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ENTRE A LUZ E A SOMBRA DO CÁRCERE: NOTAS ACERCA DE UM SISTEMA CARCERÁRIO TRADICIONAL E UM ALTERNATIVO

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Academic year: 2021

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ENTRE A LUZ E A SOMBRA DO CÁRCERE: NOTAS ACERCA DE UM SISTEMA CARCERÁRIO TRADICIONAL E UM ALTERNATIVO

Denise de Oliveira Costa* (Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ingá/ UNINGÁ,

Maringá – PR, Brasil); Geziele Mucio Alves (Professora Adjunto do Centro Universitário Ingá/

UNINGÁ, Maringá – PR, Brasil; Jose Roberto Oliveira Santos (Coordenador do Curso de Psicologia do Centro Universitário Ingá/ UNINGÁ, Maringá- PR, Brasil); Constanza Pujals (Professora Adjunto do Centro Universitário Ingá/ UNINGÀ, Maringá – PR, Brasil).

Contato: denicsta@gmail.com

Palavras-chave: Penitenciados. Ressocialização. Método APAC.

A convivência em sociedade trouxe ao homem uma série de vantagens que auxiliaram na sobrevivência da espécie: proteção mútua, facilidade em encontrar um parceiro para reprodução e especialização de atividades. Para organizar a convivência em grupo o homem criou regras e princípios a serem conhecidos e seguidos por todos, definindo as formas de comportamento consideradas aceitáveis (NEVES, 2003). Dessa forma, para garantir que os indivíduos obedecessem a estas normas sociais, o homem criou um sistema de correções para os comportamentos considerados inaceitáveis pela sociedade. Estas regras de comportamento social foram moldadas e adaptadas de acordo com o desenvolvimento das sociedades ao longo do tempo. E o mesmo aconteceu com as formas de correção e punição.

Diante das mudanças no entendimento de correção e punição, descritos acima, observa-se nos modelos penitenciários a busca da ressocialização dos que descumpriram as regras sociais. Nesse sentido, este texto é parte de uma pesquisa que está andamento no Centro Universitário Ingá (UNINGÁ), avaliar a recuperação do penitenciado, nos diferentes sistemas, tradicional e alternativo. Para tal objetivo entrevistas e questionários serão realizadas com os servidores da penitenciária de um modelo tradicional e com voluntários de um modelo alternativo.

Até o momento, o levantamento bibliográfico a respeito do tema evidenciou duas realidades de modelos penitenciários: o tradicional, estabelecido pelo Estado e o modelo da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), que pode ser caracterizado como alternativo, pois o mesmo é organizado por entidade civil e não pelo Estado.

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Segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias- INFOPEN- junho de 2016, o Brasil tem a terceira maior população prisional do mundo, com cerca de 352.600 presos para cada cem mil habitantes no país. Até junho de 2016, contabilizou-se 726.712 presos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e China. A taxa de ocupação dos estabelecimentos prisionais brasileiros é de 1,9%, de acordo com o levantamento é a quinta maior, e o país conta atualmente com apenas 368.049 vagas, temos um déficit de 358.663 vagas (BRASIL, 2016).

Além de ocupar o terceiro lugar no Ranking das populações carcerárias do mundo, a pena de privação de liberdade aplicada atualmente, no sistema jurídico penal brasileiro, é precária não regenerando, mas excluindo indivíduos (MAMOLUQUE, 2006). Essa autora, ainda afirmou que o sistema carcerário é desumano, infringindo a dignidade e não garantindo nem os direitos básicos necessários para a sobrevivência.

Somado ao aumento da taxa de encarceramento, houve o crescimento do número de estabelecimentos penais. A maioria das casas correcionais (59%) foram construídas nos últimos 19 anos, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (BRASIL, 2016). No Estado do Paraná, 28 das 35 unidades prisionais do estado foram construídas nos últimos 19 anos (80%), sendo 8 delas construídas nos últimos 5 anos.

É importante destacar que 45% dos estabelecimentos destinados ao regime semiaberto abrigam pessoas de outros regimes de condenação. De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP), não seria um problema tê-los numa mesma unidade, se estas fossem projetadas para tal. As unidades podem custodiar tais internos, desde que em pavilhões separados para os diferentes regimes de condenação. O cumprimento da pena de diferentes regimes, em um mesmo espaço, pode prejudicar o tratamento penal. Além disto, o artigo 5º, inciso XLVIII, da Constituição Federal de 1988, assegura que, ninguém seja submetido a tratamento desumano ou degradante, proibindo ainda, as penas cruéis, garantindo o respeito à integridade física e moral dos penitenciados. De fato, é questionável tal inconstitucionalidade presente no modelo tradicional de encarceramento.

Para a execução das penas no sistema carcerário, é necessário segundo a Resolução nº 9, de 2009, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), uma proporção mínima recomendável de agentes de custódia por presos de até 1:5 (BRASIL,2006). Porém, a

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proporção média nacional é de 1:8. Sendo uma média, infere-se que em alguns casos, este número seja bem maior. Ainda, segundos os dados do Ministério da Justiça, 92% dos estabelecimentos penais no Brasil são de gestão pública; destes 63% não possuem local para visita social; 69% não possuem local para visita intima; 95% não possuem sala para videoconferência; 22% não possuem sala para atendimento jurídico; 36% não possuem sala de atendimento para serviço social; 48% não possuem sala de aula; 78% não possuem oficina de trabalho; e 42% não possuem espaço para expandir ( BRASIL, 2006).

