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Resumos português

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Academic year: 2021

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Fernando Pessoa Ortónimo

Fernando Pessoa Ortónimo

Características temáticas

Características temáticas

-- Identidade perdida e incapacidade de definiçãoIdentidade perdida e incapacidade de definição -- Consciência do absurdo da Consciência do absurdo da existênciaexistência

-- Para ele a realidade não é Para ele a realidade não é apenas aquilo que se vê superficialmenteapenas aquilo que se vê superficialmente -- Tensão sinceridade / Tensão sinceridade / fingimento, consciência /inconsciênciafingimento, consciência /inconsciência

-- Oposição: sentir / pensar, pensamento / Oposição: sentir / pensar, pensamento / vontade, esperança 7 desilusãovontade, esperança 7 desilusão -- Anti-sensacionisAnti-sensacionismo: intelectualização da mo: intelectualização da emoçãoemoção

-- Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, náuse, desesperoangústia, cansaço, náuse, desespero -- Inquietação metafísicaInquietação metafísica

-- NeoplatismoNeoplatismo

-- Tentativa de superação da dor, do presente, etc., através da evocação da infância, idade deTentativa de superação da dor, do presente, etc., através da evocação da infância, idade de

ouro, onde a felicidade ficou perdida e onde não

ouro, onde a felicidade ficou perdida e onde não existia o doloroso sentirexistia o doloroso sentir

-- refúgio no sonho, no ocultismo (correspondência entre o visível e o refúgio no sonho, no ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível)invisível) -- criação dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”)criação dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”)

-- Intuição de um destino colectivo e épico para o seu País (Intuição de um destino colectivo e épico para o seu País (MensagemMensagem)) -- Renovador de mitosRenovador de mitos

-- a visão do a visão do mundo exterior é fabricada em função do sentimento interiormundo exterior é fabricada em função do sentimento interior

-- Reflexão sobre o problema do tempo como vivência e Reflexão sobre o problema do tempo como vivência e como factor de fragmentação do “eu”como factor de fragmentação do “eu” -- O presente é o único tempo por O presente é o único tempo por ele experimentado (em cada momento se é diferente do queele experimentado (em cada momento se é diferente do que

se foi) se foi)

-- Tem uma visão negativa e pessimista da existência; o futuro aumentará a sua angústia porqueTem uma visão negativa e pessimista da existência; o futuro aumentará a sua angústia porque

é o

é o resultado de sucessivos presentes carregados de negatividaderesultado de sucessivos presentes carregados de negatividade Características estilísticas

Características estilísticas

-- simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto pelo popular) dá umapelo popular) dá uma

ideia de simplicidade e

ideia de simplicidade e espontaneidadespontaneidadee

-- Grande sensibilidade musical:Grande sensibilidade musical:

o

o eufoniaeufonia – – harmonia de sons harmonia de sons o

o aliterações, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmoaliterações, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo o

o verso geralmente curto (2 a 7 verso geralmente curto (2 a 7 sílabas)sílabas) o

o predomínio da quadra e da quintilhapredomínio da quadra e da quintilha

-- Adjectivação expressivaAdjectivação expressiva -- Economia de meios:Economia de meios:

o

o Linguagem sóbria e nobreLinguagem sóbria e nobre – – equilíbrio clássico equilíbrio clássico

-- Pontuação emotivaPontuação emotiva

-- Uso frequente de frases nominaisUso frequente de frases nominais

-- Associações inesperadas [por vezes desvios Associações inesperadas [por vezes desvios sintácticossintácticos – – enálage enálage -- Comparações, metáforas originais, oxímorosComparações, metáforas originais, oxímoros

-- Uso de símbolosUso de símbolos

-- ReaproveitameReaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, nto de símbolos tradicionais (água, rio, mar...)mar...)

Temáticas Temáticas

 O sonho, a intersecção entre o sonho e a realidade (exemplo:O sonho, a intersecção entre o sonho e a realidade (exemplo: Chuva oblíquaChuva oblíqua – – “ “ E os naviosE os navios

passam por dentro dos troncos das árvores passam por dentro dos troncos das árvores” ” );); 

 A angustia existencial e a A angustia existencial e a nostalgia da infância (exemplo:nostalgia da infância (exemplo: Pobre velha músicaPobre velha música – – “Recordo“Recordo

outro

ouvir-outro ouvir-te./Não sei se te ouvi/Nessa minha infância/Que me lembra em ti.” ;te./Não sei se te ouvi/Nessa minha infância/Que me lembra em ti.” ;

 Distância entre o idealizado e o realizadoDistância entre o idealizado e o realizado – – e a consequente frustração (“Tudo o que faço oue a consequente frustração (“Tudo o que faço ou medito”)

medito”);;

 A máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoçõesA máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que q

(2)
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 A intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte (exemplo:A intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte (exemplo: NãoNão sei quantas almas tenho

sei quantas almas tenho – – “O que julguei que senti”) ;“O que julguei que senti”) ; 

 O ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique)O ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique)

 O sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a O sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu forma na obraque deu forma na obra

Mensagem Mensagem;; 

 Tradução dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o qTradução dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável.ue se sente é incomunicável. Sinceridade/fingimento

Sinceridade/fingimento

- Intelectualização do sentimento para exprimir a arte -> poeta fingidor - Intelectualização do sentimento para exprimir a arte -> poeta fingidor - despersonalização do poeta fingidor que fala e que

- despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criaçãose identifica com a própria criação poética

poética

- uso da

- uso da ironia para pôr tudo em ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridadecausa, inclusive a própria sinceridade

- Crítica de sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na união de

- Crítica de sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na união de contrárioscontrários - Mentira: linguagem ideal da alma, pois usamos as

- Mentira: linguagem ideal da alma, pois usamos as palavras para traduzir emoções epalavras para traduzir emoções e pensamentos (incomunicável)

pensamentos (incomunicável) Consciência/inconsciência Consciência/inconsciência

- Aumento

- Aumento da autoconsciência humana (despersonalização)da autoconsciência humana (despersonalização)

- tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o poeta - tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o poeta Sentir/pensar

Sentir/pensar

- concilia o pensar e o sentir - concilia o pensar e o sentir - nega o

- nega o que as suas percepções lhe transmitemque as suas percepções lhe transmitem - recusa o mundo

- recusa o mundo sensível, privilegiando o mundo intelegívelsensível, privilegiando o mundo intelegível - Fragmentação do eu

- Fragmentação do eu  interseccionismo entre o material e o sonho; a  interseccionismo entre o material e o sonho; a realidade e arealidade e a idealidade; realidades psíquicas e fisicas; interiores e exteriores; sonhos e paisagens reais; idealidade; realidades psíquicas e fisicas; interiores e exteriores; sonhos e paisagens reais; espiritual e material; tempos e espaços;

espiritual e material; tempos e espaços; horizontalidade e verticalidade.horizontalidade e verticalidade. O tempo e a degradação: o regresso à infância

O tempo e a degradação: o regresso à infância

- desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e

- desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos diasda passagem dos dias -- busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossiveis, mas acaba “sem alegria nbusca múltiplas emoções e abraça sonhos impossiveis, mas acaba “sem alegria n emem

aspirações”, inquieto, só e ansioso. aspirações”, inquieto, só e ansioso.

