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O ressurgimento da China à luz da hegemonia norte-americana

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Academic year: 2017

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PRÓ-REITORIA

DE

PÓS-GRADUAÇÃO

E

PESQUISA

PROGRAMA

DE

PÓS-GRADUAÇÃO

STRICTO

SENSU

EM

DIREITO

O RESSURGIMENTO DA CHINA À LUZ DA

HEGEMONIA NORTE-AMERICANA

Autora: Denise Cousin Souza Knewitz

Orientadora: Prof. Dra. Leila

Maria Da’ Juda

Bijos

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DENISE COUSIN SOUZA KNEWITZ

O RESSURGIMENTO DA CHINA À LUZ DA HEGEMONIA NORTE-AMERICANA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Econômico, Financeiro e Tributário da

Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito.

Orientadora: Dra. Leila Maria Da’ Juda Bijos

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3

K68c Knewitz, Denise Cousin Souza.

O ressurgimento da China à luz da hegemonia norte-americana. / Denise Cousin Souza Knewitz – 2013.

174 f; 30 cm

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Profa. Dra. Leila Maria Da’ Juda Bijos

1. EUA: Origens da Soberania e Imperialismo. 2. China: Perspectivas e Desafios. 3. EUA e China: Uma Possível Disputa pela Hegemonia Internacional 4. Direito Internacional. I. Bijos, Leila Maria Da’ Juda, orient. II. Título.

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Dissertação de autoria de Denise Cousin Souza Knewitz, intitulada “O RESSURGIMENTO DA CHINA À LUZ DA HEGEMONIA NORTE-AMERICANA”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Universidade Católica de Brasília, em 21 de novembro de 2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

_______________________________________________ Professora Dra. Leila Maria Da’Juda Bijos

Orientadora

Universidade Católica de Brasília – UCB

______________________________________________ Professor Dr. Maurin Falcão

Universidade Católica de Brasília – UCB

______________________________________________ Professor Dr. Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

Centro Universitário de Brasília – UniCEUB

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família, em especial ao meu esposo Márcio e aos meus filhos Murilo e Caio, pela compreensão nos momentos de ausência, na certeza da importância deste trabalho.

Agradeço à Professora Dra. Leila Bijos, por ter me orientado nessa jornada, com palavras de incentivo e sempre disposta a corrigir e sugerir, demonstrando seu grande conhecimento, sendo um exemplo de sabedoria, determinação e, sobretudo, ensinando como uma verdadeira “mestre”, que se dispõe a participar do aprendizado de um aluno, colaborando para o seu crescimento.

Agradeço aos professores do mestrado pela dedicação ao meio acadêmico, especialmente ao Professor Dr. Wilson Almeida, pelo incentivo à pesquisa e por sua sempre gentil disposição em contribuir para o aperfeiçoamento de seus alunos.

Agradeço a todos aqueles que estiveram presentes e que, de alguma maneira, incentivaram, colaboraram e deram apoio nessa jornada de estudos, em especial aos amigos do mestrado Álvaro Rossi, Danuta Coelho, Graziela Reis, Graziele Ribeiro, Lorena Bezerra, Naila Fortes e Raquel Oliveira, que tornaram os dias de aula ainda mais agradáveis.

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Impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca que prefere viver no mundo como está em vez de usar o poder que tem para mudá-lo. Impossível não é um fato. É uma opinião. Impossível não é uma declaração. É um desafio. Impossível é hipotético. Impossível é temporário.

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RESUMO

KNEWITZ, Denise Cousin Souza. O ressurgimento da China à luz da hegemonia norte-americana. 174 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013.

A ascensão da China à condição de superpotência mundial é um acontecimento de grande relevância para as relações internacionais contemporâneas. Levando-se em consideração que a China foi a maior economia mundial durante a maior parte dos últimos três mil anos, deixando de estar entre as nações mais avançadas apenas durante um período de cem a cento e cinquenta anos, seria mais adequado referir-se ao ressurgimento da China como potência. Dessa maneira, é possível afirmar que o ressurgimento chinês pode afetar significativamente a dinâmica das relações internacionais. Para realizar uma abordagem sistêmica dos fatores que propiciaram a ascensão chinesa e verificar se estes, por sua vez, são capazes de permitir que o país se torne realmente uma superpotência, primeiramente é essencial a análise da atual potência hegemônica – os Estados Unidos da América –, verificando quais os aspectos que poderiam possibilitar essa transição de poder no sistema internacional. A hegemonia norte-americana foi conquistada no decorrer da Segunda Guerra Mundial em virtude do enfraquecimento das superpotências europeias. O crescimento da economia chinesa e o papel que desempenha nas relações internacionais mudaram drasticamente desde que Deng Xiaoping desenvolveu um processo de reformas políticas na década de 1970. A partir de então, sua economia sofreu uma das mais significativas evoluções da história recente. Em razão de sua magnitude em termos de área geográfica e população, a China tem potencial para se tornar um ator econômico global de primeira ordem. Sendo assim, seria possível afirmar que a ordem internacional continuará sendo unipolar? Ou estaremos diante de um sistema multipolar ou unimultipolar? A China ou os EUA poderiam, no contexto atual, liderar mundialmente de forma isolada? Não restam dúvidas de que os EUA e a Chinaapresentam características individuais que poderiam identificar a manutenção ou o ressurgimento de uma superpotência hegemônica. No entanto, estamos diante de um sistema que provavelmente não vai mais admitir um único país na liderança, pois a formação de blocos econômicos regionais propiciou o surgimento de alianças que se tornaram imprescindíveis para as relações internacionais.

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ABSTRACT

China's rise to the status of world power is an event of great relevance to contemporary international relations. Taking into consideration that China was the world's largest economy during most of the last three thousand years, leaving to be among the most advanced nations only during a period of one hundred to one hundred and fifty years would be more appropriate to refer to China's resurgence as a power.Thus, we can say that the Chinese resurgence can significantly affect the dynamics of international relations. To perform a systemic approach of the factors that have led to China's rise and verify that these, in turn, are able to allow the country can truly become a superpower, it is first essential to analyze the current hegemon – the United States – by checking which aspects could enable this transition of power in the international system. The American hegemony was achieved during World War II due to the weakening of European superpowers. The growth of the Chinese economy and its role in international relations have changed dramatically since Deng Xiaoping developed a process of political reform in the 1970. There after its economy has suffered one of the most significant developments in recent history. Because of its magnitude in terms of geographical area and population, China has the potential to become a global economic player of the first order. Thus, it could be argued that the international order will remain unipolar? China or the U.S. could, in the current context, lead globally in isolation? There is no doubt that the U.S. and China have individual characteristics that could identify the maintenance or re-emergence of a hegemonic superpower. However, we are faced with a system that will most likely not admit a single country in the lead, because the formation of regional economic blocs fostered the emergence of alliances that have become essential to international relations.

