• Nenhum resultado encontrado

MAFFESOLI Michel. a Parte Do Diabo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "MAFFESOLI Michel. a Parte Do Diabo"

Copied!
192
0
0

Texto

(1)
(2)
(3)
(4)
(5)

M

i c h e l

M

a f f e s o l i

A

U\ lí 

p O

p l A

Tradução de CLÓV1S MARQUES

1

E D I T O R A R E C O R D R I O D E J A N E I R O • SÃ O P A U L O 2 0 0 4

(6)

CIP-Brasil. Cat3!ogação-na-fonte

Sindicato Nacional dos Edilores de Livros, RJ. M affesoli, Michel,

1944-M 16 2p A parle do diabo / Michel Maffesoli; tradução de Clóvis Marques. - Rio de Janeiro: Rccord, 2004.

Tradu ção de: La pari du diable ISBN 85-01-06591-9

1. Bem e mal. 2. Pós-modernismo. 3. Civilização moderna. I. Titulo.

CDD - 111.84

0 3 - 2 0 6 6 C D U - 1 11 .8 4

Títul o origina! cm francês: LA PART DU DIAEiLE

Copyright © 2002 by Flammarion

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transm issão de partes deste livro através de quaisquer meios, s em previa autorizaç ão por escrito. Proibida a venda desta edição em Portugal c resto da Europa.

Direitos exclus ivos de publicação cm língua portuguesa para o ürasil adquiridos pela

D I S T R I B U I D O R A R E C O R D D E S ER V IÇ O S D E I M P R E N S A S.A . Rua Argentina 1 7 1 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 2585-2000 que se reserva a pro priedade literária desta tradução

Impresso no Brasil I S B N 8 5 - 0 1 - 0 6 5 9 1 - 9 P E D I D O S P E L O R E E M B O L S O P O S T A L Caixa Postal 23.052 Rio de Janeiro, RJ - 2 0922-970 -v— E D IT O R A A F IL IA D A

(7)

Para Raphaêle, qu e sabe m u it o bem

qu e o qu e n ão m ata fortalece.

(8)
(9)

S

u m á r i o P r ó l o g o C a p í t u l o I P e q u e n a e p i st e m o l o g ia d o M al C a p í t u l o II O conflit o estrutural C a p í t u l o III

Variações sobre a sombra

C a p í t u l o IV Inteireza do ser

C a p í t u l o V

(10)
(11)
(12)
(13)

"Jc suis t om bé par terre

C' est la fau te à V oltaire,

 Le n ez dans le ruisseau

C' est la faute à Rousseau. "*

N ão existe nada pior que alguém q u erend o fazer o b em , esp ecialmen te o b em aos ou tros. O me sm o se aplica aos que "p en sam b em ", com sua irresistível tend ên cia a p en sar p or n o lugar dos ou tros. Encou raçad os em suas certezas, eles n ão têm espaço para dúvidas. E é claro q ue n ão ap reen d em a com p lexid ad e da vida. A coisa em si n ão teria tan ta im p ortân cia se esses d on os da verdad e, intitu lan d ose deíen. t o r e s l e g í t i m o s d a p a l a v r a , n ã o d e c r e t a s s e m o q u e a sociedade ou o indivíduo "devem ser".}

E s t e m a g i s t é r i o m o r a l — p o i s é e f e t i v a m e n t e d e m oralism o q ue se trata — é p erigoso. O fato é qu e, esqu e-ce n d o o q u e v elh a s m e m ó ri as e n s i n a r am a o s en s o co m u m

*"C a í n o c h ã o / a cu l p a é d e V o lt a ir e , / c o m o n a r i z n o r i a c h o / a cu lp a é d e R o u s s e a u . "

(14)

12

  A parte do Diabo

— a saber, qu e \ o infern o está^ cheio de b oas in ten ções"!—, esquecidos da saudável lucidez de um Heráclito ("brinca-deira de criança, as opiniões humanas"), os moralistas de t od as a s te n dê nc i as t ra ns fo rma m e m ve rd a de a bs o lu ta o s v alo res cu lt ura is d e u m m u n d o cu ja p ere n i da d e e st á lon g e de ser urnacerteza.

,.."£) "b em 'O com efeito, é a ju stificação últ im a d o m

essia-nismo füdáícocristão. As teorias da emancipação e o uni-v ersa li sm o mo d erno s, q ue co ns t it ue m s u as m a is re ce n te s m an ifestações, tam b ém se escoram n esse p rincípio básico. ; Poi em seu n om e q ue as diferentes in q u isições fizeram seu t ra ba lh o s ujo . Km se u no m e é q ue fo ram co m e ti do s t od os o s e t n o c í d i o s c u l t u r a i s e j u s t i f i c a d o s o s i m p e r i a l i s m o s e co n ô m i co e p o l í t i c o . mai s um a v ez , em s eu n o m e q u e se decreta o que dev e ser v ivi do e p en s ad o, co m o se de ve viver e p ensar, je qu e se d eclara tabu esta m an eira de viver ou aq u ele objeto de análise. Este u n iversalism o foi a justi-ficação de todos os colonialismos, dos etnocídios culturais q u e co n s t i t u í r am a m a r ca d a o ci d e n t a li z açã o d o m u n d o a p artir d o fim do sécu lo XIX.

U m (co n f o r m i s m o ' ca n h e s t ro , p o is já fo r a d e p r o p ó s i -t o . C o n f o r m i s m o p e r i g o s o , p o r q u e , a q u i I o c u j a e x i s -t ê n  cLa _S £_j ae ga — co m p l e x i d a d e g a l o p a n t e , r e l a t i v i s m o c u l t u r a l , t r i b a l i s m o e m o c i o n a l e o u t r o s s e n t i m e n t o s d e v i n cu l a çã o , já f or a d e s i n t o n i a co m a s t e o r i a s b e m p e n  s a n t e s — p o d e t o r n a r s e D e rv cr so .'O u s e j a , t o m a r c a m i -n h o s d e s v i a d o s , p e r v i a , e p o r i s t o m e s m o f u g i -n d o a o c on tro le . A s in út e is q u erel as in te le c tu ai s, po lí t ic as e d e f  e s co l as n ã o p a ss am d a e xp r e s s ão d o e n cl a u s u r a m e n t o d a

(15)

Prólogo

13 intelligentsia e m s e u m u n d o q u e s e a c a b a . E l a n ã o c o n h e c e se u p r ó p r i o te m p o . Es te se v i n g a co m t o d o s o s t i -p o s d e e xce s s o s . D i sto c o n s t it u e m o s i n d í ci o s m a is m a r ca n t e s a v o l t a d o s d i fe re n t e s fa n a t is m o s e d o s m ú l ti -p l o s te r r o r is m o s , as sim c o m o a r e b e l iã o , m a i s o u m e n o s v i o l e n t a , d o s jo v e n s d o s s u b ú r b i o s, p a r a n ã o m e n ci o n a r a d e s e r çã o d e n u m e r o sa s i n s t i tu i çõ e s .

,De fato, silenciosa ou ruidosa, a revolta^germina.fSi-l e n c i o s a , e revolta^germina.fSi-l a s e m a n i f e s t a n a p a s s i v i d a d e , n o r e c u o , n a i n a t i v i d a d e d o s j o v e n s . R u i d o s a , n o s  pegas a u t o m o b i -lísticos, nas vaias à  Marselhesa n o E st á d i o d a Fr a n ça — e xe m p lo s n ã o f alta m . C o m o n u m a n o v a secessio plebis, ta l co m o n a r etir ad a d o p o v o r o m a n o p a ra o A ve n t in o , 1já n ã o h á a d e s ã o a os ^ p r in cí p i os d e f a ch a d â x j u e d e i x a r a m d e te r q u a l q u e r v i n c u l a çã o c o m a r e a li d a d e d a v i d a . Es ta r e b e l i ã o , a o m e s m o t e m p o s o r r a t e i r a e e f i c a z , s i g n i f i c a , c o m c e r t e z a , q u e e s t á c h e g a n d o a o f i m u m c i c l o , o q u e foi in a u g u r ad o co m a co n s a g r a çã o d o b e m co m o v a lo r a b s o l u t o . L' M u i t o a n t e s d e s t a c o n s a g r a ç ã o , e m o u t r o s m o m e n t o s , e m o u t r o s l u g ar es d o m u n d o , o q u e s e l e v av a e m co n t a e ra u m p o l it e ís m o d o s v al or es , u m p o l icu l tu r a l is m o o u e n t ã o o q u e p o d e m o s ch a m a r delefeito d e com pos ição', cultu ra e  p m a t é r i a  p r i m a , b e m e m a l , m o r t e _ e y i d a o P e r i o d i c a m e n t e

v e r i f i c a  s e u m " ( r e ) n a s c i m e n t o " d e s t e m u n d o c o m p o s t o . N a s c e m o s n o v a m e n t e p a r a u m r e a l p l u r a l . É u m p e r í o d o de m u d a basead o n a relativização d os valores. Por sinal, é a ss im q u e d e v em o s e n t e n d e r a m u d a n ça i n a u g u r a d a p e lo I lu m i n i sm o , n o a l v or ece r d a m o d e r n i d a d e : d i a n t e d e u m

(16)

14

  A parte do Diabo

m u n d o e s ta n ca d o , ele s e n f a t iz a m o d i n a m i s m o e a ci r cu l a -ção d e idéias.

