Galáxias II
Formação e Evolução
Yuri Fregnani
Fregnani@gmail.com
• Galáxias são estruturas gigantes e dinâmicas.
• Mas como elas surgiram?
• Elas evoluem?
• O Universo começou com o Big Bang, e apenas 1 bilhão de anos depois começaram a surgir as primeiras galáxias.
• No início, o gás resultante do nascimento do Universo sofreu algumas sobredensidades.
• Zonas de maior densidade aconteceram por processos que podiam ser espontâneos.
• Através dessas sobredensidades, o gás e a poeira começaram a se contrair, dando origem as primeiras estrelas.
• A medida que o
gás e a poeira
iam
se contraindo
,
começavam a surgir as
nuvens protogalácticas
.
• Porém, somente essas
sobredensidades não
explicam
o surgimento de todas as galáxias e muito
menos suas evoluções.
• Assim, precisamos entender como funciona a
interação entre essas estruturas.
• Ao contrário das estrelas, galáxias têm
tamanhos
consideráveis
em comparação às
distâncias entre
elas
.
• As
distâncias
são
muito grandes
, mas o
tamanho
das galáxias
também é
.
• Se essa interação existe, o conceito dos
“Universos
Ilhas” não faz sentido
.
• É
possível observar
galáxias interagindo, dessa
forma, sabemos que esse
processo é real
.
• Mas o que acontece nessa interação?
• Podem acontecer dois tipos de interação entre as
galáxias:
•Colisão
•Fusão
http://apod.nasa.gov/apod/ap140119.html
Galáxias espirais em colisão
IC 2163 NGC 2207
Colisão
• Como sabemos, a distância que separa as
estrelas é muito grande, logo, quando ocorre
uma colisão entra as galáxias, as estrelas em
geral não sofrem nenhum tipo de choque entre
elas.
• A interação que acontece entre as estrelas é gravitacional, um processo chamado fricção dinâmica.
• Imagine um corpo, por exemplo uma galáxia
anã ou um aglomerado, passando pelo “mar”
de estrelas de uma galáxia maior.
• Esse corpo atrai as estrelas, que vão se
Colisão
• Por conta desse acumulo de massa atrás do corpo que está passando pela galáxia, surge uma força contrária ao seu movimento, o que o faz frear, por isto o nome fricção.
• A velocidade com que o corpo atravessa a galáxia
influencia a força sentida por ele. Quando mais rápido o corpo atravessa a galáxia, menos fricção dinâmica ele sofre.
• Caso o corpo seja uma galáxia satélite ou um aglomerado globular, a velocidade mais importante é a velocidade de rotação desses corpos.
Fusão
• A fusão é uma das etapas mais importantes para a formação e
evolução das galáxias.
• É através da fusão que as galáxias podem ganhar, ou perder,
massa e momento angular.
• Se duas galáxias colidem com velocidade muito alta, as estrelas
não têm tempo para alterar suas posições, uma vez que a fricção dinâmica é inversamente proporcional à velocidade.
• Elas acabam atravessando uma a outra sem frear demais. Porém, as estrelas ganharam um pequeno empurrão,
Fusão
• E qual a consequência desse aumento na energia
cinética?
• A galáxia aumenta de tamanho
ou
• Material é expulso da galáxia
Fusão
• Um
exemplo dessa fusão
pode ser visto na galáxia
Roda de Carruagem
.
• Uma das
galáxias atravessou a outra
, não se sabe
ao certo qual, isso
causou a expulsão de material
em forma de anel
, com 46 kpc de diâmetro
, onde
ocorre formação estelar
.
Fusão
• Outro exemplo de
fusão
é o que
está acontecendo
agora entre as
Nuvens de Magalhães
e a
Via
Láctea
.
• As
Nuvens de Magalhães
já passaram diversas
vezes pelo
Disco Galáctico da Via Láctea
, e serão
completamente incorporadas
em nossa Galáxia em
Em rosa: a corrente magellânica, gás que foi arrancado das Nuvens de Magalhães nas passagens pelo disco, e onde se encontram várias galáxias anãs.
Tidal Stripping - Remoção de
material por forças de maré
• Galáxias não são pontos, elas
possuem tamanho e volume
consideráveis, assim, elas sofrem
forças de maré causadas pelo campo gravitacional de outras galáxias.
• Se uma galáxia ultrapassa seu tidal
radius, que é o limite no qual o gás está ligado gravitacionalmente à
galáxia, ela perde material para
outra galáxia.
• Tidal Stripping, é o análogo galáctico
de uma estrela ultrapassando seu
Tidal Stripping - Remoção de
material por forças de maré
• Esse processo é provavelmente a causa
de alguns fenômenos, como:
Ensino de Astronomia no Grande ABC
NGC 4650A
NGC 5128
• As faixas de poeira em algumas galáxias elípticas, como a NGC 5128.
