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Introdução [Cruzar Histórias: I Oficinas Luso-Afro-Brasileiras]

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Academic year: 2021

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LUÍS ALBERTO MARQUES ALVES GASPAR MARTINS PEREIR A

A concretização das I Oficinas Luso-Afro-Brasileiras no Porto em outubro de 2016 constituiu a primeira iniciativa conjunta do Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Estado da Bahia e o CITCEM (Centro de Investigação Transdisci-plinar Cultura, Espaço e Memória) decorrente do protocolo de intercâmbio e parceria científica entre as duas instituições. Conforme está espelhado na cláusula segunda desse protocolo, o objetivo é o desenvolvimento de projetos conjuntos, tendo em vista a realização de pesquisas em campos específicos, o intercâmbio de estudantes e docentes, a candidatura a programas internacionais, a organização de seminários e outros eventos, a permuta de trabalhos e resultados científicos.

A afinação desta parceria levou-nos à identificação de temáticas científicas sobre as quais valia a pena investirmos, face à existência de investigadores que de um e outro lado do Atlântico sobre elas trabalhavam, quer para facilitar e realização de encontros temáticos onde fosse possível concretizar “pontos de situação” ou responder a problemas sobre os quais interessava trocar experiências. Foram assim identificados quatro temas em que irão centrar-se os encontros científicos anuais a realizar na Bahia e no Porto: História, Memória e Património luso-afro-brasileiros; História da Educação e Ensino da História; História e Cinema; Redes Comerciais Atlânticas.

Transformando o I Encontro num espaço aberto onde as várias temáticas pudessem ser abordadas, e neste aspeto diferente da estrutura monotemática que se pretende para os seguintes, procurou-se encontrar intervenientes que partilhassem alguns dos seus trabalhos ou perspetivas sobre as temáticas que tinham sido identificadas como aproximativas dos interesses científicos de ambas as partes.

Num primeiro painel, Sara Farias apresentou uma comunicação sobre “História, Memória e Patrimónios luso-afro-brasileiros”, que foi comentada por Gaspar Martins Pereira; num segundo, Cláudia Ribeiro apresentou algumas das perspetivas investigativas que estão a ser corporizadas pelo CITCEM nas áreas da História da Educação e do Ensino da História, a que se seguiu o comentário de Luís Alberto Alves; Maria das Graças Leal e Maria Cecília Velasco e Cruz apresentaram estudos de caso no âmbito

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do tema “Redes comerciais atlânticas luso-afro-brasileiras”, tendo por comentadora Amélia Polónia; no último painel, Pedro Alves centrou o seu enfoque na relação entre “História e Cinema”, uma das áreas onde o Centro de Investigação tem publicado e prestado serviços ao exterior, sobretudo na área da formação de professores e, em particular, dos que estão adstritos ao Plano Nacional de Cinema. O comentário a esta comunicação foi feito por Hugo Barreira.

A partilha oral e respetivos comentários ou intervenções dos presentes, devia, no nosso entender, dar lugar a uma síntese escrita, sobretudo dos textos apresentados pelos conferencistas, procurando, a posteriori suscitar outro tipo de reflexões, mas também demarcar um terreno de partilha de investigações e experiências, objeto central do protocolo celebrado. Seria também a materialização visível de um projeto que ainda está na sua fase inicial e, por isso, necessita de evidências que possam ser agregadoras para outros interessados, das Universidades e Centros de Investigação envolvidos ou de outros que tenham afinidades temáticas e científicas.

Sistematizando algumas das ideias que marcaram os textos entretanto escritos e agora divulgados, destacaríamos a reflexão “sobre a relação entre história, memória e uso dos patrimónios” de Sara Oliveira Farias, começando por precisar os conteúdos que preenchem alguns dos conceitos que entendeu mais pertinentes. Desde logo, Património e Educação Patrimonial, defendendo que “a Educação Patrimonial deve ser compreendida como um processo constante, sistemático, centrado no patrimônio cultural como instru-mento de afirmação da cidadania e envolve a comunidade. Nesse sentido, a Educação Patrimonial só é possível quando se trabalha a Interpretação do Patrimônio”. Esclarece ainda duas noções que devem ser avocadas para este estudo: “história do lugar” e “memória construída”. O objetivo central é, no seu entender, “interpretar o patrimônio (tanto o material quanto o imaterial) tendo como foco revelar significados, provocar emoções, estimular a curiosidade, propor uma experiência inesquecível, fortalecer as identidades culturais entre outros aspetos. Assim, a interpretação é uma atividade educativa não se limitando a dar uma mera informação de seus efeitos”. Para materializar o seu pensamento transmite-nos depois dois exemplos – trabalhos sobre o “Forte Militar da Península de Itapagipe (Forte de Mont Serrat)” e sobre a “Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Pelourinho” – para melhor entendermos a perspetiva em que se coloca e a metodologia e técnicas de investigação que considera mais apropriadas, em particular a utilização do recurso à História oral, pois considera que “o uso da memória é funda-mental também para discutir a relação passado e presente a partir desta relação, pensar o patrimônio, enquanto cultura, memória e, sobretudo, enquanto história”.

