• Nenhum resultado encontrado

ÉTICA, CRISE E LIBERDADE EM RICOEUR.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ÉTICA, CRISE E LIBERDADE EM RICOEUR."

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

ÉTICA, CRISE E LIBERDADE EM RICOEUR.

Autoria: José Antonio Santos de Oliveira (CNpq – UFS)

Aprovado para publicação em 01/06/2013

Resumo

A crise que afeta a Europa ultrapassa as suas fronteiras e torna-se então uma crise da humanidade. Através da filosofia o homem é capaz de reaver os aspectos

fundantes da sua humanidade. Faz-se necessária uma investigação

fenomenológico-hermenêutica a respeito da ação do homem, para compreender a crise contemporânea que o afeta em seu campo de possibilidades e alternativas de ser, em sua liberdade.

Palavras-chave: Fenomenologia. Hermenêutica. Ética. Crise. Liberdade Abstract

The crisis affecting Europe transcends boundaries and becomes then a crisis of humanity. Through philosophy man is able to recover the foundational aspects of man. If an investigation is necessary phenomenological-hermeneutic of human action, to overcome the crisis which in turn affects the action and its field of possibilities, namely, your freedom.

Keywords: Phenomenology. Hermeneutics. Ethics. Crisis. Freedom.

O breve estudo que apresentamos tem como objetivo investigar o problema da crise e de como esta influencia a ação e a liberdade humanas. A crise da razão na Europa ultrapassa as fronteiras e torna-se uma crise da humanidade: o homem se afasta de si mesmo, dando lugar à técnica, o que hoje conhecemos, como “valorizar mais o ter que o ser”, na frase já célebre de Gabriel Marcel. A crise afeta de forma direta o agir do homem e consequentemente a sua liberdade. Para compreender como isso se dá, Ricoeur vale-se das filosofias husserliana e heideggeriana como ponto de partida para sua reflexão acerca do agir do homem.

(2)

Ao longo da história da filosofia muito grande foi o legado da investigação acerca da crise, ação e liberdade humanas. Segundo o dicionário Aurélio, temos treze definições para a palavra crise:

alteração que sobrevém no curso de uma doença; acidente repentino que sobrevém numa pessoa em estado aparente de boa saúde ou agravamento súbito de um estado crônico; manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio; manifestação violenta de um sentimento; estado de dúvidas e incertezas; fase difícil, grave na evolução das coisas, dos fatos, das ideias; momento perigoso ou decisivo; lance embaraçoso; lance; conjuntura, tensão, conflito, deficiência, falta, penúria; ponto de transição entre um período de prosperidade e outro de depressão; complicação e agravamento da intriga; crise dramática, paradeiro.”1

Na filosofia ela tem muitas acepções: o termo grego crisis, significa julgamento, discernimento, discriminação e comparação. Moutsopoulos, partindo da consideração desse termo na filosofia antiga enfatiza o caráter epistemológico e

adiciona ainda o ontológico, a saber: “transição, do mesmo ao outro”2, acrescenta

também a consideração da crise histórica, entendida aqui como uma prova do que a sociedade passa. Assim, podemos dizer que segundo Moutsopoulos, há três sentidos para a palavra crise: o epistemológico, o ontológico e o histórico.

Na filosofia husserliana além do caráter epistemológico, a crise ganha uma conotação ética: ela é o momento de renovação, de ruptura, de ultrapassamento, em direção a um novo modo de pensar. Tomemos por base os textos dos artigos publicados na revista Kaizo com a temática da renovação. A Europa passa por um problema, o da distorção da compreensão do papel da racionalidade, vista aqui como razão instrumental; o problema deixa de ser apenas europeu, e o filósofo o vê como um problema da humanidade contemporânea..

A devastação da Europa pela Primeira Guerra Mundial, faz surgir uma crise de cultura, evidenciando a “perda do sentido criador do esforço humano para

1 Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 6.0. 4º Edição eletrônica autorizada à Positivo Informática Ltda. São Paulo, 2008.

2 Apud . Cesar, Constança Marcondes. Crise e Liberdade em Merleau-Ponty e Ricoeur. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2011, p.05.

(3)

ser e viver na direção de valores, realizando a superação contínua em direção ao mais alto.”3 Então, o filósofo vê que é preciso dar uma nova concepção de ciência e razão, de forma que assegure um melhor conhecimento do homem e do papel da razão. Numa perspectiva husserliana, a crise é uma crise da razão; para o filósofo. É também uma oportunidade de mudança, não para o pior, mas de uma renovação, uma retomada de valores que fundamentam a cultura europeia. Sob esta luz, a Europa não representa apenas um lugar geográfico, mas a humanidade em seu caminho em direção à felicidade, à vida. Superar esta crise só será possível através da redescoberta dos valores fundantes da humanidade, trazidos pela filosofia, uma ciência crítica por excelência, que pode conduzir a razão à expressões dos valores do espírito: bem, beleza e verdade.