H o je , f r e n t e a o s e s t a tu t o s s oci ai s s u p o s t a m e n t e i m u t á -v e i s (cl a ss e s , ca t e g o r i a s s o c io p r o f i s s i o n a i s )^ a f i r m a s e a , exigên cia da m ob ilid ad g,]0 m esm o se dá p or m eio da circu

lação d e livros e jorn ais, real e virtu al, pela p roliferação d as trocas: com ércio de bens, com ércio de idéias, com ércio am o-r o s o . Já m o s t o-re i e m o u t o-r a s c io-r cu n s t â n ci a s 1 c o m o e st a t o-ro c a g e n e r a l i z a d a c o n s t i t u í a a m a r c a i n c o n f u n d í v e l d a s " r e v o -l u ç õ e s " so c ie t á r i a s . As t r ib o s u r b a n a s , cu j a i m p o r t â n c ia n i n g u é m m a i s n e g a , e m e s m o , n ã o o b s t a n t e o q u e s e co n v e n ci o n o u ch a m a r d e "cr i se ", o h e d o n i s m o d i fu s o q u e o p e r a e m n o s sa s s o ci e d a d e s , d e l im i ta m m u i t o b e m o s c o n t o r n o s d ess a p r o f u n d a m u t a çã o .

Revolução que, em seu sentido etimológico, assiste ao r e t o r n o d a q u i l o q u e j u l g á v a m o s u l t r á p a s s a d o . C o m o o b -s er v a Lé v iS tr au -s -s , " o h o m e m -s e m p r e p e n -s o u b e m a -s -s im ". P o d e r ía m o s a c re s ce n t a r q u e ta m b é m s e m p r e v iv e u m a l. E n o e n t a n t o , e m m e i o à t r á g ica b e le za d o m u n d o , ele v iv e . C o n t r a o p r o g r e s s i s m o j u d a i c o  c r i s t ã o , e m p e n h a d o e m e x p l i c a r t u d o (ex-plicare, retirar as pregas), afirmase um ^ p e n s a m e n t o "p r o g r e s s iv o ", s a b e d o r ia q u e i m p l i ca t o d a s a s

maneiras de ser e pensar, a alteridade, a errância. Eis, port a n port o , a m u port a çã o p ó s m o d e m a , aq u e la q u e a ce i porta as "p r e -gas" dos arcaísm os pié-m oos inos .

T e m o s , e n t ã o , a l g o p a r ? o q u a l c h a m o a a t e n ç ã o h á a lg u m a s d é ca d a s , a lg o q u e h c je se t o r n a u m a r e a l id a d e i n  c o n t o r n á v e l : j o t í l b ã I u õ n I c rf. m al so valor essen ciali É b em v e r d a d e q u e o d e s e m p r e g o r^ u i t as v ez es é e n ca r a d o c o m o

(17)

Prólogo

15

u m a d e s g r aça . M a s m u i t os j ov e n s n e m p o r is to ch e g a m a d e s e ja r u m e m p r e g o e s tá v e l. Pe lo co n t r á r i o , v ã o s e a d a p tan d o ao vaivém Trabaího:de s e m p r eg o , ] a con trato s p re-c á r i o s s e g u i d o s d e p e r í o d o s d e s e g u r o  d e s e m p r e g o . R e s u m i n d o : t u d o , m e n o s u m a ca r re ir a d e e m p r e g a d o c o m salário m ín im o ou fu n cion ário dos Correios. £> trab alh o, v a le le m b r a r , e r a o i n s t r u m e n t o p r iv i le g ia d o d a a ç ã o s o  b r e s i m e s m o e s o b r e o m u n d o , _ e i s t o p a r a a l c a n ç a r o

"b em ", a perfeição fu tura. O trab alh o era causa e efeito d o h o m o o e co n o m i cu s , d e u m i n d iv íd u o r ed u z id o à p ro  d u ç ã o . e q u e t in h a  o p r o d u t iv i s m Q _ co m o .i d e o l o g i a p o.r

e xce lê n cia . ^ . r ^

Este prometeísmo moderrjo vem sendo sucedido pela figura mais complexa de Dioniso. Hedonismo generali za-d o. Selvageria laten te. An imaliza-daza-d e seren a. Tam b ém aqu i,, f u r i o s a o u c a l m a m e n t e , m a s s e m p r e c o m o b s t i n a ç ã o , a p essoa plural se afirma.^A pessoa com p osta ("eu é um ou tro"), antagônica, contraditória. Esta inteireza dionisíaca i m p l ica o j^ m a í"  C o m o a co n t e ce f r e q ü e n t e m e n t e , a m ú s i -ca, os filmes, a pintura e a coreografia evidenciam

clara-m en te esta iclara-m p licação. Coclara-m efeito, na.idp ologia d o h o m ç

oeconomicus, o fato de o ind ivídu o ter sido analisado com o pi vô ãú t(>suficien té da sociedade acabou fazend o com qu e fosse eliminada ou pelo menos postulada a superação da t o p e r l e i ç ã a Em co n t ra p a r ti d a , a r e a fi rm a çã o d a p es so a plural nu m m u n d o policultural tend e a integrar o m al com o u m elem en to en tre outros. Ele pod er ser vivido, tribalm en te — e, com isto, "homeopatizarse", tornarse mais ou me-n o s i me-n o f e me-n s i v o. C a b e su p o r q u e u m a p a r te d o s p r o b l em a s

(18)

16

 A parte cio Diabo

d o s p rofes so res n o s c o lé gi os co n s id erad o s p rob le m á ti co s d eco rre d e s ua p ro p e ns ão a v er u m a t u rm a c o m o u m a s om a d e ind ivídu os qu e precisam ser ap erfeiçoados, e n ão com o u m g rup o co m su as d ific u ld ad e s, ma s ta mb é m c o m s u as p otencialidad es coletivas.

É i st o, p o rt an t o, o q ue e s tá e m jo g o na m ut a çã o pó s  m o d e rn a . R eco n h e ce r "o q u e ca be a o d i ab o ", sa b er d arl he bom uso, para que não sufoque o corpo social. Uma sabe-d oria c uj o pe rfi l fo i a p on ta sabe-d o p o r Ma rc o A u ré li o , e n tre tan tos ou tros: "Pois irritarse con tra o q ue é eqü ivale a aban d o na r a n at ure za u ni v ersa l, n u m a p arte d a qu a l e stã o co n tidas as naturezas de cada um dos outros seres2".

C ab e po rta nt o , se m ca n on i zá l a n em t am p ou co es ti g m a t i z á  l a

a priori,

r e c o n h e c e r q u e , v i v e m o s a h o r a d a anq m ia.jSeria o caso de rem em orar o lema de Rimb aud: "O poeta tornase

vidente

p o r m e i o d e u m l o n g o , i m e n s o e

c al cu la d o

desregramento de todos os sentidos.

Todas as

formas de am or, de sofrim en to, de loucura; ele bu sca a si m esm o, esgota em si p róprio todos os ven en os, para gu ar-dar deles apenas as quintessências. Inefável tortura3..." O viden te Rimbaud tornou se um a referência acad êm ica, m as sua "dêV.assidâo" poética*contaminou muitas práticas ju-v en is , p od e nd o o s eu ec o s er o u ju-vi do no s

  Lipstick traces

deixados pelos Sex Pistols e outros revoltados do rock, da

housee

d a

techno.

Aí estão o excesso, o demonismo e as variadas efer v escê nci as d e d i feren te s orde ns , a firm a nd o q u e D i on is o é efetivamente o "rei clandestino" da época. No limiar do século XXI, a história secreta do século XX transformase

(19)

Prólogo

17

em d estin o m an ifesto. Eu d iria q u e a "crian ça etern a", rui;/  d o s a , cr u e l , g e n e r o s a, n ã o  co n f o r m i s t a e q u e r e n a s ce n ã o é m a is u m a q u e st ão d e id a d e , m a s u m a a t it u d e , u m e st ad o d e e sp í r it o , u m "s i t u a c io n i s m o " q u e s e g e n e r a l iz a a o s p o u co s n o co n j u n t o d as g er a çõ e s. T e r í am o s aí u m a m í s ti ca d a v i o l ê n ci a , t a l c o m o d e s c r i t a p o r G . S o r e l e m o u t r o c o n t e x t o ? T a l v e z . E s p e c i a l -m e n t e n a -m e d id a e -m q u e u n e o s q u e co -m p a rt il h a -m seu s m i s t é r i o s , o s q u e c o m u n g a m o s m e s m o s m i t o s . O q u e é c e r t o é a r e v i v e s c ê n c i a d e u m a e r ó t i c a s o c i a l , d e u m a o r g i á st ica d i fu s a o u — p a r a e m p r e g a r te r m o s m a i s a ca d ê -m i co s — o re t o r n o d a

libido sent iend i,

a li b i d o d o s e n t i r , e i st o n ã o p o d e se r a p r e e n d i d o a t r a v é s d a s ca t e g o r i a s p r ó  prias à

libido sciendi,

p r e o c u p a d a a p e n a s c o m o s a b e r a b s t r a t o , o u à

li b id o d o m i n a nd i ,

p a r a a j j u a l só i m p o r ta a ^ p o l í t i ca , o p o d e r , co i s a s, e n f i m , i n v e n t a d a s p e l o s "m o r t o s v i v o s " q u e tê m a p r e t e n s ã o d e p e n s a r o u g e r ir o m u n d o . Po r i st o é q u e a p r o b l e m á t i ca d a i n t e g r a ç ã o p o r m e i o d e u m a "e d u ca çã o c i d a d ã ", ou s ej a, p o r u m s ab e r so b r e as i n s t i t u i ç õ e s e o s p o d e r e s e s t a b e l e c i d o s , é u m e n g o d o , s ó p o d e n d o p r o d u z i r m a is fr u s t r açã o . I m p õ e  s e , a s s i m , u m r e d i m e n s i o n a m e n t o t e ó r i c o . S ó ^po d e m o s e n t e n d e r b e m u m a é p o c a s e n t i n d o s eu s od o res ., j