• Os anéis em galáxias de anéis polares, como em NGC 4650A, uma galáxia S0 com anel polar.
• A corrente magellânica, a faixa de matéria que vemos na Via Láctea vindo das Nuvens de Magalhães.
Galáxias Starburst
• Um possível resultado da interação entre galáxias,
são as
galáxias starburst
. Elas são galáxias com
uma
taxa de formação estelar extremamente alta
,
de 10 a 300 M
Sol/ano.
• Essa
formação estelar
pode ocorrer no
núcleo
, ou
no
disco inteiro
, e é provocado pelo
colapso do gás
e da poeira
, uma vez que quase todo
momento
angular
da galáxia
se perdeu na interação violenta
http://apod.nasa.gov/apod/ap130704.html
Galáxia M82
Formação estelar
O Problema de Múltiplos Corpos
• Ainda não temos ferramentas matemáticas que resolvam esse tipo de problema que envolve múltiplos corpos interagindo, conseguimos resolver apenas problemas que envolvem dois corpos.
• Para superar isso, é feito o uso de supercomputadores, que conseguem
simular vários corpos interagindo, formando um sistema que evolui com o tempo.
• Na prática, as interações entre galáxias são muito complexas, já que elas são formadas por milhões de estrelas, além do gás, poeira, matéria escura e o possível buraco negro supermaciço em seu núcleo.
O Problema de Múltiplos Corpos
• Uma das primeiras simulações foi feita pelos irmãos Toomre em 1972.
• Eles modelaram duas galáxias, com núcleos e discos de, mais ou menos, 50 “estrelas”.
• Apenas calcularam as forças aplicadas pelos núcleos nas estrelas, conseguindo reproduzir alguns sistemas, como
M51 e as Antenas.
• Também conseguiram mostrar que galáxias irregulares, como a M82 são resultado de interações gravitacionais.
O Problema de Múltiplos Corpos
• As simulações mais modernas conseguem incluir cerca de
100 mil estrelas, além do gás, poeira e Matéria Escura.
• Elas levam em consideração as várias interações entre os
diversos componentes da galáxia.
• Em alguns resultados, estas simulações mostram que os
halos de Matéria Escura reduzem o tempo que leva para a fusão das galáxias.
• As simulações indicam que as galáxias tendem a evoluir
para galáxias elípticas através da fusão.
Como se formou a Via Láctea,
afinal?
• O modelo mais aceito hoje, para explicar a formação da Via Láctea, é o Modelo Hierárquico de Fusões, proposto Searle e Zinn em 1978.
• Nesse modelo, estruturas
menores se formam
primeiro, e vão se
fundindo para formar estruturas maiores.
Como se formou a Via Láctea,
afinal?
• Logo após o Big Bang houve flutuações de densidade bastante grandes, de até 1012M
Sol.
• Essas flutuações na densidade se contraíram, formando estrelas. Em alguns casos, até mesmo formando aglomerados globulares.
• Essas estruturas eram praticamente galáxias anãs.
• As estruturas no centro das flutuações formaram-se mais densas, se desenvolvendo rapidamente, o que deu a elas uma maior metalicidade. Essa é a origem do bojo, o Proto-Bojo.
Como se formou a Via Láctea,
afinal?
• As zonas de densidade mais
afastadas eram menores e
possuíam uma metalicidade mais baixa. Eram atraídas para o centro.
• Chegando perto do centro, essas
estruturas eram rompidas por forças de maré, o que originou as
estrelas do Halo.
• Apenas cerca de 10% dos
Aglomerados Globulares sobreviveram as forças de maré, dando origem aos Aglomerados Globulares do Halo.
Como se formou a Via Láctea,
afinal?
• As estruturas formadas longe das flutuações de densidade e com menor massa, sobrevivem até hoje, compondo as atuais galáxias satélites da Via Láctea.
• Algum dia serão
incorporados na Galáxia,
como as Nuvens de
Magalhães e a galáxia de
Como se formou a Via Láctea,
afinal?
• Fragmentos longe de qualquer
sobredensidade maior talvez
sobreviverão “para sempre”
como galáxias anãs.
• O gás dos fragmentos rompidos
caiu para o centro e, tendo um momento angular por causa de torques de nuvens protogalácticas, formou um disco.
• Dentro deste disco, algumas nuvens conseguiram resfriar e formar estrelas. Era a origem do
Disco Espesso.
Como se formou a Via Láctea,
afinal?
