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Wellington da Silva Conceição. Introdução

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Academic year: 2021

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GB/CHISAM e seu projeto de governo de disciplinarização dos pobres. Sociabilidades

Urbanas, Revista de Antropologia e Sociologia, v. 5, n. 13, pp. 21-32, março de 2021, ISSN 2526-4702.

ARTIGO

https://grem-grei.org/numero-atual-socurbs/

Civilizados pela boa forma urbana? Os conjuntos habitacionais da era

COHAB-GB/CHISAM e seu projeto de governo de disciplinarização dos

pobres

Civilized by good urban form? COHAB-GB / CHISAM era housing developments

and their government project to discipline the poor

Wellington da Silva Conceição

Resumo: O texto traz uma análise das práticas de disciplinarização da pobreza presentes

em políticas públicas de moradia popular, especialmente aquelas destinadas à moradores removidos de favelas entre as décadas de 1940 e 1970 na cidade do Rio de Janeiro. De modo mais específico, analisam-se as estratégias de disciplinarização e normatização presentes na remoção e realocação de favelados para conjuntos habitacionais construídos e administrados pela COHAB-GB e pela CHISAM nas décadas de 1960 e 1970. Percebe-se que esse projeto publico parte de uma crença nos princípios da arquitetura e do urbanismo (traduzidos pela ideia da “boa forma urbana”) como estratégia de adaptação dos pobres à valores morais e urbanos, tornando-os dóceis ao projeto desenvolvimentista nacional.

Palavras-chave: habitação popular, gestão governamental, conjunto habitacional, boa

forma urbana

Abstract: This text presents an analysis of the practices of disciplining poverty present in

public policies of popular housing, especially those aimed at residents removed from slums between the 1940s and 1970s in the city of Rio de Janeiro. More specifically, the disciplinary and normative strategies present in the removal and relocation of favelados (slum dwellers) for housing estates built and managed by COHAB-GB and CHISAM in the 1960s and 1970s are analyzed. It is noticed that this public project starts from a belief in the principles of architecture and urbanism (translated by the idea of “urban good form”) as a strategy for adapting the poor to moral and urban values, making them docile to the national developmental project. Keywords: public housing, government management, popular housing, good urban form

Introdução

Desde o final do século XIX as moradias populares na cidade do Rio de Janeiro se tornaram um problema público e, mais que público, um problema de governo1. A

Sociólogo. Doutor em Ciências Sociais (PPCIS-UERJ); Professor adjunto da Universidade Federal do Tocantins (UFT); Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (UFMA); e, Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Territórios Populares e suas Representações (LaTPOR-UFT). Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9172-6189; E-Mail: wellingtoncs@mail.uft.edu.br.

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presença dos cortiços, percebida como incômoda no final do séc. XIX, marcou o iníciode uma história de relações tensas entre o Estado e as formas moradia popular. Nesse primeiro momento o modo de lidar com tal problemática era a remoção autoritária, deixando os pobres ao léu, e assim aconteceu com os moradores dos cortiços localizados no centro do Rio de Janeiro. Essa prática de expulsão dos mais pobres resultou na criação de outras formas de habitação popular nos morros da cidade, que receberam o nome de favela - por conta daquele que foi identificado como o seu primeiro caso (o morro da Favella, hoje morro da Providência), - e as favelas se constituíram como uma opção de moradia não só para os pobres urbanos expulsos do Centro da cidade, mas também para os muitos migrantes oriundos dos interiores e de outras regiões do Brasil, em busca de melhores condições na capital federal.

A partir da década de 20, as favelas se tornaram o grande problema público e de governo no Rio de Janeiro. Pensava-se no incomodo de tais habitações percebidas como feias e anti-higiênicas em uma cidade que era remodelada tendo Paris como referência. Mas os pobres tinham seu papel nessa cidade em (re)construção e em um país em desenvolvimento. Tendo a escravidão como forte referência para a sua formação, a sociedade brasileira adquiriu um ethos hierárquico que produziu demandas profissionais que não poderiam ser supridas pelas camadas média e alta da sociedade. O pobre tinha um papel essencial nesse processo como mão de obra barata e disponível para os serviços “baixos”. Era preciso não mais deixar essa população “ao deus dará” e sim realizar uma gestão eficiente, para que pudessem ser disciplinados e se tornarem úteis ao projeto desenvolvimentista.

As políticas de moradia sempre tiveram um papel essencial nesse processo de gestão2 da população pobre do Rio de Janeiro: todas as propostas governamentais de moradia popular destinadas aos habitantes de favelas (em especial aquelas que culminavam na remoção destes) incluíam claros projetos de disciplinarização. Todas traziam, por meio de um controle direto, de uma proposta educativa ou por um conjunto de normas, um enredo civilizatório que marcava a passagem do indivíduo da condição de “favelado” para a de “cidadão”.

