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A influência das conexões políticas no custo de capital e no desempenho das empresas brasileiras listadas na BM&FBOVESPA

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JAISON CAETANO DA SILVA

A INFLUÊNCIA DAS CONEXÕES POLÍTICAS NO CUSTO DE CAPITAL E NO DESEMPENHO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA

Florianópolis 2016

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JAISON CAETANO DA SILVA

A INFLUÊNCIA DAS CONEXÕES POLÍTICAS NO CUSTO DE CAPITAL E NO DESEMPENHO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Wlamir Gonçalves Xavier, Dr. Coorientadora: Profª. Graciella Martignago, Dra.

Florianópolis 2016

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Dedico este trabalho, primeiramente, a Deus, que foi meu guia, socorro presente na hora da angústia e luz no meu caminho durante esta caminhada; à minha família, pelo apoio incondicional nessa escolha e compreensão da minha ausência; e a todos os professores da UNISUL que contribuíram nesse processo de ensino-aprendizagem.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus que se mostrou presente a todo instante, guiando-me, protegendo-me e fortificando-me para que fosse possível vencer essa jornada.

Os meus votos de agradecimento vão à minha família, também, que, com muito apoio, não mediu esforços para eu chegar até essa etapa de minha vida.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Wlamir Gonçalves Xavier, meu muito obrigado mais que especial pela paciência, dedicação e respeito demonstrados durante sua orientação. Com certeza, o resultado obtido não seria possível sem a sua condução e confiança em mim depositada.

À minha coorientadora, Profa. Graciella, muito obrigado pelas contribuições preciosas no trabalho e, principalmente, pelos “socorros” nas horas de turbulências. Colecionei muitas dívidas com a senhora, por isso conte comigo em que precisar.

Não posso deixar de reconhecer o apoio recebido de minha namorada, Cinara Gambirage, que além de namorada, passou a ser minha colega de mestrado e melhor amiga, apoiando-me nos momentos difíceis e turbulentos pelos quais passamos juntos.

Deixo os meus agradecimentos aos membros da Banca de minha dissertação pelas contribuições relevantes que fizeram neste trabalho com o objetivo de torná-lo melhor. Aos professores da UNISUL, deixo votos de agradecimento. Vocês foram os grandes contribuintes neste processo de minha formação.

Direciono um agradecimento especial ao professor Dr. Sílvio Parodi Oliveira Camilo, que contribuiu muito para a pesquisa acontecer. Serei sempre grato à sua generosidade em disponibilizar a base de dados e em auxiliar na coleta de dados na Economática, a qual viabilizou e agilizou em muito o acesso aos dados elementares a este trabalho.

Agradeço à instituição UNIARP e aos colegas de trabalho, em especial ao Rolff Schultz, que também me proporcionaram apoio e incentivo para que eu pudesse me ausentar em busca deste conhecimento, essa colaboração tornou-se fundamental para a conclusão do presente trabalho.

Muito obrigado a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para que essa jornada fosse concluída.

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RESUMO

O arcabouço teórico sugere que o governo possui recursos que são de difícil acesso e custosos para as empresas e que essas desenvolvem estratégias para capturar e assegurar tais recursos, pois esses benefícios podem influenciar no aumento do valor da empresa ou na melhora de seu desempenho, sendo a conexão política por meio de doações de campanha uma estratégia recorrente das empresas. Diante desse contexto, o presente trabalho se propõe a mensurar a influência das conexões políticas por meio das doações a campanha eleitorais no custo de capital e no desempenho das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa nos anos de 1998 a 2015. A lente teórica utilizada foi a Teoria Institucional. Os dados econômico-financeiros foram extraídos das demonstrações contábeis mediante fontes secundárias: Economática. Esses dados foram completados com informações dos relatórios de doações a campanhas obtidas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com relação à análise e o tratamento dos dados, foi utilizado o software Stata na versão 13.0 para estimar os modelos de regressão por meio da técnica de dados em painel e métodos de efeitos fixos (fixed effects) e efeitos aleatórios (random effects –

RE). Os principais resultados não apresentaram relações estatísticas significantes e pouco poder

explicativo, logo os resultados foram inconclusivos.

Palavras-chave: Teoria Institucional. Custo de Capital. Desempenho. Conexões Políticas,

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ABSTRACT

The theoretical framework suggests that the government presents difficult access and costly resources for the companies, this way, companies develop strategies to capture and secure such benefits, because these benefits may influence on increasing the company's value or its performance improvement, being the political connection through campaign donations a recurring strategy by the companies. In this context, this study aims to measure the influence of the political connections through donations for the electoral campaigns, considering the capital cost and the performance of the Brazilian Companies mentioned in BM&FBovespa from 1998 to 2015. The theoretical lens used was the Institutional Theory. The financial statements showed the economic and financial data, through secondary sources: Economática, completed with the information on campaign donations reports obtained from the Superior Electoral Court (TSE). Related to analysis and data handling, Stata Software version 13.0 was used to estimate the regression models through Panel Data Analysis, Fixed Effects methods and Random Effects – RE. The main results had no significant statistical relationships, showing little explanatory power, in other words, the results were inconclusive.

Keywords: Institutional Theory. Capital Cost. Performance. Political Connections. Campaign

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de doações da JBS no pleito de 2010 ... 65

Tabela 2 – Estatística descritiva das variáveis de controle ... 69

Tabela 3 – Estatística descritiva das variáveis dependentes ... 70

Tabela 4 – Percentual de doações por setor da economia ... 72

Tabela 5 – Percentual de empresas doadoras ... 73

Tabela 6 – Estatística descritiva das variáveis doações ... 73

Tabela 7 – Matriz de Correlação ... 75

Tabela 8 – Modelo 1 Final da Hipótese 1(a) ... 78

Tabela 9 – Modelo 1 Final da Hipótese 1(b) ... 80

Tabela 10 – Modelo 1 Final da Hipótese 1(c) ... 82

Tabela 11 – Modelo 1 Final da Hipótese 1(d) ... 83

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Valores doados a candidatos pelas empresas da amostra ... 71 Gráfico 2 – Percentual de doações por cargo no período de 1998 a 2014 ... 72

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LISTA DE QUADROS

Quadro 7 – Número de empresas por ano ...68

Quadro 1 – Síntese dos principais trabalhos sobre conexões políticas e suas consequências em empresas brasileiras ... 45

Quadro 2 – Variáveis dependentes ... 53

Quadro 3 – Variável independente ... 54

Quadro 4 – Segregação da variável doação ... 55

Quadro 5 – Variáveis de controle ... ... 56

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Index of Economic Freedom ... 29 Figura 2 – Modelo conceitual proposto ... 40

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LISTA DE SIGLAS

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNDESPAR – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social - Participações BM&FBovespa – Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo

CEF – Caixa Econômica Federal CEO – Chief Executive Officer

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

CVM – Comissão de Valores Mobiliários DVA – Demonstração do Valor Adicionado

EBITDA – Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization FE – Fixed Effects

IEF – Índice de Liberdade Econômica IPC – Índice de preços ao Consumidor IPO – Initial Public Offering

PICE –Política Industrial e de Comércio Exterior PIS – Programa de Integração Social

PL – Patrimônio Líquido

PND – Programa Nacional de Desestatização RE – Random Effects

ROA – Return on assets ROE – Return on Equity

SEC – Securities and Exchange Commission TSE – Tribunal Superior Eleitoral

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 20 3 METODOLOGIA ... 50 4 RESULTADOS ... 68 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 86 REFERÊNCIAS ... 89 APÊNDICES ... 101

APÊNDICE A – RELAÇÃO DAS EMPRESAS E ANOS ANALISADOS ... 102

APÊNDICE B – ESTATÍSTICA DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS INDEPENDENTES ... 106

APÊNDICE C – RELAÇÃO DAS EMPRESAS E PRESENÇA POR ANO DA BASE DO PROFESSOR DR. CAMILO ... 107

APÊNDICE D – ESTATÍSTICA DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS DEPENDENTES 109 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO ... 13

