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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA UNIDADE EDUCACIONAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA

UNIDADE EDUCACIONAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ANA ALICE DE SANTANA MENDES

A EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES E SENTIMENTOS POR MEIO DA MÚSICA: UMA ANÁLISE DE MÚSICAS INTERPRETADAS POR ELIS REGINA NO PERÍODO

DA DITADURA MILITAR NO BRASIL A PARTIR DO PSICODRAMA

PALMEIRA DOS ÍNDIOS 2021

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ANA ALICE DE SANTANA MENDES

A EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES E SENTIMENTOS POR MEIO DA MÚSICA: UMA ANÁLISE DE MÚSICAS INTERPRETADAS POR ELIS REGINA NO PERÍODO

DA DITADURA MILITAR NO BRASIL A PARTIR DO PSICODRAMA

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Unidade Educacional de Palmeira dos Índios do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas – UFAL para a obtenção do título de Formação em Psicologia.

Orientadora: Profª. Ma. Fernanda Cristina Nunes Simião.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS 2021

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Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca Unidade Palmeira dos Índios

Divisão de Tratamento Técnico

Bibliotecária Responsável: Kassandra Kallyna Nunes de Souza (CRB-4: 1844)

M538e Mendes, Ana Alice de Santana

A expressão das emoções e sentimentos por meio da música: uma análise de músicas interpretadas por Elis Regina no período da ditadura militar no brasil a partir do psicodrama / Ana Alice de Santana Mendes, 2021.

130 f.

Orientadora: Fernanda Cristina Nunes Simião.

Monografia (Graduação em Psicologia) – Universidade Federal de Alagoas. Campus Arapiraca. Unidade Educacional de Palmeira dos Índios. Palmeira dos Índios, 2021.

Bibliografia: f. 122 – 130

1. Psicologia. 2. Psicodrama. 3. Música. 4. Regime militar. 5. Ditadura. I. Simião, Fernanda Cristina Nunes. II. Título.

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ANA ALICE DE SANTANA MENDES

A EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES E SENTIMENTOS POR MEIO DA MÚSICA: UMA ANÁLISE DE MÚSICAS INTERPRETADAS POR ELIS REGINA NO PERÍODO

DA DITADURA MILITAR NO BRASIL A PARTIR DO PSICODRAMA

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Unidade Educacional de Palmeira dos Índios do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas – UFAL como pré-requisito para a obtenção do Grau de Formação em Psicologia.

Data de Aprovação: 31/03/2021.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à espiritualidade amiga por estar ao meu lado nessa jornada.

À minha mãe Edna, ao meu pai Everaldo e ao meu irmão Vitor, por serem minha base, me apoiarem e me ajudarem, sem medir esforços para isso.

Às minhas tias, prima e primos, em especial, ao Pedro Henrique, por, em muitos momentos, ter sido meu ponto de paz nessa caminhada.

À Amanda Brandão, pela amizade, por todo suporte, pelas brincadeiras, estresses divididos e conversas sinceras.

À Kassandra Kallyna, por todo apoio, incentivo, puxões de orelha, conversas madrugada adentro e momentos de gargalhadas genuínas.

Ao Rodrigo Dantas, por ter sido a melhor dupla possível de estágio e me fazer ficar na UFAL até tarde da noite conversando sobre a vida.

À Juhlly Araújo, por ser luz e leveza em meio ao caos e a melhor escritora de roteiros não seguidos.

À Daiane Rodrigues, pela amizade, compreensão e compartilhamento de tantos assuntos em comum.

À Daniele Almeida, pelo tempo no qual dividimos apartamento, seu carinho e cuidado.

Às professoras e alguns dos professores que contribuíram de forma positiva na minha caminhada dentro da graduação, pelo compartilhamento dos seus conhecimentos e das suas experiências.

À Professora Fernanda, por, primeiramente, ter sido minha supervisora no estágio de Clínica em Gestalt-Terapia, momento no qual tive a oportunidade de aprender imensamente com ela; e por ter sido minha orientadora nesse trabalho, caminhando junto comigo rumo à finalização desse ciclo.

Agradeço a todas as pessoas que durante os últimos seis anos me afetaram de maneira positiva, deixando boas lembranças.

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Por fim, e não menos importante, agraço à música por ser minha grande companheira em todos os momentos da vida, minha inspiração, meu resgate, minha celebração, minha calma, minha inquietação, meu questionamento, minha resposta e meu silêncio.

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“A música é meu motor e meu combustível, meu arco e minha flecha e minha solidão. Amigo, cantar é um ato que se comete absolutamente só e eu adoro” (Elis Regina, 1980).

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RESUMO

Essa pesquisa teve como objetivo geral compreender a música como uma forma de expressar as emoções e sentimentos a partir da análise de músicas interpretadas por Elis Regina compostas por artistas diversos no Período da Ditadura Militar no Brasil à luz do Psicodrama. Para isso, tivemos como objetivos específicos: identificar composições de artistas que se posicionavam contra o regime militar; analisar letras de músicas interpretadas por Elis Regina compostas por artistas diversos no período ditatorial brasileiro, identificando o conteúdo expresso a partir do seu contexto de composição; e relacionar os processos de composição das músicas analisadas com a teoria do Psicodrama. Com relação ao referencial teórico desse estudo, escolhemos a Teoria do Psicodrama de Jacob Levy Moreno para embasar nossas análises, discussões e reflexões. Concernente aos aspectos metodológicos, trata-se de uma pesquisa qualitativa e documental, na qual realizamos buscas no site Google com o intuito de encontrar nosso material de análise: músicas interpretadas por Elis Regina com conteúdo de crítica à Ditadura Militar no Brasil e informações acerca dessas músicas e de seus compositores. Desse modo, ao final do processo de seleção, escolhemos quatro músicas e informações sobre elas para comporem o material analisado. Em relação ao método analítico, elegemos a análise de conteúdo de Laurence Bardin, que resultou em três categorias de análise: 1) Dor/Angústia; 2) Esperança; e 3) Medo. A partir das nossas análises e discussões, pudemos compreender que estamos a todo momento procurando meios de expressar as mais diversas emoções e sentimentos oriundos das experiências vividas ao longo de nossas vidas. No decorrer de nossas análises, foi possível destacar a relação existente entre o processo de composição musical e alguns conceitos da Teoria Psicodramática, que foram: Catarse, Espontaneidade e Criatividade, Fator Tele e Matriz de Identidade; também dialogamos com a prática psicodramática e a Psicomúsica. Entendemos que a realização dessa pesquisa nos possibilitou uma compreensão aprofundada acerca do uso da música como um meio de expressar emoções e sentimentos, destacando-se o quão pode ser relevante a sua utilização tanto na prática da Psicologia quanto nas demais profissões que trabalham com intervenções terapêuticas. Sendo assim, frisamos a importância de que na atuação profissional se considere os mais variados recursos que possam auxiliar nas intervenções, levando em consideração a singularidade de cada sujeito. Por fim, salientamos que esse trabalho propõe discussões e reflexões que defendem o uso da música como um recurso interventivo que pode ser utilizado como um facilitador do processo de expressão.

