Em tudo que eu fazia, era preciso refletir o quanto contribuiria para o processo de formação educacional dos alunos.

SER PROPRIETÁRIO DE UMA ACADEMIA...era o glamour da época! Mas,

talvez não fosse meu maior sonho. Eu tive sociedade em uma academia, famosa naquele tempo, onde se desenvolvia ginástica para outras finalidades sem ser competitivas. Homens e mulheres buscavam nas práticas gímnicas e na musculação meios que pudessem torná-los melhor condicionados fisicamente. Criar diferentes alternativas, abrir novas propostas de intervenção para esse público era algo interessante, mas meu ideal era muito mais pedagógico do que administrativo. Posso dizer que ver meu ideal de vida comercializado não me fazia tão bem. Eu vivia para ensinar ginástica, para

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estudar melhores procedimentos, para conquistar mais espaços com ela, e vender isso não combinava com meus interesses. Por essa razão minha passagem como proprietária de uma academia foi curta e posso dizer que ali também realizei alguns projetos diferentes para aquele espaço, como promover cursos de ginástica para professores de EF. Estava claro que o que eu mais gostava de fazer era ensinar o que eu sabia sobre ginástica, para outras pessoas que pudessem também ensinar ginástica. Pensando melhor...eu deveria ensinar isso aos futuros profissionais da área.

A DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE...tinha mesmo que acontecer em minha

trajetória de vida. Ser docente universitária era uma meta...ou quase um sonho! Após vivenciar experiência como técnica esportiva, como árbitro de ginástica artística, como professora de ensino básico e de ginástica de academias, faltava-me a docência no ensino superior. Embora, por diversas vezes, eu tenha sido convidada para ministrar aulas de ginástica artística nos cursos de EF em diferentes faculdades, eu ainda não tinha conquistado esse espaço. Essa oportunidade surgiu com a criação do curso de Educação Física da Unicamp, onde assumi aulas de Rítmica aplicada à EF e Ginástica Artística. Nessa Universidade tive oportunidades incríveis de crescimento profissional, pois pude desenvolver diversas propostas de atividades além dos meus estudos na pós-graduação. Novamente em parceria com minha amiga “Beth”, criamos vários projetos de extensão à comunidade: o Grupo Ginástico Unicamp, que hoje é uma referência internacional na área da Ginástica Geral; o Projeto “Crescendo com a Ginástica”, que durante dez anos tornou-se não só um espaço de estágio docente para os graduandos como ampliação do vocabulário motor de muitas crianças que por ali passavam; “Brincando com o

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Ritmo”, que foi palco de meus estudos no doutorado, quando procurava compreender como se dá a percepção do ritmo na criança; o Projeto “Ginástica Artística e Ginástica Rítmica: brincando e aprendendo”, totalmente voltado aos professores da rede que desconheciam as práticas gímnicas. Na dimensão da pesquisa, criei o EUNEGI - Equipe Universitária de Estudos da Ginástica – porque queria unir estudiosos das diferentes práticas gímnicas; e o NEPICC – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Inteligência Corporal Cinestésica, que conseguiu alavancar os estudos de uma nova teoria que chegava ao Brasil – a Teoria das Inteligências Múltiplas. Entender as manifestações de inteligência humana tornava-se desafiador. Interpretar uma expressão do movimento humano como inteligência corporal cinestésica correspondia ainda mais com minha visão sobre as atividades esportivas. Esse grupo de pesquisa foi o impulso de muitos projetos em nível de pós-graduação que pude orientar. Interessar-me por essa teoria levou-me a estudar em Harvard com os mentores dessa proposta.

