BRIEF
DPB
0Ò20485
J.
Tomé
da
5ilva
Formado em Filologia Oermânira pela Faculdade de Letras da Universidade de
Lis-boa, ex-Pensionista do Fstado na Inglaterra
e naAlemanhae Professor efectivo da cadei-ra do^3.® grupodo Liceu Central Alexandre Herculano,no Porto.
F
PREFACIADO
peloDr.
Teófilo
Braga.
TIP. PORTO-ORÁFICO
Ruados Bragas, 156
—
PORTO
Obras
do
mesmo
autor
Cinzas
Verdades
Amargas
Dois
diasem
Viana
Geomorfologia
—
1.° vol.Geomorfologia
—
2°
vol.<
I ' / / J.Tomé
da
Silva.
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ITIlAit)
O
autor.
>
fl minha esposa
ogliicklich, werein Herz gefunden, Das nur in Liebe denktundsinnt,
Und,mit der Liebetreii verbuiiden, Sein schôiires Leben erst beginnti
(Hoffmann von Falltrslcben).
Viana-do-Castelo Junho de 1914.
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in 2010with fundingfrom
UniversityofToronto
A
Lenda
InfantistaCarta ao Prof. J. Tomé da 5ilva
Á
apreciação da actividade e infiuencia doInfante D. Henrique acha-se viciada pela
omis-são da época primordial das Navegações
por-tugiiezas, aiithenticada pelas
emp
rezas de D.Affonso IV
em
1336, até d tomada de Ceutaem
1415, continuando-se até d morte de D.João I,
em
1433.E
então quecomeça operíodointermediário do Infante D. Henrique, que se
caracterisaporexploração de concessões regias
e mercantilismo utilitário até aos lucros da
escravatura. Depois da sua morte
em 1460
é que esplende a grande épocaem
que seprepa-ram
todos os elementos sclentlflcos, quecon-duziram pela acção de D. João ii aos
assom-brosos Descobrimentos, que vletam a coincidir
com
o reinado Imprevisto do venturoso D.a memoria do seuantecessor. Desconhecidaessa
épocainicialdasnavegações portuguezas,(1336
a 1433) e apagado esse centro das grandes
aplicações scientificas, (1481 a 1495), essa
rá-pida transição de
1438
a1460
e preenchidapelo Infante D. Henrique, que exerceu
uma
absorvente acção impondo-se ao poder real,obtendo do rei D. Duarte e Infante D. Pedro,
seus irmãos, e de seu sobrinho D. Affonso y,
concessões, privilégios e domínios, desviando a
corrente das emprezas marítimas do seu
espi-rito generoso e heróico para o mercantilismo
Immedlato.
A
bajulaçãode contemporâneos,comoa do chronista palatino
Gomes
Eanes deAzu-rara, na Crónica da Conquista da Guiné,
atri-buindo todas as iniciativas a D. Henrique, e a
falsa lenda Colombina, ofuscando os
constan-tes esforços scientificamente preparados e rea-lisados por D. João ", équefizeramformar-se a fantástica lenda dos Infantistas, tornando
D. Henrique o Navegador, o apogeu
sobrehu-mano
dos Descobrimentos dos Portuguezes.Os
escritoresinglezes deram universalidaded lenda, porque a actividademarítima dos por-tuguezes derivava-se do atavismo saxonio
comu-nicandoogénionáuticoao InfanteD. Henrique
por sua
mãe
a inglezaD. FilippadeLencastre, filha deJoão de Gant. Sente-se o orgulhobri-III
tánico nestas palavras de Beekford ao visitar
o mosteiro da Batalha: "Henrique, a
quem
oseu paiz é devedor dos triumphantes
descobri-mentos maritimos, resultado das suas
perseve-rantes investigações scientificas no seu
soce-gado
isolamento,,. (Excuj-são a Alcobaça eBatalha, p. 40.)
Como
os inglezes, também osalemãesprocuraram atribuir os descobrimentos
portuguezes d iniciativagermânica,suprimindo
aJunta dosMatemáticosde D.JoãoII, e
glori-ficando o mercadorde Neuremberg, Martin de
Behaim, a que deu curso Oliveira Martins.
Como
desfazer esseerro histórico da LendaInfantista, que chegou a impor-se
dogmática-mente? Luciano Cordeiro,
em
umas
obser-vações d conferencia de
Oldham
sobre aDes-coberta pré-Colombina da America, aponta o verdadeiro método critico, pela investigação "constante e serena do movimento das
Explo-rações marítimas iniciadas pelos Portuguezes,
não apenas como se costuma pensar e dizer,
sob a direcção dograndeInfante D. Henrique,
mas
desde que Portugal começa a constituiruma
nação eum
estado historicamente distintona longa costa ocidental mais avançada da
Europa.
Já
Henri Scha^ffer, na sua bela Historia deIV
as origens da nossa actividade niaritima, que
foi a principal razão da nossa nacionalidade, conservando-se apenas algumareferenciacasual
doschronistasouplirases
em
diplomasdirigidoscom
diverso intuito, as quaesfundamentam
in-vestigações cujos resultados revelam quantos
successos gloriosos ficaram no esquecimento.
A
nomeaçãodeNuno
Fernandes Cogominhopara Almirante maior, no reinado de D. Diniz,
em
1314, prova que estava organisada aMa-rinha portugueza; este
mesmo
Cogominho era chanceler do Infante D. Affonso, que noscome-ços do seu reinado encetou a Descoberta do
Archipelago das Canárias.
Era obrigatório o contracto de
20
marinhei-ros genovezes, o que explica a presença dena-vegadoresitalianos
em
Portugal. Doisdocumen-tos preciosos apareceram,
um
no século xvii eoutrono século xixauthenticando a emprezade
D. Affonso IV, no descobrimento das Canárias,
em
1336-1340.É
o primeirouma
Carta deD. Affonso IV, de 12 deFevereirode 1345, ao
papa Clemente vi, respondendo a
uma
outraem
que lhe anunciava que tinha creado D. Luiz de
Lacerda Príncipe das Canárias, "para a
ocupa-ção das Ilhas Afortunadas e para plantar a
vinha dilecta deDeus.
Dom
Affonsoivprotesta contra o acto descricionario dopapa:"Respon-detidopoisáditacarta, diremosreverentemente,
que os nossos naturaes foram os primeiros que
acharam as mencionadas Ilhas.
"E
nós, atendendo a que as referidas Ilhasestavam mais perto de nós de que de qualquer
outro príncipe, e a que nós podíamos mais
commodamente
subjugar-lhes,dirigimospara aliosolhosdo nossoentendimento, e desejandopôr
em
execução o nosso Intento,mandámos
lá asnossas gentes e algumas náos para explorar a
qualidade daterra, asquaesabordando ásditas
Ilhas se apoderaram porforça de homens,
ani-mais, outras coisas e as trouxeram
com
grandeprazer aos nossos Reinos.
