• Nenhum resultado encontrado

Estilos de vida e variáveis psicológicas: um enfoque para a intervenção em saúde

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estilos de vida e variáveis psicológicas: um enfoque para a intervenção em saúde"

Copied!
77
0
0

Texto

(1)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Estilos de vida e variáveis psicológicas: Um enfoque para a

intervenção em saúde

2º Ciclo de estudos em Psicologia Clínica

Hugo David Rodrigues Fernandes

Orientador:

Prof. Catedrático José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo

(2)

2 Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica, sob a orientação de José Vasconcelos Raposo – Professor Catedrático.

(3)

3 “Mens sana in corpore sano.”

(4)

4

Agradecimentos

O trabalho apresentado compõe uma etapa árdua, intensa e fatigante, mas ao mesmo tempo enriquecedora, construtiva e significativa no processo de florescimento humano que se pretende culmine num final de ciclo vital íntegro e digno. Este labor exprime uma necessidade de aprimoramento pessoal, no que se refere ao aprofundamento e à partilha do conhecimento sobre temas presentes no quotidiano mas escassamente difundidos, de modo relacionado, na sapiência e na realidade humana. Desta etapa é crível corroborar a ideia de que tanto a vida, no geral, como esta fase, especificamente, significa um

caminho repleto de pedras, que amedronta, por vezes fere. Contudo, com as palavras certas em veros

momentos, com os toques de compaixão em horas de baque, ou com a força que evoca um silêncio sábio, hoje é possível reter a visão que com tantas pedras será válido ambicionar o castelo. Assim, se se detêm adjetivos positivos, na realidade deste texto, quanto ao processo de dissertação da tese que agora finda, isso deve-se sem sombra de dúvida às pessoas significativas que facilitaram o percurso neste trilho. Como tal, apesar da gratidão que pretendo empregar, jamais qualquer agradecimento será suficiente. No entanto, cumpre-se o dever, que mais que o ser é uma necessidade honesta e sentida.

Antes de mais, ao prof. Catedrático José B. Vasconcelos-Raposo exprimimos imensa gratidão e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, pelo apoio prestado e pela sabedoria partilhada, tão enriquecedora e significativa. Não só ao longo da presente investigação, mas ao longo destes últimos três anos de estudos, pelo pragmatismo na transmissão de conhecimentos e, mais que isso, por ensinar a pensar. Pela crítica construtiva e pela forma como opera o gosto pela investigação científica nos seus discentes. Pelos ensinamentos sustentados e pela orientação para a excelência, contagiante e motivadora. Um sincero e sentido obrigado.

Aos amigos, Luís Almeida e Mário Pinto Gonçalves por tudo aquilo de que são feitos. Referências nas boas práticas académicas e científicas desde o primeiro momento, alusões a uma simplicidade humana transcendente e modelos de porto seguro, nos momentos de necessidade. Viva!

Às colegas de supervisão, Inês Ferreira, Joana Geraldes, Rafaela Silva e Tânia Teles. Pela partilha de medos, anseios e expectativas. Pela luz nos momentos de fusco, pela energia em momentos de alarme. Que a vida vos traga o melhor e obrigado pelos momentos partilhados convosco.

(5)

5 À família, em especial à avó Maria, pela sabedoria ingénua e humilde, muito a si é devido. À mãe Maria Abreu, pela capacidade de sacrifício e de luta, pela ternura, um exemplo. À irmã, Cristina Fernandes, pela determinação, pelo afeto e por me tornar competente no processo de socialização, parceira de laboratório social. Ao avô, Luciano Abreu, pela amizade, pela preocupação e pelo bom humor. Ao pai, João Fernandes, pelo estímulo à minha capacidade de reflexão sobre o certo e o errado. Aos restantes membros, por toda a força, carinho, ternura e incentivo com que me presentearam ao longo de todo o processo. A todos vós, uma gratidão profunda e sentida.

À namorada, Helena Antunes, pelo talento, pelo aconchego, pela simplicidade do seu sorriso, pelo calor do abraço. Constitui-se um suporte significativo nesta caminhada. O castelo também será teu. Mereces o melhor. Grato a ti e aos teus, são fundamentais!

Àqueles que já partiram, mas que merecem tornar-se eternos, Gregório Fernandes, Maria Augusta e Teresinha Rodrigues.

A todos e a todas, Sejam felizes!

(6)

6

Índice

Agradecimentos………... 4

Preâmbulo……… 8

Parte I………... 13

Propriedades psicométricas da Philadelphia Mindfulness Scale [PHLMS] considerando fumadores e não fumadores……….……... 14

Resumo………. 15 Abstract……… 16 Introdução……….………... 17 Método………..………... 21 Participantes……….………..………... 22 Instrumentos…………..………..……….. 23 Dados Sociodemográficos…….……….……….………. 23 Dependência Tabágica………..………...……… 23 Mindfulness (PHLMS)……….………. 23 Procedimentos……….………...……….. 24 Análise Estatística……….……….……….. 25 Resultados……….………... 27 Discussão………...……….. 30 Referências Bibliográficas………...………... 35 Parte II………. 39

Impacto da atividade física sobre estados emocionais negativos e mindfulness em fumadores portugueses……….………...………. 40 Resumo………... 41 Abstract……… 42 Introdução………...……….……… 43 Método………..……….………... 46 Participantes……….………..……….. 46 Instrumentos……….………..……….. 47

(7)

7

Dados Sociodemográficos……….……….……….………. 47

Envolvência na prática de atividade física……….. 49

Dependência Tabágica………..………...………...………. 49

Estados Emocionais Negativos (DASS-21)………..……….………... 49

Mindfulness (PHLMS)……….……….…………..……….. 50 Procedimentos……….……….………...………. 51 Análise Estatística……….……….……….. 51 Resultados……….……….………... 52 Discussão………. 57 Referências Bibliográficas……….………...…….……….. 62 Epílogo………...……….………... 68 Referências Bibliográficas………....………... 71 Apêndice 1..………... 76

(8)

8

Preâmbulo

Face às contingências políticas e socioculturais, o ser humano depara-se, por vezes, com a necessidade de se transcender, sem que tal derive de uma vontade ou ideal de realização. A vida quotidiana avança assim, muitas vezes, a um ritmo frenético (Williams & Penman, 2011), gerador de malefícios significativos para a saúde, nas suas múltiplas dimensões (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2003). Neste sentido, tem sido missão da ciência e da prática clínica potenciar tanto o bem-estar de natureza hedónica (Freire, Zenhas, Tavares, & Iglésias, 2013) como o de índole eudamónica (Fernandes, Vasconcelos-Raposo, & Teixeira, 2010; Ryff, 1989), visando a melhoria da saúde, sob um ponto de vista positivo (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000).

Neste âmbito, tem crescido o interesse científico e clínico sobre os benefícios e malefícios dos estilos de vida do ser humano sobre as várias dimensões psicológicas (Almeida, Rodrigues-Fernandes, Caridade, & Fernandes, 2014; Brown & Ryan, 2003; Desrosiers, Klemanski, & Nolen-Hoeksema, 2013; Teixeira, Vasconcelos-Raposo, Fernandes, & Brustad, 2013). Assim, o presente trabalho procura estudar fenómenos adjacentes aos estilos de vida, especificamente associados ao consumo de tabaco e à prática de atividade física enquanto comportamentos passíveis de influenciar variáveis psicológicas, adjacentes à ansiedade, depressão e stresse (Lovibond & Lovibond, 1995; Pais-Ribeiro, Honrado, & Leal, 2004; Vasconcelos-Raposo, Fernandes, & Teixeira, 2013) assim como às dimensões de aceitação e awareness, processos mentais adjacentes ao mindfulness (Cardaciotto, Herbert, Forman, Moitra, & Farrow, 2008).

Neste contexto, o tabaco assume-se como uma substância ativadora de neurotransmissores dopaminérgicos, que potenciam sentimentos de prazer e recompensa, causando um forte teor de dependência. Determinados dos seus

(9)

9 componentes (e.g. o alcatrão, o arsénio ou a acetona) são altamente inflamáveis e nocivos para a saúde, tanto do fumador como das pessoas que o rodeiam (Pereira et al., 2013). Desta forma, o tabagismo constitui-se como a principal causa de doenças evitáveis mais prevalentes (Loprinzi, Kane, Mahoney, & Walker, 2015; Luberto et al., 2014; Pereira et al., 2013), sendo deste modo objeto de interesse para a área clínica e da saúde. Embora existam vários níveis de dependência (Fageström, 1978), baixos

consumos já constituem riscos para a saúde. Para Thornton, Baker, Johnson, e Lewin (2013) é importante desenvolver intervenções que alertem para os riscos do consumo de tabaco, dada a sua relação com problemas psiquiátricos.