• Depois de formado o Disco Espesso, o gás que sobrou, ainda mais enriquecido, se manteve no plano com escala de altura ~600 pc.
• Inicialmente, este disco auto manteve esta espessura, partes que resfriavam se contraíam, começavam a formar estrelas, se reaqueciam e reexpandiam.
• Com o tempo a formação de estrelas fez a densidade do gás diminuir, o que fez a formação estelar também diminuir, e assim o disco se reduziu a 350 pc. Esse é o Disco Fino.
Como se formou a Via Láctea,
afinal?
• Por fim, o gás que sobrou se resfriou ainda mais, se contraindo para um disco de ~100 pc, o atual Disco de gás e poeira da Via Láctea.
• Para as estrelas jovens encontradas no Bojo, a explicação é que, em fusões recentes com galáxias satélites ricas em gás, este gás se concentrou no disco e no centro, formando novas estrelas.
• A Barra Central da Galáxia parece ajudar na migração de material pro centro, como se fornecesse um caminho até ele.
• Assim, parece que a Via Láctea se formou da fusão de várias
galáxias anãs.
Galáxias Elípticas
• Muitas elípticas foram provavelmente formadas por um colapso similar àquele que deu origem às espirais, com a diferença que não havia gás sobrando para a formação de um disco.
• Isto explica as baixas metalicidades encontradas nelas e a falta de gás.
• Como vimos, as galáxias elípticas que possuem gás provavelmente o adquiriram depois da sua formação.
Galáxias Elípticas
• Já as elípticas gigantes são provavelmente resultados das fusões de galáxias espirais, como aquelas vistas nas simulações de colisão de múltiplos corpos.
• Nesse processo os discos são destruídos e o gás, expulso.
• Uma possível causa das elípticas serem resultados de fusões é o fato de que elípticas são mais frequentes em ambientes densos.
Galáxias cDs
• O auge de fusões de galáxias
devem ser as galáxias cD,
galáxias gigantes nos centros de
Aglomerados de galáxias com tamanhos de até 1 Mpc e centenas de vezes a massa da Via Láctea.
• Muitas têm núcleos múltiplos
que se orbitam com velocidades muito altas, cerca de 1000 km/s,
velocidade muito mais alta que a das estrelas, 300km/s.
• Elas devem ser o resultado de
fusões de muitas galáxias.
Buracos Negros Binários
• Em fusões de galáxias grandes é inevitável a formação de um
Buraco Negro Supermaciço Binário.
• Os Buracos Negros centrais
das galáxias envolvidas
migram para o centro da nova galáxia por fricção dinâmica.
• Em NGC 6240, os dois Buracos Negros se encontram a uma distância de ~1 kpc um do outro.
Ensino de Astronomia no Grande ABC
O Buraco Negro
binário em NGC 6240 nos raios X (Chandra)
Buracos Negros Binários
• Quando os Buracos Negros chegam muito pertos, eles se orbitam e emitem ondas gravitacionais (já detectadas (2016) https://goo.gl/9D5Ukx), assim perdendo momento angular e aproximando ainda sua órbita.
• No final há uma fusão de Buracos Negros, resultando em um Buraco Negro ainda maior. • Acredita-se que assim foram
formados os Buracos Negros centrais de galáxias gigantes.
Galáxias Ativas
• Existem alguns tipos especiais de galáxias com
características únicas
. Chamamos elas de
Galáxias
Ativas
.
• Elas mostram sinais de
atividade violenta
em
diferentes espectros de observação
.
• Essa atividade é causada por seus núcleos
chamados
AGNs
(Active Galactic Nuclei - Energia
dos Núcleos Ativos de Galáxias).
Galáxias Ativas
• Elas têm uma variedade bastante grande de formas e “cores”, mas podem ser descritas por um modelo unificado que afirma que a atividade é devido a um Buraco Negro Supermaciço no núcleo.
• A energia dos AGNs vem da acreção de matéria ao Buraco Negro central, é a transformação de energia potencial gravitacional em energia radiativa + energia cinética dos jatos.
• A acreção se dá através de um “disco de acreção”, que se forma ao redor do buraco negro.
Galáxias Ativas
• Existem ao menos três tipos de galáxias ativas:
• Quasares
• Rádio-galáxias
• Galáxias Seyfert
Quasares
• Um quasar (quasi-stellar radio source, ou fonte de rádio quase estelar) é um objeto astronômico distante e poderosamente energético.
• Seu núcleo galáctico é
extremamente ativo.
• Um único quasar emite entre
100 e 1000 vezes mais luz que uma galáxia inteira com 100 bilhões de estrelas como a Via Láctea.
Rádio-galáxias
• Quando observadas diretamente, geralmente têm a aparência de uma galáxia elíptica grande.