As estratégias de gestão da população pobre na cidade por meio das políticas de moradia se deram de diversas formas nesse pouco mais de um século de história das habitações populares e de seus conflitos no Rio de Janeiro e no Brasil. Os diferentes projetos governamentais que procuraram dar conta do “problema favela” caminharam em dois movimentos distintos: Os projetos voltados para a adequação do espaço de moradia3 e os processos voltados para a realocação dos seus moradores e consequente

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Uso a categoria problema de governo tendo como referência Michel Foucault. Segundo este pensador, a forma de poder estruturante nesse nosso momento histórico, que é a governamentalidade, preocupa-se com a ampla condução não só dos indivíduos, como faz o poder pastoral, mas também os toma

coletivamente no conjunto da população. A condução dos grupos, especialmente àqueles que apresentam certo grau de periculosidade à lógica da governamentalidade, torna-se um problema degoverno no seu projeto de condução da ordem. Cf. Foucault (2008a, 2008b, 2010).

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Ao falar de gestão, remeto-me a outra categoria foucaultiana. A gestão governamental, a forma de exercício de poder vigente, é marcada pela preocupação ativa de controlar a população por meio de dispositivos de segurança, considerados mecanismos essenciais nesse processo (Ver FOUCAULT, 2008b). O biopoder – uma invenção da

gestão governamental- se utilizará das técnicas micro do poder disciplinar, de controle do individuo, mas vai agir

também no macro, no controle da população. O biopoder não vai se ocupar só do corpo, mas de um conjunto formado pelo somático, o psíquico e a consciência dos homens. A disciplina e o controle, ainda segundo Foucault, continuarão sendo concebidas como ações eficientes nesse processo de gestão, pois possibilitam tornar os corpos submissos, dóceis, tendo as suas capacidades (em termos econômicos de utilidade) aumentadas.

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Entre esses projetos, ressalto os mais significativos (em ordem cronológica): SERFHA – Serviço de Recuperação de Favelas e Habitações Anti-Higiênicas (décadas de 50e 60), administrado pelo governo do Distrito Federal até 1957 e depois pela Secretaria de Serviço Social do Estado da Guanabara em 1961 (atuava na urbanização das favelas);

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reaproveitamento do espaço. Esses movimentos não se deram em um processo de sucessão cronológica, mas aconteceram ora separados, ora juntos, em diferentes momentos da história.

Reconheço, entre as diferentes políticas de remoção e realocação de moradores das favelas no Rio de Janeiro, três em que se manifestaram sistematicamente projetos de gestão e disciplinarização dos pobres: os parques proletários (na década de 1940), a cruzada São Sebastião (1950) e os Conjuntos habitacionais construídos e administrados pela COHAB-GB e pela CHISAM (1960 e 1970) 4. O primeiro, uma iniciativa de estado da prefeitura do Distrito Federal, tratava-se da construção e administração de parques provisórios onde os removidos das favelas passariam por uma “readaptação fiscalizada” (segundo Victor Moura, médico que coordenou o projeto) para aprenderem e aderirem aos valores de civilidade e higiene antes de seguirem para residências permanentes, que acabaram por nunca existir. O segundo tratou-se de um projeto liderado pelo bispo católico Hélder Câmara e que teve como sua principal realização a realocação de moradores da extinta favela da Praia do Pinto (no Leblon) para um conjunto habitacional popular dentro do mesmo bairro. O projeto, de iniciativa da Igreja Católica, mas com apoio do Estado, apostava em uma educação na moral religiosa católica como forma de inserir os antes favelados dentro de uma normatividade urbana5. A terceira, sem uma proposta de disciplinarização tão explicita como as anteriores (que contavam com fiscalizações, instruções coletivas e outras coisas) apresenta um projeto civilizador que tem no espaço urbano ordenado o seu principal dispositivo. Esse espaço urbano não só é capaz de receber novos moradores como também pode inseri-los em uma determinada lógica urbana. As três diferentes políticas de moradia se orientaram por uma escala de valores pautada por uma ordem moral tradicional da “boa educação” da “higiene” e do “trabalho” ou do “bem morar” que era imputada aos seus destinatários buscando torná-los “corpos dóceis” (FOUCAULT, 2008c) para um projeto governamental.

Nesse texto tomarei para análise o projeto de remoção e realocação de moradores de favelas do Rio de Janeiro efetivado pela COHAB-GB e pela CHISAM nas décadas de 1960 e 1970, pensando como este se insere em uma lógica da gestão governamental e de controle das populações. O texto tem como suas principais fontes uma pesquisa bibliográfica sobre a temática, além da consulta a documentos públicos do período e uma pequena parte dos dados que produzi em pesquisa de campo no Conjunto Habitacional Cidade Alta em Cordovil, um dos mais conhecidos resultados dessa política pública.

Os conjuntos habitacionais da COHAB-GB e CHISAM: história e análise da política pública

CODESCO – Companhia de Desenvolvimento de Comunidades – do Governo do Estado da Guanabara, que atuou na

urbanização de uma favela de Brás de Pina na década de 60 (em plena ditadura militar); Projeto Rio, do governo federal, que em 1978 urbanizou parte da Maré; O Programa Cada família um lote, no governo Brizola (década de 80) que tratou das regularizações fundiárias; O Favela Bairro, programa municipal da década de 90 com o apoio financeiro do BID, e nos últimos 3 anos, o PAC-Favelas (estado) e o Morar carioca (município) que com verbas advindas principalmente do PAC (programa do governo federal) atuam tanto nas melhorias urbanas das favelas como na realocação de parte dos moradores.