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ABSTRACT

This research aimed to understand music as a way of expressing emotions and feelings based on the analysis of songs performed by Elis Regina composed by different artists during the Military Dictatorship Period in Brazil (between the years 1964 and 1985) in the light of Psychodrama. For that, we had as specific objectives: identify compositions of artists who took a stand against the military regime; analyze lyrics of songs performed by Elis Regina composed by different artists in the Brazilian dictatorial period, identifying the content expressed from its context of composition; and to relate the composition processes of the analyzed musics with the theory of Psychodrama. Regarding the theoretical framework of this study, we chose Jacob Levy Moreno's Theory of Psychodrama to support our analyses, discussions and reflections. Concerning the methodological aspects, it is a qualitative and documentary research, in which we conducted searches on the Google site in order to find our analysis material: songs interpreted by Elis Regina with content critical of the Military Dictatorship in Brazil and information about these songs and their composers. Thus, at the end of the selection process, we chose four songs and information about them to compose the analysed material. Regarding the analytical method, we elected Laurence Bardin's content analysis, which resulted in three categories of analysis: 1) Pain/Anguish; 2) Hope; and 3) Fear. From our analyses and discussions, we were able to understand that we are constantly looking for ways to express the most diverse emotions and feelings arising from the experiences lived throughout our lives. In the course of our analyses, it was possible to highlight the relationship between the musical composition process and some concepts of the Psychodramatic Theory, which were: Catharsis, Spontaneity and Creativity, Tele Factor and Identity Matrix; we also dialogue with Psychodramatic Practice and Psychomusic. We understand that the realization of this research enabled us to have a deeper understanding of the use of music as a means of expressing emotions and feelings, highlighting how relevant its use can be, both in the practice of Psychology and in other professions that work with therapeutic interventions. Thus, we emphasize the importance of considering the most varied resources in professional practice that can assist in interventions, taking into account the uniqueness of each subject. Finally, we emphasize that this work proposes discussions and reflections that defend the use of music as an intervention resource that can be used as a facilitator of the process of expression.

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SUMÁRIO

CARTA AO/À LEITOR/A 10

1 INTRODUÇÃO 11

2 HISTÓRIA DA ARTE COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO E A EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES E DOS SENTIMENTOS POR MEIO DA MÚSICA

16

2.1 Cronologia da Arte 20

2.2 Tipos de Arte 24

2.3 Trajetória e Funções da Música 32

2.3.1 A Música no Período Ditatorial Brasileiro 39

2.4 Função Social da Música 48

3 AO RITMO DO PSICODRAMA 53

3.1 A Teoria Moreniana 55

3.1.1 Espontaneidade e Criatividade 59

3.1.2 Fator Tele 62

3.1.3 Matriz de Identidade 63

3.1.4 Teoria dos Papéis 65

3.2 Prática Psicodramática 66

3.2.1 Modalidades de Psicodrama 68

3.2.2 Técnicas de Psicodrama 69

3.2.2.1 Psicomúsica 71

4 PROCESSOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 75

4.1 Análise de Conteúdo 88

5 CANTANDO EMOÇÕES E SENTIMENTOS NA DITADURA MILITAR

NO BRASIL: UM DIÁLOGO COM O PSICODRAMA 92

(11)

5.2 Esperança 104

5.3 Medo 111

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 118

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CARTA AO/À LEITOR/A

Caro/a leitor/a,

A presente produção, além de falar sobre música, possui letras de músicas no seu decorrer, as quais aparecem como citação no início de alguns capítulos, em exemplificações das funções da arte, nos exemplos de músicas que foram censuradas no período ditatorial brasileiro e como citação no começo das categorias de análise. Essas músicas foram escolhidas a partir do meu entendimento de que cada uma delas se relaciona com o assunto abordado seja no capítulo, na seção ou na categoria de análise em que se encontra. Além disso, também estão presentes músicas relacionadas à carreira da cantora Elis Regina, assim como músicas condizentes com a proposta do trabalho, as quais foram pré-selecionadas para compor o material de análise, bem como outras músicas dos compositores que foram analisados. Com a finalidade de proporcionar uma experiência mais rica, indico que escute cada música quando ela surgir na leitura. As músicas estão dispostas em uma playlist presente tanto no Spotify (link 1), quanto no Youtube (link 2), podendo ser acessada na plataforma de sua preferência.

Link da playlist no Spotify

https://open.spotify.com/playlist/7rjy3ctatllyqsvbs42pl0?si=421eb4383f63474c

Link da playlist no Youtube

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como tema principal a discussão da possibilidade de expressar emoções e sentimentos por meio da música, a partir de um olhar do Psicodrama. O interesse pela realização desse estudo surgiu da vontade de unir a minha paixão por música, que teve início na primeira infância e me acompanha até hoje, e os conhecimentos que adquiri na graduação, ao longo do meu encontro com a Psicologia. Durante esses anos de envolvimento com a música, tanto como ouvinte, quanto como cantora e instrumentista (por hobby), venho acreditando que em uma composição é possível exprimir ideias, posicionamentos, questionamentos, emoções e sentimentos.

A escolha pela teoria do Psicodrama de Jacob Levy Moreno (1975) como referencial teórico se deu através de pesquisas realizadas com a finalidade de conhecer materiais que relacionavam Psicologia e música. Durante essas pesquisas, percebi a aparição do Psicodrama como referencial teórico de alguns dos estudos encontrados, mas a decisão de adotá-lo nessa pesquisa foi tomada quando me indicaram um artigo com autoria de Cunha (2016), cujo título é “Cantodrama: um instrumento de intervenção terapêutica na abordagem psicodramática bipessoal e grupal”, no qual a autora se fundamentara nessa teoria para realizar um trabalho com crianças utilizando a lógica da composição musical e do canto para desenvolverem diálogos, de modo que os profissionais faziam perguntas cantando e as crianças respondiam do mesmo modo.

Levando em consideração que o Psicodrama faz uso de variados tipos de arte em sua prática, compreendemos que essa teoria foi de grande utilidade em nosso trabalho, agregando valor às nossas análises, pois foi possível realizar um diálogo entre alguns de seus elementos teóricos e práticos com o material selecionado para a análise, que foram músicas interpretadas por Elis Regina compostas por artistas diversos no Período da Ditadura Militar no Brasil.

No que se refere à escolha do nosso recorte histórico para essa pesquisa (Período da Ditadura Militar no Brasil), essa se deu pelo fato de não haver liberdade de expressão e uma explícita perseguição aos artistas durante essa época. Diante disso, optamos por analisar músicas compostas nesse momento histórico que foram

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interpretadas por Elis Regina devido a ela ter sido uma cantora que gravou músicas de diversos compositores brasileiros, nos dando a possibilidade de trabalharmos com a expressão de emoções e sentimentos acerca desse período advinda de artistas diferentes. Além disso, a escolha por essa intérprete se deu também por ela ter explicitado seu posicionamento contrário ao Regime Militar e emitido suas opiniões políticas e sociais em uma época na qual o Brasil estava sendo governado à base de censura, repressão e outros tipos de violência.

É importante destacar que, a partir desses recortes, nossas análises voltaram o olhar tanto para as composições analisadas, quanto para o processo de criação de seus respectivos compositores, ou seja, realizamos uma análise da expressão dos compositores, dentro de um determinado contexto, observando a história desses artistas, as influências externas e os conteúdos dessas músicas.

Dessa maneira, levando em consideração que a arte é uma das primeiras formas de expressão humana e que a música vem sendo utilizada também com essa finalidade desde os primórdios da sociedade, faz-se relevante a realização de estudos sobre a utilização dessa forma de arte com um meio de expressar emoções e sentimentos em um momento no qual o Brasil sofria com a falta de liberdade de expressão.

Além disso, salientamos a realização dessa pesquisa em um tempo no qual o contexto político e social do país tem se assemelhado ao cenário do período do Regime Militar, marcado por diversos fatores, tais como: a tentativa de cerceamento da liberdade de expressão, um forte autoritarismo, perseguições e mortes por motivos políticos, dentre outros acontecimentos.

Somado a isso, estamos vivenciando um momento em que a arte, e consequentemente a música, tem sido utilizada para expressar emoções, sentimentos, pensamentos e opiniões relacionadas ao contexto político e social brasileiro, mesmo sofrendo perseguições e tentativas de boicote. Diante dessa semelhança de cenários e da utilização desse tipo de arte como forma de expressão, ressaltamos a atemporalidade das músicas que foram analisadas nesse estudo.

