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Direito administrativo: relações sociais e espaços políticos

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Academic year: 2021

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(1)

O D I S C U R S O J U R Í D I C O E A I DEOLOGIA DO INTER ESS E G E R A L

Dissertação submetida ã Universi

dade Federal de Santa Catarina

para obtenção do grau de Mestre

em Ciências Humanas -

Espe ciali

dade V i r e i t o .

ELZA A N T O N I A P E R E I R A CUNHA

(2)

V i r e i t o

, e

aprovada em òua forma final pelo Programa de PÔ-ò-

-

G r a d u a ç ã o .

Prof. LuZò Alberto

(ti

Orientador

arat

Coordenador do Curso

Apresentada perante a Banca Examinadora

compoó_

ta dot>

Professores-Prof. Vr. Paulo Henrique Blasi

Membro

Prof. Vr. Leonel Severo Rocha

Membro

(3)
(4)

AGRAVEC1MENTOS

A LUÍS ALBERTO

W A R A T ,

que me introduziu na carreira

universitária, não SÓ pela orientação e estímulo ã investigação

de um t e m a

aberto, mas principalmente pela confiança depositada.

Aos Pro fess ores do Curso de Pós-Graduação em Vireito

da Universidade federal de Santa Catarina, pela formação linte

lectual que me p r o p o r c i o n a r a m .

Ao Professor

P A U L O H E N R I Q U E

BLAST,

em

e s p e c i a l , pelas

crZticas quanto ao conteúdo jurídico.

Ao Professor TÊRCIO SAMPAIO FERRAZ JR., por ter lido

e discutido algumas passagens desta dissertação. Todas as suas

sugestões ou reservas foram-me extremamente úteis.

Ao Vr. GASTÄO VE MOURA M A I A

FILHO, meu interlocutor

constante desde que iniciei os meus estudos na ciência do Vi

neito.

 única pessoa que foi capaz de interpretar as minhas

idéias, através de sentenças i n c o m p l e t a s , meu amigo Vr. JARBAS

BASTLIO, pela revisão.

Muitos outros amigos auxiliaram no desenvolvimento

deste trabalho. Acredito que me perdoarão òe nomear apenas dois,

cujas c o n t r i b u i ç õ e s , em épocas diferentes e por motivos distin

tos, revelaram-s

e

mais decisivas e de mais longo a l c a n c e

•• Ari e

Cidinha.

E, finalmente, ãs instituições q ue

proporcionaram o

financiamento parcial desta pesqui&a, a F U W C E P e

o CNPq.

(5)

RESUM O

A

primeira parto, deste trabalho inicia-s e

por uma inves tigação que leva

em

conta algumas hipôtes eò

arqueológicas do trabalho de Foucault, para determinar o

que teria permitido o res tabelecimento e a explicitação

de regras de cons tituição do saber administrativo

como

um conjunto de normas jurídicas .

A

segunda funda-se na hipótese de que o

objeto "discurso" e suscetível de dizer mais sobre o

fun cionamento do V i r e i t o , retirando-o da ilha em que se en

contra para demons trar que a sua cons tituição esta liga

da ao desenvolvimento de outras disciplinas: a Política,

a Filos o f i a , a Sociologia, a A n t r o p o l o g i a , etc.

A terceira procura explicitar que a ideo_

logia do interesse geral constitui uma dimensão fundamen

tal do funcionamento e da perenização do discurso jurldi

(6)

La pn.imie.Jiz partie, de ce travail commence

par une recherche qui envisage quelques hcjpothes e archeo^

logiques du travail de Foucault, pour déterminer ce qui

aurait permis de rétablir et d'expliciter les régies de

constitution du savoir administratif conçu comme un en

semble de normes juridiques.

Ensuite, la deuxiêmme partie est fondée

s u r V hyp thèse que l'objet "discours"

est susceptible

d ’en dire plus sur le fonctionnment du droit pour V enle

ver de V i l e où se trouve, ou il se trouve pour démontrer

s a constitution est lieé au dévelopment d'autres

dis ci

p l i n e s : la P o l i t i q u e , la Philosophie, la Sociologie

et

V Anthropologie etc.

Finalmente, la troisième pa r t i e cherche à

expliciter l ’

idéologie de V intérêt général

c o m m e u n e

di

mension fondamental du fonctionnement et de la pérenniza

tion du discours juridique administratif dans les s o c i é ­

tés c o n t e mporaines.

(7)

Não te aborreças.

Teu iate de marfim, teu sapato de dimante,

vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família

dei,aparecem na curva do tempo, e algo imprestável.

(...)

Chega mais perto e contempla aò palavras.

Cada uma

teni mil faces secretas sob a face neutra

e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrZvel, que lhes deres :

Trouxeste a chave?

(8)

S U M Ã R I O I N T R O D U Ç Ã O ... ... ... ....1 PART E I : As o r i g e n s t e ó r i c a s do D i r e i t o A s m i n i s t r a t i v o 6 C a p . 1 : C o n s i d e r a ç õ e s g e r a i s --- ----7 Cap. 2 : 0 s o l o t e ó r i c o da C i ê n c i a do D i r e i t o --- —--- 9 Cap. 3 : Das p o s i t i v i d a d e s ã p o s i t i v a ç ã o do D i r e i t o -r 11 Cap. 4 : A p o s i t i v a ç ã o do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o --- --- 15 P A R T E II : 0 D i r e i t o c o m o d i s c u r s o --- --- 32 Cap. 1 : 0 que se e n t e n d e p o r d i s c u r s o --- --- 33 Cap. 2 : As d i m e n s õ e s da l i n g u a g e m --- 35

Cap. 3 : 0 que se deve e n t e n d e r por d i s c u r s o --- 36

Cap. 4 : Das i m a g e n s aos e f e i t o s de s e n t i d o --- --- 40

Cap. 5 : Das i m a g e n s ... ...- --- --- 43 Cap. 6 : Dos e f e i t o s de s e n t i d o --- --- - 44 Cap. 7 : P e r s p e c t i v a s p o s s í v e i s ---50 P A RTE III : F o r m a ç õ e s i d e o l ó g i c a s e d i s c u r s i v a s do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o — --- ---60 Cap. 1 : D i s c u r s o e i d e o l o g i a --- ---61 Cap. 2 : As f o r m a ç õ e s d i s c u r s i v a s s ob r e o D i r e i t o Admj. mi s trati vo --- ---64 Cap. 3 : 0 r e f e r e n t e s i m b ó l i c o : a i d e o l o g i a do interes^ se geral --- -- 68 Cap. 4 : As f o r m a ç õ e s i m a g i n á r i a s sob re o r e f e r e n t e -- 69 S e ç ã o 4.1 : S o b r e um p l a n o s i n c r o n i c o --- 70 S e ç ã o 4.2 : S o b r e um p l a n o d i a c r Ô n i c o --- ---71

(9)

Cap. 5 : Das f u n ç õ e s s o c i a i s aos e f e i t o s de s e n t i d o 73 Cap. 6 : Os p r o t a g o n i s t a s do d i s c u r s o a d m i n i s t r a t i v o 79

P A R T E IV : A g u i s a de c o n c l u s ã o --- --- 87

(10)
(11)

"Hoje c o m e ç a m ò á

a òabefi, gn.aq.cu> a hi&_

tÓria

(com F

e b v r e ) ,

g^iaçaá à

etnologia (com

M a i u ó ) , que não

&ó os, coòt u m e ò ,

maá

também

06

atos, fundamentais, da vida humana s>ão ob_

jetoó hiòtÓricoò; e que e preci&o definir

cada vez de novo, segundo a s>ociedade que

òe observa, fatoò reputadoò naturais, por

cauóa de a eu caráter fZ&ico. foi òem dãvi

da uma conquis, ta

(ainda i n e x p l o r a d a

) o

dia

em que os, his, toriadorei,, etnólogos òe pu&e

ram a descrever oò comportamentos, elemento,

reò das sociedades passadas ou distantes ,

tais como o comer, o dormir, o andar, o ven,

o ouvir ou o

morrer

como a-toà não

60 varia

veis em seus protocolos de r e a l i z a ç ã o , ma*

também no sentido humano que os constitui,

e para alguns, mesmo em sua natureza bioló

gica

(...) E-ó-óa

conquista poderia ser de

finida como a intrusão do olhar etnológico

nas sociedades civilizadas,;

e naturalmente,

quanto mais, o olhar s>e detém s>obre uma so_

ciedade próxima do observador, mais, difZ

cil conduzZ-lo ••

pois ele nada mais, é então

do que uma distância para c o m i g o mesmo"

.