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COHAB-GB: Companhia de Habitação Popular do Estado da Guanabara. CHISAM: Coordenação de Habitação de Interesse Social da Área metropolitana do Grande Rio. Sobre tais instituições e seus papéis, ver BRUM (2012) e VALLADARES (1980).

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Sobre os Parques Proletários, vale conferir os trabalhos de: CARVALHO (2003); GOMES (2009). Sobre a Cruzada São Sebastião, conferir: SIMÕES (2010) e SLOB (2002).

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As décadas de 1940 e 1950 formaram os anos dourados do crescimento e da expansão imobiliária na Zona Sul do Rio de Janeiro. Liberar terrenos dessa área para o mercado de imóveis para atender a uma demanda crescente passou a ser de interesse dos principais agentes econômicos do país. Nesse contexto chegamos na década de 1960, período da história carioca marcado por uma intensa ação política em favor da remoção de favelas. Governador, Carlos Lacerda tornou tensa sua relação com as favelas por abraçar essa política de remoção e a transferência de seus moradores para conjuntos habitacionais6. Tal projeto, pensado inicialmente para todas as favelas da cidade, continuou concentrando (nos governos Lacerda e Negrão de Lima) suas ações na remoção das favelas da Zona Sul, o que reafirmava que, além do objetivo de livrar a cidade das favelas por sua condição histórica e social, o mercado imobiliário influenciava diretamente essas decisões. Um exemplo dos rumos da especulação imobiliária na Zona Sul e suas consequentes transformações na geografia e no cotidiano da cidade foi o caso da Selva de Pedra, condomínio construído no espaço onde estava a favela da Praia do Pinto, no Leblon, até 1969.

As políticas públicas pareciam ceder cada vez mais aos interesses dos grupos dominantes ao invés de promover a integração social junto aos mais pobres. Mas, para além dos interesses do mercado imobiliário, outras duas questões também tiveram grande importância na condução do processo remocionista, servindo inclusive como justificativa para as suas ações.

A primeira seria o estigma remetido à favela e aos seus moradores, que os impediam de serem inseridos no novo projeto de (re)construção da cidade. Em função disso, era preciso tirar os favelados do campo de visão nas áreas nobres da cidade, além de afastá-los das classes mais favorecidas. Tal estigma afirmava cada vez mais a leitura do favelado como um pré-cidadão, necessitado da intervenção estatal, e essa visão incitava boa parte da população, especialmente entre as classes média e alta, a apoiar o remocionismo autoritário praticado pelos governos estadual e federal nas décadas de 60 e 70. Diante de todo esse contexto, a formação de um imaginário social que justificasse o extermínio das favelas e uma remoção arbitrária de seus moradores se consolidava.

A segunda questão seria a desarticulação da identidade do favelado e de sua consequente força política. A categoria ‘favelado’ ganhava uma importância política a partir da década de 50. Tal condição de destaque advinha da capacidade de organização dos moradores das favelas aliada ao seu grande potencial quantitativo enquanto eleitores. Em 1960, já formavam 10,2% dos eleitores do Estado da Guanabara. Muitos políticos de vários partidos, para angariar votos, atribuíam a si mesmos o título de defensores da favela. Os favelados, por conseguinte, aproveitavam-se dos interesses desses políticos para conseguirem proteção contra as forças hostis. Quanto à organização, nas lutas contra as remoções e outras ações arbitrárias, foram fundados sindicatos e associações que empregam o nome favelado como categoria de afirmação, como uma identidade politicamente construída, e não como termo pejorativo (é o caso da “Coligação de Trabalhadores Favelados do Distrito Federal”, fundada em 1957 (Cf. BURGOS, 2004, p. 30). O golpe militar e o fim das eleições diretas para presidente e governador fizeram com que as favelas perdessem seu potencial eleitoral e assim ficassem sem protetores.

Para manter sobre controle essa parte da população não bastava o uso da violência: o Estado precisava desarticular essa força política e capacidade de organização que os favelados conquistaram. Era necessário discipliná-los dentro do

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A adoção dessa postura política provavelmente ocasionou a derrota do candidato de Carlos Lacerda nas urnas, em 1965. Seu rival nas eleições, Negrão de Lima, teria sido eleito por sua política de urbanização de favelas por meio do SERPHA, realizada durante o período que foi prefeito da cidade (1956 e 1957). Cf. Burgos (2004).

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novo projeto de cidade. Acabar com as favelas e promover as remoções, além de ser considerada uma estratégia para livrar a cidade de habitações percebidas como não-higiênicas, não-estéticas e desordenadas, também se apresentava como uma tática capaz de desarticular o favelado enquanto identidade política e social. Destruir a favela e inserir essa população no cruel anonimato da cidade, - através dos conjuntos habitacionais dispersos pelas Zonas Norte e Oeste da cidade, - seria uma forma de efetivar esse processo.