Porem
quandocui-dávamos
em
mandaruma
Armada
paracon-quistar as referidas Ilhas,
com
grande numerode cavaleiros e peões. Impediu o nosso Intento
a guerra que se ateou primeiro entre nós e
El-Rel de Castela, e depois entre nós e os reis
sarracenos, que terminoupela vlctorla. Tudoisto
porsernotório, estamos certos que se não
ocul-taráa V.Sant/ e tomando-o
em
consideração osnossosembaixadores, queha poucoenviáramos.,,
Manifesta o aggravo que lhefez o papa
assi-gnando a provisão d'essas Ilhas, e termina:
"Considerando que não só pela vlsinhança
com
as sobreditas Ilhascomopelacommodldadeou-VI
tros para as conquistar e
também
por termos já nós e as nossas gentes começado felizmenteesta empreza, deveriamos ser convidados por
V. Sant'^ com preferencia a qualquer outro
para louvavelmente concluir ou ao menospedia a razão, que isto nos fossecommunicado por V. Sant'.,,
Esta extraordinária pagina histórica,
em
que D. Affonso iv manifesta como a guerra
com
A
Ifonso xi de Castella, seugenro, edepoisa guerra de 1340, que terminoupela famosa
Victoria do Salado, pelo que teve de
interrom-per a occupação definitiva das Canárias, foi
transcriptapelo CardealBaroniodaBibliotlieca
do Vaticanoepublicada nosseusAnnaes
Eccle-siasticos pelo seu continuador Odorico
Raynal-do, nosfins do século xvii. Doesta collecção e
que a transcreveu e traduziu
em
parte oaca-démico Joaquim José da CostaMacedo,
commu-nicando-a á Academia Real das Sciencias
em
14 de juníio de 1816, e publicando-aem
uma
Memoria
em
1821. Esta extraordinária Cartade D. Affonso iv ao
Papa
acha-se comprovadapor
uma
relação encontrada por SebastiãoCiampi na Bibliotlieca de Florença
em
1827,na qual se descreve a expedição portugueza de
1 de Julho de 1341, composta detrez náos que
vil
Niccolau de Recchi e deflorentino Angelo dei
Teggio de Corbanzi; e unia carta de
um
mer-cadorda Florençaestabelecido
em
Sevilha eda-tada de 15 de Novembro de 1341, descrevendo
esta expedição,
em
que visitaram treze a qua-torze ilhas, costumes, linguagem e vidadosha-bitantes, tendo trazido
um
indígena paraLis-boa. Costa
Macedo
escreveuuma
segundaMe-moria sobre este precioso documento
em
1835.(J. Bensaude, Astronom. naut., p. 97).
Com-tudo o vice-almirante Quintella, nos Annaes da
Marinlia Portugueza, ainda punha duvidas aos descobrimentosdoD. Affonso iv, desconhecendo a publicação do documento descoberto por
Se-bastião Cianip (1827-1835).
No
reinado de D. Affonsoiv (1326-1357),segundo refere o vice Almirante Quintella
(Ann. 1, 22) o porto de Tavira tinha 70navios
destinados á pesca, e outros para a navegação do
mar
alto;pela sua situação maisfácilparaa exploração da costa de Africa e do
Atlân-tico, estes maritimos de Tavira constituiram-se
em
Parcerias para a exploração das costas daGuiné, como refere Azurara dos maritimos de
Lagos. Estas Parcerias tinham
um
Compro-misso, eorganisaram suas confrarias ouirman-dades de assistência, com os títulos de Nossa
VIII
Mareantes, da Senhora da Guia.
À
medidaqueseaventuravam ao largo,careciam do auxilioda
bussula e do
modo
de conhecerpelo sol a lati-tude.Correu por toda a parte a
fama
do Judeudas Brussulas (bússolas); era o celebrejudeu
Cresqui le jeba, o autor do Atlas catalão de
1375
e dosMapas
de 1381 e 1394, hoje iden-tificadocom
Mestre Jacome de Malhorca, oiiofficialmente Jacome Ribes,
nome
que tomousendo forçado a converter-se á egreja.
Em
uma
das perseguições religiosas Jacome Ribes
au-sentou-se de Malhorca
em
1410; é n'estaau-sência que sefixaa suaviagem a Portugal
con-vidado para ensinar aformação das Cartas e
conhecimento dos ramos!
SeguindoDuarte Pacheco eJoãodeBarros,
esta tradição do Mestre Jacome de Malhorca
é encabeçada no Infante D. Henrique, como
tendo-o chamado para vir ensinar a
Cartogra-phia.
A
tradição só pode ser verdadeiraem
re-lação a D. João I, depois da tomada de Ceuta
em
1415;com
relação a D. Henriqueéchrono-logicamente impossível. Prova-se que Cresqui
le jeba (Jacome Ribes ou Jaques de Malhorca)
é o auctor do Atlas Catalão de1375;
uma
obrade tal saber sópoderia serfeito por
homem
deIX
então nascido por 1335, e a vir ao convite de D. João I a Lisboa conta
84
anos.Mas
aacti-vidade niaritima do Infante D. Henrique só
começou
em 1438
depois da morte do rei D.Duarte; e n'esse caso, Mestre Jacome de
Ma-lho rca teria então 104 anos;já não estava
em
estado de vir a Portugal ao convite do
In-fante D. Henrique.
O
mat
liem atiro GarçãoSto-ckler, no seu Ensaio liistórico da Mathematica
em
Portugal, fixa a data da vinda deJaquesde /Aal/iorca
em
1438
e o Dr.Mees
observaque não sabe donde Stockler colheu tal data;
bem
se explico, por queem 1438
équecome-çara a actividade niaritima do Infante, sendo
então desconhecidos os dados biographicos do
Cosmographo de
MaUwrca.
O
convite de D.João I explica o conhecimento do Archipelago
da Madeira antes de 1419 e o seu
descobri-mento sem a intervenção do Infante; e antes
do seu nascimento
em
1394
já no Atlas de1375
eram apontados Porto Santo e Insula deLegname, e no
Mappa
Mediceo de 1351.Para formar a Lenda niaritima do Infante
D. Henrique, serviu-se Azurara do velho
liofos-copo do astrólogo judaico,mostrando pela rhe-torica phantosista, que "de natural influência
este honrado Príncipe se inclinava a estas
es-pecialmente de buscar as cousas que eram
cu-bertas aos outros homens e secretas; c todos os seus tratos e conquistas serem lealmente
feitos.,,
Quaes as provas históricas?
Aries, na casa de Marte, que estava
em
Aquário, na Casa de Saturno e acompanhado
do Sol.
Eis os fundamentos do chronista, que
escre-via
em
1450, declarando a estetempo que aViL-la do Infante
em
Sagres estava porformar-se.Como
a Chronica da Guiné esteve inéditaatémeados do séculoxix, aLendainfautistanão
tevedesenvolvimento;
mas
JoãodeBarros,obten-do cadernos avulsos de Affonso Cerveira, que
Azurara plagiara e, desconhecendo a chronica
inédita, fez
também
o seu plagio.A
Década i deJoão de Barros tambémes-teve inédita até
1553
e por isso a lenda Inf au-tista ahi contida não influiu no critério dogrande mathematico Pedro
Nunes nem
naidea-lisação heróica de Camões.
No
Tratado de Defensam das Cartas demarear, Pedro
Nunes
considerando a periciados nossos navegadores, teve
uma
excelenteoc-casião para
memorar
o Infante D. Henrique,se houvesse exercido alguma acção sobre os descobrimentos; escreve elle:
XI
"Ora, manifesto he que estes
descobrimen-tos de costas, ilhas e terras firmes, não se
fize-ram
indo a acertar;mas
partiram os nossosnavegantes miiy ensinados eprovidos de
instru-mentos e regras de Astrologia e Geometria,
que eram cousas de que os Cosnwgraphos
honde andar apercebidos. . . Levaram cartas
muy
particularmente rumadas ejá não as queos antigosusavam,quenão tinham mais
figura-dosque doze ventosenavegavamsemagulha...