“Superar esta crise só pela busca da excelência no plano do sujeito individual e a busca do bem comum, reconhecido racionalmente, pela humanidade” 4

Heidegger, não vê a filosofia como ciência, mas como saber que tem como tema principal a questão do ser, saber que tem como fundamento o desvelamento da essência do homem. Uma problemática ética subjaz à busca de uma ontologia, que assegura ao homem a compreensão de seu ser, abrindo assim a crítica à civilização técnica e a investigação à proposta ética da relação do homem com o ser. A crise, para o filósofo, é uma deturpação do espírito, seu desvirtuamento. O desenraizamento dos valores erigiu a superficialidade, banalidade, a transformação da vida em uma vida controlada pela técnica. O homem agora é valorizado pela produção de coisas e não mais pelo que é. Superar tal crise só será possível quando o homem recuperar o sentido originário do pensar; buscando uma ontologia fundamental.

A crise da razão que surge na Europa influencia as ações do homem e a sua liberdade, e não podemos falar de liberdade em Ricoeur sem nos reportarmos a Husserl e Heidegger, o que nos leva a por questões sobre o significado da vida

3 Idem, p. 17 4 Idem, p. 30.

(4)

humana e da razão. É examinando o diálogo proposto por ele entre a fenomenologia e hermenêutica que compreendemos sua filosofia

Ricoeur se insere nesse contexto e faz uma reflexão de como essa crise afeta a ação do homem, e consequentemente o seu campo de possibilidades, a sua liberdade; nesta reflexão encontraremos delineada a ética ricoeuriana. O que provocou a crise foi de um lado a compreensão cartesiana do cogito; e de outro a destruição do cógito em Marx, Nietzsche e Freud.A exaltação do cogito e a demolição do cogito representam extremos que é preciso superar para compreender nossa época. A filosofia de Ricoeur parte do confronto entre a exaltação cartesiana do cogito e do cogito ferido, focalizado pelos três “mestres da suspeita”, como nosso pensador chama os três anunciadores da filosofia contemporânea. .

A reflexão sobre a identidade em Ricoeur é a questão chave em sua ética. O homem é capaz de narrar a si mesmo e dessa forma se conhece. Ao narrar a si mesmo, o mundo, o acontecer e o fazer, o homem exprime sua liberdade. É por ser capaz de dizer, narrar, imputar que o homem é livre. É no exercício dessas capacidades, isto é, de sua liberdade, que reconhece a si mesmo como fulcro de tais capacidades e reconhece no outro homem um ser com capacidades análogas. O sujeito, lendo a sua ação e a do outro, percebe a liberdade por meio do agir, dizer, narrar, imputar; e articulando o agir faz o grande caminho de reconhecer a si mesmo e ao outro.

Para o filosofo francês a ação humana é um texto que pode ser narrado dentro de um tempo, e que o tempo deve ser entendido através de uma consciência. O “agir humano, modo de ser fundamental, conduz à atestação de si, à confiança no poder de dizer (...) de fazer e de se reconhecer (...)”. É no agir humano, nas capacidades, do poder dizer, fazer, narrar, ser imputável, que ele reconhece a si mesmo e essa capacidade de reconhecimento é para Ricouer, a expressão da liberdade do homem como um campo aberto de possibilidades.5

Uma reflexão sobre a liberdade, em Ricoeur envolve o estudo sobre a ética .Falar sobre o agir humano leva a uma reflexão sobre a capacidade de ser livre, a capacidade do homem ser senhor dos seus atos e das suas decisões. Ao

5 Idem, p.95

(5)

pensar na ação do homem, Ricoeur nos conduz a um estudo sobre a ética, pois não existe ética sem ação e esta última repercute para além do agente.

Ricoeur considera a ética como o desígnio de uma vida consumada sob as ações ditas como boas. Ele parte da herança aristotélica que enfoca a ética numa perspectiva teleológica, e também da herança kantiana, que a enfoca no aspecto deontológico. Em nosso filósofo é preciso que a ética se sobreponha à moral; o sentido ético deve passar pelo crivo da moral. É a norma que nos leva a uma sabedoria prática, parâmetro da vida ética.