1.2 OBJETIVOS ... 16

1.2.1 Objetivo geral ... 16

1.2.2. Objetivos específicos ... 16

1.3 JUSTIFICATIVA ... 16

2.1 TEORIA INSTITUCIONAL ... 20

2.2 REFORMAS DE MERCADO NO BRASIL ... 23

2.3 AS CONEXÕES POLÍTICAS ... 31

2.3.1 Estudos acerca do tema no Brasil ... 41

3.1 PARADIGMA DA PESQUISA ... 50

3.2 ESTRATÉGIA DE PESQUISA ... 50

3.3 OBJETO DO ESTUDO EMPÍRICO ... 52

3.3.1 Variáveis dependentes ... 52

3.3.2 Variável independente ... 54

3.3.3 Variáveis de controle ... 55

3.4 COLETA DE DADOS ... 62

4.1 ESTATÍSTICA DESCRITIVA ... 68

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1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, apresenta-se a contextualização do tema, problematização da pesquisa, a definição do problema da pesquisa, o objetivo geral e os objetivos específicos.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO

O futuro incerto e a disputa por recursos escassos, no ambiente em que as empresas estão inseridas, aumenta a necessidade de interação dessas com o meio externo (PFEFFER; SALANCIK, 2003). Tal interação molda as estratégias, principalmente, em economias emergentes, sendo essas mais impactadas pela incerteza ambiental, o que dificulta a captação e a manutenção de recursos cruciais à competitividade. (FISMAN, 2001; CUERVO-CAZURRA; DAU, 2009).

O governo, como importante ator do ambiente externo e com papel de destaque na economia, é provedor e controlador de recursos, como os financeiros. Além disso, delibera sobre políticas públicas e acaba por afetar, direta ou indiretamente as empresas de diversos segmentos produtivos. (CAMILO; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO, 2012).

Dada a importância do ator governo na economia, as empresas podem desenvolver estratégias para se conectar ao governo com o intuito de obter e de preservar recursos e ainda influenciar nas decisões e políticas públicas. (HILLMAN; HITT, 1999). Essas conexões políticas podem desempenhar uma função relevante nas empresas, independente da economia em que estejam inseridas. (FISMAN, 2001).

Certas de que as decisões, restrições, concessões ou alocações de recursos ofertadas ou impostas ao mercado são de grande importância, as empresas, por sua vez, vão buscar maneiras, formais ou informais, para interferirem nas decisões governamentais de tal modo que possam se beneficiar. (KRUEGER, 1974).

Nessa relação empresa-governo, a literatura aponta benefícios mútuos. Para as empresas, os benefícios são traduzidos em barreiras de entrada aos concorrentes (SCHULER, 1996); regulamentações favoráveis (AGRAWAL; KNOEBER, 2001); acesso a recursos de forma privilegiada, tais como empréstimos bancários (KHWAJA; MIAN, 2005; FACCIO, 2006); superação de falhas de mercado (LI et al., 2008); informações, influência em políticas públicas, rendas do governo, entre outros. (CAMILO; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO, 2012).

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Esses benefícios podem influenciar no aumento do valor da empresa (ROBERTS, 1990; FISMAN, 2001; RAMALHO, 2007) ou na melhora de sua performance (JOHNSON; MITTON, 2003). Tal relação, é evidenciada nos estudos de Johnson, Daily e Ellstrand, (1996), Hillman (2005) e Faccio (2006), esses autores apontam que empresas conectadas politicamente conseguem resultados melhores na disputa e na preservação de recursos, influenciando diretamente em suas estratégias e nos seus desempenhos.

As conexões políticas podem se estabelecer de diversas maneiras. Executivos ou membros do conselho de administração que, em algum momento, já tenham participado do senado, câmara dos deputados ou na direção de uma organização ligada ao governo (FACCIO, 2006) podem constituir um elo entre o público e o privado. Os estreitamentos relacionais proativos com o ambiente externo, por meio dos conselhos, podem gerar ações benéficas à empresa e um melhor desempenho, como indicam Camilo, Marcon e Bandeira-de-Mello (2012).

Outra maneira de as empresas estabelecerem conexões políticas se dá por meio do

board interlocking. O interloking se efetiva quando um dos membros do conselho de

administração ocupa a posição de conselheiro em duas ou mais empresas, estabelecendo, dessa forma, uma ligação direta ou indireta entre elas. (SCHOORMAN; BAZERMAN; ATKIN, 1981; FICH; WHITE, 2001). Quando a ligação é direta, um ou mais conselheiros de uma empresa serve (m) outra companhia. É indireta quando dois ou mais conselheiros encontram-se no conencontram-selho de uma terceira empresa. (BARRINGER; HARRISON, 2000). Dessa forma, estabelecem-se e fortalecem-se laços, inclusive políticos, que podem gerar informações privilegiadas para as companhias. (KOENIG; GOGEL; SONQUIST, 1979; BAZERMAN; SCHOORMAN, 1983).

Claessens, Feijen e Laeven (2008) investigam as conexões políticas estabelecidas a partir das doações de campanha com pretensão de acesso privilegiado a fontes financeiras. Os autores encontram evidências robustas de empresas que efetuaram contribuições de campanha e obtiveram mais acesso a linhas de financiamento e se alavancaram substancialmente em relação às demais.

Os bancos estatais, principalmente em economias emergentes, aumentam a concessão de empréstimos em anos eleitorais. Esses empréstimos são negociados a taxas de juros significativamente menores e condições diferenciadas para as empresas conectadas politicamente, se comparados com os bancos privados e a empresas não conectadas. (SAPIENZA, 2004; DINÇ, 2005).

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No contexto brasileiro, o ambiente institucional afeta significativamente o desempenho dos grupos de negócios e esse efeito é moderado pelas conexões políticas a exemplo de quando o governo é acionista. (XAVIER; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2014). Outro aspecto a se destacar diz respeito ao fato de que empresas conectadas politicamente são sensíveis a eventos políticos, e esses podem influenciar diretamente em seu desempenho, podendo ser de forma positiva ou negativa. (RAMALHO, 2007; CLAESSENS, FEIJEN; LAEVEN, 2008).

O estudo da relação empresa-governo tem atraído pesquisas com multiplicidade de variáveis, métodos de mensuração, amostras, contextos políticos e correntes teóricas que, apesar de não serem passíveis de generalização, sinalizam efeitos importantes às empresas. (CAMILO; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO, 2012).

Dentre os trabalhos que discutem o tema no contexto brasileiro, empresas com sede no Brasil, ressaltam-se os de Samuels (2001a, 2001b, 2001c); Bandeira-de-Mello e Marcon (2005); Ramalho (2007); Claessens, Feijen, Laeven (2008); Camilo, Marcon e Bandeira-de-Mello (2012); Lazzarini, Musacchio, Bandeira-de-Bandeira-de-Mello e Marcon (2011); Lazzarini e Musacchio (2013); e Xavier, Bandeira-de-Mello e Marcon (2014), que corroboram a assertiva de que as empresas investidoras na relação empresa-governo esperam obter a devolução de favores de forma privilegiada por meio do acesso ao capital, informações, proteções, contratos com o governo, influência em políticas públicas, dentre outras vantagens.

Ademais, destacam-se os trabalhos de Johnson e Mitton (2003); Bertrand et al. (2007); Leuz e Oberholzer-Gee (2006); Fan, Wong e Zhang (2007); Boubakri, Cosset e Saffar, (2012), Boubakri et al. (2012) e Li et al. (2008).

Partindo do pressuposto de que o governo possui recursos que são de difícil acesso e custosos para as empresas, associados ao desenvolvimento institucional, e que essas desenvolvem estratégias para capturar e assegurar tais recursos, a presente pesquisa visa mensurar as conexões políticas como estratégia para captar recurso e melhorar o desempenho de empresas listadas no Brasil.

A questão que norteia a pesquisa é: Qual é a influência das conexões políticas no custo de capital e no desempenho das empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa)? Com base no referencial teórico, buscaram-se as questões principais para gerar hipóteses a serem testadas.

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Como objetivo geral da pesquisa, estabeleceu-se mensurar a influência das conexões políticas no custo de capital e no desempenho das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa nos anos de 1998 a 2015.

1.2.2. Objetivos específicos

- Identificar os dados econômicos e de doação de campanha das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa no período de 1998 a 2015;

- Mensurar os níveis de endividamento das empresas conectadas às não conectadas; - Mensurar o custo do capital das empresas conectadas às não conectadas;

- Mensurar o desempenho das empresas conectadas às não conectadas.