„
O
Dr. PedroNunes
não desconhecia aim-portância da Junta dos Mathemáticos de D.
João 11 e o uso geraldo Almanach Perpetuum
de Abrahão Zacuto, e escreviajá sema
influen-cia de D. Manuel, que repellia tudo quanto
provinha de D.João n; como
homem
descien-cia, não lhe seria indifferente qualquer indicio
da Eschola Cosmographica de Sagres, sendo
elle de Alcácer do Sal.
O
Dr. António Ribeiro dos Santos, quees-tudou os mathemáticos e cosnwgraphos
portu-guezes, foi oprimeiro que estranhou
em
Camões,no
poema
em
que tanto glorifica os heróicosNavegadores, não consagrar a acção marítima
nos Lusíadas, do Infante
Dom
Henrique.E
porque o poeta, nomesmo
caso do doutorPedro Nunes, não conhecia factospositivos das
XII
apotlieose do alto Infante; a Década de
Bar-rosfoi publicada depois de terembarcado
Ca-mões
em
abril de 1553, tendo começado oprimeiro Canto dos Lusíadas após a leitura da
Historia do Descobrimento da índia, por Cas-tanheda.
João de Barros, que porsimplesplagio dos
cadernos de Affonso Cerveira gratificou D.
Henriquedoprestigiodas Navegações, desvenda
o movei da sua actividade, no Capitulo 2.° da
Década i; vendo pela conquista de Ceuta que
ficavam sob a Coroa de Portugal os reinos de
Fez e Marrocos, nada podia conquistar para
si"assentou de
mudar
de conquista para outras partesmais remotas daHespanhaeosméritosdoseu trabalhoficassemna
Ordem
de Christo, queellegovernava e decujo thezouropodiadispor,,.
Servindo este ideal de conquista e não de
emprezas marítimas, como Mestre da
Ordem
de Christo para se manter fora da soberania
real, confinou-se nas terras pertencentes ao
Mestrado no gozo dos seus direitos
magesta-ticos.
É
o que significa a sua passagem do Tejopara Sagres, no Algarve, logar sem agua, sem
recursos para asnoticias das navegaçõesepara
armar quaesquer expedições.
Azu-Xlll
rara, de 1450, ainda não estava fundada a
povoação, apenas
com
muros; Cadamosío quevisitara o Infante (1454) nada diz donde se infira Eschola de estudos náuticos, e Diogo
Gomes
de Cintra, que o visitou já na suadoença (14Ó0)
também
não dáum
vislumbreda pretendida Academia, que no século xviii e
XIX sonharam Ribeiro dos Santos, Garção
Stockler, Visconde de Santarém, Silva Lopes, e
todos os mais que ainda faliam da Eschola de
Sagres por bocca de ganso.
Em
1868
o escriptoringlezMajor
publicou a Vida do Infante D. Henrique, tomando comodocumento histórico do descobrimento da Ilha
da Madeira a narrativa novellesca de D.
Fran-cisco
Manuel
deMello,naEpanaphoraamorosa;assim pela lenda ingleza de
Machim
eAna
deA
rfet, ligava ao prestigio britânico essedes-cobrimento.
No
mesmo
espirito escreveu a suamonogra-phia sobre o Infante, para patentear nos seus
feitos o impulso do atavismo inglez. Sobre
este ponto escreveu
Ramalho
Ortigão, noCen-tenário do Infante
em
1894
:"Não
conheçoherói de tão grande fama, cuja historia exacta seja
em
realidade tani obscura."Os contemporâneos pouco falaram d^elle
XIV
da immortalidade litteraria a todos osquepor
algum
modo
ennobreceram a sua pátria, quasique não dá attenção áquelle que mais tarde se
chamou o fundador da Eschola de Sagres.
"Para explicar pela acção da
hereditarie-dade a superior organisação doeste príncipe, evoca-se
em
geral a influencia do caracterin-glez transfundido pelo sangue materno aos
fi-lhos de
Dom
João i."O
sangue de Lencastre não podia ter naconstituição molecularda dynastia de Aviz
se-não
uma
influencia mórbida ; porque a famíliade D. Filippa era
uma
família degenerada.O
pae, que vivia escandalosamente no
mesmo
larcom asua mulheresuaamante, queelle raptara
aomarido, ede que fizera a preceptora de sua
filha, era evidentemente
um
desequilibrado.O
irmão Henrique vi era epiléptico.
A
avó,prezae encarcerada por seufilho, vivia
em
descaradoconcubinato com Mortlmer, seu amante.
Teme-rosa ascendência, perante a qual
me
parece hamenos razões para attribuir d influencia
gené-tica de D. Filippa as virtudes do seufilho, do
que os germens de loucura que assignalam
al-guns dos seus descendentes.,,
O
Dr. João Teixeira Soares, que tantoes-tudou as Navegações portuguezas, chegando á
XV
da degenerescência hereditária do Infante D.
Henrique:
"Açnelle príncipe não foi mais do que
um
ambicioso utilitário sem a sciencia
nem
oal-cancegeographico que lhe attribuem.
Na
famí-lia foi
um
Caim.A
virilidade e a nobreza deespirito não a tinha por ser
um
quasi eunucho.A
adopção dosobrinhoparafilho (queinfâmia!)pelo
modo
como depois falseou este acto."A entrega que fez do irmão
em
Tanger,depois de o arrastar ali, não se comenta!
O
seu comportamento
com
o Infante D. Pedro ecom os filhos ésem egual!„
.
E
dos estudos sobre a Chronica da Guinéeda Década i de Barros (que suscitavam
teme-rosas conclusões) levaram o Dr. João Teixeira
Soares a estas phrases:
"O
Infante D.Henri-que valepouco na Historia dos Descobrimentos.
f
penoso o mister que o critico tem deexercer sobre este
mão
príncipe,mas
ha-de exer-cel-oum
dia e ha-de ser tanto Inexorávelquanto mais tarde vier.,,Na
correspondênciadoeste eru-dito açorianocom
outro alto espirito, o Dr.Ernesto do Canto, e trocada
em 1877
e 1878,apontou elle alguns dos aspectos da figura
histórica do Navegador: "o que eu queria que
me
exhlblssem eraum
único documento,um
XVI
em
que se provasse que o Infante D. Henriquetinha tido a menor idea de viagens e
descobri-mentos maritimos! Parece que era já tempo de
fazer calar a lisonja e apparecer ahistoria
irre-fragavel, que nos diz: que a actividade
marí-tima dos portuguezes já estava desenvolvida e
fixada antes d'elle pelas explorações no
Atlân-tico septemtrional e descoberta dos seus Archi-pelagos.
"Estepríncipenão fez mais do que
aprovei-tar esta actividade, dando-lhe
uma
novadirec-ção mais positiva e menos generosa, que elle
soube monopollsar
em
seu proveito e daOrdem
de que era Mestre.
"Foi
um
emprezarlo egoístan'estetheatrodanossa actividade, nada mais.