Criado todo o arsenal de um imaginário e um contexto político favorável a tal ação, era preciso criar os elementos necessários para pôr em prática esse projeto de extermínio das favelas. No início da década de 60, mais precisamente em 1962, o governador Lacerda criava a COHAB-GB, uma instituição com a finalidade de realizar o trabalho de erradicação das favelas (cf. BRUM, 2012, p. 60). Tal órgão teve grande atuação nos períodos entre 1962 e 1964, quando promoveu as primeiras grandes remoções conduzindo os moradores para os primeiros conjuntos habitacionais, muitos deles ainda chamados de Vilas7. Depois desse período, as ações perderam força e os trabalhos de remoção e realocação continuaram acontecendo, mas de forma espaçada e pontual. Após o fim do Governo de Lacerda, Negrão de Lima manteve de forma moderada as ações da COHAB, e diferente do seu antecessor, promoveu outras ações junto às favelas: em 1968 criou a CODESCO, que atuava na urbanização de algumas delas.

Em 1968 surgia a CHISAM. A sua criação marcou um novo período na relação entre governos e favela, de centralização e uniformização das ações em favor da extinção das favelas e da remoção de seus moradores. A criação da CHISAM foi uma intervenção do governo federal para ditar uma política única para o estado da Guanabara e o estado do Rio de Janeiro. Era um órgão do Ministério do Interior, ligado diretamente ao Banco Nacional de Habitação (BNH), tendo condições para realizar seus trabalhos com um gordo orçamento à disposição. A COHAB-GB passou a ficar subordinada a CHISAM, e essas duas instituições foram as principais responsáveis pelo programa de remoção de favelas no Rio de Janeiro em proporções até então não vistas.

Com a coordenação da CHISAM o projeto de remoção e realocação de favelados sofria profundas modificações. Sobre o trabalho da COHAB foram feitas sérias críticas, que levaram os gestores, nessa nova etapa, a mudar importantes detalhes no plano de ação. As duas principais mudanças foram a opção pelas construções verticais (prédios) em vez das casas: “Sua razão foi puramente social: Exigindo os conjuntos de apartamentos menos áreas para construção, seus custos forçosamente seriam inferiores aos das unidades isoladas, as ‘vilas’ - , fator significativo se considerada a baixa renda familiar dos futuros mutuários” (GOVERNO DO ESTADO DA GUANABARA, 1969, p. 37). E, a outra importante mudança, foi a opção por constituir “comunidades integradas” (Ibid., p. 51), ou seja, de transferir os favelados para locais equipados não somente com casas mas também com outros equipamentos públicos como saneamento básico, fornecimento de luz e água, escolas, hospitais, oportunidades de trabalho etc. Essa última mudança se apresentou, segundo informações do Texto Rio Operação Favela (de autoria do Governo do Estado da Guanabara com o fim de divulgar os trabalhos realizados pela COHAB e CHISAM), a

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“Datam desse período os conjuntos habitacionais de Vila Aliança e Vila Kennedy, primeira e segunda gleba, Cidade de Deus (primeira gleba) e Vila Esperança, Lar do Empregado Doméstico e o Conjunto de Álvaro Ramos, mais de 6000 unidades, situadas em regiões afastadas do centro urbano. Somavam-se a esses outros 885 apartamentos em conjuntos menores, destinados à classe média, e o parque proletário de Nova Holanda, com 667 casas de madeira” (GOVERNO DO ESTADO DA GUANABARA, 1969, p. 20).

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partir das críticas feitas por aqueles que não aceitavam a remoção. Somente nessas condições, na cabeça de seus executores, as remoções poderiam não mais ser rejeitadas. Para que as remoções acontecessem no ritmo esperado, as funções foram distribuídas. A secretaria de Serviços Sociais, que já atuava junto com a COHAB, ficou responsável pelos levantamentos socioeconômicos preparatórios da remoção. A COHAB cabia as tarefas de: projetar os conjuntos habitacionais, encomendar sua construção, fiscalizar e comercializar as unidades habitacionais. A CHISAM coube a coordenação do processo, o planejamento e a execução do programa. Ao BNH, garantir o investimento necessário para a construção dos conjuntos. Por vezes, incomodada com alguns dos serviços de suas parceiras, a CHISAM passava a tomar a frente do trabalho ou exigir alterações (Cf. VALLADARES, 1981, p. 36-37).

É preciso ressaltar que todos esses passos, esquematicamente bem elaborados, não foram eficientes e nem rigorosamente utilizados durante o processo. Percebem-se “erros” no projeto (do ponto de vista da gestão governamental) desde os seus primeiros passos, quando o morador no levantamento socioeconômico mentia sobre a sua renda e o número de moradores na casa (para conseguir um apartamento maior ou melhor localizado), até os últimos trâmites, como foi o caso de moradores que não pagaram sequer uma prestação. Mas o não cumprimento dos passos estabelecidos não partiu só dos moradores: após o grande incêndio de 1969 na favela da Praia do Pinto, diante da urgência de remover aqueles que não tinham mais onde ficar, a CHISAM optou por unir algumas das etapas planejadas e compactar seus processos.

