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A Lei Sarney, a Cultura e as Bibliotecas :: Brapci ::

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Academic year: 2018

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A LEI SARNEY, A CULTURA E AS BIBLIOTECAS

Claudio Willer*

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RESUMO: Discute as implicações da Lei Sarney - Lei n. 7.505 - sobre as ativida-des culturais no país e particularmente sobre as bibliotecas públicas. Algumas falhas da Lei obrigam prefeituras municipais e suas bibliotecas a descobrir arti-manhas a fim de poderem receber incentivos fiscais. Entre as várias alternativas encontradas, destaca-se a constituição de fundações culturais pelas prefeituras, com intuito de vincular as bibliotecas. Com essas distorções, o Estado acaba por omitir-se de seu papel de mantenedor da cultura.

PALAVRA-CHAVE: Bibliotecas públicas. Lei Sarney. Lei n. 7.505.

A Lei Sarnev=- Lei n. 7.505, de 1986, que concede benefícios fiscais para operações de natureza cultural - cresceu desde sua promulgação, há um ano. Objeto de discussões, cursos, debates e matérias na imprensa, deu margem a um amplo leque de opiniões, desde as mais otimistas,pre-vendo um florescimento das atividades culturais no Brasil com os recur-sos por ela carreados, até as previsões mais catastróficas e apocalípticas, acenando com o risco da instrumentalização da cultura pelo capital pri-vado, entre outras distorções.

Os dois tipos de posicionamento - favoráveis ou desfavoráveis

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à sua promulgação, pessimistas ou otimistas quanto a seus efeitos - têm sua

r a z ã o de ser. É evidente que as atividades culturais que também

acena-rem com a perspectiva de Benefícios Mercadológicos terão mais chances de obter patrocínio de empresas. Por outro lado, o "aquecimento" do se-tor, ou seja, o aumento de aplicações de empresas, com a finalidade de

* Professor do Curso de Pós-Graduação da Escola de Comunicações e Artes/USP. Escritor, poeta, tradutor e crítico. Presidente da Comissão Estadual de Literatura de São Paulo.

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Cláudio Willer A lei Sarney, a Cultura e as Bibliotecas

fazer propaganda institucional, em favor da cultura também acarretará a diversificação dessas mesmas aplicações. Ou seja, será impossível todas as empresas se limitarem a patrocinar apenas espetáculos musicais e edi-ções de livros sobre arte, como já vinha sendo feito, antes mesmo da en-trada em vigor da Lei Sarney. Caso as empresas queiram ter algum des-taque, enquanto patrocir;adoras da cultura, terão que procurar sempre aquilo que é original, que representa algo de novo e instigador. Para o assim chamado "marketing cultural", valem as mesmas regras e princí-pios do marketing e propaganda em geral.

Entre as vantagens decorr ent ss da Lei Sarney, está a de criar um mercado

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n o v ê de mão-de-obra, dos assessores culturais para empresas, ou seja, daqueles que ajudam o empresário a escolher entre projetos que pleiteiam patrocínio, ou até mesmo a desenvolver projetos próprios. Conseqüentemente, adquire um estatuto profissional o assim chamado "agente cultural" (animadores e administradores culturais), estimulando-se também o ensino e a pesquisa nessa área.

Entre as desvantagens, está a de efetivamente poder vir a surgir dis-torções. Os patrocínios vindo das empresas sempre tenderão a dar prefe-rência ao evento espetacular, ao que for apoteótico e de repercussão imediata. E isso, não necessariamente por imediatismo dos empresários e planejadores de marketing. Ocorre que a vida das empresas transcorre de ano a ano: orçamentos e planejamentos são feitos anualmente, não fa-zendo sentido, portanto, sob a lógica estritamente administrativa, uma iniciativa mercadológica que trará algum retorno a longo prazo. Princi-palmente no Brasil, um país tão sujeito a mudanças conjunturais.

Por isso, tem menos chances a edição de livros de valor cultural: normalmente tais obras não produzem um impacto imediato, na ocasião do seu lançamento. Elas tendem a produzir seus resultados aos poucos, à medida que circulam. Também podem ser prejudicadas as atividades li-gadas a políticas culturais descentralizadas e à animação sÓcio-cultural.

Normalmente, tais atividades ocorrem fora dos grandes centros, e conseqüentemente fora dos pólos da divulgação de acontecimentosculturais.