E
note-se, que ofoi, depois da morte do pae, de
quem
nadaobteve, esódoIrmão, cujofilho adoptou.,, (Carta
de
20
de outubro de 1877)."Nada
tevecom
navegações, descobrimentosmaritimos e colonlaes da Madeira, senão depois
da morte de seu pae, que parece comprehendeu
melhor do que os Irmãos o péssimo caracterde
filho. Comtudo, quanto arredados do que levo dito não estão os que tem feito a historiadeste
príncipe!
Os
doze annos de esforçosparapassaro Cabo Bojador, foram apenas
um
recursoXVII
Azurara patenteou! Pois, o quese temdito da
Villa de Sagres?...
A
verdadeira Sagres ondeestá?
Quando
e para que fim foifundada?
Aquelle ptincipe não foi mais que
um
ambi-cioso utilitário. . . Aproveitou a scienciae
acti-vidade maritima dos portuguezes, já assaz
firmada, para simples reconhecimento da
conti-nuação de
um
boccado de Costa africana,des-viando o génio marítimo da nação para
um
campo
utilitário,estabelecendoaescravidãoafri-cana econvertendo tudo
em
monopólio próprio.Na
Madeira só continuou a colonlsaçãofun-dada pelo pae, alterando profundamente o
sys-tema benéfico d'aquelle, e convertendo tudo
em
seu proveito, creando os dízimos, etc . . . (i)
A
doação que fez á Universidadede Lisboaem
1431 deum
prédioparaassentar osEstudosmenores (os Sete Artes liberaes) foi para
cor-responder á sua eleição de Protector da
Uni-versidade, o que só competia á realeza; e
de-terminou ''que a doação se abra
em
pedra eque se ponha sobre a porta,,.
Quando
em 1894
se celebrou o Centenáriodo Infante D. Henrique jáseachava publicado
o seu testamento,eno artigo commemorativo de
4 de
Março
apontavam o facto de elleXVllI
tuir
uma
cadeira de Theologia, quando se otivesse animado o espirito dos Descobrimentos
seria
uma
cadeira deCosmo
g
rapliia.Por
occasião doesse festival publicouBruno(José Sampaio)
um
trecho do capitulo xi daChronica da Conquista da Guiné,
em
queAzu-rara representa o Infante assistindo ápartilha
dos escravos
em
Lagos, estando a cavallo, sendocommoventemente descripto pelo chronista, que
Ferdinand Denis traduziu
em
francez.Ramalho
Ortigão remata o seu artigo:"Dosfilhos que provieramd' este abençoado
consorcio, honesto,prosaico, felicíssimo
—
épre-cisamente o InfanteD. Henrique
—
aquelle quemenos
sjTnpathiame
inspira.O
povo não lheconsagrou
nenhuma
das suas carinhosas epoé-ticas lendas,
em
que a sua imaginação envolvea memoria d^aquelles que amou.,,
Theophilo
Braga.
Dr. Ernesto do Canto publicou por occasião da
morte do Dr.João Tei.veixo Soares, em 1882, preciosos
e.Ktractos doesta correspondência, no valioso Archivo dos
Açores, voí. iv,pag. 16 a 19. Isto prova o valor scien-tifico dasinvestigações d'aquellc penetrante espirito.
Divagando
A
HISTÓRIA evoluciona.Um
pergaminho
que
apareça,um
monumento
que
sedescubra e
uma
inscriçãoque
sesoletre sãofactores suficientes para apurar a verdade
dum
factoou
lançar por terrauma
lenda.A
histórianunca
estácompletamente
feita.
Podemos
tomá-lacomo
o escultortoma
a pedra informe, para paciente eva-garosamente
a irmos desbastando, abrindolinhas, soltando pregas e rasgando feições.
Assim
faz o escultor.A LENDA DE SAGRES
Mas
este termina a sua obra, olha-a,mira-a, contempla-a, dá-lhe vida,
infunde--Ihe
um
pensamento, traduz-lheuma
ideae ao
som
da
última maihetada diz:—
Ei-la!Já outro tanto
não
pode
fazer ohisto-riador; estuda o facto, prescuta-o,analisa-o,
esquadrinha-lhe, aqui e além, as causas e as
consequências,
mas
todos os diaspode
aparecer
um
novo
documento
que
lhealterea história,
que
lhamude
e atéque
lharasgue.
A
sua obra talveznunca
esteja com-pleta. . .E
quantas vezes sucedeque
todoesse
monumento
levantado vagarosamente,anos
após
anos,com
materiais carreados,quem
sabe?, talvez de regiões distantes,com
o
esforço titânico de muitos obreiros,precisa ser
demolido
para se lhe alterar aforma, adicionando-lhe
uma
nova
parte eexcluindo-lhe outras!
E
o historiador, esse Jobdos
tempos
modernos,
lá volta aomontão
das ruinaspara escolher as melhores peças e
recons-truir
com
elas, paulatinamente, a obraque
A LENDA DE SAGRES
É
por issoque
a histórianão
ésomente
a descrição
dum
facto, mas, sim, o estudoafincado de tudo
que
o precedeu e seguiu,de
todos os seus liames, de todas as suasafinidades.
O
facto histórico deu-seuma
vez,
mas
não
se repetiu; o físico e oquí-mico
podem
fazer passar ante si a cadamomento
osfenómenos
que
mais lhespreocupam
a mente,ou
mais lhestorturamo
espírito, para os desvendar e explicar.Porém,
omesmo
não
acontececom
osfenómenos
sociais;não
ospodemos
re-petir,
não
lhespodemos
atribuir leiscer-tas e determinadas para cada
momento,
para os diferentes países e para as várias psicologias.
Podemos
apresentar leis gerais,como
bases,mas sem
nosaventurarmos
aasse-gurar consequências.
A
opressão corresponde a reacção;mas
como
se reage?Não
opodemos
predizer.Aristófanes
com
a tragédiagrega reagiucontra as forças superiores; era a luta
do
pro-A LENDpro-A DE SAGRES
testantismo é o produto
do
deboche
e daopressão papal ; a deusa
Razão ocupou
osaltares e o
sangue
dos franceses regoucopiosamente
as ruas de Paris,como
reac-ção às
scenasdo
baixo império; essa páginanegra,
que
no
séculoxx
enluta a históriado
nosso país, foi escritacom
as lágrimasdos
aflitos ecom
as perseguiçõesdos
que
aspiravam a ver raiar
uma
nova
aurora deliberdade.
F
sempre
assim...Não
sepode
pois marcar limites aofluxo e refluxo social.
A
história emenda-se, refaz-se e valori-za-se tanto quanto se pode,mas
isto é obrade séculos e de gerações.
O
século XIX representauma
nova
"étape,, para a história; ela renova-se e este
remoçar
históricovem
demãos
dadas
com
o
remoçar
literário,com
o romantismo.Aparece
a escola românticacom
o seuca-rácter altamente analítico, o qual influiu de
um
modo
verdadeiramente assombroso, naevolução e nos trabalhos históricos.
"A
A LENDA DE SAGRES
um
melhor
seio e bafejada porum
maisbenéfico sopro, sente
em
si novas forçasque
a transfiguram.A
crítica histórica porum
lado e oro-mantismo
por outroencetam
uma
nova
corrente de ideas e distinguem-nos os
fa-ctos, os indivíduos, as épocas e as regiões.
Assim
semudou
a faceda
história,que
se tornou, então,
um
género literário escientífico diverso daquele
usado
até àRe-volução Francesa e
em
que
seapreciavam
só as ingentes figuras e os grandes feitos.