ESTUDAR EM HARVARD....sempre fez parte dos meu sonhos. Foi pouco

tempo que passei nessa Universidade, mas muita coisa aprendi, e a partir desse estágio mudei radicalmente minha atuação docente. Tive oportunidade de aprender e de debater com os próprios autores dessa proposta. Isso enriqueceu ainda mais o que já entendia sobre a teoria das Inteligências Múltiplas. Conhecer as aplicações dessa teoria para as escolas trouxe para mim a possibilidade de proferir várias palestras aos pais e professores de ensino infantil e fundamental. Ministrava palestras, ensinava professores sobre o assunto, mas até então, ainda não havia refletido sobre a minha prática profissional. Foi após essa etapa que minhas aulas mudaram...passei a

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desenvolver os conteúdos por diferentes caminhos, porque aprendi que nem todas as pessoas aprendem pelo mesmo processo. Cada um tem uma porta mais aberta de acesso à sua aprendizagem. Portanto, não se pode ensinar de uma única maneira. Além disso, aprendi que para se avaliar o conhecimento adquirido dos alunos é possível aceitar que eles o façam por diferentes formas de manifestação. Não existe apenas a escrita como meio de expressão. Dessa forma, não posso oferecer apenas esse meio, como caminho para o aluno mostrar o que aprendeu. A partir dessas mudanças as aulas se tornaram mais prazerosas, o interesse dos alunos pelos conteúdos aumentou significativamente. E, o que tenho mais certeza é que o que eu ensinava, os alunos realmente aprendiam, e possivelmente, nunca mais se esqueceram. Essas experiências não poderiam pertencer só às minhas memórias. Era preciso publicá-las.

A EXPERIÊNCIA DE ESCREVER LIVROS... artigos, com a finalidade de

divulgar nossas reflexões, tornou-se para mim uma atividade infinitamente satisfatória. Posso dizer que fez bem ao meu ego...muito mais do que a pretensão de ganhar dinheiro com a atividade. Há mais de 20 anos publiquei meu primeiro livro, e, é claro, só poderia ser sobre ginástica. Foi essa publicação que fez a diferença na minha pontuação para conquistar uma vaga no concurso da Unicamp. Escrever sobre um tema que sempre foi razão da minha profissão não me parecia tão difícil. A dificuldade para quem escreve é conseguir expressar no papel, por meio de palavras combinadas harmoniosamente, os sentimentos que se vive, as sensações percebidas nas práticas pedagógicas.

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O DESVELAMENTO DE UM MÉTODO PARA ENSINAR... atividades

físicas foi revelado a partir de algumas práticas pedagógicas desenvolvidas no projeto Crescendo com a Ginástica, para crianças da comunidade em geral. Cada aula que eu ministrava para elas seguia um caminhar diferente. Tinha um objetivo claro a ser alcançado, uma meta definida por aula, com procedimentos metodológicos diversificados. Assim, ao final de cada aula, eu me sentava com as crianças e então perguntava-lhes qual atividade haviam mais gostado..., o quê haviam aprendido naquele dia..., como aprenderam...e ainda, se foi fácil ou difícil aprender daquela forma. Essas eram perguntas que permeavam nossas aulas para crianças até que após extensa análise deflagramos um Método dos três momentos! Num primeiro eu ofereço a proposta e observo para conhecer o real que a criança sabe fazer; depois, dou pistas para que ela avance, dicas que a levem a construir novos modelos de movimento; e só num terceiro momento é que analiso se meu objetivo foi atingido ou não, e se não, ofereço uma proposta que permita que essa execução aconteça. Foi encantador pesquisar a partir da realidade vivida. Desvelar meios, caminhos possíveis de aprendizagem com a participação das próprias crianças. Era preciso ensinar isso a outros professores para que eles também pudessem colher o que eu conquistava a cada aula.