No que se refere à prática de atividade física, importa delimitar os três contextos onde esta pode ser praticada. Começamos pela definição de atividade física que diz respeito ao movimento dos músculos esqueléticos que pode associar-se a atividades de recreação, lazer ou tarefas diárias (Barata, 2012). As outras dimensões da atividade física já se orientam para objetivos mais específicos. Nomeadamente, referimo-nos à prática de exercício físico, que se relaciona diretamente com a obtenção de objetivos específicos provenientes da sua prática, como por exemplo, a melhoria da aptidão física (Barata, 2012). Outro contexto propício à prática de atividade física é no desporto, onde normalmente já surge associado, para além da melhoria do rendimento ou da aptidão física, à obtenção de objetivos relacionados com a performance, resultados e

competição (Barata, 2012). Embora importe referir a existência de fatores específicos que podem produzir efeitos iatrogénicos para a saúde, provenientes da prática de atividade física, do exercício físico ou de desporto (Vasconcelos-Raposo, Nunes, Ramião, & Rodrigues-Fernandes, 2014), é sabido que a atividade física, praticada durante 30 minutos diários a uma intensidade moderada a vigorosa (mediante a

(10)

10 benefícios na saúde (Haskell et al., 2007), por eliciar ativações hormonais significativas e por promover interações socioculturais, importantes para o bem-estar (OMS, 2003), dada a natureza psico-sociocultural do ser humano (Vasconcelos-Raposo, 1993).

Classificando as variáveis dependentes do nosso estudo, quanto à classificação dos estados emocionais negativos, tem sido ratificada a complexidade de estabelecer empiricamente uma diferenciação bem delimitada entre a ansiedade e a depressão (Pais-Ribeiro et al., 2004). Para Lovibond e Lovibond (1995) a depressão carateriza-se essencialmente por uma perda notória da autoestima e da motivação, associando-se a uma perceção de reduzida capacidade para atingir objetivos no que se refere ao crescimento pessoal. Já a ansiedade associa-se a estados persistentes de stresse e a respostas intensas de medo face aos fenómenos vividos (Lovibond & Lovibond, 1995). O stresse relaciona-se a estados de excitação e tensão permanentes, associados a uma baixa resistência à frustração (Lovibond & Lovibond, 1995). No que se refere à classificação do mindfulness, este baseia-se em processos mentais essencialmente marcados pela capacidade de prestar atenção no momento presente, de um modo intencional, com aceitação e sem julgamento (Kabat-Zinn, 2003; Williams & Penman, 2011). Segundo Cardaciotto et al. (2008) as dimensões primordiais do mindfulness são essencialmente a consciência do momento presente (awareness) e aceitação da

experiência sem julgamento. A primeira refere-se à capacidade do indivíduo em dirigir a atenção para o momento presente, experimentando a realidade tal como esta se apresenta. Já a aceitação alude à disposição para experimentar eventos mentais sem evitamento e não permitindo que estes influenciem o comportamento de modo indevido (Cardaciotto et al., 2008). Deste modo, a intervenção baseada em mindfulness tem sido apontada como uma intervenção com resultados na redução de estados emocionais negativos (Kabat-Zinn, 2003; Williams & Penman, 2011).

(11)

11 Visando a excelência da prática clínica e da intervenção em saúde, ao longo das pesquisas e leituras efetuadas, verificaram-se algumas lacunas em termos de

investigação às quais procurámos responder. Em primeiro lugar, vários estudos prévios têm alertado para a necessidade de se validarem instrumentos de avaliação psicológica, de modo a possibilitar aferições dos construtos mentais de uma forma fidedigna e confiável (Maroco, 2014). Neste sentido a Philadelphia Mindfulness Scale [PHLMS], após validação em diversos países, tem vindo a apresentar potencialidades

psicométricas na mensuração do construto, mas poucos foram os estudos que analisaram as cargas fatoriais da escala (Maroco, 2014), sobretudo em populações específicas (Cardaciotto et al., 2008). Assim, procurou-se contribuir para a adaptação e validação da PHLMS no contexto português, considerando fumadores. Em segundo lugar, percebeu-se que embora as relações entre a prática de atividade física e estados emocionais negativos venham a ser estudados aprofundadamente (Teixeira et al., 2013; Treviño et al., 2014), são escassos os estudos realizados com fumadores neste âmbito. Por outro lado, embora se reconheçam os efeitos benéficos da atividade física e do treino em mindfulness em fumadores motivados para cessação tabágica (Loprinzi et al., 2015; Luberto et al., 2014), são reduzidas as investigações que procuraram compreender se a prática regular de atividade física exerce efeito sobre o mindfulness (Mothes,

Klaperski, Seelig, Schmidt, & Fuchs, 2014; Salmon, Hanneman, & Harwood, 2010), quer em fumadores, quer na população geral.

O âmbito desta investigação enquadra-se assim, numa primeira fase, na necessidade de aprofundar o conhecimento epistemológico e metodológico da

investigação científica, bem como apresentar um instrumento de avaliação psicológica ao nível da prática clínica centrada nas práticas baseadas em mindfulness, apresentando dados psicométricos da PHLMS (Cardaciotto et al., 2008), para validação no contexto

(12)

12 português. Por outro lado, procura ainda dar resposta aos escassos trabalhos realizados na área da atividade física e do seu impacto sobre variáveis psicológicas relacionadas com os estados emocionais negativos (Lovibond & Lovibond, 1995), bem como sobre as duas dimensões fulcrais do mindfulness (Cardaciotto et al., 2008).

Deste modo, a presente dissertação é constituída por duas partes, sendo que nelas são apresentados dois estudos de natureza empírica. No primeiro estudo são apresentadas as caraterísticas psicométricas da Philadelphia Mindfulness Scale [PHLMS], tendo em conta a análise da invariância em fumadores e não fumadores portugueses. No segundo estudo, objetivou-se verificar o impacto da prática de

atividade física sobre estados emocionais negativos, ao nível da ansiedade, depressão e stresse, bem como ao nível das duas fundamentais dimensões do mindfulness (aceitação e awareness) em fumadores portugueses.

(13)

13

- PARTE I -

(14)

14

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Propriedades psicométricas da Philadelphia Mindfulness

Scale [PHLMS] considerando fumadores e não fumadores

2º Ciclo de estudos em Psicologia Clínica

Hugo David Rodrigues Fernandes

Orientador:

Prof. Catedrático José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo

(15)

15

Resumo

O mindfulness, enquanto processo psicológico, tem sido alvo de um interesse crescente por parte da investigação científica. O objetivo do presente estudo foi o de examinar a confiabilidade, validade fatorial e medição da invariância (fumadores e não fumadores) de uma versão da Philadelphia Mindfulness Scale (PHLMS), adaptada para o português de Portugal. Na pesquisa participaram 315 adultos portugueses entre os 18 e os 62 anos (M= 23.14; DP= 7.286), sendo 110 fumadores e 205 não fumadores. A estimativa da confiabilidade para a dimensão awareness foi de 0.861 e de 0.868 para a subescala aceitação. A análise fatorial confirmatória apresentou um modelo ajustado a dois fatores sem necessidade de eliminação de itens. A análise multigrupos suportou a invariância do instrumento entre fumadores e não fumadores. Os resultados evidenciam boas propriedades psicométricas para a utilização da PHLMS no contexto de

investigação em amostras de adultos portugueses.

Palavras-Chave: Philadelphia Mindfulness Scale, Análise fatorial confirmatória, invariância, fumadores portugueses.

(16)

16

Abstract

The mindfulness, as psychological process, has been a subject of a growing interest in scientific research. The aim of this study was to examine the reliability, factor validity and measurement invariance (smokers and nonsmokers) a version of

Philadelphia Mindfulness Scale (PHLMS), adapted for the Portuguese of Portugal. In the survey participated 315 Portuguese adults between 18 and 62 years (M= 23.14; SD= 7.286) whit 110 smokers and 205 nonsmokers. The estimate of reliability for awareness size was 0.861 and 0.868 for the subscale acceptance. The confirmatory factor analysis showed a model adjusted to two factors without removing items. The multi-grups analysis supported the invariance of the instrument between smokers and non-smokers. The results show significant psychometric properties of PHLMS for use in the context of research in Portuguese adults samples.

Keywords: Philadelphia Mindfulness Scale, confirmatory factor analysis, invariance, smokers.

(17)

17

Introdução

Disseminado a partir da tradição cultural budista e constituindo-se como um fator mental, passível de se apresentar em dado instante na consciência (Kabat-Zinn, 2003; Rosch, 2007; Silveira, Castro, & Gomes, 2012), os processos adjacentes ao mindfulness têm sido alvo de um crescente interesse por parte da investigação científica (Kabat-Zinn, 2003; Williams & Kabat-Zinn, 2011; Williams & Penman, 2011). Desde os estudos iniciais e com a sua introdução nas psicoterapias da terceira geração (Kabat-Zinn, 2003), o mindfulness é visto como um conjunto de processos metacognitivos capaz de influenciar inúmeros processos mentais (Brewer, Elwafi, & Davis, 2013; Williams & Kabat-Zinn, 2011). Como intervenção complementar tem apresentado resultados consistentes ao nível da redução de sintomatologia associada à ansiedade e depressão (Kabat-Zinn, 2003; Segal, Williams, & Teasdale, 2012), de problemas alimentares (Butryn et al., 2013) e no tratamento de pacientes aditivos (Brewer et al., 2013; Elwafi, Witkiewitz, Mallik, Thornhill, & Brewer, 2012; Luberto et al., 2014).