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LISTA DE SIGLAS

ANZUS – Acordo Bilateral com Japão, Filipinas, Austrália e Nova Zelândia APEC – Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico

BIRD – Banco Mundial

BRICS – Grupo político de cooperação integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação ELP – Exército para a Libertação da China EUA – Estados Unidos da América

FMI – Fundo Monetário Internacional

FNL – Frente Nacional para a Libertação do Vietnã GATS – Acordo Geral sobre o Comércio de Serviço GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio IEDs – Investimentos Diretos Estrangeiros NSF – National Science Foundation NTEs – New Technology Enterprises

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OECE – Organização Europeia de Cooperação Econômica

OIT – Organização Internacional do Trabalho OMC – Organização Mundial do Comércio ONU – Organização das Nações Unidas

OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte

OTASE – Aliança Militar Asiática formada por Reino Unido, França, países da Anzus, Tailândia e Paquistão

PCC – Partido Comunista Chinês

PCT – Tratado de Cooperação de Patentes PCUS – Partido Comunista da União Soviética PIB – Produto Interno Bruto

RDA – República Democrática Alemã RFA – República Federal da Alemanha RPC – República Popular da China

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TRIMS – Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio

TRIPS – Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio

UNCTAD –Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 13

CAPÍTULO 1 – EUA: ORIGENS DA SOBERANIA E IMPERIALISMO ... 17

1.1 HEGEMONIA E IMPERIALISMO ... 17

1.2 SOFT POWER E HARD POWER ... 21

1.3 LIBERALISMO, NEOLIBERALISMO E CAPITALISMO ... 25

1.4 EUA PÓS-GUERRA E CRISES ... 30

1.5 EUA E A ORDEM INTERNACIONAL NO PÓS-GUERRA ... 44

1.6 DECLÍNIO DOS EUA – CRISE HEGEMÔNICA ... 53

CAPÍTULO 2 – CHINA: PERSPECTIVAS E DESAFIOS ... 56

2.1 O RESSURGIMENTO DA CHINA ... 56

2.2 CHINA: CARACTERIZAÇÃO E FATORES DE ASCENSÃO DE UMA GRANDE POTÊNCIA ... 61

2.3 CIVILIZAÇÃO E PODER INTERNACIONAL ... 65

2.4 FATORES POLÍTICOS INTERNOS PARA A ASCENSÃO DA CHINA ... 68

2.4.1 Transição de governo – De Mao a Deng: a nova China na sociedade globalizada .. 69

2.4.2 O processo de reformas políticas ... 73

2.4.3 Relação entre Estado e mercado na China ... 87

2.4.4 Um país, dois sistemas (socialismo x capitalismo) ... 95

2.5 CRESCIMENTO ECONÔMICO E PROGRESSO TÉCNICO CONTEMPORÂNEO ... 102

2.5.1 O crescimento da economia ... 102

2.5.2 O desenvolvimento científico e tecnológico ... 111

2.5.3 O acesso à energia ... 119

2.5.4 A questão ambiental ... 124

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CAPÍTULO 3 – EUA E CHINA NO CONTEXTO INTERNACIONAL ... 138 3.1 RELAÇÕES BILATERAIS ENTRE EUA E CHINA ... 138 3.2 ANÁLISE MACROECONÔMICA SINO-AMERICANA ... 145 3.3 EUA E CHINA: UMA POSSÍVEL DISPUTA PELA HEGEMONIA

INTERNACIONAL ... 153

CONCLUSÃO ... 162

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INTRODUÇÃO

A ascensão chinesa como superpotência mundial é um dos fenômenos mais importantes das relações internacionais contemporâneas. Tendo em vista que a China foi a maior economia mundial durante a maior parte dos últimos três mil anos, deixando de estar entre as nações mais avançadas apenas durante um período de cem a cento e cinquenta anos, seria mais adequado referir-se ao ressurgimento da China como potência.

Seria possível afirmar, então, que o ressurgimento chinês afeta de alguma forma a dinâmica das relações internacionais? Para responder a essa questão, deve-se analisar primeiramente a atual potência hegemônica – os Estados Unidos da América (EUA) –, verificando quais os aspectos que poderiam possibilitar essa transição de poder no sistema internacional.

A hegemonia norte-americana foi conquistada no decorrer da Segunda Guerra Mundial em virtude do enfraquecimento das superpotências europeias. No entanto, desde a Primeira Grande Guerra, pode-se observar o crescimento do poderio econômico-militar estadunidense, aliado à forte influência que passaram a exercer sobre as nações derrotadas no conflito.

Com o término da Segunda Guerra Mundial, os EUA solidificaram sua hegemonia com o estabelecimento do dólar como principal moeda internacional, em substituição ao padrão-ouro, o que ocorreu na Conferência de Bretton Woods, considerada um acontecimento econômico relevante para as relações internacionais.

Também após o fim da Segunda Grande Guerra, em que saíram vitoriosas as forças capitalistas ocidentais, sob a liderança dos EUA, iniciou-se o período de polarização da Guerra Fria, que dividiu o sistema internacional em dois blocos políticos com regimes antagônicos: o bloco ocidental, liderado pelos EUA, representando o capitalismo, e o bloco oriental, sob a liderança da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), defendendo o regime socialista.

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abertura, uma vez que passaram a investir diretamente nas empresas chinesas, aproveitando-se da infraestrutura local e da mão de obra a baixo custo. Em contrapartida, os norte-americanos tiveram que possibilitar a transferência de tecnologia, como condição primordial para a efetivação dessa parceria, denominada de joint venture.

A China soube aproveitar os investimentos estrangeiros diretos (IEDs), que, aliados às demais reformas políticas, efetivaram o crescimento da sua economia, que atualmente cresce a um índice de 10% ao ano. Uma das principais reformas lançadas por Xiaoping foi o Programa das Quatro Modernizações, que abrangia as áreas de agricultura, ciência e tecnologia, indústria e defesa. Entretanto, foi a área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) que recebeu maiores investimentos estatais, haja vista que, desde a Revolução Cultural implantada por Mao Tse-Tung, a tecnologia não era considerada fator relevante para o desenvolvimento chinês.

Em contrapartida ao crescimento que vem sendo demonstrado pela China, os EUA vêm apresentando índices bastante significativos de desemprego, ocasionado principalmente pela recessão financeira após a crise de 2008. Essa crise pode ser apontada como parte de um declínio que teve início na década de 1970, desencadeado por vários fatores, entre eles: a ruptura do sistema monetário internacional de Bretton Woods (1971), a derrota norte-americana na Guerra do Vietnã (1975) e os choques do petróleo (1973 e 1979).

O objetivo geral do presente trabalho é analisar a ascensão econômica dos EUA e os fatores que o elevaram à condição de superpotência, em especial, o contexto internacional no período pós-guerra, o crescimento progressivo da economia chinesa, principalmente após as reformas implantadas por Deng Xiaoping na década de 1970, além de estabelecer relação entre os países, apontando os pontos convergentes, a parceria e as pretensões futuras, bem como analisar a possibilidade de a China assumir o lugar de destaque, atualmente ocupado pelos EUA, no cenário internacional.

Para a concretização do objetivo geral, constituem objetivos específicos da pesquisa descrever a ascensão norte-americana, realizando uma análise de sua soberania, imperialismo,

soft power e hard power, bem como dos aspectos políticos, econômicos e sociais durante e

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chinês, o crescimento econômico experimentado nos últimos 30 anos e os aspectos positivos e negativos advindos desse crescimento; analisar o histórico das relações bilaterais entre os EUA e a China, realizar uma análise da parceria econômica entre os países e os aspectos que envolvem essa relação; discutir se a ascensão da China é um dos fenômenos mais importantes das relações internacionais contemporâneas e se afeta a sua dinâmica, além de discutir se a China poderá se tornar a nova potência econômica mundial pós-EUA.

A investigação da importância do crescimento econômico chinês frente à soberania internacional norte-americana condiz com a importância que envolve o tema e com sua relevância científica. De forma precípua, harmoniza-se com a proposta de investigação científica noticiada pelo mestrado em Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Universidade Católica de Brasília, em sua linha de pesquisa número dois, intitulada “Direito Internacional Econômico”.

Para a realização desta pesquisa, o método inicial utilizado foi o de compilação ou o bibliográfico, que consiste na exposição do pensamento de vários autores que escreveram sobre o tema escolhido, utilizando-se como apoio e base contribuições de diversos autores sobre o assunto em questão, por meio de consulta a livros e periódicos.

Esta dissertação foi estruturada em três capítulos.