A
igualdade e a fraternidade levantamo
seupendão
de paz eamor
eunem
num
amplexo
formidável todo o génerohu-mano.
Já
o
plebeumerece
as atençõesdo
his-toriador; já a minúcia e a crítica histórica
descem
até aospequenos
factos,que
mui-tas vezes nos
dão
a razãoda
existênciados
grandes.
É
o leãoda
fábulaque pede
o auxílioda
doninha
!
A
própria literaturatoma
uma
nova
A LENDA DE SAGRES
-dos
"Luises,,desaparecem
ecedem
o seulugar ao gargalhar estrondoso dos
"Moliè-res„.
Bem
seique
o1789 derramou
muitosangue
etrucidoumuito
justo,mas
também
irradiou luz a jorros.
A
Europa
lucroucom
a Revolução, pois ela abriu e
marcou
uma
nova época
em
todos oscampos
sociais.É
a revindicação daRazão
edo Povo
!
A
plebe, esse elementoque
trabalha esofre,
que produz
egeme
eque
é o prin-cípio de toda a riqueza, de toda a liberdadee de toda a soberania, conquista à forçade
sangue derramado
os Direitosque
lheper-tenciam por Direito.
É
uma
nova
auroraque
doira ohori-zonte!
A
história tinhachegado
aum
pontoem
que
cristalizou; jánão
haviahistoria-dores e a história agonizava.
A
pouca
vidaque
lhe restava era-lhe,artificialmente, conservada pela repetição
do
que
as velhas e balofas crónicasconti-nham
; os ricos e pródigos reis,que
A LENDA DE SAGRES
feitos de envolta
com uma
enorme
percen-tagem
de mentira e lisonja,iam
escasseandoe aqueles
que
ainda existiam preferiam demui
melhor
grado
gastar o seu oirono
sensualismo físipo
do
que
em
ouvir soprarante si a tuba
da
pseudo-fama. Eraum
novo
caminho que
a degenerescênciatri-lhava. .
.
Faltando, pois, essa fonte de
munifi-cência régia, consequentemente,
também
faltavam os louvaminheiros áulicos e
cro-nistas.
É
entcãoque
oromantismo,
qual Cristodo
evangelho, vai arrancar a história dejunto
do
túmulo, bafeja-lhe a fronte,esten-de-lhe a
mão
e exclama-lhe:
Surge
etambula
!Marco
Polo, arrepiandocaminho
atra-vésdasinóspitasparagensasiáticas, vivendo
com
ospovos
orientais, e, de certomodo,
dominando-os, apresenta-se-nos naquele
A LENDA DE SAGRES
humanas.
Empreendedor,
valente, nervosopor
temperamento,
audacioso porpsicolo-gia, parecendo,
como
meridionalque
era,sentir nas suas veias o fervilhar das cata-ractas
do
Niagara,concebeu
e realizouuma
das mais árduas
empresas
mundiais.De
volta ao céu de anil
da
Itália, cheio deglória, e carregado de riquezas,
pede
aum
seu
companheiro
de cárcereque
lhe escrevaas "Memórias,, relativas ao
tempo
que
pe-regrinou para
além
das terras de PresteJoão.
São
tão assombrosas, tãoextraordi-nárias essas narrativas,
que
a razãohumana
nega-se a aceitá-las.
Contudo,
a geografiacom
elas lucroue o
mesmo
diremosdo
comércioque
en-controu nas terras
do
levanteum
belocen-tro de actividade. Elas
foram
como
que
oaperitivo para
um
lauto festim.Mas
a crítica histórica já hoje colocouaquelas narrações nos seus verdadeiros
li-mites, aproveitando o
que
lá havia de sãoe lançando por terra esse
montão
defanta-sias
que
tão luxuriantemente viçaram nasA LENDA DE SAGRES
Era o roble frondoso que, ferido pelo
raio, se
despenhava
no fundo
do
vale. . .O
que
diremos,também,
deFernám
Mendes
Pinto aquem
a posteridadedeu
onome
deFernám:
Mentes?
Minto! pelasultra-pasmosas narrativas por êle descritas,
quando
da
suaestadano
vulcânicoNipon?
Pois é assim
que
se refaz a história,expurgando-a de erros, limpando-a de
len-das, retocando-a e tratando-a
com
oamor
com
que
ozoólogo
e o botânico tratamo
fóssil encontrado lá
no fundo
do
abismo.Se
ncão fosse a crítica históricaque
seriada
história daIdade-Média?
envenenar-nos-íamos
com
elacomo
o viandante aquem
a noite surpreendeu namargem
demefítico lago,
obrigando-o
aí a pernoitar.A
lenda látem
um
lugar própriono
"Folk-lore,, nacional,
como
monumento
literário, se é digna disso,
mas
nunca
naspáginas
da
históriacomo monumento
destaespécie.
Herculano,
combatendo
opseudo-mila-gre de Ourique,
não cumpriu
maisdo que
10 A LENDA DE SAGRES
há dúvida
que
a reacção,que sempre
repre-senta a conservação de tudo
que
roce peloceleste, rugiu, pois
empenhava-se
em
con-servar
em
a nossa Bíblia nacionalum
em-buste mais.
Mas
o severo historiador,que acima
de tudo
punha
a sua missão, escalpelou-amembro
amembro,
fibra a fibra e alfim,como
última luva atirada às cabeçastonsu-radas, lançou
em
público esse escrupulosopadrão de verdade
—
A
Históriado
Esta-belecimento
da
Inquisiçãoem
Portugal.Sim;
isto é ser historiador!Herculano
como
crítico honra o paísque
lhe serviu de berço,como
o jesuítaMasdeu
eniTobrece o seu.Historiador,
mas
patriota,no
vero epuro sentido
do
termo.Levem,
sepodem,
com
provas e razõesde qualquer espécie para o
campo
do
mi-lagre as valorosas acções
do
grandeNuno
Alvares edepois
digam-nos
oque
sucederáàhistória e às glórias nacionais.Milagres, sim,
fazia-os o Condestável,
com
oamor
da
A LENDA DE SAGRES 11
A
nossa idiossincrasia, aamenidade
deste edénico clima, este sol
que
diluisa-firas, este luar
que
convida ao amor, estas noites deJunho que
incitam àcontempla-Çcão, este atavismo religioso de séculos e
séculos
que
.pesa sobre nós,fazendo-nos
acreditar
não
seiem
que, aceitando tudo oque
fôr sentimental e religioso,não
discu-tindo nada, por ignorância, por indolência,
ou
porcomodidade,
tudo isto concorrepara
que
nós atribuamos aDeus
aquiloque
não
sabemos
explicar scientífica era-cionalmente.
A
observação e a experiência,como
método
scientíficonada
valem,mas
sódo-mina
aquiloque
as nossas avós, cheias deternura e de sentimentalismo, nos
segre-daram,
quando
nosembalaram.
Depois, crescemos,
desenvolvemo-nos
e as condições mesológicas e etnológicas
quase
que
nosalgemam
às primeirascren-ças, fúteis, inúteis e ridículas,
mas
também
poéticas,
sem
que
nóstenhamos
força paranum
gesto de altivez e sinceridade12 A LENDA DE SAGRES
Com
tal povo,com
tal educação,com
tão
pouca
força de vontade,como
progre-dir,
como
levantarcabeça?
Com
tãopouco
senso,com
tãopeque-no
amor
critico,como
fazer história?O
nossopovo
é ingénitamentebom
esimples.