A partir de todas essas escolhas, partimos para o estudo do nosso tema de interesse e identificamos que, conforme Azevedo Júnior (2007), a expressão das

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emoções e sentimentos é realizada há séculos, existindo registros da Era Paleolítica ilustrando a necessidade do ser humano de se expressar. Sendo assim, ainda segundo esse autor, “A arte é uma das primeiras manifestações da humanidade como forma do ser humano marcar sua presença [...] comunicando e expressando suas ideias, sentimentos e sensações para os outros” (AZEVEDO JÚNIOR, 2007, p. 6). Devido a música ser um dos tipos de arte existentes, ela também é um recurso que pode cumprir essa função.

Considerando as discussões acima e a definição dos recortes que foram necessários para a realização desse estudo, definimos como objetivo geral compreender a música como uma forma de expressar as emoções e sentimentos a partir da análise de músicas interpretadas por Elis Regina compostas por artistas diversos no Período da Ditadura Militar no Brasil à luz do Psicodrama.

A partir disso, elaboramos os seguintes objetivos específicos: identificar composições de artistas que se posicionavam contra o regime militar; analisar letras de músicas interpretadas por Elis Regina compostas por artistas diversos no período ditatorial brasileiro, identificando o conteúdo expresso a partir do seu contexto de composição; e relacionar os processos de composição das músicas analisadas com a teoria do Psicodrama.

No que se refere aos processos metodológicos, tomamos por base os pressupostos de uma pesquisa qualitativa (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2002) e de uma pesquisa documental (GIL, 2002), tendo em vista o intuito de analisar as músicas que foram escolhidas a partir de alguns critérios e de acordo com o nosso tema de interesse. Desse modo, em nossas pesquisas, buscamos encontrar músicas interpretadas por Elis Regina com conteúdo de crítica à Ditadura Militar no Brasil e informações acerca dessas músicas e de seus compositores.

Em vista disso, por meio da realização da nossa pesquisa documental, escolhemos analisar as seguintes músicas: “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”, escritas por Belchior; “Cartomante”, composta por Ivan Lins e Vitor Martins; e “O Bêbado e a Equilibrista”, composição de Aldir Blanc e João Bosco. Além delas, nosso material de análise foi constituído também por informações encontradas acerca dos compositores e do contexto de composição de cada uma das canções analisadas.

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Selecionamos como método de análise para explorar o material escolhido a análise de conteúdo de Laurence Bardin (c. 1977). Esse processo resultou na escolha de três categorias de análise, intituladas Dor/Angústia, Esperança e Medo, por meio das quais expusemos nossos resultados e compreensões, dialogando com alguns dos conceitos do Psicodrama e aspectos da prática dessa teoria.

Com relação à estrutura, esse trabalho foi organizado em quatro capítulos. No primeiro (História da arte como meio de comunicação e a expressão das emoções e dos sentimentos por meio da música), apresentamos, inicialmente, um conceito de emoções e sentimentos. Após isso, discutimos acerca do surgimento da arte, a divisão cronológica da arte e os tipos de arte que existem atualmente. Por se tratar de um estudo com foco na música, foi dada ênfase ao seu surgimento, desenvolvimento teórico e prático, bem como ao seu uso na sociedade ao longo dos séculos. Ainda nesse capítulo, destacamos algumas informações a respeito da Ditadura Militar no Brasil e discorremos, brevemente, sobre as músicas que foram compostas nesse período histórico. Por fim, dissertamos sobre a função social da música.

No segundo capítulo (Ao ritmo do Psicodrama) apresentamos o criador da Teoria do Psicodrama e como foi o processo de criação dessa teoria, apontando alguns dos seus conceitos e discorrendo sobre a sua prática e algumas de suas modalidades e técnicas, destacando a técnica da Psicomúsica.

No terceiro capítulo (Processos metodológicos da pesquisa) expomos os caminhos metodológicos desse estudo, que foi de cunho qualitativo e documental. Apresentamos o material selecionado e o método de análise utilizado e descrevemos como fizemos a nossa análise.

O quarto e último capítulo (Cantando emoções e sentimentos na Ditadura Militar no Brasil: um diálogo com o Psicodrama) foi destinado às discussões dos resultados da análise dessa pesquisa, que foram elaboradas através de estudos, reflexões e diálogos possíveis entre os conteúdos do material de análise e os capítulos anteriores.

Por último, apresentamos as considerações finais desse trabalho, redigindo nossas contemplações sobre os principais resultados obtidos com a realização desse estudo, frisando as possibilidades de uso do recurso da música como um

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meio de expressão do ser humano. Além disso, salientarmos a relevância desse trabalho tanto para a Psicologia quanto para outras profissões.

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2 HISTÓRIA DA ARTE COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO E A EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES E DOS SENTIMENTOS POR MEIO DA MÚSICA

Sangrando

Quando eu soltar a minha voz Por favor entenda

Que palavra por palavra

Eis aqui uma pessoa se entregando (NASCIMENTO, 1980)

Nesse capítulo será apresentado o surgimento da arte, bem como suas mudanças ao longo do tempo. Além disso, faremos um breve passeio pelos tipos de arte que existem atualmente com a finalidade de mostrar a importância que cada uma delas vêm tendo na sociedade, enfatizando a música como uma das formas de expressar as emoções e sentimentos.

Faremos um breve passeio pelas características musicais de algumas épocas, dando destaque para a música produzida no período da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), por se tratar do objeto de análise da presente produção. Também será explanado, de forma sucinta, sobre a função social da música e o seu uso como recurso terapêutico em diversas profissões, a partir da Musicoterapia, mais especificamente dentro da Psicologia.

Antes de darmos continuidade ao assunto, faz-se necessário apontar as definições dos conceitos emoção e sentimento. Sobre as emoções, Cezar e Júca-Vasconcelos (2016) afirmam que são expressões de afeto seguidas por reações abundantes e rápidas do organismo (sensações), a fim de responder a algum acontecimento inesperado ou não. Essas reações não são controladas pelo indivíduo e é um momento de descarga de tensão.

Os autores apontam que as emoções são multidimensionais, englobando os fenômenos biológicos, subjetivos e sociais. Acrescentam ainda que a intensidade da emoção será determinada pelo valor que o sujeito atribui ao evento ocorrido. Esse evento poder ser interno (orgulho, culpa, vergonha) ou externo (uma situação que gere medo).

Ainda com relação às emoções, existe o conceito de emoções primárias, que são as emoções básicas, e a junção de duas ou mais emoções primárias formam as

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emoções secundárias. E no que se refere à quantidade de emoções primárias, Menéndez (2019) afirma que não existe um consenso e aponta que são seis: nojo, surpresa, medo, alegria, tristeza e raiva.

Acerca dos sentimentos, Cezar e Júca-Vasconcelos (2016) explicam que estes são eliciados pelas emoções, sendo necessários três elementos para que ocorram: representação do estímulo emocional, recuperação de significados associados a esse estímulo e percepção consciente do estado corporal. Sendo assim, o sentimento é a forma consciente da emoção. Segundo esses autores, alguns dos sentimentos são: felicidade, frustração, hostilidade, amor, gratidão, compaixão, ciúme, aversão, esperança etc.

Feita essa distinção, iniciaremos a exposição acerca do surgimento da arte, que se deu nos primórdios da humanidade. Sobre isso, Azevedo Júnior (2007) afirma que há registros datados da Era Paleolítica, através da Arte Rupestre, comprovando que o ser humano sentia necessidade de registar, de se comunicar e de se expressar. Essa manifestação também foi visualizada através do trabalho do ser humano que, para sua sobrevivência, modificava a natureza e utilizava-a a seu favor. Por meio desses registros é possível identificar a realização de atividades que deram o ponta pé inicial para as formas de expressões artísticas que conhecemos hoje.

Nessa perspectiva, Fischer (1987, p. 42 apud MENDONÇA, 2019, p. 25) aponta que “[...] a arte é considerada desde muito tempo como a manifestação mais autêntica, libertadora e realizadora do homem”. De acordo com Azevedo Júnior (2007, p. 6),

A arte é uma das primeiras manifestações da humanidade como forma do ser humano marcar sua presença criando objetos e formas (pintura nas cavernas, templos religiosos, roupas, quadros, filmes etc) que representam sua vivência no mundo, comunicando e expressando suas idéias, sentimentos e sensações para os outros.