-- o passado pesa “como a realidade de nada” o passado pesa “como a realidade de nada” e o futuro “como a e o futuro “como a possibilidade de tudo”. Opossibilidade de tudo”. O tempo é para ele um factor de

tempo é para ele um factor de desagregação na medida em que tudo é breve e efémero.desagregação na medida em que tudo é breve e efémero. - procura superar a angústia existencial através da evocação da infância e de

- procura superar a angústia existencial através da evocação da infância e de saudade dessesaudade desse tempo feliz.

tempo feliz.

O tédio, o cansaço de viver O tédio, o cansaço de viver

O poeta constata que não é ninguém, ele é

O poeta constata que não é ninguém, ele é nadanada – – o  o sonho de ir mais além desaparece. Diz que nãosonho de ir mais além desaparece. Diz que não sabe nada, não sabe sentir, não sabe pensar, não sabe querer, ele

sabe nada, não sabe sentir, não sabe pensar, não sabe querer, ele é um livro que ficou é um livro que ficou por escrever.por escrever. Ele é o tédio de si próprio: está cansado da sua vida, está cansado de si.

Ele é o tédio de si próprio: está cansado da sua vida, está cansado de si. Poemas

Poemas

-- “Meu coração é 1 pórtico partido“Meu coração é 1 pórtico partido”” -- fragmentação do “eu”fragmentação do “eu” -- “Hora Absurda”“Hora Absurda” -- fragmentação do “eu”fragmentação do “eu”

-

- interseccioniinterseccionismosmo

-- “Chuva Oblíqua”“Chuva Oblíqua” -- fragmentação do “eu”: o fragmentação do “eu”: o sujeito poético revelasujeito poético revela-se duplo, na busca de-se duplo, na busca de sensações que lhe permitem antever a f

sensações que lhe permitem antever a felicidade ansiada, mas inacessível.elicidade ansiada, mas inacessível.

- interseccionismo impressionista: recria vivências que se interseccionam com outras que, por sua - interseccionismo impressionista: recria vivências que se interseccionam com outras que, por sua vez, dão

vez, dão origem a novas combinações de origem a novas combinações de realidade/idearealidade/idealidade.lidade.

-- “Autopsicografia”“Autopsicografia” - dialéctica - dialéctica entre entre o eo eu du do eso escritor critor e o e o eu eu poético, poético, personalidade personalidade fictícia fictícia ee criadora.

criadora.

- criação de 1

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- o p

- o poeta codifica o poema q o oeta codifica o poema q o receptor descodifreceptor descodifica à sua maneira, sem necessidade deica à sua maneira, sem necessidade de encontrar a pessoa real do escritor

encontrar a pessoa real do escritor

- o acto poético apenas comunica 1 dor fingida, pois a dor real

- o acto poético apenas comunica 1 dor fingida, pois a dor real continua no sujeito que tentacontinua no sujeito que tenta 1

1 representaçãrepresentação.o. -

- os leitores tendem a consideros leitores tendem a considerar uma dor que não é sua, mas que apreendem de acordoar uma dor que não é sua, mas que apreendem de acordo com a sua experiência de dor.

com a sua experiência de dor.

-- A dor surge em 3 níveis: a dor real, a dor fingida e a “dor lida”A dor surge em 3 níveis: a dor real, a dor fingida e a “dor lida” A arte nasce da realidade

A arte nasce da realidade

A poesia consiste no fingimento dessa realidade: a dor fingida

A poesia consiste no fingimento dessa realidade: a dor fingida ou intelectualizadaou intelectualizada A intelectualização é expressa de forma tão

A intelectualização é expressa de forma tão artística que parece mais autêntica que a artística que parece mais autêntica que a realidaderealidade Relação do leitor com a obra

Relação do leitor com a obra de arte:de arte:

¤¤ Não sente a dor real (inicial): essa pertence ao poetaNão sente a dor real (inicial): essa pertence ao poeta

¤¤ Não sente a dor imaginária: essa pertence ao criador (poeta)Não sente a dor imaginária: essa pertence ao criador (poeta) ¤¤ Não sente a dor que Não sente a dor que ele (leitor) temele (leitor) tem

¤¤ Sente o que o objecto artístico lhe desperta: uma quarta dor, a dor Sente o que o objecto artístico lhe desperta: uma quarta dor, a dor lidalida A obra é autónoma, quer em

A obra é autónoma, quer em relação ao leitor, quer em relação ao autor (vale por relação ao leitor, quer em relação ao autor (vale por si)si) Há uma

Há uma intelectuaintelectualização da emoção: é lização da emoção: é recebido um estímulo (emoção)recebido um estímulo (emoção) – – dado pelo coração dado pelo coração – – que é que é intelectualizado

intelectualizado – – pela razão ;  pela razão ; o que surge na o que surge na criação são as emoções intelectualicriação são as emoções intelectualizadas.zadas. Ou seja, o pensar domina o

Ou seja, o pensar domina o sentirsentir – – a poesia é  a poesia é um acto intelectualum acto intelectual

-- Ela canta pobre ceifeiraEla canta pobre ceifeira – – a ceifeira representa os sensacionistas e o seu canto seduz o  a ceifeira representa os sensacionistas e o seu canto seduz o poeta,poeta,

que mesmo assim não consegue deixar de pensar; o poeta quer o impossível: ser inconsciente mas que mesmo assim não consegue deixar de pensar; o poeta quer o impossível: ser inconsciente mas saber que o é, sentir sem deixar de pensar

saber que o é, sentir sem deixar de pensar  – – o seu ideal de felicidade; acaba por verificar que só os o seu ideal de felicidade; acaba por verificar que só os sensacionistas são felizes, pois limitam-se a sentir, e tem então um desejo de aniquilamento; sensacionistas são felizes, pois limitam-se a sentir, e tem então um desejo de aniquilamento; musicalidade produzida pelas aliterações, transporte, metáfora e quadra

musicalidade produzida pelas aliterações, transporte, metáfora e quadra

-- Não sei se é sonho, se realidadeNão sei se é sonho, se realidade – – exprime um tensão entre o apelo do sonho (caracterizado exprime um tensão entre o apelo do sonho (caracterizado

pela tranquilidade, sossego, serenidade e afastamento) e o peso da realidade; a realidade fica pela tranquilidade, sossego, serenidade e afastamento) e o peso da realidade; a realidade fica sempre aquém do sonho e mesmo

sempre aquém do sonho e mesmo no sonho o no sonho o mal permanecemal permanece – – frustração; conclui que  frustração; conclui que a felicidade,a felicidade, a cura da dor

a cura da dor de viver, de pensar, não se encontra no exterior mas no de viver, de pensar, não se encontra no exterior mas no interior de cada um.interior de cada um.