1.3 JUSTIFICATIVA

A necessidade de investimentos das empresas faz com que a área de captação de recursos financeiros seja considerada um dos fatores críticos ao desempenho das empresas. A escolha de fontes de financiamentos mais vantajosas produz melhores resultados à empresa, como a maximização de lucros aos proprietários. Dessa forma, a empresa buscará o meio menos custoso e mais vantajoso para tal captação. (MYERS, 1984; MYERS; MAJIUF, 1984). Acessar capitais com custos menores tem sido considerado um diferencial competitivo importante às empresas. (KHWAJA; MIAN, 2005; BOUBAKRI; COSSET; SAFFAR. 2012).

A busca de recursos e outros favorecimentos via conexão política têm sido considerada uma opção recorrente por empresas para reduzir o custo de financiamento de suas atividades. (BOUBAKRI et al., 2012; KHWAJA; MIAN, 2005). Essa relação empresa-governo e seus efeitos, a exemplo do acesso preferencial a financiamento, tem atraído um nível crescente de pesquisas em diversos contextos políticos e econômicos. (WU et al., 2012). A conjuntura do cenário brasileiro se torna interessante para pesquisas acerca do tema. Apresentam-se, a seguir, os motivos que tornam a análise relevante.

Primeiro, apesar de ter avançado nas discussões, verifica-se que a exploração do tema é incipiente no Brasil e que não há na literatura aspectos conclusivos que possibilitem

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afirmar que as conexões políticas favorecem as empresas e em qual contexto isso acontece, pois os estudos acerca do tema não são passíveis de generalização, indicando a necessidade de novos esboços. (CAMILO; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO, 2012).

Segundo o Brasil, por ser economia emergente, tem avançado em algumas reformas de mercado e melhorado o ambiente institucional. Desde a nova constituição proclamada em 1988, apresenta avanços políticos e econômicos: controle da inflação, pagamento da dívida externa, expansão da democratização, melhoria da classificação de investimento, redução do risco-país, menor intercessão na economia e redução das barreiras de mercado. Por outro lado, o governo ainda faz intervenção considerável na política econômica e na alocação de recursos escassos. (XAVIER; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2014).

O terceiro ponto a destacar-se diz respeito às campanhas políticas no Brasil tendo em vista serem as que mais demandam recursos no mundo, e o valor investido nessas campanhas são determinantes nos resultados das eleições no congresso brasileiro, sendo a maior parte desses recursos investidos de origem empresarial. Além disso, o fato de os partidos serem pouco desenvolvidos e com pouca estruturação favorece a candidatura de representantes das empresas. (SAMUELS, 2001b, 2001c).

Quarto, apresenta-se a prática de mútuo interesse para financiar esses custos que já se encontram disseminados e tornaram-se usuais no país onde as instituições de mercado e seus mecanismos não capturam todas as formas de conexões existentes, nem sua intensidade e consequências. (CAMILO; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO, 2012). Ainda, o baixo nível de desenvolvimento institucional acaba por favorecer a relação político-empresa. (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008).

O quinto motivo é o acesso a dados de forma transparente. A legislação brasileira prevê que as doações de campanhas sejam feitas em relação de candidato, sendo possível não apenas verificar a conexão política, mas também a sua intensidade. (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008). Modelos semelhantes de contabilização e divulgação de dados de financiamentos de campanhas são encontrados apenas no Canadá e nos Estados Unidos. (SPECK, 2010).

A sexta razão é o fato de o país possuir as maiores taxas de juros do mundo, com os dois maiores bancos comerciais como propriedade governamental e os investimentos sendo alocados por intermédio de bancos de desenvolvimentos estatais ou fundo de pensões de empresas estatais, com juros usualmente menores e condições diferenciadas. Com isso, o acesso ao capital torna-se influenciável por políticos e atrativo às empresas. (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008; XAVIER; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2014). Essas, por sua vez,

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desenvolvem estratégias com o intuito de acessar capital e diminuir os custos para se capitalizarem. (MYERS, 1984; MYERS; MAJIUF, 1984).

O sétimo motivo, sob a perspectiva prática, diz respeito à decisão de investimento de recursos por parte das empresas e dos acionistas na relação com políticos. Importante decisão estratégica que pode implicar na governança corporativa e nas expectativas futuras do mercado, produzindo efeitos positivos e negativos na performance da empresa. (BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON; GOLDSZMIDT; ZAMBALDI, 2012; RAMALHO, 2007; CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008).

Apesar da discussão de que a interferência do governo na economia cria ineficiência e expulsa o empreendedorismo privado, Inoue, Lazzarini e Musacchio (2013) argumentam que a participação do governo em empresas de capital aberto pode não ser problemática, dependendo dos perfis de governança das empresas-alvo e estágio de desenvolvimento institucional. Num contexto de mercado de capitais pouco desenvolvido, investimentos de longo prazo apoiados pelo Estado disponibilizam às empresas capital necessário para reforçar projetos e alcançar ganhos de eficiência. As potenciais distorções políticas associadas à relação empresa-governo, no caso de participações minoritárias do governo, são atenuadas por deixar para outros investidores e gestores os papéis-chave nas empresas.

Portanto, em relação ao exposto, cabe observar que o tema explanado possui literaturas que o fundamentam e ainda sugerem que o desenvolvimento de bases de dados, em painel, mais longevas e que incluam mais informações é desejável para o melhor entendimento do tema, uma vez que inúmeros estudos se mostraram inconclusivos em relação a vários aspectos.

Visando a contribuir com a vertente teórica que investiga a relação das conexões políticas e o desempenho das empresas, o presente estudo agrega-se à temática expandindo as pesquisas anteriores ao considerar um período de tempo maior, o que pode ajudar a entender o motivo da ambiguidade dos resultados das pesquisas recentes sobre o tema. Outro ponto a se destacar, diz respeito ao mapeamento dos principais trabalhos e evidenciação de suas metodologias e resultados

Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. No primeiro, apresentam-se a contextualização, a problematização do tema, os objetivos geral e específicos e a justificativa. No segundo, apresenta-se o referencial teórico sobre as conexões políticas como estratégia para abrandar vazios institucionais, obter recursos e melhorar o desempenho de empresas. O terceiro aborda a metodologia utilizada e, no quarto, apresentam-se as discussões dos resultados

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empíricos da pesquisa. Por fim, o quinto capítulo contempla as considerações finais, as conclusões, as limitações da pesquisa e as sugestões para estudos futuros.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O objetivo, neste capítulo, é apresentar a fundamentação teórica acerca do tema proposto no presente trabalho. Primeiramente, apresenta-se a teoria institucional, lente teórica utilizada, e discutem-se as reformas de mercado ocorridas no contexto brasileiro. Na sequência, apresenta-se como as conexões políticas acontecem, os motivos do estreitamento de laços entre políticos e empresas, os benefícios e malefícios decorrentes dessa relação para empresa.

2.1 TEORIA INSTITUCIONAL

As instituições podem ser entendidas como quaisquer tipos de restrições ou limites existentes para as interações entre os atores sociais. Em outras palavras, instituições são a regra do jogo de uma sociedade, responsáveis pela organização das interações sociais. (NORTH, 1990). Há instituições formais, a exemplo da legislação e mecanismos coercitivos; e informais, a exemplo de normas de conduta e hábitos. (ZENGER; LAZZARINI; POPPO, 2002).

Empresas são constituídas e evoluem de acordo com as regras do ambiente institucional. As instituições, por sua vez, evoluem igualmente a partir de mudanças no ambiente, na sociedade e nas interações com as empresas. Entretanto, tais mudanças são incrementais, lentas e não provocam rupturas. A partir dessas interações, as empresas e as instituições acabam por se influenciar mutuamente, estruturando incentivos nas relações políticas, sociais e econômicas. (NORTH, 1990).

As instituições despertam interesses de pesquisas sob diferentes perspectivas. Na sociologia, a ótica volta-se em como as preferências individuais, os indivíduos, a ação social, o Estado e a cidadania são moldados pelas forças institucionais. (POWELL; DIMAGGIO, 1991). Para a ciência política, a atenção volta-se para a vantagem competitiva que as nações podem desenvolver por meio da estrutura institucional. Em economia, o trabalho de North e Thomas (1972) impulsionou estudos sobre impacto econômico das instituições. Essa linha de pensamento é baseada nos Custos de Transação. (COASE, 1937, WILLIAMSON, 1979).