• Sua natureza é revelada quando observadas em ondas de rádio e normalmente apresentam uma estrutura dupla com dois lóbulos emissores localizados um em cada lado da galáxia.
• No referencial da Terra, esses jatos se propagam com velocidade próxima à da luz, o que causa um efeito relativístico chamado headlight effect, ou “efeito farol”.
Centauro A, localizada na constelação
do Centauro
Rádio-galáxias
• Quase toda a
radiação
é emitida “pra frente”,
e quase nada “pra trás”.
Ensino de Astronomia no Grande ABC
• Quando o jato faz um ângulo pequeno com a linha de
observação, o
lado apontando pra nós
aparece muito
mais brilhante
.
• Além disso, o outro lado, chamado
contrajato
, pode se
encontrar
atrás de um disco de poeira
, o que o torna
Galáxias Seyfert
• Galáxias mais próximas de nós, cujo espectro nuclear é semelhante aos dos Quasares, mas menos luminoso.
• Consegue-se observar a galáxia “hospedeira” com facilidade.
• São na maioria espirais, mas em uma porcentagem pequena de todas as galáxias, são frequentemente acompanhadas por outras galáxias.
Formação de Galáxias no Início do
Universo
• A mais distante e, portanto, a mais antiga, imagem de galáxias que temos é o Hubble Ultra Deep Field.
• Essa imagem retrata o Universo
como ele era a 13 bilhões de anos atrás, cerca de 400 à 800 milhões de anos após o Big Bang. • Estima-se que haja 10 mil galáxias dentro da área estuda pelo telescópio Hubble.
Formação de Galáxias no Início do
Universo
• Apesar da maioria dos pontos visíveis no HUDF possam ser observadas em infravermelho a partir da terra, o telescópio Hubble é o único instrumento capaz de fazer observações dessas estruturas distantes com comprimentos de onda da luz visível.
• Elas tinham aparências bem diferentes das galáxias atuais.
Resumo
• Como vimos, as galáxias possuem
interações
complexas entre elas e o ambiente a sua volta
,
dependendo de diversos fatores para a sua
evolução
.
• Um dos
fatores determinantes
para a evolução das
galáxias é a sua
massa
. É ela quem vai definir
propriedades como
luminosidade
e
formação de
estrelas
, por exemplo.
Resumo
• Sabemos que as galáxias podem apresentar
duas
tonalidades
:
• Azul
–
Ricas em gás
Grande formação de
estrelas
• Vermelha
–
Pobres em gás
Baixa formação de
Resumo
• A evolução das galáxias pode acontecer por dois processos:
• Colisões – Troca de gás e poeira, pode dar início a uma nova fase de formação estelar, entretanto, as estrelas das galáxias não sofrem nenhum tipo de colisão direta.
• Fusão – Galáxias se encontram e se juntam, formando uma nova galáxia. A Via Láctea está passando por um processo de fusão com as Nuvens de Magalhães.
Resumo
• As fusões de galáxias podem ter
três resultados
:
• Azul
+
Azul
=
Azul
Quando uma
galáxia com
grande massa
se junta com uma de
pouca massa
.
• Azul
+
Azul
=
Vermelha
Quando as
duas galáxias
tem
massas semelhantes
.
• Vermelha
+
Vermelha
=
Vermelha
Como
ambas
tem pouca gás
, não haverá formação de estrelas.
O Futuro da Galáxia
• Vimos que a
galáxia de Andrômeda
era uma
exceção entre as outras,
em vez de estar se
afastando de nós
, Andrômeda
sofre um blueshift
,
ou seja, está chegando cada vez mais perto.
• Andrômeda está se aproximando
da Via Láctea a
120 km/s.
O Futuro da Galáxia
• Em cerca de
4 bilhões de anos
, as duas
maiores
galáxias do Grupo Local
irão colidir, formando uma
galáxia elíptica gigante
.
• Algum tempo depois, a
galáxia Triângulo se juntará
a essa nova galáxia.
• O
Sistema Solar
provavelmente vai
sobreviver à
fusão
, mas deve parar
mais longe do centro
da
nova galáxia, ou
será expulso
.
Colisão entre a Via Láctea e Andrômeda
Até mais, e Obrigado
pelos Peixes!
Referências
• Quadro resumido com o surgimento das galáxias
-https://goo.gl/hT6M37
• Infográfico com algumas curiosidades sobre galáxias
- http://astronomyisawesome.com/infographics/10-galaxies-and-weird-facts/
• Colisões de galáxias Gastão, B. Lima Neto IAG/USP
-http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/seminarios/ColisoesGalaxs_ 6_2008.pdf
• Aula do professor Pieter Westera