O Mindfulness difere da noção de esquemas, narrativas ou crenças, pois entende-se que estes termos englobam a utilização de um pensamento crítico e reflexivo

(Silveira et al., 2012). Essencialmente, o mindfulness refere-se à capacidade do indivíduo em orientar a consciência segundo um foco de atenção para o momento presente, com aceitação e sem julgamento (Bishop et al., 2004; Kabat-Zinn, 2003; Williams & Penman, 2011). Estas atitudes são entendidas como cruciais para a mudança de comportamentos e para a promoção do bem-estar (Cardaciotto, Herbert, Forman, Moitra, & Farrow, 2008).

Dado o crescente interesse terapêutico e científico em torno das técnicas baseadas no treino em mindfulness, vários instrumentos de autorrelato têm sido

(18)

18 produzidos para mensurar o construto nas várias dimensões, entretanto, propostas (Baer et al., 2008; Lau et al., 2006). Importa salientar que algumas das escalas desenvolvidas e aferidas para uso com praticantes formais de técnicas terapêuticas de meditação

baseadas no mindfulness (Lau et al., 2006; Walach, Buchheld, Buttenmüller, Kleinknecht, & Schmidt, 2006). Posto isto, a pertinência do desenvolvimento da Philadelphia Mindfulness Scale (PHLMS) deveu-se à necessidade de propor um instrumento que incidisse sobre a avaliação de pessoas não praticantes de meditação baseada em mindfulness e assim auxiliar a investigação científica (Cardaciotto et al., 2008; Teixeira & Pereira, 2012). Fundamentalmente, a PHLMS surgiu da crença sobre a possibilidade de mensurar o mindfulness enquanto tendência natural e inata da pessoa (Bishop et al., 2004; Cardaciotto et al., 2008).

São escassos os estudos que avaliaram psicometricamente a PHLMS, embora tenha sido adaptada para a população brasileira (Silveira et al., 2012), portuguesa (Teixeira & Pereira, 2012), espanhola (Tejedor et al., 2014) e mais recentemente foram efetuados trabalhos sobre a escala com a população budista chinesa (Zeng, Li, Zhang & Liu, 2015). Destes, para além do estudo inicial (Cardaciotto et al., 2008) nenhuma investigação apresentou resultados referentes à Análise Fatorial Confirmatória (AFC) da escala. Neste contexto, como alerta a literatura (Fernandes & Vasconcelos-Raposo, 2010; Maroco, 2014; Raposo, Fernandes, & Teixeira, 2013; Vasconcelos-Raposo, Fernandes, Teixeira, & Bertelli, 2012) este procedimento é essencial para avaliar de um modo robusto a estrutura fatorial de instrumentos em investigação.

Quanto à análise psicométrica da PHLMS em diferentes amostras, Cardaciotto et al. (2008) consideraram populações clínicas específicas (por exemplo, portadores de transtorno psiquiátrico; praticantes e não praticantes de meditação baseada em

(19)

19 validação a análise dos dados psicométricos considerando pessoas com transtorno psiquiátrico. Já Silveira et al. (2012) alertaram para a necessidade da investigação sistematizar os estudos psicométricos atendendo a caraterísticas específicas das amostras para aprimorar o conhecimento em torno do comportamento da PHLMS.

Abordando a composição conceptual do mindfulness, existe um amplo debate quanto às dimensões do construto (Cardaciotto et al., 2008; Tejedor et al., 2014). Por exemplo, para Baer et al. (2008) a mensuração do mindfulness é efetuada considerando cinco fatores (observar, descrever, agir com consciência, não reagir face à experiência do aqui e do agora). Já a Mindfulness Attention and Awareness Scale (Brown & Ryan, 2003) apesar de apresentar bons índices psicométricos, recebeu algumas críticas por não integrar componentes de mensuração do mindfulness, nomeadamente no que se refere à aceitação (Silveira et al., 2012; Walach, et al., 2006). Lau et al. (2006) apresentaram uma escala de medida de mindfulness válida para medir o construto em praticantes de treino em mindfulness, limitando a análise em populações sem experiência em

meditação (Cardaciotto et al., 2008). Já Wallach et al. (2006) apresentaram um

instrumento que mede o mindfulness num único fator, sugerindo uma forma longa para sujeitos treinados em mindfulness e outra abreviada para o uso em investigação. Esta sugestão unifatorial tem sido alvo de críticas, já que torna a operacionalização do conceito ambígua, quando se pretende compreende-lo de um modo holístico (Silveira et al., 2008). Para Cardaciotto et al. (2008) outras escalas aferidas, embora sejam úteis na mensuração do mindfulness, não medem objetivamente os dois componentes

fundamentais do construto (aceitação e awareness).

Para além deste aspeto, destaca-se que no debate em torno do mindfulness, alguns autores sugerem que o desenvolvimento desta competência mental é possível graças à participação em práticas terapêuticas de meditação (Grossman & Van Dam,

(20)

20 2011), ao passo que outras investigações frisam uma vertente inata e natural do

desenvolvimento do construto não descurando, porém, o fator aprendizagem em contexto terapêutico (Brown & Ryan, 2003; Cardaciotto et al., 2008). Aliás, outro dos propósitos da elaboração da PHLMS foi o de dar resposta a uma carência da época, em termos de investigação, que era o de propor instrumentos passíveis de mensurar o mindfulness em pessoas sem grandes conhecimentos resultantes do envolvimento em meditação baseada em mindfulness (Cardaciotto et al., 2008).

Em análise aos estudos prévios de validação da PHLMS (Cardaciotto et al., 2008; Silveira et al., 2012; Teixeira & Pereira, 2012; Tejedor et al., 2014; Zeng et al., 2015), todos eles têm sido unânimes quanto à atribuição de uma organização bifatorial da escala. Em termos de consistência interna e externa os valores têm sido satisfatórios, definindo a PHLMS como um inventário simples, curto e objetivo na mensuração do mindfulness, útil para a pesquisa científica (Silveira et al., 2012; Tejedor et al., 2014).

Assim, com o intuito de aumentar o conhecimento em torno das caraterísticas psicométricas da PHLMS, a sistematização de estudos em amostras específicas mostra-se pertinente e útil (Silveira et al., 2012). Neste contexto, mostra-sendo o consumo de tabaco um dos fatores de risco para várias doenças (Buffart et al., 2014), tem sido crescente o esforço em adaptar a meditação baseada em mindfulness como uma técnica terapêutica promotora da cessação tabágica (Elwafi et al., 2012; Luberto et al., 2014). Por exemplo, para Luberto et al., (2014) trabalhar a capacidade de aceitação e de abertura à

experiência, mediante uma atitude de foco no aqui e agora, revela-se útil no

desenvolvimento de competências para lidar com eventos emocionais negativos e assim manter a abstinência. Segundo Elwafi et al. (2012) existe uma forte correlação entre a prática de mindfulness e a diminuição do desejo de fumar. Embora os estudos

(21)

21 motivados para a cessação tabágica (Elwafi et al., 2012; Luberto et al., 2014) pouco se conhece de evidências psicométricas dos instrumentos em fumadores.

Com o estudo pretende-se aumentar o conhecimento em torno das caraterísticas psicométricas da PHLMS a partir do teste ao modelo teórico proposto por Cardaciotto et al. (2008), com recurso a uma AFC. Para além disso, apresentar análises de invariância na comparação entre fumadores e não fumadores revela-se importante, dado o potencial da intervenção baseada em mindfulness nos programas de cessação tabágica (Elwafi et al., 2012; Luberto et al., 2014) e a carência de estudos sobre as caraterísticas

psicométricas da PHLMS naquela população.

O presente estudo tem por objetivo geral apresentar as propriedades psicométricas da PHLMS (Cardaciotto et al., 2008) numa amostra de adultos portugueses, considerando sujeitos fumadores e não fumadores. Como objetivos específicos, pretende-se verificar as propriedades psicométricas do instrumento (evidências de confiabilidade e de validade bifatorial). Testar a existência de um fator de segunda ordem no modelo é também objetivo específico. Pretende-se ainda verificar a invariância fatorial do instrumento em fumadores e não fumadores.

Método

Este estudo baseia-se no paradigma correlacional, uma vez que é pretendido compreender o grau e a forma de associação entre as variáveis analisadas (Maroco, 2014; Pais-Ribeiro, 2010). É, ainda, um estudo do tipo transversal e comparativo, dado as variáveis terem sido medidas num único espaço temporal (Pais-Ribeiro, 2010) e por procurarmos verificar hipotéticas diferenças no comportamento do instrumento entre grupos de fumadores e não fumadores que constituem a presente amostra.