Nessa perspectiva, os custos de transação podem ser abrandados quando as instituições, preventivamente, estabelecem leis e regulamentos restringindo os atores de ações oportunistas; estabelecem mecanismos efetivos de monitoramento e garantia de contratos; e quando criam e mantêm penalizações legais como forma de punir os violadores dos acordos contratuais. (HILL, 1995; NORTH, 1990).

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Neste trabalho, incorpora-se a visão econômica das instituições, entendidas como as regras do jogo que moldam as transações econômicas das empresas, tal ótica sustenta que os atores sociais, em especial o ator governo, são capazes de interferir, elevando ou minimizando os custos das atividades econômicas em geral (NORTH; THOMAS, 1972). Dada a importância desse ator, as empresas podem desenvolver estratégias para se conectarem ao intuito de diminuir incertezas ou obter vantagens. (HILLMAN; HITT, 1999).

Para ilustrar como os diferentes contextos institucionais afetam o desempenho econômico das empresas e do país, tomam-se, por exemplo, na perspectiva econômica, as Alemanhas (Oriental e Ocidental) e as Coreias (Norte e Sul). Os dois casos mostram que, ao passo que um país sofreu estagnação econômica calcada no modelo de planejamento central e propriedade coletiva, o outro país vizinho optou pelo modelo de economia de mercado e propriedade privada e conseguiu prosperar. (ACEMOGLU et al., 2000).

A influência dos atores sociais, em especial do governo, é mais intensa em economias emergentes do que em economias desenvolvidas, associadas a diferentes arranjos institucionais. (HOSKISSON et al., 2000). Essa diferença entre os arranjos institucionais, a ausência de mecanismos coercitivos e punitivos, é denominada por Khanna e Palepu (1997) de vazios institucionais (institutional voids).

Considerando as economias emergentes, a falta de mecanismos que garantam o cumprimento da legislação e os acordos comerciais acabam por gerar comportamentos oportunistas e riscos. (HOSKISSON et al., 2000). Para Khanna e Palepu (1997), os vazios institucionais ou falhas de mercado nesses países causam problemas, como:

- informação: nos acordos comerciais, as partes envolvidas, investidores, empregados ou compradores são relutantes em fazer negócios sem informações para a tomada de decisão;

- regulamentação equivocada: quando os objetivos políticos são priorizados em detrimento dos econômicos e distorcem o funcionamento do mercado;

- sistemas judiciais ineficientes: as empresas são avessas às negociações quando não há garantias de que os atores envolvidos cumprem sua parte no acordo. Em contextos com sistemas judiciais fortes, que façam cumprir os contratos, as negociações são facilitadas;

- mercado de capitais: escassez de informações para os compradores e vendedores, decorrentes, na maioria das vezes, da infraestrutura de comunicações pouco desenvolvida, afastando os investidores que evitam alocar recursos nos empreendimentos. A falta de uma comunidade dinâmica de analistas e de uma imprensa financeira independente, incentivam a atuação de conglomerados;

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- mercado de produtos: mesmo quando a informação é disponível, faltam mecanismos de vigilância das queixas e reclamações, sejam agências de vigilância pública ou organizações independentes.

- mercado de trabalho: apresentam carência de mão-de-obra qualificada e de boas escolas de negócios locais. Os governos tendem ao protecionismo, dificultando ajustes no quadro de funcionários com leis rígidas que protegem empregos. Nesse contexto, os conglomerados novamente se beneficiam com transferências internas para otimização de pessoal.

- regulação: o governo intervém de forma considerável e torna difícil a previsão das ações das organizações regulatórias. Adicionalmente, as leis possuem, em geral, critérios subjetivos, possibilitando a ação de intermediários experientes, seja por meio de conexões políticas, corrupção e até mesmo educação dos agentes do governo.

- garantia de cumprimento de contratos: tem carência de mecanismos efetivos de garantia de contratos, geralmente com tribunais ineficientes.

Outro ponto a se destacar diz respeito à incerteza e à ingerência política no ambiente institucional, pois esses afetam negativamente a economia, reduzindo as taxas de crescimento. (HENISZ, 2000).

No que concerne à incerteza, as frequentes e imprevisíveis mudanças nas regras do jogo (política tributária, fiscal e na regulação) acabam por onerar os investimentos, diminuem o número de investidores e aqueles que se mantêm exigem uma maior remuneração. Outra consequência diz respeito à alteração do perfil dos investimentos, favorecendo os retornos imediatos e penalizando os de longa maturação. Tem-se, como exemplo, as novas tecnologias e as obras de infraestrutura estratégicas.

A ingerência política diz respeito ao sucesso das atividades econômicas, que é garantido pelas conexões políticas. Como consequência, tem-se a realocação de recursos de atividades produtivas para atividades políticas.

Em suma, os vazios de mercado constituem-se na falta de instituições formais e informais que são necessárias para que ocorram trocas eficientes baseadas no mercado, a exemplo da ausência de um sistema judiciário eficaz, as informações, a infraestrutura ou, ainda, intermediários financeiros. (KHANNA; PALEPU, 1997).

Mercados de capitais fracos, sistemas jurídicos ineficientes e uma fraca oferta de mão-de-obra qualificada são vazios institucionais típicos que elevam o custo de fazer negócios e frustram a atividade empreendedora. (INOUE, LAZZARINI; MUSACCHIO, 2013). Esse ambiente leva as empresas a desenvolverem estratégias com o intuito de diminuir incertezas,

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captar e manter recursos cruciais ao seu valor. (FISMAN, 2001; CUERVO-CAZURRA; DAU, 2009).

Um exemplo de vácuo institucional a se destacar no Brasil é o caso da Agência Nacional do Petróleo, a qual é relativamente enfraquecida em decorrência de que o poder executivo, além de administrador, é o regulador da estatal Petrobras. Em contraponto, tem-se a Noruega com uma agência regulatória forte e autônoma que ajudou a desenvolver freios e contrapesos institucionais que mitigam a capacidade do governo de intervir nas estatais. (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

Uma vez que o contexto institucional diverge em cada país, as estratégias adotadas pelas empresas também devem ser diferentes em cada ambiente na qual atuam. Nesse contexto, a teoria institucional ajuda a explicar o impacto das instituições na estratégia e, consequentemente, no desempenho das empresas. Entretanto, cabe observar que as “regras do jogo” condicionam as estratégias, mas não as determinam. (HALL et al., 2001).

Cabe destacar que as melhorias institucionais atenuam progressivamente os vazios. Por exemplo, o desenvolvimento substancial do mercado de capitais aumenta o acesso a fontes de financiamento com base no mercado, reduzindo, assim, a necessidade de capital do governo. Nesse sentido, observa-se que capitalização via mercado de ações no Brasil saltou de 19%, em 1995, para 73% em 2009, em relação ao PIB. (INOUE; LAZZARINI; MUSACCHIO, 2013).

Para melhor compreensão do ambiente institucional brasileiro, o próximo capítulo abordará as principais reformas de mercado ocorridas nas duas últimas décadas. Torna-se relevante essa explicitação, pois a história pode representar uma importante perspectiva para entender o efeito da estrutura institucional na economia e nas empresas. (NORTH, 1990).

Nessa perspectiva, este trabalho concentra-se na influência das estratégias de se conectar com o ator governo dada sua importância na busca de suplantar vazios institucionais, permitindo às empresas captarem recursos a custos menores e, com isso, melhorarem o seu desempenho.

2.2 REFORMAS DE MERCADO NO BRASIL

A influência do governo brasileiro na economia aumentou após a I Guerra Mundial. Isso ocorreu de forma acentuada na década de 1940, quando o então governo de Getúlio Vargas lançou um ambicioso plano de investimentos governamentais em usinas de aço, mineração, produtos químicos, entre outros setores. (MUSACCHIO, 2009).

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A latente necessidade de expansão dos investimentos em infraestrutura e vazio institucional no mercado financeiro nesse período levou o governo a criar, em 1952, um banco de desenvolvimento nacional a fim de fornecer crédito de longo prazo para setores como energia e transporte. Inicialmente, chamado de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e, mais tarde, BNDES quando foi incorporado à sua missão o desenvolvimento social. (LAZZARINI; MUSACCHIO; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2015).