A partir disso, o autor frisa que a arte é “[...] uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa ideias e emoções” (p. 7), sendo assim um meio de comunicação. Desse modo, a arte, para o artista, é um meio de

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expressar e de comunicar o que sente. Além disso, através da arte, ele é capaz de entrar em contato com ele mesmo.

É importante compreender que a arte não é algo estático, ela muda conforme a cultura e o período histórico, logo, sua definição também não é estática, ela muda conforme o tempo e o lugar. Acerca disso, Azevedo Junior (2007) diz que a arte é influenciada pelos valores morais, artísticos e religiosos de uma cultura, portanto, cada cultura tem sua forma de fazer arte, que carrega consigo suas características. Essa forma de se expressar está presente em todas as culturas, podendo ser compreendida como uma linguagem não escrita.

Esse autor aponta a necessidade de três elementos para que a arte exista: o artista, o observador e a obra de arte ou o objeto artístico. O primeiro (o artista) é quem cria a obra, expressando seus sentimentos, emoções e ideias através do seu conhecimento concreto, abstrato e individual.

O segundo elemento (o observador) diz respeito ao público que entra em contato com a obra, indo por um caminho inverso ao do artista, pois o observador primeiro aprecia e em seguida chega ao conhecimento de mundo que a obra contém. O observador precisa dispor de sensibilidade e algum conhecimento de história da arte, que é o ramo da ciência que estuda os processos artísticos a partir do contexto em que foram criados.

O terceiro elemento (a obra de arte ou o objeto artístico) faz parte de todo o processo, desde a criação, até o momento que o observador o aprecia. A obra de arte ou o objeto artístico não necessita de complemento ou tradução, isso só ocorre quando faz parte da proposta do artista.

Ainda segundo Azevedo Junior (2007), com o passar do tempo, dentro da história da arte, se tornou possível identificar três funções para a arte: pragmática ou utilitária, naturalista e formalista. Na primeira função, a arte é usada como uma forma de alcançar uma finalidade não artística, sua valorização não é pela obra em si, mas sim pela sua finalidade. A arte que tem a função pragmática ou utilitária pode ser utilizada para fins pedagógicos, religiosos, políticos ou sociais. Não importa a qualidade estética, mas sim se ela exerce o papel moral de atingir o propósito a que se prestou.

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Essa função pragmática ou utilitária pode ser exemplificada por “Querelas do Brasil”, música composta por Aldir Blanc e Maurício Tapajós (1978), gravada por Elis Regina, que faz uma crítica social à exploração do Brasil pelos estrangeiros e utiliza palavras do dialeto indígena como referência aos povos existentes no país quando este foi invadido:

O Brazil não conhece o Brasil O Brasil nunca foi ao Brazil Tapir, jabuti

Liana, alamanda, ali, alaúde Piau, ururau, aki, ataúde Piá-carioca, porecramecrã Jobim akarore, Jobim-açu Uô, uô, uô

Pererê, camará, tororó, olerê Piriri, ratatá, karatê, olará Pererê, camará, tororó, olerê Piriri, ratatá, karatê, olará O Brazil não merece o Brasil O Brazil tá matando o Brasil [...]

A segunda função para a arte, a naturalista, visa representar a realidade ou a imaginação tal qual ela é, para que quem observa a obra consiga identificar e compreender o seu conteúdo.

O que importa é a correta representação (perfeição da técnica) para que possamos reconhecer a imagem retratada; a qualidade de representar o assunto por inteiro; e o vigor, isto é, o poder de transmitir de maneira convincente o assunto para o observador (AZEVEDO JÚNIOR, 2007, p.10).

Tal função pode ser ilustrada pela música “Meu Cenário”, composta por Petrúcio Amorim (2003) e interpretada pelo forrozeiro Flávio José:

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Nos braços de uma morena Quase morro um belo dia Ainda me lembro

O meu cenário de amor Um lampião aceso

Um guarda-roupa escancarado Um vestidinho amassado Debaixo de um batom Um copo de cerveja E uma viola na parede [...]

Na terceira função para a arte, a formalista, a qualidade da obra é atribuída a partir da forma de apresentação de seus motivos e significados estéticos. Azevedo Junior (2007, p. 10) explica que “A função formalista trabalha com os princípios que determinam a organização da imagem – os elementos e a composição da imagem”. Sendo assim, o importante nessa função é expressar e transmitir emoções e ideias através do objeto artístico. Como exemplo dessa função, temos a música “Te Amando Calado”, composta por Wallace Lander Santos (2017) e interpretada por Bistrô “Tô te amando calado tá/Vou deixar mal curado viu/Coração não vai aguentar/Tá sangrando um bocado tá/Tô sofrendo calado viu/Por não ser seu amor [...]”.

Considerando o que já foi apresentado até aqui, ressaltamos que a arte, desde os movimentos protótipos de sua criação, vem passando por modificações e atualizações que derivam de acordo com a época vivida. Portanto, a arte, assim como a história, também é dividida cronologicamente e essa divisão temporal será apresentada de forma sucinta a seguir.

2.1 Cronologia da Arte

De acordo com Aidar (2019), a partir dos estudos realizados pela História da Arte, a arte é dividida cronologicamente em períodos históricos e seis deles serão apresentados brevemente a seguir: Arte Pré-histórica, Arte Antiga, Arte Clássica,

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Arte Medieval, Arte Moderna e Arte Contemporânea. No Quadro 1, será apresentado o tipo de arte característico de cada um desses períodos históricos.

Em seguida, ilustraremos exemplos de cada uma das artes mencionadas no quadro referentes a cada período histórico: Arte Rupestre (Figura 1), Arte Egípcia (Figura 2), Arte Grega e Romana (Figura 3), Arte Gótica (Figura 4), Arte Expressionista (Figura 5) e Arte Conceitual (Figura 6).

Quadro 1 – Alguns Períodos Históricos da Arte

PERÍODOS HISTÓRICOS

TIPOS DE ARTE CARACTERÍSTICOS DE CADA PERÍODO

Arte Pré-histórica (período anterior a

3.000 a.C.)

Um ótimo exemplo de arte desse período é a Arte Rupestre, que são desenhos, pinturas e esculturas, em sua maioria encontradas em cavernas, produzidas pelos povos antigos. Através da Arte Rupestre deu-se origem a pictografia, que foi a primeira forma de escrita criada no período Neolítico (8.000 a.C. até 5.000 a.C.). As imagens da Arte Rupestre retratavam os animais, cenas familiares, cenas de sexo, a natureza etc.

Arte Antiga (de 3.000 a.C. até

1.000 a.C.)

Esse período é exemplificado pela Arte Egípcia. Nessa época a arte estava ligada à religiosidade, através de pinturas, estátuas, monumentos e obras arquitetônicas.

Arte Clássica (1.000 a.C. até 300

d.C.)

A Arte Grega e Romana ilustra esse período artístico. Esse tipo de arte voltava-se para a valorização do corpo humano na pintura e na escultura. No campo da literatura, havia uma tentativa de não expressar tanto as emoções, buscava-se o equilíbrio entre razão e emoção.

Arte Medieval (de 300 até 1350)

A Arte Gótica é uma demonstração desse tempo, que se tratou de um período de mudanças na sociedade. A arte dessa época se afastava completamente da Arte Antiga, expressando a confusão derivada das mudanças de paradigmas, sendo considerada uma arte menos idealista e mais profana, erótica e cotidiana.

Arte Moderna (de 1350 até 1850)

Período em que o movimento artístico buscava retratar a vida moderna. Tem como exemplo a Arte Expressionista, que é um tipo de arte que foca na expressão das emoções e da sensibilidade humana. Nesse momento histórico começou a haver uma preocupação com a funcionalidade das artes, mas sem deixar de lado a sua forma.