 I 

Q s h u m p r e s so çi a is .e in s ü n t i v o s s ã o m a is e l o q ü e n t e s a se u í r e sp e i t o d o q u e m u i t o s t r a t a d o s er u d i t o s. N e le s e xp r i m e m  i se os afetos, as pa ixões, as cren ças q u e a pe rm eiam :.É assim

q u e se m a n i f e st a m o s s o n h o s m a is d e sv ai ra d o s co m q u e ela joga ou d os qu ais vem a ser jogu ete. É assim q u e p od em os e n t e n d e r q u e a " p a r t e d e s t r u i d o r a " , a d o e x c e s s o o u d a

(20)

18

  A parte do Diabo

»e f er v e scê n c ia , é e xa t a m e n t e o q u e s e m p r e a n t e ci p a u m a n o v a h a rm o n i a . M a s só p o d e r em o s co m p r e en d e r b e m o i m p a ct o d essa r e v i v e s c ê n c i a s e t i v e r m o s p o r e l a a l g u m a a p e t ê n c i a . N ã o a d e s ã o , m a s c o m p r e e n s ã o , e m s e u s e n t i d o s o c i o l ó g i c o . A a n á l is e n ã o p r e ci s a n e c e s s a r ia m e n t e se r cr í t ica . T a m b é m é possível "sen tirse em sin ton ia", vale dizer, cap tar, sentir, j u s t a m e n t e , a ca r g a a f ir m a t iv a q u e m o v e u m a é p o ca . H o u v e q u e m z o m b a s se d a id é i a, m a s in s i s to n a n e ce s s id a d e d e f o r m u l ar u m "p e n s a m e n t o d o v e n t r e ". A fin a l d e co n t a s , é lá q u e es tá a v i d a , co m t u d o o u , às ve ze s, co n t r a t u d o . T e -m o s d e s ab e r c o -m o d e s cr e vê l a. A d i ss id ê n ci a d i ss e m i n a s e . N ã o p o d e m o s l i m i t a rn o s a   julgála pelos parâmetros políticos. Ela não se reconhece neles.xN ão é p ossível avaliar, a p artir da id eologia e con ô m i c a ,u m d e se jo .d e . "c o n s u m a ç ã o ", o d e s ej o d e d e sp e r d i çar ou q u eim ar as coisas e os afetos, q u e se gen eraliza cad a v e z m a i s / É aí q u e a a rr o g â n c i a d o s b e m p e n s a n t e s ch e g a a seu lim ite. Eles têm a seu lad o a im p ren sa oficial, aqu ela m e s m a q u e n o s p r i m e ir o s so b r e ss alto s d o s a n o s 6 0 er a q u a -l if ica d a d e " ó r g ã o d e t o d o s o s p o d e r e s ". Ó rgão d e t odas as im po tên cia s se ria m a is ap r o p r i a d o n o m o m e n t o a tu a l , d e t a l m a n e i ra o s p r o t a g o n i s ta s d e e n t ã o t o r n a r a m s e g e st or es d e u m m u n d o m o r n o e se m c ri a çã o . A i m p r en s a o ficia l é ca d a v e z m e n o s l id a p e la s g e ra çõ e s j ov e n s , q u e p r e fe r e m a h o r i z o n t a li d a d e d a I n t e r n e t , c o m se u s f o ro s d e d i s cu s s ão e outras busca? de encontros, :ajam sexuais, filosóficos ou religiosos.

(21)

Prólogo

19

certificad os de con form id ad e, q ue cuid a da assepsia da so ciedad e e d o saber, torn ou se ab strato d em ais. A ab sten ção é a ú n ica resp osta d evolvida a tod os esses d irigen tes. Insis^ timos: a energia juvenil deixou de ter como objeto a rei-vin d icação, o p rojeto , a história. Ela se m an ifesta e se esgota*, no instante — festas, solidariedade na urgência — e não precisa de um a trad u ção p olítica ab strata. Daí a abs ten ção em m assa, a n ão in scrição n as listas eleitorais e ou tras

for-m as de ind iferentisfor-m o. Foi o que chafor-m ei de

  A

transfigura-ção do político.

Tornase, então, uma imperiosa exigência intelectua l p ensar o sensível em tod as as suas m an ifestações. Ign oran do os "cães de gu ard a"; tem os de envered ar pelos cam in h os arriscados escolhidos pela socialidade de base. Não pode-m o s , c o pode-m e f e i t o , l i pode-m i t a rn o s à

via rccta,

b a l i z a d a p e l o racionalismo moderno; o que é preciso, pelo contrár io, é con struir u m a razão mais rica, aberta ao p arad oxo e, p or-tan to, cap az de p ensar a polissemia que acab am os d e abor d a r. Para co m p r e en d er os f en ô m e n o s j o c i a i s e m a ç ã o n o s dias de h oje, é necessário m u d ar de p erspectiva; n ão m ais criticar, explicar, mas _compreender,_admitir. Sem nos de t er m o s n o v a m e n t e n o m e s m o p o n t o , a lé m d a s

representa-ções,

filosóficas e políticas, cuja saturação é evidente, é

preciso

apresentar 

f e n o m e n o l o g ica m e n t e o q u e a c o n t e ce .

Sugerir a

m atéria prim a*

deste enigma qu e é o m al. N ão por

m eio de um estetismo b arato, m as para cap tu rar a inteire-z a d o s f e n ô m e n o s q u e e s t ã o e m p r i m e i r o p l a n o n a c e n a

(22)

20

  A parte do Diabo

social. Ainda qu e seu n om e seja variável — Estad o, In d iví duo, Deus, Contrato etc. —, nunca faltarão advogado s de Deus.

Opportet haereses esse,

é p r e c i s o q u e h a j a a l g u n s advogados do diabo4.

Co m o verem os, a questão é delicada. Talvez p or isto o p e n s a m e n t o d o m a l t e n h a s id o p o r m u i t o t em p o a fa s ta d o ou con fin ad o à arte, à poesia ou a algu ns au tores mald itos. Malditos em sua época. Pois se evocarmos Schopenhau er, Nietzsche, Baudelaire, Rimbaud, Simmel ou M. Weber (to dos con testad os em sua época), qu em se hav erá d e lembrar do nome de seus detratores? Cabe supor que a arrogância dos m estres-escolas e outros escribas bem -pen san tes de h oje m ereça a mesm a sorte. N ão demorará p ara qu e se ju n te ao ossário das realidades.

E s t e l i v r o p r e t e n d e a p o n t a r m u i t o p r e c i s a m e n t e u m a tendência de fundo da vida pós-moderna: a ligação o rgâ n ica entre o bem e o ma l, entr e o trágico e a ju bilação. Por u m s u r p r e e n d e n t e p a r a d o x o , é a c e i t a n d o o m a l , e m s u a s d i f e r e n t e s m o d u l a ç õ e s , q u e p o d e m o s a l c a n ç a r u m a c e r t a alegria de viver. O

am or fati

n i e t z s c h i a n o t r a n s f o r m a n d o s e e m u m " a m o r d o m u n d o " p e l o q u e e l e é . A m o r d a n e -, cessid ad e em p iricam en te vivido e qu e será p reciso-, p or isto

mesmo, tratar de pensar.

A vida em p írica, qu e deve ser nossa d errad eira referên cia, "sab e" tud o isto perfeitam ente. N ada h á d e original nas p áginas qu e se seguem : estas idéias estão em tod as as m en tes. Mas é preciso ter a coragem de formulá-las. Nada de original no que vem das origens. É talvez o que Heidegger pretendia destacar ao observar a proximidade, em gr ego,

(23)

Prólogo

21

e n t r e a d o r e a li n g u a g e m (A lg o, L o go s ). À m i n h a m a n e i r a /   eu d iria q u e a d oi d a "p alavra p erd ida" in cita a dar a p ala' v r a à d o r r e e n c o n t r a d a , e , d e s s e m o d o , a ( r e ) t o r n a r a u m h u m a n i s m o in t eg ra l. A q u e le q u e sa b e re c o n h e c e r o q u e é d o d i ab o .

(24)
(25)

N o t a s d o P r ó l o g o

1. S obre o nom adism o, Record, 2001.

2. Marco Aurélio, "Pensées" II, 16, in  Les Stoicicns, Gallimard, La Pléiade, p. 1150.

3. Rimbaud (A.),   Lettie à Demeny. Cf. Lefrcre (JJ)/   A. Rimbaud,

Fayard, 2001, p. 270 e p. 263. Cf. tam b cm M arcus (G .), Lipstick  Tiaces. Un e histoire secrète du vin gt ièm e siècle, ed. Allia, Paris, 1998.

4. Sobre a razão ab erta, cf. Maffesoli (M.), Éloge de la raison sensible, Grasset, 1996.

(26)
(27)

C a p í t u l o I

(28)
(29)

"Nicht' raus, son dem durch."