Na década de 1960, os grupos empresariais piramidais começaram a ser organizados em vários setores, normalmente ligados a uma holding. Entre esses grupos, destacaram-se a Eletrobrás (em energia), a Telebrás (em telecomunicações), a Vale do Rio Doce (em mineração e logística) e a Siderbrás (em siderurgia) (TREBAT, 1983).

Nas décadas seguintes, o BNDES ampliou seu papel e começou a fornecer crédito para a compra de máquinas em moeda estrangeira e atuar como fiador nas operações de crédito no exterior. Na década de 1970, por intermédio de diferentes programas, o BNDES começou a alocar capital diretamente nas empresas. Em 1982, a fim de gerir essas participações que se avolumavam, criou o seu braço direito para essas operações: o BNDES Participações. (BNDESPAR; BRASIL, 2002).

Na década de 1980, na tentativa de reverter o quadro financeiro negativo das estatais e do próprio estado, os governos e as agências multilaterais tentaram implementar reformas no modelo de gestão com o intuito de melhorar a governança e desenvolveram programas de treinamentos para os executivos e estabeleceram incentivos à melhora do desempenho. Entretanto, os esforços foram inúteis. (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

Quando o primeiro censo de empresas estatais foi realizado, na década de 1980, o governo federal detinha mais de quinhentas empresas e, pelo menos, mais mil eram operadas por governos estaduais. (TREBAT, 1983).

Diante da crise do petróleo na década de 1970, aliada ao aperto de liquidez do começo da década de 1980, as estatais sofreram grandes perdas no mundo todo. Em média, as perdas foram equivalentes a 2% do PIB. Nos países em desenvolvimento, chegou a 4%. Essas perdas se converteram em déficits nos orçamentos nacionais, que acabaram ganhando proporções gigantescas quando as taxas de juros dispararam nos Estados Unidos em 1979 e quando os mercados de empréstimos se fecharam para os países em desenvolvimento em 1982. O modelo adotado pelo governo nas estatais mostrou-se ineficiente, converteu‑se em ônus e sangraram continuamente as finanças públicas. (MUSACCHIO; LAZZARINI, 2015).

Um exemplo dessa situação é o caso da mineradora estatal Vale do Rio Doce. Mesmo sendo destaque em rentabilidade, se comparada com as outras estatais, os dividendos

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pagos durante a década de 1980 e início de 1990 não cobriram os custos da dívida substancial da empresa. Entre 1988 e 1992, o retorno sobre o patrimônio da Vale foi de 0,5% a 5,2% em contrapartida aos juros da sua dívida que foram de 20% ao ano. (PINHEIRO; GIAMBIAGI, 1997).

O início da década de 1990 marcado pela instabilidade financeira, hiperinflação e alto déficit orçamentário fez com que o governo brasileiro reconsiderasse os investimentos em empresas estatais, dado o elevado custo dessa participação.

A partir de 1990, já em um regime democrático, após décadas de ditadura militar, e com primeiro presidente eleito pelo voto popular, Fernando Affonso Collor de Mello, os ajustes macroeconômicos começaram a ser mais claramente definidos. Realizaram-se privatizações, houve liberalização da economia brasileira e, concomitantemente, a redução da dívida. Para esse intento, utilizaram-se os valores das vendas das empresas estatais.

Pela primeira vez, o governo estabeleceu o aumento da capacidade produtiva como prioridade. O documento intitulado Diretrizes Gerais para a Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE) citava a eficiência na produção e comercialização de bens e serviços como objetivo principal e, explicitamente, descartava o processo de substituição de importações em prol das forças de mercado.

Ainda em 1990, criou-se o Programa Nacional de Desestatização (PND), estabelecido através da Lei nº 8031 de 1990, que explicitava de maneira formal a intenção do governo Collor de reduzir a presença do Estado em vários setores da economia. Essa medida foi a mais polêmica do conjunto de reformas, agravada com a eliminação da distinção previamente estabelecida entre o investidor estrangeiro e o nacional, o que acirrou manifestações contrárias por parte de alguns setores da sociedade. Até 1990, as privatizações se concentraram em empresas englobadas pelo Estado por problemas financeiros e que não tinham função de arrecadar recursos para o Tesouro. (LACERDA et al., 2006).

Com o intuito de mitigar as críticas da transferência de ativos para entidades estrangeiras, o governo apostou nos “consórcios mistos” nos leilões de privatização, envolvendo investidores estrangeiros e domésticos, tornando o capital estrangeiro e o local entrelaçados. Adicionalmente, buscaram-se reduzir os custos e as incertezas associadas à entrada em novos mercados. Consequentemente, em cerca de 50% dos casos em que houve transferência do controle público para o privado, realizaram-se os chamados “consórcios mistos”. (DE PAULA et al., 2002).

No processo de desestatização, o BNDES teve papel fundamental. Coube a ele executar as determinações do Conselho Nacional de Desestatização. O banco forneceu capital

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de risco através da subsidiária BNDES Participações S.A para recuperação e desenvolvimento das empresas com financiamento de longo prazo e baixo custo a setores considerados estratégicos e de geração de empregos. Como destaca Sapienza (2004), intermediários financeiros podem ter papel proeminente no desenvolvimento econômico.

Com o impeachment do presidente Collor, em outubro de 1992, Itamar Franco herdou a reforma econômica em curso com o grande desafio da estabilização. Com o auxílio do então ministro da fazenda, Fernando Henrique Cardoso, Franco deu início ao chamado Plano Real calcado no equilíbrio das contas públicas, na criação de uma unidade estável de valor e na mudança da moeda.

Naquele período, primeiros anos da década de noventa, dado o risco percebido no Brasil, investidores internacionais eram avessos em alocar recursos no país. Como forma de aportar e agilizar as privatizações, o BNDES, através da resolução 803 de 1993, fixou a taxa de juros em 6,5% nessas operações. (VELASCO-JUNIOR, 2010). Em tal ocasião, já com outro governo que assumiu depois de Collor, abriu-se uma grande oportunidade para as empresas nacionais. Como consequência, a maioria das privatizações foram compradas por investidores nacionais (ALDRIGHI; POSTALI, 2010). Essas oportunidades surgidas com as privatizações foram aproveitadas por atores locais que já tinham uma elevada conectividade. (LAZZARINI, 2007).

Cabe destacar, nesse processo, a atuação dos Fundos de Pensão Estatais como Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal). Esses fundos participaram dos leilões e adquiriram empresas através de fundos de investimentos, empresas de participações e, também, diretamente. (ALDRIGHI; POSTALI, 2010). Tomando como exemplo o Fundo Previ, que detinha capital em 29 empresas em 1995, de forma direta e indireta, saltou para 74 em 2003. Caso semelhante aconteceu com o fundo Petros que elevou a sua presença de 6 para 32 participações no mesmo período. (LAZZARINI, 2007).

A atuação do BNDES em conjunto com os fundos de pensões se tornou um mecanismo fundamental, possibilitando ao ator governo, em última análise, preservar sua influência na economia, apesar da intensa reestruturação societária. (LAZZARINI, 2007). Em alguns casos, os aportes de recursos do BNDES relacionados ao processo de privatização foram posteriormente convertidos em posições societárias nas empresas privatizadas. (SOUZA, 2005).

Em 1993, ocorreram escândalos de financiamento de campanhas, o que culminou na aprovação da lei n. 8.713 pelo congresso nacional. Essa lei passou a permitir que pessoas físicas e jurídicas efetuassem doações diretamente a candidatos, mas com o limite de 10% e 2%

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da renda bruta anual, respectivamente. Entretanto, exigiu-se que os candidatos apresentassem aos tribunais eleitorais a origem e o destino desses recursos. (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008).

Em julho de 1994, ocorreu a última etapa do Plano Real, através de uma medida provisória que introduziu a moeda. A manutenção do valor da moeda foi garantida por rígida política monetária. Nos meses seguintes, observou-se a queda da inflação, crescimento do PIB e expansão da maioria dos setores da economia. Com o sucesso do plano real, ainda em 1994, Fernando Henrique candidatou-se e elegeu-se presidente do país.