-- Não sei quantas almas tenhoNão sei quantas almas tenho – – o poeta confessa a sua desfragmentação em múltiplos “eus”,o poeta confessa a sua desfragmentação em múltiplos “eus”,

revelando a sua dor

revelando a sua dor de pensar, pque esta divisão provém de pensar, pque esta divisão provém do facto de ele do facto de ele intelectualiintelectualizar as emoções;zar as emoções; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece aqueilo que escreveu); a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece aqueilo que escreveu); metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história (despersonalização, distancia-se para se metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história (despersonalização, distancia-se para se ver)

ver)

-- Entre o sono e o sonhoEntre o sono e o sonho - - símbolo do rio: divisão, separação, fluír da vidasímbolo do rio: divisão, separação, fluír da vida – – percurso da vida; é percurso da vida; é

a imagem permanente da divisão e

a imagem permanente da divisão e evidencia a incapacidade de alterar essa situação (o rio corre evidencia a incapacidade de alterar essa situação (o rio corre semsem fim

fim  – – efemeridade da vida); no presente, tal como no passado e no futuro (fatalidade), o eu está efemeridade da vida); no presente, tal como no passado e no futuro (fatalidade), o eu está condenado à divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não pensava e por condenado à divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não pensava e por isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não poder fazer nada em relação isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não poder fazer nada em relação à divisão que há

à divisão que há dentro de si; metáfora da casa como a vida: o dentro de si; metáfora da casa como a vida: o seu eu é uma casa com seu eu é uma casa com várias divisõesvárias divisões  –

 – fragmentação fragmentação

-- Bóiam leves, desatentosBóiam leves, desatentos  - poema apresenta um conjunto de elementos que sugerem  - poema apresenta um conjunto de elementos que sugerem

indefinição e estagnação, estados que provocam o tédio e o cansaço de viver (“bóiam”, “sono”, indefinição e estagnação, estados que provocam o tédio e o cansaço de viver (“bóiam”, “sono”, “corpo morto”, folhas

“corpo morto”, folhas mortas”, águas paradas”, casa abandonada”); todos estes elementos apontmortas”, águas paradas”, casa abandonada”); todos estes elementos apont amam para a dor, a incapacidade de viver, a angústia, o tédio; os seus pensamentos andam como que à para a dor, a incapacidade de viver, a angústia, o tédio; os seus pensamentos andam como que à deriva, não têm onde ficar, pois ele é nada; são insignificantes, sem consistência, vagos, sem deriva, não têm onde ficar, pois ele é nada; são insignificantes, sem consistência, vagos, sem conteúdo; impossibilidade do sujeito saír do estado de estagnação em que se encontra (entre a vida conteúdo; impossibilidade do sujeito saír do estado de estagnação em que se encontra (entre a vida e a não vida); musicalidade: transporte, anáfora (repetição duma palavra), ritmo (lento, parado e a não vida); musicalidade: transporte, anáfora (repetição duma palavra), ritmo (lento, parado  – – como ele)

como ele)

--  Aqui  Aqui na na orla orla da da praia, praia, mudo mudo e e contente do contente do mar mar  - sujeito não quer desejar muito mais para - sujeito não quer desejar muito mais para

além do que é na

além do que é natural e espontânetural e espontâneo na vida; o na vida; tudo aquilo a que tudo aquilo a que o homem se o homem se pode agarrar pode agarrar éé imperfeito e inútil (ex:amor); a melhor maneira de passar pela vida é não desejar, não se sentir imperfeito e inútil (ex:amor); a melhor maneira de passar pela vida é não desejar, não se sentir

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atraído por nada (apatia, cansaço total); revela um certo desejo de morte porque já n quer nada; atraído por nada (apatia, cansaço total); revela um certo desejo de morte porque já n quer nada; desejo de comunhão com a natureza

desejo de comunhão com a natureza

Fernando Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precariedade, a sua limitação, a dor Fernando Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precariedade, a sua limitação, a dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da

de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma humana que se sente incapaz de construir e que,alma humana que se sente incapaz de construir e que, comparando as possibilidades miseráveis com a ambição desmedida, desiste, adormece “num mar de comparando as possibilidades miseráveis com a ambição desmedida, desiste, adormece “num mar de sargaço” e dissipa a vida no tédio.

sargaço” e dissipa a vida no tédio.

Os remédios para esse mal são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença num mundo Os remédios para esse mal são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença num mundo ideal e oculto, situado no passado, a aventura do Sebastianismo messiânico, o estoicismo de Ricardo Reis, ideal e oculto, situado no passado, a aventura do Sebastianismo messiânico, o estoicismo de Ricardo Reis, etc.. Todos estes remédios são tentativas frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o tempo a etc.. Todos estes remédios são tentativas frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o tempo a sua condição fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de náusea, tédios e angústias sua condição fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de náusea, tédios e angústias iluminados por uma inteligência lúcida

iluminados por uma inteligência lúcida – – febre de absoluto e insatisfação do relativo. A poesia está não na dor febre de absoluto e insatisfação do relativo. A poesia está não na dor experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar do poeta partir da dor real “a dor que devera experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar do poeta partir da dor real “a dor que devera ss sente”. Não há arte sem imaginação, sem que o

sente”. Não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de maneira a exprimirreal seja imaginado de maneira a exprimir-se artisticamente e-se artisticamente e ser concretizado em arte. Esta concretização opera na memória a dor inicial fazendo parecer a dor imaginada ser concretizado em arte. Esta concretização opera na memória a dor inicial fazendo parecer a dor imaginada mais autêntica do que a dor real. Podemos chegar à conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta mais autêntica do que a dor real. Podemos chegar à conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a dor real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretação do imagina (finge), a dor real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretação do leitor.

leitor.

Quadro-Síntese: Quadro-Síntese:

Temáticas

Temáticas EstilísticasEstilísticas

Nível

Nível Fónico Fónico Nível Nível Morfossintático Morfossintático e e semânticosemântico

-- Consciência do absurdo daConsciência do absurdo da

existência, recusa da realidade, existência, recusa da realidade, incapacidade de viver;

incapacidade de viver;

-- Oposições Oposições pensar/sentir,pensar/sentir,

consciência/inconsciência, consciência/inconsciência, pensamento/vontade, pensamento/vontade, esperança/desilusão esperança/desilusão Conduzem a: Conduzem a:

-- tédio; angustia;tédio; angustia;

melancolia; desespero; náusea; melancolia; desespero; náusea; nostalgia de bem perdido

nostalgia de bem perdido (tema(tema da perda); abdicação,

da perda); abdicação,

desistência; abulia; dificuldade desistência; abulia; dificuldade em distingir o sonho da

em distingir o sonho da realidade;realidade;

-- solidão, egotismo,solidão, egotismo,

cepticismo,

cepticismo, anti-sentimentalianti-sentimentalismo;smo;

-- inquietação metafísica,inquietação metafísica,

dor de pensar, dor de viver dor de pensar, dor de viver

Busca de

Busca de superação atravéssuperação através de:

de:

-- evocação da infânciaevocação da infância

(enquanto símbolo de uma (enquanto símbolo de uma felicidade);

felicidade);

-- ilusão no sonho;ilusão no sonho;

-- ocultismo (procura de umaocultismo (procura de uma

correspondência entre o visível e correspondência entre o visível e o invisível);

o invisível);

-- fingimento( enquantofingimento( enquanto

alienação de si

alienação de si próprio, processopróprio, processo criativo e máscara) -

criativo e máscara) - heteronímiaheteronímia

-- musicalidade:musicalidade: o oversificaçãoversificação regular e tradicional regular e tradicional (vertente (vertente tradicionalista: tradicionalista: predomínio da quadra e predomínio da quadra e da quintilha e do verso da quintilha e do verso curto(duas a setes curto(duas a setes sílabas)); sílabas)); o

orima, ritmo,rima, ritmo, aliteração, aliteração, onomatopeia onomatopeia o oencavalgamentoencavalgamento

-- linguagem sóbria e nobre;linguagem sóbria e nobre;

-- expressividade dos modos e temposexpressividade dos modos e tempos

verbais, com preferência pelo presente do verbais, com preferência pelo presente do indicativo;

indicativo;

-- equilíbrio clássico;equilíbrio clássico; -- sintaxe simples;sintaxe simples;

-- adjectivação expressivaadjectivação expressiva -- paralelismos e paralelismos e repetiçõesrepetições

-- uso de uso de símbolos: reaproveitamesímbolos: reaproveitamentonto

de símbolos tradicionais; passagem de uma de símbolos tradicionais; passagem de uma imagem-símbolo nacional à reflexão

imagem-símbolo nacional à reflexão sobresobre o símbolo;

o símbolo;

-- imprevisibilidadeimprevisibilidade: : metáforasmetáforas

inesperadas; desarticulação sintática; inesperadas; desarticulação sintática;

-- expressividade da pontuação;expressividade da pontuação;

interrogações

interrogações, , exclamaçõesexclamações, , reticênciasreticências;;

-- uso de frases nominais;uso de frases nominais;

-- metáforas, comparações e imagens;metáforas, comparações e imagens; -- antíteses;antíteses;

-- paradoxos;paradoxos; -- oxímorosoxímoros

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“Mensagem”

“Mensagem”

Contextualização Contextualização 

 Integração de Mensagem no universo poético Pessoano:Integração de Mensagem no universo poético Pessoano:

Integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do

Integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela sedestino português, nela se salientando o Sebastianismo, o Mito do

salientando o Sebastianismo, o Mito do Encoberto e o V Império.Encoberto e o V Império.