(22)

22

Participantes

No que se refere à caraterização da amostra (Tabela 1), esta foi constituída por um total de 315 adultos portugueses (66.3 % do sexo feminino) com idades entre os 18 e os 62 anos (M= 23.14; DP= 7.286), provenientes de uma instituição de ensino superior pública, da região norte portuguesa. Dos participantes, 47.0% residiam em zonas rurais e os restantes 53% em zonas urbanas. Considerando as habilitações literárias completas dos indivíduos, 2.5% dos indivíduos tinham habilitações até ao terceiro ciclo, 67.3% o ensino secundário e os restantes 30.2% haviam completado uma formação superior. Do total de participantes, 110 pessoas eram fumadoras (56.9 % do sexo feminino) com média de idades de 26.28 anos. Quanto à dependência de nicotina, 59.6% apresentaram baixos níveis de dependência e 40.4% indicadores para dependência média-alta.

Tabela 1: Caraterização da amostra 315 N 100 % Sexo Feminino 209 66.3 Masculino 106 33.7 Local de residência Rural 148 47.0 Urbano 167 53.0

Habilitações literárias (completas) Até ao ensino secundário

V 220 69.8 Ensino superior 95 30.2 Fumadores Não 205 65.1 Sim 110 34.9 Nível de dependência Dependência baixa 65 59.6 Dependência média-alta 45 40.4

(23)

23

Instrumentos

Dados sociodemográficos

Para o levantamento das variáveis independentes e de dados sociodemográficos desenvolveu-se um questionário que incluiu questões relativamente ao sexo, idade, zona de residência, local de residência, habilitações literárias e consumo atual de tabaco.

Dependência Tabágica

Para conhecer os níveis de dependência tabágica dos fumadores recorreu-se ao Teste de Dependência de Nicotina (Fagerström, 1978). Este consiste num instrumento de autorrelato, composto por seis itens, fácil de aplicar e útil para conhecer o nível de dependência do indivíduo à nicotina (Rocha, Guerra, & Maciel, 2010). Segundo Rocha et al. (2010) a pontuação total da escala é de 10 pontos, sugerindo uma classificação dos indivíduos fumadores em três categorias: 1- baixa dependência fisiológica (0-2 pontos); 2- dependência moderada (3-6 pontos); 3- dependência elevada (7-10 pontos).

Mindfulness (PHLMS)

A PHLMS (Cardaciotto et al., 2008) é uma medida de autorrelato de 20 itens que avalia os dois fatores fundamentais inerentes ao mindfulness (Cardaciotto et al., 2008), nomeadamente na dimensão awareness (consciência do momento presente) e aceitação (Cardaciotto et al., 2008). Os itens são agregados a uma tipologia de escala do tipo Likert (0- nunca a 4- quase sempre), que mede a frequência de vivências tendo por

(24)

24 referência a última semana. É ainda sugerida a inversão dos valores de todos os itens pares (Cardaciotto et al., 2008; Silveira et al., 2012). Os estudos têm sugerido modelos bifatoriais da PHLMS (Cardaciotto et al., 2008; Silveira et al., 2012; Tejedor et al., 2014), com bons índices de confiabilidade nas avaliações da escala (Cardaciotto et al., 2008; Tejedor et al., 2014, Teixeira & Pereira 2012). Por exemplo, Cardaciotto et al. (2008) apresentaram valores de alfa de Cronbach de .75 para a subescala awareness e .82 para a aceitação.

Procedimentos

O projeto de pesquisa foi submetido à Comissão de Ética Institucional de Pesquisa da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro obtendo parecer favorável à sua realização. Inicialmente foi procedida à adaptação semântica para o português de Portugal da versão brasileira da escala proposta por Silveira et al. (2012) e considerando a escala inicial (Cardaciotto et al., 2008). Após adaptação, a escala foi analisada por um expert da psicologia. Aceite a versão provisória da tradução da PHLMS para o

português de Portugal, aplicou-se o instrumento a 53 finalistas de licenciatura em psicologia. Deste momento de avaliação da escala, foi criado um espaço de debate para os participantes apresentarem considerações e sugestões que visassem a melhoria semântica da escala. Findo o processo, abordaram-se os participantes que constituem a amostra do presente estudo. Estes foram informados relativamente aos propósitos da investigação, sendo assim convidados a preencherem o termo de consentimento livre e esclarecido, onde o anonimato e a confidencialidade foram desde logo garantidos, bem como o direito de desistir ou de solicitar o apoio do investigador, no decorrer da recolha de dados. O preenchimento do protocolo de investigação demorou cerca de 15 minutos.

(25)

25

Análise Estatística

Para o tratamento estatístico dos dados foram utilizados os softwares SPSS (v. 22) e o AMOS (v. 22, SPSS, IBM Company, Chicago, IL). De início, efetuou-se a análise às estatísticas descritivas referentes aos itens das escalas, assim como às variáveis em análise, a partir da média (M) e do desvio padrão (DP). A análise da simetria da distribuição das frequências (normalidade univariada) foi realizada através dos coeficientes skewness (assimetria) e kurtosis (achatamento). Calculou-se o grau de consistência interna das escalas, recorrendo ao alfa de Cronbach.

Tendo por referência as estruturas fatoriais propostas nos estudos prévios (Cardaciotto et al., 2008), realizou-se a AFC. Foi ainda realizada uma AFC de segunda ordem, para verificar a hipótese de estabelecimento de um modelo hierárquico para a versão portuguesa da PHLMS. No que se refere aos índices de modificação foram atendidos a correlação de itens com valores superiores a dez (Maroco, 2014). Para os modelos testados foi utilizado o método de estimação maximum likelihood. Já no sentido de verificar a adequabilidade do modelo aos dados, utilizaram-se as seguintes medidas de avaliação do ajustamento: ratio chi square statistics/degrees of freedom (X2

/df), comparative fit index (CFI), goodness of fit índex (GFI), root mean square error of approximation (RMSEA) e Akaike information criterion (AIC). O rácio do X2/df tem sido usado como índice de ajustamento do modelo, não existindo, porém, consenso acerca do valor que se considera um ajustamento adequado, sendo sugerido valores inferiores a 3 (Aroian & Norris, 2005; Maroco, 2014). O CFI avalia a adequabilidade do modelo em relação ao modelo independente, variando os valores entre 0 e 1, com valores superiores a .90 a propor um ajustamento adequado (Byrne, 2001; Maroco, 2014). Já o GFI mede a quantidade relativa de variância e covariância conjuntamente

(26)

26 explicadas pelo modelo, varia entre 0 e 1, com valores superiores a .90 a sugerir um ajustamento adequado (Byrne, 2001; Maroco, 2014). Quanto ao RMSEA, analisa a discrepância no ajustamento entre as matrizes estimadas e as observadas, varia entre 0 e 1, sendo que os valores esperados devem situar-se a baixo de .8 (Byrne, 2001; Maroco, 2014). Na comparação de dois ou mais modelos usamos o AIC, sendo que valores mais baixos indicam uma maior adequabilidade do modelo (Byrne, 2001; Maroco, 2014).

Para a identificação da invariância fatorial da PHLMS, inicialmente definimos um modelo de adequação apropriado para ambos os grupos comparativos (fumadores vs. não fumadores). Após a obtenção dos fatores, estes foram submetidos

simultaneamente a uma análise multigrupos (com correção Emulisrel6) no sentido de efetuar um conjunto progressivo de restrições (cargas fatoriais, variâncias e

covariâncias), de forma a analisarmos a equivalência do instrumento para os diferentes subgrupos (fumadores vs. não fumadores). Os valores da diferença do Qui-quadrado (∆χ2) e respetivos graus de liberdade (df) foram utilizados para analisar possíveis diferenças significativas entre os diferentes modelos formulados. Para uma observação mais detalhada dos procedimentos de análise multigrupos, pode-se consultar outras referências tidas em consideração (Byrne, 2001; Fernandes & Vasconcelos-Raposo, 2010; Maroco, 2014; Vasconcelos-Raposo et al., 2012).

(27)

27

Resultados

A Tabela 2 apresenta a análise descritiva inicial realizada em todos os itens do questionário para a amostra total (n= 315).