Para se entender a ética ricoeuriana é preciso compreender bem o seu tripé: “viver a vida boa, com e para com os outros, em instituições justas”. No concernente à vida boa, sua reflexão nos leva à ética aristotélica, que tem como finalidade o bem viver. Retoma também aqui uma reflexão heideggeriana de cuidado: cuidado de si, cuidado do outro, cuidado da instituição. É preciso iniciar a vida boa pelo cuidado de si, pela estima de si e pelo desenvolvimento da capacidade de escolher e de causar alterações nos sentido dos fatos. Estima de si mesmo é o ponto reflexivo da ação, da práxis; segundo o filósofo, “é avaliando as nossas ações que nós próprios poderemos nos sentir seus autores.” 6

No âmbito do viver a vida boa com e para com os outros, a estima de si se desdobra como solicitude; solicitude e estima de si não podem viver isoladamente. O si não quer dizer eu, o si requer um outro além de si; então podemos dizer que aquele que estima a si mesmo precisa do outro, também capaz de agir. Essa convivência emuladora reciprocamente se expressa como amizade, onde um estima o outro como a si mesmo.

Na pequena ética ricoueriana, precisamos, por primeiro, viver bem com e para com o outro, e por fim, em instituições justas, terceira parte do tripé. Viver bem envolve um sentido de justiça, que encontra implicado na noção de outro, pois o outro é também um ser humano. A noção de justiça vai muito além do face a face e segundo o filósofo temos duas asserções:

6 Ricouer, Paul. Ética e Moral. Trad. Antonio Campelo Amaral. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2011, p.6

(6)

“(...) (N)a primeira, o bem viver não se restringe às relações interpessoais, mas estende-se à vida nas instituições. (E na segunda) a justiça exibe trações éticos que não se encontram contidos na solicitude, a saber, no essencial uma exigência de igualdade de espécie, diferente da igualdade de amizade.”7 É preciso entender por instituição todas as estruturas de viver em conjunto, irredutíveis a relações interpessoais: trata-se de “um sistema de partilha, de repartição implicando direitos e deveres, rendimentos e patrimônios, responsabilidades e poderes, numa palavra benefícios e encargos” 8. Afirma o filósofo que uma instituição tem um efeito mais amplo que o face a face; dentro da instituição o desígnio ético se alarga a todos, atribui-se a cada um segundo o que lhe cabe de um modo justo. Tendo refletido sobre o tripé ético de Ricoeur voltemos a nossa reflexão sobre o agir, campo onde o sujeito pode reconhecer-se a si mesmo e reconhecer-se como um ser humano capaz, dentro de suas possibilidades de ação, de expressão da sua liberdade.

Dentro desse campo o ser humano se reconhece como ser capaz de agir e de ser dono de seus atos, no entanto, há um resultado inesperado, o não intencionado, e assim as ações do sujeito estendem-se a um grande número de pessoas. Há sempre o risco e a possibilidade do mal e da violência implicados no agir.

A forma mais evidente da violência é

“a diminuição ou a ausência da capacidade de fazer, de agir, que acaba com a existência da liberdade como autonomia. É preciso entender que o bem viver supõe a estima de si, a prudência, a sabedoria prática (...), a liberdade é assegurada por instituições justas.”9

É preciso, afirma Ricoeur, viver a vida boa, com e para os outros em instituições justas. Ser livre é ser capaz de se reconhecer em suas próprias ações; liberdade e ação estão interligadas entre si,

“a liberdade é a capacidade de agir, e ação é também ser livre. O agir e a liberdade estão relacionados à questão do mal e da vida (...) a propensão ao mal afeta o uso da liberdade, a

7 Idem, p.07 8 Idem, p.07 9 Idem, p. 08

(7)

capacidade de agir por dever, em outras palavras, a capacidade para ser autônomo.”10

Somos livres e responsáveis, e devemos assumir as consequências de nossas ações. Narrar faz parte do agir e agir também é narrar, e ao narrar eu me reconheço em minhas ações. Liberdade é a possibilidade que está no discurso como reconhecimento da própria ação e se apresenta como o ‘eu penso’: fazer, falar, agir, narrar e ser responsável por minhas ações. Ser livre é agir conforme a lei da vontade na sua forma essencial e na sua condição finita.

O mal para Ricoeur é a privação da liberdade; resulta do mau uso da liberdade. Como já dissemos, a maior expressão do mal é a violência; o filósofo mostra que é ela a causa da diminuição, do aniquilamento, da destruição do ser humano pois fere a pessoa em toda a sua dimensão como ser que age, maculando o ser em seu centro, em sua liberdade.