(Roland B a r t h e s , "De um lado e do o u t r o 11» In: " C r í t i c a e V e r d a d e " , S ão Pa u l o , P e r s p e c t ^ va, 1970, p. 140) T a l v e z p o r i n s p i r a ç ã o de B A R T H E S , m i n h a inten ção i n i ci a l de p e s q u i s a e ra r e a l i z a r um e s t u d o m o n o g r á f i c o so bre a i d e o l o g i a no D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o , d e s t a c a n d o o caso das e m p r e s a s m o n o p o l i s t a s - a p a r t i r da d e c a d a de 60 - no sen

(12)

t i d o de " d e f i n i r de n o v o" o s i s t e m a de r e p r e s e n t a ç ã o da Adnn_ n i s t r a ç ã o P ú b l i c a .

Na m e d i d a em que c o m ec e i a d e s e n v o l v e r o p r o j e to, s e n t i a - m e , cada vez m a i s , b l o q u e a d a por uma i n s u f i c i ê n c i a t e ó r i c a , r e p r e s e n t a d a p el a f a l t a de uma d e f i n i ç ã o p r e c i s a sobre a r e l a ç ã o e n t r e D i r e i t o , D i s c u r s o e I d e o l o g i a . Dito de o ut r a f o r m a , p e r c e b i a a u s ê n c i a de um c a m p o t e ó r i c o - que j u l g a v a ja e s t r u t u r a d o - que p r e c i s a s s e o D i s c u r s o j u r í d i c o co m o o b j e t o de p r a t i c a s j u r í d i c a s e, s i m u l t a n e a m e n t e , p r o p o r e i o n a s s e um cam po de e s t u d o s d e f i n i d o c o m o D i s c u r s o e I d e o l o g i a .

No que se r e f e r e ao t e r m o " d i s c u r s o " , pude cons^ t a t a r que é a l g o p o u c o q u e s t i o n a d o , s e n d o m u i t a s veze s utiliza^ do p a r a d e s i g n a r f e n ô m e n o s p e r t e n c e n t e s a d o m í n i o s de c o n h e c ^ m e n t o s d i s t i n t o s ; p o r e x e m p l o , f a l a - s e i n d i s t i n t a m e n t e em di ^ c u r s o j u r í d i c o , d i s c u r s o p o l í t i c o , d i s c u r s o r e l i g i o s o , d i s c u r so l i t e r á r i o , d i s c u r s o a n t r o p o l ó g i c o etc.

No que se r e f e r e ao t e r m o " i d e o l o g i a " , pude coii f i r m a r que é u t i l i z a d o c o m o f o r m a nã o r i g o r o s a de e s t u d o , pois o j u r i s t a c o m p r o m e t i d o com a i m a g e m c l á s s i c a de sua f u n ç ã o não d e i x a de r e f l e t i r o a p o l i t i c i s m o do t é c n i c o m a n i p u l a d o r da d o £ m a t i c a a s e r v i ç o e x c l u s i v o da lei. A h i s t o r i a j u r í d i c a tem d £ m o n s t r a d o que a t é c n i c a u n i da a uma o r g a n i z a ç ã o que g a r a n t a a sua c o r r e t a a p l i c a ç ã o e l i m i n a os m o t i v o s para b u s c a r , fora des^ ta a t i v i d a d e , r a z õ e s p a ra l e g i t i m á - l a . A t é c n i c a c o n s t i t u i ra^ z ão s u f i c i e n t e p a r a sua p r ó p r i a l e g i t i m a ç ã o , co m o uma instãn^ cia l e g i t i m a d o r a de si m e s m a .

De fato, a t é c n i c a e x i l a os d i s c u r s o s r e i v i n d ^ c a t Ó r i o s que i n t e r f e r e m com a r a c i o n a l i d a d e das d e c i s õ e s e c o n ô m i c a s ; os d i s c u r s o s c i vi s que i n t e r f e r e m com a r a c i o n a l i d a d e das d e c i s õ e s m i l i t a r e s e os d i s c u r s o s p a r t i d á r i o s que i n t e r f e

(13)

o s i l ê n c i o da I d e o l o g i a e dos V a lo r e s . E m d e c o r r ê n c i a di s t o , o t r a b a l h o a d q u i r i u um es_ c o p o m a i s a m p l o do que eu e s p e r a v a e a c a b a o u s e n d o d e d i c a d o ao e s t u d o do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o e n q u a n t o d i s c u r s o , como forma de r e t i r a r do s i l ê n c i o a l g u m a s l e i t u r a s a l t e r n a t i v a s . P o r o u t r o lado, a q u e s t ã o e s s e n c i a l era e n c o £ t r a r um m é t o d o c a p a z de t r a n s p o r os l i m i t e s das " m a n i f e s t a ç õ e s de s u p e r f í c e " do t e x t o l eg a l, para c a p t a r a i d e o l o g i a ao rt_T vel das " e s t r u t u r a s p r o f u n d a s " . A s s i m é que, p a s s a n d o peloclãs^ s i c o " C u r s o de L i n g ü í s t i c a G e r a l " , de F e r d i n a n d S a u s s u r e (1916), ate os m a i s r e c e n t e s , co mo B e n v e n i s t e , A.J. G r e i m a s , N o a m C h o m s k i , R o l a n d B a r t h e s , J ú l i a K r i s t e v a , O s w a l d D u c r o t e Michel P e c h e u x , o p t a m o s p o r e s t e ú l t i m o por c o n s i d e r a r que a sua anã

lise n ã o d e i x a em s e g u n d o p l a n o os a s p e c t o s e x t r a d i s c u r s i v o s , do t e x t o l e g a l , ou s e ja , as c o n d i ç õ e s de p r o d u ç ã o e o c a m po das r e l a ç õ e s de p o d e r no qual os d i s c u r s o s c i r c u l a m . A l é m di s t o , a a n á l i s e d i s c u r s i v a p e r m i t e d e s t £ c a r o m o d o de f u n c i o n a m e n t o da l i n g u a g e m j u r í d i c a , s em esq u e ce r que e s t e f u n c i o n a m e n t o n ã o é i n t e g r a l m e n t e 1 i n g ü í s t i c o ,uma vez que dele f a z e m p a r t e as c o n d i ç õ e s de p r o d u ç ã o que represen^ t a m o m e c a n i s m o do p o s i c i o n a m e n t o dos p r o t a g o n i s t a s e do obje to do di scur so .

C o n v é m e s c l a r e c e r que e s t a r e f l e x ã o s o b re Direj. to e I d e o l o g i a l i m i t a - s e a um n ú m e r o r e d u z i d o de c o n s i d e r a ç õ e s s o b r e o D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o no seu a s p e c t o t e o r i c o e, evj[ d e n t e m e n t e , ela n ã o s u b s t i t u i uma o u t r a p o r m e n o r i z a d a de casos j u r í d i c o s e s p e c í f i c o s . C o n t u d o , a q u i l o que p r i m e i r o se a p re e n de n ã o são os p o r m e n o r e s , pois o seu s i g n i f i c a d o e a sua rela

(14)

ção cora o c o n t e x t o e m e r g e m a p e n a s g r a d u a l m e n t e . A s s i m , é p o u c o p r o v á v e l que n ã o se p o s s a l e v a n t a r o b j e ç õ e s ao t r a b a l h o , consj_ d e r a n d o c a s o s j u r í d i c o s e s p e c í f i c o s . Mas, por o u t r o lado, a in v e s t i g a ç ã o " s u p o s t a m e n t e a b s t r a t a " pode d e m o n s t r a r , em t raços m a i s a m p l o s , o t e r r e n o j u r í d i c o e x p l o r a d o pela i d e o l o g i a . A p r i m e i r a p a r t e do t r a b a l h o d e d i c a - s e a cons^ t r u ç ã o a r q u e o l ó g i c a do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o ; a s e g u n d a , ao D i s c u r s o e n q u a n t o c o n c e i t o m e t o d o l ó g i c o ; e a t e r c e i r a , ã I d e o ­ l og i a do I n t e r e s s e Geral no D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o .

(15)
(16)

1 - C O N S I D E R A Ç Õ E S 6E RAIS

Os o b j e t i v o s e s t a b e l e c i d o s ne s t a p a r t e do traba lho f o r a m a b o r d a d o s era f u n ç ã o de uma r e a l i d a d e n o r m a t i v a consÍ£ n a d a em t e x t o s d o u t r i n á r i o s e h i s t ó r i c o s , que p e r m i t i r a m a sis_ t e m a t i z a ç ã o do que se c o n v e n c i o n o u c h a m a r " D i r e i t o Administra^ ti vo" . '■

A

o b s e r v a ç ã o 1

e o l e v a n t a m e n t o e m p í r i c o de foji tes b i b l i o g r á f i c a s p o s s i b i l i t a r a m a p r e e n d e r não s5 os elemeii tos r e l a t i v o s ã i n t e g r a ç ã o do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o , como tam b é m o que p e r m i t i u a sua a c e i t a ç ã o pela c o m u n i d a d e j u r í d i c a . Mas se é v e r d a d e que a

observação

não c o n s t i t u i o p o n t o de pa £ t i d a p a r a q u a l q u e r c o n h e c i m e n t o que se p r e t e n d a c r í t i c o , não é m e n o s v e r d a d e que o p o n t o de p a r t i d a i s e m p r e um p r o b l e m a , e n e s t e c a s o a

observação

t o r n a r - s e - ã al go co m o o p o n t o de partj_ da se p u d e r r e v e l a r um p r o b l e m a 2 . 0 p r o b l e m a l e v a n t a d o pela t r a d i ç ã o j u r í d i c a sj_ t u a - s e no â m b i t o das n o r m a s e dos c o n c e i t o s g e r a i s e a b s t r a t o s do D i r e i t o , c uj a s o p e r a ç õ e s l ó g i c a s d e v e m f u n d a m e n t a r - s e no p r i n c í p i o da i d e n t i d a d e e da n ã o - c o n t r a d i ç ã o , pois as c i ê n c i a s s o c i a i s são r e g i d a s por um p r i n c í p i o e x p l i c a t i v o d i v e r s o daque le das c i ê n c i a s da n a t u r e z a . As p r i m e i r a s o b e d e c e m ao princ_í p io de i m p u t a b i 1 id ad e , a s s e g u n d a s ao p r i n c í p i o da causualidade.