Segundo os trabalhos de Ottoboni (2001), a grande maioria dos presos no Brasil não estudam e não trabalham durante o cumprimento da pena. O autor afirmou que o sistema é falho no que deveria ser o principal objetivo da execução penal, a ressocialização do penitenciado. E ainda, faz com que o indivíduo volte ao convívio social, em igual ou pior estado, do que quando a iniciou o cumprimento da pena. O índice de reincidência criminal no Brasil, segundos dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é em média de 80%. De acordo com Ottoboni (2001), se essa população fosse submetida ao tratamento penal adequado, quando foi encarcerada pela primeira vez, poderia ter se recuperado e não estar sob o jugo do Estado novamente.

Após apresentar o modelo penitenciário tradicional, o nosso foco volta-se para o modelo alternativo, representado pela APAC- Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, destacando-se algumas características. É uma Entidade Civil de Direito Privado, parceira dos Poderes Judiciário e Executivo, que executa o cumprimento de penas privativas de liberdade. Foi fundada por Mário Ottoboni, na cidade de São José dos Campos – SP, com um grupo de voluntários cristãos, que trabalhavam na evangelização de presos. Segundo ele, a principal diferença em relação ao sistema prisional comum é que na associação os próprios presos, os quais são chamados de „recuperandos‟, são corresponsáveis pela sua recuperação. Eles colaboram na segurança e disciplina do presídio, e contam com o suporte de funcionários e voluntários, sem a presença de policiais ou agentes penitenciários. Este modelo, segundo Ottoboni (2001), se espalhou por diversas cidades e estados e, afirmando ainda que a APAC, ganhou proporção mundial.

O sistema APAC atende ainda um público de apenados considerado de menor risco, priorizando condenados primários ou reincidentes em crimes leves, com laços familiares na comarca sede, de terceira idade e/ou com deficiência. Vale dizer que são previamente

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selecionados por uma equipe técnica, transferidos através de autorização judicial. Estas ações estariam em acordo com o Art. 5º da LEP que prevê que “Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal”. Ademais, a associação afirma que os „recuperandos‟ recebam assistência espiritual, médica, psicológica e jurídica, prestadas pela própria comunidade. Tais medidas estão em conformidade com Art. 4º da LEP haja vista que “O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança”. O Capítulo II da LEP, que trata da assistência aos condenados, (integra do texto no Anexo C – LEP, Capítulos II e III), define pelo Art. 10 que: “A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade” e que esta deve estender-se ao egresso. Já o Art. 11 da LEP define que esta assistência deve ser “I - material; II - à saúde; III - jurídica; IV - educacional; V - social; VI – religiosa” (BRASI, 1984).

Neste ponto é possível perceber um problema entre norma versus práxis: Apesar da Lei de Execução penal ser avançada, inovadora - nascida de aprofundados estudos dos maiores juristas brasileiros, dentro dos objetivos da pena - e estando de acordo com a filosofia ressocializadora da pena privativa de liberdade, nota-se segundo estudos de Mamoluque (2006), que há uma inaplicabilidade efetiva no cumprimento dessa lei. Segundo a autora, “o modelo prisional, como é hoje aplicado, em jaulas e nos depósitos de homens e mulheres, não oferece jamais as desejáveis e legais soluções”. Ainda, ressalta que diante da superlotação das penitenciarias em todo o País, da precariedade do sistema carcerário e o consequente aumento dos conflitos gerados pelas condições sub-humanas nos presídios, torna-se relevante estabelecer programas que possam agenciar produtivamente as forças desses homens em direção a seu desenvolvimento como cidadãos. Porém, qual é a intenção de associações de modelo APAC tomar para si um papel que deveria ser do Estado, visto que, de acordo com a Lei de Execução Penal é papel de o Estado prestar tais assistências posto acima. Normas e prática tem atribuições diferentes ou encontra-se com atribuições não complementares de igual modo. Assim, ao finalizar a pesquisa acredita-se que serão adquiridos dados mais concretos sobre a real „recuperação‟ dos penitenciados. Essa é uma discussão que deve ser expandida não só na execução das penas, mas, principalmente, na prevenção de crimes.

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BRASIL, Lei de Execução Penal. Lei nº 7210 de 11 de julho de 1984. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7627.htm. Acessado em: 10 fev. 2017.

BRASIL, Ministério da Justiça; CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Junho de 2016. Disponível em: http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/cnpcp-1. Acessado em: 10 fev. 2017.

BRASIL, Ministério da Justiça. RESOLUÇÃO nº 1, de 09 de março de 2009. Disponível em: http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/cnpcp-1/resolucoes/resolucoes-arquivos-pdf-de-1980-a-2015/resolucao-n-o-1-de-09-de-marco-de-2009.pdf. Acessado em: 10 fev. 2017.

BRASIL. Ministério da Justiça; DEPEN- Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento

Nacional de Informações Penitenciárias, INFOPEN. Junho de 2016.

BRASIL, Ministério da justiça. Sistema nacional de penas e medidas alternativas: Princípios e Diretrizes. Brasília, out. 2009.

MAMOLUQUE, Maria da Glória Caxito. A Subjetividade do Encarcerado, um Desafio para a

Psicologia. Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros-MG, 2006. Disponível em: <

http://www.scielo.br/pdf/pcp/v26n4/v26n4a09> acesso em: 13 abri. 2018.

NEVES, Getulio M.P. O homem e a norma. Revista Destarde, Vitória, v.2, n.1, p.29-56,1. E, 2003.

Disponível em http://www.sociologiajuridica.net.br/numero-1/153-o-homem-e-a-norma-acesso .

Acessado em: 27 mar. 2017.

OTTOBONI, Mário. Ninguém é Irrecuperável: APAC, a revolução do sistema penitenciário. Ed. Cidade Nova. São Paulo – SP, 1997.

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