MINISTRAR CURSOS E OFICINAS...tornou-se outra atividade

intensamente praticada no tempo de minha docência na Unicamp. Tive oportunidade de elaborar e coordenar cursos de Especialização em Educação Física escolar e de Especialização em Ginástica, nos quais tínhamos a intenção de aprimorar, aperfeiçoar o conhecimento que professores da rede de ensino nos traziam. A Educação Física Escolar sempre foi uma das minhas maiores

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preocupações. Eram muitos candidatos para poucas vagas, e eu queria fazer alguma coisa para favorecer os últimos da seleção, pois se eles apresentavam dificuldades para serem selecionados era porque precisavam de mais ajuda que os primeiros colocados. Então, decidi abrir cursos de extensão sem processo de seleção. Foram inúmeros cursos, tantos que nem sei definir quantos. Como melhorar a prática desses professores de EF que, muitas vezes, atuando em escolas com excelentes condições de infra-estrutura continuavam proporcionando vivências motoras pobres, sem nenhuma novidade? Eu estava numa fase em que minhas preocupações ultrapassavam o contexto escolar, pois queria saber o quê esses professores poderiam ensinar aos meus filhos, que então, se encontravam nas mãos deles.

SER MÃE... sempre foi meu sonho maior! Meu marido chegou a dizer várias

vezes que só me casei porque queria ser mãe. Acho que ele tinha razão. Realizei mais um sonho, casando-me com quem eu escolhi para ser meu marido, mas queria muito poder sentir no próprio corpo o ato de gerar um filho! Suportava a chatice da tal “menstruação” apenas porque me lembrava que isso me permitiria um dia ser mãe! Talvez esse aspecto tenha tido tanto significado em minha vida que me dava a certeza de ser feliz por ser mulher. Só porque eu poderia viver a sensação de gerar um ser em mim!

Cuidar dos filhos, ajudá-los a crescer, ensiná-los a enfrentar os obstáculos do mundo sempre foram atuações que me deixavam muito feliz. Costumo dizer que cada um dos três filhos tem suas particularidades, as quais me encantam até hoje com o seu jeito de ser. Quando nasceram, foram momentos peculiares: o primeiro trazia ansiedade, expectativas, medo e muito prazer e alegria. Com o segundo tive uma sensação indescritível de

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amor, de apego, de afeto, de carinho, de proteção e de paixão. Com a terceira, foi uma nova experiência, uma filha mulher numa fase mais amadurecida da minha vida: vivia com ela a sua delicadeza, a sua meiguice, a sua beleza. Ela era uma criança tão feliz que meu medo era interferir nessa visível felicidade. Precisava errar menos, mas sempre errar por amar demais. Preocupava-me em oferecer-lhes todas as oportunidades de estímulo para seu crescimento. Queria pensar em todas as dimensões do desenvolvimento humano. Queria ouvi-los, entender como eles compreendiam o mundo ao seu redor. Sempre tive necessidade e interesse em compreender a criança. Buscava livros de história sobre O Pássaro Encantado4 para explicar-lhes porque a mamãe tinha, às vezes, que ficar longe deles. Tentava identificar em todos os seus potenciais quais seriam aqueles em que eles teriam mais possibilidades de se sair bem. E, assim, detectei a logicidade do pensamento expressado por meio de desenhos no Luigi; as preocupações com o outro, com as outras pessoas, manifestadas numa facilidade das inter-relações pessoais do Giovanni; e a inteligência corporal e musical diagnosticadas em comportamentos da Verena. Minhas preocupações com o desenvolvimento deles fez com que eu criasse para eles, e para outras crianças, um projeto específico de aprimoramento motor, fundamentado na ginástica e realizado numa perspectiva lúdica.

A CRIAÇÃO DO PROJETO CRESCENDO COM A GINÁSTICA...se deu

porque eu procurava para meus filhos uma proposta de atividade que estimulasse o potencial motor das crianças. Naquele momento eu já sabia que os elementos ginásticos e acrobáticos podem propiciar às crianças excelente

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estimulação motora por conta de seus desafios de movimentos, pelo prazer que eles encontram em suas execuções. Assim, criei esse projeto que não tinha intenção de detectar atletas, mas sim de ampliar a bagagem motora das crianças, facilitando as possíveis combinações dos movimentos básicos e naturais. Sentir-se capaz, derrubar medos, e brincar..., brincar de inventar novas possibilidades de movimento, eram as diretrizes desse projeto, que não só ampliava como também aperfeiçoava o equilíbrio, a coordenação, a agilidade, a destreza dos movimentos, além de possibilitar o desenvolvimento social entre elas.