C. G. Ju n g

O Es p í r i t o a n i m a l

U m a r e f le xã o p a ra to d o s e p a ra n i n g u é m ? É n o m í n i m o d e  licado, em n ossa trad ição cultural, m ostrar de que m aneiras o mal nos persegue, em suas diversas modulações: agres-sivid ade, violê n cia, sofrim en to, d isfun ção, p ecad o — a lis-ta p od eria p rosseguir infin ilis-tam en te. E isto lis-tan to ind ividu al q u an to coletivamen te.^ N ão há qu em n ão seja afetad o, e são p o u c o s o s q u e q u e r e m c o n h e c e r o s e f e i t o s d e s e m e l h a n t e realid ad e Pois o q ue é, é. A som b ra faz p arte desta b an alid a alid e b á s i c a . E l e m e n t o alid e b a s e e m n u m e r o s o s m i t o s , o n i -p resen te em n ossos con tos e lend as, ob sedan te nos sistemas f ilo só fi co s, ela é t am b é m u m a p e d ra n o c a m i n h o d a d o u -trina religiosa, pelo menos no Ocidente.

É por isto que me dirijo aos espíritos esclarecidos. Aos q u e n ã o t ê m m e d o d e u m a l u c i d e z r e v i g o r a n t e p a r a u s o

(30)

28

  A parte do Diabo

ind ividu al e social. De fato, está n a h ora d e sup erar a p ro  ,

xr b l e m á t ica d o h d m e m r e al iz a á o e m s u a to t a li d a d e , d a s o ci e ^  d a d é p e r fe it i.S Ü in d a q u e co m o i d eal, c o m o t e n s ã o , co m p ' p rojeto. Pois é esta a m elh or m an eira d e p rov ocar a reali

d a d e q u e se t ra t o u d e n e ga r, co m o u m r e t o r n o d o .q u e foi recalcado. No fim das contas, reconhecer que a impe rfei > çã o também é u m e le m e n t o e st ru t u ra n te d o d a d o m u n d a -n o , t al ve z u m â -n g u l o p a r ti cu l a rm e -n t e p e r t i-n e -n t e d e a t aq u e dos fen ôm en os sociais. Especialm en te se aceitarm os a h i-p ótese do "sen tim en to trágico" da vida, o qu e i-p arece cada vez mais evid ente.

Aceitem os o desafio desta visão, aind a q u e de m an eira m etodológica. Com o alavanca op eracional, para m elho r en t e n d e r t o d a s e s s a s a t i t u d e s p r e s e n t e í s t a s e m e s m o h e d o -nistas, esta mística corporativista ou ainda este poderoso relativismo, tod as ten d ên cias qu e, de m an eira difusa, con t a m i n a m a v id a co r r en t e .

Perspectiva metodológica — caberia talvez dizer epis

tem ológica — qu e enfatiza o p aroxism o, a caricatu ra, a for

m a com o cap acidad e de pôr em palavras o q u e é vivid o. Da

mesma maneira, Julien Freund, analisando o conflito, ine-ren te a toda sociedad e hu m an a, falava de u m a "situação ex-cepcional”, não no que tinha de factual, mas por servir de revelad or. E ele esp ecificava, po r sinal, q u e ciclicam en te esta situ ação retorn a com tod a a força1. É possível, p or algum tem p o, m ascarar seus efeitos, apagar seus asp ectos m ais fla s: gran tes, ma s ela estará sem p re lá, en trin ch eirad a, p ron ta a ressurgir, n os ato s privados e nas ações pú blicas. Daí o in te-resse m etod ológico da análise do conflito.

(31)

Pequena epistemologia do mal

29

T e r m o a l g o g e n é r i co m a s f o r t e m e n t e e v o c a t i v o , o_co n  f li to p o d e , p o r t a n t o , "i n d i ca r n o s o ca m i n h o " , o ri e n t a r o p e n s a m e n t o p a ra es te n ã o d i to h u m a n o , e st a co i sa te r -r í v e l c u j o c a -r á t e -r f u n d a d o -r a h i s t ó -r i a e s t á s e m p -r e r e le m b r a n d o :a v id a e a m o r te e s tã o i n t n n s e ç a m e n t e li -g a d a s. \ • f v ■  ' C o n s t a t a s e u m a v o l t a d o m a i co m t o d a a f o r ça . Re fi ro  m e àJf ace ^ o b scu r a d e n o ss a n a t u r e z a . A q u e la m e s m a q u e a cu l t u r a p o d e e m p a r te d o m e s ti ca r, m a s q u e co n t in u a a a n i m a r n o s s o s d e se jo s, n o s s o s m e d o s , n o s s o s s e n t i m e n t o s , em suma, todos os afetos. Esta volta com toda a força tal-v e z s e j a a q u i l o m e s m o a q u e n o s r e f e r i m o s h á a l g u m a s décadas, de m an eira bastan te incerta, com o "ájcrisè". Fan' 1 J ... j. <*4r  tasrna q u e assom b ra a con sciên cia d os d irigentes da socie . d a d e , e q u e n a d a m a i s f a z a l é m d e e x p r e s s a r o q u e e l e s h a v i a m n e g a d o , m a s q u e c o n t i n u a v a e x i s t i n d o n a q u e l a m e m ó r i a im e m o r i al q u e é o i n c o n s ci e n t e co l e t iv o . A a t u a -l id a d e m a i s r e ce n t e n ã o s e m o s t ro u p r o p r i a m e n t e a v ar a e m m a t ér ia d e f e n ô m e n o s a t e r ro r iz a n t e s : d a q u e d a d a s T o rr es Gêmeas ao terrorismo biotóxico, passando pela exace rba ção de am eaças tan to m ais angu stiantes po r serem difusas, ^ a v o l t a d o m a l es tá n a o r d e m d o d i a .

Podemos encarar esta crise de forma pessimista, quer d i ze r, c o m d e s co n f i a n ç a , o u e n t ã o e m p i r ica m e n t e , co m o a l g o q u e e s t á a í , q u e p r e c i s a m o s a b s o r v e r e , p o r t a n t o , com o possível fator de revivescência. Pod em os tam b ém nos q u estionar sobre a espan tosa pu lsão qu e leva os Estad os, as Igrejas, as regiões, as cidades, as instituições religiosas e fi-l o s ó fi ca s a c o m e m o r a r , a ce fi-l e b r a r , ' ^ i n y p j ça L a s j a r .i g e n s .1

(32)

30

  A parte do Diabo

A n a m n e s e d o s m i t o s f u n d a d o r e s , ce le b r a çõ e s d e d ife r e n t es natu rezas para a ju bilação coletiva!

Acon tece qu e a idéia básica d os jubileus — e n este sen->' tido a Cabala n os forn ece u m esclarecim en to dos ma is ins tru tivos — con siste em restabelecer cada coisa a seu estado primitivo2. É uma lei social das mais conhecidas: todas as

^ ...- - - V - - , . .

" coisas tend em a perd er vitalidad e. Esvai-se a lem br an ça da e f e r v e s c ê n c i a f u n d a d o r a . O c h o q u e a m o r o s o t r a n s f o r m a -se em tédio con ju ga l, a energia rev olucionária vira partido p o l ít i co i n s t i t u c i o n a l , o d i n a m i sm o ju v e n i l d o i n í ci o in v e r  t e - s e e m r e p e t i t i v i d a d e m o n ó t o n a . A t é m e s m o a i n t u i ç ã o cr i a d o r a d e u m p e n s a m e n t o in o v a d o r t e n d e a t o r n a r -s e s is  t e m a e m p a l h a d o , c o m seu s d o g m a s e s eu s cã e s d e g u ar d a em zelosa vigilância da rigidez dou trinária. As histórias h u m a n a s f o r n e c e m n u m e r o s o s e x e m p l o s n e s t e s e n t i d o . P o r isto é que o ju bileu lança m ão da lem bra n ça das origens.

P o r t a n t o p o d e m o s i n t e r p r e t a r a p u l s ã o j u b i l a r d e q u e t r a t a m o s , p a r a a l é m d e s e u a s p e c t o i n s t i t u c i o n a l , c o m o o t r a b a l h o d o i n c o n s c ie n t e c o le t iv o v o l t a d o p a r a d a r fo r ça e vigor àquilo que cria o ser coletivo original. Cabe reme m orar , a este respeito, a d escrição qu e E. Du rk h eim faz, em ^

  Les Formes clémentaires de la

vJe

religieuse,

das festas

"corr ob or ie" d as tribos austrálianas. Dispersas pelo territó rio, envolvidas em suas ocupações habituais, essas tribos s ã o p e r i o d i c a m e n t e m o v id a ? p o r u m i n s t i n t o m is t er io s o e e n t r a m e m "e s t a d o d e co n g r e g a ç ã o ". Ta i s fe st a s d ã o l u g ar a vários excessos, chocantes para a moral. No entan to, é n e ss es m o m e n t o s d e efe r v e scê n ci a q u e a co m u n i d a d e r a ti fica o s e n t i m e n t o q u e t em d<2 si m esm a. Tod as as festas de

(33)

Pequena epistemologia do mal

31

inversão, as reun iões festivas de qu e no s falam os historia dores, têm o m esm o espírito: falam nos da força da an om ia. Elas l e m b r a m o p o d e r d o s a fe to s, d o s s e n t id o s o u d e u m a cu l tu r a q u e a ci v il iz a çã o a in d a n ã o d o m e s t ico u c o m p l e t a -m e n t e .

É nesta p erspectiva, aqui ind icad a alusivam ente, q u e p o d e m o s f a la r d e u m a

 pequena epistemologia do mal.