Criar um novo Portugal, ou melhor, ressuscitar a Criar um novo Portugal, ou melhor, ressuscitar a Pátria Portuguesa, arrancando-a do túmulo onde Pátria Portuguesa, arrancando-a do túmulo onde aa sepultaram alguns séculos de obscuridade (...) E isto leva a

sepultaram alguns séculos de obscuridade (...) E isto leva a crer que deve estar para crer que deve estar para breve o inevitávelbreve o inevitável aparecimento do poeta ou poetas supremos [...] porque fatalmente o Grande Poeta, que este aparecimento do poeta ou poetas supremos [...] porque fatalmente o Grande Poeta, que este movimento gerará, deslocará para segundo plano a figura até aqui principal de

movimento gerará, deslocará para segundo plano a figura até aqui principal de CamõesCamões

A citação transcrita aponta, logo de início, para o

A citação transcrita aponta, logo de início, para o estado de desagregação em que se encontraestado de desagregação em que se encontra a Nação portuguesa e que, de algum modo, fará despoletar a ânsia de renovação desejada por a Nação portuguesa e que, de algum modo, fará despoletar a ânsia de renovação desejada por Fernado Pessoa e operacionalizada nos textos da

Fernado Pessoa e operacionalizada nos textos da Mensagem.Mensagem.

Fernando Pessoa acreditava que, através dos seus textos, poderia

Fernando Pessoa acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências edespertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza outrora vivenciada. Espera poder contribuir parar o reerguer fazê-las acreditar e desejar a grandeza outrora vivenciada. Espera poder contribuir parar o reerguer da Pátria, relembrando, nas 1ª e 2ª partes da Mensagem, o passado histórico grandioso e da Pátria, relembrando, nas 1ª e 2ª partes da Mensagem, o passado histórico grandioso e anunciando a vinda do Encoberto (3ª parte), na figura mítica de D. Sebastião, que anunciaria o anunciando a vinda do Encoberto (3ª parte), na figura mítica de D. Sebastião, que anunciaria o advento do Quinto Império.

advento do Quinto Império.

Preconizava para Portugal a construção de um novo império, espiritual, capaz de elevar os Preconizava para Portugal a construção de um novo império, espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora ocuparam a

Portugueses ao lugar de destaque que outrora ocuparam a nível mundial. Esta projecção ficar-se-ia anível mundial. Esta projecção ficar-se-ia a dever a um “poeta ou poetas supremos” que, pela sua genialidade, colocariam Portugal, um país dever a um “poeta ou poetas supremos” que, pela sua genialidade, colocariam Portugal, um país culturalmente evoluído, como líder de todos os outros.

culturalmente evoluído, como líder de todos os outros.

Na realidade, Fernando Pessoa antevê a possibilidade da supremacia de Portugal, não em Na realidade, Fernando Pessoa antevê a possibilidade da supremacia de Portugal, não em termos materiais, como no tempo de Camões, mas em

termos materiais, como no tempo de Camões, mas em termos espirituais É nesta nova concepção determos espirituais É nesta nova concepção de Império que assenta o carácter simbólico e mítico que enforma a epopeia pessoana e que, Império que assenta o carácter simbólico e mítico que enforma a epopeia pessoana e que, inevitavelmente

inevitavelmente, destacará a figura , destacará a figura deste superpoeta, em detrimento da de Camões.deste superpoeta, em detrimento da de Camões.

O Sebastianismo O Sebastianismo

O sebastianismo é um mito nacional de tipo

O sebastianismo é um mito nacional de tipo religioso.religioso. «D. Sebastião voltará, diz a lenda, por

«D. Sebastião voltará, diz a lenda, por uma manhã de névoa, no seu uma manhã de névoa, no seu cavalo branco...»cavalo branco...» O sebastianismo, fundamental

O sebastianismo, fundamentalmente, o que é? É mente, o que é? É um movimento religioso, feito em volta duma figuraum movimento religioso, feito em volta duma figura nacional, no sentido dum mito. No sentido simbólico D. Sebastião é Portugal: Portugal que perdeu a nacional, no sentido dum mito. No sentido simbólico D. Sebastião é Portugal: Portugal que perdeu a sua grandeza com D. Sebastião, e que só voltará a tê-la com o regresso dele, regresso simbólico ( sua grandeza com D. Sebastião, e que só voltará a tê-la com o regresso dele, regresso simbólico ( como, por um mistério espantoso e divino, a própria vida dele fora simbólica ( mas em que não é como, por um mistério espantoso e divino, a própria vida dele fora simbólica ( mas em que não é absurdo confiar. D. Sebastião voltará, diz a lenda, por uma manhã de névoa, no seu cavalo branco, absurdo confiar. D. Sebastião voltará, diz a lenda, por uma manhã de névoa, no seu cavalo branco, vindo da ilha longínqua onde esteve esperando a hora da volta. A manhã de névoa indica, vindo da ilha longínqua onde esteve esperando a hora da volta. A manhã de névoa indica, evidentemente, um renascimento anuviado por elementos de decadência, por restos da Noite onde evidentemente, um renascimento anuviado por elementos de decadência, por restos da Noite onde viveu a

viveu a nacionalidade.nacionalidade.

 D. Sebastião não morreu porque os símbolos não morrem. O desaparecimento físico de D.D. Sebastião não morreu porque os símbolos não morrem. O desaparecimento físico de D. Sebastião proporciona a libertação da alma

Sebastião proporciona a libertação da alma portuguesa.portuguesa.

 D. Sebastião aparece cinco vezes explicitamente naD. Sebastião aparece cinco vezes explicitamente na MensagemMensagem (uma vez nas Quinas, outra(uma vez nas Quinas, outra

em Mar português e três vezes nos Símbolos).

em Mar português e três vezes nos Símbolos).

Aliás, pode mesmo dizer-se que o

Aliás, pode mesmo dizer-se que o Brasão e o Mar português são Brasão e o Mar português são a preparação para a chegadaa preparação para a chegada do Encoberto, na sua qualidade de Messias de Portugal.

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D. Sebastião faz uma espécie de elogio da loucura (condenação da matéria e sublimação do espírito) A vinda do Encoberto era apenas por ele encarada «no seu alto sentido simbólico» e não literal, como faziam os Sebastianistas tradicionais, de quem toma distância, e que esse Desejado não seria mais do que um «estimulador de almas

O Quinto Império era afinal «o Império Português, subordinado ao espírito definido pela língua portuguesa

O Quinto Império será «cultural», ou não será. E se diz, como Vieira, que o Império será português, isso significa que Portugal desempenhará um papel determinante na difusão dessa ideia apolínea e órfica do homem que toda a sua obra proclama.