Cláudia Ribeiro centrou o seu texto na bissetriz de duas valências científicas que justificam o trabalho de grupos de investigadores no quadro do CITCEM: História da Educação e Educação Histórica, a primeira no âmbito do doutoramento em História, e a segunda procurando dar sustentação ao Mestrado em Ensino de História, ambos

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os ciclos sedeados na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Relativamente à História da Educação preferiu provocar-nos com algumas evidências, sempre questio-nadas, mas que justificam muitas das incursões científicas, seja para as validar seja, sobretudo, para as questionar de forma sustentada: “as escolas são todas iguais”; “a história não quer saber do agora”; “à terra onde fores ter, faz como vires fazer”; “palavras leva-as o vento”; “espaços belos, ensino são”; “dos fracos não reza a história”. Alegorias, metáforas ou simples ditados populares, serviram sobretudo para introduzir as várias teses, traba-lhos, congressos, colóquios, seminários ou encontros onde a partilha de perspetivas sobre a educação no tempo, sobre os diferentes atores ou sobre as politicas educativas que contextualizam e condicionam as mudanças, são uma realidade e uma evidência dos diferentes caminhos que esta área científica tem percorrido.

Em relação à segunda linha de intervenção procurou esclarecer o sentido, o conteúdo e os enfoques que mais têm sido percorridas. Afirma no seu texto:

A Educação Histórica é uma linha de investigação que tem focado a sua atenção nos princípios, fontes, tipologias e estratégias de aprendizagem em História, seguindo o pressuposto de que a qualidade das aprendizagens exige um conhecimento estruturado e sistemático das ideias dos alunos, por parte de quem ensina. Eu acrescentaria o interesse em conhecer as competências de literacia histórica dos professores para se compreender a forma como estes desenvolvem nos alunos um conjunto de competências de interpre-tação e compreensão do passado relevantes para a formação da consciência histórica.

É nesta perspetiva que temos trabalhado, formado os futuros professores e incentivado mestres em Ensino a avançarem para investigações de doutoramento e pós-doutoramento, garantindo a consistência científica para o que fazemos (Mestrado em Ensino de História ou linha de investigação em Educação Histórica dentro do CITCEM).

Maria das Graças Leal trouxe-nos um texto sobre os “Trapiches e Trapicheiros na dinâmica portuária da Salvador Colonial”. Pela originalidade, mas também pela semelhança com outros espaços de apoio que fomos tendo ao longo da costa africana, este é um bom exemplo das potencialidades comparativas que as nossas Histórias nos podem trazer. Fica desde já o enfoque do seu artigo:

No contexto da expansão comercial atlântica portuguesa na América, os trapiches se constituíram em pontos estratégicos que asseguraram a base portuária que serviu, ao longo do período colonial, aos interesses metropolitanos e coloniais, por garantirem a realização efetiva das práticas econômicas, sociais e políticas no âmbito da comer-cialização intercolonial, regional e local. A partir da segunda metade do século XVI, o porto de Salvador, na Bahia, considerado ‘Porto do Brasil’, projetou-se como porto de escala para a Carreira da Índia, transformando-se na principal via de acesso ao território conquistado, bem como de saída das suas riquezas naturais valorizadas no mundo colonial.

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Mas também a perspetiva de este estudo de caso poder constituir um “modelo ana-lítico” a utilizar em futuros estudos, cumprindo assim uma das vertentes mais instigantes que este projeto/protocolo pode realmente ter ao unir as duas comunidades científicas. Esta ideia é reiterada de uma forma clara quando afirma que este exemplo tem “o objetivo de acompanhar o papel dos trapiches e seus proprietários trapicheiros no contexto portuário e comercial da Salvador colonial, pretendendo-se, a partir da trajetória do Trapiche Barnabé, tomado como unidade analítica, identificar elos dessa importante cadeia comercial e a dinâmica de transformações da estrutura e do funcionamento portuários.”

Em linha temática aproximada, Maria Cecília Velasco e Cruz procura dar-nos alguns flashes do quotidiano da região portuária do Rio de Janeiro. Como afirma a investigadora da UNEB.