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Arte

Contemporânea (de 1850 até os dias

atuais)

Ilustrada pela Arte Conceitual, na qual o conceito, a ideia e a atitude estão acima das técnicas. Esse tipo de arte tem como função fazer com que as pessoas reflitam sobre a mensagem passada pelo artista.

Fonte: elaborado pela autora a partir de Aidar (2019).

Figura 1 – Exemplos de Arte Rupestre (Arte Pré-histórica)

Fonte: Google

Figura 2 – Exemplos de Arte Egípcia (Arte Antiga)

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Figura 3 – Exemplos de Arte Grega e Romana (Arte Clássica)

Fonte: Google

Figura 4 – Exemplos de Arte Gótica (Arte Medieval)

Fonte: Google

Figura 5 – Exemplos de Arte Expressionista (Arte Moderna)

Fonte: Google

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Figura 6 – Exemplos de Arte Conceitual (Arte Contemporânea)

Fonte: Google

Conforme as informações apresentadas, percebemos que as expressões artísticas, como são conhecidas hoje, foram sendo desenvolvidas ao decorrer do tempo através da evolução humana e de sua capacidade de criação e aprimoramento, desde as manifestações pré-históricas até os dias atuais. Esse desenvolvimento possibilitou a distinção e a quantificação dos tipos de arte, que serão abordados na seção subsequente, de forma não aprofundada, trazendo apenas alguns pontos interessantes e marcantes de sua história.

2.2 Tipos de Arte

Atualmente, existem onze tipos de arte, das quais dez serão apresentadas pontualmente ao longo desta seção: dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema, fotografia, histórias em quadrinhos (HQ), jogos eletrônicos (games) e arte digital. A música compõe esse grupo, completando os onze tipos, mas será abordada na seção seguinte, por se tratar de um tipo de arte primordial para o presente estudo.

Em relação a como essa divisão dos tipos de arte foi ocorrendo historicamente, Aidar (2019) aponta que, em 1911, o crítico de cinema Riccioto Canudo criou o Manifesto das Sete Artes e Estética das Sete Artes, sendo 1923 o ano de sua publicação. Canudo classificou a arte em sete tipos: música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura e cinema. Ao longo do tempo, diante das

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mudanças sociais e tecnológicas, outros tipos de arte foram adicionados a essa classificação: fotografia, histórias em quadrinhos (HQ), jogos (games) e arte digital.

A dança é a primeira forma de comunicação entre os seres humanos, pois anteriormente à linguagem oral, os indivíduos se comunicavam por meio da dança e dos gestos. Dessa forma, segundo Diniz (2009, p. 1), “A dança foi à expressão do homem através da linguagem gestual. O homem estabeleceu posteriormente todo um código de sinais, gestos e expressões fisionômicas ao qual imprimiu vários ritmos”. A autora continua explicando que

Existem indícios de que o homem dança desde os tempos mais remotos. Todos os povos, em todas as épocas e lugares dançaram. Dançaram para expressar revolta ou amor, reverenciar ou afastar deuses, mostrar força ou arrependimento, rezar, conquistar, distrair, enfim, viver! (Ibid., p. 2).

No que se refere à forma como a dança foi sendo manifestada ao longo do tempo, Diniz (2009) afirma haver registros na Espanha, na África do Sul e na França de que o homem primitivo realizava danças coletivas, as quais eram executadas com movimentos convulsivos e desordenados. Já no Egito eram realizadas danças sacras em homenagem aos Deuses. No século IV, a dança foi proibida pelos imperadores ditos cristãos. No século XV, ela foi banida, restando apenas as danças macabras (da morte e contra a morte). Foi na época do Renascimento (1330 até 1600) que a dança ressurgiu. Atualmente, a dança é utilizada para diversos fins, como diversão, profissão e até como recurso terapêutico.

A pintura surgiu nos primórdios da história humana, há declarações de pinturas que datam de 25.000 a.C. Como mencionado anteriormente, os seres humanos primitivos já se expressavam através de pinturas rupestres. De acordo com Queiroz et al. (2014), na Idade Média, as pinturas eram utilizadas para comunicar valores religiosos aos fiéis ou para a narração de histórias bíblicas.

Segundo Veneroso (2002), entre os séculos XV e XIX existia uma rigidez contra o uso de letras (palavras, textos) dentro das pinturas, o que foi sendo mudado a partir do século XX, período no qual os pintores começaram a não obedecer a essa “regra”, rompendo a barreira entre a pintura e a letra, utilizando a forma escrita em seus quatros.

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A escultura também é uma forma de arte que surgiu há milhares de anos, ainda na época da Arte Rupestre. A forma de escultura como conhecemos hoje surgiu no Oriente Médio e foi desenvolvida na Idade Média (476 até 1453). A escultura é a técnica na qual objetos e seres são total ou parcialmente representados em relevo. Com relação aos tipos de materiais, Azevedo Júnior (2007) afirma que as esculturas podem ser feitas em madeira, pedra, gesso, ferro, resina sintética, aço ou mármore. Nesse tipo de arte, o foco esteve mais voltado para a representação do corpo humano.

O teatro é tão antigo quanto as formas de arte anteriormente abordadas. Segundo Berthold (2001), na Antiguidade, as pessoas usavam os instrumentos que produziam e as peles de animais como materiais de caracterização para a atuação. Hoje em dia existe um maior número de acessórios cênicos para os atores e as atrizes utilizarem e passarem sua mensagem. Essa forma de arte era utilizada para expressar os sentimentos, contar histórias e louvar aos deuses, dentre outras finalidades.

A autora segue afirmando que nessa época acreditava-se que o teatro era sagrado, pois, por meio dele, aconteciam os rituais para invocar os deuses e as forças da natureza. Na Grécia, esse tipo de arte surgiu das cerimônias e rituais de celebração religiosa. Já em Roma ele tinha um caráter de diversão e prazer.

Na Idade Média, o teatro era utilizado nas igrejas católicas durante a missa e, nesse período, ele foi proibido de ser realizado em praça pública para não perder o seu caráter religioso. Contudo, apesar da proibição, começaram a surgir comédias com temáticas políticas e sociais.

No Renascimento, o teatro ganha um novo caráter, com espetáculos populares, realizados nas ruas, utilizando o atributo da improvisação. No século XX, essa arte se tornou um instrumento de discussão e crítica social e política. Atualmente, ele possui várias vertentes como a ópera, o teatro de bonecos, os musicais, entre outras.

A origem da literatura se deu a partir da linguagem oral, que precedeu a criação da escrita. Desde os tempos mais remotos o ser humano transmitia de geração em geração as lendas e orações através da oralidade. Sobre a escrita, Aidar (2019) aponta que, além de ser uma forma direta de comunicação, ela também

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é uma ferramenta para transmitir ideias, pensamentos, sentimentos, reflexões e narra histórias.

A delimitação entre o final da pré-história e o início da história ocorreu a partir da criação da escrita, conforme Aidar (2019). As palavras escritas são a matéria prima da literatura, que se trata de uma manifestação artística, em verso ou prosa. Dentre os tipos dessa arte, a literatura conhecida como clássica (do século V a.C ao século V d.C) pelos romanos e gregos influenciou toda a literatura ocidental. Logo, cada época e lugar possui diferentes características literárias.

No Brasil, de acordo com Nogueira (2015), a literatura passou por alguns movimentos. O Quinhentismo, no século XVI, apresentou fortemente os escritos religiosos, utilizados na catequização dos indígenas. No século XVII, com o Barroco, houve o exagero da angústia que perpassava entre o sagrado e humano. O século XVIII foi marcado pelo Arcadismo ou Neoclassicismo, que se caracterizava pela exaltação da beleza feminina, pelo bucolismo e pela exaltação da natureza. O Romantismo, ainda no século XVIII, trouxe a intensa expressão dos sentimentos e emoções, a idealização da mulher amada, o nacionalismo e o espírito sonhador.