Faz-se necessário viver a vida boa, com e para com os outros em instituições justas, pois se as pessoas são livres, elas podem agir de maneira a diminuir a violência. É dentro das instituições justas que é assegurada a liberdade de cada indivíduo. A violência é um dos sinais de que a humanidade passa por uma crise de valores: não temos um referencial, e esta falta de referência nos faz querer tudo e nada, gerando uma dificuldade de compreensão do que é o ser humano e consequentemente comprometendo o seu poder de decisão, de ação e de liberdade

A ação do homem capaz é influenciada pela crise que, por ora parece momentânea, mas que na verdade é permanente. O homem sempre esteve e sempre estará em crise, ela é pertencente à condição finita e mortal do homem. O homem, a sociedade, os valores, estão em constante renovação; renovação esta causada por constantes crises que só são solucionadas, no tempo e na consciência.

Ao dizer que a crise é permanente, Ricoeur expõe sua concepção de homem, ser em permanente luta para reconhecer a si e ao outro e realizar sua humanidade, em cada momento histórico. Cada época repropõe o desafio, levando

10 RIBEIRO, Lúcia. Ética, justiça e educação no pensamento de Paul Ricoeur. Fonte Editorial. São Paulo.2012, p.86.

(8)

à reflexão para discernir como, naquele momento, poder-se-á expressar a liberdade e o amor.

Bibliografia

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes. 2007. CASANOVA, Marco Antônio. Compreender Heidegger. Petrópolis: Vozes, 2009. DEPRAZ, Natalie. Compreender Husserl. (Tradução de Fábio dos Santos) 2ª Ed. São Paulo: Vozes, 2008.

ELSIO, Ruth. O legado de Ricoeur. Org. Ruth Leanhardt. Paraná: Unicentro, 2010. HAHN, L. E. A filosofia de Paul Ricoeur. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

HENRIQUES F. (coord.) A filosofia de Paul Ricoeur. Coimbra: Ariadne, 2006; HELENO, J. M. M. Hermenêutica e ontologia em Paul Ricoeur. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

HUSSERL, Edmund. Europa: Crise e Renovação. Phainomenon. Clássicos da fenomenologia. Centro de filosofia universitas olisiponensis:2006.

MARCONDES CESAR, C. Paul Ricoeur: Ensaios. São Paulo: Paulus; 2009.

_____________________ A hermenêutica Francêsa:Paul Ricoeur. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2009.

_____________________ Pessoa, temporalidade, liberdade. Phainomenon. Lisboa: Universidade de Lisboa. 2009.

_____________________ Crise e Liberdade em Merleau-Ponty e Ricouer. Editora idéias e Letras. Aparecida: Editora Ideias e Letras, 2011.

(9)

_____________________ A ontologia Hermenêutica de Paul Ricoeur (artigo). Campinas: Revista Reflexão, 2000.

Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 6.0. 4º Edição Edição eletrônica autorizada à Positivo Informática Ltda. São Paulo, 2008.

PELLAUER, David. Compreender Ricouer.( Trad. Marcus Penchel). São Paulo: Vozes, 2009.

REALE, G. História da filosofia, vol. 3. Paulus: 1990.

RIBEIRO, Lúcia. Ética, justiça e educação no pensamento de Paul Ricoeur. Fonte Editorial. São Paulo.2012 (p. 85 a 99)

RICOUER, Paul. Ética e Moral. (Trad. Antonio Campelo Amaral). Universidade da Beira Interior, Corvilhã, 2011.

______________ Percurso do Reconhecimento. São Paulo: Loyola, 2006.

______________ O Si-mesmo com um outro.(Trad. Lucy Moreira César). Campinas: Papirus, 1991.

Referências

Documentos relacionados

O recurso à nação como narração enfatiza a insistência do poder político e a autoridade cultural naquilo que Derrida descreve “o excesso irredutível do sintático sobre

Nas Lições de Epicteto há inúmeras passagens onde o tó soma é apresentado como o primeiro item listado entre aquelas coisas “não sobre nós”, ou seja, que não nos

No momento que o estudante quiser Plano de Estudo Personalizado Adequa-se às fortalezas e oportunidades do estudante Acompanhamento de Performance Quizzes / testes Ranking

Nesse sentido, tais elocuções carregam conceituações e expressividades linguísticas (Desmet 1991 e 2002), que estão naturalizadas na língua e, por consequência, em nossa

O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Edvaldo Santana, disse ontem que o atual cenário de turbulências no setor elétrico “está caminhando para

ciação, a pluralidade sindical é uma das soluções mais combatidas pelos dirigentes da atual organização unitária. Onde vigora, como em nosso país, o regime da

Podemos achar que optar livremente por certas coisas em certas circunstâncias é muito difícil (entrar numa casa em chamas para salvar uma criança, por exemplo,

Cristina Bruschtni Doutora em Sociologia pela Universidade de Sao Paulo e pesquisadora da Fundaçao Carlos Chagas onde desenvolve estudos sobre trabalho feminino e familia e coordena