O objetivo é mostrar que a compreensão da formação e marcha do mercado de trabalho no porto do Rio de Janeiro no século XIX implica análises que combinam diferentes níveis de reflexão, instâncias diversas da formação social, e escalas distintas de obser-vação. Minha hipótese é a de que, com a dinâmica dos seus conflitos e a redundância dos seus eventos num mar de regras positivas e práticas costumeiras individualizantes, a história socioeconômica e política dos portos está sempre a nos lembrar que o global clarifica o local, mas o local restringe e redimensiona o global. Vou me limitar aqui à discussão do mercado de trabalho constituído em terra, separando, para organizar a exposição, dimensões analíticas que estão, evidentemente, entremeadas.

O seu artigo vai muito para além dos flashes e apresenta-nos também novas proble-máticas de pesquisa, pretendendo com essa perspetiva instigar outros investigadores a percorrer caminhos até aqui não navegados, chamando por exemplo a atenção para “o conjunto das narrativas de viagem [que atestam] grande parte do transporte de carga entre as várias unidades do sistema [valendo-se] de um poderoso padrão informal de organização escrava do processo de trabalho”. Mais uma vez estamos perante o realizado e o espaço de progressão que projetos científicos partilhados nos podem trazer para dar consistência ou contrastar perspetivas já percorridas.

O último espaço de partilha nestas Oficinas realizadas no Porto foi para uma área que temos acarinhado em três perspetivas essenciais: enquanto espaço de investigação; como fomento da transdisciplinaridade interna entre várias áreas que cruzam pers-petivas de membros do CITCEM; e enquanto assunção da necessidade de fomentar a internacionalização sempre que entendamos pertinente para dar consistência aos nossos resultados de investigação.

Exatamente um dos nossos doutorados mais recentes, com um doutoramento europeu certificado pela Universidade Complutense de Madrid, apresentou-nos uma reflexão que sistematiza o nosso enfoque. Sugeriu-nos, por exemplo, que:

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podemos olhar para o Cinema como um convite à criação de mundos. Um Cinema, claro está, que normalmente se define pelo seu caráter narrativo. A ideia de criação surge, desde logo, pela capacidade de utilizar a configuração narrativa como forma de organizar diferentes informações, figuras e acontecimentos, originando sentidos e significados pela estruturação atribuída aos componentes narrativos.

A complementaridade com outras áreas como a Educação Histórica, a História da Educação ou a História Contemporânea é também reafirmada quando se sugere que:

o Cinema estabelece um convite à reflexão sobre mundos. Reflexão não apenas sobre a realidade per se, mas também sobre as versões e perspetivas diferentes e subjetivas sobre o real, estabelecidas por autores fílmicos e reconfiguradas, interpretativamente, pelos espectadores das suas obras. Contactar com um filme significa, por um lado, a oportunidade de refletir sobre o seu autor, sobre a sua idiossincrasia, sobre a sua perso-nalidade e sobre o seu estilo.

Trabalhos realizados por outros membros do CITCEM têm exatamente servido para o incorporar como recurso no âmbito da Didática, nomeadamente da História, dando lugar a investigações sustentadas em estudos de caso testados em ambiente escolar. Também para esse espaço educativo de âmbito básico e secundário, a Unidade de Investigação assegura a formação de professores ligados ao Plano Nacional de Cinema implementado pelo Ministério da Educação de Portugal em Escolas e Agrupamentos. O nosso contributo visa claramente formar públicos mas também educar olhares sobre o cinema, já que este

apresenta um inegável potencial de averiguação, representação e reflexão sobre a realidade, implicado não apenas na comunicação e expressão autoral de determinadas perspetivas metafóricas e universos referentes ao nosso mundo, mas também na vivência significativa dos mesmos por parte dos espectadores, que neles e através deles conquistam oportunidades de analisar as condições e os estados da sua vida individual e coletiva.

Investigação consistente, mas divergente, heterogénea, partilhada com especialistas nacionais e internacionais, testada e democratizada em espaços académicos, valorizada pela sua forte componente social de partilha, são algumas das linhas em que mais temos investido e que, agora, com mais este protocolo com a Universidade do Estado da Bahia, procuramos dar visibilidade científica e consolidar pontos de vista, dialogando sobre as complementaridades científicas que estas perspetivas (e outras que venhamos a consi-derar pertinentes) abrem a intercâmbios que nos instiguem, retirando-nos da área de conforto e incomodando-nos com novos desafios.

É este, em suma, o desafio que estas I Oficinas nos trouxeram e a que será dada continuidade nos encontros que passarão a realizar-se, anualmente, na Bahia e no Porto.

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