Os Símbolos e os Mitos

 Estrutura simbólica de Mensagem

Mensagem é a expressão poética dos mitos – não se trata de uma narrativa sobre os grandes feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim, de um cantar de um Império de teor espiritual, da construção de uma supra-nação, através da ligação ocidente/oriente: não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que mais importam; são sim as suas atitudes e o que eles representam, sendo o assunto de Mensagem a essência de Portugal e a sua missão a

cumprir. Daí se interpretem as figuras dos reis nos poemas de Mensagem como heróis mas mais que isso, como símbolos, de diferentes significados.

O três é um número que exprime a ordem intelectual e espiritual (o cosmos no homem). O 3 é a soma do um (céu) e do dois (a Terra). Trata-se da manifestação da divindade, é a manifestação da perfeição, da totalidade.

O sete assume também uma extrema relevância, senão vejamos, sete foram os Castelos que D. Afonso III conquistou aos mouros, sete são os poemas de Os Castelos .

O sete corresponde aos 7 dias da criação, assim como as 7 figuras evocadas são também as fundadoras da nacionalidade (Ulisses fundou Lisboa, Viriato uma nação, Conde D. Henrique um Condado, D. Dinis uma cultura, D. João uma dinastia, D. Tareja e D. Filipa fundaram duas dinastias). Pessoa manteve na sua obra a ideia do número sete como número da criação. O sete é o número da perfeição dinâmica. É o número de um ciclo completo.

O  cinco  está ligado às chagas de Cristo, às Quinas e aos cinco impérios sonhados por Nabucodonosar. Os quatro impérios já havidos foram a Grécia, roma, a Cristandade e a Europa pós-renascentista. Se o 5º império fosse material, Pessoa não teria dúvidas em apontar Inglaterra, mas como o 5º Império é o do ser, da essência, do imaterial, o poeta não tem dúvidas em apontar Portugal.

Também os nomes  dados a cada parte e alguns nomes referidos nos poemas são também simbólicos:

• Brasão:o passado inalterável 

• Campo:espaço de vida de de acção

• Castelo:refúgio e segurança

• Quinas:chagas de Cristo –  dimensão espiritual 

• Coroa: perfeição e poder 

• Timbre:marca –  sagração do herói para missão transcendente

• Grifo:terra e céu –  criação de uma obra terrestre e celeste

• Mar:vida e morte; ponto de partida; reflexo do céu; princípio masculino

• Terra:casa do homem; espelho do céu; paraíso mítico; princípio feminino

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• Mostrengo:o desconhecido; as lendas do mar; os obstáculos a vencer

• Nau:viagem; iniciação; aquisição de conhecimentos

• Ilha:refúgio espiritual; espaço de conquista; recompensa do sacrifício

• Noite:morte; tempo de inércia; tempo de germinação; certeza da vida

• Manhã:luz; felicidade; vida; o novo mundo

Nevoeiro:indefinição; promessa de vida; força criadora; novo dia

Síntese Temática da “Mensagem”

• O mito é tudo: sem ele a realidade não existe, pois é dele que ela parte

• Deus é o agente da história; ou seja, é ele quem tem as vontades; nós somos os seus instrumentos que realizam a sua vontade. É assim que a obra nasce e se atinge a perfeição • O sonho é aquilo que dá vida ao homem: sem ele a vida não tem sentido e limita-se à

mediocridade

• A verdadeira grandeza está na alma; É através do sonho e da vontade de lutar que se alcança a glória

• Portugal encontra-se num estado de decadência. Por isso, é necessário voltar a sonhar, voltar a arriscar, de modo a que se possa construir um outro império, um império que não se destrói, por não ser material: é o Quinto Império, o Império Civilizacional-Espiritual.

• D.Sebastião, além de ser o exemplo a seguir(pois deixa-se levar pela loucura/sonho), é

também visto como o salvador, aquele que trará de novo a glória ao povo português e que virá completar o sonho, cumprindo-se assim Portugal.

A estrutura tripartida da “Mensagem”

1ª Parte – BRASÃO: o princípio da nacionalidade (em que fundadores e antepassados criaram a pátria)

 “Ulisses” – símbolo da renovação dos mitos: Ulisses de facto não existiu mas bastou a sua lenda para nos inspirar. A lenda, ao penetrar na realidade, faz o milagre de tornar a vida “cá em baixo” insignificante. É irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou não existência histórica! (“Sem existir nos bastou/Por não ter vindo foi vindo/E nos criou.”). O que

importa é o que elas representam. Daí serem figuras incorpóreas, que servem para ilustrar o ideal de ser português.

 “D. Dinis” – símbolo da importância da poesia na construção do Mundo: Pessoa vê D. Dinis como o rei capaz de antever o futuro e interpreta isso através das suas acções  – ele plantou o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da “voz da terra ansiando pelo mar”, ou seja, do desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade.

 “D. Sebastião, rei de Portugal” – símbolo da loucura audaciosa e aventureira: o Homem sem a loucura não é nada; é simplesmente uma besta que nasce, procria e morre, sem viver! Ora, D.

Sebastião, apesar de ter falhado o empreendimento épico, FOI em frente, e morreu por uma ideia de grandeza, e essa é a ideia que deve persistir, mesmo após sua morte (“Ficou meu ser que houve, não o que há./Minha loucura, outros que a tomem/Com o que nela ia.”)

2ª Parte – MAR PORTUGUÊS: a realização através do mar (em que heróis empossados da grande missão de descobrir foram construtores do grande destino da Nação)

 “O Infante” – símbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele reúne todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermediário entre os homens e Deus (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”)

 “Mar Português” – símbolo do sofrimento por que passaram todos os portugueses: a

construção de uma supra-nação, de uma Nação mítica implica o sacrifício do povo (“Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal!”)

 “O Mostrengo” – símbolo dos obstáculos, dos perigos e dos medos que os portugueses

tiveram que enfrentar para realizar o seu sonho: revoltado por alguém usurpar os se us domínios, “O Mostrengo” é uma alegoria do medo, que tenta impedir os portugueses de completarem o seu

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destino (“Quem é que ousou entrar/Nas minhas cavernas que não desvendo,/Meus tectos negros do fim do mundo?”)

3ª Parte – O ENCOBERTO: a morte ou fim das energias latentes (é o novo ciclo que se anuncia que trará a regeneração e instaurará um novo tempo)

 “O Quinto Império” – símbolo da inquietação necessária ao progresso, assim como o sonho: não se pode ficar sentado à espera que as coisas aconteçam; há que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro; há que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se é! (“Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/Sem um sonho, no erguer da asa.../Triste de quem é feliz!”) O Quinto Império de Pessoa é a mística certeza do vir a ser pela lição do ter sido, o Portugal-espírito, ente de cultura e esperança, tanto mais forte quanto a hora da decadência a estimula.

 “Nevoeiro” – símbolo da nossa confusão, do estado caótico em que nos encontramos, tanto como um Estado, como emocionalmente, mentalmente, etc.: algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltarmos a ser o que éramos (“(Que ânsia distante perto chora?)”), mas não temos os meios (“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra...”)