Um projeto disciplinar dissolvido em concreto armado: a “boa forma urbana” e a gestão da pobreza urbana carioca

Diante do que foi apresentado, fica claro que a primeira ação da gestão governamental foi à separação espacial das diferentes classes sociais, separação essa que foi acompanhada de levantamentos socioeconômicos que permitiram manter os favelados sob os auspícios de diferentes registros. Mas podemos identificar ainda um processo disciplinador na política de remoção, realocação e administração dos conjuntos habitacionais construídos pela COHAB-GB e a CHISAM. É preciso ressaltar que, apesar da violência presente nas remoções, temos um projeto de disciplinarização e controle bem mais sutil no interior dos conjuntos habitacionais do que os encontrados nos parques proletários e na Cruzada São Sebastião, que contaram com a vigilância constante - pelo menos nos primeiros anos - de um administrador/fiscal encarregado pelo Estado ou pela Igreja Católica. Também não estava previsto para os conjuntos habitacionais uma série de regras e normas que fosse explícita e do conhecimento de todos. As formas de disciplinarização que estiveram presentes nesse processo foram marcadas principalmente pela expectativa de mudança das consciências e comportamentos dos favelados quando inseridos nos equipamentos do universo urbano que, por sua vez, permitiriam a adesão aos “valores civilizados”. Apresentarei, a seguir, algumas práticas disciplinadoras que identifiquei nesse processo de mudança e moradia nos conjuntos habitacionais.

A primeira delas, anterior às remoções, é uma campanha governamental em favor da casa própria, que atingia todas as classes sociais, não só aquelas para qual se dirigiam as remoções autoritárias. Tal campanha até hoje impacta o imaginário das classes populares, que têm na aquisição da casa própria uma das suas principais metas de vida. Ao mesmo tempo, e essa mensagem já se dirigia especificamente aos favelados, o Estado reforçava a ideia de que, quem morava em loteamentos irregulares, não era dono da casa e do terreno em que habitava e, portanto, não era proprietário. Essa campanha em favor da propriedade serviria não só para motivar a ida para o conjunto

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habitacional – onde compraria sua casa em condições facilitadas - mas também, segundo Brum (2012, p. 91-92), para criar um “sentido de propriedade”, essencial para normalizar o uso capitalista do solo urbano em uma cidade em expansão imobiliária e ainda com vários espaços “fora da ordem”.

Uma outra, e talvez a principal prática disciplinadora de acordo com a perspectiva de seus operadores, seria o contato com o próprio espaço: a boa forma urbana seria redentora por si mesmo, capaz mudar comportamentos, de transformar o favelado em cidadão. Se os médicos tiveram um papel de destaque para pensar a moradia popular no caso dos parques proletários, os arquitetos e urbanistas se tornaram as figuras chaves a partir da década de 608. No Brasil, como apontam Mello e Vogel (1983), especialmente a partir da década de 50 (tendo a construção de Brasília como um marco) formou-se uma geração da arquitetura e do urbanismo brasileiro com grande projeção no cenário nacional e internacional. Influenciados pelo positivismo, se comprometeram com a ideia da existência de uma “boa forma urbana” (Ibid., p. 52). Essa ideia partia do princípio de que a técnica, que só os iniciados possuem, é capaz de identificar o melhor uso do espaço da cidade. Acreditavam que suas técnicas “valem para a humanidade inteira, configurando uma espécie de ‘lei natural’ da sociedade que o intelecto atento e adestrado (e cartesiano) pode revelar e compreender” (Ibid., p. 52). Aqueles que não têm a técnica “precisam da mão paternal e condutora. Como os necessitados de uma certa tutela benevolente e iluminada poderiam pensar e construir um modo de vida verdadeiramente racional e progressivo se não fosse por essa orientação esclarecida?” (Ibid., p. 52).

Se a boa forma urbana era capaz de disciplinar a cidade, de inseri-la na ordem natural das coisas, era capaz de disciplinar também os favelados. Na cabeça de seus executores – técnicos da arquitetura e do urbanismo e gestores públicos – os conjuntos habitacionais se constituíam no principal elemento de ordenação da vida do favelado, como um dispositivo disciplinador por excelência. As palavras do Arquiteto Giuseppe Badolatto, responsável pela criação das plantas dos apartamentos da Cidade Alta, deixam clara essa crença:

Você entrava num barraco da favela e (...) defecavam na rua! Jogavam detrito na rua. Não tinha água, não tinha luz, não tinha esgoto (...). Então, você colocar essas famílias em um espaço urbanizado, mesmo sendo uma casinha pequena, um apartamento pequeno, mas com luz,

água, esgoto (...) é meio caminho andado(Apud: BRUM, 2012, p. 55).

Nesse discurso, os hábitos ruins parecem ser mais relacionados aos problemas de desordem urbana do local do que à índole dos moradores. É como se estivesse implícito: se não tem esgoto, defecar na rua é uma consequência. Se nos outros processos ressaltava-se uma falta de educação para os hábitos civilizados, parece que nesse momento se destaca uma falta de viabilidade para os mesmos, problemática que uma organização da cidade e estruturação de bairros populares poderia resolver.

