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IRMÃO OCTACILIO NUNES
*26/08/1887 †26/10/1915
Niteroi (Brasil), 5 de novembro de 1915.
Caríssimos Irmãos,
Ainda sob o peso da dura prova, a qual a Divina Providência, nos seus inescrutáveis decretos, quis submeter este Colégio, e com o coração inconsolado pela dor da terrível catástrofe, que no dia 26 de outubro levava 27 jovenzinhos na flor da idade e das esperanças, participo a todos a morte do Irmão, professo perpétuo
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Octacilio Nunes
Irmão Coadjutor, de 28 anos vítima do seu heroísmo.
Nascido em Embaú, Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 1887, órfão de pai e mãe, foi acolhido no nosso Colégio de Lorena onde permaneceu até 1906.
Mandado como aspirante no Liceu Coração de Jesus de São Paulo, foi, em seguida, admitido ao Noviciado, onde no dia 25 de janeiro de 1907 fez sua primeira Profissão Religiosa trienal, consagrando-se a Deus com a profissão perpétua no dia 16 de janeiro de 1913.
Este Colégio foi o campo que a Divina Providência lhe indicava e onde trabalhou incansavelmente pelo espaço de bem sete anos, edificando sempre superiores e irmãos com o exemplo constante da sua piedade, com seu amor operoso pela Congregação e com seu espírito de sacrifício e de abnegação, com o qual multiplicava suas forças e o seu tempo na aula, na assistência e onde quer que o chamasse a voz do dever e da obediência.
Foi no Colégio Santa Rosa que Otacílio Nunes pode desenvolver todo o seu talento. Exímio no piston e conhecedor de música encontrou campo na banda do colégio. Passou a reger a turma dos maiores e a lecionar Português. Logo depois seria também professor de Álgebra, Desenho, Física, Química, História Natural e História Universal.
Conhecedor de Francês, Inglês e Italiano, traduzia para as publicações dos salesianos pequenos romances de formação moral e religiosa, como Desventura e Inocência, A Cruz e a Espada, O Bicho de Sete Cabeças, A Confissão da Rainha.
Nas horas vagas, fazia-se de jardineiro oficial do colégio e ainda encontrava tempo para as memoráveis partidas de futebol. [Palavras do P. Josué Francisco da Natividade].
Exemplar na observância exata das Regras, pontual na prática da confissão semanal, com testemunham todos os salesianos desta casa; fazia do método preventivo do nosso venerável Fundador e Pai o segredo e a força da sua completa autoridade sobre seus alunos, que o respeitavam e o amavam tanto a ponto de agora chorarem insconsoláveis sua morte prematura.
3 Dedicado desde criança, por índole e por objetivo, com amor operoso ao estudo das línguas e das ciências, utilizando escrupulosamente o mais breve retalho de tempo, soube e quis colocar a serviço da Congregação a sua não comum inteligência; e é testemunha disso não só os alunos das classes ginasiais que encontravam nele um professor experiente e diligente, mas também as Leituras Católicas que devem à sua escrita polida e delicada muitas e variadas traduções que comprovam a beleza de si na sua já longa caminhada de publicações.
Mas o Deus bendito quis coroar a vida no nosso Irmão, tão rica de promessas e esperanças com a auréola da caridade levada até o heroísmo. – Quanta dor dizer agora, tão grande desgraça!
Retornando da cidade do Rio de Janeiro, onde o Colégio com seus 330 alunos havia prestado a sua homenagem ao Em.mo Cardeal Arcebispo na feliz ocasião de suas bodas de prata episcopal, no meio da Baía da Guanabara, o Anjo da morte esperava o alegre e infatil esquadrão.
Uma manobra pouco prudente do timoneiro, seguida da colisão imediata do fundo do barco contra o casco de um navio afundado provocou um rombo e fazia naufragar em pouco espaço de tempo o barco que estava carregado de vidas e de tantas esperanças.
Em meio ao medo daquela hora trágica, entre as ondas agitadas, que engoliam tantas pobres e inocente vítimas, entre os socorros rápidos e eficazes prestados pela Marinha Brasileira e pelos caridos pescadores, nós não esqueceremos jamais os esforços sobre humanos do nosso caro Octacílio, para salvar tantos jovens que se debatiam nas ondas.
Esquecido de si mesmo, foi visto atirar-se no mar e levou nadando vários alunos salvando-os e atirar-se novamente nas ondas para salvar outras vítimas; preocupado somente em salvar os alunos, exemplo admirável do bom pastor que dá a vida pelas suas ovelhas.
Mas, numa destas viagens, ele não devia retornar! Cansado, esgotado segurado pelos braços de cinco meninos que se agarraram nele no esforço supremo de quem abraça a última esperança de salvação, foi visto debater-se nas ondas e depois desaparecer no redemoino das águas que o restituiram cadáver depois de dois dias de procura.
Nós choramos agora a perda prematura do inesquecível Irmão – é para todos nós uma lição e um exemplo – e de 27 alunos, tenras flores, que a Virgem Auxiliadora, no Centenário de sua Festa, quis transplantar para o ceú, onde, nós os esperamos porque todos naquela manhã – grande conforto para o nosso coração – haviam se aproximado da Santa Comunhão.
4 Entre tanta dor, não faltaram as consolações que Deus bendito prepara nas horas de angústias.
O Cardeal Arcebispo, muitos bispos presentes nas bodas episcopais do Em.mo Metropolita, o Presidente da República e do Estado, os meios de comunicação da cidade e da Capital Federal, sem exceção e sem discrepâncias, deputados, magistrados, senadores porfiaram entre si para dar-nos o conforto com seu apoio e seus pêsames: numerosas foram as missas pelos fiéis defundos celebradas nos vários colégios das cidades, solenes e grande reuniões comemorativas de Ex-alunos do Rio de Janeiro, presididas pelo Ex.mo Sr. Arcebispo de Olinda. E o mesmo Congresso Nacional, na voz de seus dois mais autorizados membros, apresentava à Câmara um projeto de lei, aprovado por unanimidade, autorizando o governo erigir um monumento sobre a tumba do humilde Irmão Salesiano morto como verdadeiro filho de Dom Bosco, mártir do seu sacrifício e da sua caridade.
Enquanto vos comunico, para comum edificação, estas notícias, repetimos nos nossos corações inconsoláveis, diante do espetáculo das jovens sepulturas abertas, o sublime pensamento do grande Santo Agostinho:
«O Senhor, sendo infinitamente bom, jamais permitiria que o mal atingisse as suas criaturas, se Ele não fosse tão poderoso e bom em converter em bem o mesmo mal» (Cat. 385).
E o bem, Deus misericordioso o fará, nasceu desta grande calamidade em favor, também desta casa tão duramente provada, nos seus inescrutáveis desígnios, e não será para nós graça mais preciosa que a ideia de advertência e vigilante da morte para o bem de nossas almas.
Ofereçam copiosos sufrágios a Deus pela alma do caro extinto e pela alma das vidas inocentes do desastre, e lembrem-se também diante do Senhor de quem se professa
Vosso affmo. irmão P. Antonio Dalla Via Diretor
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DADOS PARA O NECROLOGIO Ir. OCTACILIO NUNES
*Embau (SP, 26 de agosto de 1897
†Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1915 com
28 anos de idade