O carácter épico-lírico - Lírico  Forma fragmentária  Atitude introspectiva  A interiorização  O simbolismo (3ªparte) - Épico:

 O tom heróico (“O Monstrengo”)

 A evocação da história Trágico-Marítima (2ªparte)´ “Mensagem” vs. “Os Lusíadas”

Semelhanças: concepção mística e missionária/missionante da história portuguesa, preocupação arquitectónica: ambas obedecem a um plano cuidadosamente elaborado, o reverso da vitória são as lágrimas.

Diferenças:

Os Lusíadas foram compostos no início do processo de dissolução do império e Mensagem publicada na fase terminal de dissolução do império;

Os Lusíadas têm um carácter predominantemente narrativo e pouco abstractizante, enquanto que Mensagem tem um carácter menos narrativo e mais interpretativo e cerebral;

no primeiro o Adamastor é sinónimo de lágrimas e mortes, sofrimento e audácia que as navegações exigiram, enquanto que no segundo simboliza os medos e terrores vencidos pela ousadia;

nos Lusíadas o tema é o real, o histórico, o factual (os acontecimentos, os lugares), em Mensagem o tema é a essência de Portugal e a necessidade de cumprir uma missão;

para Camões os deuses olímpicos regem os acidentes e as peripécias do real quotidiano, para Pessoa os deuses são superados pelo destino, que é força abstracta e inexorável;

nos Lusíadas os heróis são pessoas com limitações próprias da condição humana, mesmo se ajudados nos sonhos pela intervenção divina cristã ou pelos deuses do Olimpo, em Mensagem os heróis são mitificados e encarnam valores simbólicos, assumindo proporções gigantescas;

Lusíadas: narrativa comentada da história de Portugal, Mensagem: metafísica do ser português; Lusíadas: heróis e mitos que narram as grandezas passadas. Mensagem: heróis e mitos que exaltam as façanhas do passado em função de um desesperado apelo para grandezas futuras;

A comparação entre "Os Lusíadas" e a "Mensagem" impõe-se pelo próprio facto de esta ser, a alguns séculos de distância e num tempo de decadência - o novo mito de pátria portuguesa.

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Os Lusíadas Mensagem

 Homens reais com

dimensões heróicas mas verosímeis;

 Heróis de carne e osso, bravos mas nunca infaliveís;

 Heróis mitificados, desincarnados, carregando dimensões simbólicas

 Brasão TerraNun’Álvares Pereira

 Mar Português Mar Infante D.

Henrique

 O encoberto Ar D. Sebastião

(de uma terra de dimensões conhecidas parte-se à descoberta do mar e constrói-se um império. Depois o império se desfez e o sonhos e o Encoberto são a raiz a esperança de um Quinto Império)

 Herói colectivo: o povo português

 Virtudes e manhas

 Heróis individuais exemplares (símbolos)

 D. Sebastião (rei menino) a quem Os Lusíadas são dedicados;

“tenro e novo ramo” 

 D. Sebastião mito “loucura sadia” 

Sonho, ambição

(repare-se que d. Sebastião é a última figura da história a ser mencionada, como se quisesse dizer que Portugal mergulhou, depois do seu desaparecimento num longo período de letargia)

 Celebração do passado  – história

 Glorificação do futuro – símbolos

 Messianismo a mola real de Portugal

  Narrativa comentada da

história de Portugal (cf. Jorge

Borges de Macedo)

Teoria da história de Portugal

 Metafísica do Ser português

 Três mitos basilares: o Adamastor o Velho do restelo o A ilha dos amores

 Tudo é mito

“o mito é o nada que é tudo” 

 acção  contemplação

 altiva rejeição do real

 império feito e acabado  Portugal indefinido, atemporal

  Saudade profética saudades do futuro

 Façanhas dos barões assinalados

 Matéria dos sonhos

 Temporalidade Atemporalidade mística

 Síntese pagão e cristão  Síntese total (sincretismo religioso)

 D. Sebastião como enviado de Deus para alargar a Cristandade

 Portugal como instrumento de Deus (os heróis cumprem um destino que os ultrapassa)

 cabeça da Europa Rosto da Europa que aguarda expectante o que virá

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O projecto da Mensagem é o de superar o carácter obsessivo e nacional d’Os Lusíadas no imaginário mítico-poético nacional. Os Lusíadas conquistaram o título de “evangelho nacional” e foram elevados à categoria de símbolo nacional. A Mensagem logo no seu título aponta para um novo evangelho, num sentido místico, ideia de missão e de vocação universal. O próprio título indicia uma revelação, uma iniciação.

Pessoa previa para breve o aparecimento do Camões” que anunciará o “Supra-Portugal de amanhã”, a “busca de uma Índia Nova”, o tal “porto sempre por achar”.

A Mensagem entrelaça-se, através de um complexo processo intertextual, com Os Lusíadas, que por sua vez são já um reflexo intertextual da Eneida e da Odisseia. Estabelece-se portanto um diálogo que perpassa múltiplos tempos históricos. Pessoa transforma-se num arquitecto que edifica uma obra nova, com moderbnidade, mas também com a herança da memória.

Em Camões memória e esperança estão no mesmo plano. Em Pessoa, o objecto da esperança transferiu-se para o sonho, daí a diferente concepção de heroísmo.

Pessoa identifica-se com os heróis da Mensagem ou neles se desdobra num processo lírico-dramático. O amor da pátria converte-se numa atitude metafísica, definivel pela decepção do real, por uma loucura consciente. Revivendo a fé no Quinto Império, Pessoa reinventou um razão de ser,

um destino para fugir a um quotidiano

absurdo.

O assunto da Mensagem  é a essência de Portugal e a sua missão por cumprir. Portugal é reduzido a um pensamento que descarna e espectraliza as personagens da história nacional.

A Mensagem  é o sonho de um império sem fronteiras nem ocaso. A viagem real é metamorfoseada na busca do “porto sempre por achar”.

“A Mensagem  comparada com Os Lusíadas é um passo em frente. Enquanto Camões, em Os Lusíadas , conseguiu fazer a síntrese entre o mundo pagão e o mundo cristão, Pessoa na Mensagem conseguiu ir mais longe estabelecendo uma harmonia total, perfeita, entre o mundo pagão, o mundo cristão e o mundo esotérico.” 

Quadro-Síntese

Temáticas

Estilísticas

Nível Fónico Nível Morfossintático e semântico - Nacionalismo mítico - Sebastianismo e saudosismo - Simbolismo templário e rosacruciano - A ideia de predestinação nacional

- A mitificação dos heróis - Intuição de um destino

colectivo

- Ocultismo procura de

uma correspondência entre o visível e o invisível - musicalidade: - Rima - Ritmo - Aliteração - Versificação egular e tradicional: ariedade atrófica, com

redomínio da quadra e da uintilha - Encavalgamento - expressão épico-lírica - linguagem metafórica, aforística, solene, simbólica - paradoxo, antítese e oxímoro - hiperbarto

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Heterónimos

Comparação entre Alberto Caeiro e Ricardo Reis: A nível de conteúdo estes dois heterónimos aproxima-se principalmente pelo modo como tentam encarar a vida: tanto Caeiro como Reis, além de considerarem que a felicidade só se alcança através de uma vida serena e em comunhão com a natureza (aurea mediocritas), defendem a vivência plena do presente, sem preocupação nem com o passado nem com o futuro (carpe diem, desfrutar de cada momento).

No entanto, pode verificar-se que são grandes as diferenças entre eles. Enquanto que Reis é caracterizado pela intelectualização das emoções e pelo medo perante a morte, Caeiro é exactamente o poeta das sensações, considerando o pensamento como uma entrave à observação da natureza, e é o poeta que não se preocupa com a passagem do tempo. Outra grande diferença é que Caeiro acredita (num só) Deus enquanto elemento da natureza (tudo é divino), ao passo que Ricardo Reis crê em vários deuses pois identifica-se com a civilização grega.