Tabela 2:

Análise descritivas dos itens da PHLMS

Análise descritiva dos itens da PHLMS-R

Item M ± DP Skewness Kurtosis

1_awr 3.25 ± .801 -.864 .336 2_ace 1.15 ± .961 .607 .038 3_awr 3.04 ± .891 -.685 .234 4_ace 2.35 ± 1.131 -.367 -.512 5_awr 2.76 ± 1.280 -.690 -.702 6_ace 2.06 ± 1.163 -.124 -.797 7_awr 2.18 ± 1.663 -.088 -.731 8_ace 1.83 ± 1.58 .286 -.811 9_awr 2.72 ± 1.128 -.497 -.620 10_ace 1.92 ± 1.150 .029 -.714 11_awr 2.56 ± .990 -.262 -.487 12_ace 1.83 ± 1.065 .022 -.732 13_awr 2.74 ± .894 -.344 -.096 14_ace 1.58 ± 1.135 .271 -.700 15_awr 2.66 ± 1.098 -.399 -.625 16_ace 1.61 ± 1.124 .272 -.642 17_awr 2.54 ± .961 -.287 -.083 18_ace 1.77 ± 1.068 .110 -.519 19_awr 2.78 ± .906 -.432 -.073 20_ace 1.38 ± 1.050 .500 -.306

Nota: awr- awareness; ace- aceitação

A Tabela 3 mostra a estatística descritiva (mínimo, máximo, médias e desvios-padrão) e medidas de normalidade univariada (assimetria e achatamento) para a versão portuguesa da PHLMS, nas suas subescalas e escala geral. Os valores médios da PHLMS, considerando amostra total (N=315), situaram-se nos 27.23 ± 6.80 na

subescala awareness e nos 17.23 ± 7.48 para a subescala aceitação, enquanto a média da escala geral foi de 44.46 ± 8.49. Quanto aos coeficientes de normalidade univariada variou entre -.135 e .355 no teste Skewness e entre -.142 e .246 no teste Kurtosis. A fim

(28)

28 de examinar o grau de confiabilidade das escalas para a amostra estudada, computaram-se estimativas quanto ao alfa de Cronbach. Assim, os valores de alfa foram definidos a .86 para a subescala awareness, .87 para a aceitação e .72 para a PHLMS geral,

considerando o total de casos da amostra em estudo.

Tabela 3:

Análise descritiva, da normalidade e alfa de Cronbach da PHLMS

Min-Máx M DP Skewness Kurtosis α de Cronbach

Awareness 2-40 27.23 6.80 -.180 -.142 .861

Aceitação 0-38 17.23 8.49 .135 -.130 .868

Escala geral 21-69 44.46 7.48 .355 .246 .721

Tendo por base os modelos sugeridos anteriormente pelas investigações que estudaram a PHLMS (Cardaciotto et al., 2009; Silveira et al., 2012; Tejedor et al., 2014), foram testados diversos modelos bifatoriais e um modelo hierárquico de segunda ordem, seguidamente reportados. Avaliou-se ainda a invariância entre grupos de

fumadores e não fumadores (Tabela 4). O modelo 1, ajustado a uma amostra de 320 adultos portugueses, revelou uma qualidade de ajustamento sofrível (χ²/df = 2.908; CFI= .864; GFI = .845; RMSEA=.078; AIC = 573.449). Na análise ao modelo 2, resultante da proposta inicial do instrumento (Cardaciotto et al., 2008), verificaram-se melhorias no que se refere à qualidade de ajustamento (χ²/df = 2.475; CFI = .898; GFI=.871; RMSEA = .069; AIC = 497.924). Atendendo aos índices de modificação e correlacionados os erros de medida (Modelo 3) atingiu-se uma boa qualidade de ajustamento (χ²/df = 2.093; CFI = .925; GFI = .900; RMSEA = .059; AIC = 435.572). Na avaliação do modelo hierárquico, a partir da AFC de segunda ordem, constatou-se

(29)

29 que as dimensões awareness e aceitação são medidas independentes, conforme sugerem estudos prévios (Cardaciotto et al., 2008). Quanto à análise da invariância (fumadores vs. não fumadores, o modelo constrito com pesos fatoriais, interceptos e variâncias/ covariâncias fixas entre as amostras não apresentou um ajustamento significativamente pior quando comparado ao modelo com parâmetros livres (Δχ²λ(18) = 23.974, p =.156;

Δχ²i (20) = 14.018, p =.830; Δχ²cov (13) = 1.261, p =.739). Assim fica patente a

invariância de medida forte do modelo bifatorial da versão portuguesa da PHLMS para fumadores e não fumadores. O modelo 3 é apresentado graficamente no anexo 1.

Tabela 4

Índices de ajustamento das AFC aos diferentes modelos

Modelo Bi-fatorial χ² χ²/df CFI GFI RMSEA AIC

1- Amostra completa 491.449*** 2.908 .864 .845 .078 573.449 2- Proposta de Cardaciotto et al. (2008) 405.924*** 2.475 .898 .871 .069 497.924 3 Amostra completa com correlação dos erros 341.101*** 2.093 .925 .900 .059 435.572

Análise Fatorial Confirmatória de 2ª ordem χ² χ²/df CFI GFI RMSEA AIC

4- Modelo Hierárquico .000 .000 1.00 1.00 .207 420.000

Invariância Fumadores vs. Não fumadores Δχ² Df P

Pesos factoriais 23.974 18 .156

Interceptos de medida 14.018 20 .830

Covariâncias estruturais 1.261 3 .739

Nota: χ2 = chi-quare; χ²/df = ratio chi square statistics/degrees of freedom ; CFI = Comparative Fit Index; RMSEA = Root Mean Square Error of Approximation; AIC = Akaike information criterion; Δχ² = diferent value of qui-square; ***p <.001.

(30)

30

Discussão

O objetivo primordial do presente estudo passou por avaliar as propriedades psicométricas da PHLMS (Cardaciotto et al., 2008), adaptada para a população portuguesa, considerando o comportamento das cargas fatoriais do instrumento num grupo de fumadores e não fumadores. Com isto, mais que sugerir um instrumento passível de medir as duas dimensões principais do mindfulness (Bishop et al., 2004; Cardaciotto et al., 2008; Silveira et al., 2012), procurámos contribuir para a pesquisa científica apresentando um instrumento adaptado à língua portuguesa de Portugal, capaz de medir o mindfulness de um modo breve, bem delimitado e aplicável a amostras sem experiência no treino de meditação baseada em mindfulness (Cardaciotto et al., 2008).

Cardaciotto et al. (2008) começaram por apresentar bons índices de

confiabilidade para ambas as escalas. O mesmo se passou entretanto, nos trabalhos de Silveira et al. (2012), Teixeira e Pereira (2012) e Tejedor et al. (2014). Para a literatura (Maroco, 2014; Pais-Ribeiro, 2010) valores de alfa de Cronbach entre .70 e .89

sugerem níveis qualitativos de confiabilidade entre o satisfatório (α .70 – α .79) e o bom (α .80 – α. 89). Dados os factos reportados, considerando os valores sugeridos nas investigações prévias à PHLMS e as considerações teóricas sobre os índices de confiabilidade, o estudo, mantém bons níveis de consistência interna da escala na mensuração das suas dimensões (awareness e aceitação) na amostra portuguesa. Vários estudos têm alertado para a importância de confirmar os resultados exploratórios dos instrumentos analisados com a testagem dos modelos teóricos

sugeridos com recurso a AFC (Fernandes & Vasconcelos-Raposo, 2010; Maroco, 2014; Vasconcelos-Raposo et al., 2012; Vasconcelos-Raposo et al., 2013). Neste campo, acrescentámos conteúdo sobre a validade da PHLMS, no contexto português, pois

(31)

31 embora Teixeira e Pereira (2012) tivessem apresentado dados psicométricos do

instrumento fizeram-no com recurso a uma análise fatorial exploratória. Para Fernandes e Vasconcelos-Raposo (2010) este procedimento pode apresentar uma série de

limitações que sujeita as interpretações a uma margem de erro alargada. Atendendo à proposta de Cardaciotto et al. (2008), podemos assumir a manutenção do modelo teórico proposto, com índices de ajustamento bons, considerando a correlação dos erros (Maroco, 2014), sugerindo assim um modelo bifatorial para a PHLMS (Cardaciotto et al., 2008; Silveira et al., 2012; Teixeira & Pereira, 2012; Tejedor et al., 2014). Ao contrário da proposta de Zeng et al. (2015), a tradução da PHLMS deste estudo apresentou pesos fatoriais satisfatórios em todos os itens da escala, pelo que se preservou a proposta apresentada por Cardaciotto et al. (2008). Ainda com referência aos estudos de Cardaciotto et al. (2008) não se verificou a existência de um fator de segunda ordem, o que sugere uma mensuração independente de cada uma das variáveis que compõem os desígnios teóricos do mindfulness.

Outro aspeto a salientar refere-se à análise da invariância entre fumadores e não fumadores. Esta evidência permite aceitar a validade do instrumento quando aplicado a populações de diferentes caraterísticas (Fernandes & Vasconcelos-Raposo, 2010; Maroco, 2014; Vasconcelos-Raposo et al., 2013). Conforme reportaram Fernandes e Vasconcelos-Raposo (2010) não proceder à análise de invariância potencia a que a generalização e aplicabilidade do instrumento fiquem comprometidas em utilizações posteriores. Assim, para a efetiva validade de um instrumento psicológico é importante atendermos a este tipo de análise, que no caso do presente estudo procurou verificar as cargas fatoriais do instrumento em fumadores e não fumadores. Com os resultados obtidos, podemos referir que a versão portuguesa da PHLMS apresenta fortes aptidões na medição das dimensões awareness e aceitação sem distinções entre consumidores e

(32)

32 não consumidores de tabaco. Dado o interesse nesta área, vários têm sido os estudos que aplicaram intervenções baseadas em mindfulness como estratégia facilitadora do

processo de cessação tabágica (Brewer et al., 2013; Elwafi et al., 2012 Luberto et al., 2014), embora no contexto português, as publicações sobre o estudo do impacto dos processos metacognitivos do mindfulness ao nível da cessação tabágica, sejam quase inexistentes. Posto isto, acreditamos ter contribuído para o desenvolvimento da pesquisa neste âmbito, propondo um instrumento adaptado, que se pode utilizar com fumadores.