Quanto às bibliotecas, estas são explicitamente beneficiadas, de um lado, pela Lei Sarney, e também diretamente prejudicadas, de outro lado. O benefício explícito está nos itens XVIII e XIX do artigo 29 da Lei, que expõe o elenco de atividades culturais beneficiadas. Nos itens menciona-dos, há referência à doação de livros a bibliotecas públicas, e à doação

de bibliotecas, ou seja, de acervos particulares para finalidade pública. O prejuízo decorre de a Lei Sarney beneficiar apenas, conforme seu art. 19 , a "pessoas jurídicas de natureza cultural".

Bibliotecas, freqüentemente, não são uma "pessoa jurídica", não tem uma personalidade jurídica autônoma, mas são partes ou setores de outras pessoas jurídicas que podem, ou, não, ter caráter cultural. Exem-plificando: recursos destinados por doadores ou patrocinadores prova-dos à biblioteca de uma escola ou de uma prefeitura municipal não

pode-rão ser abatidos do imposto de renda, na forma prevista pela Lei Sarney, já que a escola e a prefeitura municipal, por sua vez, não são reconheci-das (acertadamente) como pessoas jurídicas de natureza cultural e não podem ser cadastradas no Ministério da Cultura para habilitar-se a rece-ber esse benefício. Sintetizando: doações em livros para Bibliotecas, ou em dinheiro, só poderão ocorrer se a biblioteca for uma personalidade jurídica autônoma ou parte de uma pessoa jurídica de finalidade unica-mente cultural. A Biblioteca M á r i o de Andrade, de São Paulo, não é

ca-dastrável na Lei Sarney; seria, contudo, se o governo municipal criasse algo como a Fundação Biblioteca Mário de Andrade, ou então uma Fun-dação Cultural da qual a biblioteca fizesse parte.

A saída, no caso, é efetuar operações triangulares, com a interme-diação de outra pessoa jurídica, por sua vez de caráter cultural. Esse tipo de triangulação é feita, por exemplo, pelo MAC-USP,Museu de Arte Con-temporânea da USP: como esta instituição não pode receber diretamente recursos via Lei Sarney (pois não tem autonomia jurídica, sendo apenas um departamento da USP), criou-se a Sociedade Amigos do MAC, uma associação que por sua vez está cadastrada no Ministério da Cultura e pode receber esses recursos e promove atividades no MAC. Algo seme-lhante, então, seria, a criação de uma Sociedade de Amigos da Biblioteca Mário de Andrade, que receberia doações em favor dessa biblioteca. Ou então, parece-me, até mesmo uma entidade como a UBE, União Brasileira de Escritores, que está cadastrada no Ministério, poderia desempenhar esse papel.

A outra solução é, sempre que possível, dar autonomia jurídica às bibliotecas. É altamente recomendável, por várias outras razões (princi-palmente pela maior agilidade decorrente em todos os aspectos da admi-nistração), que as prefeituras municipais constituam fundações culturais, vinculando a elas as bibliotecas, bem como teatros e outros

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Cláudio Willer

tos culturais.

De qualquer forma, o tema das distorções na Lei Sarney tem alguma relevância, não tanto por causa das falhas dessa lei, mas, sim, por causa da omissão governamental, de tudo aquilo que falta em nosso país, no campo das políticas culturais, e que nada tem a ver com os incentivos fis-cais para a cultura. O que não pode acontecer - e, infelizmente, por en-quanto está ocorrendo -

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é a Lei Sarney ser a fonte única de recursos

pa-ra atividades, instituições e equipamentos culturais. Assim, no caso espe-cífico das bibliotecas, o importante seria o INL dispor de verbas para atender bem as bibliotecas a ele conveniadas, ou então, a Secretaria de Estado da Cultura, em São Paulo, conseguir cumprir as metas propostas para o Sistema Estadual de Bibliotecas.

ABSTRACT: Consequences of the Brazilian Law n. 7.505, Known as the Sarney Law, which regulates private funding of cultural activities is reviewed in light of its impact on libraries, especially public libraries. Some of its Iaults.have forced city administrations and libraries to adopt measures to make them eligible for the financial support programo Severa I alternatives have been found, among, them, the establishment of Public Fundations which would include libraries. Ne-gative implications of the Law reside in the already occurring fact that the State abandons its role and turns the responsability of supporting cultural activities over to private organizations.

KEY WORDS: Public libraries. Cultural promotion activities. Sarney's law. Brazi-lian legislation.

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