O primeiro capítulo, intitulado “EUA: Origens da Soberania e Imperialismo”, tem por objetivo uma revisão teórica da literatura pertinente à temática, orientada pela análise dos fatores que propiciaram a conquista da soberania e da hegemonia pelos EUA. Para tanto, serão analisados os conceitos de hegemonia e imperialismo, descritos os fatores característicos do soft e hard power, além da realização de um estudo do liberalismo,

neoliberalismo e capitalismo voltados para a história norte-americana. Também será analisada a posição estadunidense no período pós-guerra (I GM e II GM) e durante as crises, bem como o restabelecimento da ordem internacional a partir de então.

Essa abordagem é imprescindível para o aprofundamento da análise do tema desta investigação, uma vez que tem como alvo a demonstração dos fatores internos e externos que influenciaram o desenvolvimento de uma superpotência mundial, que pode vir a ser ameaçada por uma nova ordem internacional em que predomina o Oriente.

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no sistema internacional, os fatores políticos internos para o seu crescimento, abordando a transição de governos, o processo de reformas políticas, a relação entre Estado e mercado e o dualismo existente no que se refere ao seu regime político.

Os desafios no plano econômico da China serão apreciados em conjunto com o seu desenvolvimento científico e tecnológico, as questões ambientais e energéticas, além das condições de trabalho existentes, sobretudo a legislação que foi desenvolvida na área desde a entrada do país na Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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CAPÍTULO 1

EUA: ORIGENS DA SOBERANIA E IMPERIALISMO

1.1 HEGEMONIA E IMPERIALISMO

Depreende-se que a hegemonia de um Estado no contexto internacional é resultante de vários fatores e pode ser exercida, conforme sustenta o pensador italiano Antonio Gramsci, pela hegemonia dirigente – no campo da cultura e das ideias – ou pela hegemonia dominante – via militar1.

O uso do termo hegemonia não deve ser compreendido como sinônimo do termo imperialismo, pois, para Agnew (2005, p. 2), a diferença de hegemonia para império estaria na falta de comprometimento explícito para com o bloco territorial de poder em si e no seu embasamento em persuasão e recompensa aos subordinados. Para ele, hegemonia seria a participação de outros no exercício do seu poder, “convencendo, bajulando ou coagindo-os a querer aquilo que você quer”.

Para Gramsci (1975, p. 67), o conceito de hegemonia refere-se diretamente à sua noção de Estado de forma ampliada: sociedade política e sociedade civil, uma vez que é formada com a supremacia de determinado grupo ou classe social e sua liderança moral e intelectual na sociedade civil.

Já para Gilpin (2010, p. 163), os conceitos de poder, hegemonia, império e Estado dominante são equivalentes, pois, de acordo com seu entendimento, a guerra é inevitável para solucionartensões geradas pela desigualdade na distribuição de poder no contexto internacional e a hegemonia é a consequência inevitável da vitória de pelo menos um Estado ou grupo.

Na visão de Keohane (2010, p. 165), os regimes internacionais fortes dependem de um poder hegemônico, ao passo que a fragmentação do poder entre países em competição leva à fragmentação do regime e põe em risco a sua estabilidade.

Cox (2010, p. 166) define hegemonia como uma dominação de forma particular, em que um Estado cria uma ordem baseada ideologicamente em ampla medida de consentimento, funcionando de acordo com princípios gerais que, de fato, asseguram a contínua supremacia do Estado líder.

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Para Arrighi (1993, p. 151), a hegemonia está diretamente relacionada à formação social hegemônica da classe dominante no âmbito doméstico e posteriormente sua expansão internacional.

A hegemonia norte-americana foi conquistada no decorrer da Segunda Guerra Mundial em virtude do enfraquecimento das superpotências europeias. Mas é possível que esse fortalecimento e a transformação dos EUA em superpotência tenham tido início na Primeira Grande Guerra, em que já foi possível perceber o crescimento do seu poderio econômico-militar aliado à forte influência que passaram a exercer sobre as nações europeias. Como consequência desse fortalecimento, os EUA expandiram internacionalmente sua economia mediante a exportação de capitais, bens, serviços e, principalmente, em razão da expansão tecnológica e do avanço do capitalismo. Destaca-se, ainda, a disseminação de bases militares pelo mundo, principalmente, com a finalidade de manutenção de sua soberania.

Os países ocidentais do Hemisfério Norte passaram a exercer uma grande influência e predominar politicamente sobre os países do Oriente, o que se justificou como uma maneira de organizar o sistema internacional, na medida em que garantia a segurança e a soberania dos demais países. Segundo Cohen (1976, p. 223), a política de poder é determinante da ordem internacional, e a raiz principal do imperialismo está na “organização anárquica” do sistema internacional. A anarquia vai disciplinar o comportamento dos Estados, levando-os à busca da maximização de sua posição de poder individual, a fim de assegurar a segurança nacional. Dessa forma, o imperialismo teria sua origem “na organização externa dos Estados”.

Após a Segunda Guerra Mundial, a hegemonia norte-americana foi se solidificando em razão de alguns acontecimentos internacionais de grande importância, como a Conferência de Bretton Woods2, que estabeleceu que o dólar seria a principal moeda internacional em substituição ao padrão-ouro3. Concomitantemente, houve uma abertura da economia dos países europeus e de outros subdesenvolvidos, possibilitando o ingresso de empresas transnacionais e de alguns bancos norte-americanos. Ainda, como acontecimento relevante, podem-se citar as dificuldades econômicas enfrentadas pelos países europeus após a

2 As conferências de Bretton Woods, definindo o sistema Bretton Woods de gerenciamento econômico

internacional, estabeleceram, em julho de 1944, as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes.

3 O padrão-ouro, também chamado de estalão-ouro, foi o sistema monetário cuja primeira fase vigorou desde o

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descolonização dos países asiáticos e africanos, que eram fonte de riquezas e necessários à manutenção de suas economias.

A hegemonia norte-americana, nas palavras de Sader:

Trata-se não apenas da vitória de um dos contentores da guerra fria sobre o outro e do estabelecimento de sua hegemonia sobre o sistema internacional no seu conjunto, mas de uma modalidade de hegemonia que se apoia no poderio econômico dos EUA – da sua estrutura produtiva a seu mercado interno –, é articulado por uma capacidade política e militar de intervenção e se multiplica pela rede de aliados e pelo sistema oligopólico internacional de informação e de divertimento, soldados por uma ideologia que se apropriou do conceito de democracia – redutivamente

concebida como democracia liberal – e de seu suposto complemento – a economia

capitalista de mercado. No seu conjunto, se reestrutura o sistema de poder em escala mundial, sob hegemonia norte-americana, definindo uma nova era na história da humanidade4.

Corroborando o pensamento de Sader, Wallerstein (2004, p. 22) pontua que a ascensão hegemônica dos Estados Unidos começou com a recessão mundial de 1873, quando, com o retrocesso da economia britânica, os Estados Unidos e a Alemanha aumentaram suas participações nos mercados internacionais. Assim, entre 1873 e 1914, ambos se tornaram “os principais países produtores em certos setores de base: aço e, mais tarde, automóveis no caso dos Estados Unidos; produtos químicos industriais no caso da Alemanha”.

Logo após, com o início, em 1914, da Guerra dos Trinta Anos, que perdurou até 1945, os EUA foram a única nação que não foi destruída nem teve sua economia abalada, motivos que permitiram a consolidação de sua hegemonia.

O chamado período de “estabilidade hegemônica” se deu durante a Guerra Fria5 e,

segundo Wallerstein6, essa estabilidade só foi abalada em três momentos: no bloqueio de Berlim (1948-1949), na Guerra da Coreia (1950-1953) e na crise dos mísseis em Cuba (1962). Durante a Guerra Fria, a estrutura de poder era bipolar, pois estava centrada nas economias das grandes potências à época: EUA e URSS. Atualmente, essa concentração de poder surge de forma diversa, já que a hegemonia internacional é característica da nação norte-americana. Brzezinski (1971, p. 179) afirma que:

4 SADER, Emir. Soberania e democracia na era de hegemonia norte-americana. Disponível

em:<http//www.dhnet.org.br/w3/fsmrn/biblioteca/18_emir_sader.html>. Acesso em; 15 jun. 2013.

5Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os

Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Em resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.

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20 Os Estados Unidos de hoje são o laboratório social do mundo. Os problemas que o mundo mais adiantado começa a enfrentar – e que o Terceiro Mundo presencia – absorvem os Estados Unidos diretamente e por vezes dolorosamente. É nos Estados Unidos que os dilemas cruciais de nossa era se manifestam mais cruelmente; é nos Estados Unidos que a capacidade humana de dominar o ambiente vem sendo mais fortemente testada.

No entanto, o paradigma de poder se transformou, uma vez que os EUA não podem mais ser considerados o centro hegemônico mundial. Atualmente, é imprescindível considerar a multipolaridade do sistema internacional, levando-se em consideração a ascensão chinesa e todos os impactos econômicos e sociais advindos dessa possível transição de poder.

Imperialismo dos EUA

O termo imperialismo pode ser interpretado levando-se em consideração dois sentidos: o sentido político, que se refere à extensão da influência política, econômica e cultural fora das fronteiras de um país; e o sentido polêmico, que faz referência à exploração de povos inferiores, definição própria da teoria marxista.

O termo imperialismo foi definido com maior abrangência pelos pensadores marxistas, sendo sua teoria clássica desenvolvida por Lênin (2005, p. 19). Para o autor, “o imperialismo do final do século XIX é consequência direta da fase de monopólio do capitalismo nos países avançados, ou seja, a combinação, em uma só empresa, de diferentes ramos da indústria”.

Nas palavras de Cohen (1976, p. 20), o conceito de imperialismo pode ser:

[...] um tipo de relações internacionais caracterizadas por uma assimetria particular – a assimetria da dominação e dependência [...] O imperialismo refere-se àquelas relações particulares entre nações inerentemente desiguais que envolvem subjugação efetiva, o exercício real da influência sobre o comportamento.

Segundo Amin, “o imperialismo, então, não é um estágio – nem mesmo o estágio supremo –do capitalismo. Ele é, desde a origem, imanente à sua expansão”7.

Como asseveram Hardt e Negri (2002, p. 14):

O imperialismo era, na realidade, uma extensão da soberania dos Estados-nação europeus além de suas fronteiras [...] Os Estados Unidos não são, e nenhum outro Estado-nação poderia ser, o centro de um novo projeto imperialista. O imperialismo

7AMIN, Samir. O imperialismo, passado e presente. Tempo, Niterói, v. 9, n.18, Jun. 2005. Disponível em:

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21 acabou. Nenhum país ocupará a posição de liderança mundial que as avançadas nações europeias um dia ocuparam8.

Já o termo imperialismo norte-americano se refere à influência exercida pelos EUA sobre os demais países, mais especificamente nas esferas política, econômica, militar e cultural. Segundo Garcia (2010, p. 155-177), “o uso do termo imperialismo foi, por um longo tempo, restrito ao campo marxista”, já que, mesmo durante as várias intervenções militares estadunidenses durante a Guerra Fria, o uso de tal termo não foi suscitado pelas principais correntes de pensamento nas relações internacionais.

Ocorre que, atualmente, as teorias clássicas do imperialismo já não podem explicar de forma clara e precisa o avanço do capitalismo mundial como consequência da globalização. Para Panitch e Gindin, “[...] o imperialismo demonstrava ser um movimento duplo e simultâneo: o aprofundamento do capitalismo para dentro e sua expansão para fora”9.

Já para Wood (2003, p. 124-128), a lógica das teorias do imperialismo clássico é a mudança de foco de operações internas nos países capitalistas avançados para relações externas, ou interações e conflitos entre Estados capitalistas e o mundo não capitalista. Dessa forma, pode-se concluir que, de acordo com Garcia (2010, p. 160):

Enquanto no imperialismo tradicional a dominação colonial e a exploração econômica eram transparentes, a principal característica do “novo imperialismo” é a dominação não direta, que torna as relações opacas. As formas de coerção econômicas são diferentes da política e militar: a “compulsão” é impessoal, opera como imposição do “mercado”.

Contudo, esse novo imperialismo apresenta como característica principal a atração, que visa à cooptação de possíveis aliados de forma sutil, não direta, denominada soft power,

ou poder leve.

1.2 SOFT POWER E HARD POWER

Por muito tempo, a imposição autoritária de poder mediante força era a maneira utilizada pelas nações para submeter as demais às suas vontades. Essa imposição, na maioria das vezes, era exercida pelas vias militares, por meio das invasões e das guerras. Segundo

8HARDT, M.; NEGRI, A. Império. Editora Record: Rio de Janeiro; São Paulo, 2002, p.14.

9 PANITCH, Leo; GINDIN, Sam. Global capitalism and American Empire. Socialist Register, 2004. Disponível

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22

Nye (2002, p. 25), tradicionalmente, o teste de uma grande potência era o “poder para a guerra”, que é um jogo fundamental em que se jogam as cartas da política internacional e se provam as estimativas de poder relativo.

Atualmente, esse tipo de submissão vem sendo substituído com muita propriedade pelos métodos de dominação pelas ideias (coerção implícita), denominados soft

power,10 que são hoje considerados mais importantes e eficazes como forma de regular as

relações internacionais. Isso porque, à medida que ocorrem as evoluções tecnológicas, também há alteração nas fontes de poder. Nas palavras de Nye:

As sociedades pós-industriais centram-se no bem-estar em vez de se centrarem na glória e abominam a ocorrência de um grande número de mortes, a não ser quando esteja em jogo a sobrevivência. Isto não significa que não usarão a força, mesmo quando sejam esperadas baixas – olhemos para a Guerra do Golfo de 1991 e para o Afeganistão presentemente. Mas a ausência de uma ética guerreira nas democracias modernas implica que o uso da força necessita de uma justificação moral profunda para assegurar o apoio popular (exceto nos casos em que esteja em jogo a sobrevivência)11.

É possível afirmar que a supremacia norte-americana vem se mantendo e está se consolidando pela influência cultural, ideológica e artística que exerce sobre grande parte das nações. Quando se acreditava que essa influência poderia perder espaço, a globalização e a reafirmação do capitalismo facilitaram novamente a propagação dos ideais estadunidenses.

Conforme assevera Bijos, o soft power, ou poder leve, se utiliza da persuasão e da

atração para atingir seus objetivos, sendo mais utilizado pelos países menos desenvolvidos econômica e militarmente. Vejamos:

O chamado poder brando se utiliza da persuasão e da atração para conseguir os objetivos, e o instrumento utilizado para tal empreendimento seria a atração cultural e a atração por valores políticos e ideológicos, destacando-se uma cultura e uma ideologia atraentes, servindo de marco para que os outros países o acompanhem em suas ações. O soft power é mais utilizado por aqueles países que não possuem vantagens na área militar ou econômica, e portanto se utilizam de meios alternativos para exercer influência12.

10

Soft power, ou poder brando, é um termo usado na teoria de relações internacionais para descrever a habilidade

de um corpo político, como um Estado, para influenciar indiretamente o comportamento ou interesses de outros corpos políticos por meios culturais ou ideológicos. O termo foi usado pela primeira vez pelo professor de Harvard Joseph Nye. Ele desenvolveu o conceito em seu livro de 2004, Soft Power: The Means to Success in

World Politics (Soft Power: Os Meios para o Sucesso na Política Mundial). Embora sua utilidade como uma

teoria descritiva foi desafiada, soft power entrou desde então em discursos políticos como uma maneira diferente

de distinguir os efeitos sutis de culturas, valores e ideias no comportamento de outros.