A nível formal estes dois heterónimos são o oposto: de um lado temos Caeiro com a sua linguagem simples e familiar, a sua despreocupação a nível fónico, a sua irregularidade estrófica, métrica e rítmica e as suas frases essencialmente coordenadas; e, de outro, temos RR com toda a sua complexidade – estrofes e métrica regulares, predomínio da subordinação e linguagem erudita, cheia de simbolismos clássicos.

Comparação entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos: Não é de estranhar que estes dois poetas não tenham muito em comum, uma vez que um é o poeta natural e pacífico, e o outro é o poeta da modernidade, da técnica e é caracterizado por um certa violência e agressividade. No entanto, apesar destes contrastes, têm alguns pontos em comum, considerando a 2ªfase de A. Campos: ambos são poeta solitários, rejeitam a subjectividade da lírica tradicional, tentando ser objectivos na observação do real, e neles predominam as sensações visuais. As maiores divergências, a nível temático, verificam-se na concepção do tempo (para Caeiro só existe o presente, para Campos o presente é a concentração de todos os tempos), no objecto da sua poesia (Caeiro exulta as qualidades da natureza e Campos, na 2ªfase, exulta as da civilização moderna), e na atitude perante a vida (enquanto Caeiro é feliz, Campos  – na 3ªfase  – é um homem sem identidade e cansado de viver, pois a vida nunca lhe trouxe nada de bom).

A nível formal, apesar de ambos se caracterizarem pela irregularidade estrófica, métrica e rítmica, verifica-se que, enquanto Caeiro utiliza uma linguagem simples e com poucos artifícios, Campos distingue-se pelo recurso a um grande número de figuras de estilo (que tornam a compreensão da mensagem mais difícil), e por uma exuberância que choca evidentemente com a simplicidade e serenidade dos versos do mestre Caeiro.

Comparação entre Álvaro de Campos e Ricardo Reis: Álvaro de Campos foi um poeta que, pelo seu estilo eufórico e, mais tarde, disfórico, se afastou dos outros heterónimos, já que estes procuravam a serenidade, que Campos também procurava, de uma forma mais tranquila. Assim, são poucas as semelhanças entre RR e Campos: tanto Canpos (na 3ªfase) como Reis se angustiam perante a efemeridade da vida, consideram a infância como momento de maior felicidade e aceitam o seu destino (conformismo). No entanto, neste último ponto, os motivos para essa aceitação são diferentes: enquanto que Reis o aceita pois considera que essa é a melhor forma de ser feliz, Campos fá-lo numa atitude de resignação perante a vida, não deixando de se sentir infeliz por aquilo que ela lhe reservou. Aquilo que mais os distancia é a sua relação com a realidade  – campos vive em eterno conflito com a humanidade e reis “dá-lhe conselhos” (através da 1ªpessoa do plural no imperativo) – e a solidão que caracteriza campos na 3ªfase.

A nível formal tanto um como outro apresentam versos brancos, embora Reis seja regular a nível estrófico e métrico. Pode verificar-se que Álvaro de campos, na 2ªfase, utiliza a ode como forma de expressão, tal como Ricardo Reis. Nestes dos heterónimos pode encontrar-se grande riqueza a nível estilísitco, nomeadamente no que respeita `assonância e aliteração, e uma utilização

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frequente do modo imperativo. No entanto,

enquanto que RR submete a expressão ao conteúdo, Campos valoriza mais a expressividade dos seus poemas, sendo que esta acaba por se sobrepôr ao seu conteúdo – ou acabar por resumir o último. Características comuns aos três: encontram-se, nos heterónimos, dois factores comuns a todos eles. Primeiro, a descoberta de um equilíbrio entre o sentir e o pensar: Caeiro encontra-se através da natureza; reis encontra-se através do equilíbrio entre a dor e o prazer; e campos não se encontra. Em segundo lugar, verifica-se que todos associam à infância o momento em que foram verdadeiramente felizes  –  porque ingénuos e inocentes. No entanto, enquanto que reis e Caeiro acreditam poder voltar a ser felizes como foram em criança, campos considera essa felicidade perdida, pois só é feliz se for inconsciente, o que só aconteceu na sua infância, na pré-consciência.

Alberto Caeiro

Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea, pois vive no presente, não querendo saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo visuais, e porque recusa a introspecção, a subjectividade, sendo o poeta do real objectivo.

Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado.

 Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que

apresenta): vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;

 Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver)  Relação de harmonia com a Natureza (poeta da natureza)

 Rejeita o pensamento, os sentimentos, e a linguagem porque desvirtuam a realidade (a

nostalgia, o anseio, o receio são emoções que perturbam a nitidez da visão de que depende a clareza de espírito) Características da escrita - Verso livre - Métrica irregular - Pobreza lexical - Adjectivação objectiva - Pontuação lógica - Predomínio da coordenação - Comparações simples

- Características orais: vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases

interrogativas, recursos a perguntas e respostas, reticências

- Pouca subordinação

- Ausência de preocupações estilísticas

- Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: pouca adjectivação, predomínio de

substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo ou no gerúndio

- Polissíndeto

- Frases incorrectas

Objectivismo

- apagamento do sujeito - atitude antilírica

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- integração e comunhão com a Natureza - poeta deambulatório

Sensacionismo

- poeta das sensações tal como elas são - poeta do olhar

- predomínio das sensações visuais e das auditivas

Anti-metafísico

- recusa do pensamento - recusa do mistério - recusa do misticismo

Panteísmo Naturalista

- tudo é Deus, as coisas são divinas - paganismo

- desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual - contradição entre “teoria” e a “prática”

Ideologia da poesia de Caeiro

- Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea e de impressões visuais,

sobretudo

- Recusa a introspecção e a subjectividade, sendo poeta do real objectivo.

- Caeiro “canta” o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer

coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno e não fragmentado.

- Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver) - Relação de harmonia com a natureza 8poeta da natureza)

- Rejeita o pensamento e a linguagem porque alteram a realidade - Inocência e constante novidade das coisas

- Mestre de pessoa e dos outros heterónimos - Elimina a dor de pensar de Pessoa

- Ele não quer pensar, mas não consegue evitar - Escreve intuitivamente

- Para ele a natureza é para usufruir não para pensar - Desejo de despersonificação (de fusão com a natureza) - Valorização das sensações

- Preocupação apenas com o presente - é anti-religião - é anti-metafísica - é anti-filosofia Características estilísticas - Verso livre - Métrica irregular

- Despreocupação a nível fónico

- Pobreza lexical (linguagem simples, familiar) - Adjectivação objectiva

- Pontuação lógica

- Predomínio do presente do indicativo - Frases simples

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- Predomínio da coordenação - Comparações simples

- Raras metáforas

Biografia

A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro *nasceu em Lisboa (1889);

*morreu tuberculoso em 1915;

*viveu quase toda a sua vida no campo; *só teve instrução primária;

*não teve educação, nem profissão; *escreve por inspiração;

Filosofia de Caeiro: *é anti-religião; *é anti-metafísica; *é anti-filosofia; Fisicamente: *estatura média; *frágil;

*louro, quase sem cor; *olhos azuis; *cara rapada; Quadro-Síntese: Temáticas Estilísticas - Objectivismo - Apagamento do sujeito

- Preferência pela exterioridade - Integração e comunhão com a

natureza

- Sensacionismo: predomínio das

sensações visuais ( o olhar) e auditivas

- Recusa do pensamento, do

metafísico, do mistério, da filosofia e do misticismo.