Saber esotérico para uso de uns poucos, na medida em que des creve as forças pr ofu nd as que an im am cada um e a vida da s o cie d a d e e m seu c o n ju n t o . L o n g e e s t a m o s d a a m b i çã o d a f i l o s o f i a d o I l u m i n i s m o e d e s e u d e s e m p e n h o p r o -m e t é i c o . M a s p e r t o d e u -m s a b e r " d i o n i s í a c o " , u -m s a b e r enraizado. Algo a que m e referi, no devido m om en to, com o u m " c o n h e c i m e n t o o r d i n á r i o " ( 1 9 8 5 ) , p r ó x i m o d a " a l m a d o a r b u s t o "

(bush soul

de que faia C. G. Jung). Próximo t a m b é m d e ssa "g r a m á t ic a p a r d a " q u e e n c o n t r a m o s n o p e n sa m en to esp an h ol. Por ma is p arad oxal qu e pareça, trata-se d e u m

espídt o natu ral

le m b r a n d o q u e a t eo r ia , n o s e n t id o mais etim ológ ico, e essencialm ente con tem p lativa Ela faz o elogio d o qu e é. U m s a b e r b e l o o u i n ú t i l , i n d i f e r e n t e à a ç ã o s o b r e o m u n d o , m a s e m p e n h a d o em r e co n h e ce r — c o m o in d ica o ló g i co P . F ey e r a b en d — qu e "t u d o é b o m ", a t é m e s m o o m a l , m e s m o a d is fu n ç ã o , m e s m o o q u e é c o n s id e r a d o p e  c a d o , m e s m o o c o n t r a d i t ó r i o . D a

coincidentia oppo

sitorum

q u e d e s e m b o c a n a "d o u t a i g n o r â n c ia " d e N i co la u d e C u s a a o " co n t r a d i to r i a l " cu ja p e r t in ê n c ia f oi d e m o n s  t r a d a p o r S . L u p a s c o , t r a t a - s e d e u m a t e n s ã o f u n d a d o r a , s e m p r e r e n o v a d a , e qu = n ã o p o d e r e so lv e r s e n u m a s ín t e

(34)

-32

  A parte do Diabo

se o u e m o u t r a s fo r m a s d e u n i fo r m i d a d e o u u n i v e r s a l is m o . T a m p o u c o s er ia o c a s o d e sa b er p a r a p o d e r . Se r ia m a i s d e u m s a be r in c o r p o r a d o . Q u e r d iz er , u m s a be r q u e , n o c o t i  d i a n o , l o c a l m e n t e , d á ê n f a s e à f a l t a , a o v á c u o , à e x p e

-riêricia qu e apresenta n ão u m a

eficiência

e x t e r n a, m as u m a

eficácia

inter n a. Saber do corpo, ind ivid u al e coletivo, n o qual felicidade e infelicidade, jubilação e desampa ro es t ã o i n t i m a m e n t e l ig a d o s. Sa b er d o se m - t r ia g e m , q u e n ã o p a s s a n e c e s s a r i a m e n t e p e l a c o n s c i e n t i z a ç ã o o u a v e r b a l i  z a çã o , m a s g a r a n t i n d o a lo n g o p r a z o a p e r d u r a ç ão o b s t i n a  da da vida. Ainda q u e a ela in tegra nd o seu op osto: a mor te e suas diferentes manifestações cotidianas.

E bem verdade qu e existe aí um pa rad oxo. Mas n ão será exatamente assim que podemos resistir a longo prazo ao asp ecto totalizant e, logo totalitário, da "von ta d e de saber3"? V o n t a d e u n i d i m e n s i on a l q u e t en d e a t r a n s fo r m a r u m va  lor esp ecífico cm valor absoluto.. Von tad e castra d ora , n o

indivíduo, dessa zona sombria que também é sua. É efeti v a m e n t e o q u e e n c o n t r a m o s n e s s e p a r a d i g m a q u e v e m a s e r a g í r i a e m s u a s d i f e r e n t e s m o d u l a ç õ e s , i n v e r t e n d o a o r d e m d a s p a la v ra s e e m p e n h a d o em e xp r i m i r u m m u n d o d i f e r e n t e d a q u e l e q u e a o r d e m e s t a b e l e c i d a p r e t e n d e i m  p or 4. A p oét ica da gíria, com o a de qu alq u er líng u a secreta, r e m e t e a u m a e s p é ci e d e

sabedoria dem oníaca

q u e e n f a t iz a a inteireza d o ser, aind a qu e em seus aspectos m en os atra en tes. Afinal, os h u m ore s, em suas diversas secreções, tam bé m são necessários ao equ ilíbrio corporal, gar an tind o seu bom fu n cion am en to. N ão seria possível dizer o m esm o a respei to do corpo social?

(35)

Pequena epistemologia do mal

33

É interessa nte observar qu e de São Pa ulo a Sant o Agos tin h o, d os filósofos do Ilum inism o às diversas íeorizações h e g e l ia n o -m a r x i st a s , o u n i v e r sa l is m o ju d a i co -c r is t ã o p r ó  p r i o d a t r a d i ç ã o oci d e n t a l, t e m -s e e m p e n h a d o f u r i o s a m e n t e e m t e o riz a r , e m t e n t a r p ô r e m p r á t i ca o b e m . D a "C i d a d e d e D e u s " à s o c i e d a d e p e r f e i t a , v a m o s e n c o n t r a r a m e s m a ten são : m obilizar as energias individu ais e sociais para con

cretizar u m rem ate, u m a parú sia que elimin asse a pa rte obs cu r a d o h u m a n o . \ N ã o m e n o s i n t e re s sa n t e ê o b se r va r q u e da Inq u isição aos d iferentes

gulags

,' p a s s a n d o p o r t o d o s os etnocídios e colon ialismo s recentes, sem elhan te utop ia não se realizou sem d an os.1De ta n to qu erer edu car a natu reza, c h e g a m o s a o s e s t r a g o s e c o n ô m i c o s d e q u e c o m e ç a m o s a n o s c o n s c ie n t i z a r . Ç o m d e m a s ia d a fr e q ü ê n c ia a co l o n i z a  ç ã o , o i m p e r i a l i s m o , o c o m u n i s m o e o s d i v e r s o s m o n o -teísmos d e am bições expan sionistas são an alisad os em seus excessos — o racismo colonialista, o stalinismo, a Inquisi ção, a destruição das culturas originais, a imposiç ão das religiões ocidentais pelos missionários. No entanto, esses "d e s v io s " co n s t i t u e m a co n s u m a ç ã o l ó g ic a e in e lu t á v e l d e u m a v i sã o u n i v er s a lis t a d o m u n d o . , A p a r t ir d o m o m e n t o em qu e o O cid en te repr esenta "a civilização”, 6 legítimp q u e ela seja imposta em detrimento das culturas nativas ; se o co m u n i s m o r e p r es en t a u m Es ta d o m e l h o r , p o d e e d e v e ser instau rad o p or m eio da violência. E isto inclu i os integris-m os atuais, qu e de certa forintegris-m a respond eintegris-m, exacerban d o sua d i f e r e n ç a , à t e n t a ç ã o s e m p r e h e g e m ô n i c a d a d e m o c r a c i a . D a m e s m a f o r m a , a m e d i c i n a o c i d e n t a l , e n c a s t e l a d a n a certeza d e qu e o p rogresso científico d eve ser cap az d e ven

(36)

34

>4

  parte do Diabo

ce r to d a s a s d o e n ç a s e t o d o s o s s o fr i m e n t o s , c o n d u z i n e v i  t a v e l m e n t e à s m o r t e s c a u s a d a s p e l o s p r ó p r i o s e f e i t o s d o s t r a t a m e n t o s : q u i m i o t e r a p i a p a r a o c â n c er , q u e a t a ca t a n t o o c o r a ç ã o q u a n t o a s c é l u l a s d o e n t e s , i n f e c ç õ e s h o s p i t a l a  r es q u e a fe t a m u m q u a r t o d o s d o e n t e s i n t e r n a d o s , p a ra n ã o fa la r d as d e p e n d ê n c ia s m e d i ca m e n t o s a s .

É cont ra a "violên cia totalitária" deste u niversalismo q u e v e m r e s s u r g i n d o o q u e d e n o m i n e i s a b e d o r i a d e m o n í a c a . ; Sabedoria incorporada,^ mais vivida que pensada, que é es sen cialm en te rclativLsta. Vale dizer: qu e r elacion a tod os os elementos constitutivos da natureza, inclusive os mais sel vagens. Sob o impulso dessas culturas consideradas bárba ras, qu e ju lgáv am os m arginalizad as, são mu itas as técnicas do corpo, os sincretismos filosóficos e religiosos que tra tam de em bar alha r os cód igos raciona listas: os da teod icéia cristã, de um a vida social p rog ram ad a e sem r iscos. E a v ol ta dos orientes míticos! Cabe mencionar, é claro, a onda c r e s c e n t e — p a r a l e l a m e n t e à s m e d i c i n a s o c i d e n t a i s t r a d i  c i o n a i s m a i s a l t e r n a t i v a s ( h o m e o p a t i a , f i t o t e r a p i a ) — d a s t é cn i ca s d e t r a t a m e n t o s o r ie n t a is — a cu p u n t u r a ,

shiatsu

— assim com o das técn icas de m ed itação, das artes m arciais e outras maneiras de organizar a vida, o espaço.