A crença da redenção pela boa forma urbana também fica clara na fala de Sandra Cavalcante, Secretária de Serviços Sociais no Governo Lacerda - que esteve à frente dos processos de remoção para os conjuntos habitacionais, - e depois presidente do BNH por um curto período de tempo:

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Nessa nova lógica de ação para pensar os problemas da habitação popular, com destaque dos arquitetos e urbanistas, até os problemas de higiene estariam submetidos ao planejamento urbano, tanto que, ao invés das “habitações salubres”, conceito utilizado por Victor Tavares de Moura para pensar os parques proletários e as futuras habitações populares, temos o projeto das “comunidades integradas” (GOVERNO DO ESTADO DA GUANABARA, 1969, p. 51-54), que se preocupa com a coleta de esgoto, o

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Até hoje eu sou desconfiada em relação aos projetos que pretendem cuidar das favelas, mas que, pela vitória esmagadora dessa filosofia que se instalou, acham que as favelas devem continuar a existir e apenas devem ser urbanizadas. Eu achava, e acho ainda, que não é a favela que tem que ser urbanizada. Quem tem que ser urbanizado é o favelado. Uma das condições para um favelado se urbanizar, para se desfavelizar, é sair daquela paisagem e daquele entorno. Exatamente como uma pessoa que, saindo do interior, vem para a cidade grande. Chega ali e encontra uma outra realidade. Se ele sai daquele fim de mundo, sem água, sem luz, sem nada, ele vai querer mudar. Vai querer ser incorporar ao progresso (Apud: FREIRE; OLIVEIRA, 2002, p. 88).

A introdução a uma nova forma de habitar configuraria, no caso dos favelados, a adesão a uma nova forma de vida tão radical como a opção de trocar a vida do interior pela da cidade grande. Ao usar a expressão “quem tem que ser urbanizado é o favelado”, creio que mais do que falar da inserção no universo citadino, Cavalcanti ressalta uma adesão disciplinada aos valores urbanos, diferente do que acontecia nas favelas.

Gilberto Coufail, coordenador geral da CHISAM no período analisado, apresenta uma crítica aos projetos de urbanização de favelas exatamente por não serem capazes de provocar essa mudança de vida:

A urbanização das favelas do Escondidinho, Mangueira, Pavão e Pavãozinho (...) com a mudança, teriam seus ocupantes deixado de viver e pensar como favelados? As urbanizações nas favelas anteriormente citadas fizeram com que aquelas favelas deixassem de ser favelas? Ou seus moradores deixassem de ser favelados? (Apud: BRUM, 2012, p. 82).

A adesão à boa forma urbana por parte desses moradores removidos seria mais do que simplesmente aderir a um projeto, seria uma oportunidade do sujeito mostrar seus valores, seu caráter, do que ele realmente é capaz diante do convite para adentrar à civilização que lhe fora oferecido por meio da mudança de endereço. Muitos moradores aderiram a esse discurso, usando inclusive a capacidade de adaptação como forma de classificar os seus vizinhos. Tal questão fica explicita nos depoimentos do Sr. Lino (ex-morador da Praia do Pinto, (ex-morador da Cidade Alta e um dos meus principais informantes na pesquisa que realizei entre 2005 e 2008 para a iniciação científica e monografia) que seguem:

Quando nós chegamos à Cidade Alta, isso aqui tudo com cheirinho de massa fresca, foi a mesma coisa que chegasse ao céu! Isso era tudo ajardinado, cada jardim bonito. Maravilhoso, excelente. Lugar de gente. Nós saímos da Selva pra vir pra dentro de uma cidade de pedra, lugar de gente.

Muitas das pessoas que chegaram aqui chegaram sem nada porque queimou tudo. Pouca gente salvou coisa. Tentou salvar a pele. Aí, as mulheres choravam porque perderam tudo. Outras riam, porque conseguiram salvar as coisas e pegaram um apartamento novinho. As pessoas de bem diziam o seguinte: “até que enfim que agora nós vamos ter banheiro e água”. Coisa que a gente não tinha lá; tinha que carregar. E ainda tinha gente xingando o governo (Apud: CONCEIÇÃO, 2008, p. 61).

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A fala desse morador, uma entre tantas opiniões registradas sobre a remoção, apresenta alguém convencido pelos possíveis benefícios do projeto civilizador em foco nessas novas construções. Ao usar a expressão “lugar de gente” deixa claro como a estrutura presente nas favelas não lhe concedia a oportunidade de ser humano, até mesmo porque morava na “selva”, lugar dos animais não domesticados e, portanto, perigosos. Em outra expressão utilizada, “pessoas de bem”, o Sr. Lino demonstra seu juízo de valor negativo sobre aqueles que não aceitaram a remoção e assim negavam a possibilidade de tornarem-se “gente” que o Estado lhes oferecia. Na adesão dos moradores, esse projeto governamental ganha capilaridade, pelo menos como proposta ideológica9.