"A

foAma vehbat em que s

ão

aph.es enta

dos tanto o pAincZpio de causuaíidade como

o de imputação e um juZzo hipotético em que

(17)

um determinado pAeóó upoó to ê ligado com uma

determinada c o m equência. 0 óentido da li

gaçao, poAem, é - como

jâ vimo& - di^eren

te noA doiò cou>o&. 0 principio da cauòuali

dado. afirma que, quando e A, B também e (ou

ierã) .

0 pAincZpio dz imputação a^inma que,

quando A e, 8

deve òen."

. 3

0 e s t u d o e f e t u a d o s e g u n d o o p r i n c i p i o da imputa^ b i l i d a d e c o n s i d e r a as n o r m a s j u r í d i c a s sob o seu a s p e c t o mais f o r m a l : o e n c a d e a m e n t o m ú t u o que atr i bu i a n o ç ã o de v a l i d a d e d e n t r o de um s i s t e m a . N e s t e s e n t i d o , as r e l a ç õ e s m a t e r i a i s , d e p u r a d a s de suas p e c u l i a r i d a d e s s u b j e t i v a s , d e v e m a t u a r como m o d e l o de v a l i d a d e geral que p e r m i t a a c o n s t r u ç ã o u n i t á r i a e c o e r e n t e do s i s t e m a j u r í d i c o . A C i ê n c i a J u r í d i c a , n e s t e c o n t e x t o , a p r e s e n t a r - - s e - ã c o m o a r e c o n s t r u ç ã o p o s s í v e l d e s t e s i s t e m a , f o r n e c e n d o o d e n o m i n a d o r c o m u m que s e r v i r a de ba s e a toda c o n c e i t u a 1 i z a ç ã o .

0 p r o b l e m a que l e v a n t a m o s s i t u a - s e numa outra d i m e n s ã o , c a p a z de e x p l i c a r o f e n ô m e n o r e l a t i v o ao c o n j u n t o de p r a t i c a s ( t e ó r i c a s e m a t e r i a i s ) que i n t e r v ê m no p r o c e s s o de c o n s t i t u i ç ã o do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o , c o l o c a n d o em d i s c u s s ã o a l g u n s a s p e c t o s c e n t r a i s da t e ó r i a j u r í d i c a c o n t e m p o r â n e a .

Em o u t r a s p a l a v r a s , n o s s o e s t u d o n ão e st a centra^ l i z a d o no a s p e c t o e s t r u t u r a l do s i s t e m a j u r í d i c o , mas nos efei_ t o s 1* que e s t a m a n i f e s t a ç ã o p e c u l i a r de s a b e r p r o d u z e reproduz; e, a i n d a , nas r a z õ e s p e la s q u a i s o D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o , C£ mo s a b e r c i e n t í f i c o , c o m e ç o u , n u m m o m e n t o dado, a e x i s t i r e a a s s u m i r um c e r t o n ú m e r o de f u n ç õ e s em n o s s a soci ed a de . ' E n t ã o , qual o e s p a ç o de o r d e m em que e s t e s a b e r se c o n s t i t u i u ?

(18)

C o n s i d e r a d a uma das m ai s i m p o r t a n t e s obras do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o a l e m ã o c o n t e m p o r â n e o , a do j u r i s t a E. F 0 R S T H 0 F F 5 , p r o p õ e um r e t o r n o ao D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o funda^ m e n t a l m e n t e i n s p i r a d o na r e a l i z a ç ã o da j u s t i ç a m a t e r i a l , assj[ n a l a n d o que

" a C iê n c ia do V iA eito kdm inistA ativo é,com e f e i t o , uma dai d is c i p l i n a s mais modeAnas dentAo da C iê n c ia JutiZdica: su&s oA.ige.ns s e encontAam no s e c . XIX, e somente alguns precedentes isola do s podem des cobAÍA~se em épocas a nte A io A es" .

Este f a t o leva ã s u p o s i ç ã o de que o e s p a ç o de c o n s t i t u i ç ã o d e s te s a b e r s i t u a - s e no S é c u l o XIX, onde o elemen[ to

positividade

p e r m i t i u o s u r g i m e n t o de n o v a s i d éi as e a cons^ t i t u i ç ã o de C i ê n c i a s e de r a c i o n a l i d a d e s . E n t r e t a n t o , ê neces^ s ã r i o e x a m i n a r a p a r t i r do que isto se t o r n o u p o s s í v e l . 2 - 0 S O L O T E Õ R I C O DA C I Ê N C I A DO D I R EITO A a n a l i s e h i s t ó r i c a da c i ê n c i a como um c o n j u n t o c o e r e n t e e t r a n s f o r m á v e l de m o m e n t o s t e ó r i c o s e i n s t r u m e n t o s c o n c e i t u a i s , p r o p o s t a por F O U C A U L T , d e m o n s t r a que a e p i s t e m e 6 p a s s o u p o r três e s t á g i o s d i s t i n t o s , que p o d e m ser d e n o m i n a d o s : a E p o c a da R e n a s c e n ç a ( S é c u l o X V I) ; a í p o c a C l á s s i c a das Ciêri c i a s e das L u z e s ( S é c u l o s XVII e X V I I I ) ; e o p e r í o d o q u e s e i n i ^ cia no S é c u l o XIX, a M o d e r n i d a d e . N ã o se t rata de uma e v o l u ç ã o no s e n t i d o l i n e a r da H i s t ó r i a , mas o r e l a t o de p r á t i c a s d i s c u r s i v a s na m e d i d a em que elas dão l u g a r a um s a b e r , e como este s a b e r g a n h a o e s t a t u t o e o papel de c i ê n c i a 7 .

(19)

A Ê p o c a da R e n a s c e n ç a e m a r c a d a por um conhecj_ m e n t o m i s t o e sem r e g r a s , onde toda s as c o i s a s do m u n d o p o d i a m a p r o x i m a r - s e ao a c a s o das e x p e r i ê n c i a s , das t r a d i ç õ e s e dascre d u l i d a d e s 8 . A c i ê n c i a c o n s i s t i a e m p r o c u r a r s e m e l h a n ç a s e n t r e o r d e n s a p a r e n t e m e n t e d i s t i n t a s .

No s e n t i d o c o n t r á r i o , a E p o c a C l á s s i c a e x c l u i u a s e m e l h a n ç a c o m o e x p e r i ê n c i a f u n d a m e n t a l e fo r m a p r i m e i r a de sa be r . 0 p e n s a m e n t o c l á s s i c o é, então, r e gido pela cat eg o r i a da Otfdem. 0 p r o j e t o de to d o o s a b e r é a c o n s t i t u i ç ã o de uma c i ê n c i a geral da Ordem que seria uma mathesis u n i v e r s a l para as natu^ reza s s i m p l e s ( c i ê n c i a s da q u a n t i d a d e ) e uma

taxinoraia

para as n a t u r e z a s c o m p l e x a s ( c i ê n c i a s da q u a l i d a d e ) . 0 conhecimento dos i n d i v í d u o s nã o pode ser a d q u i r i d o s e n ã o d e n t r o de um

quadro

c o n t í n u o , o r d e n a d o e u n i v e r s a l de t odas as d i f e r e n ç a s possí^ v e i s 9 . A t r a v é s do m é t o d o e do s i s t e m a defini r - s e - ã o as identj_ d a d e s p e l a rede geral das d i f e r e n ç a s . T od o o real pod e, a ssim, s e r r e d u z i d o a um

quadro,

que e a e s q u e m a t i z a ç ã o da Ordem. A

a

t i v i d a d e do e s p í r i t o n ã o c o n s i s t e ma is e m a p r o x i m a r co i s a s eni tre si, mas d i s t i n g u i - 1 as a tr avés de i d e n t id a d e s e d i f e r e n ç a s , i n s e r i n d o - a s n u m

quadro,

com g ê n e r o s e e s p é c i e s , c l a s s e s e sub c l a s s e s , h i e r a r q u i a s e s u b o r d i n a ç õ e s .