Ainda sobre a literatura no Brasil, a autora segue dizendo que na metade do século XVIII surgiram as obras literárias de cunho social, valorizando a realidade, que são características do movimento nomeado Realismo. No início do século XX, o Parnasianismo buscou reviver a valorização estética da obra literária a partir da utilização de uma linguagem rebuscada e culta.

Entre 1902 e 1922 houve o movimento chamado Pré-Modernismo, que valorizava o regionalismo e abordava os problemas sociais. O Modernismo (de 1922 a 1930) trouxe para a literatura a oportunidade de trabalhar com o humor e a liberdade de escrita. Atualmente, as obras literárias sofrem influências da ciência, da tecnologia e do capitalismo contemporâneo; a partir dessas influências existe uma liberdade para o artista expressar suas ideias, sentimentos e pensamentos.

O cinema foi criado em 1815, época em que ele se misturava com outras formas de arte, como o teatro. Com relação a isso, Costa (2006) pontua que o cinema tem sua origem na projeção de “lanternas mágicas”, em que o apresentador mostrava para a plateia imagens coloridas projetadas em uma tela (através do foco

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de luz gerado pela chama de querosene) e essas imagem eram acompanhadas de vozes, músicas e efeitos sonoros.

Além disso, o cinema também teve sua origem a partir das práticas de representação visual pictórica, que é uma imagem produzida por uma ordem de pigmentos sobre algum suporte, como os panoramas, que é a vista abrangente (geral) de uma paisagem; e os dioramas, que é um modo de apresentação artística em três dimensões.

Acerca da criação do cinema, Costa (2006) declara não haver apenas um criador, visto que esse tipo de arte é o resultado de vários estudos e invenções na busca pelo aperfeiçoamento da projeção de imagens. Destacamos três destas invenções: em 1893, Thomas A. Edison, nos Estados Unidos, registrou a patente do seu cinetoscópio, um instrumento de projeção interna de filmes; em novembro de 1895, em Berlim, os irmãos Max e Emil Skladanowsky exibiram pela primeira vez seu sistema de projeção de filmes, o bioscópio; e dias depois, em dezembro de 1895, os irmãos Lumiére fizeram a demonstração pública do seu cinematógrafo em Paris.

Com o passar do tempo, o cinema foi sendo modificado, ganhou roteirização e os filmes começaram a ter uma duração maior e técnicas de narrativa. As produções cinematográficas foram sendo categorizadas por gênero: comédia, romance, drama, ação, ficção científica, suspense, terror etc. Ao longo dos anos, esse tipo de arte começou a se estabelecer nos lugares e, atualmente, é difundido em todo o mundo. Para a realização dessa arte, conta-se com recursos tecnológicos, os quais estão em constante atualização. Destacamos que existem algumas produções que exigem um alto investimento financeiro, como também existem produções independentes que utilizam recursos limitados para a sua realização.

A respeito da fotografia, conforme Salles (2008), desde a Antiguidade existem experiências relacionadas ao seu processo de desenvolvimento. Já em 1815 estavam sendo feitos estudos e experimentos que culminaram na sua criação, mas foi no final do século XIX que essas experiências foram reunidas. Sendo assim, a fotografia é o resultado da junção da criação da câmara escura e da utilização de materiais fotossensíveis (sensíveis à luz). A câmara escura é uma caixa preta, totalmente vedada, para impedir a entrada da luz, que tem um pequeno orifício em

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um dos seus lados. Ao ser apontada para algum objeto, a luz refletida deste objeto é projetada para dentro da caixa e a imagem dele se forma na parede oposta à do orifício.

Foi ainda na primeira metade do século XIX que as imagens começaram a ser projetadas com melhor qualidade e os instrumentos utilizados nesse processo foram sendo aprimorados. Ainda sobre isso, Salles (2008) afirma que em 1900 a fotografia já tinha os recursos que eram necessários para a criação de imagens de alta qualidade de exposição e reprodução, inclusive já atuava junto ao cinema. Portanto, a fotografia como é conhecida hoje se deu graças às mudanças e aperfeiçoamentos tecnológicos que foram acontecendo ao longo do tempo.

Conforme Xavier (2017), a história em quadrinhos (HQ), também conhecida como bandas desenhadas, comix e gibi, tem sua origem no jornalismo moderno. No final do século XIX, nos Estados Unidos, para tentar atrair uma maior quantidade de público, como analfabetos e imigrantes, os grandes jornais passaram a produzir materiais com narrativas figuradas. Entre 1900 e 1920 o que predominavam eram as HQ de humor. Entre 1920 e 1930, além do conteúdo humorístico, passaram a ser produzidas HQ com conteúdo intelectual. A partir de 1930 foram surgindo histórias policiais, de ficção científica, de faroeste, de guerra, de cavalaria, entre outros temas.

Na década de 1950 passaram a ser criados conteúdos que questionavam a sociedade quanto aos aspectos filosóficos e sociopsicológicos, como é o caso da história dos “Peanuts” (Turma do Charlie Brown), criação de Charles Schultz. Ainda nessa época, a autora aponta que surgiram as histórias de violência e terror. Nos anos de 1960 os quadrinhos receberam a influência do feminismo, levando à introdução de heroínas nas narrativas. Nessa década surgiu uma personagem que é conhecida até os dias de hoje, “Mafalda”, criada pelo argentino Quino, que é um dos exemplos dessa influência feminista.

Em 1970, as HQ passaram a ter uma maior valorização estética. Ainda nesse período, segundo Aidar (2019), no Brasil, Maurício de Souza lançava “A Turma da Mônica”, que mais à frente se tornaria a maior produção da indústria nacional de quadrinhos. Inicialmente, era uma história voltada para crianças tendo como principal objetivo passar mensagens acerca de valores e respeito às diferenças. Atualmente, também existe a versão jovem dos personagens, que busca retratar

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temáticas da vivência adolescente. Na versão infantil, ao longo do tempo, foram criados personagens que abordam temáticas relacionadas à inclusão, como a questão de pessoas com deficiência.

Considerando toda essa variedade de histórias, gêneros e temáticas que foram sendo criadas com o passar dos anos, acompanhando as discussões surgidas na sociedade de cada época, percebemos a importância desse tipo de arte, visto que, nos dias de hoje, de um modo geral, as HQ são um meio bastante popular de comunicação em todo o mundo.

De acordo com Batista et al. (2007), a criação dos jogos eletrônicos (games) deriva de um consenso entre os historiadores ao afirmarem que o primeiro jogo, chamado “Tennis Programing”, foi lançado em 1958, desenvolvido pelo físico Willy Higinbothan. Em 1961, na Massachusetts Institute of Technology (MIT) foi criado um jogo nomeado “Spacewar”, que, devido ao seu sucesso, levou o engenheiro Ralph Baer a fazer uma máquina (que começou a ser elaborada em 1966 e foi lançada em 1971) capaz de rodar os jogos por uma TV. Assim surgiram os fliperamas (ou árcades), máquinas de uso público que precisam de fichas ou moedas (compradas) para serem usadas. Os primeiros jogos lançados para fliperama possuíam um gráfico atualmente considerado pobre e com mecanismos simples.

Dentre os games mais famosos, em 1981 foi lançado “Mário”, um jogo de herói, sendo este, em novas versões, um dos jogos mais populares da atualidade. Em 1991 foi lançado o jogo de luta “Street Figther I”, que usou o modelo de animação Sprites (conjunto de fotos passadas em sequência que dão a sensação de que os personagens estão em movimento). Na mesma franquia, o “Street Figther II” revolucionou e popularizou os jogos de luta.

Em 1992 houve o lançamento do jogo de luta “Mortal Kombat”, o qual teve a sua animação feita a partir da captura de movimentos de atores e posterior digitalização desses movimentos, ou seja, captaram a imagem de atores se movimentando e as digitalizaram, dando mais realismo estético ao jogo (BATISTA et al., 2007).