11 Ibidem, p. 26.

12BIJOS, Leila. A Diplomacia Cultural como Instrumento de Política Externa Brasileira. Disponível em:

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A ideia de poder suave é difundida e aplicada com maior propriedade aos Estados Unidos, mas teve seu início no século XIX com a Inglaterra, quando houve disseminação pelo império britânico de sua língua, literatura e de seus valores. Segundo Zakaria (2008, p. 184): “A Grã- Bretanha foi a exportadora mais bem-sucedida de sua cultura na história da humanidade. Falamos hoje do sonho americano, mas antes dele houve um “modo de vida inglês” – que era admirado e copiado em todo o mundo”.

Para Nye (2002, p. 36), a palavra hegemonia é por vezes utilizada como um termo de opróbrio por líderes políticos na Rússia, na China, no Médio Oriente, na França e em outros lugares. Segundo ele, o termo é menos utilizado, ou utilizado com uma conotação menos negativa, em países onde o poder suave americano é intenso.

O soft power teve início antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), mas veio a se

solidificar logo após, mais especificamente durante a Guerra Fria, quando os EUA e a URSS,13 nações líderes dos dois polos – capitalista e comunista –, passaram a disputar de forma acirradaos benefícios do referido poder. De acordo com o entendimento de Nye, o soft

power pode ser mais bem compreendido da seguinte maneira:

O conceito básico de poder é a habilidade de influenciar outros a fazer o que você quer. Há três maneiras de se fazer isto: uma delas é ameaçá-los com galhos; a segunda é comprá-los com cenouras; e a terceira é atraí-los ou cooperar com eles para que queiram o mesmo que você. Se você conseguir atraí-los a querer o que você quer, te custará muito menos que cenouras e galhos14.

No contexto atual, em que praticamente todas as nações buscam a resolução de conflitos por meios outros que não a utilização da força, seria mais prudente e menos custoso influenciar outros países pela cultura e pela ideologia. Essa prática, no entanto, tende a se desenvolver principalmente nos países desenvolvidos constituídos por sociedades pós-industriais.

Segundo Nye:

Um país pode obter os resultados que deseja na política mundial porque outros países escolhem segui-lo, admirando seus valores, imitando os seus exemplos, aspirando ao seu nível de prosperidade e abertura. Nesse sentido, tão importante quanto estabelecer a agenda na política mundial ou atrair outros é forçá-los a mudar através da ameaça ou do uso de armas econômicas ou militares. A este aspecto do

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24 poder – levar outros a desejarem o que nós próprios desejamos – chamo de poder suave. Coopta os indivíduos em vez de os coagir15.

Por sua vez, o denominado hard power16 é exatamente o contrário do soft power, e foi

utilizado por muito tempo pelos EUA como a única fonte capaz de manter seu poder hegemônico. Essa forma de poder se caracteriza pela capacidade de um país atingir sua finalidade por meio da força bruta, da punição e da recompensa, mais precisamente a utilização da força militar e da pressão econômica.

Conforme infere Nye, opoder dos EUA, não importa se “duro ou suave”, é apenas parte da história, uma vez que a maneira como os demais países reagema este poder é igualmente importante para a questão da estabilidade e da governabilidade na era da informação global17. Pode-se inferir, ainda, que, de acordo com Nye, o “poder suave” é apenas uma forma de poder, não devendo, a priori, ser definido como benéfico:

[...] o soft power não é bom nem mau, é apenas uma forma de poder. A questão de

saber se um dado recurso – por exemplo, uma determinada cultura – produz atracção ou repulsa depende da audiência. A cultura americana é atractiva nalguns locais e noutros não é18.

Conforme preceitua o autor, o poder suave significa mais que apenas poder cultural e não pode ser considerado como pertencente ao governo da mesma forma que o poder duro. Segundo Nye:

Alguns dos atractivos do poder duro (como as forças armadas) são estritamente governamentais, outros são inerentemente nacionais (como as nossas reservas de petróleo e de gás natural) e muitos podem ser transferidos para o controle coletivo (como os bens industriais que podem ser mobilizados numa emergência).em comparação, muitos dos recursos do poder suave encontram-se desligados do governo americano e apenas parcialmente são sensíveis aos seus fins19.

Dessa maneira, é possível concluir que, sem dúvida, a influência exercida pelos EUA sobre os demais países, por meio do que se pode denominar imperialismo norte-americano, acontece de forma mais discreta do que então se havia visto. Isso porque o modelo americano ainda é um padrão a ser alcançado pela grande maioria das nações, mas agora o que elas

15 Idem, 2002, p. 29. 16

Hard power (do inglês poder duro) é um conceito usado principalmente no realismo das relações

internacionais e se refere ao poder nacional que vem de meios militares e econômicos.

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utilizam como referência não é mais, ou tanto, o poder exercido pelas vias militares, mas um poder mais leve, que visa atrair, sem grandes esforços, possíveis parceiros ou aliados.

E esse poder leve, mais discreto e ao mesmo tempo mais abrangente, é muito utilizado por grandes potências, em especial os EUA, para atrair aliados e parceiros no intuito de incentivar sua economia, principalmente pelos governos liberais e neoliberais, que têm como premissa justamente a limitação do poder coercitivo estatal.

1.3 LIBERALISMO, NEOLIBERALISMO E CAPITALISMO

O liberalismo pode ser entendido como uma corrente de pensamento filosófico, social, econômico com conotação política, cujos objetivos são promover as liberdades individuais e limitar o poder coercitivo dos governos sobre a sociedade. Para tanto, defende que a garantia das liberdades individuais é necessária para o progresso social, bem como para a criação de um Estado de Direito em que todas as pessoas estejam submetidas às mesmas leis.

Historicamente, o liberalismo teve origem no século XVII, quando, em 1668, se consolidou na Inglaterra, com a Revolução Gloriosa, no restante da Europa, em 1789, com a Revolução Francesa, e, nos Estados Unidos, em 1776, com a luta pela independência. Quanto aos pensadores do liberalismo clássico, Lafer (1991, p. 24) destaca John Locke (1632-1704), com sua obra clássica Tratado sobre o governo civil, Montesquieu (1689-1755), Kant

(1774-1804), Adam Smith (1723-1790), Humboldt (1767-1835), Benjamin Constant (1767-1830), Alexis Tocqueville (1805-1859) e John Stuart Mill (1806-1873).

O liberalismo surgiu com a finalidade de combater as monarquias absolutas e consequentemente seu regime econômico, o mercantilismo, que se caracteriza pela possibilidade de um Estado (monarquia ou república) intervir na economia com o intuito de possibilitar seu desenvolvimento e promover melhor distribuição de renda. Para que esses objetivos fossem alcançados, era necessária a concessão de privilégios às elites, os chamados mercadores.

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26 No final do século XVIII, a ideia dominante entre as elites intelectuais era o liberalismo. Ser um intelectual era sinônimo de ser liberal. A partir de então, o sopro da liberdade política e econômica mudou a humanidade. Começaram a cair as monarquias absolutas; advém a separação entre a igreja e o Estado; surge nos EUA o primeiro regime constitucional.

Para os liberalistas, o Estado deve seguir uma política mínima intervencionista, o

laissez faire,20 defendendo que cada indivíduo deverá buscar o melhor para si para que haja

um crescimento das relações sociais, cabendo ao Estado somente intervir quando perceber que as referidas relações não estão sendo benéficas à sociedade.