A p o s s i b i l i d a d e de i n t e g r a r no q u a d r o a t o t a l ^ d ad e do real é d a da p e l o c o n c e i t o de

representação,

que é o g r a n d e i n s t r u m e n t o o p e r a t ó r i o da

episteme

c l á s s i c a . Todo o real é r e p r e s e n t á v e 1 , sem q u a l q u e r r e s q u í c i o de m i s t éri o. í no dom_í n i o epi s temol õgi co c o n s t i t u í d o por e s se e s p a ç o do

quadro,

situa^ do e n t r e o c á l c u l o das i g u a l d a d e s e a g ê n e s e das representj* ç õ e s , que a p a r e c e m os p r i m e i r o s n ú c l e o s de s a b e r em r e f e r e n c i a aos q u a i s c o m e ç a m a c o n s t i t u i r - s e as c h a m a d a s

"ciências huraa

n a s 11.

(20)

-se n u m d o m í n i o n o v o de o b j e t i v i d a d e , a l e m da

representação

e do

quadro.

Uma n o v a d i s p o s i ç ã o e p i s t e m o l Õ g i c a i n s t a u r a - s e : a O r d e m e s u b s t i t u í d a p e l a H i s t ó r i a . E s t a b e l e c e m - s e n o v o s c a m p o s de saber. I n i ç i a - s e a e r a das

p o s i t i v i d a d e s

. E n q u a n t o na

episteme

c l á s s i c a o h o m e m d e f i n i a - s e e s s e n c i a l m e n t e " r a z ã o " , na

episteme

m o d e r n a ele se r e v e l a o c e n t r o dos v a l o r e s e do c o n h e c i m e n t o . A v e r d a d e é obra h u m a n a , c u j a s e s t r u t u r a s d e v e m ser e x a m i n a d a s em sua referen^ cia ao ser, que é ao m e s m o t e m p o o seu i n v e n t o r e suport e. b e r a d o de t o d a t u t e l a , o h o m e m t o r n a - s e o m e s t r e das significa^ ções do U n i v e r s o : é a u t o r , s u j e i t o e o b j e t o da ação. 0 >objeto das c i ê n c i a s humanas e e s s e ser que, no i n t e r i o r da l i n g u a g e m p e l a qual e s t á c e r c a d o , possui no falar o s e n t i d o das p a l a v r a s ou das p r o p o s i ç õ e s que e n u n c i a e o b t é m f i n a l m e n t e a representa^

ção da p r ó p r i a l i n g u a g e m . N ã o se t r at a de uma a n á l i s e do que o h o m e m é p o r sua n a t u r e z a , mas do que o h o m e m é na sua

positi^

vidade

( v i v e n d o , t r a b a l h a n d o , f a l a n d o ) e o que p e r m i t e a esse m e s m o s e r s a b e r (ou p r o c u r a r s ab e r) o q ue ê a vid a, em que c o £ s i s t e a e s s ê n c i a do t r a b a l h o e suas leis e de que m a n e i r a pode f a l a r 1 0 . Sã o e s t a s as r a í z e s teóricas, a p o n t a d a s por F O U C A U L T , q ue i n f l u e n c i a r ã o as c i ê n c i a s h u m a n a s e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , aqui^ lo que se c o n v e n c i o n o u c h a m a r " C i ê n c i a do D i r e i t o " .

3 - DAS P O S I T I V I D A D E S A P O S I T I V A Ç Â O DO D I R EITO

Se, p or um l a d o » a

positividade

não q u a l i f i c a o c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o 1 1 , por o u t r o , diz r e s p e i t o ao d i s c u r s o

(21)

t e ó r i c o c o m p r e t e n s ã o ã

cie n ti f i c i d a d e 1 2

. Isto é, indepe-ndente dos c r i t é r i o s de v a l i d a ç ã o e s t a b e l e c i d o s pe l a s c i ê n c i a s , todo s a b e r te m uma

p o s i t i v i d a d e

, e é e s t a que deve ser e x a m i n a d a .

E st a s i t u a ç ã o , no t e r r e n o j u r í d i c o , p e r m i t i u a c o n s t i t u i ç ã o de um n o v o e s p a ç o de s a b e r , cujo t r a ç o m a i s carac^ t e r í s t i c o foi a

positivação do Direito.

E s t e f e n ô m e n o demons^ trou que o s a b e r j u r í d i c o n ão m a i s se e n c o n t r a p r e s o a p a r a m e

tros

i m u t á v e i s , c u j a s a l t e r a ç õ e s s e r i a m " e x c e ç õ e s " c o n f e r i d a s po r um d i r e i t o de s o b e r a n i a . Ao c o n t r á r i o , i n s t a u r a - s e a poj> s i b i l i d a d e de m u d a n ç a e c o n t i n g ê n c i a de um d i r e i t o na sociedade. N o u t r o f a l a r , a t e n t a t i v a de a d e q u a r o d i r e i t o à r e a l i d a d e , c o n s i d e r a n d o o h o m e m como o c e n t r o de tod a s as pos s i b i l i d a d e s , a c a b a c r i a n d o , d i a n t e de uma s i t u a ç ã o o b j e t i v a , m ú l t i p l o s v a l o r e s e v á r i a s e x p e c t a t i v a s de c o m p o r t a m e n t o , que

d e v e m ser r i g o r o s a m e n t e d e f i n i d o s .

A s s i m , a p r o c u r a de c r i t é r i o s que pe rmi tem deter m i n a r q u a i s e x p e c t a t i v a s , q u a i s v a l o r e s p o s s u e m v a l i d a d e le^ gal s u r g e c o m o uma n o v a e p r i n c i p a l p r o b l e m á t i c a da C i ê n c i a do Di rei t o .

A p a r t i r daí, a C i ê n c i a do d i r e i t o r e v e l a r - s e - á c o m o o c o n j u n t o de c o n d i ç õ e s que p e r m i t e m a to m a d a de d e c i s õ e s que d e t e r m i n a m a v a l i d a d e legal de uma e x p e c t a t i v a social ou de

um v a i o r q u a l q u e r 1 3 .

E m b o r a a p a s s a g e m da

episteme

c l á s s i c a ã

episte

me

m o d e r n a não t e n h a o c o r r i d o sem a l g u m Ô n u s , es t a ú l t i m a impõe n o v a s c o n s e q ü ê n c i a s ao p r i v i l e g i a r o a to de e s c o l h a - d e c i s ã o c o m o f o r m a de t r a ç a r as f r o n t e i r a s do que é d i r e i t o , bem como e v i t a r a e x i s t ê n c i a de c o n f l i t o s s o c i a i s i n s o l ú v e i s 11*.'

N e s s e s e n t i d o , e l í c i t o a f i r m a r que, no E s t a d o c o n t e m p o r â n e o , a g ê n e s e das n o r m a s e s t á p r e s a a um p r o c e s s o de

(22)

c i s o r i o , o n de as i n s t i t u i ç õ e s p o l í t i c a s , no e x e r c í c i o de uma f u n ç ã o h i e r á r q u i c a de g e s t ã o da s o c i e d a d e , c o n v e r t e m preferêji cias e a s p i r a ç õ e s de um g r u p o de i n d i v í d u o s em d e c i s õ e s públicas. T o d a v i a , a a d e q u a ç ã o e a l t e r a ç ã o do d i r e i t o , a p a r t i r da posj^ t i v a ç ã o , nã o o c o r r e u de f o r m a u n i f o r m e . A s s i m é que, n u m p r i m e i r o m o m e n t o , r e d u z i u - s e o d i r e i t o ã lei, e n q u a n t o n o r m a p o s t a pe l o l e g i s l a d o r . N e s s e sen^ tid o, p r i v i l e g i o u - s e a d e c i s ã o l e g i s l a t i v a , cuja c o n s e q ü ê n c i a foi a c e n t r a l i z a ç ã o o r g a n i z a d a da l e g i s l a ç ã o e a c o n c e p ç ã o cau^ sal e n t r e a v o n t a d e do l e g i s l a d o r e o d i re i t o . Em o u t r a s pala^ v r a s , o d i r e i t o p o d i a s er m o d i f i c a d o por uma lei, mas a lei não p o d i a se r m o d i f i c a d a pe l a v o n t a d e de q u a l q u e r c i d a d ã o ; os dj^

reitos e o b r i g a ç õ e s d e s t e ou d a q u e l e i n d i v í d u o ou õ r g ã o e r a m tj_ p i c a m e n t e o f r u t o de um p r o c e s s o l e g i s l a t i v o . Esse p r o c e s s o , c o mo um t o do , t r a t a v a a lei c o mo um q u a d r o de r e f e r ê n c i a , um c o £ j u n t o de d a d o s , por m a i s que f o s s e c o n t e s t a d o o seu significa^ do. A sua v a l i d a d e era c o n s i d e r a d a a le nta s e d i m e n t a ç ã o dos cos tu mes n e g o c i a d o s com os l e g í t i m o s d e t e n t o r e s da a u t o r i d a d e es^ t atal: os g o v e r n a n t e s .