Em 1993 foi lançado o jogo de luta “Virtual Fighter”, que possui gráfico em 3D, sendo, naquela época, uma inovação do mercado dos games. Ao mesmo tempo em que estavam sendo criados os fliperamas, estavam em desenvolvimento os

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consoles, que são os vídeo games domésticos. Os autores afirmam que o primeiro console foi lançado em 1972. Esse aparato foi sendo aprimorado ao longo do tempo, saindo de um console que para funcionar precisava de operações manuais no aparelho, passando por jogos em fita, até chegar aos atuais consoles que rodam jogos em CD e DVD e/ou funcionam via wi-fi (rede sem fio que permite computadores, celulares e outros aparelhos móveis e dispositivos se conectarem à internet) e dividem espaço no mundo dos games com os computadores e celulares.

Sendo assim, atualmente, é possível jogar através de um celular, computador, vídeo game ou outros aparelhos eletrônicos utilizando acessórios (controles, armas, guitarra, volante etc.) que podem ser conectados por fio ou até mesmo via wi-fi. De um modo geral, os jogos eletrônicos são separados por gênero e temática (como corrida, luta, ação, aposta etc.) e podem ter um destaque para um determinado contexto histórico e/ou contar a história de vida dos personagens.

Portanto, considerando esse breve histórico, podemos observar que, com o passar dos anos, os games foram se fazendo mais presentes na vida de crianças, jovens e adultos, e percebe-se que seus modelos de animação estão cada vez mais realistas e os equipamentos e acessórios continuam em evolução.

A arte digital data de 1960, quando os engenheiros Billy Kluver e Fred Waldhauer e os artistas Robert Raushenberg e Robert Whitman criaram o grupo Experimentos em Arte e Tecnologia com o objetivo de promover a interação entre essas duas áreas. Varella (2019) afirma que a arte digital é um movimento artístico que engloba uma obra ou prática desenvolvida através de recursos e acessórios da tecnologia digital (equipamentos e programas), tais como a edição de fotos e imagens, ilustrações, animação, desenhos e pinturas digitais, entre outras variadas possibilidades existentes.

O autor coloca que a década de 1970 trouxe a possibilidade de que os artistas trabalhassem a interação entre televisão, computador e equipamentos de gravação. Nos anos de 1980 aumentaram os números de produções de animação computadorizada. Com o aprimoramento dos gráficos, os artistas puderam dispor de programas de edição de imagens e ilustração. Hoje é muito difundido os trabalhos realizados com fotos, vídeos, mídias sociais e artes multimídias que são alinhados com a arte digital. Dessa forma, é possível perceber o quanto a tecnologia avançou e continua nesse caminho de uma maneira cada vez mais acelerada.

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A partir do que foi apresentado até aqui, é possível perceber que a arte está presente no cotidiano das pessoas, continua sendo aprimorada a cada instante e seus diversos tipos podem se misturar em suas práticas. Como foi explicado anteriormente, existem onze tipos de arte, dos quais dez já foram discutidos. A seguir, serão expostos alguns pontos sobre o décimo primeiro tipo de arte, a música, tais como: sua origem, suas manifestações primárias, o desenvolvimento de sua teoria, os instrumentos que foram sendo criados ao longo do tempo e suas funções na sociedade.

2.3 Trajetória e Funções da Música

Acerca da origem da música, Souza (2017) afirma que existem muitas teorias e lendas sobre o seu surgimento. Os povos antigos utilizavam a música para expressar o que estavam sentindo, como medo, raiva, amor, desejos e sentimentos que fugiam da razão. Há indícios de que esses povos acreditavam que alguma divindade teria deixado a música para eles, assim surgiu a primeira lenda referente à origem da música. Outra lenda sobre sua origem vem da Grécia Antiga, onde acreditava-se que a música havia sido criada a partir dos deuses míticos em um passado remoto.

Uma das teorias relacionadas ao seu surgimento é a de Gaston. Essa teoria afirma que a música foi se desenvolvendo junto com os primórdios da sociedade e da família, acreditando que a mãe primitiva acalentava, confortava e expressava seus sentimentos em relação ao filho através de vocalizações, de maneira que essa prática foi adquirindo características rítmicas tal qual uma canção de ninar.

Segundo Frederico (1999), quando esse ser humano primitivo foi mudando a forma de se relacionar com o meio (natureza, animais irracionais e demais seres humanos), ele começou a perceber diferença entre os sons e, com o passar do tempo, foram sendo criados os primeiros instrumentos musicais.

O autor afirma que os sons musicais dos povos primitivos eram criados a partir de seus corpos: além da boca e da garganta, também passaram a utilizar o estalar de dedos, o bater palmas e movimentos com os braços e as pernas. Nessa época, os instrumentos de trabalho e os instrumentos musicais se misturavam: do

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arco surgiu a lira, que foi muito utilizada na Antiguidade; e do vaso de sacrifícios (usado em rituais, nos quais os animais ou os humanos eram sacrificados com finalidade religiosa) surgiu o tambor. Além da lira e do tambor, também houve a criação dos primeiros modelos de flauta, que foram confeccionados com ossos e cana de bambu.

Conforme Frederico (1999), os instrumentos musicais criados desde as culturas primitivas podem ser classificados da seguinte forma: os idiófonos (Figura 7), feitos de material que produz som sem precisar de cordas ou peles esticadas, como um pedaço de madeira que posteriormente se tornou o xilofone; os membranófonos (Figura 8), instrumentos de percussão, confeccionados em um vaso ou crânio humano, finalizados com pele esticada; os cordófonos (Figura 9), que eram feitos de cordas esticadas elaboradas a partir de tripas de macaco ou baleia; e os aerófonos (Figura 10), instrumentos de sopro, como a flauta, feita de cana, osso ou chifre de veado, e a trombeta, feita de madeira e concha de caracol.

Figura 7 – Exemplos de Instrumentos Idiófonos

Fonte: Google

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Figura 8 – Exemplos de Instrumentos Membranófonos

Fonte: Google

Figura 9 – Exemplos de Instrumentos Cordófonos

Fonte: Google

Figura 10 – Exemplos de Instrumentos Aerófonos

Fonte: Google

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Os povos primitivos acreditavam que os instrumentos musicais possuíam alma e forças misteriosas, essa ideia fez com que os instrumentos fossem utilizados para o exorcismo. Nas tribos antigas já existia o que se chama de “canto mágico”, que era usado para cantar à paz e à guerra.

Esse canto era uma arma contra epidemias, perturbações mentais, mordidas de serpente ou qualquer doença. Cantava-se para se comunicar com os bons espíritos, para se ter filhos homens, para se dominar animais ferozes ou para trazer de volta a vida de um defunto (FREDERICO, 1999, p. 10-11).

Desde esse período existem as canções voltadas para a religiosidade e para a área medicinal. Os povos primitivos recitavam as canções para se comunicar com os seres mitológicos e forças sobrenaturais em rituais onde os tambores eram tocados sem parar e acompanhados de movimentos corporais rítmicos. Destacamos que até os dias atuais ainda há essa prática do uso da música para se comunicar com a espiritualidade, deuses e divindades, bem como expressar emoções e sentimentos em relação a estes; e existem canções ligadas a questões culturais, religiosas e crenças em geral.

Ao longo do tempo, começou-se a desenvolver a teoria musical. Na Idade Média, com a implementação do cristianismo, coube aos monges, nos monastérios, desenvolver a escrita e a teoria musical. Nessa época, o repertório mais utilizado eram os cânticos litúrgicos, que “[...] variavam nas suas interpretações consoantes a raça, a cultura, os ritos e os hábitos musicais dos diversos povos” (QUEIROZ et al., 2014, p. 5).

Ainda na Idade Média, conforme esses autores, surgiu o canto gregoriano, criado por São Jorge Magno, monge beneditino, que em 590 foi eleito papa e nomeado São Georgino. Ele fez um compilado de cânticos litúrgicos, os quais considerava dignos de culto. Esse modo de cantar era utilizado como uma oração para expressar amor a Deus.