Face ao exposto, o presente estudo contribuiu para o processo de validação da escala para a população portuguesa, comprovando o modelo de organização bifatorial sugerido pelos estudos originais (Cardaciotto et al., 2008) e tornando-o válido para aplicação a populações de fumadores e de não fumadores, colaborando assim para a aferição de um instrumento de mensuração do mindfulness, quer em termos de

monitorização da prática psicoterapêutica, quer na investigação cientifica, área onde a PHLMS detém potencialidades patentes (Cardaciotto et al., 2008; Silveira et al., 2012; Teixeira & Pereira, 2012; Tejedor et al., 2014).

Algumas limitações no estudo devem ser identificadas e discutidas. Assim, começamos por referir o caráter transversal da investigação. Este facto, não permite conferir a estabilidade dos resultados, passíveis de serem identificados num estudo do tipo longitudinal (Cardaciotto et al., 2008). Porém, importa salientar que a AFC constitui-se como um procedimento de validação robusto e sustentado (Fernandes & Vasconcelos-Raposo, 2010; Maroco, 2014), permitindo estabelecer um prognóstico favorável quanto ao uso da escala, dados os resultados recolhidos. Outra limitação prende-se com o tipo de amostragem (de conveniência e não probabilística), realizada com uma amostra universitária, embora considerando não só estudantes mas também funcionários. Como veiculado na literatura (Maroco, 2014; Pais-Ribeiro, 2010) é

(33)

33 limitado proceder a generalizações quando se recorre a este tipo de estratégias de

amostragem. Contudo, procurando controlar o tamanho da amostra, tentou-se que essa premissa fosse minimizada. Como última limitação, de referir que no grupo de

fumadores poucos reuniram critérios de classificação para dependência elevada à nicotina (Fargerström, 1978). Neste âmbito, importa alertar para a possibilidade de existir um viés quanto à análise da invariância neste estudo, atendendo ao grupo de fumadores e não fumadores. Contudo, importa atender a que no consumo de tabaco, as consequências no médio-longo prazo são reais (Fagerström, 1978; Brewer et al., 2013) pelo que manter um consumo diário de um a quatro cigarros já é tido como um

comportamento clinicamente significativo (Elwafi et al., 2012; Fargerström, 1978; Luberto et al., 2014).

Pesquisas futuras podem procurar aprofundar determinadas questões deixadas por esclarecer na presente investigação. Especificamente, sugere-se que futuros estudos à PHLMS procurem testar a validade convergente da escala, procurando correlacionar variáveis especificas tanto com a dimensão awareness como com a aceitação. Quanto à investigação longitudinal, o método teste/ re-teste poderá ser igualmente um

procedimento útil no processo de validação do instrumento. Mais estudos em amostras clínicas, sobretudo de índole psiquiátrica, são igualmente recomendáveis, de forma a permitir maior segurança na aplicação do instrumento à população portuguesa.

Em suma, a presente investigação permitiu apresentar algumas conclusões. Em primeiro lugar, a versão portuguesa da PHLMS apresentou bons níveis de

confiabilidade para as duas dimensões principais do mindfulness como verificado em estudos anteriores (Cardaciotto et al., 2008; Silveira et al., 2012; Teixeira & Pereira, 2012). Neste seguimento, a composição fatorial proposta pelas investigações de

(34)

34 ficou patente a partir da AFC à escala na presente amostra, atendendo à correlação de erros dos itens. Neste seguimento, a PHLMS não é passível de ser analisada mediante um modelo hierárquico, já que não reúne condições que indiquem a validade de inclusão de uma variável latente de segunda ordem, sugerindo por isso que o

mindfulness surge da análise de cada um dos fatores propostos, de modo independente. Por fim, a análise multigrupos (fumadores vs. não fumadores), apresentou índices de invariância do modelo bifatorial, na PHLMS para fumadores e não fumadores, sugerindo a pertinência de aplicabilidade tanto numa como noutra daqueles grupos. Face ao exposto, a presente investigação vem contribuir para o aprofundamento do conhecimento em torno das caraterísticas psicométricas da PHLMS adaptada à

população portuguesa, considerando fumadores e não fumadores. Dadas as evidências encontradas, promove-se a produção de novas investigações que atendam a outras componentes metodológicas e com recurso a amostras mais heterogéneas, para assim aprimorar o conhecimento em torno das propriedades psicométricas do instrumento.

(35)

35

Referências Bibliográficas

Aroian, K. J. & Norris, A. E. (2005). Confirmatory factor analysis. Statistical Methods for Health Care Research, 5, 351-375.

Baer, R., Smith, G., Lykins, E., Button, D., Krietemeyer, J., Sauer, S., & Walsh, E. (2008). Construct validity of the five facet mindfulness questionnaire in meditating and nonmeditating samples. Assessment, 15, 329-342. doi: 10.117 7/1073191107313003.

Bishop, S. R., Lau, M., Shapiro, S., Carlson, L., Anderson, N. D., Carmody, J., ... & Devins, G. (2004). Mindfulness: A proposed operational definition. Clinical Psychology: Science and Practice, 11(3), 230-241. doi: 10.1093/clipsy.bph077. Brewer, J. A., Elwafi, H. M., & Davis, J. H. (2013). Craving to quit: Psychological

models and neurobiological mechanisms of mindfulness training as treatment for addictions. Psychology of Addictive Behaviors, 27(2), 366-379. doi: 10.103/ a0028490.

Brown, K. W. & Ryan, R. M. (2003). The benefits of being present: Mindfulness and its role in psychological well-being. Journal of Personality and Social Psychology, 84(4), 822. doi: 10.1037/0022-3514.84.4.822.

Buffart, L. M., Singh, A. S., Van Loon, E. C., Vermeulen, H. I., Brug, J., & Chinapaw, M. J. (2014). Physical activity and the risk of developing lung cancer among smokers: A meta-analysis. Journal of Science and Medicine in Sport, 17(1), 67-71. doi: 10.1016/j.jsams.2013.02.015.

(36)

36 Butryn, M. L., Juarascio, A., Shaw, J., Kerrigan, S. G., Clark, V., O'Planick, A., &

Forman, E. M. (2013). Mindfulness and its relationship with eating disorders symptomatology in women receiving residential treatment. Eating behaviors, 14(1), 13-16. doi:10.1016/j.eatbeh.2012.10.005.

Byrne, B. M. (2001). Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications and programming. Mahwah, NJ: Erlbaum.

Cardaciotto, L., Herbert, J. D., Forman, E. M., Moitra, E., & Farrow, V. (2008). The assessment of present-moment awareness and acceptance the Philadelphia mindfulness scale. Assessment, 15(2), 204-223. doi:10.1177/1073191107311467 Elwafi, H. M., Witkiewitz, K., Mallik, S., Thornhill, T. A., Brewer, J. A. (2012). Mindfulness training for smoking cessation: Moderation of the relationship between craving and cigarette use. Drug and Alcohol Dependence, 130, 222-229. doi: 10.1016.2012.11.015.

Fagerström, K. O. (1978). Measuring degree of physical dependência to tobacco smoking with reference to individualization of tratment. Addictive Behaviors, 3, 235-241.

Fernandes, H. M., & Vasconcelos-Raposo, J. (2010). Análise factorial confirmatória do TEOSQp. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(1), 92-101.

Grossman, P., & Van Dam, N. T. (2011). Mindfulness, by any other name…: Trials and tribulations of sati in western psychology and science. Contemporary Buddhism, 12(01), 219-239. doi: 10.1080/14639947.2011.564841.

Kabat-Zinn, J. (2003). Mindfulness-based interventions in context: Past, present, and future. Clinical Psychology: Science & Practice, 10(2), 144–156. doi: 10.1093/ clipsy/bpg016.

(37)

37 Lau, M., Bishop, S., Segal, Z., Buis, T., Andreson, N., Carlson, L., … & Devins G.

(2006). The Toronto mindfulness scale: Development and validation. Journal of Clinical Psychology, 62(12), 1445-1467. doi: 10.1002/jclp.20326.

Luberto, C. M., McLeish, A. C., Robertson, S. A., Avallone, K. M., Kraemer, K. M., & Jeffries, E. R. (2014). The role of mindfulness skills in terms of distress tolerance: A pilot test among adult daily smokers. The American Journal on Addictions, 23(2), 184-188. doi: 10.1111/j.1521-0391.2013.12096.x.