Durante
longotempo
viveu namais absoluta ignorância e,
quando
lhede-ram
um
impulso para avançar, para ofa-zer progredir, foi-se encontrar nas
mãos
do
clero. Este vivia, parte consciente e parte
inconscientemente,
como
que
atrofiado,macerado
pelodogma
e pelos cânones;não
representava por siuma
classe social,mas
uma
casta temida,ou
pela suamalda-de,
ou
pela sua posição.O
padre jánão
era—
Homem
—
; eramanequim,
era autómato, quere nasmãos
dos
políticos, quere nas dos Bispos e Je-suítas. Pregava,mas
ódio,ou
mentira;ensinava,
mas
o castigo enunca
o perdão;aumentava
as trevasdo
espírito enunca
dizia
como
Goethe ou Lamennais
—
abram
aquela janela, quero luz!
as-A LENDA DE SAGRES 13
sim
mesmo
deixavade anatematizaro "Eu-rico,, de Herculano, todo cheio de
amor
puro, de sentimentalismo verdadeiro e tcão
verdadeiro
que
êlenão
o percebia.A
igno-rância era-lhe
cómoda
e auma
perguntamais analítica respondia
sempre
com
—
Deus
eDogma!!
Leão
X foraum
mau
exemplo
e Luterovia a sua obra vins^ada e coberta de loiros.
A
Igreja Católica nos países meridionaismorre
; a corrução física e moralconso-me-lhe as entranhas, o ultra-montanismo
cava-lhe a sepultura.
Não
setomem
estasminhas
palavras à conta de ódiosistemá-tico à religião
do
Cristo.Não
; tudo érela-tivo . .
.
Eu
atéadmiro
e tenhouma
certavene-ração pelo sacerdote católico,
mas
não
nospaíses
onde
ele pretendemonopolizar
oensino, a religião e o estado,
como
entrenós aconteceu. Simpatizo
com
a missãosacerdotal católica,
mas
onde
as religiõescom
as suas seitas sedegladiam
; admirei-ona
Alemanha, onde
o viem
luta aberta14 A LENDA DE SAGRES
OS Luteranistas,
impondo-se
pelo seucará-cter, pela sua erudição, pelas obras de
ca-ridade
que
promovia,empenhando-se
em
conquistar adesões
com
obom
exemplo
eimpoluta vida.
Admirei-o ainda na Inglaterra,
onde
oouvi pregar as mais puras e sãs doutrinas,
aconselhando o perdãoe a caridade. Eaqui,
mais
do que
na friaAlemanha,
lutava êleevalentemente contra a "National Church,,
e ainda contra os "Quakers,,, contra os
Calvinistas, contra os Luteranistas, contra
os Presbiterianos e contra as inúmeras
sei-tas
que
lá pululam."Pertransit
bene
faciendo,,podemos,
como
a Biblia, dizerdo
padre católicoda-queles países;
mas
jánão
podemos
dizer omesmo
do
padre católico meridional.As
emanações
salinasdo
Mediterrâneoestuam-lhe o
sangue
e êle deixa de ser esse"amputado
espiritual,, paraacompanhar
osseus superiores hierárquicos nos
"requie-bros,, da "Furlana
Trocando
aVirgem
por Vénus, omun-A LENDmun-A DE SAGRES 15
dano dos
salões, deixando a batina paratomar
a casaca, entrando na politica eno
sectarismo, assim
mudou
o seu rótulo edegenerou-se.
Deste
modo
que
esperar de tal clero?Ora
desta maneira,com
tais mestres ecom
tais exemplos,nunca
sepode
ilustrarnem
educar.Era antiga
noção
filosófico-psicólogicaque
os actos inconscientes juntos,soma-dos,
davam
conscientes; a neo-filosofiacontesta-o,
demonstra
o contrário.Zero
somado
com
zerodá sempre
zero,do
mesmo modo
que
ignorânciacom
igno-rância
nunca
dará omnisciência. Pois,aba-tido nesta decadência, é
que
viveu durantelongo
tempo
o nossobom
povo
; êle tinhatalvez desejos de beber a largos haustos a
instrução,
mas
o clero opunha-seecomuni-cava-lhe a sua ignorância.
Também
até Lutero foi a Bíblia mono-pólio eclesiástico; por issonão
é paraadmirar
que
num
momento
solene, essepovo que sempre
viveu nas trevas, aoilu-16 A LENDA DE SAGRES
minou
os escuros antros, caíssecomo
que
cego
com
tanta claridade.A
luz feriu-lhe a retina e a maior partetornou-se "
míope
„ ;hoje o
povo
"vê mal„.. .Confunde
os objectos e até as ideas enão
tem
anoção
certa das coisas.Quantas
vezes
tem
confundido repúblicacom
anar-quia, lenda
com
história, religiãocom
fana-tismo e viver
com
vegetar?Mas
o errovem
de trás,da
educação,do
passado. ..
Assim,
como
se ha-de fazer e lêrhistó-ria? Impossível
!
Para êle o desfazer
duma
lenda é oes-boroar da história; prefere vêr a sementeira
coberta de joio,
do que
o trigo limpo emondado. É
a decadênciada
raça latina, éo retrocesso. .
.
Retrocesso?
Não!
Prouvera aDeus
que
o fosse.Mas
eunão
acredito,nem
admito sequer
em
tese, o retrocesso deuma
raça, porque, se êle fosse possível,ela iria retrogradando
sempre
esucessiva-mente
atépoder
adquirir a forçaque
A LENDA DE SAGRES 17
Por
isso, paramim,
as raçasdecaem,
mas
não
retrocedem.Poderemos
nós, ainda,encarnar a vontade de ferro de
Afonso
Henriques, o carácter de
Egas
Monís, opatriotismo de
Nuno
Alvares, acoragem
do
Gama
e a constância deMagalhães?
Não,
nunca!Já
somos
filhos afastadosdos
grandesvultos ..
.
Mas
como
explicarno meio da
deca-dência desta raça uns estos de valor
dal-guns
povos?
A
Itália levanta-se e elaen-cerra
no
seu seio a nossa avó:—
oLa-tium.
Serão novas forças
que
sereúnem?
será o evolucionar social? assim seja, para
termos ainda
uma
esperançano
futuro.E
eu estou certo
que
a leiturada
verdadeirae pura história, o relembrar os feitos
sem
par dos nossos avoengos, dará ao povo, se
não
uma
nova
alma, pelomenos
um
incen-tivo mais vivo para o
caminho do
Pro-gresso.
Oh
! a história é a mestrado
futuro e18 A LENDA DE SAGRES
Não
é tentando valorizar lendas,que
nós refazemos e aperfeiçoamos a história
;
não,
não
é. E' limpando-a de tudoque
elatem
de fantástico, de tudo oque
ela en-cerrasem
provas,sem documentos
dequal-quer espécie.
Façamos
o estudo dasfontes,para depois apresentarmos a verdade dos
factos.
Ao
escrever estas linhas eu sintoem
mim
como
que
um
impulsode
orgulho eao
mesmo
tempo
um
sentimento demágoa.
Eu
me
explico:
O
título da presente obra elucidabem
o seu assunto. Consiste apenas
em,
com
provas, destruir a já célebre Escola
Náu-tica
ou
Academia
de Sagres,que
muitosprotegem
edefendem
como
uma
glórianacional.