É nesse período histórico que se dá início a separação entre as músicas religiosas e as músicas populares, também conhecidas como músicas profanas. Com relação a isso, Queiroz et al. (2014, p. 5) nos apontam que

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Uma das grandes diferenças entre elas está nos instrumentos que são usados em ambas. Na igreja apenas o órgão era permitido, enquanto que na música não religiosa ou chamada profana usavam-se: a rabeca, o saltério, o alaúde, a flauta, a gaita de foles, a sanfona, a harpa, os pratos, os pandeiros, os tambores, etc.

A respeito da língua usada nas canções, o latim era a mais utilizada nas músicas religiosas. Já nas músicas populares usavam-se os dialetos de cada região. As músicas profanas possuíam duas categorias: os menestréis, os quais eram cantores, músicos e malabaristas que saiam pelo mundo apresentando sua arte junto com os saltimbancos, sendo estes artistas populares que viajavam de cidade em cidade apresentado suas artes improvisadas em ruas, praças e feiras e depois passavam o chapéu para recolher o dinheiro das pessoas que os assistiam; e os trovadores, os quais eram da classe nobre e compunham músicas cujo tema favorito era o amor.

Tanto na música religiosa, quanto na música popular, utilizavam-se as notas musicais, isso ajudava a memorizar os cantos. Em sua fase inicial, a notação musical era representada por símbolos, chamados de nuemas. À medida que foi se tornando mais precisa, a notação musical passou por transformações, e a partir de sacerdotes cristãos, mais fortemente Guido D’Arezz (992-1050), os nuemas foram substituídos pelo sistema de notação com linha, dando início ao que é conhecido como pauta ou pentagrama (Figura 11), que é um conjunto de cinco linhas paralelas, na horizontal, onde são escritas as notas musicais (QUEIROZ et al., 2014).

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Fonte: Google

Sendo assim, D’Arezz foi o responsável pela criação do sistema de notação musical que deu origem ao modelo conhecido atualmente, o qual passou por uma série de mudanças ao longo do tempo. Dentre estas mudanças, destacamos a ocorrida no século XI, quando as notas musicais foram apresentadas, sendo o nome delas a inicial das frases do hino a São João Batista (texto sagrado em latim): Ut, Re, Mi, Fa, Sol, La e San. Tempos depois, o Ut e o San foram substituídos respectivamente por Do e Si.

De acordo com Queiroz et al. (2014), no período do Renascimento, a música vocal começou a se sobressair à música instrumental, passando a ter uma relação entre o texto e a composição instrumental, destacando-se, com isso, o sentido e a emoção do texto. Nesse momento histórico, a música religiosa continuou tendo seu espaço, sendo composta pelos corais das igrejas.

Outro segmento dessa época foram as músicas seculares, as quais eram músicas vocais profanas por não utilizarem a temática religiosa. Esse tipo de música era consumido desde os cantores de rua até os reis. Nesse cenário, havia uma produção musical quase que diária e as músicas eram facilmente esquecidas.

Do século XVI ao XVIII houve o movimento artístico denominado Barroco, que teve seu início na Itália e foi difundido na Europa, América e alguns pontos do Oriente. Sobre isso, Queiroz et al. (2014, p.14) apontam que “Trata-se de uma das épocas musicais de maior extensão, fecunda, revolucionária e importante da música ocidental, e provavelmente também a mais influente”. Esses autores colocam que, nessa época, a música puramente instrumental começou a entrar em cena. Apesar de ter sido no período da Renascença o surgimento das ideias iniciais do que posteriormente seria a Ópera, foi no Barroco que ocorreu o seu desenvolvimento.

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O século XVII foi um momento de evolução para a música a partir do desenvolvimento tonal, o qual possibilitou a modulação tonal, que é a modificação de tonalidade dentro de uma música, pois, antes desse feito, as músicas possuíam apenas um tom, do início ao fim. A partir disso, as músicas (letras) e os instrumentos musicais passaram a trabalhar em harmonia.

No século XVIII iniciou um movimento prevalente na pintura e na literatura chamado Romantismo. Mais tarde, na virada do século XVIII para o século XIX, a música começou a caminhar por esse movimento. Bennett (1986) aponta que os músicos românticos buscavam expressar de forma mais intensa suas emoções e seus sentimentos, revelando com frequência seus pensamentos e sentimentos mais profundos, incluindo suas dores. É certo que sentimentos foram expressos em outras épocas também, mas foi no Romantismo que essa característica esteve fortemente presente.

No século XIX, dentro do Romantismo, surgiu o Nacionalismo, movimento no qual os compositores expressavam deliberadamente os sentimentos pelo seu país. Caso na música não estivesse explícita a sua nacionalidade, esta poderia ser facilmente identificada através de suas letras. No século XX houve alguns movimentos artísticos, dentre eles o Expressionismo, o qual, de início, se apresentou por meio da pintura. Na música, o Expressionismo se mostrou através do exagero do Romantismo tardio, “[...] em que os compositores passaram a despejar na música toda a carga de emoções mais intensas e profundas” (BENNETT, 1986, p. 72).

Essa expressão intensa dos sentimentos se dava por meio das letras e das linhas melódicas utilizadas nos arranjos das músicas, como melodias desconjuntadas e frenéticas, e até mesmo pelo uso de violência e explosão no ato de tocar os instrumentos, como afirma Bennett (1986). Dessa forma, eram explorados os extremos de cada instrumento com a finalidade de passar a intensidade dos sentimentos presentes na letra da música que estava sendo tocada.

A partir desse autor, é possível compreender que desde o século XX até o momento atual existe o movimento chamado de música contemporânea. Nesse período surgiram instrumentos como a guitarra e o baixo, que eram muito relacionados ao estilo musical denominado rock, mas hoje estão presentes em vários outros estilos musicais.

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Dentro do período supracitado, mais especificamente entre 1 de abril de 1964 e 15 de março de 1985, esteve instaurada no Brasil a Ditadura Militar ou Quinta República, momento no qual o país foi governado por militares e ficou marcado pela privação da liberdade, pela aplicação de tortura aos opositores políticos e pela execução de terrorismo de Estado (regime de violência instaurado por um governo) (ARAUJO; SILVA; SANTOS, 2013).

Considerando que essa pesquisa tem como foco de investigação algumas músicas que foram produzidas durante essa época, faz-se necessário uma explicação acerca dos principais aspectos desse período histórico, a qual será realizada a seguir.

2.3.1 A Música no Período Ditatorial Brasileiro

O início da Ditadura Militar brasileira se deu por meio de um golpe civil-militar contra o então presidente João Goulart, o qual começou em 31 de março de 1964 e teve apoio político e civil. Durante o regime militar, o Brasil foi governado por cinco presidentes militares, foram eles: Humberto Castello Branco (1964 – 1967), Artur Costa e Silva (1967 – 1969), Emílio Médici (1969 – 1974), Ernesto Geisel (1974 – 1979) e João Figueiredo (1979 – 1985); eleitos de forma indireta, ou seja, sem a participação da população.

Nomear cada um desses militares governantes de “presidente” foi a maneira encontrada para passar aos brasileiros um “ar de naturalidade”, que nada havia mudado, pois o intuito era transmitir a sensação que no comando do país estava um presidente, não um ditador. Essa “normalidade” era apenas uma fachada para esconder a realidade de um regime autoritário e violento.

Conforme Araujo, Silva e Santos (2013), a Ditadura Militar foi um período de perseguição a todas as pessoas que supostamente ameaçavam a segurança nacional, no qual houve prisões arbitrárias, sequestros, cassações, invasões de propriedade, tortura, assassinatos de cidadãos, sumiços de cadáveres e até atentados à bomba que foram realizados pelo Estado, sempre com a justificativa de combate aos subversivos. Um método bastante utilizado para perseguir e combater os opositores foi a tortura, tanto física, quando psicológica.

Referências

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