D e u m a f o r m a p a r o x í s t i c a , e n c o n t r a m o s u m a p o s t u r a d e resistência com o esta na bru xaria, consistind o — de acor d o c o m u r n a a n á lis e d e j u n g — e m a l te ra r a o r d e m d as let ra s, p a r a "d e r r u b a r a o r d e m d i v in a , c o m o b je t i v o s d ia b ó l ico s , e estab elece: em seu lugar um a d esord em in fern al". Esta "d e fo r m a ç ã o m á g ica d a s p a b ^ a s ” é p a r a d i g m á t ica . Po d e ser e n c o n t r a r á , c o m o i n d i q v - í . , n a g í r i a d a b a n d i d a g e m e d a

(37)

Pequena epistemologia do mal

35

m a r g i n a l i d a d e , m a s t a m b é m e m t o d a s a s t é c n i c a s d o

 New

 Age

e o u t r o s d i s c u r s o s d i s s o c i a d o s d a o r d e m e c o n ô m i c a

estabelecida . Da astrologia às m ed icinas p aralelas, con sta t a m o s a m e s m a p r e o c u p a ç ã o p o p u l a r : e n c o n t r a r u m a o r  d em intern a, qu e tem seu p rópr io rigor, mas qu e se baseia n a i n t e r a ç ã o p e r m a n e n t e d o m a t e r i a l c o m o i m a t e r i a l 5 .

Correspondências, analogias, metáforas: são muitos os i n s t r u m e n t o s q u e , u t i l i z a d o s n e s t e s e n t i d o , i n s i s t e m n a sinergia, na com p lexid ad e dessa estrutura h olística q u e vem a ser o in d i v íd u o "l ig a d o " a o ou t r o h u m a n o , a o o u t r o a n i  m a l , a o o u t r o n a t u r a l . M a s a s s i m c o m o o . u n i v e r s a l i s m o

a b s t r a t o r e p o u s a v a

na' 

rejeição da morte —■

como no

e n

cantamento de São Paulo: "Morte, onde está tua vitória?” — , t a m b é m i a a c e i t a ç ã o d a " p a r t e m a l d i t a ” r e m e t e a u m a

outra tática frente à finitu d e, a da integra ção h om eo p át ica d o m a l. O r e c o n h e c i m e n t o d a im p e r m a n ê n c ia d e to d a s as coisas é, assim, u m a form a de se estar seguro da per d u ração , a longo prazo, do todo...,

Esta tática é cotidiana, e se a bruxaria,

stricto sensu,

é

excep cion al, são m uitas as crenças que, sem se d eclararem c o m o t a l , c o m p a r t i l h a m a m e s m a l ó g i c a . , O p s i c o d e l i s m o s ó é u m a c u l tu r a m e n o r p a r a a qu e le s q u e a in d a s e ju lg a m em p osição d e dirigir a socied ad e. Na realidad e, ele está em tod a parte. Um ind icad or disto é a mú sica; que, com o "fato /. social to ta l", con stitu i um bo m resu m o desta seiyagerizj.ção. da vida. Os ídolcs dos jovens, solistas ou grupos musicais, e x p r i m e m , u n s m a i s o u t r o s m e n o s , u m d e m o n i s m o a m  biente. Reencenando os transes arcaicos, eles ritualizam a m o r t e , m o s t r a n d o s e u a s p e c t o i n e v i t á v e l e , t a l v e z , s u a

(38)

36

  A parte do Diabo

f e c u n d i d a d e . P o u co i m p o r t a , n e s se s f e n ô m e n o s d e e xce s -s o , o p r o m e t e í -s m o d e u m i n d i v í d u o e d e u m a -s o c i e d a d e "plenos", positivos. Prevalece, em contrapartida, uma en-cen ação, às vezes aterrorizante, do q ue é a m or te q ue insis t e m e m m i n i m i z a r . Entend e-se melhor, nessas cond ições, p o r q u e a s

raves,

q u e n o f i m d a s c o n t a s c e r t a m e n t e n ã o oferecem m ais tóxicos que as boates, e, de qu alqu er m an ei ra, fazem m u ito m en os m ortos que as saídas d as festas de sábado à noite, tenham parecido tão.perigosas aos p olíti-cos^Nelas o transe, os "produtos", a violência são integra dos à festa e n ão d eixados n a p orta.

Uma postura existencial desse tipo é, no fim das con tas, tradicional. Em todas as culturas pré-modernas, mas t a m b é m e m t o d o s os m i t o s h u m a n o s , e n c o n t r a m o s o cic lo da morte e da vida. Analisando a "morte africana", o an tro p ólogo L.-V. Tho m as chega a enxergar nela um fator de e q u i l í b r i o e s t r u t u r a l . E x a c e r b a n d o a m o r t e , r e p r e s e n t a n  do-a por mímica, o que se faz é desdramatizá-la, torná-la familiar. É certamente um processo idêntico que testemu n h am os nas histerias mu sicais contem p orân eas.-Os ritm os . t e c h n o , a s s ín c o p e s d o r a p , a o m e s m o t e m p o q u e e m b a r a  lh am os cód igos dos discursos racionais, exigem u m a vitali d ade qu e mergu lha p rofun d am ente suas raízes n os "vácuos" . d a i n t e i r e z a h u m a n a . A v i t a l i d a d e d e s t a t e r r a e m q u e "estamos aí". Desta terra de que somos feitos e que faz de n ós o qu e somos. É isto a sabed oria d em on íaca, qu e, no fim d a s co n t a s , v a le t a n t o q u a n t o q u a l q u e r o u t r a .

Co m o estamos faland o de pr ofun didad e, trata-se de uma in tu ição, ou seja, n ão de um olhar extern o e abstrato, mas

(39)

Pequena epistemologia do mal

37

d e u m a

visão do int erior.

In t u içã o q u e p o d e m o s a p r o x im a r d e s sa "g r a n d e z a n e g a t i v a " d e q u e fa l av a K a n t , e q u e n ã o é u m a n e g a ç ã o d a g r a n d e z a 6 . P o d e m o s e n c o n t r a r d i v e r s a s expressões dessa id éia: a efervescência, a a n om ia d e Durk-h e i m o u G u y a u , a "p a r t e m a l d i t a " d e Ba t a i lle o u o "i n s t a n te obscuro" de Bloch são com o exemp los afirm an d o, sempr e e m a i s u m a v ez , q u e a v id a n ã o p o d e se r r e d u z i d a à u t i l id a - : d e . A p r o x im i d a d e d o e x ce s so é u m a p r á t i ca r e c o r r e n t e n a s h i s t ó r i a s h u m a n a s . H á m o m e n t o s e m q u e e s t e f i o v e r m e  lho fica menos evidente. Em outros, pelo contrário, ele se a fir m a c o m fo r ça . Se u r e n a s c i m e n t o e m n o s s o s d ia s já n ã o d á m a r g e m a d ú v id a s, p e l o m e n o s p a r a o s q u e d ã o a t e n ç ã o aos fatos. É o sinal de uma idéia-força que não podemos mais ignorar.

E i m p o r t a n t e i n si st ir n e s t e p o n t o , já q u e p a r e c e tã o d i  f í c i l a c e i t a r q u e p o s s a h a v e r u m a f o r m a d e g r a n d e z a n a n e g a t i v i d a d e . N o r m a l m e n t e , a ú n i c a p e r f e i ç ã o a d m i t i d a é a das alturas. O céu da divind ad e. Ora, p od e acon te cer que esta ten são para o alto n ão corre sp ond a à p rá tica social. Daí  a necessid ad e de descer às pr ofu nd ezas da vid a. De vincular-se a esvincular-se abismo negro, o da_anirnalidade_que dorme em ca d a u m ,jJa ,g;u d d ad § tam bém , do p.razet &d.o,4esej.P/ coisas q u e n ã o d e ix a m d e fa s cin a r , m a s q u e c o s t u m a m ser co m -p a r t i m e n t a d a s , e s ã o t o le r a d a s a -p e n a s n a s o b r a s d e f icçã o . A c o n t e c e , p a ra o m e l h o r o u p a r a o p i o r , q u e e st e

espíri

V

to animal

v o l t o u a o p r i m e i r o p l a n o d a c e n a s o c i a l . N ã o , c o m o já e x p l iq u e i, n u m a s im p le s r e g r es sã o , m a s d e a c o r d o c o m u m a a t i t u d e d e " r e g r e d i ê n c i a " , a d a i m p l i c a ç ã o q u e in t e g r a o a r ca i co , o p r i m i t iv o , o a n i m a l n o h u m a n o , e s e m

(40)

38

  A parte cio Diabo

"superar" tudo isto. "Regresso", "ingresso", pouco impor t a o t e r m o q u e p o d e s er e m p r e g a d o ; b a st a i n s is ti r n o fa t o d e que seja p ossível penetrar, en trar (

ingresso

) n a inteireza d a n a t u r e z a h u m a n a s e m r e je it a r -l h e es ta o u a q u e la p a r t e . É i s t o o "e s p í r i t o d a s fe r as " q u e en c o n t r a m o s n o p e n s a m e n to fou rierista, é isto a

ultima ratio

dos sentid os, d o sensível q u e n ã o p r o j e t a s u a c o m p l e t a r e a l i z a ç ã o e m h i p o t é t i c o s a m a n h ã s 7 .