Na acepção de Bellamy & Castiglione (1999, p. 428):

A democracia liberal baseia-se numa distinção entre o Estado e a sociedade civil. Os liberais entendem o constitucionalismo como um quadro de referência normativo que estabelece os limites e os objectivos do exercício do poder estatal. Tradicionalmente, os seus princípios enraízam num contrato social concebido para legitimar o monopólio de violência do Estado. De acordo com este argumento, os cidadãos livres e iguais só se submeterão consensualmente a uma forma de governação que elimine as incertezas do estado de natureza sem deixar de preservar o mais amplo conjunto de liberdades naturais igualitárias. A interferência por parte do Estado ou da lei será apenas justificável na medida em que reduza as interferências mútuas que marcam a vida social de modo a reproduzir-se uma maior liberdade global.

A grande crítica à corrente liberal repousa exatamente nessa premissa, porque acredita que a sociedade, como um todo, dificilmente seria beneficiada, haja vista que frequentemente os indivíduos buscam o bem-estar próprio à custa do resto da sociedade.

Posteriormente, o liberalismo foi considerado um regime de exploração dos mais pobres, mas restou comprovado que justamente essa classe social foi a mais beneficiada, pois possibilitou o seu crescimento populacional, o aumento da expectativa de vida e possibilitou a geração de empregos, ampliando a produtividade. Nas palavras de Stewart Jr. (1991, p. 21), “[...] até Marx, no Manifesto Comunista, reconhece que, em cem anos, o predomínio do capitalismo criou forças produtivas mais maciças e colossais do que todas as gerações precedentes em conjunto”.

O declínio do liberalismo ocorreu como uma consequência lógica do seu produto, o capitalismo. Isso porque uma geração expressiva de riqueza em um curto período de tempo só

20 É parte da expressão em língua francesa

laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente

“deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. Laissez-faire é hoje expressão-símbolo do liberalismo econômico, na

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poderia desencadear o seu fracasso e o surgimento do comunismo, já que, a partir de então, era necessário dividir (socializar) a riqueza gerada. Marx já defendia que o comunismo seria a etapa seguinte do capitalismo por uma questão de determinismo histórico, e isso despertou a simpatia das massas. As massas, segundo observa Böhm-Bawerk (1987, p. 123):

[...] não buscam a reflexão crítica; simplesmente seguem suas próprias emoções. Acreditam na teoria da exploração porque ela lhes convém, lhes agrada, não importando que seja falsa. Acreditariam nela mesmo que sua fundamentação fosse ainda pior do que é.

Com o término da Primeira Guerra Mundial, surgiram os primeiros regimes totalitários: na URSS, o regime comunista; na Itália, o regime fascista; e na Alemanha, o regime nazista (nacional-socialista). Dessa maneira, o liberalismo foi deixado de lado, ainda que temporariamente, pois retornaria com força total em substituição aos regimes comunistas, principalmente com a dissolução da União Soviética, mas com a denominação neoliberalismo.

Neoliberalismo

O neoliberalismo não se refere a uma nova corrente liberalista, mas à utilização, na contemporaneidade, de alguns conceitos liberais consagrados no século XVII. As suas origens se remetem à Escola Austríaca, com o economista Friedrich Von Hayek e com o filósofo Ludwing Von Mises.

O termo neoliberalismo foi utilizado de maneira distinta em épocas diferentes: na primeira metade do século XX, foi utilizado como uma forma de adaptação dos preceitos do liberalismo clássico às exigências de um Estado intervencionista; a partir de 1970, passou a ser entendido como a doutrina econômica defensora da absoluta liberdade de mercado e da intervenção mínima do Estado sobre o setor econômico, o que seria a retomada do liberalismo clássico.

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os investimentos realizados após a Segunda Guerra Mundial, devendo então impulsionar a economia pela livre concorrência.

Segundo Aihwa Ong, (2006 apud LOPES, 2009) o neoliberalismo pode ser conceituado de duas maneiras: (a) neoliberalismo como exceção não se confunde com as (b) exceções ao neoliberalismo. A primeira noção faz referência àqueles Estados (ou frações territoriais de Estado) em cujos limites o neoliberalismo não é a “técnica de governo” dominante, por assim dizer. Neles, o neoliberalismo infiltra-se pontualmente, articulando-se com uma cadeia de instituições tradicionais, modernas e pré-modernas; a segunda remete aos Estados (ou unidades políticas outras) em que o grau de assimilação das ideias e práticas neoliberais foi tamanho, que constituiu a regra. Donde falar, quando muito, na possibilidade de algumas exceções ao neoliberalismo21.

Tanto para Friedman (1980 apud LEME, 2010) quanto para Hayek (1987 apud LEME, 2010), os principais pilares de sustentação do ideário neoliberal seriam as noções de liberdade e de mercado. A primeira, por ser uma característica inerente e essencial que deveria ser garantida a todos os indivíduos, e a segunda, por ser o espaço natural em que as liberdades individuais ocorreriam e tenderiam para o equilíbrio. Para que essas duas características sejam realmente efetivadas, o Estado não deveria influenciar nem intervir no jogo de mercado22.

Em relação ao surgimento do neoliberalismo nos EUA, o antropólogo David Harvey (1993, p. 45) afirma que o primeiro indício da virada neoliberal nos EUA teria sido o memorando do juiz da Suprema Corte, Lewis Powell (1971). Nele, Powell afirma que os ataques ao sistema de livre mercado tinham ido longe demais e que era preciso mobilizar os recursos dos negócios do país contra “aqueles que o destruiriam”. A Câmara de Comércio deveria, assim, lançar um ataque às principais instituições a fim de mudar a forma como as pessoas pensam “sobre as corporações, o direito, a cultura e o indivíduo”.

Contudo, o neoliberalismo só pode ser consolidado preservando-se as liberdades individuais e, sobretudo, a livre concorrência de mercado, fundamentos próprios de uma economia capitalista.

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Capitalismo

Entende-se por capitalismo um sistema econômico no qual os meios de produção e distribuição são exclusivamente privados, ou em sua grande maioria privados, objetivando o lucro. O termo capitalismo foi criado e utilizado por socialistas e anarquistas e foi amplamente difundido por Karl Marx no final do século XIX e início do século XX.

Cabe ressaltar que o comércio existe desde que existe a civilização, mas o capitalismo, como sistema econômico, surgiu no século XVII, na Inglaterra, em substituição ao feudalismo e é, desde então, o sistema predominante no mundo ocidental. Segundo Adam Smith (2008 apud HIRSCHFELD, 2006, p. 13), os seres humanos sempre tiveram forte tendência a “realizar trocas, câmbios e intercâmbios de umas coisas por outras”, o que explica o surgimento natural ou espontâneo do capitalismo na Idade Moderna.

Entre as críticas ao sistema capitalista, pode-se destacar ser este um sistema que evidencia a exploração econômica da força de trabalho, uma vez que a considera somente como parte do comércio. Dessa forma, o capitalismo é apontado como responsável por gerar inúmeras desigualdades econômicas e sociais que somente haviam se destacado no século XIX.

Para Weber (2006, p. 13), o capitalismo moderno, assim como as precondições para a sua existência, ocorre quando “a cobertura das necessidades de um grupo humano, mediante atividades industriais e comerciais, realiza-se pelo caminho do empreendimento, não importando a necessidade”.

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O capitalismo, segundo Panitch e Gindin (2004), enfrentou três grandes crises estruturais:

Das grandes crises estruturais do capitalismo, a primeira (pós década de 1870) acelerou a rivalidade interimperialista e conduziu à Primeira Guerra Mundial e à revolução comunista, enquanto que a segunda (a Grande Depressão) na verdade reverteu a trajetória internacionalista do capitalismo. Ainda assim, a crise do início dos setenta foi seguida por um aprofundamento, aceleração e extensão da globalização capitalista. E ainda que esta tenha promovido a competição econômica inter-regional, não produziu nada parecido à antiga rivalidade interimperial.

Como marco conclusivo, o capitalismo norte-americano obteve êxito não somente devido a fatores internos, mas especialmente a fatores externos, principalmente ligados à participação dos EUA durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Isso porque os Estados Unidos desenvolveram um papel de suma importância para sua economia ao realizarem financiamentos e venderem os seus produtos para os países aliados.