Cabe destacar a importância do processo de privatização gerando receitas que tiveram um aumento significativo a partir de 1993 com impacto relevante no pagamento das contas públicas e no auxílio ao processo de estabilização econômica. (MODIANO, 2000). As privatizações geraram uma receita da ordem de 79 bilhões de dólares entre 1990 e 2002. Mais da metade (54%) foi de capital estrangeiro. De forma geral, originaram-se dos setores de energia elétrica (31%), telecomunicações (31%), petróleo e gás (7%) e financeiro (6%) (BRASIL, 2002).

A primeira etapa de privatização concluiu-se em 1995 com privatizações, principalmente, nos setores industriais e de infraestrutura. Visando a aumentar a qualidade dos serviços públicos, o novo foco das privatizações passou a ser empresas concessionárias de serviços públicos, notadamente energia elétrica, transportes e comunicações, tanto na esfera federal quanto na estadual.

Do total de empresas que se privatizaram no Brasil, aproximadamente 75% passaram de mãos estatais para o setor privado, entre 1997 e 1999, com destaque para os setores de telecomunicações e elétrico. (LAZZARINI, 2007).

Cabe, ainda, destacar que, em 1998, aprovou-se a emenda constitucional que permitia aos candidatos concorrerem à reeleição, que até então proibida. Dessa forma, Fernando Henrique foi reeleito presidente e governou o país até 2002, período em que decorreu um processo de consolidação de reformas pró-mercado e de continuidade do plano real. A estabilização econômica e demais bases da política macroeconômica estabelecidas no Plano Real mantiveram-se mesmo com a mudança do governo em 2002, quando a oposição venceu as eleições presidenciais.

Para Guimarães (1996), os resultados no Brasil poderiam ter sido ainda melhores. As políticas de aumento da livre concorrência e de aumento da competitividade obtiveram modestos resultados decorrentes de três problemas principais: o apego às velhas políticas

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industriais; fragilidade de instrumentos legais e institucionais; e o despreparo das agências governamentais incumbidas de implementarem a nova política.

A redução do papel do Estado na economia, fator importante para o desenvolvimento das economias emergentes (WILLIAMSON, 2004), não foi plenamente atingida. A diminuição da presença do Estado na economia através do programa de privatizações foi pequena. Os fundos de pensão de empresas estatais e o BNDES tiveram papel preponderante na privatização de diversas empresas e em setores estratégicos. Dessa forma, o governo acabou por controlar expressiva parte da atividade econômica através de empresas estatais, BNDES ou, de empresas indiretas controladas por fundos de pensão. (LAZZARINI, 2011).

Contudo, López de Silanes e Chong (2004) argumentam que, de forma geral, a privatização na América Latina não somente melhorou o desempenho das firmas, mas também aumentou seus produtos, gerando melhorias de produtividade, benefícios fiscais, melhoria da qualidade e maior acesso às classes menos favorecidas. Com o tempo, os mercados emergentes tendem a mitigar as falhas de mercado e tais mudanças nas regras do jogo afetam os atores, tornando relevantes tais transições institucionais. (SAHAY; GOYAL, 2006). Cuervo-Cazurra e Dau (2009) corroboram os autores ao afirmar que as reformas pró-mercado afetaram positivamente a rentabilidade das firmas de países em desenvolvimento, em especial da América Latina, principalmente, nas empresas de propriedade doméstica ou estatais.

Ao comparar o Brasil com outros países emergentes, inclusive da América do Sul, Central e do Caribe, e considerando o índice de liberdade econômica (Index of Economic

Freedom ou IEF) da Heritage Foundation, observa-se que o Brasil está em uma posição

intermediária no que compete à intervenção governamental. Esse índice captura o grau de intervenção governamental na economia e o protecionismo dos atores locais, variando de 0 a 100, sendo que 100 representa um ambiente livre de restrições ou entraves. A Figura 1 evidencia a comparação do Brasil em relação aos outros países. Observa-se que o país chegou no ano de 2015 com um longo caminho a ser percorrido.

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Figura 1– Index of Economic Freedom

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Apesar de lentas, as reformas de mercado avançaram nos anos 90 e 2000 até o final do primeiro governo Lula. O congresso nacional apresentou participação mais ativa em relação às decisões do executivo. (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008). No âmbito econômico, conseguiu-se controlar a inflação, pagar a dívida externa, expandir a democratização, melhorar a classificação de investimento, reduziu-se o risco-país e reduziram as interferências na economia e as barreiras de mercado. (XAVIER; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2014).

Mas, o Brasil chegou a 2007 ainda com muito em que avançar. No mercado de trabalho, há significativa oneração tributária sobre a folha de pagamento (apesar da tentativa de desoneração realizada pelo governo Dilma realizada mais recentemente), rigidez nas relações trabalhistas, baixos níveis educacionais e de formação profissional, regulação elevada às relações de trabalho, rotatividade elevada, informalidade, sindicatos politizados e sem representatividade dos trabalhadores. Essas características diminuem a competitividade das empresas. (SCHNEIDER; KARCHER, 2010).

Outro ponto a se destacar diz respeito aos vazios associados ao mercado de capitais que limitam a capacidade das empresas de investir em projetos relevantes, especialmente aqueles que requerem grandes alocações de capital e têm longa maturidade. (BARTH et al., 1999; RAJAN; ZINGALES, 2003). Ainda precisam de melhorias substanciais quanto à taxa de juros e spread, suborno e corrupção, bem como no quadro legal e regulamentar. (XAVIER; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2014).

Em média, no período de 1995 a 2009, as empresas brasileiras se capitalizaram no mercado acionário o equivalente a 43,1% do produto interno bruto (PIB), em comparação com 98,7% no Chile e 129,7% no Estados Unidos. (INOUE; LAZZARINI; MUSACCHIO, 2013). Dessa forma, as empresas brasileiras atuam em um ambiente bem mais restrito em termos de acesso à capital, quando comparado a outros países, o que limita as capacidades dessas empresas em responderem à competição com atores internacionais.

Em economias emergentes, como a do Brasil, os vazios institucionais causam incertezas e, consequentemente, postergam investimentos. (HOSKISSON et al., 2000). Uma vez que a utilização de recursos dos acionistas, em detrimento de dívida, deve ser a última opção a ser adotada (WILLIAMSON, 1991), desenvolveram-se fortes incentivos para empresas se conectarem ao ator governo com o intuito de mitigar esses vazios.

O governo, por sua vez, detentor dos dois maiores bancos comerciais, do maior banco de desenvolvimento, ainda exerce forte influência nos fundos de pensões de empresas estatais, com juros usualmente menores e condições diferenciadas, tornou o capital

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influenciável por políticos e atrativo às empresas. (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008; XAVIER; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2014).

Além disso, como as metas do governo buscam o valor social, além da maximização do lucro puro, o estado tende a ser mais generoso com o retorno do investimento bem como suportar de maneira mais estável momentos de turbulências no mercado. (KALDOR, 1980).

Com base nas assertivas supracitadas, o próximo capítulo descreve de maneira mais aprofundada como ocorre o estreitamento de laços entre as empresas e o ator governo, os potenciais efeitos negativos decorrentes dessa relação e, ainda, apresenta os principais estudos relativos ao tema no Brasil e seus respectivos resultados.

2.3 AS CONEXÕES POLÍTICAS

As conexões políticas e seus efeitos na empresa constitui em um tema que tem atraído um nível crescente de pesquisadores. Estudiosos têm relatado os benefícios e os custos potenciais dessa relação, além de explicar como o ambiente econômico e institucional afetam os resultados decorrentes dessa relação. (FACCIO, 2006). O sucesso ou insucesso das organizações que se valem dessa estratégia têm levado muitos pesquisadores a estudar o tema com o intuito de medir o valor dessas ligações no mundo dos negócios. (HOUSTON, 2014; JACKOWICZ; KOZŁOWSKI; MIELCARZ, 2014; KHWAJA; MIAN, 2005).