Uma terceira face desse projeto disciplinador presente na política dos Conjuntos Habitacionais é a formação e a condução para o mercado de trabalho, face essa que se encontra alinhada com o projeto de gestão governamental de inserir essa população pobre como corpos dóceis na campanha desenvolvimentista do Estado, como mão de obra para as funções rejeitadas pelas classes mais favorecidas. Quanto à condução para o mercado de trabalho, o principal objetivo era transformar as proximidades dos conjuntos habitacionais em áreas preferenciais para sediar fábricas e indústrias. Estas poderiam absorver a mão de obra disponível na região. A oportunidade de emprego na proximidade não só estimularia o desenvolvimento local e nacional como reforçaria a operação de distanciar os favelados da Zona Sul da cidade, que sequer precisariam continuar a trabalhar nessa região da cidade. Também imputaria a essas pessoas, cada vez mais, a identidade de trabalhador – identidade esta relacionada à valores como honestidade, esforço, obediência –, útil para o projeto disciplinar em andamento. Como aponta Brum:

A questão da transferência dos favelados para as zonas industriais envolvia a promoção social do favelado dentro da ordem capitalista, em que a superação do favelado como marginal conjugam: A troca de barraco na favela pelo apartamento no conjunto com a ruptura com os “bicos”, subempregos ou mesmo o desemprego para a inserção desse no mercado formal de trabalho como mão-de-obra minimamente qualificada e disciplinada (BRUM, 2012, p. 105).

Quanto à formação para o mercado de trabalho, vale destacar o papel que a Ação Comunitária do Brasil (ACB) teve junto aos conjuntos habitacionais da era CHISAM/COHAB. Sobre a ACB, esta instituição

foi criada em 1966, por grandes empresários, sob a inspiração da Action International, com sede em Nova York, fundada em 1961 (...) Se o papel da ACB num primeiro momento era o da urbanização de favelas através do ensino da autoajuda aos favelados, com atuação em várias favelas, a partir de 1970, sob os auspícios da CHISAM, o papel da instituição passou a ser o de “adequar” os favelados nos conjuntos da COHAB-GB, através de atividades sócio-culturais e qualificação profissional (Ibid., p. 103).

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Destaco que muitos outros moradores removidos, especialmente aqueles que resistiram para sair da favela, percebiam a vida no conjunto habitacional por outro ângulo, apontando severas críticas ao projeto. Ressaltavam, por exemplo, a distância do trabalho e do lazer (que permaneciam na Zona Sul), a

insuficiência dos equipamentos públicos disponíveis no novo bairro, a separação dos familiares e vizinhos com quem formavam uma rede de solidariedade. Ver: BRUM (2012), CONCEIÇÃO (2008 e 2015) e NASCIMENTO (2003).

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Essa formação dita como “qualificação profissional” ia além de ensinar um ofício: buscava promover uma integração social inserindo-os na lógica dos valores normativos presentes no mundo do trabalho e no universo urbano. Ao mesmo tempo que uma moradora aprendia a trabalhar com costura industrial era socializada nos hábitos de higiene tidos como normais, que deveria adotar a partir de então no ambiente de trabalho e também em seu apartamento. Tudo o que a boa forma urbana não conseguiu fazer de imediato pelo ex-favelado, a ACB estava lá para fazer.

Em 1975 a CHISAM encerrou seus trabalhos. Os resultados da política dirigida por esta entidade foram a destruição de cerca de 60 favelas e a remoção de aproximadamente 100 mil pessoas para 39 conjuntos habitacionais10. Desde 1972, a política remocionista se esvaziava aos poucos, já que o BNH passava a usar parte dos seus recursos disponíveis para financiar projetos habitacionais para as classes média e alta, prática necessária diante do rombo causado pelos “calotes” dos moradores dos conjuntos habitacionais populares. Outro motivo que colaborou com o encerramento desses trabalhos: a intenção de continuar removendo favelas diminuíra, pois, como apresenta Burgos (Op. Cit.), o objetivo de desmantelar organizações políticas de favelados já poderia ser dado como cumprido e a presença de uma nova categoria de excluídos, os moradores dos conjuntos habitacionais, ajudaria a fragmentar essa identidade. O projeto disciplinador parece ter fracassado à medida que esses locais passam a ser identificados como favelas e seus moradores como favelados11.

Conclusão

Esses três modelos de habitação popular dos quais falamos (parques proletários, Cruzada São Sebastião e conjuntos habitacionais) se afirmaram claramente como projetos disciplinares. Mesmo guardadas as suas diferenças, relacionadas ao contexto sócio histórico ou até mesmo as agencias promotoras, percebe-se facilmente algumas características nesses processos que mostram uma certa paridade nessas ações enquanto dispositivos disciplinares. Aponto algumas delas.

Todos cultivaram uma prática de registros para garantir maior eficácia no processo de controle. Essa política não colaborava só para o controle individual de pessoas e famílias, mas, também, criava dados para análises estatísticas que permitiam uma gestão dos indivíduos enquanto população. Segundo Foucault, as estatísticas têm um papel chave na governamentalidade, pois “são todos esses dados e muitos outros que vão constituir agora o conteúdo essencial do saber soberano. Não mais, portanto, corpus de leis ou habilidade em aplicá-las quando necessário, mas conjunto de conhecimentos técnicos que caracterizam a realidade do próprio Estado” (FOUCAULT, 2008b, p. 365).