Maroco, J. (2014). Análise de Equações Estruturais: Fundamentos Teóricos, Software e Aplicações (2ª ed.) Pêro Pinheiro: ReportNumber.

Pais-Ribeiro, J. (2010). Metodologia de Investigação em Psicologia da Saúde (3ª ed.). Lisboa-Legis Editora.

Rocha, V., Guerra, M. P., & Maciel, M. J. (2010). Dependência tabágica, assertividade e alexitimia em doentes cardíacos. Paidéia, 20(46), 155-164.

Rosch, E. (2007). More than mindfulness: When you have a tiger by the tail, let it eat you. Psychological Inquiry, 18(4), 258-264. doi: 10.1080/10478400701598371. Segal, Z. V., Williams, J. M. G., & Teasdale, J. D. (2012). Mindfulness-based cognitive

therapy for depression (2ª ed.). New York: Guilford Press.

Silveira, A. D., Castro, T. G., & Gomes, W. B. (2012). Adaptação e validação da Escala Filadélfia de Mindfulness para adultos brasileiros. PsicoUSF. Braçança Paulista, SP. 17(2), 215-223.

Teixeira R. J. & Pereira, M. G. (2012, setembro). Validação Portuguesa da Cognitive and Affetctive Mindfulness Scale – Revised (CAMS-R) e da Philadelphia Mindfulness Scale (PHLMS). Póster apresentado no VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia, Braga, Portugal.

(38)

38 Tejedor, R., Feliu-Soler, A., Pascual, J. C., Cebolla, A., Portella, M. J., Trujols, J., … &

Soler, J. (2014). Propiedades psicométricas de la versión española de la Philadelphia mindfulness scale. Revista de Psiquiatría y Salud Mental, 7(4), 157-165. doi: 10.1016/j.rpsm.2014.04.001.

Vasconcelos-Raposo, J., Fernandes, H. M., & Teixeira, C. M. (2013). Factor structure and reliability of the depression, anxiety and stress scales in a large portuguese community sample. The Spanish Journal of Psychology, 16, E10. doi:10.1017/ sjp.2013.15.

Vasconcelos-Raposo, J., Fernandes, H. M., Teixeira, C. M., & Bertelli, R. (2012). Factorial validity and invariance of the Rosenberg Self-Esteem Scale among Portuguese youngsters. Social Indicators Research, 105(3), 483-498. doi: 10.100 7/s11205-011-9782-0.

Walach, H., Buchheld, N., Buttenmüller, V., Kleinknecht, N., & Schmidt, S. (2006). Measuring mindfulness—the Freiburg mindfulness inventory (FMI). Personality and Individual Differences, 40(8), 1543-1555. doi: 10.1016/j.paid.2005.11.025. Williams, J. & Kabat-Zinn, J. (2011). Mindfulness: diverse perspectives on its

meaning, origins, and multiple applications at the intersection of science and dharma. Contemporary Buddhism, 12(01), 1-18. doi:10.1080/14639947.2011. 564811.

Williams, J. & Penman, D. (2011). Mindfulness: A practical guide to finding peace in a frantic world. London: Piatkus.

Zeng, X., Li, M., Zhang, B., & Liu, X. (2015). Revision of the Philadelphia Mindfulness Scale for Measuring Awareness and Equanimity in Goenka’s Vipassana Meditation with Chinese Buddhists. Journal of Religion and

(39)

39

- Parte II -

(40)

40

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Impacto da atividade física sobre estados emocionais

negativos e mindfulness em fumadores portugueses

2º Ciclo de estudos em Psicologia Clínica

Hugo David Rodrigues Fernandes

Orientador:

Prof. Catedrático José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo

(41)

41

Resumo

A Atividade Física (AF) é importante para a manutenção da saúde física e mental, embora seja necessário aprofundar o conhecimento sobre o seu impacto sobre variáveis psicológicas em fumadores. O objetivo deste estudo foi o de identificar o impacto da AF sobre estados emocionais negativos e mindfulness em fumadores

portugueses. A amostra total incorporou 569 adultos portugueses (184 fumadores) entre os 18 e os 75 anos (M= 26.85; DP= 8.549). Foram efetuadas comparações considerando a amostra total e a amostra de fumadores, com recurso a análises multivariadas da variância (MANOVA). Os resultados indicaram influências significativas da prática de AF sobre os estados emocionais negativos e o mindfulness, tanto na amostra total e especificamente na amostra de fumadores. Os fumadores apresentaram ainda níveis de ansiedade superiores, comparativamente aos não fumadores. O presente estudo

identificou um impacto positivo da AF sobre estados emocionais negativos e o mindfulness em fumadores. Sugere-se a implementação de intervenções baseadas na prática regular de AF e do mindfulness, no processo de cessação tabágica.

Palavras-Chave: Atividade física, estados emocionais negativos, mindfulness, fumadores.

(42)

42

Abstract

The Physical Activity (PA) is important to maintaining physical and mental health, although it is necessary to deepen the knowledge about is impact on

psychological variables in smokers. The aim of this study was to identify the impact of AF on negative emotional states and mindfulness in portuguese smokers. The total sample portuguese incorporated 569 adults (184 smokers) between 18 and 75 years (M = 26.85, SD = 8549). Comparisons were made considering the total sample and the sample of smokers, using multivariate analysis of variance (MANOVA). The results indicated significant influences of PA practice on the negative emotional states and mindfulness, both the total sample and specifically in the smoking sample. Smokers also showed higher levels of anxiety, compared to non-smokers. This study identified a positive impact of PA on negative emotional states and mindfulness in smokers. It is suggested the implementation of interventions based on the regular practice of PA and mindfulness in the smoking cessation process.

(43)

43

Introdução

A prática de Atividade Física (AF) apresenta-se como hábito de vida importante, no impacto benéfico sobre várias dimensões da saúde física e mental (Fernandes,

Vasconcelos-Raposo, Pereira, Ramalho, & Oliveira, 2009; Melo, Oliveira, &

Vasconcelos-Raposo, 2014; Vasconcelos-Raposo, Fernandes, Mano, & Martins, 2009). Especificamente, vários estudos têm mostrado esses efeitos ao nível de vários processos mentais, quer seja em termos de regulação de estados de humor (Sabiston et al., 2013; Teixeira, Vasconcelos-Raposo, Fernandes, & Brustad, 2013; Vasconcelos et al., 2009), da melhoria da aptidão física e do autocontrolo (Carvalhal & Vasconcelos-Raposo, 2007; Vasconcelos-Raposo, Costa, & Carvalhal, 2001) ou dos benefícios ao nível do bem-estar subjetivo (Gunnell, Crocker, Mack, Wilson, & Zumbo, 2014) e bem-estar psicológico (Almeida, Rodrigues-Fernandes, Caridade, & Fernandes, 2014). Em oposição, o ato de fumar constitui-se como fator de risco que contribui para o aparecimento de inúmeras doenças físicas (Buffart et al., 2014; Pereira et al., 2013), estando muitas vezes presente em sujeitos com perturbações psiquiátricas significativas (Abramovitch, Pizzagalli, Geller, Reuman, & Wilhelm, 2015; Salín-Pascual, Alcocer-Castillejos, & Alejo-Galarza, 2002).

Empiricamente, tem sido reconhecida a importância da prática habitual de AF como fator a implementar em terapias de cessação tabágica (Azagba & Asbridge, 2013; Treviño et al., 2014). Este reconhecimento ganha sentido perante a associação negativa entre dependência da nicotina e a prática de AF (Azagba & Asbridge, 2013; Loprinzi, Kane, Mahoney, & Walker, 2015). Outro aspeto é a associação entre a dependência de nicotina e queixas de ansiedade, depressão e stresse (Saravanan & Heidhy, 2014).

(44)

44 A investigação tem sido unanime quanto aos benefícios da AF na redução de sintomatologia associada à ansiedade, depressão e stresse (Fernandes et al., 2009; Melo et al., 2014; Sabiston et al., 2013; Teixeira et al., 2013; Vasconcelos-Raposo et al., 2009). Já na relação entre fumar e a presença de estados emocionais negativos, Saravanan e Heidhy (2014) sugeriram que a presença de queixas é mais patente em fumadores, evidências previamente apontadas também por Lyvers, Thorberg, Dobie, Huang, e Reginald (2008). Pedersen e Von-Soest (2009) sugeriram associações entre a dependência de nicotina e a depressão. Porém, alguns autores têm referido não existir razões de diferenciação entre tabagismo e estados emocionais negativos (Abramovitch et al., 2015; Thornton, Baker, Johnson, & Lewin, 2013).