Esse projeto durou dez anos na Unicamp e gerou inúmeros trabalhos científicos, mas o mais gratificante era perceber o quanto essas vivências ensinavam os futuros professores a dar aulas para crianças. Formar profissionais da área com uma bagagem em práticas de ensino era a maneira que eu encontrava de aperfeiçoar nossos alunos graduandos em EF.

CRIAR UM CURSO DE EF... nesses moldes, com práticas aplicadas do

conhecimento gerado em sala de aula era mais um sonho a ser alcançado. Lembro-me que enquanto professora da Faculdade de Educação Física da Unicamp incomodava-me muito perceber os equívocos da grade curricular implantada e a dificuldade em convencer aos docentes-colegas sobre possíveis mudanças na matriz, que trariam melhor formação ao graduado na área. As disputas entre os docentes pelo reconhecimento de suas especificidades de estudo eram demais. Observar como cada um se posicionava diante de uma reformulação curricular consolidava meu pensamento de que um grupo de docentes mais coeso, agindo com bom senso, poderia formar profissionais mais competentes para o mercado de trabalho.

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Somos os estudiosos da EF e do Esporte do Brasil e quase nada muda nesse país em relação a esses dois temas. Há muito ainda por se fazer para formar melhores profissionais.

Mas essa oportunidade chegou com o convite do Prof. Coelho5 para que eu criasse um curso de EF na Metrocamp6. Aceitei desde que eu mesma o coordenasse, pois acredito que se não pudermos participar da implantação de uma ideia, ela poderá não expressar exatamente o que pretendíamos. Pedi licença para elaborar um curso de bacharelado também, além de poder escolher o corpo docente. Mais uma vez vi minhas ideias se concretizando...um curso criado pelas minhas mãos e dos meus ex-orientandos, agora professores desse curso. Era um só pensamento, uma única linguagem, expressos na construção de um curso de formação em EF e Esporte. A vontade presente em todos os integrantes de fazer daquele curso o melhor de São Paulo fez com que ele se fortalecesse e se consolidasse como um excelente espaço de formação desse profissional, segundo o mercado de trabalho. O diferencial do curso se mostra em três aspectos: -no primeiro, a construção de uma grade curricular refletida, na qual não aparecem os egos, mas pontos importantes na formação desse profissional; -em segundo, professores novos e titulados, um corpo docente formado por mestres e doutores que têm sede de ensinar, com muita vontade de transformar os alunos nos melhores profissionais para o mercado; - em terceiro, a criação de vários projetos de extensão e de pesquisa que alavancam o interesse e o conhecimento dos nossos alunos. Foi dessa forma

5

Prof. Dr. Eduardo José Pereira Coelho, ex-reitor da PUCC, fundador e diretor acadêmico da Metrocamp.

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Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas, atualmente VERIS EDUCACIONAL/Grupo IBMEC.

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que conquistamos a segunda maior média de todo o estado de SP nos exames nacionais para graduandos.

Na Metrocamp foi possível criar um Instituto do Esporte, onde se estudavam questões relacionadas à prática esportiva, onde se pesquisavam temas associados a diferentes modalidades esportivas, envolvendo alunos e professores por meio de grupos temáticos. O Instituto era mais um sonho que se implantava, oferecendo diversas oportunidades de emprego aos alunos, permitindo que ingressassem no mercado de trabalho. Por meio desse espaço foi possível desenvolver cursos em nível de pós-graduação.