Os removidos sempre foram entendidos como “beneficiados”, mas nunca lhes foi dado o protagonismo para decidir e até definir os rumos tanto da mudança de localidade quanto da mudança de vida. Sempre esteve nas mãos de outros agentes - o médico, o arquiteto, o assistente social, o religioso – decidir por suas novas moradias e escolher um novo modelo de conduta.

10

O número de conjuntos habitacionais inclui também os que foram construídos pela COHAB-GB entre 1962 e 1968. No período 1968-75, foram construídos 24 deles.

11

Segundo Nascimento (2003), em 1998, o Programa Pró-Morar da prefeitura do Rio de Janeiro

classificou o conjunto habitacional Cidade Alta como “área favelizada”. Os critérios que fizeram com que recebesse tal classificação foram: pouca iluminação, presença forte e naturalizada do tráfico e a má conservação dos prédios e apartamentos.

(11)

Todos esses projetos gestaram a ideia um novo homem: o civilizado, o cristão, o urbano. Para isso, imputaram uma escala de valores, explícita nos casos das normas de condutas dos parques proletários e da Cruzada e implícita no caso da “boa forma urbana” dos conjuntos habitacionais. Esse novo homem surgiria com a transformação de regras em “hábitos internalizados” (ELIAS, 2011, p. 103). Esse favelado hipoteticamente disciplinado tinha um lugar especifico no projeto desenvolvimentista da nação enquanto trabalhador, e por mais que se administrasse sua adesão a valores dos grupos dominantes, ainda era tratado de forma subalterna nesse projeto.

Essas políticas efetivas de controle e disciplinarização para as camadas populares presentes nesses projetos se tornaram visíveis especialmente nas formas de (res)socialização dos ex-favelados nos novos ambientes de moradia. Uma leitura estigmatizada dessas pessoas e suas práticas exigia deles uma normatização das formas de agir (e até de pensar), que era totalmente desarticulada das suas práticas sociais e culturas, sempre consideradas incivilizadas, criminosas ou pecaminosas. Interessante ressaltar que essa normatização, mesmo que fosse aceita e até aplicada, não colocava os ex-favelados em iguais condições a dos outros moradores da cidade. Tais iniciativas alimentavam uma posição subalterna, tentando convencer os pobres da sua condição de mão de obra barata no projeto desenvolvimentista nacional. Os projetos citados – partindo das expectativas dos seus financiadores e executores - fracassaram como prática de disciplinarização e controle dos pobres. Essas formas de moradia foram reconfigurados pela agencia dos seus moradores, aproximando suas práticas de gestão do espaço com aquelas existentes nas favelas, fato que permitiu uma recorrente identificação desses territórios como favelas, até mesmo por parte do Estado.

Referências

BRUM, M. 2012. Cidade Alta: História, memórias e estigma de favela num conjunto habitacional do Rio de Janeiro: Ponteio.

BURGOS, M. B. 2004. Dos parques proletários à favela bairro: As políticas públicas nas favelas do Rio de Janeiro (pp. 31-34). In: ZALUAR, Alba; ALVITO, Marcos (Orgs.). Um século de favela. Rio de Janeiro: FGV.

CARVALHO, M. B. 2003. Questão habitacional e controle social: A experiência dos parques proletários e a ideologia “higienista-civilizatória do Estado Novo. Trabalho de Conclusão de Curso (Ciências Sociais), Rio de Janeiro: PUC-RJ.

CONCEIÇÃO, W.S. 2008. Mobilidade e fixação: a trajetória social dos moradores do Conjunto Habitacional Cidade Alta – RJ. Trabalho de Conclusão de curso (Ciências Sociais). Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes.

CONCEIÇÃO, W.S. 2015. "Qual dos três é melhor de se morar?”: uma análise de hierarquias habitacionais em um bairro popular carioca (pp. 75-96). In: LIMA, R. K; MELLO, M. A. S.; FREIRE, L. L. (orgs.). Pensando o Rio: Políticas públicas, conflitos urbanos e modos de habitar. Niterói: Intertexto.

CONCEIÇÃO, W.S. 2018. Sossega, moleque, agora você mora em condomínio: segregação, gestão e resistências nas novas políticas de moradia popular no Rio de Janeiro. Curitiba: Appris.

ELIAS, N. 2011. O processo civilizador. Vol. 1. Rio de Janeiro: Zahar.

(12)

FOUCAULT, M. 2008b. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes.

FOUCAULT, M. 2008c. Vigiar e punir: História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes.

FOUCAULT, M. 2010. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes. FREIRE, A.; OLIVEIRA, L.L. (orgs.). 2002. Capítulos da memória do urbanismo

brasileiro. Rio de Janeiro: Folha Seca.

GOMES, L. C. M. 2009. Parques proletários: Uma questão para além da política habitacional. Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, Florianópolis.

GOVERNO DO ESTADO DA GUANABARA. 1969. Rio Operação favela.

MELLO, M.A.S; VOGEL, A. 1983. Lições da rua: o que um racionalista pode aprender no Catumbi. Arquitetura revista, v. 1, n. 1, pp. 67-79.

NASCIMENTO, D. N. 2003. Favela de cimento armado: um estudo de caso sobre a organização comunitária de um conjunto habitacional. Dissertação (Ciências Sociais). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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