A literatura não oferece uma abordagem padrão para identificar o estreitamento das relações das empresas com o ambiente político. Em grande parte dos estudos existentes identificam-se as empresas conectadas quando:

a. essas empregam pessoas com experiência na política (FACCIO, 2006; BOUBAKRI; COSSET; SAFFAR, 2008; HUNG et al., 2012);

b. apoiam financeiramente as campanhas eleitorais (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2011; LAZZARINI et al., 2011; OVTCHINNIKOV; PANTALEONI, 2012);

c. critérios geográficos (ROBERTS, 1990; SIEGEL, 2007; FACCIO; SALSA, 2009);

d. desenvolvem conexões políticas por meio de atividades de lobby (CHEN; PARSLEY; YANG, 2012; HILL et al., 2014);

e. têm participação do governo como acionista minoritário (WILLIAMSON, 1996; THOMSEN; PEDERSEN, 2000; INOUE; LAZZARINI; MUSACCHIO, 2013)

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f. ou, ainda, têm vínculos através do board interlocking, isto é, quando um dos membros do conselho de administração ocupa a posição de conselheiro em duas ou mais empresas, estabelecendo, dessa forma, uma ligação entre elas (SCHOORMAN et al., 1981; FICH; WHITE, 2001; CAMILO; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO, 2012).

O incentivo ao estreitamento das relações empresa-governo, em última análise, surge a partir dos vazios institucionais. (INOUE; LAZZARINI; MUSACCHIO, 2013). E a estratégia de estreitar laços com esse importante ator no ambiente institucional ajuda as empresas a mitigar esses vazios, obtendo regimes regulatórios favoráveis (AGRAWAL; KNOEBER, 2001), tratamento fiscal privilegiado (SOTO, 1989), concessão de exploração de atividade econômica (KHWAJA; MIAN, 2005), barreiras de entradas aos concorrentes (GOLDMAN; ROCHOLL; SO, 2009), informações privilegiadas (PEARCE, 2001), contratos com o governo (GOLDMAN; SO; ROCHOLL, 2013; TAHOUN, 2014), bem como o acesso privilegiado ao crédito (SAPIENZA, 2004; DINÇ, 2005; CHARUMILIND; KALI; WIWATTANAKANTANG, 2006; CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008, BOUBAKRI; COSSET; SAFFAR, 2012; INOUE, LAZZARINI; MUSACCHIO, 2013). Fatores que, consequentemente, refletem no desempenho e no valor das empresas. (HILLMAM et al., 1999; FACCIO, 2006).

Apesar de essa prática ser mais intensa nas economias emergentes, também aparece em economias desenvolvidas, a exemplo dos EUA. (GOLDMAN; ROCHOLL; SO, 2009).

Evidências desse método nos EUA também são apontadas no estudo de Kang e Zhang (2012). Os autores evidenciam que, em média, 43% das empresas listadas na Securities

and Exchange Commission (SEC) foram politicamente ligadas durante o período de 1990-2007.

Apesar dos diferentes níveis institucionais e econômicos entre os países, as conexões políticas são relevantes nas formulações das estratégias, no desempenho das empresas independente de seu contexto. Corroborando com essa assertiva, Dinç (2005) argumenta, utilizando uma amostra de 43 países, incluindo economias desenvolvidas a exemplo da Alemanha, Espanha, França, dentre outros, que os bancos estatais aumentam significativamente os níveis de empréstimos em anos eleitorais em relação aos privados. No mesmo sentido, Amore e Bennedsen (2013) forneceram evidências de que conexões políticas através de membros da família ajudaram empresas dinamarquesas a garantir um maior volume de negócios com os governos locais e a melhorar o seu desempenho.

As forças institucionais, ou a falta delas, influenciam na formulação das estratégias e no desempenho das empresas que, por sua vez, utilizam-se das conexões políticas para

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auferirem benefícios, principalmente, em países emergentes (PARNELL, 2011), associados aos níveis de desenvolvimento e a instabilidade institucional. (LIOU et al., 2011; XAVIER; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2014).

Os ambientes com instituições e legislação mais fracas, como a baixa proteção legal e com laços políticos relacionados, facilitam a devolução de favores, a exemplo do favorecimento a créditos bancários e ao acesso a instituições estatais que, em última análise, melhoram o desempenho das empresas. (BARTELS; BRADY, 2003; LI et al, 2008).

Na Indonésia, as empresas politicamente ligadas ao presidente Suharto têm preferências em receber licenças de importação e são mais rentáveis do que empresas não conectadas. (MOBARAK; PURBASARI, 2006). Além disso, possuem acesso privilegiado ao crédito e utilizam seus vínculos para restringirem acessos alternativos aos competidores. (LEUZ; OBERHOLZER-GEE, 2006). Na Tailândia, as empresas melhoram seu desempenho de mercado quando seus donos entram na política. (BUNKANWANICHA; WIWATTANAKANTANG, 2009).

Cabe observar que não há aspectos conclusivos na literatura a respeito das conexões políticas e seus benefícios ou malefícios. As empresas que utilizam da estratégia de conexão com o governo também ficam suscetíveis de sofrer reflexos negativos decorrentes dessa interação. Como exemplo, tem-se as distorções de sua contabilidade e/ou dificuldades em atuar no mercado de ações. (SHLEIFER; VISHNY, 1994; GUL, 2006).

A teoria da agência indica que a propriedade estatal cria uma série de distorções decorrentes da inclinação do governo em forçar as empresas a nomear políticos como gestores ou perseguir projetos com base em critérios políticos em vez de eficiência e lucratividade. (CUERVO; VILLALONGA, 2000; SHLEIFER; VISHNY, 1994).

A interferência dos conselheiros políticos na administração, selecionados por políticos com base em suas conexões, e não em suas habilidades gerenciais, pode ser prejudicial ao desempenho da empresa. (FAN; WONG; ZHANG, 2007). Os custos da conexão podem ser superiores aos seus benefícios. (SOTO, 1989). Corroborando essas assertivas, Fan, Wong e Zhang (2007) argumentam que as empresas conectadas na China, no período de 1993 a 2001, apresentaram baixo desempenho em relação às empresas sem conexão.

Malefícios decorrentes das conexões políticas também incidem na qualificação dos gerentes e diretores que são nomeados para as empresas politicamente conectadas, gerando custos adicionais de trabalho e ineficiências operacionais a fim de garantir as conexões políticas. (DU; GIRMA, 2010; WU et al., 2012).

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Em 1999, problemas operacionais nas usinas nucleares da estatal Furnas, subsidiária da Eletrobrás, reduziram significativamente a capacidade de geração de energia. Para cumprir as obrigações contratuais, a empresa necessitou comprar energia de outras a um alto custo, causando um prejuízo de 578 milhões de reais. Desse modo, Furnas precisou ser resgatada pela Eletrobrás, a qual havia sido alertada dois anos antes por um de seus executivos dos possíveis “custos excessivos” decorrentes das operações nucleares, o qual foi ignorado e acusado de intromissão governamental. A Eletrobrás possuía seus executivos de topo escolhidos com base em critérios políticos. (LAZZARINI; MUSACCHIO, 2010).

Evidências dos custos adicionais salariais decorrentes das conexões políticas também são apontadas no estudo de Bertrand et al. (2007). O estudo sustenta que as empresas francesas com ligações políticas entre os CEOs, no período de 1987 até 2002, apresentam menor desempenho devido aos custos salariais mais elevados, especialmente em anos eleitorais, estando a menor rentabilidade associada ao aumento do número de empregos e crescimento da planta próximo aos ciclos eleitorais, destinados a garantir mais votos aos políticos representantes da empresa.

Outro ponto relevante diz respeito ao tempo de validade da conexão. Uma vez que os governos e suas possibilidades de influência são temporários, os benefícios decorrentes dessa relação também podem ser. Evidências disso são apontadas por Fisman (2001) em seu estudo com as empresas indonésias. O autor encontra uma correlação entre as notícias sobre o deteriorado estado de saúde do presidente Suharto e a queda no valor das ações das empresas com ligações ao seu regime.

Os conflitos intrínsecos entre os proprietários e os gestores empresariais são agravados quando o ator governo é um dos sócios. (CUERVO; VILLALONGA, 2000). As estatais normalmente sofrem maior interferência dos políticos com o intuito de usar essas empresas como mecanismos para transferir rendas para suas necessidades políticas. (SHLEIFER; VISHNY, 1998). Adicionalmente, os governos podem exigir dos gestores duplos objetivos: além das metas de rentabilidade, o aumento de emprego ou baixos preços aos consumidores. (MENGISTAE; XU, 2004).