A EXPERIÊNCIA DE CRIAR UMA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EF.... surgiu numa fase importante em minha vida, com o convite da

Universidade São Judas Tadeu para elaborar um Programa de Pós-graduação (PG) em EF. Após me aposentar na Unicamp imaginava que teria mais tempo para minhas investigações, mas sem um vínculo a uma PG isso se torna mais difícil. Já tinha vivenciado o cargo de vice-coordenadora de Pós-graduação, e desde essa época eu sabia que era possível criar um Programa formado por um corpo docente unido, com pessoas de bastante qualidade, com alta capacidade de produção científica, e, principalmente, que pudessem apoiar uns aos outros. Talvez não imaginasse naquela época como seria difícil provar aos órgãos de avaliação e fomento do governo, que docentes competentes podem desenvolver pesquisas de ponta em Universidades privadas. Ao olhar do senso comum, no Brasil, as únicas instituições sérias são as públicas. Eu tinha que provar o contrário. Por meio de uma coordenação firme, com professores de muita qualidade, apoiados por uma instituição sólida, conseguimos mostrar que pesquisas de nível internacional também podem ser

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realizadas numa IES privada. Ah...que prazer eu senti a cada vitória conquistada nesse Programa. Talvez porque isso comprovava minha tese que é a paixão pelo que se faz que nos impulsiona, nos leva ao sucesso, independente do local onde desenvolvemos nosso trabalho. Foi essa experiência que derrubou meus paradigmas sobre instituição pública/privada. Na USJT pude vivenciar momentos de pura educação, de envolvimento profissional nas preocupações com a qualidade da formação dos discentes, de reconhecimento pelo trabalho feito e seriedade diante das propostas instituídas. O Programa obteve sucesso pelo comprometimento dos docentes envolvidos em suas orientações competentes, pela qualidade de sua construção sólida, somados à responsabilidade de uma instituição séria e comprometida com a educação.

A EXPERIÊNCIA PRAZEROSA EM ORIENTAR...nasceu desde a primeira

vez que orientei um trabalho científico; percebi que sentia muito prazer nessa atividade. Meus orientandos sempre se tornavam meus amigos pessoais. Era como se fôssemos cúmplices. Parceiros além de uma tese. O relacionamento crescia no seu envolvimento na medida em que estudávamos mais e descobríamos juntos os caminhos de suas pesquisas. Sempre foi assim. Como orientei e continuo orientando trabalhos científicos em diferentes níveis, cultivei muitos amigos. Ensinar a pesquisar tinha início com a aprendizagem desde o botão que liga o computador às buscas às bases de dados, às leituras e interpretações que as inúmeras coletas proporcionam. Com meus orientandos publiquei artigos, livros, desenvolvi projetos, cursos, vídeos didáticos, palestras, oficinas e eventos, ou seja, fomos muito além de uma simples orientação de um trabalho. Se não pude ensiná-los mais...vivemos

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momentos felizes, e com certeza, posso afirmar que também muito aprendi, com todos eles.

ENSINAR...ABRIR PORTAS... ao conhecimento dos alunos. Foi isso o que

tentei fazer em minha trajetória profissional, oferecer caminhos, criar possibilidades para que os próprios alunos construíssem seu conhecimento. Numa parada de reflexão, posso dizer que realizei muitos sonhos... que alcei voos... que conquistei amigos, mas que ainda tenho muito a fazer, quero sempre mais e mais. Vivo de projetos. Estou sempre projetando ideias e para alcançá-las, traço metas.

Realizar sonhos, estudar, ser mãe, ensinar e pesquisar não são tarefas fáceis, mas nem se comparam com as dificuldades enfrentadas pelas cientistas do passado, que só podiam sonhar. Elas não tinham o direito de estar entre os homens, mesmo que demonstrassem competência para atuar ao lado deles, e nós reivindicamos esse direito, o conquistamos, mas triplicamos nossas tarefas. Em comum com elas temos a paixão pelas conquistas.

E, tentei contar aqui nesse capítulo sobre as minhas paixões. Sobre os momentos que vivi intensamente, transformando-os em palavras. Momentos que foram presentes de Deus para minha vida.

Espero que essas palavras possam ser compartilhadas com outras pessoas, pois como me sinto educadora, e toda ação educativa se dá num processo de diálogo, quero dialogar com um possível leitor, buscando uma sintonia pedagógica, a fim de encontrar um nível mais elevado de conhecimento. Quero lhe contar que abri portas...que realizei sonhos!!

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