Mas a c r e s c e n t e p r o l i f e r a ç ã o das s e n t e n ç a s judj_ c i a i s a m p l i o u a a b r a n g ê n c i a d e s t e c o n c e i t o para d e c i s õ e s que pu d e s s e m e x e r c e r na s o c i e d a d e uma f u n ç ã o n o r m a t i v a , co m o as j]j d i c i a i s e a d m i n i s t r a t i v a s . 0 D i r e i t o P o s i t i v o não e a p e n a s a q u e le qu e va l e em v i r t u d e de uma d e c i s ã o l e g i s l a t i v a , mas a q u e l e q ue v al e por f o r ç a de uma d e c i s ã o com f u n ç ã o n o r m a t i v a . No E ^

t a d o m o d e r n o , a t a r e f a de d e s e n c a d e a m e n t o de uma n or m a , d e n t r o do o r d e n a m e n t o , e d e t e r m i n a d a por uma d e c i s ã o que atua a l é m da v o n t a d e de q u e m a p r e s c r e v e , t r a n s f o r m a n d o um p o d e r p e s so a l e p a r t i c u l a r em a l g o i m p e s s o a l e geral. E se o d i r e i t o sõ e vali^ do m e d i a n t e d e c i s ã o , e s t a p r e s s u p õ e m o t i v o s que a j u s t i f i q u e m .

(23)

N e s t e s e n t i d o L U H M A N N e s c l a r e c e que

"taiò motivoò òão neceò&ãrioò e eòtão &ujei

toò ao controle òocial. 0 direito Voòitivo

não pode de {,orma alguma òzr compreendido

como um regulamento arbitrário.

0 eòtabele

cimento do direito e&tã muito mai& . depen

dente, como toda decisão, por e x e m p l ò , de

premiò&aò ,que ó e

preò&upõem que jã exi&tam

ò o c i a l m e n t e . A particularidade do Vireito

Voòitivo conóióte apenas em que também eò_

ta& premiò&ai de e&tabelecimento do direi

to òÕ podem & e r pre&t>upot>ta& como

direito

valido, quando

4 e

tiver tomado uma deci&ão

òobre e l a Á . A poóitiváção do direito òigni

iica, p o r t a n t o , que todo& oò valoreò -òo

c i a i ò , normaò e expectativa*s

de comporta

mento têm de her f,iltradoi atravêò de pro_

cet>òoò de deciàão, ante& de poderem ter va

lidade l e g a l " 1 5 .

D e n t r o de um s i s t e m a j u r í d i c o d o t a d o de quali_ d a d e s f o r m a i s , a d e c i s ã o e s t a i n t i m a m e n t e li g a d a â sua motivji ção, nã o sõ c o m o g a r a n t i a de uma m u d a n ç a p o s s í v e l mas, princj^ p a l m e n t e , oomo r e s p o n s á v e l pela a c e i t a ç ã o de c e r t a s d e c i s õ e s . T o d a v i a , o s i m p l i s m o i n o c e n t e de não se c o n c e b e r uma sem a o utra ( d e c i s ã o se m m o t i v a ç ã o ) e s c o n d e uma d u a l i d a d e de f e n ô m e n o s p e ^ t e n c e n t e s a p l a n o s d i s t i n t o s e, p or isso m e s m o , co m conseqüêii

16

c ia s d i s t i n t a s . Q u a n d o se fala em " m o t i v a ç ã o e d e c i s ã o " , o que se tem é a i d é i a u n i t á r i a do f e n ô m e n o , mas, para que a prj_ m e i r a p o s s a r e c e b e r a c h a n c e l a da c e r t e z a e i m u t a b i l i d a d e j u rí d i c a , d ev e s er f i l t r a d a p e l o m e s m o p r o c e s s o d e c i s ó r i o . Isto é, n ã o há g a r a n t i a de s o l u ç ã o m a t e r i a l do c o n f l i t o 1 7 , mas ap e na s f o r m a l , na m e d i d a em que certas questões não podem .mà.is ser r et o ma das n e m l e v a d a s a d i a n t e .

(24)

N e s t e s e n t i d o , o d i s c u r s o j u r í d i c o é, ao m e s m o t e m p o , s o b e r a n o e p r i s i o n e i r o : d o m i n a o h o m e m com uma normatj_ v i d a d e d e s p ó t i c a , dita e n u n c i a d o s n e c e s s á r i o s e a u t o r i z a outros p o s s í v e i s , mas s u b m e t e - s e a f ó r m u l a s a n t e r i o r m e n t e e s t a b e l e c i d a s p a r a o b t e r o c o n s e n s o de suas d e c i s õ e s . Isto é , p e r m i t e i n f i n i t a s j o g a d a s d e s d e que nã o se a l t e r e m os " p o n t o s de part_i_ da". 4 - A P O S I T I V A Ç A O DO D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V O Co mo diz B i e 1 sa ,

"Toda ins titucion jurZdica o polZtica

tiene una causa y un origem historico. En

algunos casos la i n s titucion no se justifi

ca por un interés general o social, sino

por un

interés de clase, que en el fondo

es un interés polZtico, pues de no ser asZ

no llegaria a tener concreciÕn positiva ;

siempre es necessário que algun poder dei

Estado le dé vi r t u a l i d a d , apoyo ij estabili

dad. Todo privilégio o situacion diferen

ciai, sea de orden p o l Z t i c o , econô m i c o , gre

miai, e t c . , viola el principio de igualdad

ante da lei, que es fundamental en la Cons_

titucion" 1 8 .

A d o u t r i n a d e m o n s t r a q u e 1 9 , a p a r t i r da Revoljj ç ão F r a n c e s a , p r o c u r o u - s e pela p r i m e i r a vez a p o s i t i v a ç ã o de um c o r p o de n o r m a s que m a r c a s s e p r o f u n d a m e n t e a r e l a ç ã o e n t r e o E s t a d o e os c i d a d ã o s : o D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o .

As i n f o r m a ç õ e s h i s t ó r i c a s m o s t r a m que no E s t a d o a b s o l u t i s t a o d i r e i t o legal foi i n s t r u m e n t o de c o n c e n t r a ç ã o , de

(25)

u n i f i c a ç ã o e r a c i o n a l i z a ç ã o do p o d e r do m o n a r c a . As leis com as q u a i s o s o b e r a n o r e g u l a v a as a t i v i d a d e s a d m i n i s t r a t i v a s não

e

r a m o b r i g a t ó r i a s pa r a o g o v e r n o nas suas r e l a ç õ e s c om os súdj. tos. Na F r a n ç a , p o r e x e m p l o , o p r o c e s s o p o l T t i c o d e i x o u de ser p r i m o r d i a l m e n t e e s t r u t u r a d o p e l a c o n t í n u a e l e g í t i m a t e n s ã o e c o l a b o r a ç ã o e n t r e dois c e n t r o s i n d e p e n d e n t e s de a u t o r i d a d e , o g o v e r n a n t e e as c o r t e s , pa r a d e s e n v o l v e r - s e e x c l u s i v a m e n t e a p a r t i r do g o v e r n a n t e e em t o r n o deste. A a u t o r i d a d e assentavai -se e x c l u s i v a m e n t e no m o n a r c a , que r e u n i a t o d as as prerrogatj_ vas p ú b l i c a s de g o v e r n o e f e t i v o . 0 m o n a r c a g o v e r n a v a a p a r t i r da c o r t e mas n ã o a t r a v é s dela. E st a e x p r e s s a v a a a u t o r i d a d e do m o n a r c a de um lado, e de o u t r o o i n s t r u m e n t a l que m a n t i n h a uma r e l a ç ã o d i r e t a e m a t e r i a l com os n e g ó c i o s do g ov e r n o .