^ O m e d o d a a n i m a l id a d e é a b a se d a p e r s p e ct iv a u n i-versalista. Ele é o p on to d e partida, inta ng ível, de tod os os ' m ora listas. Basta ou vir ou ler as etern as catilin ária s dos cro

nistas, jor n alistas, p olíticos e observad ores sociais de tod os os tipos para aplicar-lhes o que Marx dizia dos burgueses: "Eles n ão têm m ora l mas se servem da m or al." E o qu e aco n t e ce c o m a a n á l i s e s ob r e es ses n o v o s m o n s t r o s q u e v ê m a ser os "jov en s das cida d es". Mon stros m od elad os, na reali d a d e , e s p e c i a l m e n t e p e l o s j o r n a l i s t a s e o s p o l í t i c o s , a o s q u a is r e s p o n d e m o q u e d e s e ja m o u vir , so b r e tu d o q u a n d o c it a m Bin L a d e n c o m o s eu h e r ó i. Se m e l h a n t e u t il iz a ç ã o d a qu eixa é lan cin an te, obsessiva. Pode ser comp arad a, tratan -: d o-se da coisa sexual, à dos diretores d e con sciên cia na s escolas católicas, p rojetan d o seus fan tasm as sobre seus "d i r i g i d o s ” , p e r s e g u i n d o o p e c a d o o n d e e x i s t e m a p e n a s i n o  c e n t e s p r a z e re s s ex u a is . O m e s m o t r a t a n d o - se d e u m ce r t o ^ pan -sexualism o freud iano, para o qual a cu ra an alítica co n

siste em ' esvaziar a lixeira ' de tod os os resíd u os som br ios, p rópr ios d3s fantasias hui/ .anas. Caberia fazer a gen ealogia d a q u i lo a q u e M. Fo u ca u i i se r e fe r e c o m o a " v o n t a d e d e sa  b er 7 característica d a trad ição ocid ent al, para p erceber qu e

(41)

Pequena epistemologia do mal

39

através de d iferen tes figuras ela se lim ita a repetir u m a o b s e s s ã o c o n s t a n t e : o m e d o d a s o m b r a .

E s t a o b s e s s ã o i n a u g u r a - s e n o a t o f u n d a d o r b í b l i c o : "Deu s sepa rou a luz das trevas8." É p recisam en te o qu e vai servir de base à dualidade estrutural que será encontrada, t e o r i c a m e n t e e d e p o i s p r a t i ca m e n t e , n a cu lp a b i lid a d e cr is  tã, e mais adiante, por sua vez, na "separação" hegeliana ou na cisão (

Spaltung)

freudiana. Esta recusa da inteireza d o ser perm ite, na trad ição em qu estão, elim ina r o trágico d a c o n d i ç ã o h u m a n a . F u g a d i a n t e d a m o r t e , n e g a ç ã o d a m o r t e c o m o f o n t e d a e xi s tê n c ia 9.

Pa ra r e t o m a r a d i s t in ç ã o q u e p r o p u s e n t r e

drama

e

trá-gico,

esta fuga consiste em "dramatizar" a morte, ou seja, e n c o n t r a r - lh e u m a s o l u ç ã o : o p a r a ís o o u a s o cie d a d e p e r  feita. A partir daí, em suas diversas modulações (pecado, alienação, a n arq u ia), a m orte d eixa de ser essencial, já qu e é possível "superá-la".

Nem por isto teria cabimento apressar-se a descartar a ação que deve ser empreendida sobre o mal. Faz part e da c o n s c iê n c i a h u m a n a n e g o ci a r c o m ele . H á u m a d is t in ç ã o , q u e e n c o n t r a m o s n o p e n s a m e n t o gr ego , q u e n o s p o d e a ju dar n este se n tid o 10. De um lad o o

 pecado,

s o b r e o q u a l

(

p od em os agir, qu e po d em os evitar de diversas m aneiras. Do o u t r o , a "p o l u i çã o ”, q u e é a u t o m á t ic a , t ã o im p i ed o s a q u a n to o m icró bio d esta ou d aqu ela doen ça, e, com o tal, trãgi-: cam en te incon tor n áv el. Eu diria qu e "tem os de ag ü en tar". U m é p o n t u a l , a o u t r a é " e s t r u t u r a l " . O r e c o n h e c i m e n t o d e s se a s p e c t o es t r u t u r a l p o d e in d u z i r u m a s a b ed o r i a c o t i  d iana da necessid ad e. Esta cond u zind o a u m a p ostura exis

(42)

40

  A parte do Diabo

t e n c i a l q u e i n t e g ra o d e s a m p a ro p a ra a l c a n ç a r u m e q u i l í  b ri o m a is co m p le t o , m a i s c o m p l e xo , o d o " co n t ra d i t o ri a l ", d e u m a l óg ica q u e n ã o fu n c io n a e m re la ç ã o à s u p e ra çã o d o mal: a síntese, a perfeição, mas repousando na tensão, ja m ais term in ad a, qu e faz da im per feição, da p arte sombria, u m elem en to essencial de toda vida ind ividu al ou coletiva.

A

ENERGIA DOS SENTIMENTOS

N u n ca se dirá o su ficiente a respeito de qu an to a separa ção d ivina entre trevas e luz marcou p rofun d am ente a con sciên c i a o c i d e n t a l . To d a a t e m á t i c a d a e m a n c i p a ç ã o m o d e r n a repousa nesta separação. O universalismo da filosofia do Iluminísmo e sua mais recente manifestação, a “lengajen-ga^ moralista_cqntenipçirânea, derivam diretamente dela. A dialética matizada característica do pensamento grego, en tre o pecado, factual e p orta n to sup erável, e a "po lu ição", estrutu ral e inelu tável, ficou esquecid a.

É a partir deste corte radical que se elabora o conflito metafísico entre o bem e o mal. Para o cristianismo, reli gioso ou laico, não existe mais equilíbrio entre essas duas entidades. Na teoria agostiniana, o mal não tem realidade e m si, n ã o p a s sa n d o d e u m a " p r iv a çã o d o b e m "

(privatio

boní).É 

a partir d esta neg ação q u e são elaborad as as teorias

fau stiana s qu e levaram à socied ad e asséptica qu e h oje tran s forma o "risco zero" em ideal absoluto.,

Mas se esta n ega ção é teórica (talvez fosse m elh or d izer intelectual), pouco impacto tem na sabedoria popular,

(43)

de-Pequena epistemologia do mal

41

m o n í a ca , q u e, ela sim , co n t i n u a r e c o n h e c en d o c o m o e q u i  valentes essas du as entid ad es, bem e m al. Em p iricam ente, o diabo, em suas diversas manifestações cotidianas, atra vés de suas expressões no trágico corrente, tem uma exis tên cia real. Os efeitos de sua ação são inegáv eis. Em bor a eu só o ind iqu e aqui de form a alusiva, os con tos e lend as qu e n u t r e m o u a s so m b r a m a in f â n cia , e c o n t i n u a m a p e r seg u ir o i n c o n s c i e n t e c o l e t i v o , e n c e n a m f a d a s e b r u x a s , b o n s e m aus, bo n zin h os e m alvad os. Assim se explica igu alm en te ^ o espetacular sucesso de Harry Potter e certos Halloween, formas modernas da antiga veneração dos espíritos.

E m p a r t e , o s m i t o s r e p o u s a m n o q u e p o d e r í a m o s c h a  m ar de p arad igma do Ha d es. É claro qu e em d iferen tes cu l turas este pa rad igm a se expressará sob d iferentes n om es. A realidade, sim, é intangível. Há um lugar subterrâneo, uma d e id a d e d a s p r o f u n d e z as . É u m lu g ar o u u m d e u s q u e t e m a ver com o fim da vida, mas é também um lugar ou uma entidad e qu e se man ifesta n o p róprio decu rso da existência. A s d e s g r a ç a s e s e p a r a ç õ e s , o s r o m p i m e n t o s , d e s a m o r e s , d o e n ç a s e a ci d e n t e s — e m s u m a , t o d o o t r á g i co c o t id i a n o — têm a ver com este tóp ico infernal.;

A d escida ao infern o é, inclusive, u m m om en to essen--' • ciai de qu alqu era n iciação. Iniciações religiosas ou p rofanas

stricto sensu,

ou a longa iniciação que é toda existência h u m a n a . O c o n f r o n t o c o m o m u n d o s u b t e r r â n e o é m e s  m o e n ca r a d o co m o u m m o m e n t o n e ce ss ár io p ar a o q u e é considerado um "ser-mais" em devir. As expressões popu la re s "H á m a l es q u e v ê m p a ra b e m ", "O m u n d o t e m lu g ar p a r a t u d o " e t c . n ã o s e e n g a n a m a o e s t a b e l e c e r e m u m a

(44)

• s i n e r g i a e n t r e t o d o s o s c o m p o n e n t e s d o d a d o m u n d a n o . T r a t a - s e e n t ã o , p a r a r e t o m a r u m a i m p o r t a n t e p r o p o s i ç ã o de Gilbert Dur and , desse "trajeto a nt rop ológico” qu e repou sa p r e cis a m e n t e n o a co r d o t en s io n a l, n u m a h a r m o n i a co n flituosa en tre o in stin to an im al e as lim itações ob jetiv as 11, sejam na tu rais, cultu rais ou sociais.

Existe neste saber incorp orad o, o da sabedoria p opu lar, uma bela lucidez revigorante. Podemos inclusive nos per guntar se, a longo prazo, não é precisamente esta l ucidez qu e g aran te a resistência, a du ração, a solid ez da vida. Ela "sa be -’' qu e, além ou a qu ém das p etições de p rin cíp io dos p r o t a g o n i s t a s d o

sbitus quo,

a lé m o u a q u é m d a s b o a s i n t e n ç õ e s r e f o r m i s t a s o u r e v o l u c i o n á r i a s , d a s d e c l a r a ç õ e s p o l í t i c a s o u m o r a i s d e t e r m i n a n d o o s p r i n c í p i o s d o b e m , sempr e será n ecessário com p or, negociar, "ag ü en tar " as d u ras realidades que, de sua parte, têm uma relação apenas d istante com o bem . A lógica do "d ever ser" (M. Web er), a das "almas boas" de todas as tendências, é encarada sob m u itos aspectos com o perigosa. Pois este m al n egad o, este m al d ialeticam en te superável nã o pod e d eixar de ressurgir de outra form a, d escontrolad o, sorrateiramente, de m aneira perversa, invertida. O "trajeto antropológico", o d os con tos e das lendas, da vida de todos os dias, é, por sua vez, m a i s e q u i l i b r a d o , s á b i o , h u m a n o , n a m e d i d a e m q u e d á direito de cida d an ia ao qu e é, e nã o ao qu e "d everia ser".