A
minha
concepção, para uns, seráou-sada e para outros pretenciosa.
Que
im-porta?
Lá
está a critica sincera e recta paraA LENDA DE SAGRES
Alguém
verá nistoum
actoanti-patrió-tico, talvez
o
desvalorizarda histórianacio-nal, e,
quem
sabe?um
pouco
de"snobis-mo,,.
Nada
disso é!A
figura grandiosa eaureolada
do
Infante D.Henrique
conti-nuará
no
seu alto e refulgente pedestal e anévoa
que
há dois séculos levemente aen-cobre será
espancada
e, assim, estejamcer-tos,, ficará melhor.
O
audaciosoempreendedor,
com
osolhos fixos na curva
do
horizonte, láonde
o último
bordo
do
céu fimbra o mar, verámelhor
achegada
das frágeiscaravelasque
por
"mares nunca
d'antes navegados,,leva-ram
a luzda
civilização àsduas costasafri-canas, ao levante e aos confins
do
mundo.
A
recompensa
do
seu grandeamor
pá-trio será esta: depôr-lhe aos pés a sua
pró-pria história,
mas
feitacom
verdade.E com
isto todos lucram; as cortesde
Lamego também
passaram para a lenda,saíram da história e esta
nem
por issoba-queou, antes ficou mais firme. E'
necessá-rio
que
nósmostremos
ao estrangeiroque
20 A LENDA DE SAGRES
no
seu verdadeiro lugar as nossas glórias,sem
embustes,sem
lisonjasnem
mentiras...^"Noblesse oblige,,
somos
portuguesese a nós, mais
do que
aninguém,
compete
fazer a nossa história.
O
assunto deque
me
vou ocupar
jáfoi tratado por
M. M.
Le
Comte
Goblet
Alviella, Leclerey, Discailles e Dr. Jules
Mees
na RialAcademia
Belga,mas
em
Portugal
não
encontrou defensores.Não
há
um
único livro dedicado exclusivamentea tal tarefa.
Seria por
temor
que
aquelesque
me-lhor
do que
eu opodiam
fazer seexcusa-ram
a isso?ou
julgariamque
com
ades-truição da lenda
perigavam
os alicercesda
nossa história pátria?
Não
sei; sejacomo
fòrPara
mim,
as fontesque
usei—
Ramú-sio, Azurara, Major,
Mees,
Joãode
Barrose outros, são claras e certas, e assim julgo
prestar
um
serviço desinteressado àhistó-ria,
expurgando-a
duma
lenda.A
lendáriaAcademia
de Sagres ficarábem
junto dasA LENDA DE SAGRES 21
Se
Omeu
próprio juizonão-me
engana,demonstrarei
que
aAcademia
Náuticade
Sagres, atribuída ao infante Henrique,
não
passa de
uma
fantasia inventada séculosapós a sua morte.
E' necessário
que
conheçamos
osgran-des vultos e os seus feitos,
mas
imparciale conscientemente,
porque
o nossopovo
está eivado de grosseiros erros, radicados
pela falsa tradição
que
lhostem
repetidoséculos após séculos.
De
Nero
sóconhece
os seus ferinossentimentos e as crueldades
que
praticoucontra os cristãos;
mas ninguém
falada
riqueza e prosperidade
que
o ImpérioRo-mano
atingiusob
o seu poder.Lutero é
somente
um
inimigoirrecon-ciliável e perseguidor
do
Papado;
mas
ninguém
dizque
êle foium
pedagogo
emé-rito eque
se aAlemanha
caminha
hoje navanguarda
da pedagogia, dele recebeu oprimitivo impulso. (')
O
Ver a obra do autor: "laitero como22 A LENDA DE SAGRES
As
Cruzadas
dizem
as piedosaspere-grinações aos Lugares Santos, tendo
em
vista recuperar das nicãos
dos
infiéis otú-mulo
do
Cristo;mas
que
essas ordas debandidos
matavam,
violavam,saqueavam
eincendiavam, não
sabem.
Pois a nossahis-tória lá narra os seus selváticos feitos na
tomada
de Lisboa.O
padredo
altodo
púlpito barafustouque
aRevolução
Francesa foi amaior
ca-lamidade
humana
depois de Átila,mas
não
disse os benefícios
que
ela trouxe àsocie-dade
eem
especial ao povo.Assim, ignorantee
mal
educada,aplebeconhece
a história sectáriamente e fala-nosde Lutero
como
um
monstro
e deNero
como
uma
fera.Ora
istonão
é fazer história,não
éco-nhecer história; é
corromper
gerações,atro-fiar intelectos.
Nada
maisQuem
perfilha
alenda
T
RATANDO
de refutar a lendária Escolaou
Academia
Náutica de Sagres,apresen-tarei ern primeiro lugar as passagens
dos
historiadores antigos e
modernos
que
teem
afirmado
que
o Infante D.Henrique
fundou
tal instituiçcão dotando-a, ao
mesmo
tempo,dos
mais célebres mestres cartógrafos,cos-mógrafos
e navegadoresque deixaram
osseus
nomes
vinculados a essasassombro-sas aventuras marítimas.
his-24 A LENDA DE SAGRES
toriadores constitui, por assim dizer, essa
"elite,, intelectual
que
gastou energias edispendeu vida
em
proldo
esclarecimentoda história.
Mas
a verdade éque
eles se utilizaraminconscientemente de fontes duvidosas e
assim, posso afirmar
sem
receio de serre-futado, deixaram-se
adormecer
pelo cantoda fabulosa sereia
que
se ocultava naspe-nhascosas
margens do
"Sacrum
Promon-torium,,.
Porem,
é de notar que,em
geral, todosestes historiadores são relativamente
mo-dernos e
consequentemente
Ucãocontempo-râneos
do
Infante.Dos
antigosnão
sepode
apresentar
um
único,como
demonstrarei,que
escrevessecom
fundamentadas
razõesuma
só linha acercada
famigerada EscolaNáutica
de
Sagres.Notemos
que
as fontescontemporâ-neas, quási
sempre
testemunhas ocularesou
auricularesdos
factos, Scão as de maisalto valor, por mais puras e dignas de fé.
Quando
estasou
aquelasnada
nos dizem,A LENDA DE SAGRES 25
séculos desponte
como
novidadeum
feitodo
qual os nossos avósnão
seocuparam
directa
ou
indirectamente, verbalmenteou
por escrito?
(iComo
sepode
admitirque
osmuros
dum
edifício se sustentemsem
alicerces,ou que
um
tronco vicesem
raiz?O
mesmo
sucedeu
com
as cortes deLamego;
do
tempo
aque
elas se referiamnão
apareciaum
únicodocumento,
uma
única passagem,
uma
única linhaque
afir-masse ou
desse a perceber a existência detais cortes.
O
documento
forjado eramuito
posterior.
Eu
bem
seique
a vaidadehumana
emuitas vezes
um
mal
calculadoamor
pá-trio constituem as razões para
que
ahistó-ria seja deturpada, julgando-se assim
exal-tar mais o valor
dum
herói,ou
alargar oslimites
dum
facto notável.Mas
issonão
é história; é a corruçãoda
mesma.
E
estejamos certos deque
oembuste
mais tardeou
maiscedo
édesco-berto, acarretando já então grandes
danos
desvir-26 A LENDA DE SAGRES
tuamento
que
nos outros factosprodu-ziu.