" O s c o n s e l h o s a s s e s s o A a v a m o g o v t A n a n ' t e n a foAmação de s u a s d e c i s õ e s e eAam Aes_ pons ã v e i s p e A a n t e e l e pela. e x e c u ç ã o das mes_ m a ò . Os m e m b A o s e A a m p e s s o a l m e n t e ncmeados p e l o s o b e A a n o e a gi am como secu> s e A v i d o A e s , emb oA a f o s s e m f A e q u e n t e m e n t e de oA ige m no_ b A e . A q u e l e s p o d e A e s d is c Ai c i o n c i A i o s que os ò e A v i d o A e s do m o n a A c a t i n h a m n e c e s s a A i a m e n t e de e x e A c e A , a fim de m a n t e A em funcio_ n a m e n t o a m a q u i n a da a d m i n i s t k a ç ã o >e a l i v i a A o g o v e A n a n t e doj> d e c i s õ e s do dia-a-dia, eA am, n e s s e e s t a g i o , i n v e s t i d o s n e l e s poA d e t e A m i n a ç ã o p e s s o a l do g o v e A n a n t e , não es_ t a b e l e c i d o s e d i s c i p l i n a d o s p oA l e i " 2 0 . E n t r e t a n t o , o m o d e l o p r u s s i a n o , r e p r e s e n t a d o pe lo g o v e r n o de F r e d e r i c o o G r a n d e ( 1 9 4 0 / 8 6 ) , d e m o n s t r a que a cor te p e r d e u m u i t o do seu s i g n i f i c a d o p o l í t i c o . Os i n d i v í d u o s que p r e e n c h i a m os q u a d r o s dos ó r g ã o s e r a m f u n c i o n á r i o s d e v i d a m e n t e n o m e a d o s p a r a d e t e r m i n a d a s r e p a r t i ç õ e s e, e m b o r a não possuís^

(26)

s e m d i r e i t o s de p r o p r i e t á r i o s , e s t a v a m sob a o r i e n t a ç ã o e c o £ t r o l e de um c o n j u n t o de n o r m a s p r o m u l g a d a s , que a r t i c u l a v a m o p o d e r do E s t a d o com um c e r t o n ú m e r o de f un ç õ e s . Na fase sete c e n t i s t a , o E s t a d o a b s o l u t i s t a f u n c i o n a v a c o m o i n s t r u m e n t o das p r ó p r i a s leis p or ele p r o m u l g a d a s , t o r n a n d o suas a t i v i d a d e s s i s t e m a t i z a d a s , c o o r d e n a d a s , p r e v i s í v e i s , m e c â n i c a s e impes^ s o a i s .

0 E s t a d o t r a n s c e n d i a a p e s s o a f í s i c a do seu che fe s u p r e m o , a t r a v é s da d e s p e r s o n a l i z a ç ã o e o b j e t i v a ç ã o do seu p od e r. 0 p o d e r central e s o b e r a n o não era l i m i t a d o por qualquer lei, mas os p r i v i l é g i o s m e d i e v a i s f o r a m s u b s t i t u í d o s por um sis^ tema j u r í d i c o e s c r i t o - o D i r e i t o P ú b l i c o -, a p r e s e n t a n d o já os c a r a c t e r e s de a b s t r a ç ã o , g e n e r a l i z a ç ã o e f o r m a l i d a d e do si:s tema j u r í d i c o m o d e r n o .

Uma boa s í n t e s e do p r o c e s s o de e d i f i c a ç ã o admj_ n i s t r a t i v a foi d e s c r i t o p or S C H I E R A 21 da s e g u i n t e forma:

" 0

príncipe logrou substitui*, o siste

ma administrativo corporativo por um prÓ_

prio, baseado cm funcionários que. depen

diam diretamente dele, que lhe eram fiéis

e ocupavam cargos de origem comiss arial.Em

bora vinculados ao príncipe pessoalmente,

os funcionários constituíam s

óm£.taneame.n

te uma entidade u n i f i c a d a , dotada de uma

dinâmica que lhe era intrlns eca e que não

se apoiava inteiramente na própria pessoa

do p r í n c i p e

.

Era sempre o príncipe quem co_

ordenava as atividades dos vários ramos da

administração; mas esta funcionava sob seu

próprio impulso, graças ã sua estrutura or

ganizacional. Existia um elo entre' a admi

nistração e o p r í n c i p e , um elo deveras aper

t a d o

;

mas os seus efeitos eram, por assim

(27)

di.zz.ti, & H t A .a d o6 atA.avzò d z um novo c o n c z i t o c z n t r a l d z " ò a l u ò p u b l i c a " ou bzm comum.

F o r m a l m z n t z , a A z l a ç ã o com o p r Z n c i p z a i n d a zh.a p z ó ó o a l , moi a pn.opA.ia p z ò ò o a do pnZn_ c i p z t i n h a c o mz ç a d o a &zn. v i ò t a , óobA. ztudo, como a do pA.imziA.0 &ZA.vidoA." .

0 D i r e i t o P ú b l i c o s i n t e t i z a v a as n o r m a s que re g u i a v a m o f u n c i o n a m e n t o das r e p a r t i ç õ e s i n f e r i o r e s em r e l a ç ã o as s u p e r i o r e s , e t o r n a v a m as i n s t i t u i ç õ e s do E s t a d o cada vez m a i s " p ú b l i c a s " , c a da vez m ai s s u j e i t a s aos c o d i g o s e e s t a t u tos o f i c i a l m e n t e p r o m u l g a d o s e p u b l i c a d o s . I n v e s t i d o de um po d er s u p e r i o r s o b r e a s o c i e d a d e , o E s t a d o foi d i s t a n c i a n d o - s e d e s t a p a r a i n s t a l a r - s e n u m nível m ai s e l e v a d o e proprio,' até que o r e c o n h e c i m e n t o da d i s t i n ç ã o e n t r e s o c i e d a d e civil e E s t £ do i m p ô s o d e s e n v o l v i m e n t o de um n o v o c o r p o t e ó r i c o de r e g r a s - o D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o - que d e s d e a sua o r i g e m foi c o n c e b ^ do c o m o um D i r e i t o a u t ô n o m o , d i s t i n t o por e s s ê n c i a do c h a m a d o D i r e i t o P r i v a d o 2 2 .

Mas se a d i s t i n ç ã o e n t r e D i r e i t o P ú b l i c o e Pr_i_ v a d o é s i m u l t a n e a m e n t e c ô m o d a e útil na s o c i e d a d e , é, em contra p a r t i d a , d i s c u t í v e l que ela seja c o n s i d e r a d a co m o uma classifj_ c a ç ã o f u n d a m e n t a l da C i ê n c i a J u r í d i c a . Esta d i c o t o m i a interes^ sa d i r e t a m e n t e ao que d e n o m i n a m o s hoje em dia de " i m a g i n á r i o s o c i a l " . R e c o b e r t o p o r e s s á n o ç ã o , o e s p a ç o so cial t r a n s f o r m a - -se no e s p a ç o do texto. E no espaço público, o poder funciona como p r o d u t o r e p r o p r i e t á r i o do s e n t i d o , de f o rm a que os jogos das instituições públicas são d e s d e o p r i n c í p i o j o g os de l i n g u a g e m q u e c o l o c a m em m o v i m e n t o s e r e s h u m a n o s e n q u a n t o seres da p al a vr a .

A a d m i n i s t r a ç ã o n ã o po d e ser r e g i d a p el o s mesmos p r i n c í p i o s q ue v i g o r a m p a r a os p a r t i c u l a r e s ; o seu r e g i m e dife re das r e g r a s a p l i c á v e i s no c a m p o das r e l a ç õ e s p r i v a d a s , pois,

(28)

a l ç a n d o - s e ã c o n d i ç ã o de i n s t â n c i a p ú b l i c a , a c i m a dos i n t e r e ^ ses p a r t i c u l a r e s , o p o d e r p o l í t i c o e s t a b e l e c e a o r d e m , assegij r a n d o , p o r via de c o n s e q ü ê n c i a , o

interesse geral.

Em ou t r a s p a l a v r a s , na m e d i d a e m que es t e p o d e r r e p r e s e n t a o i n t e r e s s e g e r a l , n ã o ha pa ra o E s t a d o l i m i t e s e x t r a p o l í t i cos , m o r a i s , re l i g i o s o s , j u r í d i c o s etc. E s t a e s f e r a p ú b l i c a c o n d u z i r a ao cen t r a l i s m o b u r o c r á t i c o , p ois, no d i z e r de A n d e r s o n 2 3 ,

" é caAacte.AZs tico que. cus monaAquias absolu t is t a s do Ocide.nte. tenham confiado a uma camada de. Izgistcus ze.losos o cuidado do. fa ze.A funcionati suas máquinas adminis t A a ti vcu> (...) ImbuZdos daò doutAinaò Aomanas sobAe. a autoAidade. de.cn.etal dos phZncZpes c das concQ.pq.Ge-i Aomanas dai noAmas legais

unitaAias , esses l e g a l i s t a-ò bun.ocn.atou, fo_ Aam aqueles que. fizeAam aespeita A p ela foA

ça o centAalismo A eal duAante o pAimeino s é c u lo cAZtico da constAução do Estado ab_ 6 olutis t a 1' .

A s s i s t e - s e , d e s t a f o rm a, ao n a s c i m e n t o da buro c r a c i a . Os c a r g o s p ú b l i c o s a d q u i r e m p r o g r e s s i v a m e n t e o c a r á t e r de f u n ç õ e s p o l í t i c a s do E s t a d o , d e s v i n c u l a n d o - s e da q u a l i d a d e de seus t i t u l a r e s , e n q u a n t o m e m b r o s de uma " ca s ta " . 0 exercí^ cio d e s s a s f u n ç õ e s n ã o s u r g e c o mo a r e a l i z a ç ã o dos i n t e r e s s e s e c o n ô m i c o s e p o l í t i c o s dos seus t i t u l a r e s , mas c om o um exerejí cio a u t ô n o m o das f u n ç õ e s do E s t a d o r e p r e s e n t a n d o o i n t e r e s s e

g e r a l 2 4 .