- A ruralidade e o deambulismo - O paganismo

- A desvalorização do tempo: “Não

quero incluir o tempo no meu esquema”

- Verso livre, portanto avesso a

quaisquer esquenas métricos, rimáticos ou melódicos

- Prosaísmo da linguagem (simples e

familiar)

- Raras assonâncias, aliterações ou

onomatopeias

- Pobreza lexical

- Anáfora, anadiplose, paralelismo,

assíndeto, polissíndeto, tautologia e comparação (figura de estilo

predominante)

- Adjectivação pobre, descritiva e

objectiva

- Raras metáforas, metonímias e

sinestesias

- Preponderância do Presente do

Indicativo (por traduzir realidade)

- Estilo discursivo - Marcas de oralidade

- Predomínio da coordenação e das

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Ricardo Reis

Biografia:

- Nasce a 1887 no Porto

- É um pouco baixo, mais seco e mais forte que Caeiro. Tem a cara rapada e é moreno mate - Surge como produto do pensamento abstracto de Pessoa

- Frequentou um colégio Jesuíta e estudou medicina; é latinista e semi helenista por auto  –

didactismo

- Habita no Brasil desde 1919

Características de escrita:

- Exagerado

- Purismo da língua - Pagão

- Disciplinado mentalmente

- O Verso não tem rima, porque se os

pensamentos são elevados as palavras também fluem superiormente

- Todos os seus poemas são Odes

-Recurso à assonância, à rima interior e à

aliteração

-Uso frequente do gerúndio e do imperativo -Uso de latinismos

-Metáforas, eufemismos, comparações, imagens -Importância dada ao ritmo

-Estilo construído com muito rigor e muito denso

(Ode) Ode:

- Versos decassílabos e hexassílabos (geralmente alternados) - Linguagem erudita (próxima do latim, muito cuidada)

- Hipérbato (desorganização dos elementos da frase) - Transporte

- Tom Elevado

Filosofia:

*”epicurista triste”- (Carpe Diem)- busca do prazer moderado a da ataraxia;

*busca do prazer relativo;

*estoicismo – aceitação calma e serena da ordem das coisas;

*moralista – pretende levar os outros a adoptar a sua filosofia de vida; *intelectualiza as emoções;

*temática da miséria da condição humana do FATUM (destino), da velhice, da irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida, do tempo;

*espirito grave , ansioso de perfeição;

*aceitação do Fado, da ordem natural das coisas;

A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem”, a sabedoria consiste em saber -se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos Às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.

Aceita a relatividade e fugacidade das coisas. Intelectualiza as emoções.

Temática da miséria da condição humana do destino, da velhice, da irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida, do tempo.

Espírito grave, ansioso de perfeição. Neoclassicismo

- poesia construída com base em ideias elevada - Odes (forma métrica por excelência

Paganismo

- crença nos deuses

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Horacianismo

- carpe diem: vive o momento

- aurea mediocritas: a felicidade possível no sossego do campo (proximidade de Caeiro) - Culto do Belo, como forma de superar a efermeridade dos bens e a miséria da vida - Intelectualização das emoções

- Medo da morte

- Quase ausência de erotismo, em contraste com o seu mestre Horácio

Estoicismo

- aceitação das leis do destino (“... a vida/ passa e não fica, nada deixa e nunca

regressa.”)

- indiferença face às paixões e à dor - abdicação de lutar

- autodisciplina

- Considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com

as leis do destino que regem o mundo permanecendo indiferente aos males e ás paixões, que são a perturbação da razão

Classicismo erudito:

- Precisão verbal

- Recurso à mitologia (crença e culto aos deuses) - Princípio de moral e da estética epicurista e estóica - Tranquila resignação ao destino

Epicurismo:

- Prazer do momento

- Caminho da felicidade, alcançada pela indiferença à perturbação - Não cede aos impulsos dos instintos

- Ataraxia (tranquilidade sem qualquer perturbação) - Calma, ou pelo menos a sua ilusão

- Ideal ético de apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade - Busca da felicidade relativa

- moderação nos prazeres - fuga à dor

- ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)

Reis […] manifesta uma aguda mas estóica sensibilidade em r elação ao tema da passagem do tempo.

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar -te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:

- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;

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- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo); - Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;

- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).

Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.

A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.

Quadro-Síntese:

Temáticas Estilísticas

- O Epicurismo, busca de uma felicidade relativa,

sem desprazer ou dor, através de um estado de ataraxia, isto é, uma certa tranquilidade ou indiferença capaz de evitar a perturbação

- O Estoicismo, crença de que a felicidade só é

possível se atingirmos a apatia, isto é, a aceitação das leis do destino e da indiferença face às paixões a aos males

- O Paganismo

- A passagem inelutável do tempo

- A precariedade da vida e a fatalidade da Morte - A moderação dos desejos e dos prazeres

- O culto do belo, como forma de superar a

transitoriedade da vida e dos bens terrenos

- As ameaças do Fatum (entidade implacável

que oprime deuses e homens), da Velhice e da Morte

- O Elogio da vida rústica ( a “aurea mediocritas”

de Horácio): a felicidade só é possível no sossego d campo

- O gozo do momento que passa, o “carpe

diem” horaciano

- A tentativa de iludi o sofrimento resultante da

consciência aguda da precariedade da vida, do fluir contínuo do tempo e da fatalidade da morte, através do sorriso, do vinho e das flores.

- A intelectualização das emoções

- A intemporalidade das suas preocupações: a

angústia do homem perante a brevidade da vida e a inevitabilidade da Morte e a interminável busca de estratégias de limitação do sofrimento da vida humana

- O autodomínio e a contenção dos sentimentos - A quase ausência de erotismo, de amor

autêntico

- Submissão da expressão ao conteúdo, às

ideias

- A complexidade da síntasxe alatinada:

o A antecipação do complemento directo ao verbo

o A inesperada ordem das palavras que nos obriga a uma leitura silabada

- O uso de latinismo: atro, ledo, ínfero,

inscientes, volucres, vila, etc

- A frequência da inversão (anástrofe e

hipérbato) e da elipse

- As perífrases que remetem para um

contexto religioso e mitológico grego ou laitno

- Estilo denso e rigorosamente elaborado. - A preferência pela ode, com estrofes

regulares em verso decassílabo, alternando ou não com o hexassílabo

- Uso frequente do gerúndio

- Selecção cuidada de fonemas ou vocábulos

sugestivos das ideias que pretende exprimir (a elevação, a nobreza, o classicismo da linguagem poética)

- Verso branco ou solto, recorrendo embora,

com frequência, à assonância, à aliteração e à rima interior

- Uso frequente do imperativo ( de acordo

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Álvaro de Campos

Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.

Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o

que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.

Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.

Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é figurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.

Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em  poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.

Biografia

 Nasce em Tavira, em 1890

 Estuda engenharia mecânica e naval na Escócia

 “Filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da

sensação a realidade da vida e a base da arte.”

 “Sentir tudo de todas as maneiras”  Vanguardista e cosmopolita

 Único heterónimo que comparticipa da vida extra literária de Fernando Pessoa heterónimo

Fases

Primeira – decadentismo (1914)

Eprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”); o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Com rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.

 Tédio, cansaço, necessidade de novas sensações  Falta de um sentido para a vida

 Romantismo e simbolismo  Nostalgia

Referências

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