Além disso, os gestores das empresas públicas normalmente não têm incentivos comumente encontrados em empresas privadas, a exemplo das participações nos lucros. (GUPTA, 2005; VICKERS; YARROW, 1988). Esses fatores devem ter um efeito negativo sobre o desempenho. (LA PORTA et al., 2002).

Jackowicz, Kozłowski e Mielcarz (2014) analisam o impacto das conexões políticas no desempenho das empresas polonesas conectadas através do conselho de administração.

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Usando um conjunto de dados que abrangem 316 empresas no período de 2001 a 2011, identificaram que aquelas conectadas apresentam resultados contábeis inferiores, principalmente quando possuem múltiplas conexões. Os autores também argumentam que as evidências não suportam predições baseadas na teoria de dependência de recursos, mas ressaltam a limitação de sua pesquisa quanto à disponibilidade de dados, a exemplo das doações de campanha.

É comum justificar a propriedade estatal de bancos, indicando a necessidade de financiamento de projetos que não são interessantes a bancos privados, como de projetos de pesquisa e desenvolvimento ou infraestrutura que necessitam de grandes aportes de recursos e que vão remunerar os investidores e ajudar no desenvolvimento econômico a longo prazo. (BOUBAKRI; COSSET; SAFFAR, 2012; DINÇ, 2005).

Barth et al. (1999) e La Porta et al. (2002) argumentam que a propriedade estatal dos bancos está associada com menor crescimento econômico e que os políticos usam de sua influência sobre tais bancos para promover seus próprios objetivos políticos. Adicionalmente, a propriedade estatal dos bancos está associada a uma maior probabilidade de crises bancárias (CAPRIO; PERIA, 2000).

Na Itália, os bancos públicos são utilizados em uma relação de clientelismo pelo partido que controla o banco. Assim, em vez de promover a redução dos custos de transação para projetos estratégicos para o país, é utilizado como instrumento para que os políticos transacionem a fim de obterem apoio político (SAPIENZA, 2004).

Essa relação também é evidenciada por Khwaja e Mian (2005). Os autores argumentam que as empresas com ligações políticas no Paquistão se capitalizaram através de tratamento preferencial oferecido por bancos estatais e tiveram taxas de inadimplência 50% mais elevados do que as empresas não conectadas.

Bliss e Gul (2012) apontam que empresas conectadas na Malásia têm um maior custo de capital, indicando que os credores percebem que as conexões políticas são vistas como sendo de maior risco pelos auditores e pelo mercado. Os autores ainda argumentam que, apesar de as empresas terem maior grau de alavancagem, reportam maior probabilidade de perda, de terem resultados financeiros negativos e de serem auditadas, sendo que uma maior proporção de conselheiros sem conexões ajuda a reduzir esse risco percebido.

Apesar dos possíveis malefícios decorrentes dessa relação, os benefícios parecem compensar os riscos, principalmente em economias com acentuados vazios institucionais, como no caso das economias emergentes.

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No que concerne especificamente ao custo de capital, a literatura indica que nas economias em desenvolvimento ou em transição, com baixo desenvolvimento institucional, as conexões políticas são responsáveis por uma grande parte da capitalização das empresas (FACCIO, 2006). Isso torna essa estratégia de conexão importante mecanismo para mitigar os vazios institucionais relacionados ao mercado de capitais (BEN-NASR et al., 2011; INOUE; LAZZARINI; MUSACCHIO, 2013).

As conexões políticas têm demonstrado resultados positivos para as empresas que buscam apoio em tempos de dificuldades financeiras. (BLAU et al., 2013). As empresas com ligações políticas são mais propensas financeiramente a contraírem dívidas de longo prazo, sabendo que vão ser socorridas pelo governo quando enfrentarem crise financeira. (FACCIO, 2006).

Na capitalização das empresas via ajuda governamental, cabe destacar o papel dos bancos estatais uma vez que operam em todos os ramos da economia e não sofrem barreiras de entrada, não limitam a capacidade dos políticos para transferir recursos, proporcionando maiores oportunidades de canalizarem recursos financeiros, refletindo em um aumento significativo de empréstimos em anos eleitorais. (DINÇ, 2005; RAJAN; ZINGALES, 2003).

Khwaja e Mian (2005) constataram que, entre 1996 e 2002, as empresas com ligações políticas no Paquistão obtiveram tratamento preferencial oferecido por bancos estatais e acessaram financiamentos 45% a mais do que as empresas não conectadas e tiveram taxas de inadimplência de 50% mais elevados, indicando que a concessão do crédito foi motivada pela conexão e não por critérios técnicos.

Na crise financeira asiática de 1997, as empresas com conexões políticas perderam subsídios importantes e reduziram valor. Porém, em algumas, cujo controle societário foi estabelecido pelo governo, os resultados reverteram em relação às não conectadas, pois a interferência política do governo sobre as instituições financeiras possibilitou direcionar recursos a essas firmas. (JOHNSON; MITTON, 2003).

Esse tipo de benefício também pode ser observado no contexto italiano. Em estudo sobre as empresas financeiras, Sapienza (2004) mostrou que as taxas de juros cobradas pelos bancos públicos na Itália e sua alocação são influenciados pelo partido que controla o banco e ainda servem como um mecanismo para fornecer clientelismo político.

Nos EUA, as firmas com ligações políticas também apresentam privilégios na contratação da dívida bancária, desfrutando de taxas de juros mais baixas. As conexões políticas aumentam o valor das empresas e reduzem os custos de monitoramento de risco, que, por sua vez, reduzem os custos dos financiamentos. (HOUSTON et al., 2014).

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Boubakri, Cosset e Saffar (2012), em seu estudo com empresas sediadas em 12 países com economias maduras e 11 países em desenvolvimento, num período de análise de 1989 a 2003, expõem que as conexões políticas estão associadas ao aumento da alavancagem financeira e ao desempenho das empresas, corroborando com a literatura a qual demonstra que empresas conectadas têm maior facilidade de acesso ao crédito e colhem benefícios em termos de desempenho decorrentes desses laços.

De forma complementar, Boubakri et al. (2012) ampliam o número de empresas e de países, utilizando uma amostra de 541 empresas de 35 países, com o período de análise de 1997 a 2001, e também encontram relação positiva das conexões políticas e custo de capital bem como no seu desempenho, representando um diferencial competitivo dessas justamente pelo fato de que os custos de capital são menores se comparados às não conectadas. Os autores destacam que os resultados são acentuados principalmente pelo nível de desenvolvimento institucional e políticas dos países pesquisados, vindo ao encontro da explicação teórica do presente trabalho.

Visto que as empresas conectadas são frequentemente socorridas pelo governo quando enfrentam dificuldades financeiras bem como por causa do preferencial tratamento recebido dos bancos estatais, são mais propensas a manter um índice de liquidez corrente superior do que as não conectadas, contornadas pela alta alavancagem e utilização de capital de longo prazo para financiar suas atividades, diminuição da dívida de curto prazo e, consequentemente, a diminuição do passivo circulante também. (KHWAJA; MIAN, 2005; FACCIO, 2006).

No presente trabalho, sustenta-se que as conexões políticas ajudam as empresas a obterem recursos financeiros a custos menores e melhorarem seu desempenho. Entretanto, é salutar mencionar a visão alternativa que sustenta o fato de as conexões políticas poderem onerar o custo de capital, decorrente da má gestão, menores resultados contábeis e informações assimétricas, (CHANEY; FACCIO; PARSLEY, 2011; CHEN; DING; KIM, 2010) implicando em um maior custo do capital em comparação às não conectados. (FRANCIS et al., 2005).

No que concerne ao aumento do custo de capital decorrente dos baixos lucros e da má qualidade dos demonstrativos contábeis, observa-se que essas empresas sofrem menores pressões de mercado para melhorarem seus resultados e demonstrativos. Dessa forma, esses problemas podem não se traduzirem em maiores custos de financiamento, o que indica que essas empresas não são penalizadas por credores. (CHANEY; FACCIO; PARSLEY, 2011).

Essas empresas ligadas aos políticos e também aos bancos precisam de menos garantias (ativos fixos) para terem acesso ao crédito do que aquelas não conectados. Isso sugere

Referências

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