E s t e e q u í l í b r i o n a d a t e m d e u n a n i m i s t a : e l e é c o n  flituoso, em 'tensão oer^iari -nte, um equilíbrio enraizado. N a v e r d a d e e l e r e c o n h e c e — p a r a r e t o m a r u m a t e m á t i c a - pa scaliana — ou e o ?nio e " oes^ estão in tim am en te liga

(45)

Pequena epístetnologia do mal

43

d o s, e q u e s e u m d e ss es p ó l o s é d e m a s ia d a m e n t e a c e n t u a  do, o outro só pode ressurgir. Seja como for, não deixa de ser i m p r e s s io n a n t e q u e e sta m it o lo g ia c o n t e m p o r â n e a q u e é a p u b li cid a d e n ã o s e t e n h a e n g a n a d o e n c e n a n d o a p ele, a e p i d e r m e , o s h u m o r e s e m t o d a s as su a s d i fe r e n t es m o d u la çõ es . O m e s m o a c o n t e c e c o m a p r o d u çã o m u s ica l, c i n e  matográfica, fotográfica, que não teme ilustrar, epifanizar a parte obscura da natureza humana. É considerável a de-fasagcm entre o intelectualismo dos moralistas e a criação m u ltifor m e qu e se limita a tradu zir o que é vivid o por cada um . De u m lado, a abstração das boas in tenções, ga ra n tin do, como se sabe, a pavimentação dos infernos verdadei r os; d o o u t r o , o e n r a iz a m e n t o n o h ú m u s d o h u m a n o . Esta ú lt im a t e n d ê n c ia é m a i s p e r t in e n t e , m a is co n g r u e n t e c o m o espírito da época, logo, mais prospectiva. Seja como for, ela não traduz mais um ideal celeste, uraniano, apo líneo, mas u m a p reocu p ação h olística que faz d o corpo, d a sensi b il id a d e , d o s a fe t o s u m a p a r te in c o n t o r n á v e l d e ca d a u m e d o corp o social em sua totalid ad e.

Talvez seja esta a verdadeira encarnação do espírit o, aquela que sabe que uma planta precisa de raízes para ele var-se em d ireção ao céu. Trata-se de um a d essas idéias de t al m o d o b a n a i s q u e v a m o s en c o n t r á -la s , co m o t o d a e s t r u t u r a a n t r o p o l ó g i c a , a o m e s m o t e m p o n o s m i t o s m a i s s u  b l i m e s e n o s l u g a r e s - c o m u n s m a i s c o r r i q u e i r o s . E n t r e o

arqu étip o e o estereótipo há apenas u m passo, qu e p od e ser dado com facilidade.

S ã o m u i t o s o s m i t o l o g e m a s q u e e x p r i m e m e s t a " c o n s  tante". Ma obra negra de alquimia, é a fase de dissolução.

(46)

44

  A parte do Diabo

N a l it er a t u r a , é a p e r e g r i n a ç ã o p r o p o s t a p o r D a n t e e m s u a obra magistral. Sem esquecer o logos spermaticos, a razão seminal de uma certa filosofia grega, ou ainda a fó rmula esotérica "vitriolum": visita interiora terrae rectificando

inv enies occultum lapidem veram m edicinam . É d epo is de

p e n e t r a r n o in t e r io r d a Te rr a q u e v a m o s e n c o n t r a r a p e d r a e sco n d i d a , v er d a d e ir o m e d i ca m e n t o . N e m m e s m o a t r a d i  ção cristã ignora esta descida. Tem os, assim, a "ke n os e", ou s e j a , o r e b a i x a m e n t o d e D e u s n a e n c a r n a ç ã o e n a p a i x ã o do Cristo, que vai ele mesmo ao inferno antes de voltar a subir ao céu.

P o d e r í a m o s e n u m e r a r a qu i m u i t a s fo r m u l a çõ e s q u e e x  pr essam esta du pla p olarid ad e'2. Talvez fosse o caso de d i zer "multipolaridade", tão claro parece que, ao con trário d e u m m o n o t e í sm o t r a n s ce n d e n t e — o d o c h efe , d o c ér e  b r o , d o u r a n i a n o — , o s I n fe r n o s p r o p i ci a m u m p o li t eí s m o d e valores qu e se relativizam un s aos ou tros. Tem os, assim, o " s a c r u m " , n a b a s e d a c o l u n a v e r t e b r a l , e m n u m e r o s a s práticas orientais. Ou ainda o baixo-ventre, "Hara" entre os jap oneses, que garante a estabilidad e do corpo e p erm i t e u r n a c e n t r a ç ã o p o r b a i x o . ; P a r a t o d o s e s s e s t ó p i c o s , a t r a n s c e n d ê n c i a é d i f u s a , " t r a n s c e n d ê n c i a i m a n e n t e " . A o contrário das religiões monoteístas, nas quais Deus está a c i m a e a l é m d o h o m e m ( t r a n s c e n d e n t e ) , a s r e l i g i õ e s p oliteístas, as filosofias orienta is e o qu e eu ch a m o d e cu l t u ra p ó s -m o d e r n a co n s id e r a m q u e e xi st e em n ó s u m a p a r  t e d e d e id a d e , q u e n ã o e st á a lé m d o h u m a n o , m a s fa z p a r t e d a n a t u r e z a h u m a n a — d a m e s m a f o r m a q u e o m a l , p o r

(47)

Pequena epistetnologia do mal

45

A e s s e s a r q u é t i p o s f u n d a m e n t a i s s e m p r e c o r r e s p o n d e 

ram estereótipos bem m ais triviais. Pelo m en os em suas m a

n i f e st a ç õ e s co t id i a n a s . A a c e n t u a ç ã o m u l t if o r m e d o co r p o

e o h e d o n i s m o q u e lh e e s tá a s s o ci a d o s ão a il u s t r a çã o m a is

e v i d e n t e d i s t o . O c o r p o q u e d a n ç a o u a d a n ç a d o v e n t r e

s ã o u m f e n ô m e n o i n t e m p o r a l e e x t r a t e r r i t o r i a l , m a i s o u

m e n o s a d m i ti d o . Em W a ll is e Eu t u n a p r a t i ca m -s e as "d a n

ç a s s e n t a d a s " . C o n s i d e r a n d o a s d a n ç a s d o s i n d í g e n a s p o r

d em ais lascivas, sugestivas d em ais, os m ission ár ios os obr i

gar am a praticá-las sentad os.

T u d o .i n d i ca q u e , a p ó s o p a r ê n t e s e m o d e r n o , essa s d a n

ças voltam com toda a força nas p ráticas contem p orân eas..

As histerias musicais ou esportivas e as das aglomerações

festivas de tod os os tipos d ão tes te m u n h o d isso. Elas

signi- ficam

u m a c e n t r a ç ã o p o r b a i x o . C o n t r a ç ã o d o c o r p o i n d i 

vidu al, n atu ralm en te, m as sobretu d o do corpo social. É isto

o saber incorp ora d o, o do gozo, aq u ele qu e diz "sim " à terra

e a seus frutos, que se enraíza p ro fun d am en te n os.prazeres

q u e es te s o fe r e ce m , a in d a q u e d e m o d o e fê m e r o .

N este terren o, a histeria n ão d eve ser enten d ida d e m a

neira pejorativa, e sim como a recusa dessa constan te

ju-d aico-cristã, bem teorizaju-da em sua m an ifestação freuju-d iana; r

j; r e p r e s s ã o e s u b l im a ç ã o , R e p r i m i r t u d o q u e v e m d a a n i 

m alid ad e, para qu e as energias se fina lizem em d ireção ao

alto, se orientem para um alvo a ser alcançado, pro

jetem-se num ideal a realizar. Pelo contrário, hoje uma histeria

d ifu sa n o clima da época corp or ifica este espírito, resultan

d o n u m c o r p o r e í s m o m í s t i c o . O s t r a n s e s p ó s - m o d e r n o s

Referências

Documentos relacionados

Graças ao apoio do diretor da Faculdade, da Rede de Museus e em especial da Pro Reitoria de Extensão, o CEMEMOR tem ampliado e mantido suas atividades junto

Mesmo com a maioria dos centenários apresentando elevado percepção qualidade de vida, viu-se que o nível de atividade física e a média de número passo/dia, foram inferiores

eringmaterialsabstracts Referenciais com resumos Cobre a literatura especializada em materiais de construção e suas aplicações como polímeros, cerâmicas e materiais

De acordo com estes resultados, e dada a reduzida explicitação, e exploração, das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente, conclui-se

1- Designar Comissão composta pelos Professores ANGELO MARIO DO PRADO PESSANHA, matrícula SIAPE 311702; CESAR FREDERICO DOS SANTOS VON DOLLINGER, matrícula SIAPE 2321560; FRANCISCO

§ 2º A Comissão será responsável pelos atos necessários para a realização do pleito, submetendo-o a aprovação do Conselho Deliberativo. 4º - Os Membros da

O rejuntamento dos azulejos deve ser iniciado após três dias, pelo menos, de seu assentamento, verificando-se previamente, por meio de percussão com instrumento não contundente, se

Tendo como parâmetros para análise dos dados, a comparação entre monta natural (MN) e inseminação artificial (IA) em relação ao número de concepções e