E' o cscalracho
que
se desenvolve àvontade e luxuriantemente
no
meio da
se-menteira e
quando
o descuidado lavradoro pretende arrancar, jcá sacrifica
muito da
colheita.
Por
isso éuma
das mais nobresmis-sões a de limpar a
enorme
sementeirahis-tórica dessas ervas daninhas, cuidada,
tem-pestiva e minuciosamente.
E
no
caso presente é de admirarcomo
tanto se tenha escrito pretendendo
assegu-rar a veracidade
duma
lenda que, paramaior
infelicidade,nem
origens nacionaistem.
Vamos
encontrar os ingleses, osita-lianos e os belgas escrevendo sobre ò
as-sunto e
pondo
os factos nos seus termos,enquanto
os nacionais se interessamem
prolongar a fantasia.
E'
um
absurdosem
desculpanem
explicação.
Para
o
número
dos
superiormenteilus-trados a lenda vai passando; e digo "dos
A LENDA DE SAGRES 27
outros a lenda
da
Escola Náutica de Sagresainda constitui
uma
realidade.Pouco
ou nada
setem
feito a fim delançar por terra esse
monumento
assenteem
areia eque
sóaguarda
um
pequeno
terramoto para ruir. Benéfico
que
esseter-ramoto
sercá! talcomo
soprodo
tufãoque
enfolando as velas de
nau
prestes anaufra-gar
em
penhascosa costa apõe
ao largo ea salvo. .
.
Eu
bem
seique
o ciclone destrói emata,
mas
também
desperta muitasener-gias e
dá
muitas lições.Em
tudose aprende.Dir-me-hão
que
o derrubar é fácil,mas
pernicioso, e
que
só o criar é divino edi-fícil.
Distingo.
A
criaçcão da mentira é obrasatânica e nós
podemos
criar destruindo;destruindo a lenda cria-se a história . .
.
A
Revoluçcão, destruindo epassando
como
o vento da cólerado
Senhor,semeou
e produziu. E'
sempre
assim; ao invernotriste segue-se a primavera risonha eflorida.
Mas
basta de divagações;voltemospara28 A LENDA DE SAGRES
pensa e medita nas glórias da pátria,
en-quanto
omar
no
seu fluxo e refluxo se lheroja aos j:)és, orlando a praia de alva
es-puma.
Pensa
e medita,assombroso
nauta! edepois
anima
com
o teu génio esses lobosdo
mar, que, tisnadosdo
sol africano,largam nas frágeis caravelas
em
demanda
de mais
um
loiro para a tua coroa e demais
uma
glória para o teunome
!
Ensina e apregoa
que
paraalém
do
tormentoso
"Não„
há largos impérios efabulosas riquezas; fala aos teus
marinhei-ros das terras de Preste JOíão e excita-lhes
a fantasia tão fácil de lançar
em
grandes earriscadas empresas;
sonha
com
a tuapá-tria
como
oempório
do
mundo
e auxiliacom
o
teu intelecto,com
a tuaboa
vonta-de e
com
a tua firmeza a construçãodo
gigantesco edifício cuja primeira pedra foi
lançada
em
Ceuta!Vejamos
agoraquem
se refere directaou
indirectamente cà lenda da EscolaA LENDA DE SAGRES 2Q
João de Barros
na "Década,, \.\ Livro1.", Cap. 16,escreve:
"Pois acerca das letras,
não
tratando"das sagradas
que
êle (o Infante) pordevo-"ção e veneraçcão muito amara, acerca das
"humanas
eramuito
estudioso,principal-"
mente
na Sciência de cosmografia. . .
"O
Infantenão somente
encomendou
"as causas
do
bom
sucedimento
delas,mas
"ainda teve nele muita indústria e
prudèn-"cia para
conseguirem
próspero fim,por-"que
para o descobrimento dacostaociden-"tal
da
Áfricamandou
virda
ilha deMaior-"ca o mestre Jácome,
homem
mui douto
na"arte de navegar,
que
fazia cartas e instru-"mentos
náuticos, oque
lhe custou muito"pelo trazer a este reino, para ensinar sua
"sciência aos oficiais portugueses daquele
"mester.. .„
Nas
últimas palavrasdo
cronistaencon-tra-se
uma
alusão aum
mestre e assimhou-ve
quem
concluisseque onde
háprofessores30 A LENDA DE SAGRES
escola. Eis
uma
razão remota paraque
secomeçasse
só
no
século XVIII
a falarda
Academia
Náutica de Sagres; edigo "razãoremota„,
porque
aorigem
da lendanão
partede nacionais,
mas
simdeestrangeiros,como
em
capítulo próprio eu o demonstrarei.O
meu
prezado e ilustre colega Prof.Acácio
da
Silva
Pereira
Guimarães
em
opúsculo publicadoem
1904,com
otí-tulo "Históriada Geografia
„,consagracinco
páginas à Escola
do
Infante e tratado
as-sunto, posto
que
"à vol d'oiseau„,sob
uma
feição histórico-crítica e
moderna.
Mas
napag.
54
escreve aquele senhor:
"Diz mais (João de Barros)
que
depois"de muitas
promessas
e presentessempre
"conseguiu resolver o dito mestre Jaime a
"vir residir
em
Portugal, istocom
o fim"de ensinar a sua sciência aos navegadores
"portugueses..,
A LENDA DE SAGRES 31
Muitos teem
erroneamente consideradoJoão de Barros
como
fonte primitiva.Não,
nunca
o foi.Se
nós retrogradarmoscom
uma
minuciosa e cuidada investigação,va-mos
encontrar muito longe a fonte, talvezprimitiva
que
serviu de base àpassagem
citada pelo cronista.
É
em
DuartePacheco
Pereira
que
se vê a primeira referência aomestre maiorquino.
Desta fonte ocupar-me-hei
em
capí-tulo próprio e então explicarei quais as
ra-zões
que
me
levam
a aindanão
chamar
aopróprio Duarte
Pacheco
fonte primitiva,pois há
noção
deuma
crónica perdidaque
teve por autor
Afonso
de Cerveira eque
eu reputo primitiva.
No
retrogradar prudente e preciso deépocas, cronistas e fontes é esta "Crónica,,
de Cerveira aquela
que
mais longepode-mos
alcançar e aque
mais noshá-de
ser-vir para base
do
nosso estudo.Mas
voltemos ao nosso assunto.A
seguir escreve odouto
Professor:"Eis o
gérmen
da
Escola de Sagres.,,32 A LENDA DE SAGRES
poucas páginas escritas sobre a Escola
de
Sagres na obra citada, peço vénia para
discordar neste último ponto.
Barros ncão foi mais
que
um
obreiroque
inconscientemente carreouuma
nova
pedra para o levantamento
da
lenda,mas
que
essa servisse defundamento
àquela,isso não,
não
serviu.Foram
os inglesesque
agora tantoteem
auxiliado a destruiçãoda
lendaque
a criaram,
sendo
mais tarde reforçadospelos espanhóis,
como
à frente veremos.Que
odouto
colegame
releve estadis-cordância,
mas
tal é aminha
opinião ejulgo
que
segura edocumentada.
António
Ribeiro
dos
Santos
nas suas
"Memórias
históricassobre algunsmatemáticos portugueses e estrangeiros,
domiciliados
em
Portugalou
nasconquis-tas,, diz
:
"Ali
(em
Sagres)erigiuum
observatório"astronómico, o primeiro