Em s u m a , o E s t a d o a b s o l u t i s t a ê c a ra ct e ri z ad o pe lo f a t o de que o t i t u l a r do p o d e r e s t a t a l c o n c e n t r a em suas m ã o s um p o d e r i n c o n t r a s t ã v e 1 pelas outra s i n s t i t u i ç õ e s e cujo e x e r c í c i o não é c o n t i d o por n e n h u m a lei l i m i t a t i v a .

(29)

a d m i n i s t r a ç ã o c o m p l i c a d a e c e n t r a l i z a d a " , um d i r e i t o de p o H c ia , b e m c a r a c t e r í s t i c o , mas n ã o e x i s t i a a i n da um d i r e i t o a d m ^ n i s t r a t i v o t í p i c o , n e m uma o r d e n a d a l e g i s l a ç ã o que lhe disses^ se r e s p e i t o 2 5 .

A g u s t i n G o r d i l l o 26 admit e que de tal f a c u l d a d e i l i m i t a d a s u r g i s s e c e r t o o r d e n a m e n t o p o s i t i v o , p o r é m s em invó l u c r o de d i s c i p l i n a j u r í d i c a , pois é " p r o v á v e l que n u n c a h o £ v e s s e c o n s c i ê n c i a de que se t r a t a v a de uma r e l a ç ã o e n t r e sujej[ tos d i f e r e n c i a d o s " , ou, c om o q u e r R a n e l l e t t i , a r e s p e i t o das leis c o m as q u a i s o s o b e r a n o r e g u l a v a a a t i v i d a d e admini stratj_ va, " n ã o e r a m o b r i g a t ó r i a s para o g o v e r n o em suas r e l a ç õ e s com os s ú d i t o s , não c o n s t i t u í a m para e s t e s n e n h u m a g a r a n t i a " . N e s t e p o n t o , e n c o n t r a m o - n o s d i a n t e de uma vel h a q u e s t ã o : o que d e t e r m i n o u a s i s t e m a t i z a ç ã o do s a b e r administrjj t i v o c o m o um dos r amos do D i r e i t o ? E m b o r a a s i s t e m a t i z a ç ã o p o s s a c o i n c i d i r com a t r a n s i ç ã o do c h a m a d o " E s t a d o de P o l í c i a " para o c h a m a d o "Esta^ do de D i r e i t o " , nã o se p od e i g n o r a r que o n a s c i m e n t o de um sa b e r j u r í d i c o n ã o é p ur a e s i m p l e s m e n t e o r e s u l t a d o da transj^ ção h i s t ó r i c a de uma f o r m a de E s t a d o para o u t r a , mas das neces^ s i d a d e s p o l í t i c a s e s o c i a i s de uma d e t e r m i n a d a f o r m a ç ã o social. Q u a n d o as cr i s e s do E s t a d o a b s o l u t i s t a invocjj r a m u m n o v o p r o j e t o c o n s t i t u c i o n a l do E s t a d o , as e s t r u t u r a s es^ t a t a i s jã e s t a v a m e s t a b e l e c i d a s e f o r t e m e n t e m a r c a d a s pela dj_ c o t o m i a E s t a d o / s o c i e d a d e civil. E, n e s t e c o n t e x t o , a b u r g u e s i a e u r o p é i a , c o m o uma m u l t i d ã o de i n d i v í d u o s p a r t i c u l a r e s , buscjj va a sua i d e n t i d a d e social c o m o a de uma c l a s s e que não pode r ia s e r m a n t i d a , c o m o o E s t a d o , por Ó r g ã o s i n t e r n o s de autori_ dade. As n e c e s s i d a d e s de uma c l a s s e d e t e n t o r a de r e c u r s o s cr_í t i c o s no m e r c a d o s ão d i f e r e n t e s das de um E s t a d o , e e m b o r a não

(30)

e x i j a p o d e r e s de g o v e r n o , nã o p o de p r e s c i n d i r i n t e i r a m e n t e de um g o v e r n o . 0 g o v e r n o , como uma e sfe ra p ú b l i c a acima da socie d a d e , jã era e n t ã o o Õ r g a o c a p a z de s a l v a g u a d a r o funcionameii to a u t ô n o m o do m e r c a d o . E n t r e t a n t o , a i n t e r v e n ç ã o d e l i b e r a d a do s o b e r a n o nos n e g ó c i o s de c o m é r c i o , c om o as r e s t r i ç õ e s à com p e t i ç ã o e os m o n o p ó l i o s , l e v o u - a a l a n ç a r um d e s a f i o p o l í t i c o r a d i c a l c o n t r a o a b s o l u t i s m o . Esse d e s a f i o , c o l o c a d o p e l a bur g u e s i a - c o r a o - p ú b l i c o 2 7 , n e c e s s i t o u da a d e s ã o de v á r i o s s e t o r e s da s o c i e d a d e p o l í t i c a , isto é, dos s u j e i t o s que, e m b o r a não p e r t e n c e s s e m ã c l a s s e b u r g u e s a , p o d i a m i n v o c a r e m n om e da "n £ ção" ou do "p o v o " os v í c i o s e v i r t u d e s do E s t a d o , p r o p o n d o m e i o s p a r a a t i n g i r o b e m e s t a r social e a p e r f e i ç o a r a sua le

gi s 1 a ç ã o .

0 c h a m a d o " E s t a d o de d i r e i t o " que se i n s t a r o u a p ós a R e v o l u ç ã o F r a n c e s a foi ma i s do que uma p r o p o s t a polítj^

ca de t r a n s f o r m a ç ã o da r e l a ç ã o e n t r e o p o d e r e os administrados, foi uma f ó r m u l a p r a t i c a pa r a e v i t a r a c o n c e n t r a ç ã o de p od e r, p o s s i b i l i t a n d o m e i o s pa ra c o m b a t ê - l o e m a n t ê - l o em seus limj_ tes. S o b r e e st e p o n t o , os j u r i s t a s são u n â n i m e s em a f i r m a r que s o m e n t e a p a r t i r do E s t a d o de d i r e i t o o D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o l o g r o u a sua s i s t e m a t i z a ç ã o em v i r t u d e do bi 1 ateral i smo obriga^ c io n a l e n t r e E s t a d o e a d m i n i s t r a d o s , que S e a b r a F a g u n d e s traduz c o m o :

" difieitoò do E

òtado, em face. do i n d i v Z d u o ,

a determinadas prestações

(conteúdo das o_

brigaçõe-&

públicas) e. que. o indivZduo, por

sua vez, tem também, diante do Estado, di

fieito a outras tantas pres tações em que se

sieòolvem ot> chamadoò diAeitoò individuaiò

[difieitoò 4

ubjetivois públicos do indivZ

d u o j " 2 8 .

(31)

No E s t a d o de d i r e i t o , o p r i n c í p i o da l e g a l i d a d e d e t e r m i n a , p o r seu a c a t a m e n t o , a autol imi t a ç ã o do p o d e r P o 1 í t_i_ co, de f o r m a que jã n ã o se diz m ai s que o E s t a d o ou o rei pode f a z e r o que q u e r e que n e n h u m a lei o o b r i g a , mas que e s t a obri_ g a d o a r e s p e i t a r " d i r e i t o s i n a l i e n á v e i s que n ã o pode d e s c o n h e cer, p o r q u e s u p e r i o r e s e p r e e x i s t e n t e s a e l e " 2 9 .

As a t i v i d a d e s a d m i n i s t r a t i v a s são l i m i t a d a s pe 1 a ;§ubordinação ã o r d e m j u r í d i c a , em c o n t r a s t e c om o s i s t e m a a£ t e r i o r , no qual o i n d i v í d u o e ra c o n c e b i d o co m o o b j e t o do p o d e r e s t a t a l e nã o c o m o s u j e i t o que com ele se r e l a c i o n a s s e .

0 p r i n c í p i o da l e g a l i d a d e é uma c o n s e q ü ê n c i a do s i s t e m a de l e g i s l a ç ã o e s c r i t a e da p r ó p r i a n a t u r e z a da f u n ç ã o

a d m i n i s t r a t i v a , que nã o pode ser e x e r c i d a s e m que ha j a um tex to legal que a a u t o r i z e ou que e s t a b e l e ç a o seu limite.

A f i x a ç ã o do d i r e i t o em t ex t os e s c r i t o s p r o c u r a a t e n d e r a duas n e c e s s i d a d e s : a u m e n t a r a s e g u r a n ç a e a p r e c i s ã o de seu e n t e n d i m e n t o e e x c l u i r o a r b í t r i o no d e s e n v o l v i m e n t o das r e l a ç õ e s s o c i a i s .