1.4 EUA PÓS-GUERRA E CRISES

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi um conflito armado entre a Tríplice Entente (Reino Unido, França e Rússia) e as potências centro-europeias (Alemanha, Áustria-Hungria, Bulgária e Turquia). Os EUA, apesar de simpatizarem com a Tríplice Entente, por um longo tempo não intervieram no conflito, mantendo-se neutros do ponto de vista militar. Mas, financeiramente, eram fornecedores de armamentos, mantimentos e demais produtos que tornaram-se escassos na Europa devido ao deslocamento de homens para a guerra e à destruição causada por ela, além de realizarem empréstimos consideráveis aos países da Tríplice Entente.

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guerra, os EUA foram obrigados a participar, haja vista que, caso fossem derrotados, os aliados não teriam condições de efetuar o pagamento dos empréstimos realizados junto ao governo norte-americano. Assim, o país entrou militarmente no conflito, e, em janeiro de 1918, o presidente Woodron Wilson apresentou uma proposta de paz que só foi aceita pela Alemanha quando a derrota já era inevitável. Logo após, as forças inglesas, francesas e norte-americanas atacaram definitivamente a Alemanha, que se viu obrigada a retroceder, já que enfrentava sérios problemas internos, como a escassez de alimentos causada pelo bloqueio da Tríplice Entente, a precariedade da saúde da população, além de presenciar a retirada da Bulgária e da Áustria e o rendimento da Turquia. Como consequência, os EUA, que foram decisivos para o final da guerra a favor da Tríplice Entente, exigiram a abdicação do kaiser23, passando a Alemanha a ser governada pelo social-democrata Friedrich Ebert, que, em novembro de 1918, assinou a rendição de seu país.

Ocorre que, com a vitória da Tríplice Entente, foi desencadeada uma grave crise na Europa. Isso porque, além dos prejuízos econômicos causados pelo conflito, os prejuízos sociais foram determinantes para a referida crise, já que houve um grande número de mortes que causaram o baixo crescimento da produção e da taxa de natalidade. Somado a isso, os países derrotados se viram obrigados acontrair empréstimos, ceder parte de suas reservas de ouro e desfazer-se de parte de seus investimentos externos.

Toda essa conjuntura de crise e decadência na Europa acabou beneficiando os EUA, que despontaram como uma das mais importantes potências mundiais. Além da expansão do capitalismo, incentivada pela guerra, outros foram os fatores que colaboraram para a ascensão norte-americana, como a sua posição de neutralidade durante grande parte da Primeira Guerra Mundial, que permitiu o desenvolvimento de sua produção agrícola e industrial com o objetivo de atender às necessidades dos países envolvidos no conflito, bem como ter se aproveitado do comprometimento das potências europeias com a guerra, estendendo seus produtos a outros mercados mundiais na Ásia e na América Latina.

Com o término da Primeira Grande Guerra, os EUA passaram a possuir aproximadamente a metade de todo o ouro que circulava nos mercados internacionais, uma vez que a Europa tornou-se totalmente dependente das exportações norte-americanas.

23Kaiser é uma expressão de origem alemã que significa imperador. Vem do latim

Cæsar, por empréstimo do

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Durante o conflito, com o intuito de atender às necessidades bélicas dos países aliados, os EUA desenvolveram novas tecnologias, aumentando consideravelmente sua produção industrial e consequentemente a renda per capita, o que desencadeou, na década de 1920, a

chamada era progressista, que ficou caracterizada pela ascensão econômica das classes médias.

A partir de então, o chamado período entreguerras24 foi marcado por inúmeros conflitos de ordem política e econômica. Politicamente, houve a ascensão dos regimes totalitários em alguns países da Europa: na URSS, o regime comunista; na Itália, o regime fascista; e, na Alemanha, o regime nazista (nacional-socialista), que inclusive foi o responsável por deflagrar a Segunda Grande Guerra. Economicamente, foi desencadeada uma grave crise mundial, chamada de Grande Depressão25.

Quando a Grande Depressão assolou os EUA, sua produção industrial já havia registrado ligeira queda, e, a partir de então, a crise atingiu as bolsas de valores americanas, que caíram drasticamente, causando deflação e queda nas taxas de vendas dos produtos. Como consequência, houve o fechamento de várias empresas, elevando significativamente as taxas de desemprego norte-americanas.

Entre os países atingidos pela crise, além dos EUA, estão Alemanha, Países Baixos, Austrália, França, Itália, Reino Unido e Canadá. A URSS, a China e os demais países socialistas praticamente não foram afetados uma vez que eram econômica e politicamente fechados para o mundo capitalista.

Os efeitos negativos da Grande Depressão atingiram mais fortemente os EUA no ano de 1933, por esse motivo o então presidente Franklin Roosevelt aprovou várias medidas políticas, econômicas e sociais conhecidas como New Deal. Tais medidas consistiam em:

reformas econômicas e regulação de setores da economia, transformações culturais, bem como um novo acordo político entre o Estado e representantes da sociedade, o que formou a chamada coalizão do New Deal.

24Entreguerras é a denominação dada ao período que se estendeu do fim da Primeira Guerra Mundial, em 11 de

novembro de 1918, até o início da Segunda Guerra Mundial, em 1º setembro de 1939.

25A Grande Depressão, também chamada de Crise de 1929, foi uma grande crise econômica que teve início em

1929 e persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. Foi

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No entanto, Keynes (1992, p. 141) já havia previsto a existência de uma grande crise mundial, argumentando que “[...] a aceleração dos ganhos de produtividade provocada pela revolução taylorista levaria a uma gigantesca crise de superproduçãose não fosse encontrada uma contrapartida em uma revolução paralela do lado da demanda que permitisse a redistribuição da renda para aumentar o consumo”.

Para Lipietz (1989, p. 30-31), a Grande Depressão dos anos 1930 tornou-se uma gigantesca crise de superprodução, numa trágica confirmação daquelas previsões.

As medidas do New Deal possibilitaram à economia norte-americana uma lenta recuperação que só se consolidou no início da Segunda Guerra Mundial, quando os EUA tomaram posse de todo o comércio internacional e aumentaram vertiginosamente as exportações.

Segundo Amaral, com alguma imprecisão, há quem atribua o fim da Grande Depressão à Segunda Guerra Mundial, uma vez que só é possível dizê-lo se a guerra for considerada solução para alguma coisa. Para o autor, depois da guerra, foi ainda preciso desfazer as distorções por ela criadas26.

Por isso, talvez se devesse considerar a crise ultrapassada apenas a partir dos anos 1950, com o regresso à cooperação econômica internacional e às elevadas taxas de crescimento típicas dessa década e da seguinte27.

A Segunda Guerra Mundial28 (1939-1945) envolveu a maioria das nações mundiais, incluindo todas as superpotências. Portanto, pode-se afirmar que foi o conflito militar mais abrangente da história em que houve uma divisão em alianças: os Aliados, liderados pelos EUA, URSS e Império Britânico, como forças principais, bem como Polônia e França e o Eixo (Alemanha, Japão, Itália, Romênia, Tailândia, Hungria e Bulgária). Como se pode perceber, os países integrantes da Tríplice Entente, na Primeira Grande Guerra, se tornaram os aliados no segundo conflito. Os únicos países que se mantiveram neutros foram: Suíça, Portugal, Espanha, Suécia e Vaticano.

26AMARAL, Luciano. Crises financeiras história e actualidade. Disponível em:

<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/ri/n23/n23a09.pdf> Acesso em: 02 out. 2013.

27KINDLEBERGER, 1973, p.154.