Os processos metacognitivos adjacentes ao mindfulness podem estar presentes no ser humano independentemente de desenvolver dinâmicas provenientes desse tipo de intervenção (Cardaciotto, Herbert, Forman, Moitra, & Farrow, 2008). Neste prisma, sabe-se que a prática de AF pode trazer benefícios ao nível de diversos processos mentais (Carvalhal & Vasconcelos-Raposo, 2007; Vasconcelos-Raposo et al., 2001). Contudo, pouco se tem pesquisado sobre o impacto da prática de AF nos processos adjacentes ao mindfulness, considerando o modelo proposto por Cardaciotto et al. (2008). Dos estudos realizados, Mothes, Klaperski, Seelig, Schmidt, e Fuchs (2014) referiram associações positivas entre a prática de exercício físico aeróbio e mindfulness.

Compreender os aspetos em torno da influência da AF sobre as dimensões do mindfulness mostra-se relevante. Essa relevância prende-se com o facto de que vários estudos têm demonstrado que o treino em mindfulness, integrado nas terapias cognitivas de terceira geração (Kabat-Zinn, 2003; Williams & Penman, 2011), tem apresentado resultados quanto à diminuição de sintomatologia ao nível dos estados emocionais negativos (Asl & Barahmand, 2014; Elwafi, Witkiewitz, Mallik, Thornhill, & Brewer,

(45)

45 2012). Essa redução é vista a vários níveis como no que concerne à diminuição da ansiedade (Desrosiers, Klemanski, & Nolen‐Hoeksema, 2013), da depressão (Kabat-Zinn, 2003; Asl & Barahmand, 2014) e do stresse (Williams & Penman, 2011). Vários estudos demonstraram que estes aspetos acabam por ajudar os pacientes nos processos de abandono do consumo tabágico (Elwafi et al., 2012; Luberto et al., 2014). Por exemplo, para Asl e Barahmand (2014) o treino baseado em mindfulness diminuiu sintomatologia depressiva em pacientes aditivos.

O estudo sobre o impacto da prática de AF sobre estados emocionais negativos ainda carece de algum aprofundamento. Por exemplo, pouca atenção tem sido prestada aos efeitos da prática de AF sobre variáveis psicológicas em amostras específicas de fumadores (Treviño et al., 2014). Deste modo, dados os efeitos nefastos do consumo de tabaco (Buffart et al., 2014; Pereira et al., 2013) e os efeitos benéficos da AF enquanto estilo de vida saudável (Melo et al., 2014; Vasconcelos-Raposo et al., 2009), importa aprofundar o conhecimento sobre o impacto destes fatores combinados em determinadas dimensões do funcionamento mental, nomeadamente, em estados emocionais negativos e mindfulness. Assim, em primeiro lugar, o presente estudo procura clarificar o impacto da prática regular de AF sobre a ansiedade, depressão e stresse (Lovibond & Lovibond, 1995) e ao nível dos processos de mindfulness (Cardaciotto et al., 2008; Salmon, Hanneman, & Harwood, 2010) considerando, tanto amostras heterogéneas, como amostras mais homogéneas, onde se incluiu adultos fumadores. Neste aspeto, são escassos os estudos sobre o impacto da AF no mindfulness (Mothes et al., 2014; Salmon et al., 2010). Por último, a investigação tem alertado para a necessidade de se

aprofundar o conhecimento sobre impacto de estilos de vida ativos na saúde mental da população adulta (Vasconcelos-Raposo et al., 2009). Assim, o presente artigo procura

(46)

46 contribuir para o conhecimento ao nível do impacto da AF sobre estados emocionais negativos e mindfulness na população geral e sobretudo numa amostra de fumadores.

Como tal, esta investigação tem como objetivo geral verificar o impacto da AF sobre estados emocionais negativos, bem como ao nível das duas dimensões primordiais do mindfulness (Cardaciotto et al., 2008), em fumadores adultos portugueses.

Especificamente, pretendemos comparar sujeitos inativos, pouco ativos e ativos quanto à nsiedade, depressão, stresse, awareness e aceitação. Comparam-se ainda grupos de fumadores e não fumadores, quanto àquelas variáveis. Por fim, apresentam-se comparações dos grupos de fumadores inativos, pouco ativos e ativos, ao nível da ansiedade, depressão, stresse e das dimensões do mindfulness.

Método

Este estudo é de caráter transversal, quantitativo, quasi-experimental,

nomotético, comparativo e exploratório (Pais-Ribeiro, 2010). Constituem-se variáveis dependentes a ansiedade, depressão, stresse, awareness e aceitação e como variáveis independentes os níveis de prática de AF e o consumo ou não consumo de tabaco.

Participantes

No estudo participaram 621 adultos portugueses tendo sido validados 569 casos. Como critérios de exclusão consideramos a nacionalidade (nacionalidades que não a portuguesa), idade (inferior a 18 anos) e erros na resposta aos protocolos (por exemplo, itens inválidos). Assim, a amostra integrou 569 adultos portugueses entre os 18 e os 75

(47)

47 anos (26.85 ± 8.549), em que 73.5% dos participantes eram do sexo feminino. A

maioria dos participantes (61.3%) provinha da região norte de Portugal e 66.3% residiam em meio urbano. Quanto às habilitações literárias, 68.4% tinham concluído uma formação superior. Na prática habitual de AF, 26% dos participantes foram considerados inativos, 38.5% pouco ativos, 22.8% moderadamente ativos e 12.7 bastante ativos, considerando as orientações internacionais para a prática de AF como comportamento promotor de saúde (Haskell et al., 2007). Nos comportamentos aditivos, 83.7% referiu não consumir álcool diariamente, 19.1% afirmou já ter consumido drogas ilícitas e 32.6% mencionou fumar atualmente (n=184). Dos fumadores, 59.2% são do sexo feminino. Em termos de prática regular de AF, grande parte dos participantes eram inativos (35.9%) ou pouco ativos (35.9%), sendo classificados como moderadamente ativos, 21.2% da amostra e apresentando-se quase nula (3.8%), a parcela da amostra que atingiu as recomendações internacionais (Haskell et al., 2007). Nos fumadores, 60.9% integraram o grupo de dependência baixa à nicotina, 35.3% o de dependência média e os restantes 3.8% obtiveram indicadores para dependência elevada (Fagerström, 1978). Os valores descritivos aqui relatados encontram-se em detalhe na tabela 1.

Instrumentos

Dados sociodemográficos

Para o levantamento sociodemográfico elaborou-se um questionário de recolha de informações quanto à idade, sexo, zona, local de residência e habilitações

académicas dos participantes. A fim de identificar os participantes fumadores e não fumadores da amostra, desenvolveu-se ainda uma questão para definição desta variável.

(48)

48 Tabela 1:

Análise descritiva da amostra

Análise descritiva da amostra em estudo.

N %

Amostra global final 569 100

Sexo Feminino 418 73.5 Masculino 151 26.5 Zona de residência Norte 349 61.3 Centro 121 21.3 Sul 27 4.7 Ilhas 59 10.4 Fora de Portugal 13 2.3 Local de residência Rural 192 33.7 Urbano 377 66.3 Habilitações literárias Até ao 3º ciclo 30 5.3 Ensino Secundário 150 26.3 Ensino Superior 389 68.4 Prática de AF Inativos 148 26.0 Pouco ativos 219 38.5 Moderadamente ativos 130 22.8 Bastante ativos 72 12.7 Fumadores 184 100 Sexo Feminino 109 59.2 Masculino 75 40.8 Prática de AF Inativos 66 35.9 Pouco ativos 66 35.9 Moderadamente ativos 39 21.2 Bastante ativos 13 7.1

Nível de dependência à nicotina

Dependência baixa 112 60.9

Dependência moderada 65 35.3

Imagem

Tabela 1:  Caraterização da amostra  N  %  315  100  Sexo          Feminino  209  66.3          Masculino  106  33.7  Local de residência          Rural  148  47.0          Urbano  167  53.0

Referências

Documentos relacionados

a) A Câmara Técnica de Planejamento, Projetos e Controle (CTPC): acompanha os projetos, discute de forma inicial as prioridades de aplicação dos recursos a

A partir desta análise são geradas informações de inteligência para cibersegurança, isto é, palavras-chave, expressões regulares e outras características que poderão ser usadas

Assim, além de suas cinco dimensões não poderem ser mensuradas simultaneamente, já que fazem mais ou menos sentido dependendo do momento da mensuração, seu nível de

O período de colheita pode ser escalonado entre os estádios de grão pastoso, grão farináceo e grão duro, sem ocorrer aumento da umidade, mas com ligeira redução na

Todas as provas disputadas de forma individual ou coletiva (Ensino, Saltos de Obstáculos, Volteio e Corta-mato Individual) terão um peso (coeficiente) de 1 (um) para

Além disso, é necessária a utilização de softwares elaborados especificamente para utilização nesses dispositivos. Visando compreender melhor como se dá atualmente

d) independentemente dos registros contábeis cabíveis, nas notas explicativas aos balanços da sociedade - conforme determinado pelo item XVI do Título 4 do Capítulo II

favorecida), para um n´ umero grande de poss´ıveis lan¸ camentos, esperamos que a frequˆ encia de cada face seja parecida. • Em outras palavras, esperamos que a frequˆ encia