C o n t u d o , n ão se deve s u p e r e s t i m a r a r u p t u r a en^ tre o s i s t e m a a b s o l u t i s t a e o que se lhe segu i u. I n ú m e r o s ele m e n t o s d e m o n s t r a m a c o n t i n u i d a d e do s i s t e m a a b s o l u t i s t a no chji m a d o " E s t a d o de d i r e i t o " , com o , por e x e m p l o , o m o d o formal e

a b s t r a t o do d i s c u r s o j u r í d i c o . C o n s i d e r a d o , no s i s t e m a a b s o l u t i s t a , c o mo um con j u n t o de r e g r a s g e r a i s e a b s t r a t a s - c u jo e f e i t o era f o r m a r um s i s t e m a u n i t á r i o , l o g i c a m e n t e h o m o g ê n e o , c o e r e n t e e s em lacu n as , de n o r m a s o b r i g a t ó r i a s - o d i r e i t o foi t r a n s p o s t o para o c h a m a d o " E s t a d o de -direito" c o m o uma n o v a e r e q u i n t a d a ' e s p é c i e de

discurso sobre o método,

c a r a c t e r i z a d o p or um i r r e f r e á v e l i m p u l s o no s e n t i d o da

sistematização

de seu o b j e t o de estudo.

(32)

A

sistematização

sera o a r g u m e n t o para a tão de c a n t a d a c i e n t i f i c i d a d e do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o .

C o mo a f i r m a , e n t r e o u t r o s , MASAGftO:

"...

as abundantes normas romanas relati

vas ao serviço público não possuíam cunho

sistemático... Mas não e possível confun

dir essas regras, normas e opiniões , com m

corpo científico. S Ó

modernamente e que os

pesquisadores procuraram classifica-l a s ,

s i s t e m a t i z á - l a s , buscando através da sua

complexidade um fio condutor'130.

P o r o u t r o lado, as p a l a v r a s de P O U L A N T Z A S cons^ t i t u e m um e x e m p l o n o t á v e l da e s p e c i f i c i d a d e d es t e n o v o p r o j e t o c o n s t i t u c i o n a l , que se i n s t a u r a após a R e v o l u ç ã o F r a n c e s a :

" 0

arcabouço centralizador-burocráti

co-hierãrquico desse Estado so é possível

em si porque se alça num sistema de normais

gerais, abstratas, formais e axiomatizadas,

sistema esse que organiza e regula as rela

ções entre os escalões e aparelhos impes_

soais de exercício do poder. 0 que se de

signa sob o termo "Vireito Administrativo"

corres ponde exatamente a esta lei em seus

efeitos de estruturação do Estado. A

lei e

o regulamento estão na base do recrutamen_

to dos agentes do Estado

(concursos e exa

mes impessoais), do funcionamento do texto

escrito e da dogmática do discurso interno

ao Estado. Viscurso que não encarna,

nem

revela, nem interpreta a Palavra Vivina

[real, senhorial) por uma relação mística

mais ou menos direta e pessoal de todo ser

vidor de Veus [do Rei, do Senhor): ele pre

tende concretizar por segmento.

ò

e patama

(33)

plicação concreta, num encade.ame.nto logico_

-dedutivo (a lógica jurídica) que não pa

6 a do percurso de uma ordem de dominação-

-s u b o rdinação, de um trajeto de decióão-e

xecução interna ao E ó t a d o " 3 1 .

Nos s i s t e m a s p o l í t i c o s c o n t e m p o r â n e o s , o d i r e ^

to escrito

c o n t i n u a s e n d o o m o d o c l á s s i c o de e x p r e s s ã o do Esta^ do m o d e r n o , a sua p r ó p r i a

linguagem;

e como os g r a n d e s p r i n c í pios do D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o , i n c o r p o r a d o s p e l o p r o c e s s o de p o s i t i v a ç ã o do d i r e i t o , f o r a m c o n s i g n a d o s em te xt o s e s c r i t o s , n ã o ê p o s s í v e l f a z e r um e s t u d o m a i s c r í t i c o d e s t e o b j e t o , des^ p r e z a n d o sua d i m e n s ã o l i n g ü í s t i c a . A e x i s t ê n c i a de um d i r e i t o e s c r i t o im põe o e s t £ do do v e í c u l o e s s e n c i a l da sua a t i v i d a d e : a l i n g u a g e m jurídica. A n a l i s e m o s , p o r t a n t o , e s sa l i n g u a g e m sob uma no va p e r s p e c t i v a : a

discursiva.

(34)

Cf. B O U R D I E U , P i e r r e , EJ_ O f i c i o de S o c i ó l o g o , M é x i c o , Sj_ XXI, 1 975 , p . 34. A

observação

ê a s s u m i d a com as r e s s a l v a s c r T t i c a s de B O R D I E U , s e g u n d o o qual "el p r i n c i p i o de la no c o n s c i ê n c i a i m p o n e , por el c o n t r a r i o , que se c o n s t r u y a el s i s t e m a de r e l a c i o n e s o b j e t i v a s en el qual los i n d i v T duos se h a l l a n i n s e r t o s y que se e x p r e s s a m u c h o más ade q u a d a m e n t e en la e c o n o m i a o en la m o r f o l o g i a de los grupos q ue en las o p i n i o n e s e i n t e n c i o n e s d e c l a r a d a s de los suje tos. El p r i n c i p i o e x p l i c a t i v o dei f u n c i o n a m e n t o de una or g a n i z a c i ó n e s t á mu y lejos de que lo s i m i n i s t r e la descrijD ciÓn de las a c t i t u d e s , las o p i n i o n e s y a s p i r a c i o n e s indj_ v i d u a l e s ; en ri g o r , es la c a p t a c i Ó n de la ló g ic a o b j e t i v a de la o r g a n i z a c i ó n lo que p r o p o r c i o n a el p r i n c i p i o capaz de e x p l i c a r , p r e c i s a m e n t e , a q u e l l a s a c t i d e s , o p i n i o n e s y aspi raci o n e s " .

Cf. P O P P E R , Karl , Lógi ca das C i ê n c i a s Soei a i s , Rio de Ja^ n e i r o , T e m p o B r a s i l e i r o , 1978, p. 14.

K E L S E N , H a n s , Teori a P u r a do Di re i t o , C o i m b r a , A r m ê n i o A m a d o , e d i t o r , 1976. p . 137.

(35)

de M I R A N D A R O SA , F.A. de, Soei oiogi a do Di rei t o , Rio de J a n e i r o , Z a h a r E d i t o r e s , 1981, p. 33.

(5) Cf. F O R S T H O F F , E r n e s t , T r a t a d o de D e r e c h o Admi ni strati v o , I n s t i t u t o de E s t ú d i o s P o l í t i c o s , M a d r i , 1958. N e s t e m e s m o m o s e n t i d o , o e m i n e n t e B A N D E I R A DE M E L L O , O s v a l d o A r a n h a , i n P r i n c í p i os Gerai s do Di rei to Admi n i s trati v o , F o r e n s e , vol. I, 1979, p. 51, s a l i e n t a : "0 D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o , c o m o r a m o a u t ô n o m o do D i r e i t o P ú b l i c o , e de r e c e n t e forma ção. R e a l m e n t e , c o m o i n d a g a ç ã o c i e n t í f i c a sõ s u r g i u no sé c u l o p a s s a d o , e m b o r a t e n h a m e x i s t i d o n o r m a s j u r í d i c a s or d e n a n d o a a t i v i d a d e do Es t a d o - p o d e r , ou se ja m , a sua orgai n i z a ç a o e a sua a ç ã o de c r i a ç ã o de u t i l i d a d e p ú b l i c a no Es t a d o - s o c i e d a d e , de m o d o d i r e t o e i m e d i a t o , ,.na consecui ç ão de seu fim".

(6 ) Cf. F O U C A U L T , M i c h e 1 , L ' A r c h é o l o g i e du S a v o i r , G a l l i m a r d , 1969, p . 250 e segs. " P o r e p i s t e m e se e n t e n d e , de fato, o c o n j u n t o das r e l a ç õ e s p o d e n d o u nir, numa m e s m a é p o c a dada, as p r á t i c a s d i s c u r s i t i vas que dão l ug a r a f i g u r a s e p i s t e m o l Õ g i c a s , ãs c i ê n c i a s , e v e n t u a l m e n t e a s i s t e m a s f o r m a l ^

zados: (...) é o c o n j u n t o das r e l a ç õ e s que se pode d e s c o b r i r , p a r a uma é p o c a dada , e n t r e as c i ê n c i a s , q u a n d o se £ n a l i s a ao nível das i r r e g u l a r i d a d e s d i s c u r s i v a s " .

(7) Cf. F O U C A U L T , M i c h e l , ob. cit. p. 248/9.

( 8 ) C f . F O U C A U L T , Mi chel , As p a l a v r a s e as c o i s a s , São P aulo, M a r t i n s F o n t e s , 1966, p. 34.

Referências

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