28A Segunda Guerra Mundial foi um conflito envolvendo praticamente todas as nações e teve início com a

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A Segunda Guerra Mundial foi marcada por um grande número de ataques contra civis, incluindo o Holocausto29. Foi também a primeira vez queforam utilizadas armas nucleares em combate, sendo considerado o conflito mais letal da história da humanidade, resultando na morte de 50 milhões a mais de 70 milhões de pessoas30.

Ao contrário da Primeira Grande Guerra, em que a presença dos EUA só se tornou efetiva praticamente em seu final, na Segunda Guerra Mundial, a participação norte-americana foi intensa e decisiva. Foi nesse contexto que ocorreram os ataques do Japão a Pearl Harbor31 em represália aos protestos americanos contra a guerra sino-japonesa.

Como consequência desse conflito, a economia mundial foi muito abalada, muito embora os contentores da Segunda Guerra Mundial tenham sido afetados de maneira diferente. Os Estados Unidos emergiram muito mais ricos do que qualquer outra nação. Aconteceu baby boom32 e, em 1950, seu produto interno bruto (PIB) per capita era maior do

que o de qualquer outra potência, e isso levou-os a dominar a economia mundial33.

Assim, ao final das duas grandes guerras mundiais, os EUA surgiram como o principal líder no sistema internacional. De devedor, o país passou a ocupar a posição de credor dos países europeus envolvidos no conflito, uma vez que foram a grande nação fornecedora de equipamentos bélicos durante ambas as guerras, além de terem arcado com empréstimos financeiros aos países conflitantes e principalmente por não terem sido atingidos diretamente durante o conflito, que se desenvolveu majoritariamente além dos territórios americanos34.

Após a Segunda Guerra Mundial, em que saíram vitoriosas as forças capitalistas ocidentais lideradas pelos EUA, iniciou-se o período de polarização da Guerra Fria (1947-1989). A partir de então, a comunidade internacional passou a conviver com regimes políticos antagônicos: de um lado, a ideologia capitalista liderada pelos EUA, e de outro, o socialismo totalitário liderado pela URSS. Essa divergência ideológica gerou forte insegurança

29Holocausto foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda

Guerra Mundial, por meio de um programa sistemático de extermínio étnico patrocinado pelo Estado nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido Nazista, e que ocorreu nos territórios ocupados pelos alemães durante a guerra.

30SOMMERVILLE, 2008, p. 5.

31 O ataque a Pearl Harbor foi uma operação aeronaval de ataque à base norte-americana de Pearl Harbor,

efetuada pela Marinha Imperial Japonesa em 7 de dezembro de 1941 e marcou a entrada norte-americana na Segunda Guerra Mundial.

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Baby boom, em inglês, é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional. O

termo popularizou-se no pós-Segunda Guerra Mundial, quando houve um aumento importante da natalidade nos Estados Unidos, uma vez que muitos soldados estavam voltando para suas casas, e a natalidade aumentou.

33HARRISON, 1998, p. 34-35.

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internacional diante da possibilidade iminente de uma verdadeira guerra. A Guerra Fria, no entanto, foi considerada benéfica para os EUA, haja vista que possibilitou, pela competição militar, a ampliação de seu poder político e a expansão de sua riqueza com base em relações econômicas complementares e dinâmicas com outros competidores35.

Para Sato (2000), “[...] o fim da Guerra Fria teve um papel importante na mudança da agenda internacional. A mudança não apareceu de modo tão evidente na composição dessa agenda, mas sim no grau de importância atribuído às diversas questões”. O autor afirma, ainda, que:

Com efeito, a promoção dos direitos humanos constitui tema tradicional da ONU (a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela Assembléia Geral em 1948), o tema do meio ambiente já havia sido objeto de uma conferência mundial em 1972 (Estocolmo) e a globalização é um fenômeno cujas raízes se assentam no próprio conceito de modernidade. Até mesmo a "desregulação" dos mercados financeiros, considerada um verdadeiro símbolo da globalização, já ganhava impulso com a expansão dos mercados de eurodólares nos anos 60 e 70. O fim da Guerra Fria, no entanto, fez com que as preocupações e as abordagens de questões como essas deixassem de ser matizadas ou mesmo distorcidas pela disputa leste-oeste. Nesse sentido, uma organização de defesa dos direitos humanos não deveria mais ser encarada como parte de uma ação concertada para desestabilizar governos simpatizantes de um dos lados e a promoção das questões ambientais, comerciais e financeiras passavam a ser, nas mesas de negociação, objeto de novas alianças, deixando de lado considerações de segurança estratégica internacional típicas do jogo de poder da Guerra Fria.

No entanto, Ricupero, ao se referir ao período pós-Guerra Fria, em 1989, especificamente até o ano de 2001, afirma a existência de duas características principais: a solução rápida de quase todos os problemas internacionais graves, inclusive os de 50 anos ou mais de existência, exceto quatro deles (Israel-Palestina, Caxemira, Taiwan e a divisão da península coreana) e, no plano econômico, a aceleração da globalização. Para Ricupero, a globalização tem raízes específicas de natureza científico-cultural – a revolução tecnológica das telecomunicações e da informática – e de caráter econômico, como é o caso da internacionalização da produção pelas empresas transnacionais. Conclui, afirmando que a globalização não teria acontecido de maneira tão rápida se o espaço político-estratégico continuasse fragmentado pelas muralhas ideológicas, uma vez que a essência da globalização é a unificação dos mercados em escala planetária36.

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A partir do fim da década de 1960, o sistema capitalista americano entrou em declínio, iniciando-se o período de crise dos anos 1970. Ocorre que vários foram os fatores que desencadearam o enfraquecimento da economia americana, tais como: a derrota na Guerra do Vietnã, a ruptura do sistema monetário internacional de Bretton Woods e os choques do petróleo. Assim, pode-se afirmar que todos esses acontecimentos, em conjunto, abalaram a estrutura militar, política e econômica dos EUA durante a década de 197037.

Em relação à Guerra do Vietnã38, esta fazia parte da estratégia norte-americana de expansão no sudeste asiático, com o fim de solidificar sua hegemonia naquela região, bem como na tentativa de conter a expansão das forças soviéticas. Sendo assim, ao apoiar a França, mediante financiamento e disponibilização de apoio logístico após a Guerra da Coreia, os EUA iniciaram sua participação na Guerra do Vietnã, vindo a sacramentá-la no ano de 1965 com o envio de tropas para prestar auxílio ao governo do Vietnã do Sul, que não estava obtendo êxito na contenção de movimentos insurgentes de nacionalistas e comunistas que haviam se aliado à Frente Nacional para a Libertação do Vietnã (FNL).

Apesar de todo o empenho, com a utilização do poderio militar e econômico, os EUA fracassam em sua empreitada, sendo obrigados a se retirarem do país em 1973. Como consequência da derrota americana aliada ao governo do Vietnã do Sul, a vitória do Vietnã do Norte e dos países aliados permitiu, dois anos após, a reunificação do Vietnã sob o regime socialista, passando-se a chamar oficialmente, em 1976, República Socialista do Vietnã.

Internamente, a situação dos EUA não era nem um pouco confortável, haja vista que havia muitos questionamentos da população em relação à legitimidade da guerra além da revolta causada pelo grande número de mortes de soldados norte-americanos. Nas palavras de Fiori (2005, p. 111-112):

As baixas durante a guerra foram numerosas, o que incitou o aprofundamento de movimentos sociais de contestação ao conflito, que pregavam o pacifismo e a contracultura. A insatisfação era profunda na sociedade. Assim, já no governo de Richard Nixon, em 1973, os EUA decidiram retirar-se da guerra, por meio dos acordos de paz assinados em Paris.

37CATERMOL, 2009.

38 A Guerra do Vietnã foi um conflito armado ocorrido no sudeste asiático entre 1955 e 1975. A guerra colocou

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